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PENAL TP - 2º semestre

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24/02/2021
Ficha de Trabalho nº7
Artigo 131º
(Homicídio)
Quem matar outra pessoa é punido com pena de prisão de 8 a 16 anos.
Homicídio simples, visto que, para além deste tipo de homicídio existe o homicídio qualificado e o homicídio privilegiado (sendo que, no primeiro, existe um agravamento na pena e, no segundo, uma atenuação da pena). Nos homicídios, o bem jurídico em causa é o direito à vida.
Classificação dos crimes quanto ao bem jurídico tutelado:
1. Crimes simples - estes crimes tutelam apenas um bem jurídico
2. Crimes complexos - estes crimes tutelam diversos bens jurídicos
	O homicídio, trata-se de um crime simples, pois protege apenas um bem jurídico, a vida humana. Um exemplo de um crime complexo, encontramos o roubo (art. 210º CP). O crime de roubo, ao contrário do homicídio, é um crime complexo, visto que protege, simultaneamente, bens jurídicos pessoais e patrimoniais, ou seja, respetivamente, o direito à integridade física e o direito à propriedade. Este crime de roubo distingue-se do crime de furto, pela presença de violência e coação, visto que no furto não temos a presença de violência ou coação.
· Classificação quanto ao grau de lesão do bem jurídico:
1. Crimes de dano - estamos perante um crime de dano quando se verifica a concreta lesão do bem jurídico. O crime só se consuma quando essa lesão do bem jurídico se verificar
2. Crimes de perigo - nestes crimes, o tipo legal não exige a lesão do bem jurídico, bastando-se com a sua colocação em perigo
1. Crime de perigo concreto - o perigo faz parte do tipo legal, ou seja, o perigo é elemento constitutivo do tipo legal (o bem jurídico teve de ser colocado concretamente em perigo)
2. Crime de perigo abstrato - o perigo não faz parte do tipo legal, sendo apenas o motivo da incriminação
3. Crime de perigo abstrato-concreto (delitos de aptidão) - exige-se, não a criaçao de um perigo concreto, não a presunção de um qualquer crime abstrato, mas exige-se que as condutas sejam adequadas à persecução de um determinado resultado.
	O homicídio é um crime de dano porque o artigo 131º  CP refere “quem matar uma pessoa”, ou seja, o crime de homicídio só se consuma quando se verifica a perda de vida humana. A perda de vida humana é a lesão do bem jurídico.
· Classificação quanto à conduta, atendendo ao objeto da ação:
1. Crimes de resultado (crimes materiais) - nestes crimes, o tipo legal prevê que a sua consumação ocorra à custa da produção de um determinado resultado, ou seja, o tipo legal exige a verificação de uma alteração externa espacio-temporalmente distinta da conduta do agente
2. Crimes de mera atividade (crimes formais) - neste tipo de crime, não se exige a verificação de uma alteração externa espacio-temporalmente distinta da conduta do agente. Assim, este crime basta-se com a mera realização da conduta → como exemplo deste crime, podemos referir o crime presente no artigo 292º CP
	No crime de homicídio, estamos perante um crime de resultado, pois existe uma alteração externa espacio-temporalmente distinta da conduta do agente. visto que a pessoa morre.
· Classificação quanto à autoria:
1. Crimes comuns - nos crimes comuns, o facto pode ser cometido por qualquer pessoa. Não se exige uma concreta qualidade do agente. Nestes crimes, o tipo legal inicia-se com a expressão “quem”
2. Crimes específicos - os crimes específicos já não podem ser cometidos por qualquer pessoa, visto que existe uma concreta qualidade do agente.
1. Crimes específicos próprios - nestes crimes, as qualidades do agente fundamentam o tipo legal. Se não se verificar uma concreta qualidade do agente, não há crime/tipo legal. Exemplo, podemos apontar o artigo 375º/3 CP → a qualidade do funcionário vai fundamental a incriminação, ou seja, é essa a qualidade do agente que vai fundamentar a incriminação
2. Crimes específicos impróprios - nestes crimes, as qualidades do agente não fundamentam a incriminação, mas são motivo da agravação do tipo, ou seja, a qualidade do agente agrava a incriminação. Exemplo, apontamos o artigo 278º CP → a qualidade do agente enquanto funcionário vai agravar a incriminação em relação a um tipo comum, ou seja, em relação ao crime de violação de domicílio do artigo 190º CP. Assim, o artigo 278º CP agrava a punição do artigo 190º CP
	No caso concreto de homicídio, estamos perante um tipo comum, porque qualquer pessoa pode cometer este crime, ou seja, não se exige a qualidade do agente.
· Classificação quanto ao modo de execução:
1. Crimes de execução livre - nestes crimes, o tipo legal não descreve o modo de realização da ação ou do resultado. Exemplo: artigo 164º/1 CP → o constrangimento da pessoa pode ser executado de qualquer forma
2. Crimes de execução vinculada - nestes crimes, o tipo legal descreve o modo de realização da ação ou do resultado. Assim, se a factualidade não for cometida de acordo com a  execução prevista no crime, este não se encontrará preenchido. Exemplo: artigo 164º/2 CP → o elemento literal “por meio de” aponta para um modo de descrição da realização da ação
	No crime de homicídio, estamos perante um crime de execução livre, visto que no artigo 131º CP não há qualquer descrição quanto ao modo de realização da ação ou do resultado.
· Classificação quanto à consumação:
1. Crimes de execução instantânea - nestes crimes, a consumação da ação ou do resultado é imediata.
2. Crimes duradouros/de execução permanente - a consumação prolonga-se no tempo
	O crime de homicídio é um crime de execução instantânea, mesmo nos casos nos quais a morte não se dá instantaneamente.
Artigo 132º
(Homicídio Qualificado)
1 - Se a morte for produzida em circunstâncias que revelem especial censurabilidade ou perversidade, o agente é punido com pena de prisão de doze a vinte e cinco anos.
2 - É susceptível de revelar a especial censurabilidade ou perversidade a que se refere o número anterior, entre outras, a circunstância de o agente:
a) Ser descendente ou ascendente, adoptado ou adoptante, da vítima;
(...)
f) Ser determinado por ódio racial, religioso, político ou gerado pela cor, origem étnicaou nacional, pelo sexo, pela orientação sexual ou pela identidade de género da vítima;
(...)
i) Utilizar veneno ou qualquer outro meio insidioso.
· Classificação dos crimes quanto ao bem jurídico tutelado: Crime simples (o bem jurídico é a vida)
· Classificação quanto ao grau de lesão do bem jurídico: Crime de dano
· Classificação quanto à conduta, atendendo ao objeto da ação: Crime de resultado (crime material)
· Classificação quanto à autoria:
	a), b), m) - Crime específico impróprio, visto que se existe uma concreta qualidade do agente, que, neste caso, é a relação familiar/de proximidade entre o agressor e a vítima
	f) e i) - Crime comum
· Classificação quanto ao modo de execução:
	a) e f) - Crime de execução livre 
	d), i), e h) - Crime de execução vinculada
· Classificação quanto à consumação: Crime de execução instantânea
NOTA: O homicídio padrão encontra-se numa relação de especialidade com o homicídio simples (artigo 131º CP), isto é, o tipo legal do artigo 132º CP contém todos os elementos do tipo de homicídio simples e acrescenta outros elementos que vão agravar a punição desta factualidade. Neste homicídio qualificado, ou seja, no artigo 132º CP, encontramos presente uma técnica legislativa designada de técnica dos exemplos-padrão. Esta técnica decompõe-se em dois elementos: por um lado, temos uma cláusula geral, que, no caso concreto, se encontra consagrada no número 1 do artigo 132º CP e, essa cláusula geral, diz respeito às circunstâncias que revelem especial censurabilidade ou perversidade; por outro lado, essa cláusula geral é integrada por um conjunto de exemplos, que vão ajudar à correta interpretação da cláusula geral. Esse elenco exemplificativo encontra-se previsto no número 2 do artigo 132º CP. 
Consequências da técnica dos exemplos-padrão:
1. Os exemplos servem para integrar a cláusula geral
2. Não basta que se verifique apenas cada um destes exemplos, para que estejamos perante um crime de homicídio qualificado. Temos de verificarsempre, para além da efetivação do exemplo, se a cláusula geral se encontra preenchida
3. Pode acontecer que haja uma concreta circunstância reveladora de especial censurabilidade ou perversidade do agente que não se encontre contemplada no elenco do nº 2 (este é meramente exemplificativo, ou seja, não esgota toda a realidade)
03/03/2021
Artigo 136º
(Infanticídio)
A mãe que matar o filho durante ou logo após o parto e estando ainda sob a sua influência perturbadora, é punida com pena de prisão de 1 a 5 anos.
→ O infanticídio é uma variação do homicídio privilegiado 
· Classificação dos crimes quanto ao bem jurídico tutelado: Crime simples (o bem jurídico protegido é a vida)
· Classificação quanto ao grau de lesão do bem jurídico: Crime de dano (o crime consuma-se com uma lesão de um concreto bem jurídico, a vida humana)
· Classificação quanto à conduta, atendendo ao objeto da ação: Crime de resultado (crime material) - há uma alteração externa espacio-temporalmente distinta da conduta
· Classificação quanto à autoria: Crime específico sui generis (só a mãe é que pode praticar este crime sobre o filho recém-nascido)
· Classificação quanto ao modo de execução: Crime de execução livre (este crime pode ser executado de diversas formas, não existindo uma forma específica de o fazer)
· Classificação quanto à consumação: Crime de execução instantânea
Artigo 138º 
(Exposição ou abandono)
1. Quem colocar em perigo a vida de outra pessoa: 
	a) Expondo-a em lugar que a sujeite a uma situação de que ela, só por si, não possa defender-se; ou 
	b) Abandonando-a sem defesa, sempre que ao agente coubesse o dever de a guardar, vigiar ou assistir; é punido com pena de prisão de 1 a 5 anos. 
2. Se o facto for praticado por ascendente ou descendente, adotante ou adotado da vítima, o agente é punido com pena de prisão de 2 a 5 anos. 
3. Se do facto resultar:
	a) Ofensa à integridade física grave, o agente é punido com pena de prisão de 2 a 8 anos; 
	b) A morte, o agente é punido com pena de prisão de 3 a 10 anos.
1. A exposição significa, normalmente, a deslocação física da vítima
· Classificação dos crimes quanto ao bem jurídico tutelado: Crime simples (vida)
· Classificação quanto ao grau de lesão do bem jurídico: 
1 e 2. Crime de perigo concreto
3. Crime de dano (tem de se verificar uma ofensa à integridade física - alínea a) ou a morte - alínea b))
	Neste caso verifica-se uma agravação do crime por resultado. O grande fundamento da agravação pelo resultado reside “no perigo normal típico quase se diria necessário que para certos bem jurídicos está ligado à realização do crime fundamental” – Figueiredo Dias
	No número três verifica-se uma agravação (crime agravado pelo resultado- crime fundamental praticado, ou a título doloso, ou a título negligente; nem sempre tem de ser um crime, pode ser a transmissão de uma doença, ou gravidez por violação, ainda que a gravidez não seja um crime o seu resultado agrava a ação de violação), resultado agravante esse que de acordo com o art.18º - CP, vai ser imputado ao agente pelo menos a título de negligência.
· Classificação quanto à conduta, atendendo ao objeto da ação: Crime de resultado (quando estamos perante crimes de perigos concreto estamos perante crimes de resultado, de acordo com a maioria na doutrina, embora possa não se verificar)
· Classificação quanto à autoria: 
	1. a)Crime comum (a vítima surge indiscriminada)
	1. b)Crime específico próprio (porque tinha o dever de guardar/vigiar/assistir – dever de garante, une o titular ao beneficiário; a vítima será o beneficiário do dever de garante) (se não houver dever de garante ou exposição recorremos ao tipo legal de omissão de auxílio ao abrigo do art.200º uma vez que o art.138º só incide sobre o de perigo de vida, é diferente de dolo de morte porque isso seria homicídio)
	2. Crime específico impróprio (a vítima será o familiar em causa) relação familiar - especial de proximidade existencial
· Classificação quanto ao modo de execução: Crime de execução livre (há mil e uma formas de abandonar/expor alguém)
· Classificação quanto à consumação: Crime de execução instantânea
Artigo 292º
(Condução de veículo em estado de embriaguez ou sob a influência de estupefacientes ou substâncias psicotrópicas)
1. Quem, pelo menos por negligência, conduzir veículo, com ou sem motor, em via pública ou equiparada, com uma taxa de álcool no sangue igual ou superior a 1,2 g/l, é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal
· Classificação dos crimes quanto ao bem jurídico tutelado: Crime complexo
· Classificação quanto ao grau de lesão do bem jurídico: Crime de perigo abstrato
· Classificação quanto à conduta, atendendo ao objeto da ação: Crime de mera atividade
· Classificação quanto à autoria: Crime comum 
· Classificação quanto ao modo de execução: Crime de execução vinculada (modo de execução descrito no tipo)
· Classificação quanto à consumação: Crime duradouro
10/03/2021
Artigo 154º-A
(Perseguição)
1 - Quem, de modo reiterado, perseguir ou assediar outra pessoa, por qualquer meio, direta ou indiretamente, de forma adequada a provocar-lhe medo ou inquietação ou a prejudicar a sua liberdade de determinação, é punido com pena de prisão até 3 anos ou pena de multa, se pena mais grave não lhe couber por força de outra disposição legal.
· Classificação dos crimes quanto ao bem jurídico tutelado: Crime simples (o bem jurídico protegido por este crime legal é a liberdade de decisão e de ação de outra pessoa, ou seja, a liberdade de autodeterminação pessoal) – a pessoas que é perseguida vê a sua vida fortemente limitada pela ação de perseguição que outra pessoa exerce sobre si. Alguém que é perseguido não vive livremente.
· Classificação quanto ao grau de lesão do bem jurídico: Crime de perigo abstrato-concreto (nos crimes de perigo abstrato-concreto também designados por delitos de aptidão, citando Paulo Pinto de Albuquerque “o tipo só inclui as condutas que sejam aptas numa perspetiva ex ante, de prognose postuma a criar o perigo para o bem jurídico pela norma devendo ser feita prova pelo tribunal da potencialidade da ação causar a ação”, o que se exige é que as condutas em causa sejam apttas a desencadear ou iniciar esse perigo.
· Classificação quanto à conduta, atendendo ao objeto da ação: Crime de mera atividade
· Classificação quanto à autoria: Crime comum 
· Classificação quanto ao modo de execução: Crime de execução livre (“por qualquer meio”)
· Classificação quanto à consumação: Crime habitual (“de modo reiterado”)
Ficha de Trabalho nº8
	Imputação objetiva: matéria relativas ao tipo de objetivo de ilícito.
	Na maioria da construção dos tipos incriminadores, vimos nós que temos crimes de resultado (elemento externo) e os crimes que se consubstanciam pela mera verificação da conduta. O primeiros não levantam problemática na prova do nexo entre o resultados e a ação, contrariamente aos crimes de xx que levantam um problema da impugnação do resultado à ação objetiva, que não é só por si uma categorização meramente empírica-causal ou naturalística, estamos a falar de uma questão normativa, não se limitando a características científico-naturais. Ao longo dos anos, a teoria da imputação objetiva sofreu alterações e é hoje declinada em 3 degraus, sendo que cada um corrige o antecedente:
· 	1º degrau: teoria da causalidade (conditio sine qua non): uma causaliade naturalística das condições equivalentes: a causa de uma conduta é toda a condição sem a qual o resultado não teria tido lugar – stuart mill, etc. Radica numa teoria causalista, axiologicamente neutra, meramente descritiva, ignora o conteúdo do ilícitio que se funda na contrarieadade à norma; este primeiro degrau se não for ultrapassado leva a resultados absurdos, se usarmos um critério popularizado pelos pressupostos desta teoria: sabemos que estamos perante uma conditio sine qua non (conduta necessária) se se a suprimirmos mentalmente, o resultado não se verificar. Adá um tiro a B ----- se A não premir o gatilho, B morre? Não.
· 2º degrau: teoria da adequação (ou causalidade adequada): já se apresenta como uma verdadeira teoria da imputação e não como uma mera teoria causalistas, neste 2º degrau a possibilidade pura e simples é substituída pela previsibilidade; nem todas as condutas serão relevantes para este 2º degrau, limitando o 1º, só aquelas que segundo as máximas da experiência e da normalidade do acontecer (segundo o que o que é previsível) são idóneas para produzir o resultado. A teoria da adequação visa limitar a imputação às condutas das quais resulte um perigo idóneo de produção do resultado, esta teoria, diga-se, encontra-se normativamente consagrada entre nós, no art.10º. Surgiu para limitar os excesso da teoria conditio sine qua non , a condição que leva a um facto é aquele que o fez surgir, como aferimos se aquela conduta é adequada à produção daquele resultado? Nós verificamos isso através de um nexo de causalidade adequada, o aplicador da norma vai executar um juízo de prognose postuma, vai deslocar-se mentalmente para o momento da pratica do facto e por isso é uma perspetiva “ex ante” vai avaliar a factualidade colocando-se na pele do agente no momento da prática do facto e vai colocar a seguinte pergunta: “e será que dada as regras gerais de experiência e o normal acontecimento dos factos e da prática da ação terá ou não terá levado à produção do resultado?”, vai apelar, por isso, a um critério das regras gerais da experiência e conhecimento dos factos; é um conceito altamente subjetivo, dependendo do observador a experiência de cada um deles um vai influenciar e por isso houve a necessidade de objetificar este critério, vai olhar para ele com a perspetiva do homem médio da condição sócio-existencial do agente e vamos de acordo com esta perspetiva colocar as perguntas sobre as regras gerais da experiência e se de facto era previsível aquele facto ser o resultado da ação. 
· 3º degrau: conexão do risco: (visa aprimorar o 2º) em determinada áreas da atividade humana que revelam um alto risco (ferroviária, aérea, etc) a teoria da adequação tende a falhar foi desenvolvido este terceiro degrau, contém um conjunto de corretores à Teoria da Adequação (risco permitido, risco diminuído, comportamento lícito alternativo e fim de proteção da norma). Válvulas de escape: Risco permitido, risco diminuído (inserindo-se no 3º degrau da imputação objetiva, é um dos corretores da Teoria da Adequação, o agente através de um determinada conduta vai diminuir o risco que impende sobre um determinado individuo, por exemplo empurrar alguém com força para evitar ser atropelado) comportamento lícito alternativo e o fim de proteção da norma.
CASO Nº 1
D, canalizador, foi contratado por E para reparar uma fuga de água num cano da casa-de-banho da fração autónoma propriedade deste último. Apesar de empregar os cuidados habituais nesse tipo de reparações, sucedeu que, em virtude de uma perfuração no chão da casa-de-banho, foi atingido um cabo elétrico que provocou um curto-circuito na fração autónoma situada em baixo e de que F era proprietário. Em virtude do estrondo, F, que estava a tomar banho, assustou-se e caiu na banheira, tendo fraturado a coluna cervical. 
F apresentou queixa-crime contra D e o M.P. deduziu acusação contra este último, imputando-lhe a prática do delito p. e p. pelo art. 148.º, n.º 3, por referência ao art. 144.º, al. c), ambos do C.P.
Do estrito ponto de vista da «imputação objetiva» do resultado à conduta, refira-se, fundadamente, à responsabilidade jurídico-penal de D.
	Segundo o “primeiro degrau”, de uma perspetiva meramente empírico-causal, se o canalizador não estivesse a trabalhar no prédio não teria provocado o curto-circuito e F não se teria assustado e não teria escorregado e fraturado a coluna cervical. 
	No entanto, como sabemos, o 1º degrau não nos basta e temos de recorrer ao 2º degrau, que trata a Teoria da Adequação, prevista no art.10º, o aplicador da norma vai executar um juízo de prognose postuma, vai deslocar-se mentalmente para o momento da pratica do facto e por isso é uma perspetiva “ex ante” vai avaliar a factualidade colocando-se na pele do agente no momento da prática do facto e vai colocar a seguinte pergunta: “e será que dadas as regras gerais de experiência e o normal acontecimento dos factos e da prática da ação, terá ou não terá levado à produção do resultado?”, vai apelar, por isso, a um critério das regras gerais da experiência e conhecimento dos factos. Vamos olhar para ele com a perspetiva do canalizador médio da condição sócio-existencial do agente e vamos, de acordo com esta perspetiva, colocar as perguntas sobre as regras gerais da experiência e se de facto era previsível aquele facto ser o resultado da ação. Não é previsível, não é expectável, não podemos afirmar que existe um nexo de adequação que furar o chão e o consequente curto-circuito no piso superior esteja relacionado com a queda e a fratura. 
	
CASO Nº 2
A partiu, durante a noite, os dois únicos candeeiros que se encontravam na entrada do edifício urbano em que habitava, deixando o patamar sem iluminação. Daí a alguns minutos, o menor B, dada a ausência de visibilidade, tropeçou, bateu com a cara no chão e, em virtude dos vidros que aí se encontravam, ficou com o rosto totalmente desfigurado. Conduzido ao hospital numa ambulância, veio a perecer devido a um acidente de viação provocado por C que, conduzindo embriagado, embateu na ambulância.
Avalie, de modo fundamentado, a responsabilidade jurídico-criminal de A e de C.
	Segundo o “primeiro degrau”, de uma perspetiva meramente empírico-causal na teoria conditio sine qua non, se o canalizador não partisse os candeeiros não teria provocado a queda de B, porque se tivesse luz não iria tropeçar.
	No entanto, como sabemos, o 1º degrau não nos basta e temos de recorrer ao 2º degrau, que trata a Teoria da Adequação, prevista no art.10º, o aplicador da norma vai executar um juízo de prognose postuma, vai deslocar-se mentalmente para o momento da pratica do facto e por isso é uma perspetiva “ex ante” vai avaliar a factualidade colocando-se na pele do agente no momento da prática do facto e vai colocar a seguinte pergunta: “e será que dadas as regras gerais de experiência e o normal acontecimento dos factos e da prática da ação, terá ou não terá levado à produção do resultado?”, vai apelar, por isso, a um critério das regras gerais da experiência e conhecimento dos factos. Vamos olhar para ele com a perspetiva do canalizador médio da condição sócio-existencial do agente e vamos, de acordo com esta perspetiva, colocar as perguntas sobre as regras gerais da experiência e se de facto era previsível aquele facto ser o resultado da ação. 
	Neste caso em concreto, pode haver um nexo de causalidade adequada, os candeeiros servem para iluminar a entrada e como o que provocou a lesão foi a falta de iluminação; quando nos deslocamos na via pública sem luz a perigosidade aumenta e ao partir os dois candeeiros o nosso agente aumentou o risco de acidente, e não é só isto, para além de partir o candeeiro deixou lá ficar os vidros o que aumentou ainda mais as probabilidades de risco. Há um nexo de causalidade entre a quebra do candeeiro e o consequente abandono dos cacos, torna previsível que daí advenham acidentes.
	Neste caso em concreto resultou da desfiguração do jovem, podemos imputar a A a ofensa à integridade física de B (art.148º), o resultado morte não lhe poderia ser imputado porque aqueles ferimentos, que concretamente se verificaram, não se consideram adequados para causar a morte; no entanto, podemos imputar o resultado de morte a C porque os seus atos imprudentes (o facto de conduzir embriagado foi o que levou ao acidente) são condição adequada à morte de B, assim sendo não podemos imputar o resultado de morte a A porque o resultado de morte veio verificar-se segundo a interferência de C.
17/03/2021
CASO Nº 3
A conduzia o seu automóvel no estrito cumprimento das regras legais. Ao passar um cruzamentoem que tinha prioridade, foi embatido de ambos os lados por outros dois veículos conduzidos por X e Y, os quais, para além de perderem a prioridade no dito cruzamento, circulavam em excesso de velocidade e, cada um deles, com uma taxa de álcool no sangue (TAS) de 2 g/l. Do relatório da autópsia médico-legal de A, concluiu-se que a sua morte adviera de hemorragias internas provocadas por uma das colisões, sem que se tivesse conseguido apurar qual delas redundara na morte de A.
Quid iuris?
	Neste caso estamos perante um caso especial, um caso de causalidade alternativa também designado como dupla causalidade (estamos perante uma situação destas quando dois ou mais agentes desencadeiam processos causais autónomos e não se consegue provar qual deles produziu o resultado), temos aqui dois processos causais, um desencadeado por X e outro por Y e os dois poderiam produzir a morte, mas não sabemos qual; entende a doutrina maioritária que uma vez que não se consegue provar qual das condutas produziu efetivamente a morte e acolhendo o pr. in dubio pro reu o julgador deveria optar pela decisão mais favorável aos arguidos e essa decisão seria a não imputação o resultado aos agentes, neste caso, a morte.
	(Complemento: a doutrina também defende que, num caso destes ainda que não possamos imputar o resultado à ação, se houver dolo por parte dos agentes vamos puni-los a título de tentativa;
EXEMPLO: A e B, sem combinar, colocam veneno no copo de C, ambos os venenos são suscetíveis de provocar a morte, mas em termos periciais não se chega a saber qual dos venenos produziu a morte. Podíamos imputar o resultado de morte? Não, porque não sabemos qual dos venenos produziu o resultado, mas isto não significa impunidade, se eles atuaram com dolo serão punidos a título de tentativa)
CASO Nº 4
C, eletricista, era funcionário de D, que se dedicava à perigosa atividade de montagem de cabos elétricos de alta tensão. Em Setembro de 2002, enquanto C se encontrava em trabalhos num poste, a central elétrica que abastecia aquela área sofreu uma sobrecarga acidental, o que provocou a morte do trabalhador. Veio a apurar-se que D, para diminuir as despesas, não fornecia aos seus trabalhadores o equipamento de proteção pessoal exigido por lei. Apurou-se, ainda, que, nas circunstâncias descritas e devido à intensidade da sobrecarga, nenhum equipamento evitaria a morte de C.
1. Do estrito ponto de vista da “imputação objetiva” do resultado à conduta, refira-se, fundadamente, à responsabilidade jurídico-penal de D.
	CASO DO CARBÚNCULO: Caso real na Alemanha, fábrica de pincéis para a barba feito de pelos de vários animais. Esses pelos vinham da China e muitas vezes trazem várias maleitas e normalmente eram esterilizados, num dos lotes a desinfeção não foi feita de forma adequada e um dos trabalhadores morreu devido a uma infeção da carbúnculo (antrax - veneno extremamente mortal). À posteriori descobriu-se que nenhuma desinfeção na época seria capaz de eliminar o carbúnculo
	Segundo o “primeiro degrau” (conditio sine qua non), de uma perspetiva meramente empírico-causal, não há dúvidas de relação entre a descarga e a morte de C. 
	No entanto, como sabemos, o 1º degrau não nos basta e temos de recorrer ao 2º degrau, que trata a Teoria da Adequação, prevista no art.10º, o aplicador da norma vai executar um juízo de prognose postuma, vai deslocar-se mentalmente para o momento da pratica do facto e por isso é uma perspetiva “ex ante” vai avaliar a factualidade colocando-se na pele do agente no momento da prática do facto e vai colocar a seguinte pergunta: “e será que dadas as regras gerais de experiência e o normal acontecimento dos factos e da prática da ação, terá ou não terá levado à produção do resultado?”, vai apelar, por isso, a um critério das regras gerais da experiência e conhecimento dos factos. Vamos olhar para ele com a perspetiva do trabalhador médio da condição sócio-existencial do agente e vamos, de acordo com esta perspetiva, colocar as perguntas sobre as regras gerais da experiência era previsível que a não utilização de equipamento pode levar a acidentes. A descarga elétrica desacompanhada da utilização e elementos de segurança é então condição idónea da morte de C. No entanto, a voltagem foi tão elevada que mesmo que C estivesse a utilizar o elemento de segurança morreria na mesma (um pouco à imagem do que aconteceu no caso do carbúnculo) 
	Nós sabemos que em determinados setores de atividade humana marcados pelo risco temos ainda que investigar o 3º grau, para ver se não existirá porventura nenhum corretor da Teoria da Adequação, nomeadamente, risco permitido, risco diminuído, comportamento lícito alternativo e o fim de proteção da norma. 
	Este, tal como o caso do carbúnculo, é um caso em que intervém um dos corretores da Teoria da Adequação, designado por comportamento lícito alternativo (diz respeito aqueles casos em que tanto a conduta indevida como a conduta lícita produziriam o mesmo resultado típico). Nestes casos a imputação do resultado à ação traduzir-se-ia na punição da violação de um dever cujo cumprimento teria sido inútil, o que, no entendimento de Figueiredo Dias violaria o pr. da igualdade. A doutrina também defende que, num caso destes ainda que não possamos imputar o resultado à ação, se houver dolo por parte dos agentes vamos puni-los a título de tentativa, se houver apenas negligência, que é o que se verifica, não admitindo esta tentativa, pelo que o resultado é a não punibilidade do agente.
0. Suponha, agora, que D não fornecera a C o equipamento de segurança porque ansiava vê-lo morto e que, no exato momento da sobrecarga na central elétrica, C foi também atingido na cabeça por uma pedra lançada por E com intenção de o matar, tendo-se apurado que o óbito adveio da conjugação entre o primeiro fator e o traumatismo provocado pelo arremesso da pedra. Quid iuris?
	Neste caso em concreto, estamos perante um caso de causalidade cumulativa, isto é, nenhuma das condutas por si só considerada produz o resultado, visto que nenhum dos agentes sabe da intenção do outro, embora ambos tenham a intenção de matar. O resultado, no nosso caso concreto, advém da conjugação das duas condutas. Assim, nenhuma destas ações, isoladamente, seria capaz de dar origem ao resultado, portanto, não podemos imputar o resultado (neste caso, morte) à conduta dos nossos agentes.
	NOTA: O que pode haver aqui é uma punição a título de tentativa, porque, apesar de não haver o desvalor do resultado, verifica-se o desvalor da conduta.
	No que respeita à causalidade cumulativa ou alternativa, tanto numa como noutra, não se prova o nexo causal entre a ação ou as ações e o resultado, seja porque o resultado corresponde à cumulação de duas condutas autónomas, seja porque não se consegue provar, seja porque não se consegue provar qual das condutas conduziu ao resultado.
CASO Nº 5
A era o responsável por um matadouro municipal. No decurso da laboração, o funcionário B foi ferido por um animal que estava a ser descarregado. Passado um mês, B veio a falecer.
Do relatório da autópsia médico-legal concluiu-se que o funcionário morrera em virtude de uma infecção sanguínea rara, causada por uma bactéria que se encontrava no animal.
Averiguou-se que uma desparasitação com um determinado produto, aquando da chegada do animal ao matadouro, seria suficiente para eliminar a bactéria, mas que tal desparasitação não era ainda obrigatória em Portugal, apesar de haver uma simples recomendação dos órgãos competentes da U.E. nesse sentido.
1. Do ponto de vista da imputação objectiva, refira-se à responsabilidade jurídico-penal de A.
Segundo o “primeiro degrau”, de uma perspetiva meramente empírico-causal na teoria conditio sine qua non, o ataque do animal é causa para a produção da morte.
No entanto, como sabemos, o 1º degrau não nos basta e temos de recorrer ao 2º degrau, que trata a Teoria da Adequação, prevista no art.10º, o aplicador da norma vai executar um juízo de prognose postuma, vai deslocar-se mentalmente para o momento da pratica do factoe por isso é uma perspetiva “ex ante” vai avaliar a factualidade colocando-se na pele do agente no momento da prática do facto e vai colocar a seguinte pergunta: “e será que dadas as regras gerais de experiência e o normal acontecimento dos factos e da prática da ação, terá ou não terá levado à produção do resultado?”, vai apelar, por isso, a um critério das regras gerais da experiência e conhecimento dos factos. Vamos olhar para ele com a perspetiva do agente médio da condição sócio-existencial do agente e vamos, de acordo com esta perspetiva, colocar as perguntas sobre as regras gerais da experiência se aquela conduta era idónea à produção do resultado, e sim, aquela lesão poderia levar aquele resultado.
	Nós sabemos que em determinados setores de atividade humana marcados pelo risco, neste caso aplica-se porque trabalhar com animais e devido a toda a matéria biológica que matar os animais envolve perigosidade para o trabalhador e por isso temos ainda que investigar o 3º grau, para ver se não existirá porventura nenhum corretor da Teoria da Adequação, nomeadamente, , risco permitido, risco diminuído, comportamento lícito alternativo e o fim de proteção da norma.
	Firam cumpridas todas as regras deste setor de atividade, a desparasitação é apenas uma recomendação da EU não tendo caráter obrigatório. Estamos, por isso, perante um risco permitido, não sendo possível imputar resultado à ação do agente.
(EXEMPLO: num desporto como o futebol, o que é que ainda se enquadra num risco permitido? Lesões em contacto com a bola, disputa de bola, carga de ombro.)
24/03/2021
0. Suponha agora que se provou que A conhecia a existência da dita bactéria no animal, bem como de uma doença sanguínea grave que afetava B, sabendo que tal poderia ocasionar a morte quando em contacto com a bactéria. A sua resposta seria a mesma? Justifique.
Neste caso, o agente, apesar de ter cumprido as regras do setor de atividade, este tinha conhecimento da existência da bactéria e da condição de B. Como o agente tem conhecimentos especiais, deve agir de acordo com esses conhecimentos que possui, ou seja, vai ter de adotar um comportamento que manifeste esses conhecimentos de forma coerente. Neste caso, nunca poderíamos afirmar o risco permitido. Assim, iremos imputá-lo ao resultado visto que estamos perante um risco proibido.
CASO Nº 6
“A e B trabalham no mesmo matadouro, mas são como o cão e o gato, andam continuamente em discussão um com o outro e até já foram chamados à gerência, que os pôs de sobreaviso: ou acabam com as disputas, ou vão ambos para a rua. Mas nem isso chegou para os acalmar. Uma tarde, A porque não gostou dos modos do companheiro, atirou-lhe ao peito, com grande violência, o cutelo com que costumava trabalhar, enquanto lhe gritava: “desta vez, mato-te mesmo!”. A força do golpe foi atenuada pelo blusão de couro que B usava por baixo do avental de serviço e A não prosseguiu a agressão porque disso foi impedido por outros trabalhadores, que entretanto se deram conta da disputa. A ferida produzida pelo cutelo não era de molde a provocar a morte da vítima, mas B foi conduzido ao hospital onde, por cautela, ficou internado, em observação. Numa altura em que estava sob efeito de sedativos, B recebeu a visita de C, sua mulher, a qual tinha “um caso” com A, motivo de todas as discórdias. Logo aí C, que ambicionava vir a casar-se com A, aproveitou para se ver livre do marido, que se recusava a dar-lhe o divórcio: aproveitando um momento de sono, aplicou-lhe uma almofada na cara, impedindo-o de respirar, até que o doente se finou. O posterior relatório da autópsia descreveu a causa da morte, mas os peritos adiantaram que B sofria de uma doença do coração que não lhe permitiria sobreviver senão uns dias”.
Quid iuris?
(RESOLVER EM CASA)
Ficha de Trabalho Nº 9
CASO Nº 1
A regressava de uma montaria ao javali na Serra do Alvão quando se deparou com B, motociclista que se havia despistado momentos antes e que agora se esvaía em sangue no meio da estrada. Quando A se aproximou para prestar auxílio, B implorou que lhe pusesse fim ao sofrimento, afirmando que se encontrava condenado. A acedeu ao pedido de B, desferindo-lhe um tiro mortal.
Do relatório da autópsia constava que B, devido às lesões provocadas pelo acidente de viação, nunca chegaria vivo ao hospital.
Do estrito ponto de vista da imputação objetiva, avalie a responsabilidade de A.
	Neste caso em concreto, a causa da morte é o tiro. O que a autópsia evidencia é que, se não houvesse havido o tiro, o agente nunca chegaria com vida ao hospital, devido à extensão dos ferimentos. De acordo com o primeiro degrau (conditio sine qua non), aquele tiro foi a condição da morte, visto que, se não houvesse o tiro, o agente não teria morrido naquele momento.
No entanto, como sabemos, o 1º degrau não nos basta e temos de recorrer ao 2º degrau, que trata a Teoria da Adequação, prevista no art.10º, o aplicador da norma vai executar um juízo de prognose postuma, vai deslocar-se mentalmente para o momento da pratica do facto e por isso é uma perspetiva “ex ante” vai avaliar a factualidade colocando-se na pele do agente no momento da prática do facto e vai colocar a seguinte pergunta: “e será que dadas as regras gerais de experiência e o normal acontecimento dos factos e da prática da ação, terá ou não terá levado à produção do resultado?”, vai apelar, por isso, a um critério das regras gerais da experiência e conhecimento dos factos. Vamos olhar para ele com a perspetiva do agente médio da condição sócio-existencial do agente e vamos, de acordo com esta perspetiva, colocar as perguntas sobre as regras gerais da experiência se aquela conduta era idónea à produção do resultado, e sim, aquela lesão poderia levar aquele resultado. Há um nexo de adequação claríssimo entre este tiro e o resultado.
NOTA: Causa virtual, também conhecida como causa hipotética (não confundir com comportamento lícito alternativo), segundo Figueiredo Dias: na causalidade virtual, “o que agora está em causa é o agente ter produzido o resultado numa hipótese em que se não tivesse atuado o resultado surgiria em tempo e sob condições tipicamente semelhantes por força de uma ação de terceiro ou de um acontecimento natural”. A causa virtual não chega, na realidade, a atuar e, portanto, nem sequer a concorrer realmente para a produção do resultado. (EXEMPLO: A coloca uma avião e detona essa bomba, posteriormente vem a verificar-se que avião cairia por falta de combustível, mais não é que uma causa virtual, não chega concretamente a verificar-se, as mortes são causadas pela bomba e não pela falta de combustível)
No nosso caso concreto, a forte possibilidade, de morrer a caminho do hospital, mais não é do que uma causa virtual porque nunca chega a atuar e, por isso, segundo a esmagadora maioria da doutrina, ela é irrelevante e nunca terá influência sob a imputação objetiva. A nossa causa virtual seria não o tiro, mas sim os sinistros resultantes do acidente de mota. O resultado morte poderia ser insultado ao nosso agente.
CASO Nº 2
Em Agosto de 2015, pela noite, A pegou fogo a árvores secas em diversos locais de uma zona montanhosa. Os focos de incêndio rapidamente aumentaram de intensidade e alastraram às zonas circundantes. Quando os bombeiros chegaram, o incêndio ocupava já uma área considerável.
Subitamente, devido a uma forte rajada de vento que antes não se fazia sentir, o incêndio mudou de direção e começou a produzir uma densa nuvem de fumo, encurralando um grupo de 8 bombeiros. Destes 8 bombeiros, 5 morreram e 3 ficaram feridos.
Do estrito ponto de vista da imputação objetiva, avalie a responsabilidade de A.
Segundo o “primeiro degrau” (conditio sine qua non), de uma perspetiva meramente empírico-causal, não há dúvidas que a conduta de A foi o que deu origem à morte dos 5 bombeiro. 
	No entanto, como sabemos, o 1º degrau não nos basta e temos de recorrer ao 2º degrau, que trata a Teoria da Adequação, prevista no art.10º, o aplicador da norma vai executar um juízo de prognose postuma, vai deslocar-se mentalmentepara o momento da pratica do facto e por isso é uma perspetiva “ex ante” vai avaliar a factualidade colocando-se na pele do agente no momento da prática do facto e vai colocar a seguinte pergunta: “e será que dadas as regras gerais de experiência e o normal acontecimento dos factos e da prática da ação, terá ou não terá levado à produção do resultado?”, vai apelar, por isso, a um critério das regras gerais da experiência e conhecimento dos factos. Vamos olhar para ele com a perspetiva do bombeiro médio da condição sócio-existencial do agente e vamos, de acordo com esta perspetiva, colocar as perguntas sobre as regras gerais da experiência era previsível que a não utilização de equipamento pode levar a acidentes. Numa montanha há muito material suscetível de ignição (folhagem seca, troncos caídos, etc..) e infelizmente é uma zona propícia a verificação de incêndios. De facto, esta conduta, é adequada à produção de acidentes, sejam eles ofensas à integridade física, morte e a eventual perda de outros bens. Podemos, por isso imputar o resultado à conduta do nosso agente. Visto que não estamos perante nenhum corretor da teoria da adequação, podemos imputar o resultado à conduta do agente.
	NOTA: O risco diminuído, inserindo-se no 3º degrau da imputação objetiva (conexão do risco) é um dos corretores da teoria da adequação. Nestes casos, o nosso agente, através de uma concreta conduta, vai diminuir o risco que impende sobre um determinado indivíduo/vítima. Exemplo: B ia ser atropelado. A, vendo que B vai ser atropelado, empurra-o, retirando-o da colisão iminente do veículo. Desse empurrão, vem a verificar-se algumas escoriações. Essas escoriações não serão imputáveis ao agente que empurrou, visto que o ato de empurrar B surgiu como forma de o afastar da morte.
→ Sempre que A atua sobre B, diminuindo o risco que impendia sobre B, atua a coberto do risco diminuído.
CASO Nº 3
Na estrada que liga duas localidades portuguesas, junto a uma Escola Profissional, encontra-se uma placa de sinalização rodoviária que limita a velocidade dos veículos ligeiros a 50 km/h.
Imagine que, no dia 26 de Fevereiro de 2020, pelas 3h00 da madrugada, A circulava junto à referida Escola a uma velocidade de 70 km/h, tendo atropelado mortalmente um peão.
Do estrito ponto de vista da imputação objetiva, poderíamos responsabilizar A tendo apenas por fundamento a violação da mencionada regra de velocidade?
	Esta norma não foi pensada para proteger peões que circulem naquela estrada fora do horário de funcionamento daquela escola. Assim sendo, a factualidade em causa ultrapassa o fim de proteção da norma. Tendo em conta que é um estrada que liga duas localidade, a velocidade permitida seria superior e por isso, acreditamos que que devido a essa facto, a placa tenha sido lá colocada para proteger as pessoas que frequentam e trabalham naquela escola.
	A norma de cuidado do direito estradal em questão visa proteger os estudantes da escola profissional durante o seu horário de funcionamento, assim sendo, a norma não visa, proteger peões que circulem naquela estrada de madrugada, semelhante factualidade ultrapassa o fim da proteção da norma. No nosso caso, a imputação objetiva não se poderia alicerçar apenas na violação da norma de cuidado uma vez que a conduta em questão ultrapassou o seu fim de proteção, o que não significa que o condutor não tivesse responsabilidade.
FICHA DE TRABALHO Nº 10
CASO Nº 1
C desejava destruir pelo fogo a habitação onde D residia. Para o efeito, muniu-se de gasóleo e de tochas que ateou e que se preparava para lançar para o interior de uma das divisões da residência, para o efeito partindo a janela.
Sucede, porém, que, quando C atirou a tocha, devido ao forte vento que se fazia sentir, ao invés de ela ter atingido a divisão projetada, acabou por atingir outra, sendo este o foco inicial do incêndio que destruiu a habitação.
Em julgamento, C defendeu-se alegando que o resultado criminoso não surgira do modo inicialmente planeado, pelo que «deveria beneficiar de uma atenuação especial da pena».
Se fosse juiz(a), como decidiria? Fundamente a sua resposta.
	Neste caso em particular, a vontade (elemento volitivo de dolo) do agente era destruir a casa através do fogo e trata-se de dano qualificado uma vez que uma casa representa um valor bastante elevado. O delito consumado continua a ser a destruição da casa apesar do agente tentar alegar que o foco da ignição devia ser outra divisão da casa, mas por ação do vento acabou por cair noutra divisão da casa, no entanto
	Neste caso concreto estamos perante um erro sobre o processo causal porque apesar de haver uma correspondência entre o delito projetado e o delito consumado há uma divergência entre o risco conscientemente criado pelo agente e aquele do qual deriva efetivamente o resultado. Há uma divergência entre o processo causal projetado pelo agente e o processo causal que efetivamente veio gerar o resultado.
	Figueiredo Dias diz-nos que em casos que envolvem o erro sobre o processo causal devem começar a ser resolvidos através da doutrina da imputação objetiva e podemos assim estabelecer assim/ou não um nexo de causalidade. “A questão deve começar a ser resolvida por via da doutrina da imputação objetiva” - Figueiredo Dias.
	Assim, vamos aplicar a teoria da adequação. Se fizermos um juízo de prognose póstuma, vamos verificar que o incêndio ainda se reconduz ao ato de atirar a tocha. O desvio do processo causal ainda se encontra coberto pelo nexo de adequação, de acordo com o normal acontecer dos factos.
	Seguidamente, de acordo com Figueiredo Dias, teremos de verificar se o resultado é ou não imputável ao agente. No nosso caso, chegamos à conclusão de que o resultado é imputável ao agente. 
	O erro sobre o processo causal, à partida, só será relevante se tivermos perante crimes de execução vinculada (o crime de execução vinculada é aquele cuja execução se encontra prevista taxativamente no tipo). Neste caso, o erro será relevante como erro do artigo 16º/1 CP, ou seja, como um erro que exclui o dolo, ficando ressalvada a possibilidade de punição por negligência, nos termos do artigo 16º/3 CP. Nos crimes de execução livre, na maioria dos casos o erro será irrelevante.
	O dano (art.213º/1/a)), sendo um crime de execução livre o erro será completamente irrelevante e podemos afirmar a imputabilidade do agente, não beneficiando, por isso, de uma atenuação especial da pena.
CASO Nº 2
Após realização de audiência de julgamento, deram-se como provados os seguintes factos:
a. No dia 3/11/2001, a arguida A envolveu-se numa discussão com B e muniu-se de um pau para lhe bater. Então, a arguida levantou o pau na direção de B, para com ele a atingir na cabeça, mas quando aquele já fazia a trajetória descendente, B desviou-se e o pau manuseado pela arguida foi atingir a cabeça do menor C, filho de B, que se encontrava junto desta.
b. Em consequência da pancada que levou, além de dores, o referido C sofreu ferimentos ligeiros.
A arguida agiu sabendo e querendo molestar fisicamente a dita B, que não atingiu por esta se ter desviado da trajetória do pau, acabando por atingir a cabeça do dito menor, possibilidade que nem sequer representara.
Quid iuris?
	A nossa agente tem vontade de ferir B mas não de ferir C e por isso, estamos perante um caso de “aberratio ictus vel impetus” também designado por erro na execução (o agente erra o alvo, o resultado consumado é diverso daquele que o agente havia projetado).
	Como é que se pode punir o agente neste caso? A pode ser punida por negligência na ofensa em relação ao menor por não existir dolo e pode ainda ser punida em relação a B a título de tentativa.
	Diz-nos FD que num caso de erro de execução, o agente deve ser punido por tentativa em relação ao crime projetado (ofensa a B) em concurso com o crime de resultado negligente (ofensa à integridade física de C) quando os pressupostos estiverem preenchidos (se não estiverem preenchidos os pressupostos da negligência é apenas punido a título de tentativa). Esta posição doutrinal é denominadade Teoria da Concretização, defendida por FD e representa a maioria doutrinal.
	Há outra teoria minoritária que se chama Teoria da Equivalência (por Welzel) que nos diz que se houvesse coincidência típica (crime consumado igual ao crime projetado) o agente seria punido pelo delito doloso consumado; neste caso A seria punida por dolo.
CASO Nº 3
Entre as 23h45 do dia 13/09/2000 e as 01h20, do dia 14/09/2000, C chegou à casa onde vivia com sua mãe D e E, que vivia maritalmente com a D. C percebeu logo que E estava alterado.
Pouco depois, E começou a dizer que ela, C, é que era a culpada da discussão que ele estava a ter com a sua mãe. C foi à cozinha, pegou num pão e num copo que colocou num prato e foi para o seu quarto. E deslocou-se até ao quarto de C e, após troca de palavras, executou o gesto para a atingir com a mão na face, atingindo ao invés o prato que ela tinha na mão, que foi embater no seu rosto, partindo-se. Como consequência, C sofreu feridas incisas na face que lhe determinaram, como consequência direta e necessária, uma cicatriz com 2 cm de comprimento e 0,5 cm de largura na pirâmide nasal à esquerda.
Avalie a responsabilidade jurídico-criminal de E.
	O facto projetado pelo agente era agredir C com a mão, o facto consumado foi ter atingido o prato vez de atingir C, tendo este partido e atingido C na cara e por isso, o facto projetado e o facto consumado são ambos ofensas à integridade física. Não há qualquer erro quanto à identidade de C.
Não estamos perante um desvio da trajetória (erro na execução) porque a trajetória era a mesma, E atingiu a pessoa que projetava atingir. O que há um processo causal diferente daquele que foi inicialmente projetado, há um erro no processo causal, E queria atingir C com a mão e acertou-lhe com o prato.
	Estando perante um erro no processo causal, teremos de aplicar a teoria da imputação objetiva. Assim, a conduta é idónea à produção do resultado, ou seja, afirma-se a imputação objetiva do resultado à ação. O erro sobre o processo causal, à partida, só será relevante se tivermos perante crimes de execução vinculada (o crime de execução vinculada é aquele cuja execução se encontra prevista taxativamente no tipo). Neste caso, o erro será relevante como erro do artigo 16º/1 CP, ou seja, como um erro que exclui o dolo, ficando ressalvada a possibilidade de punição por negligência, nos termos do artigo 16º/3 CP. Nos crimes de execução livre, na maioria dos casos o erro será irrelevante. No caso concreto, as ofensas à integridade física são crimes de execução livre sendo o erro irrelevante.
CASO Nº 4
A era casada com B, um poderoso narcotraficante colombiano radicado em Portugal e que monopolizava a entrada de estupefacientes em todo o sul da Europa. Vítima de violência doméstica consubstanciada em agressões várias e diversas humilhações públicas, A decidiu livrar-se de B, aproveitando para tomar conta do negócio deste. Para o efeito contratou C, um sicário (assassino a soldo) que gozava de boa reputação no seu ramo de actividade, entregando-lhe diversa documentação que fornecia uma descrição precisa do alvo a abater.
Certa noite, C montou uma emboscada junto a um bar que B frequentava regularmente.
Assim que viu o alvo, disparou um tiro certeiro e mortal. Porém, após o disparo, C reparou que a vítima não era B, mas um indivíduo que apresentava grandes parecenças físicas com aquele.
Quid juris?
Neste caso, estamos perante um error in persona vel objecto, que ocorre quando o agente erra sobre a identidade do objeto ou da pessoa a atingir. Estes casos podem decompôr-se em dois grupos problemáticos: em primeiro lugar, os casos em que o objeto atingido é tipicamente idêntico ao projetado; e em segundo lugar, aquele grupo de casos em que o objeto atingido não é tipicamente idêntico ao objeto projetado. 
No primeiro grupo de casos, o erro sobre o objeto será irrelevante, uma vez que a lei proíbe a lesão, não de um determinado objeto ou indivíduo, mas de todo e qualquer objeto ou pessoa compreendidos no tipo de ilícito.
No segundo grupo de casos, quando o agente erra sobre as qualidades do objeto a atingir, vamos punir o agente por tentativa, ou então concurso de tentativa por responsabilidade por negligência.
Assim sendo, o erro sobre o objeto será irrelevante, uma vez que a lei proíbe a lesão, não de um determinado objeto ou indivíduo, mas de todo e qualquer objeto ou pessoa compreendidos no tipo de ilícito. De notar que o agente revela conhecimento e vontade de realização do tipo de objetivo de ilícito (o nosso agente pretende cometer um homicídio). Assim, está verificado, tanto o elemento intelectual do dolo, como o elemento volitivo do dolo. Portanto, no nosso caso concreto, o agente será punido por homicídio.
CASO Nº 5
F e G eram proprietários de um estabelecimento comercial em que desenvolviam a atividade de restauração. Por sugestão do vendedor H, instalaram duas máquinas de jogo nesse local, convencidos de que tal era lícito, como lhes havia sido sempre dito por H. Aquando de uma inspeção pelas autoridades competentes, foi levantado auto de notícia pela prática de um crime de exploração ilícita de jogo, p. e p. pelo art. 108.º, n.º 1, do DL n.º 422/89, de 2 de Dezembro.
Refira-se à responsabilidade jurídico-penal de F, G e H.
Os nosso agentes, F e G, desconheciam a norma, porém não precisamos de conhecer as normas do Código Penal para sabermos que não podemos roubar, furtar, matar, etc.
Nestes casos estamos perante delicta mere prohibita, ou seja, não basta o conhecimento das normas para que ele 
(...) - APONTAMENTOS DA GABY
Neste caso, estamos perante a violação de uma norma pertencente ao direito penal secundário (presente em legislação avulsa, extravagante). As incriminações pertencentes ao direito penal secundário, à partida, são incapazes de guiar ou de formar a consciência ética do agente sem que este conheça a concreta norma - à partida, estas normas não suscitam um problema de desvalor ligado ao dever-ser jurídico-penal.
Assim sendo, em casos desta natureza, exige-se que o agente, para além de conhecer todas as circunstâncias do facto, possua ainda o conhecimento da proibição legal, porque estamos perante condutas que não suscitam imediatamente um problema de desvalor ligado ao dever-ser jurídico. Neste caso, o agente só reconhece a ilicitude quando conhece a proibição.
Neste caso, estamos perante um erro que exclui o dolo, ficando ressalvada a possibilidade de punição por negligência, prevista no artigo 16º/3 CP, logo que se verifiquem os pressupostos, nomeadamente que se verifique uma violação do dever objetivo de cuidado e que haja uma previsão legal expressa de punição a título negligente.
Concluindo, não poderemos responsabilizar F e G, a título doloso, pelo facto consumado. Relativamente a H, este será responsabilizado a título doloso
FICHA DE TRABALHO Nº 11
CASO Nº 1
C era casada com D, com quem mantinha uma relação particularmente conflituosa. Meses antes havia convencido o marido a celebrar um seguro de vida. Quando se apercebeu da elevada soma pecuniária que receberia em caso de morte do marido, C começou a urdir um plano para se livrar daquele. Assim sendo, decidiu moer vidro num pequeno almofariz, introduzindo o pó obtido na bebida favorita do marido, um espumante “cuvée millésime”. Vinte minutos após ingerir a bebida, D perdeu os sentidos. Julgando que o marido se encontrava morto, C decidiu ocultar o corpo atirando-o a um poço.
Do relatório da autópsia constava o afogamento como causa da morte.
Quid iuris?
	O que aqui não correu como planeado foi que o vidro não produziu a morte da vítima, visto que a morte só foi produzida por afogamento.
Neste caso estamos perante a figura do dolus generalis, ou seja, quando o agente erra quanto a diversos atos produzirá a ação. Estes casos ocorrem cronologicamente em dois momentos: num primeiro momento, a ação suportada pelo dolo do facto não determina ainda imediatamente o resultado. No nosso caso, a colocação do vidro na bebida da vítima não determinou a sua morte. Enquanto, num segundomomento, a ação que causa um resultado, não mais é suportada pelo dolo do facto - quando a vítima atira o corpo para o poço, o agente não tem o dolo de matar, mas sim de ocultar o corpo.
Relativamente à doutrina minoritária (Jakobs e Curado Neves), o agente seria punido por tentativa no primeiro caso e, no segundo, por negligência.
A doutrina dominante diz-nos que, nestes casos, o agente deve ser punido pelo crime consumado, uma vez que o agente quis, desde o início, a morte. Figueiredo Dias adere a esta doutrina maioritária, resolvendo estes casos de dolus generalis, através da doutrina da imputação objetiva. 
“Tudo passará por saber se o risco que se concretiza no resultado pode ainda reconduzir-se ao quadro dos riscos criados pela primeira ação” - Figueiredo Dias.
 Inversamente, se o risco que se consubstancia no resultado, não puder ser reconduzido aos riscos da ação, só podemos punir o agente por tentativa, eventualmente em concurso com o crime negligente consumado.
Se aplicarmos aqui os diferentes degraus da imputação objetiva, chegaremos à conclusão que o resultado morte ainda pode ser reconduzido pelos riscos colocados pela primeira ação, visto que a primeira ação criou o risco de morte. Assim sendo, vamos punir o nosso agente por homicídio consumado.
NOTAS:
· Neste caso, estamos perante um crime de homicídio qualificado, nos termos do artigo 132º CP.
· Uma figura muito próxima do dolus generalis é a inversão temporal dos acontecimentos - temos duas ações, mas o agente apenas pretende o resultado na segunda ação (e não na primeira, como o caso do dolus generalis)
· Exemplo: A quer administrar um tranquilizante em B, para depois o matar com um tiro, facilitando a tarefa de produção da morte. Imaginemos que o agente não doseou corretamente o tranquilizante, ou seja, utilizou uma dose demasiado elevada, e matou a vítima logo na primeira ação. Assim, o resultado produz-se logo na primeira ação.
· A doutrina maioritária refere que estes casos também se resolve pela teoria da imputação objetiva, mas a inversão temporal dos acontecimentos não tem importância, ou seja, o agente seria automaticamente punido por homicídio consumado. 
· Nos casos em que a inversão seja relevante, poderemos punir o agente por negligência, mas na maior parte das vezes, esta inversão é irrelevante
CASO Nº 2
Imagine que A pretendia assaltar, durante o seu trajecto, uma carrinha de valores que havia saído carregada do Banco de Portugal. A considerava que a forma mais eficaz de se apoderar da quantia transportada consistia em eliminar, com um disparo certeiro, B, o condutor do veículo.
a. Considerando o momento volitivo do dolo, pronuncie-se sobre o presente caso (morte de B).
	Estamos perante um caso de dolo direto intencional ou de primeiro grau, previsto no artigo 14º/1 CP. Este dolo é constituído por aqueles casos em que a realização do tipo objetivo de ilícito surge como móbil do crime, ou seja, o fim da conduta. Neste caso, o móbil do crime é assaltar a carrinha de valores. Assim, nos casos em que o agente atua para realizar o verdadeiro fim da conduta, o dolo de primeiro grau inclui também aqueles casos em que a realização típica não constitui o fim último, móbil da atuação do agente, mas surge como pressuposto ou estado intermédio necessário do seu conseguimento. 
Assim sendo, no que respeita À vontade do agente, podemos afirmar que o A age/atua com dolo direto intencional ou de primeiro grau.
b. E se A não pretendesse assaltar a carrinha de valores, mas tão-só matar B, seu inimigo. Para o efeito colocou um engenho explosivo no veículo, sabendo que a explosão também atingiria C, o colega de giro de B.
	Em relação a B, estamos perante um caso de dolo direto intencional ou de primeiro grau, nos termos do art. 14º/1 CP, porque a realização do tipo objetivo de ilícito surge aqui como o fim último da sua atuação. 
Já em relação a C, a questão é distinta, visto que há o dolo direto necessário ou de segundo grau, previsto no art. 14º/2 CP. No nosso caso, em relação a C, a realização do facto não surge como pressuposto ou de grau de intermédio para alcançar a finalidade da conduta, mas como sua consequência necessária, no preciso sentido de consequência inevitável, se bem que lateral relativamente ao fim da conduta.
Neste nosso caso, a morte de C surge como uma consequência lateral necessária em relação ao fim último da conduta, ou seja, como um dano colateral.
c. Imagine, por fim, que B e C eram inimigos de A e que este disparou uma bala capaz de perfurar a blindagem da carrinha. Como o veículo possuía vidros escurecidos, A não sabia quem atingiria.
	Estamos perante um caso de dolo direto intencional, porque o fim último do agente é matar quem for naquele lugar, seja esse B ou C. Porém, estamos perante um caso de dolo alternativo (dolus alternativus), ou seja, quando o agente se propõe ou se conforma com a realização de um ou de outro tipo objetivo de ilícito. Nestes casos, o agente conta com ambas as possibilidades e conforma-se com as mesmas, devendo por isso, o seu dolo ser afirmado relativamente ao tipo objetivo de ilícito realmente preenchido pela conduta. 
Atingindo B ou atingindo C, o nosso A será punido a título de dolo pelo resultado consumado. neste caso o dolus alternativus foi atingido por um dolo direto intencional ou de primeiro grau.
21/04/2021
CASO Nº 3
	Após a realização de audiência de julgamento, deram-se como provados os seguintes factos:
· depois de entrarem na casa, colhendo de surpresa o casal, e de imobilizarem a esposa, na sala, entraram no quarto onde a vítima descansava, sobre a cama;
· o Francisco tinha 86 anos de idade;
· só porque este não disse onde tinha o dinheiro, o recorrente calcou-lhe as carótidas e tapou com força o nariz, cravando-lhe as unhas nas asas do mesmo, impedindo-o de gritar e respirar;
· provocando-lhe as lesões descritas em 12;
· que foram causa suficiente e adequada da sua morte;
· a intensidade da violência de tais actos está bem patenteada na infiltração sanguínea dos tecidos celulares subcutâneos na região lateral direita do pescoço, com os brônquios repletos de espuma sanguinolenta, com paquipleurite da pleura parietal e cavidade pleural direita e esquerda e os pulmões e a pleura visceral escuros, violáceos, volumosos, muito congestionados e edemaciados;
· antes de saírem como o dinheiro encontrado, desligaram, puxando os fios, o telefone.
Mais se provou que o agente representou a morte como consequência possível dos seus actos e se conformou com ela.
Tomando em consideração o momento volitivo do dolo, pronuncie-se sobre o presente caso.
	Nos casos de dolo eventual - age com dolo eventual quem tendo previsto um certo resultado como possível consequência da conduta (elemento intelectual) toma a sério a possível violação dos bens jurídicos respetivos e, não obstante isso, decide-se pela execução do facto. Ao contrário do que se verifica no que respeita ao dolo direto intencional ou ao dolo direto necessário a previsão do facto ao nível do elemento intelectual do dolo não surge como certa ou altamente previsível, mas apenas como consequência possível da conduta (art.14º/3 - CP).
	No dolo eventual a maioria da doutrina aponta Teoria da Conformação, no entanto, não é fácil saber se o agente previu e se conformou com a possibilidade daquele resultado.
	Já a negligência, em sentido amplo, diz respeito à atitude de descuido ou leviandade perante o bem jurídico que se manifesta na violação de um dever de cuidado. No art.15º do CP encontramos a definição de negligência do nosso legislador (consciente – art.15º/a) – o agente representa como possível a realização do tipo objetivo, mas por descuido ou leviandade não se conforma com essa realização – acredita que o resultado jurídico-penalmente desvalioso não se preencherá; inconsciente – art. 15º/b).)
	A grande diferença entre dolo eventual prevê a realização do resultado, mas conforma-se com a mesma e continua a executar, já na negligência consciente o agente prevê o resultado, mas não se vai conformar com a possibilidade.Na prática esta questão levante muitas dificuldades processuais, Figueiredo Dias surgiu com uma proposta para o legislador do futuro, defende que devido à grande proximidade entre os conceitos, defende a criação de uma nova categoria jurídico-penal a que dá o nome de temeridade (seria uma categoria que engloba tanto a negligência consciente e o dolo eventual deixando de haver distinção) – esta categoria não existe.
		Homicídio – 8 a 16 anos
		Homicídio qualificado – 25 anos
		Negligência - 3 anos ou multa
	No dolo temos por parte do agente uma atitude de contrariedade ou indiferença perante o dever cívico penal, já a negligência envolver uma atitude de descuido ou leviandade em relação ao dever ser jurídico penal (bem jurídico).
	O agente teria de prever a consequência da sua conduta como altamente certa ou previsível. No nosso caso, isso não é claro, visto que o objetivo do nosso agente era obter o dinheiro. O objetivo do nosso agente era imobilizar o dono da casa, ou seja, não se verifica um dolo intencional - a consequência morte surge como uma consequência possível da conduta. O nosso agente, neste caso, apercebe-se, devido ao desenrolar dos acontecimentos, que a morte é uma possibilidade.
CASO Nº 4
C era juiz e D Procuradora da República na comarca de Portimão. Depois de uma excelente relação de amizade entre ambos, a dado passo passaram a tratar-se de modo pouco respeitoso em despachos e promoções, facto conhecido de todos quantos entravam em contacto com o Tribunal.
No âmbito de um processo laboral, C ordenou o cálculo de uma indemnização de uma determinada forma. Na medida em que tinha dúvidas sobre esse modo de proceder, E, funcionária judicial adstrita ao juízo em que C trabalhava, consultou D que lhe indicou que deveria fazer o oposto do ordenado por C.
Apercebendo-se de que a sua ordem não tinha sido cumprida, C indagou o motivo junto de E, que lhe confessou o que sucedera. Muito exaltado, em voz alta, de modo a ser ouvido fora do seu gabinete, C disse: “Você é burra e mais burra é a Procuradora”.
Julgado pela prática de um crime de difamação agravada, C alegou que atuara de modo negligente, o que importaria a sua absolvição (cf. as disposições conjugadas dos artigos 180.º, n.º 1, e 184.º, do CP), tanto mais que agira com mero animus corrigendi.
Quid iuris?
Neste caso em concreto, o juiz agiu com a intenção de ofender, conformando-se com tal ação. Tendo em conta as palavras e o modo como foram proferidas ("em voz alta"), penso que se trata de um dolo eventual e não negligência consciente. Para ser negligência consciente, o juiz teria previsto a possibilidade de lesar a honra da procuradora e da funcionária, e entender que, ao proferir tais palavras, a honra não seria posta em causa.
Há aqui uma relação próxima entre C e D que é conhecida no tribunal, o agente ao perceber que a ordem não foi cumprida e exaltou-se em voz alta de modo a ser ouvida fora do gabinete, o juiz perspetivou a possibilidade de difamar, o tribunal estaria em horário de expediente, pessoas estariam a passar nos corredores e pelo que diz o enunciado ele disse aquilo de forma a ser ouvido fora do gabinete. O animus corrigendi não legitima que a pessoa em causa seja insultada ou assediada, a intenção de corrigir não pode de forma alguma ser feito sem educação e fora dos limites. Tudo isto levado em linha de ponta, vem o tribunal dizer que a tese da neglicência consciente não é defensável porque tendo em conta as palavras do arguidos (poderia/deveria ter corrigido de outra forma) , o modo como foram proferidas, o facto de poderem ser ouvidas por testemunhas e tendo em conta o facto de a funcionária também ter sido apelidada de “burra” claramente que nos aproximamos do dolo eventual, não foi uma mera negligência (só este conjuntos de elementos nos permitiu apurar o dolo eventual, temos de ver caso a caso). No caso em concreto o juiz previu a possibilidade da produção do resultado – Teoria da Conformação.
CASO N.º 5
	A é vítima de assédio no trabalho. Durante anos sofreu às mãos de B, sua chefe, cruéis humilhações à frente dos seus colegas, foi alvo de boatos e rumores delicados, e foi-lhe atribuído, por diversas vezes, trabalho improdutivo. As várias queixas que apresentou contra B foram arquivadas. Cansada daquela situação, decidiu vingar-se de B. Adquiriu um revolver no mercado negro e decidiu utilizá-lo para matar a inimiga. Quando se pôs a caminho, ao volante do seu automóvel, recebeu uma mensagem de texto no telemóvel, o que a fez retirar os olhos da estrada por breves instantes. Nesse momento ouviu um estrondo, tendo imobilizado imediatamente a viatura. Saiu para ver o havia ocorrido e apercebeu-se que, ironia do destino, atropelara B. Quando viu a inimiga sem vida na estrada pensou, conformando-se com o resultado: “isto veio mesmo a calhar!”. Pronuncie-se quanto à responsabilidade jurídico-penal de A, tomando em consideração o momento volitivo do dolo. 
	Neste caso em concreto, não haverá dolo porque a condutora não perspetivou a produção do resultado. Quando a agente retira os olhos da estrada, daí pode advir um dano, neste caso, aleatoriamente foi a chefe, há um dever de cuidado de conduzir com cuidado e cumprir as regras do Código da Estrada. Havendo aqui uma punição por homicídio negligente.
	O facto de se ter conformado depois não altera nada porque para existir dolo este tem de ser contemporânea com a realização do facto, ela não retirou os olhos da estrada com intenção de nada.
	Estamos perante a figura do dolo subsequente (dolus subsequens - sem relevância prática), que se verifica quando o agente se conforma com o resultado típico que já ocorreu. Nestes casos tanto o elemento intelectual como o elemento volitivo não são contemporâneos da prática do facto, a agente não tinha vontade de matar e nem sequer perspetivou a produção do resultado – o agente não se pode decidir a praticar o que já ocorreu.
	NOTA: O dolo antecedente também é irrelevante – acontece antes. É um dolo prévio relativamente à realização típica, tal como o dolo subsequente não é verdadeiro e os casos que os convoquem serão, à partida, realizados com base na negligência. Falta a unidade temporal entre o dolo e a sua realização típica (exemplo: um homem vai fazer um assalto, ao pistola dispara ao ser retirada do bolso, ainda não há intenção de matar).
CASO N.º 6
	D circulava no seu automóvel dentro dos limites de velocidade estabelecidos para o local que atravessava. Num cruzamento em que tinha prioridade de passagem, D não diminuiu a velocidade do seu veículo. Aí surgiu E, da sua esquerda, que nem sequer afrouxou a marcha do seu potente Ferrari. Em consequência, os dois automóveis colidiram, vindo E a perecer devido à violência do embate. O M.P., no final do inquérito entretanto aberto, deduziu acusação contra D, imputando-lhe a prática do crime de homicídio negligente, em virtude do facto de, dada a velocidade em que E seguia, ser totalmente percetível que este último não tinha condições para imobilizar o seu veículo em segurança, o que deveria ter motivado um afrouxamento ou mesmo paragem do automóvel conduzido por D. Pronuncie-se sobre o conteúdo do despacho de acusação.
Num primeiro cenário, vamos imaginar que D se apercebeu da aproximação do ferrari e ainda assim não afrouxou a marcha, haverá negligência consciente porque mesmo tendo prioridade poderia ter evitado o acidente e isso é o mais importante, há um dever de cuidado.
À partida se o nosso agente conduz de acorda com as regras não haverá comportamento negligente, contudo, no presente caso vamos debruçar-nos num principio que tem adquiridos cada vez mais importância em setores de atividade de risco, nomeadamente, o tráfego rodoviário, foi surgindo um princípio que se chama pr. da confiança, desenvolvido pela doutrina alemã. De acordo com o pr. da confiança “quem se comporta no tráfico de acordo com a norma de cuidado deve poder confiar que o mesmo se sucederá com os outros”, ou seja, à partida vamos confiar que os outros condutores também vão respeitar as regras. Estaregra tem uma exceção – salvo se tiver razões concretamente fundadas para pensar ou dever pensar de outro modo, ou seja, confiámos nos outros operadores a não ser que haja um motivo concreto que nos leve a pensar o contrário.
Isto aplica-se no nosso caso no sentido em que a partir do momento em que D se apercebeu (caso se tenha apercebido) da velocidade de E ele deveria ter parado e deixá-lo passar de modo a conseguir evitar o acidente, porque se E circulava a velocidades tão altas não conseguiria parar em segurança, havendo, por isso, negligência consciente.
Se o nosso condutor circulava com respeito pelas normas de segurança - pr. da confiança - Seria à partida de esperar que os outros condutor, contudo uma vez que o ferrari circulava a um velocidade tal forma elevada que o impede de se imobilizar atempadamente D devia ter cedido a prioridade. Não o fazendo, poderemos eventualmente imputar-lhe o resultado morte de E a título negligente por ter participado par o facto se verificasse.
28/04/2021
· Tipo justificadores 
Figuras jurídico-penais que excluem a ilicitude - o ato preenche o tipo legal, ou seja, preenche um determinado crime, mas se intervier um tipo justificador do crime, as condutas deixam de ser ilícitas. Estes tipos justificadores constituem a via definitiva de exclusão da ilicitude.
→ A legítima defesa é um dos tipos justificadores do ponto de vista jurídico-penal.
FICHA DE TRABALHO Nº 12 (legítima defesa)
CASO Nº 1
A e B, residentes em Fânzeres, mantinham há algum tempo uma relação conflituosa marcada por várias trocas de insultos e algumas ameaças. Certo dia, enquanto passeava o seu “Gattuso”, um mastim napolitano particularmente musculado, A cruzou-se com B e decidiu insultá-lo. B não gostou das invetivas do seu inimigo e respondeu à letra, dando início a uma acesa discussão. Durante essa discussão, A retirou o açaime do cão e atiçou-o contra B, que prontamente mordeu numa perna, não o largando mais. Nesse momento, B retirou uma faca do bolso e golpeou o cão no pescoço, de modo a libertar-se.
1. Avalie o tipo justificador presente neste caso.
Para que estejamos perante o regime da legítima defesa, é necessário verificarem-se os seguintes requisitos: 
1. É necessário haver uma agressão (ato humano voluntário), sendo que à partida excluímos ataques de animais, fenómenos naturais, atos praticados em situações de sonambulismo, hipnose, etc, mas não excluímos atos praticados por crianças e inimputáveis (mas essa legítima defesa será acrescida de critérios específicos de cautela). Pode haver legítima defesa contra agressões dolosas e contra agressões negligentes. Neste caso específico pode haver legítima defesa, apesar de estarmos perante um cão, visto que este cão foi instrumentalizado, ou seja, foi utilizado como uma arma.
2. A agressão tem de ser atual, ou seja, uma agressão iminente (que está prestes a acontecer) ou então uma agressão em curso (a que já se iniciou, mas ainda não findou). No caso dos crimes sobre o património, a agressão finda quando o agente adquire a posse pacífica da coisa. Enquanto a ação estiver a decorrer, pode haver legítima defesa, pois trata-se de uma agressão atual, independentemente de ser uma agressão iminente ou em curso
A legítima defesa não é uma forma de justiça privada. A legítima defesa é um meio de defesa em situações específicas, quando não há a possibilidade de o particular recorrer a uma autoridade competente para se defender. É um instituto que ainda resulta do poder estatal e, por isso, tem de ser fortemente regulado.
3. A agressão tem de ser ilícita. A ilicitude não é uma ilicitude especificamente penal, ou seja, afere-se em relação a todo o ordenamento jurídico (art. 32º CP - “interesses juridicamente protegidos”). 
No caso em concreto há aqui uma ofensa da integridade física da vitima, uma ofensa jurídico-penal. Todos os requisitos cumulativos relativos à agressão estão preenchidos.
NOTA: A ilicitude afere-se a todo o o.j mas não é admissível relativamente a interesses para cuja agressão o legislador preveja um procedimento específico. Também não há legitima defesa perante alguém que atue sob um tipo justificador (não há legítima defesa sobre legítima defesa), assim como também não poderá haver quando estamos perante um estado de necessidade. 
· Agora temos de verificar o preenchimento dos requisitos cumulativos para a necessidade do meio de defesa:
1. Necessidade do meio: o meio será necessário se for idóneo para deter a agressão ou sendo vários os meios adequados de resposta se for o menos gravoso para o agressor. Não há uma ideia de proporcionalidade, há uma ideia de necessidade, porque a legítima defesa, na maioria dos casos, não se rege pela proporcionalidade, mas sim pela necessidade (matar em legítima defesa, por exemplo.)
2. Juízo de necessidade: deslocar mentalmente para o momento da prática do facto e analisar todas a factualidades, este juízo de necessidade do meio teremos de analisar as características dos agressor e do defendente (idades, fisionomia, violência, maior ou menor perigosidade, a “arma” utilizada, a intensidade da agressão, elemento surpresa, experiência em situações semelhantes). 
Ponderando todos estes critérios o julgador chegará a uma conclusão relativa à necessidade do meio de defesa. No caso em concreto, acreditamos haver necessidade para o meio de defesa uma vez que o cão não demonstrou intenção de largar a vítima; tendo em conta a condição física/porte do cão o que parece ser o meio mais necessário seria “atacar” um ponto mais vital, demonstrando ser um meio necessário/idóneo para a situação em causa.
NOTA: estes são os requisitos objetivos da legítima defesa, para além destes também se exige um requisito subjetivo: o conhecimento pelo defendente da situação de legítima defesa; este, tem de saber que se encontra numa situação de legítima defesa, só se todos estes requisitos estiverem preenchidos é que podemos afirmar o fundamento da legítima defesa: proteção do direito na pessoa do ofendido, por outras palavras, é garantir que o justo prevaleça sobre o injusto. No nosso caso concreto, tudo leva a entender que o nosso agente atua com conhecimento da situação em que se encontra.
Será que a lei impõe a fuga ao defendente? Durante muito tempo a doutrina clássica entendia (Eduardo Correia) que isso seria desonroso para o defendente fugir. O que se entende hoje é que esta justificação prende-se com moralismos, hoje, a questão tem mais que ver com a autonomia do defendente (Figueiredo Dias). O legislador não obrigada o defendente a fugir, salvo raras exceções, e diz-nos a doutrina atual que o defendente não é obrigado a fugir porque se fosse obrigado isso mais não seria do que a prevalência da lei do mais forte, do injusto sobre o injusto, não contribuiria para a defesa do direito na pessoa do arguido e, portanto, regra geral o defendente não é obrigado a fugir. Existem casos em que o defendente evitar o confronto, se possível fugir/esquivar-se, sendo esses: agressões não culposas, crianças, agentes da autoridade (polícia), problemas mentais. Com exceção destes casos, o resto seguirá a regra geral.
0. Imagine agora que quem desferia a facada no cão era C, um transeunte que, vendo B no chão a debater-se contra o cão, decidiu intervir.
	
	O art.32º estende a justificação por legítima defesa, aos casos em que esta é exercida para proteger interesses de terceiro, a estes casos nós damos o nome de auxílio necessário. A resolução deste caso não seria diferente, continuamos a estar perante e defesa do direito perante o ilícito na pessoa do agredido. Os requisitos cumulativos são os mesmos, tanto os relativos à agressão e à necessidade do meio de defesa.
HIPÓTESE: Imagina que C em vez de usar a faca usa pedra e, sem querer, atinge o carro de um terceiro, este dano está ao abrigo da legítima defesa? Neste caso, a defesa só é legítima na medida em que os seus efeitos se façam sentir sobre o agressor e não sobre terceiros. Através do ato de defesa devemos visar interesses do agressor, não pode afetar terceiros,

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