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DIREITOS HUMANOS - DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

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DIREITOS HUMANOS - DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Inicialmente, cabe notar que a dignidade da pessoa humana pode ser considerada tanto como fundamento/justificativa dos direitos humanos, quanto como seu objetivo maior. 
A DPH é um princípio cujo fundamento é atribuído a diversos elementos: divino, à natureza humana, ou como resultado de lutas políticas e sociais. De qualquer forma, é fruto de uma construção histórica.
Conceito e elementos:
A DPH pode ser conceituada, conforme a visão moderna, como a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano, que o protege contra todo tratamento degradante e discriminação odiosa, e assegura condições materiais mínimas de sobrevivência. É um atributo que todos os indivíduos possuem, inerente à sua condição humana, não importando qualquer outra condição. 
É um princípio geral ou fundamental, mas não é um direito autônomo. É uma categoria jurídica que está na origem de todos os direitos humanos, conferindo-lhes conteúdo ético. Ela dá unidade axiológica ao sistema de DH. É, então, uma qualidade de todo ser humano, um valor que o identifica.
Elementos:
· Elemento positivo: defesa da existência de condições materiais mínimas de sobrevivência a cada ser humano. 
· Art. 170, caput, CF/88: A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios.
· Elemento negativo: proibição de impor tratamento ofensivo, degradante ou discriminatório a um ser humano.
· Art. 5º, III, CF/88: ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
· Art. 5º, XLI: a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;
Mínimo existencial: núcleo essencial da dignidade da pessoa humana. “Conjunto de prestações materiais mínimas sem as quais se poderá afirmar que o indivíduo se encontra em situação de indignidade”.
· Barcellos: educação básica, saúde, assistência social e acesso à justiça;
· Maria Celina Bodin de Moraes: 4 princípios – igualdade, integridade física e psíquica, liberdade e solidariedade.
Deveres do Estado para proteger a DPH: 
· Dever de respeito: imposição de limites à ação estatal para respeitar a DPH;
· Dever de garantia: realizar ações de promoção da dignidade humana, fornecendo condições materiais para sua efetividade.
Dignidade da espécie humana x dignidade da pessoa humana
Dignidade da espécie: o ser humano ocupa posição superior e privilegiada entre todos os seres. Essa posição se justifica pelo uso da razão, pelo livre arbítrio, ou pela criação à imagem de Deus, a depender da abordagem utilizada. alcance vertical da dignidade
Dignidade da pessoa humana: todas as pessoas, por sua simples humanidade, têm intrínseca dignidade, e devem ser tratadas com o mesmo respeito e consideração. alcance horizontal da dignidade; faceta igualitária que só se afirmou institucionalmente na Modernidade
Construção histórica
Antiguidade grega: a desigualdade intrínseca era enraizada: a escravidão e a submissão das mulheres aos homens eram amplamente aceitas.
Aristóteles: 
· Escravidão: “que alguns devam mandar e outros obedecer é algo não apenas necessário, mas também útil, pois desde a hora do seu nascimento, alguns são marcados para serem escravos e outros para serem senhores”. Em alguns seres humanos, a alma prevalece sobre o corpo e a razão controla os instintos, enquanto em outros ocorria o contrário, e esses estavam destinados a serem escravos.
· Superioridade do homem: “homem é por natureza superior e a mulher inferior, então é ele que governa e ela a governada”.
Roma: origem da palavra dignidade, do latim dignitas, que indicava o prestígio de certas pessoas ou instituições em razão de seu status; também indicava a altivez que deveria caracterizar o comportamento desses indivíduos de status superior. A digitas conferia a essas pessoas a possibilidade de receberem respeito e honrarias da sociedade.
Cícero: Dignidade como característica de todas as pessoas decorrente da razão, que distingue os seres humanos dos animais. Mas aceitava a escravidão.
Santo Agostinho: o ser humano é um animal racional criado por Deus à sua imagem e, por isso, era possível ao homem “elevar-se acima de todos os animais da terra, das águas e do ar, desprovidos de um espírito deste gênero”.
· Deus não concede a graça a todos, mas apenas a alguns eleitos, que estariam predestinados à salvação. Justifica-se, assim, alguns eleitos, que estariam predestinados à salvação. não é uma teoria igualitária da dignidade
Tomás de Aquino: a pessoa humana é a mais perfeita criação divina, mas existe uma ordem hierárquica entre os homens, ditada pela Divina Providência.
Até a Modernidade prevaleceu a concepção estamental das relações sociais, que pressupunha a existência de uma desigualdade natural entre as pessoas.
Com o Renascimento ocorre a transição para a concepção moderna da DPH, embasada na valorização do ser humano.
Giovanni Pico dela Mirandola: a dignidade humana repousa na autonomia individual, que consiste na capacidade de fazer escolhas sobre o rumo de suas vidas. Nessa visão, a dignidade é um atributo de todas as pessoas, o que não significa que todos devessem gozar dos mesmos direitos e se submeter aos mesmos deveres.
Um conflito importante sobre a universalidade da DPH ocorreu no século XVI, sobre os índios sul-americanos colonizados pelos espanhóis. No Conselho de Valladolid, entre 1550-1551, discutiu-se se os indígenas teriam ou não alma e humanidade. Confrontaram-se Sepúlveda e Bartolomeu de Las Casas.
Sepúlveda: os índios não tinham racionalidade, nem alma, sendo “homúnculos inferiores”, e não pessoas. Daí porque seria legítimo e natural escravizá-los.
Las Casas: defendia a humanidade e racionalidade dos índios, que lhes conferia o direito natural à liberdade, mas deveriam ser convertidos pacificamente ao cristianismo. Venceu a controvérsia, mas as políticas de colonização da América (não apenas a espanhola) alinhavam-se à visão de Sepúlveda.
A universalidade da DPH ganha força com o Iluminismo, principalmente a partir das revoluções francesa e americana. Defendiam os direitos naturais, anteriores e superiores ao Estado e fundados na razão – Direitos do Homem. 
· Diferiam o Direito Natural pré-moderno que buscava justificar as hierarquias sociais.
Rousseau: o contrato social deve instaurar um regime de plena igualdade entre os cidadãos, assegurado pela igual participação de todos na elaboração das leis e pela submissão de todas as pessoas às mesmas normas. 
Kant: tudo tem um preço ou uma dignidade: o que tem preço é substituível, tem equivalente; o que não tem equivalente, tem dignidade. Então, as pessoas não têm preço, mas dignidade, constituindo fins em si mesmas. A dignidade se fundamenta na autonomia da pessoa humana, que lhe confere a capacidade de agir de acordo com a moralidade. É uma característica universal dos seres racionais capazes de descobrir e de se autodeterminar pela lei moral.
· É o imperativo categórico da dignidade: “Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim, e nunca simplesmente como meio”.
· Imperativos categóricos: máximas de ação universais, para todas as pessoas e em todas as situações.
A Modernidade traz a tendência universalizante dos direitos e deveres humanos, e a compreensão igualitária da DPH. Antes, a DPH se fundava principalmente no discurso religioso.
Tendência da generalização dos direitos fundamentais: inserção nos ordenamentos jurídicos da proclamação de direitos titularizados por todas as pessoas, simplesmente em razão de sua humanidade. Abolição dos privilégios estamentais.
· Essa é uma visão teórica. Na realidade, durante a maior parte do tempo, os direitos humanos resumiam-se aos direitos do homem branco e burguês.
A visão universalista dos direitos humanos e a ideia de igualdade não escapou de críticas.
Nietzsche: crítico da igualdade humana, que seria o resultado de uma “moralde escravos”, que impediria os grandes homens de viver plenamente e de construir uma cultura pujante. A afirmação da dignidade humana seria uma grande mentira inventada pelos mais fracos para se autoenganarem. Apenas os gênios possuiriam verdadeira dignidade.
Outra corrente crítica reconhecia a dignidade como atributo de todas as pessoas, mas cada uma delas teria um papel próprio e predefinido na estrutura social. a dignidade estaria em cada um ocupar seu próprio lugar. Essa foi a posição adotada, por muito tempo, pela igreja Católica, que se aproximou da visão moderna somente no século XX, a partir do Concílio Vaticano II.
Então, progressivamente passou-se de uma concepção de sujeitos cujos direitos e deveres dependiam de posição social pela do indivíduo autônomo, que se obriga voluntariamente no âmbito da sociedade.
O individualismo, que emergiu a partir do final da Idade Média, reconhecia que a comunidade política se fundava no interesse dos indivíduos, ou seja, os interesses individuais justificavam a existência do Estado, e não o contrário. É uma concepção atomizada da sociedade, que relega a um plano secundário os laços sociais e os interesses comuns compartilhados pelas pessoas.
DPH no direito
Na esfera constitucional, quando a dignidade da pessoa humana foi incorporada e os direitos humanos como um todo, fundava-se no pressuposto de que o Estado não deveria intervir nas relações sociais travadas por agentes iguais perante a lei. Então, O Estado deveria ser limitado, seja por arranjos institucionais que o contivessem – como a separação de poderes –, seja pela garantia de direitos individuais, concebidos como direitos negativos, que protegeriam o indivíduo e a sociedade civil da ação dos governantes.
Esse é o modelo do “laissez-faire”, ou seja, do absenteísmo estatal, principalmente na esfera econômica, e os problemas sociais se resolveriam pela ação da “mão invisível do mercado”. As liberdades protegidas eram as econômicas, não as existenciais. A dignidade então, relacionava-se aos direitos econômicos, como a propriedade.
A primeira menção explícita da DPH em texto jurídico ocorreu no decreto que aboliu a escravidão na França, em 1848, que afirmava “a escravidão é um atentado contra a dignidade humana”. Há constituições anteriores à IIGM que faziam referência à DPH, como a Constituição do México de 1917, a da Alemanha e da Finlândia de 1919, e a brasileira de 1934 (artigo 115 “a ordem econômica deve ser organizada conforme os princípios da Justiça e as necessidades da vida nacional, de modo que possibilite a todos existência digna”). A Constituição da Irlanda de 1937 também aludia à DPH, com inclinação religiosa.
Depois da IIGM, após a experiência terrível do nazismo, disseminou-se a percepção de que era fundamental organizar os estados e a comunidade internacional sobre novas bases mais humanitárias, para evitar a repetição dessa experiência. E o que Celso Lafer chama de “reconstrução dos direitos humanos”.
Então, a DPH foi afirmada em diversos tratados de direitos humanos e constituições. Nos tratados, ela serviu como instrumento para gerar uma aceitação generalizada do instrumento, apesar das diferenças sociais, culturais e econômicas entre as partes. É um consenso teórico, “raso”, que na prática é refletido pela permanência das desigualdades.
A maior parte dos documentos internacionais sobre DH do pós-IIGm mencionam a DPH.
· Carta da ONU (1945)
· Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)
· A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu preâmbulo, afirma que: “o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”.
· Art. 1º: “todos os seres humanos nascem livres e iguais, em dignidade e direitos”.
· Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1965)
· Pacto dos Direitos Civis e Políticos (1966)
· Pacto dos Direitos Sociais e Econômicos (1966)
· Os dois pactos reconhecem a “dignidade inerente a todos os membros da família humana”.
· Convenção Interamericana de Direitos Humanos (1978)
· Art. 5º: respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.
· Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979)
· Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos (1981)
· Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos Cruéis, Desumanos e Degradantes (1984)
· Convenção sobre os Direitos das Crianças (1989)
· Convenção Europeia de Direitos Humanos (1950)
· Não menciona expressamente a dignidade da pessoa humana, mas já foi interpretado pela Corte Europeia de DH que “a dignidade e a liberdade do homem são a essência da própria convenção”.
· Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia (2000)
· Art. 1º: a dignidade do ser humano é inviolável, deve ser respeitada e protegida.
· Convenção sobre os Direitos das Pessoas da União Europeia (2000)
· Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2007)
No direito interno, vale ressaltar a Constituição Alemã, que proclama: “a dignidade da pessoa humana é inviolável. Respeitá-la e promovê-la é dever de todas as autoridades estatais”.
O princípio da DPH na Alemanha é considerado, quase unanimemente, como o mais importante de toda a ordem jurídica, centro dos valores constitucionais. É também um valor socialmente compartilhado, tendo em vista que o constitucionalismo alemão contemporâneo se construiu sobre os escombros do nazismo e do Holocausto, repudiados pela sociedade como um todo, e cuja memória se busca preservar para não permitir que se repita.
DPH no direito brasileiro: art. 1º, III, CF/88: a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos da República.
Conclusão:
Há parte da doutrina que defende que os direitos fundamentais, após terem sido consagrados nos ordenamentos jurídicos, teriam caído em esquecimento pela doutrina e pela prática jurídica. O mesmo não se aplica à DPH, que continua sendo de fundamental importância para a atividade jurídica, legislativa e doutrinária, relembrada e invocada a todo momento. 
Podemos dizer, então, que a dignidade da pessoa humana se desdobra em três aspectos: 
· Dignidade como status: é a concepção de dignidade como atributo de superioridade da espécie humana ou de certa parte dos indivíduos;
· Dignidade como conduta digna: é a dignidade como virtude, conjugando uma dimensão moral (ser digno, agir conforme a moral) e uma dimensão estética (agir de forma que aparenta ser digna);
· Dignidade da pessoa humana no direito: é o fundamento dos direitos humanos; qualidade intrínseca de todos os seres humanos. É ontológica (relativa ao ser e si mesmo). Implica na não instrumentalização da pessoa humana.

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