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Fundamentos teórico-metodológicos do ensino de Língua Inglesa: um panorama APRESENTAÇÃO O ensino de Língua Inglesa no Brasil é norteado por documentos que expõem os fundamentos teórico-metodológicos que devem ser seguidos na construção dos currículos, na criação dos materiais didáticos, nas aulas e nas avaliações de ensino da Educação Básica. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai ser apresentado a esses documentos, que são: a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) e as Orientações Curriculares Nacionais, para que você compreenda como esses fundamentos são utilizados na elaboração e avaliação de materiais didáticos de língua inglesa. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os principais fundamentos teórico-metodológicos envolvidos no ensino da Língua Inglesa. • Interpretar esses fundamentos como diretrizes para a elaboração e avaliação de materiais didáticos de Língua Inglesa. • Comparar as normas para elaboração de materiais didáticos de Língua Portuguesa e de Língua Inglesa. • INFOGRÁFICO A BNCC trouxe novidades para o ensino de Língua Inglesa no Brasil. A partir do 6.o ano do Ensino Fundamental, torna-se obrigatório o ensino desse idioma em todas as escolas públicas e particulares do País. Segundo a BNCC (2017, p. 239), a aprendizagem do inglês deve permitir aos alunos experimentar “novas formas de engajamento e participação em um mundo social cada vez mais globalizado e plural." O que a citação ilustra é que, em um mundo globalizado e plural, o inglês é a língua mundial de comunicação entre povos. Além disso, outros pontos a serem destacados na contemporaneidade são a multimodalidade dos textos orais e escritos e a importância da dimensão intercultural. A escola deve adaptar-se a esse novo mundo e modificar a perspectiva sobre o ensino de línguas. Veja, no Infográfico, algumas modificações para o ensino de Inglês no Brasil propostas na Base Nacional Comum Curricular. CONTEÚDO DO LIVRO Os fundamentos teórico-metodológicos que estão contidos nos documentos oficiais que regem o sistema de educação no Brasil (BNCC, PCNs, PCNEM) orientam escolas, editoras e professores a desenharem o currículo e os materiais didáticos, bem como a planejarem aulas e avaliações, a fim de que o processo de ensino-aprendizagem ocorra de maneira eficiente. No capítulo Fundamentos teórico-metodológicos do ensino de Língua Inglesa: um panorama, da obra Gêneros textuais didáticos e análise de materiais didáticos de Letras, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai identificar os fundamentos teóricos-metodológicos envolvidos no ensino de Língua Inglesa e interpretará como eles se tornam diretrizes para a elaboração de materiais didáticos e avaliações. Boa leitura. GÊNEROS TEXTUAIS DIDÁTICOS E ANÁLISE DE MATERIAIS DIDÁTICOS DE LETRAS Fundamentos teórico- -metodológicos do ensino da língua inglesa: um panorama Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os principais fundamentos teórico-metodológicos envol- vidos no ensino de língua inglesa. Interpretar esses fundamentos como diretrizes para a elaboração e avaliação de materiais didáticos de língua inglesa. Comparar as normas para elaboração de materiais didáticos de língua portuguesa e de língua inglesa. Introdução O ensino de língua inglesa no Brasil é baseado em fundamentos teórico- -metodológicos que estão refletidos nos documentos oficiais da educação básica, destinados aos ensinos infantil, fundamental e médio. Esses docu- mentos são os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que normatizam a educação fundamental, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que vem sendo gradativamente implementada nas escolas de ensino infantil e fundamental, e será adotada também no ensino médio após a reforma curricular desse segmento, que entrará em vigor nos próximos anos. O ensino superior também possui diretrizes a serem seguidas, mas não trataremos desse segmento aqui. Neste capítulo, você vai estudar sobre os principais fundamentos teórico-metodológicos que estão envolvidos no ensino da língua inglesa na educação básica, interpretar de que forma esses fundamentos servirão como diretrizes para a elaboração e avaliação de materiais didáticos e comparar as normas para elaboração de materiais didáticos de língua portuguesa e de língua inglesa. 1 Principais fundamentos teórico- -metodológicos no ensino de língua inglesa Para começar, explanemos aqui, de forma bastante simplifi cada, qual a concep- ção de língua, discurso e gêneros discursivos que estão na base dos documentos que norteiam a construção de currículos, materiais didáticos, avaliações e aulas de língua inglesa no Brasil. a) A língua é entendida sob a perspectiva sociointeracionista e discursiva. Ou seja, a língua é usada para práticas sociais, e essas interações são fundamentais para o desenvolvimento humano (VYGOTSKY, 1998a, 1998b). Por meio das relações sociais e por meio da linguagem podem-se constituir e desenvolver os sujeitos. b) O aspecto discursivo considera a língua um espaço de produção de sen- tidos em relação com o sujeito que a produz e a história que o determina. c) Os gêneros discursivos são enunciados relativamente estáveis que ma- terializam as condições e finalidades das esferas de atuação humana. Partindo-se desses conceitos, você deve atentar para a preocupação contem- porânea sobre como ensinar, aprender e avaliar o aluno de hoje, considerando as competências e habilidades, ou seja, o foco se desloca do conteúdo para o desenvolvimento dessas habilidades e competências. Por fim, você vai perceber que é essencial que a educação formativa de um cidadão consciente de seu contexto histórico-cultural e de seu lugar no mundo deve primar pelo seu multiletramento, por ampliar sua perspectiva crítico- -reflexiva e por enfatizar o respeito ao multiculturalismo. Essas preocupações estão refletidas na redação adotada na introdução da BNCC, segundo a qual a educação escolar deve estar orientada: […] por princípios éticos, políticos e estéticos que visam à formação humana integral e à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (BRASIL, 2017, p. 5). Fundamentos teórico-metodológicos do ensino da língua inglesa: um panorama2 Nos documentos que norteiam o sistema de ensino no Brasil, a linguagem é entendida em uma perspectiva discursiva, como interação e atividade social, em sua “[...] integridade concreta e viva” (BAKHTIN, 1997, p. 181), e deve ser trabalhada de forma contextualizada e comprometida com as práticas sociais de uso. Cabe lembrar que todo ato de linguagem tem um propósito comunicativo e é dirigido a um receptor, que interage com o emissor, reagindo aos enunciados (dialogismo). Essas relações dialógicas, para Bakhtin, são relações de sentido entre os enunciados. O emissor, por sua vez, ecoa, em seu discurso, outras vozes que o atravessam por meio do pertencimento a um tempo, espaço e cultura específicos (polifonia). Os sentidos dos enunciados aos quais Bakhtin (1992) se refere estão inscritos nessas vozes discursivas sociais. Portanto, a língua é um processo sociointeracional que se realiza na enunciação. Os sentidos e os sujeitos são construídos discursivamente nas interações com o outro em uma determinada esfera de atividade humana. Bakhtin (1992) postula ainda que cada esfera de atividade humana ela- bora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, que são os gêneros do discurso. Os gêneros são caracterizados pelo conteúdo temático, pelo estilo e pela construção composicional que utilizam. A diversidade de gêneros é ilimitada, pois as possibilidades de atividades humanas são inesgotáveise cada esfera comporta um repertório de gêneros que se modifica e se amplia a partir do desenvolvimento da própria esfera. Nesse sentido pode-se pensar no gênero discursivo carta pessoal, que foi ampliado para e-mail, mensagens pelo WhatsApp e afins. Sendo assim, a linguagem deve ser trabalhada na escola de forma contextualizada, situada histórica e socialmente e materializada por meio de gêneros discursivos. A partir daí passemos para a questão de como ensinar e como avaliar, considerando competências e habilidades. O foco, como já mencionado, não é no conteúdo a ser ensinado, mas sim nas competências e habilidades que devem ser desenvolvidas na educação básica. No âmbito da educação escolar: […] competência é definida como a mobilização de conhecimentos (concei- tos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores, para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho (BRASIL, 2017, p. 8). Ou seja, competência é saber utilizar seus recursos para resolver questões da vida real de forma crítica. Habilidades indicam o conhecimento aprendido, aquilo que o aluno aprendeu a fazer, o que adquiriu na sua vivência dentro e 3Fundamentos teórico-metodológicos do ensino da língua inglesa: um panorama fora da escola. Por exemplo, ler e interpretar um texto são habilidades que os alunos desenvolvem ao longo de sua vida escolar. Examine a seguir as competências estabelecidas na BNCC para o ensino da língua inglesa, que é obrigatória nos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano). Observe a ênfase na questão do multiculturalismo e do multiletramento. Confira a seguir as competências específicas de língua inglesa para o ensino funda- mental de acordo com o BNCC (BRASIL, 2017, p. 242): 1. Identificar o lugar de si e o do outro em um mundo plurilíngue e multicultural, refletindo, criticamente, sobre como a aprendizagem da língua inglesa contribui para a inserção dos sujeitos no mundo globa- lizado, inclusive no que concerne ao mundo do trabalho. 2. Comunicar-se na língua inglesa, por meio do uso variado de lin- guagens em mídias impressas ou digitais, reconhecendo-a como fer- ramenta de acesso ao conhecimento, de ampliação das perspectivas e de possibilidades para a compreensão dos valores e interesses de outras culturas e para o exercício do protagonismo social. 3. Identificar similaridades e diferenças entre a língua inglesa e a língua materna/outras línguas, articulando-as a aspectos sociais, cul- turais e identitários, em uma relação intrínseca entre língua, cultura e identidade. 4. Elaborar repertórios linguístico-discursivos da língua inglesa, usados em diferentes países e por grupos sociais distintos dentro de um mesmo país, de modo a reconhecer a diversidade linguística como direito e valorizar os usos heterogêneos, híbridos e multimodais emergentes nas sociedades contemporâneas. 5. Utilizar novas tecnologias, com novas linguagens e modos de intera- ção, para pesquisar, selecionar, compartilhar, posicionar-se e produzir sentidos em práticas de letramento na língua inglesa, de forma ética, crítica e responsável. 6. Conhecer diferentes patrimônios culturais, materiais e imateriais, difundidos na língua inglesa, com vistas ao exercício da fruição e da ampliação de perspectivas no contato com diferentes manifestações artístico-culturais. Na primeira competência específica para a língua inglesa pode-se perceber a conscientização sobre o fato de o mundo ser plurilíngue e multicultural e a reflexão crítica acerca da aprendizagem da língua inglesa como língua franca, Fundamentos teórico-metodológicos do ensino da língua inglesa: um panorama4 instrumento necessário no mundo globalizado em diversos aspectos, inclusive para o mercado de trabalho. Este aspecto também é valorizado nas competências três e seis, anteriormente mencionadas, que tratam das diferenças entre as lín- guas, as variações linguísticas e a relação intrínseca entre língua, cultura e iden- tidade. As competências dois e cinco tratam dos diferentes tipos de letramento necessários na contemporaneidade, digitais ou não, que permitem lidar com as novas tecnologias, inserir-se no mundo globalizado, no âmbito dos negócios e na fruição e apreciação das diferentes manifestações artísticas e culturais. A competência quatro, por sua vez, mescla esses dois aspectos: o multicultural, ao destacar o reconhecimento da variedade linguística como um direito; e o multiletramento, ao poder valorizar e compreender os gêneros heterogêneos, híbridos e multimodais das sociedades contemporâneas (BRASIL, 2017). Os documentos PCN (BRASIL, 1998) e PCNEM (BRASIL, 2000), que embasam o ensino fundamental e médio, respectivamente, também entendem a linguagem como sociointeracionista, e trabalham com a perspectiva de com- petências e habilidades. No entanto, o enfoque não era para a língua inglesa como língua franca, mas sim como língua estrangeira, o que permitia aos colégios, inclusive, não ensinar a língua inglesa, mas sim outra língua, como o espanhol e o francês, de acordo com suas conveniências. Nesse contexto pregava-se o valor educacional de se estudar uma língua estrangeira, princi- palmente a compreensão do conceito de cidadania, a consciência crítica em relação à linguagem e os aspectos sociopolíticos da aprendizagem de língua estrangeira, ampliando o horizonte de comunicação do aluno para além de sua comunidade linguística, percebendo a heterogeneidade contextual, social, cultural e histórica de qualquer linguagem. Temas esses que deveriam se articular com os temas transversais, para compreensão das várias maneiras de se viver a experiência humana. Outro ponto que a BNCC traz de forma diferente dos parâmetros e orienta- ções curriculares é que, nesses, a leitura era privilegiada, e naquela, a prática oral é destacada como uma habilidade importante e necessária a ser adquirida pelos estudantes em seu percurso escolar (BRASIL, 2017). Conheça melhor a BNCC no site do Governo Federal e leia com atenção a parte de língua inglesa para se aprofundar nesse assunto (BRASIL, 2017). 5Fundamentos teórico-metodológicos do ensino da língua inglesa: um panorama 2 Diretrizes para a elaboração e avaliação de materiais didáticos de língua inglesa A elaboração e a avaliação dos materiais didáticos de língua inglesa devem respeitar os conceitos centrais estabelecidos pelos documentos norteadores, como o caráter sociointeracionista da língua e o foco no multiletramento e no multiculturalismo, e a partir deles trabalhar habilidades e desenvolver as competências requeridas em cada fase do ensino básico. Essas competências estão contempladas na BNCC (BRASIL, 2017), que estabelece o mínimo que cada estudante brasileiro precisa conhecer em cada ano de escolaridade. A construção de currículos será balizada pela BNCC (BRASIL, 2017), bem como o planejamento de aulas, sequências didáticas, materiais de ensino e projetos pedagógicos. O componente curricular língua inglesa deve ser desenvolvido a partir de cinco eixos: oralidade, leitura, escrita, conhecimentos linguísticos e dimensão intercultural. Examine mais cuidadosamente o que cada um desses eixos propõe. 1. Oralidade: práticas de compreensão e produção oral de língua inglesa, em diferentes contextos discursivos presenciais ou simulados, com repertório de falas diversas, incluída a fala do professor (BRASIL, 2017, p. 244). 2. Leitura: práticas de leitura de textos diversos em língua inglesa (verbais, verbo-visuais, multimodais) presentes em diferentes suportes e esferas de circulação. Tais práticas envolvem articulação com os conhecimentos prévios dos alunos em língua materna e/ou outras línguas (BRASIL, 2017, p. 244). 3. Escrita: práticas de produção de textos em língua inglesa relacionados ao cotidiano dos alunos, em diferentes suportes e esferas de circulação. Tais práticas envolvem a escrita mediada pelo professor ou colegas earticulada com os conhecimentos prévios dos alunos em língua materna e/ou outras línguas (BRASIL, 2017, p. 246). 4. Conhecimentos linguísticos: práticas de análise linguística para a re- flexão sobre o funcionamento da língua inglesa, com base nos usos de linguagem trabalhados nos eixos Oralidade, Leitura, Escrita e Dimensão intercultural (BRASIL, 2017, p. 246). 5. Dimensão intercultural: reflexão sobre aspectos relativos à interação entre culturas (dos alunos e aquelas relacionadas a demais falantes de língua inglesa), de modo a favorecer o convívio, o respeito, a superação Fundamentos teórico-metodológicos do ensino da língua inglesa: um panorama6 de conflitos e a valorização da diversidade entre os povos (BRASIL, 2017, p. 246). Como você percebeu, os eixos propõem práticas de linguagem com mate- riais autênticos, em diferentes suportes e esferas de circulação, e uma atitude reflexiva por parte do estudante. Ou seja, a língua é posta em uso em situações comunicativas. Esse aspecto deve ser levado em conta na elaboração de mate- riais didáticos e avaliações. As habilidades contempladas nos eixos devem ser desenvolvidas a fim de que os alunos adquiram as competências mencionadas na seção anterior deste capítulo. As novas tecnologias fazem cada vez mais parte do dia a dia dos alunos, que apreciam muito o seu uso, principalmente nas redes sociais. Pode-se tirar proveito dessa situação para se trabalhar os eixos norteadores do ensino de língua inglesa. Postagens no Facebook e Instagram, mensagens no Twitter, criação de blogs, vlogs e vídeos no Youtube são possibilidades que atraem os alunos e permitem uma interação maior entre colegas, professores e alunos, pais, a comunidade escolar e mesmo fora da escola. Um aspecto importante é a proposta de trazer a língua autêntica para a sala de aula, pois a competência de usá-la é o que deve ser focalizado. Usar a língua inglesa para conversar com estudantes de outros países, analisar e refletir sobre conteúdos disponíveis na rede, criar notícias ou até mesmo um jornalzinho para a turma são boas ideias e de fácil implementação. Projetos e estudos de caso também são excelentes oportunidades de interação social e uso da língua em situações comunicativas reais. As avaliações devem ser elaboradas de forma a analisar as práticas de linguagem. Por isso, testes tradicionais de pontos gramaticais e vocabulário devem ser preteridos em favor de atividades avaliativas alinhadas às práticas de sala de aula. A correção das atividades, por sua vez, deve apontar para o aluno o que ainda não foi compreendido por ele de forma adequada. O professor deve sugerir a autocorreção, que será feita por meio de pesquisa, esclarecimento de dúvidas e a possibilidade de refazer a atividade. As correções coletivas também podem ser utilizadas, e a reflexão acerca das áreas que precisam ser melhor trabalhadas auxiliam na conscientização do aluno e no seu plano de estudos. O professor também se beneficia desse “diagnóstico” trazido pela correção, e pode preparar aulas e atividades de reforço de forma mais eficiente. 7Fundamentos teórico-metodológicos do ensino da língua inglesa: um panorama Uma possibilidade interessante na preparação de atividades que despertem o inte- resse dos alunos é a gameficação para o ensino do inglês. Por meio de dinâmicas e mecânicas, como a de jogos, pode-se estimular o engajamento dos estudantes em atividades acadêmicas. Há diversos sites que oferecem jogos gratuitos, articulados com as habilidades e eixos norteadores. Um exemplo é o site Lyricstraining, no qual o estudante assiste a videoclipes de músicas de seu interesse e completa passagens da canção enquanto canta. Para professores há a possibilidade de criar os próprios exercícios usando as canções disponíveis ou fazendo o upload de músicas. Para se aprofundar no assunto do uso da gameficação no ensino de línguas, leia a tese de doutorado A gamificação no ensino de línguas online, de Gerson Bruno Forgiarini de Quadros (2016). 3 Normas para elaboração de materiais didáticos de língua portuguesa e de língua inglesa Os materiais didáticos de língua portuguesa e de língua inglesa devem estar alinhados aos preceitos contidos nos PCNs e PCNEM e na BNCC. Na BNCC, o componente curricular língua portuguesa da educação básica, assim como o de língua inglesa: […] dialoga com os documentos e orientações curriculares produzidos nas últimas décadas, buscando atualizá-los em relação às pesquisas recentes da área e às transformações das práticas de linguagem ocorridas neste século, devidas em grande parte ao desenvolvimento das tecnologias digitais da informação e comunicação — TDIC (BRASIL, 2017, documento on-line). O foco da disciplina é o multiletramento e a participação na sociedade de forma crítica, reflexiva e criativa. Os eixos norteadores considerados na BNCC de língua portuguesa são correspondentes às práticas de linguagem (BRASIL, 2017, p. 67): oralidade; leitura/escuta, produção (escrita e multissemiótica); Fundamentos teórico-metodológicos do ensino da língua inglesa: um panorama8 análise linguística/semiótica (que envolve conhecimentos linguísticos — sobre o sistema de escrita, o sistema da língua e a norma-padrão, textuais, discursivos e sobre os modos de organização). O professor de português deve apresentar diferentes gêneros textuais con- forme a etapa de ensino; a gramática em sala de aula deverá sempre ser con- textualizada; e diferentes vozes com diferentes formas de escrita e opiniões, principalmente exemplos tirados de redes sociais, devem fazer parte do conteúdo da disciplina, para que se possa refletir criticamente sobre elas. Como você pode perceber, as orientações são as mesmas para o ensino da língua inglesa, sendo que na língua inglesa a dimensão intercultural aparece descrita explicitamente como eixo norteador. Além dos eixos a serem trabalhados, as competências devem ser atingidas ao final de cada ciclo. Para efeito de comparação com as competências especificas de língua inglesa no ensino fundamental, veja as competências necessárias para a língua portuguesa no mesmo segmento. De acordo com o BNCC (BRASIL, 2017, p. 83), as competências específicas de língua portuguesa para o ensino fundamental são: 1. Compreender a língua como fenômeno cultural, histórico, social, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso, reconhecendo-a como meio de construção de identidades de seus usuários e da comunidade a que pertencem. 2. Apropriar-se da linguagem escrita, reconhecendo-a como forma de inte- ração nos diferentes campos de atuação da vida social e utilizando-a para ampliar suas possibilidades de participar da cultura letrada, de construir conhecimentos (inclusive escolares) e de se envolver com maior autonomia e protagonismo na vida social. 3. Ler, escutar e produzir textos orais, escritos e multissemióticos que circu- lam em diferentes campos de atuação e mídias, com compreensão, autono- mia, fluência e criticidade, de modo a se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos, e continuar aprendendo. 4. Compreender o fenômeno da variação linguística, demonstrando atitude res- peitosa diante de variedades linguísticas e rejeitando preconceitos linguísticos. 5. Empregar, nas interações sociais, a variedade e o estilo de linguagem adequados à situação comunicativa, ao(s) interlocutor(es) e ao gênero do discurso/gênero textual. 6. Analisar informações, argumentos e opiniões manifestados em interações sociais e nos meios de comunicação, posicionando-se ética e criticamente em relação a conteúdos discriminatórios que ferem direitos humanos e ambientais. 7. Reconhecer o texto como lugar de manifestação e negociação de sentidos, valores e ideologias. 8. Selecionar textos e livros para leitura integral, de acordo com objetivos, interesses e projetos pessoais (estudo, formação pessoal, entretenimento, pesquisa, trabalho etc.). 9Fundamentos teórico-metodológicosdo ensino da língua inglesa: um panorama 9. Envolver-se em práticas de leitura literária que possibilitem o desenvolvi- mento do senso estético para fruição, valorizando a literatura e outras ma- nifestações artístico-culturais como formas de acesso às dimensões lúdicas, de imaginário e encantamento, reconhecendo o potencial transformador e humanizador da experiência com a literatura. 10. Mobilizar práticas da cultura digital, diferentes linguagens, mídias e fer- ramentas digitais para expandir as formas de produzir sentidos (nos processos de compreensão e produção), aprender e refletir sobre o mundo e realizar diferentes projetos autorais. Aqui você pode verificar que a questão das práticas de linguagem, a na- tureza sociointeracional da linguagem, a atitude reflexiva, a postura ética e o multiletramento são aspectos comuns a ambas as línguas, e a dimensão intercultural também se faz presente, se não para culturas de outros países, especificamente, para as variações linguísticas dentro do país, como pode-se depreender da competência 4: Compreender o fenômeno da variação linguística, demonstrando atitude respeitosa diante de variedades linguísticas e rejeitando preconceitos linguísticos. Em relação à elaboração de materiais didáticos, cabe destacar o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD): destinado a avaliar e disponibilizar obras didáticas, pedagógicas e literárias, entre outros materiais de apoio à prática educativa, de forma sistemática, regular e gratuita às escolas públicas de educação básica das redes federal, estaduais, municipais e distrital, e também às instituições de educação infantil comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos e conveniadas com o Poder Público (BRASIL, c2018, documento on-line). Embora o primeiro programa de distribuição de livros didáticos no Brasil tenha se iniciado em 1929, “[...] o componente curricular Língua Estrangeira Moderna foi incluído no programa em 2011, com livros de inglês e espanhol” (SARMENTO, 2016, p. 21). A partir de então, alunos e professores de escolas públicas passaram a ter acesso aos livros didáticos gratuitamente, assim como já ocorria com as outras áreas do conhecimento. No caso de livros de língua estrangeira, ao contrário das outras disciplinas, cujos livros devem ser devolvidos ao final do ano letivo, os exemplares são repostos todos os anos para que os alunos possam fazer exercícios e anotações no próprio livro. Em muitos casos conta-se ainda com CDs para se trabalhar a oralidade. O PNLD passou a distribuir também dicionários de língua inglesa, inclusive anteriormente à distribuição dos próprios livros didáticos de língua estrangeira (BRASIL, c2018). Fundamentos teórico-metodológicos do ensino da língua inglesa: um panorama10 Desde 2017, o PNLD (BRASIL, c2018) também teve seu escopo ampliado com a possibilidade de inclusão de outros materiais de apoio à prática educativa para além das obras didáticas e literárias: obras pedagógicas, softwares e jogos educacionais, materiais de reforço e correção de fluxo, materiais de formação e materiais destinados à gestão escolar, entre outros. Veja que interessante o planejamento curricular do estado de Mato Grosso para os anos finais do ensino fundamental tomando por base a BNCC. Confira no site da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal a publicação Pensar, fazer e aprender: organização do trabalho pedagógico, Caderno do professor (FREITAS, 2018). Para que a preparação de materiais didáticos seja eficiente em seu propósito de ensino-aprendizagem da língua inglesa, deve-se compreender a língua como habilidade sociointeracional e discursiva, como fato histórico e espaço de produção de sentidos. É através da linguagem e da interação com o outro, nas diversas práticas sociais inerentes a qualquer esfera de atividade humana, que o sujeito se desenvolve. Essas interações humanas se dão por meio de enunciados, que são a materialização da língua. Para cada situação comu- nicativa existem tipos relativamente estáveis de enunciados, que apresentam certas convenções. Trata-se aqui dos gêneros discursivos. Eles representam as diferentes práticas sociais a que somos submetidos e das quais fazemos uso. Pois bem, a estrutura do ensino brasileiro é calcada nessas concepções e regulada por documentos que as refletem orientando as práticas a serem adota- das, as habilidades a serem trabalhadas e as competências que os alunos devem possuir que os permitam resolver situações-problema, tomarem decisões, manejarem conflitos, ou seja, atuarem no mundo de forma participativa, crítica e articulada. O componente curricular língua inglesa torna-se obrigatório a partir 6º ano do ensino fundamental, sendo regido pelos documentos oficiais como os PCNs, PCNEM e BNCC, nos quais estão balizadas as visões de língua que discutimos ao longo da nossa leitura. Essa é a função da educação: preparar o sujeito para o mundo plural, com postura ética, pensamento crítico reflexivo e conhecimentos linguísticos que o permitam transitar entre as diferentes culturas. 11Fundamentos teórico-metodológicos do ensino da língua inglesa: um panorama BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Uni- versitária, 1997. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2017. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ index.php?option=com_docman&view=download&alias=79601-anexo-texto-bncc- -reexportado-pdf-2&category_slug=dezembro-2017-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 27 abr. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio. Bra- sília, DF: MEC/SEMTEC, 2000. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/ pdf/14_24.pdf. Acesso em: 27 abr. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua estrangeira. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ pcn_estrangeira.pdf. Acesso em: 27 abr. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. PNLD. c2018. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ busca-geral/318-programas-e-acoes-1921564125/pnld-439702797/12391-pnld. Acesso em: 27 abr. 2020. QUADROS, G. B. F. A gamificação no ensino de línguas online. 2016. 229 p. Tese (Dou- torado em Letras) — Universidade Católica de Pelotas, Pelotas, RS, 2016. Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/ppgl/files/2018/10/A-Gamifica%C3%A7%C3%A3o-no- -Ensino-de-L%C3%ADnguas-Online-Gerson-Bruno-Forgiarini-de-Quadros.pdf. Acesso em: 27 abr. 2020. SARMENTO, S. ReVEL na escola: Programa Nacional do Livro Didático de Língua Es- trangeira. ReVEL, v. 14, n. 26, p. 20–31, 2016. Disponível em: https://www.researchgate. net/publication/299605305_REVEL_NA_ESCOLA_PROGRAMA_NACIONAL_DO_LI- VRO_DIDATICO_DE_LINGUA_ESTRANGEIRA. Acesso em: 27 abr. 2020. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998a. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998b. Leitura recomendada FREITAS, V. A. L. (org.). Pensar, fazer e aprender: organização do trabalho pedagógico - caderno do professor. Brasília: UNB, 2018. (Coleção pensar, fazer e aprender: caderno de apoio à aprendizagem. Língua Portuguesa e matemática, v. 4). Disponível em: http:// www.se.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2018/02/CFORM_Pensar-Fazer-Aprender_ CADERNO-DO-PROFESSOR_Web.pdf. Acesso em: 27 abr. 2020. Fundamentos teórico-metodológicos do ensino da língua inglesa: um panorama12 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidadesobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 13Fundamentos teórico-metodológicos do ensino da língua inglesa: um panorama DICA DO PROFESSOR O inglês na BNCC é entendido como uma língua global que precisa ser ensinada aos estudantes para que eles se insiram no mundo acadêmico, do trabalho e das relações internacionais e geopolíticas do século XXI. Na Dica do Professor, você vai ver a questão da interculturalidade e a importância de trabalhar continuamente esse aspecto em sala de aula, chegando a reflexões sobre língua e relações de poder, além de construir uma visão crítica sobre o aprendizado de idiomas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! NA PRÁTICA Alinhada às exigências do mundo contemporâneo e à necessidade imperiosa de lidar com as novas tecnologias no dia a dia, convivendo com práticas tradicionais, uma das perspectivas trazidas na BNCC para o ensino de Língua Inglesa é a de multiletramento do aluno. Veja, Na Prática, uma professora de Inglês que criou uma atividade interessante para seus alunos a partir dessa concepção, usando uma ferramenta muito apreciada por eles: o Instagram. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Diferenças entre BNCC, PCN e Diretrizes Curriculares (papo de educador) Assista a este breve e esclarecedor vídeo que trata das diferenças entre a Base Nacional Comum Curricular, os Parâmetros Curriculares Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! O Ensino de Língua Inglesa sob uma perspectiva intercultural: caminhos e desafios Leia este interessante artigo que proporciona a reflexão sobre aulas de Inglês, com foco no aspecto intercultural do idioma. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Língua Inglesa na BNCC Assista a este vídeo de uma professora que aborda as mudanças trazidas pela BNCC para a Língua Inglesa, além de dicas de atividades e formas de abordagem para o ensino a partir de habilidades e competências. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!