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1 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 marc 9 - hpv DEFINIÇÃO - O HPV (“papilomavírus humano”) é um vírus de DNA de dupla- hélice simples com um capsídeo proteico, pertencente à família Papillomaviridae. O papilomavírus compreende cerca de 300 tipos diferentes de vírus e tem preferência pelas células escamosas e metaplásicas humanas. Cerca de 30 a 40 deles infectam o trato anogenital inferior, principalmente. - Os HPV são vírus capazes de infectar a pele ou as mucosas. Existem mais de 150 tipos diferentes de HPV, dos quais 40 podem infectar o trato genital. Destes, 12 são de alto risco e podem provocar câncer (são oncogênicos) e outros podem causar condilomas (verrugas) genitais. - O HPV pode ser classificado em tipos de baixo e de alto risco de desenvolver câncer. Como já dito, existem 12 tipos identificados como de alto risco (HPV tipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58 e 59) que têm probabilidade maior de persistir e estarem associados a lesões pré-cancerígenas. - Os subtipos 16 e 18 são responsáveis por aproximadamente 70% de todos os carcinomas cervicais, por serem os mais mitogênicos. Eles também são responsáveis por até 90% dos casos de câncer de ânus, até 60% dos cânceres de vagina e até 50% dos casos de câncer vulvar. O tipo 16 é o mais prevalente e o mais frequente entre os carcinomas de células escamosas. O tipo 18 é o responsável por 20% dos tumores e o mais comum entre os adenocarcinomas. - Os HPV de tipo 6 e 11, de baixo risco e encontrados na maioria dos condilomas genitais e papilomas laríngeos, parecem não oferecer nenhum risco de progressão para malignidade. - O HPV é a infecção sexualmente transmissível mais prevalente do mundo (estima-se que até 80% das mulheres sexualmente ativas terão contato com ele até os 50 anos) e é o fator mais fortemente associado ao câncer de colo de útero (sendo associado a 95% deles). - Os diversos tipos de HPV infectam diferentes partes do corpo humano. Os tipos 6 e 11 estão mais relacionados às verrugas genitais, com baixo risco de progressão para câncer. Já os tipos 16 e 18 são os mais associados a lesões anogenitais com transformação maligna (70% dos cânceres cervicais são associados a esses dois tipos – alto risco), juntamente com os tipos 45, 31, 33, 52 e 58. - Trata-se de um parasita intracelular, capaz de acelerar a velocidade das mitoses celulares, o que aumenta a chance de desenvolvimento de atipias. - A transmissão da infecção pelo HPV ocorre por via sexual, presumidamente, através de abrasões microscópicas na mucosa ou na pele da região anogenital. Consequentemente, o uso de preservativos (camisinha), durante a relação sexual com penetração, protege parcialmente do contágio pelo HPV, que também pode ocorrer através do contato com a pele da vulva, região perineal, perianal e bolsa escrotal. - A taxa de transmissibilidade depende tanto dos fatores virais quanto do hospedeiro, mas de uma forma geral, o risco de transmissão é de 65% para as lesões verrucosas e 25% para as lesões subclínicas. - Porém, a maioria das infecções é transitória. Na maioria das vezes, o sistema imune consegue combater de maneira eficiente esta infecção alcançando a cura, com eliminação completa do vírus, principalmente entre as pessoas mais jovens. - O tempo de latência viral e os fatores associados não são conhecidos, e o vírus pode permanecer quiescente por muitos anos até o desenvolvimento de lesões. Assim, não é possível estabelecer o intervalo mínimo entre a infecção e o desenvolvimento de lesões. - O tempo médio entre a infecção pelo HPV de alto risco e o desenvolvimento do câncer cervical é de aproximadamente 20 anos, de acordo com o tipo, a carga e a capacidade de persistência viral e o estado imunológico do hospedeiro. A infecção por um genótipo de HPV não impede a infecção por outros tipos de HPV. - No momento em que o vírus HPV infecta a célula ele vai provocar um efeito chamado coilocitose. Em algumas mulheres pode começar a causar uma displasia em algumas células, quando atingir 1/3 do epitélio é NIC I, 2/3 NIC II, 3/3 NIC III. Estão restritas ao ao epitélio. FATORES DE RISCO - HPV pode acometer pessoas de qualquer idade, mas é mais frequente na faixa compreendida entre 20 e 40 anos, período de maior atividade sexual. Podemos dizer que a infecção é ENDÊMICA entre os indivíduos sexualmente ativos. - Início Precoce da Atividade Sexual (Coitarca ou Sexarca Precoce): É um importante fator de risco. A coitarca precoce (idade menor que 16 anos) deve ser desestimulada nos primeiros dois anos após a menarca. - Número de Parceiros Sexuais: Este fator é ainda mais importante que o anterior. Quanto maior o número de parceiros sexuais, maior a chance de um dos parceiros ser portador de um vírus de alto risco e, consequentemente, maior a chance de a parceira desenvolver uma lesão de alto grau ou mesmo um câncer invasor. Maior chance de contato com HPV diferentes. - Parceiro Sexual: Há um risco quatro a cinco vezes maior de HPV em mulheres que tiveram parceiros com câncer de pênis. Além disso, parceiros com início precoce da atividade sexual, com vários episódios prévios de DST, com visitas frequentes a profissionais do sexo e tabagistas aumentam a chance de a parceira apresentar câncer cervical. - Deficiências Vitamínicas: No colo do útero, a vitamina A parece ser um importante fator na manutenção da integridade do epitélio escamoso. A carência desta vitamina está associada ao aumento da incidência do HPV, e os níveis séricos de vitaminas A e C tendem a ser progressivamente mais baixos à medida que a doença se torna mais avançada. - Tabagismo: É um importante fator na gênese do câncer de colo. Está diretamente relacionado com a carga tabágica (tempo de consumo e número de cigarros). O mecanismo de ação está relacionado com o efeito carcinogênico direto da nicotina e 2 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 cotinina no muco cervical e com a redução da resposta imune a partir da menor atividade das células natural killer e da redução de IgG e IgA. - Imunidade: Pacientes HIV positivas, lúpicas, diabéticas, transplantadas em uso de corticoterapia ou quimioterapia e/ou radioterapia apresentam comprometimento da sua imunidade e estão sob maior risco de desenvolver câncer de colo uterino. - Baixo Nível Socioeconômico: Todos os fatores de risco são mais prevalentes em mulheres de nível socioeconômico mais baixo, o que, somado às dificuldades de acesso aos meios de diagnóstico e tratamento precoce, confere a esta população uma alta incidência da doença. - Multiparidade; Desnutrição; Má Higiene Genital; - Mulher monogâmica, com ausência de fatores de risco, pode ainda estar sob risco para desenvolvimento de câncer de colo, devido ao comportamento sexual prévio ou atual do seu parceiro. Assim, é importante definir o histórico do parceiro. Ele é considerado de alto risco se tem histórico de um grande número de parceiras, de início precoce da vida sexual, de visitas frequentes a profissionais do sexo e se é tabagista. COLO UTERINO - O colo uterino tem a forma cilíndrica e apresenta uma parte interna, que constitui o chamado canal cervical ou endocérvice, e uma parte externa, que mantém contato com a vagina e é identificada como ectocérvice. - A endocérvice é revestida por uma camada única de células cilíndricas/colunares produtoras de muco, chamada de epitélio colunar simples. - Enquanto a ectocérvice é revestida por um tecido de várias camadas de células planas, chamado de epitélio escamoso e estratificado. - Entre esses dois epitélios, encontra-se a Junção Escamocolunar (JEC), que é uma linha que pode estar tanto na ecto como na endocérvice. Causada pela metaplasia, a diferenciação de um epitélio pro outro. É nesse epitélio que surgem as NICS e os canceres de colo de útero.- Nessa situação, o epitélio colunar fica em contato com um ambiente vaginal ácido, hostil a essas células. Assim, células subcilíndricas bipotenciais, de reserva, se transformam por meio de metaplasia em células mais adaptadas (escamosas), dando origem a um novo epitélio situado entre os epitélios originais, chamado de terceira mucosa ou zona de transformação. - Epitélio colunar (cilíndrico) simples: é o epitélio característico da região endocervical, constituído por uma única camada de células responsáveis pela secreção do muco cervical (epitélio cilíndrico simples ou epitélio glandular). - Epitélio escamoso estratificado não queratinizado: é o epitélio característico da região da ectocérvice, formado por várias camadas de células, o que confere maior proteção à região. - JEC (Junção Escamocolunar): O ponto de encontro destes epitélios da endo e da ectocérvice. QUADRO CLÍNICO - Após a exposição, o vírus coloniza todo o epitélio do trato genital inferior. Pode, então, existir uma ampla variação individual de manifestações clínicas, que, provavelmente, são reguladas pela resposta imunológica local ou sistêmica do hospedeiro, além da presença ou ausência de cofatores. - Na maioria dos casos, o HPV não apresenta sintomas e é eliminado pelo organismo espontaneamente. O HPV pode ficar no organismo durante anos sem a manifestação de sinais e sintomas. Em alguns casos, o HPV pode ficar latente de meses a anos, sem manifestar sinais (visíveis a olho nu), ou apresentar manifestações subclínicas (não visíveis a olho nu). - A infeccão pelo HPV apresenta-se na maioria das vezes de forma assintomática, com lesões subclínicas (inaparentes) visíveis apenas após aplicação de reagentes, como o ácido acético e a solução de Lugol, e por meio de técnicas de magnificação (colposcopia). - A diminuição da resistência do organismo pode desencadear a multiplicação do HPV e, consequentemente, provocar o aparecimento de lesões. A maioria das infecções em mulheres (sobretudo em adolescentes) tem resolução espontânea, pelo próprio organismo, em um período aproximado de até 24 meses. - A maioria das infecções é assintomática ou não aparente. Outras podem se apresentar sob a forma de lesões exofíticas, os chamados condilomas acuminados, verrugas genitais. Podem também assumir uma forma subclínica, visível apenas sob técnicas de magnificação (lentes – colposcopia) e após aplicação de reagentes, como o ácido acético. - As primeiras manifestações da infecção pelo HPV surgem, aproximadamente, entre dois e oito meses, mas pode demorar até 20 anos para aparecer algum sinal da infecção. As manifestações costumam ser mais comuns em gestantes e em pessoas com imunidade baixa. - A infecção pelo HPV pode ter diferentes evoluções: 3 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 Cura espontânea, com eliminação natural do vírus em cerca de 18 meses, sem que ocorra nenhuma manifestação clínica; Persistência do vírus no organismo por vários anos, sem causar nenhuma manifestação clínica e/ou subclínica. A diminuição da resistência do organismo pode desencadear a multiplicação do HPV e, consequentemente, provocar o aparecimento de lesões clínicas e/ou subclínicas; O vírus pode se multiplicar em um pequeno número de casos e, então, provocar o aparecimento de lesões, como os condilomas genitais (visíveis a olho nu) ou “lesões microscópicas” que só são visíveis através da colposcopia ou, ainda, alterações celulares só identificadas na citologia. - O quadro da paciente irá depender da sua resposta imunológica e do tipo de vírus que ela apresenta. Verrugas pequenas e pouco numerosas; verrugas numerosas, grandes e amontoadas, com aspecto de couve-flor; lesões pré-malignas e neoplasias invasivas são possíveis manifestações da infecção pelo HPV. - A infecção pelo HPV, tanto no homem como na mulher, tem sido descrita sob três formas de apresentação: latente, subclínica e clínica. Apresentação latente - ocorre quando as pessoas infectadas por HPV não desenvolvem qualquer lesão. Essa condição pode permanecer durante toda a vida. Apenas algumas pessoas podem, anos mais tarde, vir a expressar a doença com condilomas ou alterações celulares do colo uterino. Nessa situação, não existe manifestação clínica, citológica ou histológica, podendo a infecção ser apenas demonstrada por meio de exames de biologia molecular (detecção do DNA viral). Infecção latente: nesses casos, as células estão infectadas pelo HPV, mas o vírus está latente. O genoma não é integrado ao genoma da célula do hospedeiro e não ocorre replicação viral. Apresentação subclínica - A lesão subclínica ocorre quando as microlesões pelo HPV são diagnosticadas por meio de exame de papanicolaou e/ou colposcopia (lesões acetobrancas), com ou sem biópsia. A lesão intraepitelial escamosa de baixo ou alto risco é detectada com mais frequência. Os tipos oncogênicos de HPV podem resultar em lesões precursoras do carcinoma escamoso da cervice uterina, divididas em: (i) lesão intraepitelial escamosa de baixo grau – LSIL (NIC I/displasia leve); e (ii) lesão intraepitelial escamosa de alto grau – HSIL (NIC II/NIC III, displasia moderada, displasia grave, carcinoma in situ). - (não visíveis ao olho nu) – podem ser encontradas nos mesmos locais das lesões clínicas e não apresentam sinais/sintomas. As lesões subclínicas podem ser causadas por tipos de HPV de baixo e de alto risco para o desenvolvimento de câncer. - A maioria das infecções proliferativas e neoplásicas é subclínica, sem manifestações e sem verrugas na maior parte dos casos. A infecção pode ainda ser transitória ou persistente, com ou sem desenvolvimento de neoplasia – displasia, ou câncer. Dos possíveis resultados do HPV, o câncer é o menos comum. Apresentação clínica (lesão macroscópica) - A forma mais comum de apresentação é conhecida como verruga genital ou condiloma acuminado. Manifesta-se pela presença de lesões exofíticas, com superfície granulosa, únicas ou múltiplas, restritas ou disseminadas, da cor da pele, eritematosas ou hiperpigmentadas e de tamanho variável. - As lesões maiores assemelham-se a “couve-flor” e as menores possuem aparência de pápula ou placa, podendo também ter aspecto filiforme, sendo em geral resultantes de infecção por tipos não oncogênicos. Dependendo do tamanho e localização anatômica, podem ser dolorosas, friáveis e/ou pruriginosas. No homem, localizam-se na glande, sulco balanoprepucial e região perianal. Na mulher, encontram-se na vulva, períneo, região perianal, vagina e colo. Menos frequentemente, podem estar presentes em áreas extragenitais, como conjuntivas, mucosa nasal, oral e laríngea. - As lesões clínicas mais comuns ocorrem nas regiões anogenitais como vulva, vagina, ânus e pênis. Porém, esta infecção pode aparecer em qualquer parte do nosso corpo, bastando ter o contato do vírus com a pele ou mucosa com alguma lesão, ou seja, pele e mucosas não íntegras. Manifestações extragenitais mais frequentes são observadas na cavidade oral e trato aerodigestivo, tanto benigno quanto malignas. - Apresentam-se como verrugas na região genital e no ânus (denominadas tecnicamente condilomas acuminados e popularmente conhecidas como "crista de galo", "figueira" ou "cavalo de crista"). Podem ser únicas ou múltiplas, de tamanho variável, achatadas ou papulosas (elevadas e sólidas). Em geral, são assintomáticas, mas pode haver coceira no local. Essas verrugas, normalmente, são causadas por tipos de HPV não cancerígenos. - Condiloma acuminado: O condiloma típico é um crescimento branco, exofítico ou papilomatoso. Os crescimentos papilomatosos, a princípio pequenos, tendem a coalescer e formar grandes massas iguais a uma couve-flor que podem se proliferar em profusão. O condiloma acuminado pode afetar a vagina, cérvice, vulva, orofaringe, períneoe áreas perianais. O condiloma florido, papilomatoso, é uma lesão branca saliente com projeções iguais a um dedo, muitas vezes contendo capilares. Embora as grandes lesões possam ser vistas a olho nu, o colposcópio é necessário para identificar as lesões menores. - Condiloma acuminado, pode ter coloração esbranquiçado e ter aparência semelhante a um couve-flor. Além disso, é comum que no caso da infecção pelo HPV existam várias verrugas juntas. 4 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - As lesões intraepiteliais cervicais e o câncer de colo uterino em fases iniciais podem ser totalmente assintomáticos ou podem se manifestar por corrimento vaginal, dor e perda sanguínea anormal. Estas queixas são frequentes na clínica ginecológica. Portanto, não há sintomas específicos. RASTREAMENTO - Sendo a infecção na maioria das vezes assintomática, ainda que não haja sinal ou sintoma de doença causada por HPV, existe um programa de rastreamento do câncer de colo de útero no Brasil. Esse é um dos principais programas de rastreio estabelecidos, com sólidas bases e evidências científicas de redução da mortalidade por câncer cervical em diversos países. - As lesões subclínicas podem ser diagnosticadas por meio de exames laboratoriais (citopatológico, histopatológico e de biologia molecular) ou do uso de instrumentos com poder de magnificação (lentes de aumento), após a aplicação de reagentes químicos para contraste (colposcopia, peniscopia, anuscopia). E para distinguir a lesão benigna da maligna são realizadas biópsias e confirmação histopatológica - De acordo com a Organização Mundial da Saúde, as estratégias para a detecção precoce são o diagnóstico precoce (abordagem de indivíduos com sinais e/ou sintomas da doença) e o rastreamento (aplicação de um teste ou exame em uma população assintomática, aparentemente saudável, com objetivo de identificar lesões precursoras ou sugestivas de câncer e encaminhá-las para investigação e tratamento). - O exame universal de rastreamento do câncer de colo uterino e de suas lesões precursoras é o citopatológico do colo uterino, também chamado de Papanicolau. É um exame simples, de baixo custo, usado no mundo inteiro para o rastreamento do câncer cervical. Papanicolau - Exame preventivo mais comum, detecta as alterações que o HPV pode causar nas células e um possível câncer, mas não é capaz de diagnosticar a presença do vírus. Recomenda-se que as mulheres realizem anualmente a partir dos 25 anos de idade. Com dois resultados negativos, a periodicidade do exame passa a ser a cada três anos, conforme as diretrizes do Ministério da Saúde. - A coleta é feita por meio do exame especular. A amostra citológica consiste na rotação e, 360° da espátula Ayre e/ou do cytobrush. - No Brasil, o método usado é o convencional, que emprega a espátula de Ayre e a escova endocervical ou cito-brush. A combinação da espátula e da escova é o método mais eficiente para diminuir a porcentagem de falso-negativos. A técnica de coloração para citopatologia mais utilizada é a de Papanicolaou. - Na solicitação do exame, deve constar a idade da paciente, dados clínicos e epidemiológicos de importância, data da última menstruação, número de gestações, uso de DIU, presença de sangramento na pósmenopausa e história de cirurgias ginecológicas. - Alguns cuidados devem ser tomados para se efetuar uma coleta adequada e confiável: Não utilizar duchas vaginais aproximadamente 48 horas antes do exame; Abstinência sexual nas 48 a 72h que precedem a coleta; Não utilizar cremes vaginais nos sete dias precedentes ao exame; Não utilizar nenhuma espécie de lubrificante no espéculo. - A época mais propícia para fazer a coleta é o período periovulatório. Não é recomendável a coleta no período menstrual, pois o sangue dificulta a leitura da lâmina. - Os Manuais do Ministério da Saúde recomendam apenas a coleta de amostra da ectocérvice e endocérvice. Segundo estes manuais, o material contido no fundo de saco vaginal possui baixa qualidade para o diagnóstico oncótico. Convém lembrar que alguns serviços ainda realizam a coleta tríplice (fundo de saco vaginal, ectocérvice e endocérvice). - O MS propõe o rastreamento com exame citopatológico de colo uterino para mulheres a partir dos 25 anos que tenham iniciado atividade sexual. A orientação é realizar um exame aos 25 e o próximo com intervalo de 1 ano. Se ambos os exames forem adequados para avaliação, representativos de JEC e negativos para malignidade, a recomendação é que o exame seja feito a cada 3 anos até os 64 anos de idade. - A justificativa para o intervalo de 3 anos entre os exames é a velocidade lenta de progressões das lesões. É pouco provável que uma lesão intraepitelial evolua para carcinoma invasor em menos de 3 anos. - Não é recomendado o rastreamento antes dos 25 anos devido à baixa incidência de lesões de alto grau nessa faixa etária e à alta taxa de falsos positivos, levando à colposcopias e biópsias desnecessárias. - A suspensão do rastreamento aos 64 anos poderá ser realizada desde que, nos últimos 5 anos a paciente tenha pelo menos 2 exames negativos para neoplasia. 5 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - Se a paciente interrompeu o rastreamento, este deve ser reiniciado. Ela deve ser submetida a duas coletas com intervalo de um ano. Se os exames forem satisfatórios e negativos para malignidade, pode-se indicar coleta a cada 3 anos novamente. - Mulheres que não iniciaram a vida sexual aos 25 anos não tem indicação de rastreamento. Mas, se houve algum tipo de penetração vaginal em qualquer momento, o rastreamento é necessário. Este rastreamento também não é feito em mulheres submetidas à histerectomia total por patologias benignas. - Não há contraindicação para coleta em pacientes gestantes. - Mulheres imunossuprimidas devem ser submetidas à coleta logo após início da atividade sexual. Recomenda-se nessas pacientes, coleta a cada 6 meses por 1 ano, se todos os exames forem normais, podem ser feitos com intervalos anuais. - Quando o exame é satisfatório para avaliação, deve-se prestar atenção especial se hoyve representatividade das células metaplásicas da JEC. Além delas, podem estar representadas as células escamosas e glandulares. - Se a coleta evidenciar ausência de malignidade, deverão ser repetidas com intervalo de 1 ano e após 2 exames normais anuais, o intervalo passará a ser de 3 anos. Colposcopia - Feito com um aparelho chamado colposcópio, que aumenta a visão do médico de 10 a 40 vezes, o exame permite a identificação de lesões na vulva, na vagina e no colo do útero. A colposcopia é indicada nos casos de resultados anormais do exame de Papanicolau para saber a localização precisa das lesões precursoras do câncer de colo do útero. - Deve-se inserir o espéculo vaginal e aplicar solução de ácido acético no colo uterino. Este tem a propriedade de coagular as proteínas do citoplasma das células neoplásicas, gerando imagens características. Os achados anormais são: Epitélio acetobranco Pontilhado Mosaico Leucoplasia Vasos atípicos - A colposcopia deve ser finalizada pela prova ou teste de Schiller. Consiste na aplicação de lugol no colo uterino, que é uma solução à base de iodo que cora de marrom-escuro as células que contêm glicogênio (epitélio ectocervical). - Quando todo o epitélio escamoso tem-se um teste de iodo positivo e Schiller negativo. Quando alguma área deste epitélio não cora, o teste de iodo é negativo e o de Schiller positivo, sendo necessário investigar essas áreas, visto que as neoplasias e os efeitos citopáticos do HPV diminuem a quantidade de glicogênio intracelular, por isso a solução de iodo não cora. A – iodo parcialmente positivo. Metaplasia ou lesão de baixo grau. B – iodo negativo. Lesãode alto grau. - Por meio da colposcopia, não podemos determinar com exatidão ograu da lesão, somente supor sua existência e determinar a biópsia para exploração mais detalhada. - Após a identificação das regiões com suspeita de doença, remove- se um fragmento de tecido (biópsia) para confirmação diagnóstica - O diagnóstico definitivo é histológico, feito pela biópsia. CLASSIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICO - As NICS são displasias epiteliais, portanto a lesão está restrita ao epitélio, não há invasão da lâmina basal, dessa forma, não há a possibilidade de metástase. NIC I - Caracteriza-se pela substituição de menos de 1 terço da espessura do epitélio por células imaturas e atípicas. As alterações mais comuns na citologia são: Grau leve de discariose Presença de células superficias com núcleos atípicos acompanhadas de coilocitose. – Lesão sugestiva de infecção pelo HPV Quando coradas pela técnica de papanicolaou, essas lesões apresentam células escamosas de núcleos grandes, hipercromasia e/ou halo citoplasmático de reforço. Displasia leve (lesão intraepitelial de baixo grau) – Camada profunda do epitélio (basal). NIC II - Caracteriza-se por alterações celulares que ocupam até 2 terços da espessura do epitélio escamoso. As alterações mais comuns são: 6 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 Diferenciação celular incompleta nas camadas superiores. Células intermediárias encontradas na camada superficial com núcleos atípicos. Displasia moderadas – camada intermediária. NIC III - O distúrbio de maturação é mais extenso e caracterizado pela substituição total ou de pelo menos mais de 2 terços da espessura epitelial por células escamosas do tipo basal ou parabasal, com as seguintes alterações: Alta relação núcleo-citoplasma. Hipercromasia Mitoses atípicas Contornos celulares atípicos Displasia grave na camada superficial. - O diagnóstico das NICS baseia-se no tripé composto por colpocitologia (papanicolaou), colposcopia e biópsia. - A citologia oncótica realizada pela coloração de Papanicolaou não é um diagnóstico definitivo, mas uma triagem para, se necessário, posterior confirmação com análise anatomopatológica realizada em material de biópsia coletado na colposcopia. - Pela classificação de Bethesda, as NICS são divididas em baixo e alto grau: Lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau - NIC I. Engloba características citológicas de infecção por HIV e NIC 1, mas com risco de o laudo histológico vir como NIC 2 ou 3 de 15% a 30%. - Mulheres com diagnóstico citopatológico de LSIL devem repetir o exame citopatológico em seis meses na unidade de atenção primária. Processos infecciosos ou atrofia genital identificados devem ser tratados antes da nova coleta. - Se a citologia de repetição for negativa em dois exames consecutivos, a paciente deve retornar à rotina de rastreamento citológico trienal na unidade de atenção primária. Se uma das citologias subsequentes no período de um ano for positiva, encaminhar à unidade de referência para colposcopia. À colposcopia, se presentes achados anormais no colo do útero, deve-se realizar a biópsia. Presente NIC II/III ou câncer deve-se seguir conduta específica. Caso presente NIC I, a paciente deverá ser mantida em seguimento citológico. Lesões intraepiteliais escamosas de alto grau - NICS II e III. Devem ser imediatamente investigados com mais cautela. Essa classificação engloba características histológicas de NIC 2 e 3 e traz elevado risco de resultado de laudo histopatológico de NIC 2 ou 3 (mais de 70%) ou de câncer invasivo (1 a 2%). - Mulheres que apresentarem laudo citopatológico de HSIL deverão ser encaminhadas à unidade de referência para realização de colposcopia. A repetição da citologia é inaceitável como conduta inicial. Se for confirmado a alteração, realizar a biópsia e mandar para a patologia. Se confirmando, conização. - O diagnóstico definitivo de NICS baseia-se na histologia, ou seja, requer biópsia. - Recomenda-se que o exame papanicolaou seja laudado de acordo com a classificação do achado: Lesão intraepitelial de baixo ou alto grau. Os resultados de NIC I, II e III devem ser determinados apenas na histologia. - Os outros achados anormais destes exames consistem nas células escamosas e glandulares atípicas. As células escamosas atípicas de significado indeterminado são divididas em duas categorias: ASC-US - Atipias em células escamosas de significado indeterminado, possivelmente não neoplásicas. Muito improvável que a paciente tenha alguma neoplasia. - Atipias em células escamosas de origem indeterminada (não sabe em qual camada). Nem todos que tem ascus irão ter câncer, mas é onde ele se inicia. Tem que ser investigada, trata a inflamação e se repete o exame. Trata-se da anormalidade citológica mais comum, representadas pela sigla ASC-US. Indica presença de células sugestivas, mas que não preenchem critério para LSIL. Sua investigação não deve ser agressiva, visto que a maioria irá regredir e um percentual baixo precede um diagnóstico histológico de NIC 2 ou 3. - A conduta preconizada pelo MS perante um resultado de ASC-US na citopatologia é a repetição da mesma em 6 meses. A segunda coleta deve ser precedida pelo tratamento de eventuais infecções genitais ou estrogenização das mulheres pós-menopausa. - Se a paciente tiver entre 25 e 30 anos o risco de lesão neoplásica será tão baixo que o MS recomenda sua repetição somente após 1 ano. - Se a nova coleta revelar ASC-US ou lesão mais grave, a paciente deverá ser encaminhada para colposcopia, já se for normal, a paciente deverá repeti-lo em 6 meses ou 1 ano, se for normal, rastreamento habitual a cada 3 anos. - Diante de colposcopia normal, mantém-se o rastreamento semestral até 2 resultados normais. No caso de colposcopia alterada, segue-se a realização de biópsia e a conduta conforme seu resultado. ASC-H - Atipias em células escamosas de significado indeterminado, em que não se pode afastar lesão de alto grau. - São células atípicas em que não se pode excluir lesão intraepitelial de alto grau (HSIL). Nesse caso, encontram-se LIE-AG em 25% dos casos. É uma porcentagem superior à da ASC-US, portanto indicando uma investigação mais atenta com colposcopia. 7 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - No caso de diagnóstico citopatológico de ASC-H, é mandatória a colposcopia com biópsia imediatamente. Diante da colposcopia alterada a biópsia deverá ser realizada. AGUS/GCA - Presença de células glandulares atípicas. Essa categoria implica alto risco de neoplasia. Há também maior risco de neoplasia de endométrio ou de outras partes do sistema reprodutor. A investigação deve ser sempre mais agressiva após esse laudo. - Alta chance de adenocarcinoma. - Pacientes com diagnóstico citológico de AGC devem ser encaminhadas para colposcopia. À colposcopia, deve ser realizada nova coleta de material para citologia com especial atenção para o canal cervical. Coleta endocervical. - Concomitantemente, é recomendável a avaliação endometrial com ultrassonografia em pacientes acima de 35 anos e, caso anormal, estudo anatomopatológico do endométrio. Abaixo dessa idade, a investigação endometrial deverá ser realizada se presente sangramento uterino anormal ou se a citologia sugerir origem endometrial. A investigação da cavidade endometrial será prioritária em relação à investigação da ectocérvice e do canal endocervical sempre que mencionada a possível origem endometrial dessas células atípicas. - Durante a colposcopia, se encontradas alterações, quaisquer que sejam, deve ser realizada a biópsia. Caso o exame histopatológico do material desta biópsia seja compatível com adenocarcinoma in situ/invasor, seguir recomendações específicas. - A investigação diagnósticada infecção latente pelo HPV, que ocorre na ausência de manifestações clínicas ou subclínicas, só pode atualmente ser realizada por meio de exames de biologia molecular, que mostram a presença do DNA do vírus. Entretanto, não é indicado procurar diagnosticar a presença do HPV, mas sim suas manifestações. - O diagnóstico dos condilomas anogenitais pode ser realizado em mulheres e homens por meio do exame clínico. Em caso de suspeita de malignidade, a confirmação histopatológica se impõe. As lesões subclínicas são, em geral, surpreendidas em colpocitologia de rotina. Uma vez identificadas, na dependência do tipo de lesão, está indicado o acompanhamento citológico ou a realização de colposcopia com biópsia da área alterada. - A infecção, assintomática na maioria das vezes, acaba sendo diagnosticada apenas pelos métodos de rastreio e exames de rotina. No entanto, o aparecimento de lesões clínicas como verrugas deve dar início a uma investigação diagnóstica. - Embora haja métodos citológicos, colposcópicos e histológicos de diagnóstico, eles não são suficientemente sensíveis. O diagnóstico confirmatório só ocorre por meio da detecção do DNA do HPV, sendo a captura híbrida o exame mais utilizado para tal. Este exame, no entanto, distingue apenas entre lesões de alto e baixo risco, não identificando o tipo exato de vírus. Para este fim, usa-se como método a reação em cadeia da polimerase (PCR). - No entanto, se existem lesões clínicas verrucosas, neoplasia de colo uterino de alto grau ou câncer invasivo por citologia ou histologia, presume-se que seja por HPV e a confirmação não é necessária. - Lesões clínicas – podem ser diagnosticadas por meio do exame clínico urológico (pênis), ginecológico (vulva/vagina/colo uterino), anal (ânus e região perianal) e dermatológico (pele). - Lesões subclínicas – podem ser diagnosticadas por exames laboratoriais, como o exame preventivo Papanicolau (citopatologia), colposcopia, peniscopia e anuscopia, e também por meio de biopsias e histopatologia, a fim de distinguir as lesões benignas das malignas. - A adequabilidade da amostra é definida como satisfatória ou insatisfatória. Amostras inadequadas devem ser repetidas e podem ocorrer por baixo número de células ou leitura prejudicada por sangue, piócitos, artefatos, contaminantes externos ou sobreposição celular intensa. - Além da adequabilidade da amostra, deve-se apresentar quais os tipos de células foram encontradas na amostra: células escamosas, células glandulares ou células metaplásicas. - A presença de células metaplásicas ou endocervicais, representativas da junção escamocelular (JEC) indicam maior qualidade da coleta, por conter elementos da região onde neoplasias e lesões precursoras geralmente aparecem. - Devemos lembrar que o laudo citológico do sistema de Bethesda serve para RASTREAMENTO, não para firmar diagnóstico, o qual deve ser alcançado por meio da colposcopia com análise histológica. - O exame citológico é interpretado como negativo para lesão intraepitelial ou malignidade, ou positivo para uma ou mais anormalidades de células epiteliais. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Condiloma Plano - O condiloma plano corresponde a lesões grandes, elevadas e cinzentas nas regiões de dobras, e que surgem como consequência da infecção pela bactéria Treponema pallidum, que é responsável pela sífilis, uma infecção sexualmente transmissível. 8 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - são lesões associadas com a sífilis secundária e que correspondem a lesões grandes e acinzentadas que podem aparecer não só na região genital e anal, mas também em regiões de dobras. - O condiloma plano é um sinal indicativo da sífilis secundária, em que a bactéria, depois de um período de inatividade, volta a estar ativa e leva ao aparecimento de sintomas mais generalizados. - No caso do condiloma plano, as lesões são grandes, elevadas e cinzentas e aparecem não só na região genital, mas também nas dobras do corpo. Além disso, quando o condiloma plano está presente na região anal, é possível também que existam sinais de irritação e inflamação no local. - No caso do condiloma plano, também conhecido como condiloma lata, o tratamento é feito com antibióticos para eliminar a bactéria responsável pela sífilis e que leva ao surgimento deste tipo de lesões na pele. - Quando o tratamento não é feito, o condiloma pode desaparecer, mas irá reaparecer novamente e pode até aumentar de tamanho e ser acompanhado de sintomas mais graves, como perda de apetite, anemia ou sintomas neurológicos, que caracterizam a sífilis terciária, que é a forma mais avançada da doença. Molusco Contagioso - É causado por um poxvírus. Há quatro tipos de vírus, sendo que o tipo 1 é responsável por 98% dos casos, o tipo 2 por 2% e o 3 e 4 são extremamente raros. O vírus cresce no citoplasma, formando os corpos de Henderson-Patterson, o que acaba deslocando as organelas da célula. É circundado por capa de colágeno e lipídios que se moldam numa estrutura em forma de saco dentro do queratinócito. Quando há o rompimento, o vírus é espalhado. - Incubação: Três semanas a três meses. - A lesão clínica caracteriza-se por pápulas na pele, rosadas ou brancas com depressão central ou umbilicadas, medindo de 1 a 10 mm. Podem ser únicas ou múltiplas (geralmente menos que 30), são autoinoculáveis e geralmente assintomáticas, mas podem apresentar eczema ou prurido ao redor da lesão. - Em adultos, as vesículas são mais frequentemente encontradas na região genital, devido à natureza sexual da transmissão. Em crianças, a infecção também é frequente, inclusive mais frequente do que em adultos, e transmitida por contato íntimo; embora nesses casos a localização extragenital seja mais comum. - Diagnóstico Clínico, pela aparência característica das lesões. A biópsia, apesar de confirmar o diagnóstico, é dispensável na grande maioria dos casos. - A cura em geral é espontânea, embora possa persistir por períodos que vão de seis meses a cinco anos. Em pacientes imunodeprimidos, as lesões podem se manter indefinidamente. Podemos optar pelo tratamento clínico ou cirúrgico. Se o número de lesões for pequeno, é indicada a curetagem com aplicação de tintura de iodo. Se houver muitas lesões que tornem a curetagem inviável, pode ser usada a podofilina 20% duas vezes por semana até a cura, ácido tricloroacético 10-30%, além de nitrato de prata a 40% e o hidróxido de potássio, que também apresentam boa resposta. Outra opção é a crioterapia ou a eletrocirurgia. Cistos epidérmicos e sebáceos Epidérmicos - Anteriormente chamados de cistos de queratina, estes cistos são de origem epidérmica. Eles são revestidos com epitélio escamoso e preenchidos com material oleoso e células epiteliais descamadas. - - Os cistos de inclusão epidérmicos podem resultar da sutura de fragmentos cutâneos durante o fechamento da mucosa e pele vulvares após o trauma ou a episiotomia. Todavia, a maioria dos cistos epidérmicos surge a partir da oclusão dos ductos pilos- sebáceos. Estes cistos são geralmente pequenos, solitários e assintomáticos, mas raramente se tornam irritados ou infectados. Sebáceos - Os cistos sebáceos se desenvolvem quando os ductos das glândulas sebáceas ficam ocluídos e o material sebáceo se acumula. Estes cistos são frequentemente múltiplos e quase sempre envolvem os grandes lábios. Embora geralmente assintomáticos, os cistos agudamente infectados podem requerer incisão e drenagem. Ceratose seborreica - Ocasionalmente observam-se manifestações vulvares de ceratose seborreica em pacientes com lesões concomitantes em pescoço, face ou tronco. As lesões típicas são lesões bem circunscritas, ligeiramente elevadas, com superfície áspera e gordurosa. O potencial maligno dessas lesões de crescimento lento é mínimo e, portanto, a excisãodeve ser sugerida apenas em caso de desconforto. TRATAMENTO - Quanto ao tratamento do HPV, é importante salientar que o objetivo principal do tratamento não é a erradicação do vírus, pois ainda não temos medicamentos ou métodos capazes de alcançar este objetivo, mas sim de destruição da lesão que está causando. Na verdade, quem elimina o vírus é o sistema imunológico da paciente. 9 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - É notório que a simples presença do vírus, sem ocasionar nenhuma lesão, não necessita de tratamento, além do que, boa parte das lesões, principalmente condilomas pequenos e lesões de baixo grau, tem grande potencial de regressão espontânea. - No entanto, deve-se pensar em tratamento do HPV por vários motivos: (a) Erradicar condilomas acuminados por questões estéticas, para evitar infecções secundárias e para prevenção de possível malignidade, pois, apesar de os condilomas viróticos estarem associados principalmente a vírus de baixo risco (HPV 6 e 11), em 5% dos casos podemos encontrar também vírus de alto risco; (b) Prevenir a evolução para malignidade, pois as lesões cervicais intraepiteliais de alto grau e as lesões vulvares de alto grau podem progredir para um carcinoma invasor; (c) Prevenção da transmissão vertical, principalmente em condilomatose durante a gravidez, que aumenta significativamente a possibilidade de transmissão durante a passagem do canal de parto e pode ocasionar a papilomatose juvenil recorrente. (d) Prevenção da transmissão horizontal, pois a infecção pelo HPV é uma DST e a destruição das lesões clínicas e subclínicas diminui a possibilidade de transmissão a outros contatos. - Como em toda infecção, estão indicadas medidas gerais como higiene, recomendação do uso de preservativo nas relações sexuais, encaminhamento do parceiro para investigação e orientação e tratamento das infecções secundárias. - Os tipos de tratamento são químicos, cirúrgicos e estimuladores da imunidade. - Podem ser domiciliares (autoaplicados: imiquimode, podofilotoxina) ou ambulatoriais (aplicados no serviço de saúde: ácido tricloroacético – ATA, podofilina, eletrocauterização, exérese cirúrgica e crioterapia), conforme indicação profissional para cada caso. - Podofilina e imiquimode não devem ser usadas na gestação. - O tratamento das verrugas anogenitais não elimina o vírus e, por isso, as lesões podem reaparecer. As pessoas infectadas e suas parcerias devem retornar ao serviço, caso se identifiquem novas lesõe VERRUGAS O tratamento das verrugas é feito com métodos destrutivos ou ablativos: - Pode ser destruído por cauterização com eletrocautério, laser, substâncias químicas (podofilina ou ácido tricloroacético), imunomoduladores ou ressecção cirúrgica. A escolha vai depender do número, gravidade e tamanho das lesões, disponibilidade de recursos, eficácia e efeitos adversos, estado imunológico da paciente, capacidade técnica do médico e aceitação pela paciente. - Nas lesões extensas de vulva, a fulguração com eletrocautério ou destruição com laser deve ser preferida. Nas mais localizadas pode- se usar o TCA (Ácido Tricloroacético) nas concentrações de 30, 50 ou 90%, dependendo da localização e do volume da lesão. Algumas lesões muito volumosas necessitam de ressecção cirúrgica. - O ácido tricloroacético (ATA) a 80% a 90% em solução alcoólica pode ser aplicado em pouca quantidade apenas nas verrugas, deixando secar. Feito isso, a lesão se tornará branca e irá de desprender da pele ao longo dos dias. Pode ser repetido semanalmente, se houver necessidade. No entanto, deve-se tomar alguns cuidados: só pode ser aplicado em gestantes caso as lesões não sejam muito extensas. Se a lesão for extensa, deve-se associar à exérese cirúrgica. - O ATA é um análogo do ácido acético que age “queimando” as verrugas e sua aplicação pode ser dolorosa. Substância cáustica que atua localmente, ocasionando desnaturação proteica tanto em tecidos sadios quanto nos infectados pelo HPV. Não é absorvido e não apresenta efeitos sistêmicos, mas leva à ulceração local. Pode ser usado com segurança em gestantes; - Preparado de podofilina: é uma resina extraída de plantas associada a duas substâncias sabidamente carcinogênicas (quercetin e quenferol), que interfere na mitose celular e causa danos na microcirculação com lesão endotelial, que resultam em necrose celular. Seu uso foi abandonado nos últimos anos em razão da baixa eficácia e dos vários efeitos adversos (hepatotoxicidade, neurotoxicidade, supressão da medula óssea e teratogenicidade). A podofilina não deve ser usada durante a gravidez, pois é neurotóxica para o feto; - A podofilotoxina em creme a 0,15% é aplicada nas lesões durante cerca de 3 dias, geralmente 2 vezes ao dia. Pode-se repetir com um intervalo mínimo de 4 dias, por no máximo 4 vezes. Está contraindicado em gestantes e crianças. Trata-se de um antiviral que desestabiliza os microtúbulos por se ligar à tubulina e impedir a divisão celular. Seus derivados podem ainda ligar-se à topoisomerase-2, dificultando a replicação celular. - A podofilina 10% a 25% em solução alcoólica ou tintura de Benjoim é aplicada em cada verruga, deixando-se secar. Repete-se semanalmente caso haja necessidade e também é contraindicada em gestantes e crianças. Esse medicamento de uso tópico tem ação citotóxica e também age no ciclo celular viral. Seu uso pode acarretar irritação local e efeitos sistêmicos só ocorrem em aplicações excessivas – náusea, vômito, dor abdominal, diarreia, íleo paralítico, leucopenia transitória, dentre outros. - Imiquimod: substância química cuja ação ainda não é bem esclarecida, mas tem o poder de induzir a produção endógena de interferon alfa e outras citocinas como o fator de necrose tumoral alfa e a interleucina 6. Apresenta, então, uma atividade antiviral e antitumoral. Entretanto, sua taxa de sucesso não é tão alta, gira em torno de 55% de resolução dos condilomas, com baixa recidiva. - Há ainda a eletrocauterização, eletrocoagulação ou eletrofulguração. É um procedimento cirúrgico destrutivo em que se usa um equipamento chamado eletrocautério, carbonizando a lesão por eletricidade e energia térmica ou ainda por coagulação sanguínea da região. A criocauterização ou criocoagulação é útil se há poucas lesões e elas são muito queratinizadas. Esse procedimento já utiliza o frio. A exérese cirúrgica, por sua vez, é mais benéfica quando há muitas lesões ou a área acometida é demasiadamente grande. - Eletrocauterização: utiliza um eletrocautério para remover lesões isoladas, principalmente vulvares. Não deve ser realizado em lesões vaginais, cervicais e anais, devido ao risco de estenose. Os principais efeitos colaterais incluem dor, sangramento, ulceração e cicatrizes deformantes; - Crioterapia: promove a destruição térmica por meio de equipamentos específicos resfriados com nitrogênio líquido ou CO2 10 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 , eliminando as verrugas por citólise térmica. É útil quando há poucas lesões ou em lesões muito queratinizadas. Pode ser necessária a realização de mais de uma sessão terapêutica, respeitando um intervalo de uma a duas semanas entre as sessões. Raramente necessita anestesia. Os principais efeitos colaterais incluem dor, eritema e bolhas no local da aplicação; - Exérese cirúrgica: principal método quando é desejável exame histopatológico do espécime. Os condilomas podem ser retirados por meio de incisão tangencial com tesoura delicada, bisturi ou cureta. Esse método traz maiores benefícios aos pacientes que tenham grande número de lesões ou extensa área acometida ou, ainda, em casos resistentes a outras formas de tratamento. Dor local, sangramento e cicatrização deformante são os principais efeitos colaterais desse procedimento; LESÕES CERVICAIS - O manejo irá dependerdo achado citológico. - Lesões de alto grau são tratadas por meio de métodos excisionais (NICS2 e 3), pois sabe-se que caso não tratadas, apresentarão risco de evoluir para câncer invasor em algum momento durante a vida da mulher. - Quanto às lesões de baixo grau (NIC1), as evidências sugerem que regressões espontâneas devem ocorrer. O tratamento conservador exige adesão do paciente e disponibilidade de acompanhamento com papanicolaou e colposcópico. Se após dois anos de acompanhamento não houver regressão também são indicados os métodos excisionais. Assim como, em pacientes imunossuprimidas. - O método excisional tradicional é a conização, trata-se da retirada de um cone do colo uterino com bisturi. - Outra opção é a cirurgia de alta frequência (CAF), que consiste no procedimento de conização com o uso de uma alça de eletrocautério. A CAF é mais simples, de menor morbidade e não exige realização em centro cirúrgico. Porém, sua desvantagem é que o cautério pode carbonizar as margens da peça, podendo impedir que o patologista informe se as margens cirúrgicas estão livres ou comprometidas. - Mesmo em pacientes com prole constituída, a histerectomia não estará indicada como tratamento inicial das lesões de alto grau. - Quando há diagnóstico de células escamosas atípicas de significado indeterminado do tipo ACS-US, repete-se a citologia em 12 meses se a paciente tiver entre 25 e 29 anos, e em 6 meses se tiver mais de 30 anos. - Se for do tipo ACS-H – em que não se pode afastar lesão de alto grau – encaminha-se a paciente para a colposcopia. - Pacientes com resultado AGC – anormalidade de células glandulares – devem ser encaminhadas diretamente para a colposcopia. - Quando temos uma lesão intraepitelial cervical de baixo grau (LSIL), pacientes com idade igual ou superior a 6 meses devem repetir a citologia em 6 meses. PREVENÇÃO PRIMÁRIA - A transmissão da infecção pelo HPV ocorre por via sexual, presumidamente por meio de abrasões microscópicas na mucosa ou na pele da região anogenital. Consequentemente, o uso de preservativos (camisinha) durante a relação sexual com penetração protege parcialmente do contágio pelo HPV. - Duas vacinas contra o HPV estão disponíveis: uma vacina bivalente contra o HPV de alto risco dos tipos 16 e 18 e uma vacina quadrivalente contra os tipos 6, 11, 16 e 18. A administração é recomendada antes do início da vida sexual. As duas vacinas pretendem proteger contra o câncer cervical e a neoplasia intra- epitelial cervical (NIC) de alto grau causada pelo HPV 16 e pelo HPV 18. Apenas a vacina quadrivalente é projetada para prevenir o condiloma acuminado e a NIC de baixo grau causada pelo HPV 6 e HPV 11. - A via de administração de ambas as vacinas é intramuscular (0,5 ml). - A vacina quadrivalente contra o vírus HPV foi incluída no Calendário Nacional de Vacinação pelo Ministério da Saúde (MS) em 2016. A partir de 2017, foi disponibilizada para meninas de 9 a 14 anos. De forma análoga, nesse mesmo ano, ela também foi introduzida de forma escalonada para os meninos entre 11 a 14 anos. - O MS passou a recomendar apenas duas doses da vacina (esquema 0 e 6 meses), pois estudos mostraram que a produção de anticorpos com duas doses nesta idade assemelha-se à produção de anticorpos após três doses em idade maior. CÂNCER DE COLO DE ÚTERO - O câncer de colo do útero é uma doença grave e pode ser uma ameaça à vida das mulheres. É caracterizado pelo crescimento anormal de células do colo do útero, que é a parte inferior do útero que fica em contato com a vagina. - Quando uma mulher se contagia com certos tipos de HPV, se as defesas imunológicas do seu corpo não são capazes de eliminar a infecção, pode ocorrer o desenvolvimento de células anormais no revestimento do colo do útero. Se não forem descobertas e tratadas a tempo, as células anormais podem evoluir de um pré- câncer para um câncer. O processo geralmente leva vários anos e pode apresentar sintomas como sangramento vaginal, corrimento e dor. - O tipo histológico mais comum do câncer de colo do útero é o carcinoma de células escamosas, representando cerca de 85 a 90% 11 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 dos casos, seguido pelo tipo adenocarcinoma. O principal fator de risco para o desenvolvimento de lesões intraepiteliais de alto grau (lesões precursoras do câncer de colo do útero) e do câncer de colo do útero é a infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV). - Infecções persistentes por HPV podem levar a transformações intraepiteliais progressivas, que podem evoluir para lesões intraepiteliais precursoras do câncer de colo do útero, as quais, se não diagnosticadas e tratadas oportunamente, evoluem para o câncer de colo do útero. - Existem hoje 13 tipos de HPV reconhecidos como oncogênicos pela IARC (International Agency for Research on Cancer). Desses, os mais comuns são o HPV 16 e o HPV 18. - Contudo, a infecção pelo HPV, por si só, não representa uma causa suficiente para o surgimento dessa neoplasia, sendo necessária a persistência da infecção. A associação com outros fatores de risco, como o tabagismo e a imunossupressão (pelo vírus da imunodeficiência humana – HIV ou outras causas), influencia no surgimento desse câncer. - Há cofatores que aumentam o potencial de desenvolvimento do câncer genital em mulheres infectadas pelo papilomavírus: número elevado de gestações, uso de contraceptivos orais, tabagismo, infecção pelo HIV e outras doenças sexualmente transmitidas (como herpes e clamídia). - A progressão tumoral a partir da infecção de células normais por HPV parece estar condicionada a fatores relacionados ao vírus (tipo do vírus) e fatores relacionados ao hospedeiro (imunossupressão, uso de contraceptivos orais, multiparidade, tabagismo) - O câncer de colo do útero caracteriza-se pela replicação desordenada do epitélio de revestimento do órgão, comprometendo o tecido subjacente (estroma). Pode invadir estruturas e órgãos contíguos ou à distância. - A hemorragia vaginal é o sintoma mais comum em pacientes com câncer cervical. A perda sanguínea normalmente não se associa ao período menstrual e ocorre muitas vezes durante ou após o coito (sinusiorragia). Na pós-menopausa, comumente surge como sangramento uterino anormal. Queixas de corrimento vaginal fétido e dor pélvica, geralmente encontradas em estágios mais avançados do câncer de colo uterino, resultam de processos inflamatórios, associados ou não à infecção secundária do tumor.