Prévia do material em texto
Sistema Reprodutor - Controle do Desenvolvimento Gonadal e dos Gametas: • Desenvolvimento do sistema reprodutivo: 1. A organização das gônadas está sob controle genético (diferenciação sexual genética). O desenvolvimento inicial do ovário embrionário envolve a migração das células germinativas do saco vitelínico para a crista gonadal. Estas células germinativas primordiais povoam os cordões sexuais, os quais são formados na região cortical da gônada embrionária a partir da proliferação de células do epitélio celômico (também chamado de epitélio germinativo) da crista gonadal. Os cordões sexuais contribuem com células, as quais são conhecidas inicialmente como células foliculares e subsequentemente como célu las da granulosa, que imediatamente envolvem o oócito. O mesênquima da crista gonadal contribui com células que se tornarão a teca. A estrutura completa é chamada de folículo, a qual inclui oócito, as células da granulosa e da teca. Conexões espontâneas são formadas entre os oócitos e os tubos destinados a se tornarem os ovidutos, os quais são derivados dos ductos müllerianos. O resultado final é que os oócitos são liberados através da superfície ovariana por ruptura de elementos do tecido que envolve o ovário; este processo é chamado de ovulação. Uma abertura terminal especializada do oviduto, a fímbria, desenvolve-se para permitir que o oócito seja removido de forma eficiente da superfície do ovário. Em alguns animais, os oócitos são passados para a fímbria através de uma bursa, a qual rodeia o ovário; os oócitos são dirigidos para uma abertura relativamente pequena na bursa. O desenvolvimento do testículo embrionário é semelhante ao do ovário: as células germinativas migram na crista genital e povoam os cordões sexuais que são formados a partir de uma invaginação do epitélio (celômico) de superfície (Fig. 35-1). As células de Sertoli (correspondentes masculinos das células da granulosa) desenvolvem-se a partir dos cordões sexuais, e as células de Leydig (correspondentes masculinos das células da teca) desenvolvem-se a partir do mesênquima da crista genital. Uma diferença fundamental em relação ao desenvolvimento ovariano é que a invaginação dos cordões sexuais no macho prossegue na medula da gônada embrionária, onde conexões são feitas com os cordões medulares do mesonefro (rim primitivo). O ducto do mesonefro (ducto wolffiano) transforma- se no epidídimo, ducto deferente, e uretra, a qual tem uma ligação direta com os túbulos seminíferos. Então, as células germinativas masculinas passam para o exterior do animal através de um sistema tubular fechado. 2. A organização sexual da genitália e do cérebro depende da presença ou ausência de testosterona. O desenvolvimento do sistema tubular genital e da genitália externa (diferenciação sexual genital) está sob controle das gônadas em desenvolvimento. Se o indivíduo é uma fêmea — ou seja, a gônada em desenvolvimento é um ovário — o ducto mülleriano se desenvolve em oviduto, útero, cérvix e vagina, enquanto o ducto wolffiano regride; a ausência de testosterona é importante para ambas as mudanças (Fig. 35-2). Se um indivíduo é macho, a rete testis produz o fator inibidor mülleriano, o qual causa a regressão dos ductos müllerianos. O ducto wolffiano é mantido no macho devido à influência dos andrógenos produzidos pelo testículo. Em resumo, os ductos müllerianos são estruturas permanentes, e os ductos wolffianos são estruturas temporárias, a não ser que a presença de hormônios masculinos tenha atuado. A presença de uma enzima, 5α- redutase, é importante para o efeito dos andrógenos, pois a testosterona deve ser convertida intracelularmente em di-hidrotestosterona para ocorrer a masculinização dos tecidos. O uso de inibidores sintéticos de 5α-redutase para o tratamento de doença prostática benigna em humanos é contraindicado sem as medidas concomitantes de controle de nascimento, pois os níveis de medicamentos no sêmen depositado na fêmea pode levar a distúrbios do desenvolvimento sexual em fetos masculinos. 1 O desenvolv imento da gen itál ia externa segue o desenvolvimento e o direcionamento das gônadas. Se o genótipo de um indivíduo é feminino, pregas de tecido chamadas lábios formam a vulva, e desenvolve-se o clitóris. Se o indivíduo é macho, andrógenos produzidos pelos testículos dirigem a formação do pênis (correspondente masculino do clitóris) e do escroto (correspondente masculino dos lábios). Novamente, a presença ou ausência de andrógenos é um importante fator que influencia a formação da genitália externa. A organização final de um indivíduo, no que se refere ao sexo, vem com a diferenciação sexual do hipotálamo. A exposição do hipotálamo a andrógenos próximo ao nascimento causa a organização do hipotálamo como masculino. Um achado paradoxal é que a conversão (aromatização) dos andrógenos a estrógenos é essencial para a masculinização, mediada por enzimas no tecido neural. Na ausência de andrógenos, o hipotálamo é organizado como feminino. O conceito fundamental da organização do sistema reprodutivo, com relação ao genótipo, é que o sistema feminino é organizado na ausência de testículos. Se for um indivíduo masculino, deve ocorrer intervenção ativa por parte dos testículos através da produção de andrógenos e enzimas teciduais apropriadas em duas circunstâncias: (1) na genitália interna, para a conversão a um andrógeno mais potente e (2) no hipotálamo, para a conversão a estrógenos. • Controle hipotalâmico-hipofisário da reprodução: 1. O hipotálamo e a hipófise anterior (adeno-hipófise) secretam hormônios proteicos e peptídicos, os quais controlam a atividade gonadal. A atividade gonadal está sob controle tanto do hipotálamo como da glândula hipófise anterior (Fig. 35-3). O hipotálamo se encontra na linha mediana ventral do diencéfalo. Ele está dividido em metades pelo terceiro ventrículo, e na verdade forma as paredes ventrais e laterais do terceiro ventrículo. O hipotálamo possui grupos de neurônios, coletivamente chamados de núcleos, os quais secretam hormônios peptídicos importantes para o controle da atividade hipofisária. Como será descrito posteriormente em mais detalhes, estes peptídios movem-se para a hipófise tanto pela passagem direta através dos axônios dos neurônios, quanto pelo sistema vascular portal. A hipófise responde aos peptídios hipotalâmicos produzindo hormônios que são importantes para o controle das gônadas. 2. A adeno-hipófise (pars distalis) produz hormônio folículo estimulante, hormônio luteinizante e prolactina, os quais controlam os processos reprodutivos. A glândula hipófise é composta por três partes: um lobo anterior chamado adeno- hipófise, ou pars distalis; um lobo intermediário chamado pars intermedia; e um lobo posterior chamado neuro- -hipófise, ou pars nervosa. Os lobos são de diferentes origens embrionárias; a pars distalis é derivada do endoectoderma (derivado, por sua vez, de um pequeno divertículo lateral à faringe dorsal, chamado de bolsa de Rathke), e a pars 2 intermed ia e a pa rs nervosa são der ivadas do neuroectoderma. A adeno-hipófise produz hormônios proteicos que são importantes para o controle da reprodução: duas gonadotrofinas, o hormônio folículo estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH), e um terceiro hormônio chamado prolactina; outros hormônios hipofisários incluem o hormônio do cresc imento (GH) , cort icot rof ina ( hormôn io adrenocorticotrófico, ACTH), e hormônio tireoestimulante (TSH). O FSH e LH são sinergísticos na foliculogênese e ovulação no ovário. O FSH exerce um papel dominante durante o crescimento dos folículos, e o LH durante os estágios finais da maturação folicular e na ovulação. As gonadotrofinas, bem como o TSH, são chamadas de glicoproteínas, pois suas moléculas contêm grupamentos de carboidrato que contribuem para sua função. A ocitocina, a qual é liberada pela neuro- hipófise, é um hormônio de importânciana reprodução. Além de ser um importante centro para o controle da reprodução, o hipotálamo regula o apetite e a temperatura e integra a atividade do sistema nervoso autônomo. Devido a uma origem embrionária comum, o hipotálamo tem uma conexão direta com a neuro- hipófise. Esta conexão se dá através da haste neural, a qual contém os axônios que se originam dos corpos celulares neuronais localizados no hipotálamo. Dois grupamentos de neurônios no hipotálamo, os núcleos supraóptico e paraventricular, são responsáveis pela síntese de vasopressina e ocitocina, respectivamente. Estes pequenos hormônios peptídicos estão acoplados a grandes moléculas peptídicas, chamadas neurofisinas, sendo transportados do local de síntese no hipotálamo, (corpos celulares neurais) através dos axônios, para o local de estocagem e eventual liberação, a neuro-hipófise. A conexão do hipotálamo à adeno-hipófise não envolve a passagem direta dos axônios através da haste neural. Um sistema venoso portal conecta a eminência média dentro do hipotálamo à adeno-hipófise. Substâncias hipotalâmicas que controlam a adeno-hipófise são transportadas da eminência média do hipotálamo para a hipófise por um sistema venoso portal. Por exemplo, o hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), um peptídio, é produzido no núcleo pré-óptico medial, e a dopamina, um aminoácido, é produzida no núcleo arqueado. Axônios transportam ambas as substâncias do hipotálamo para a eminência média, onde elas são liberadas no sistema venoso portal. A síntese de GnRH, assim como ocorre com a ocitocina e a vasopressina, envolve a produção de uma molécula precursora maior, com uma região terminal-C de 56 aminoácidos, chamada peptídio associado a GnRH (GAP). Embora o GAP possa estimular a liberação de FSH e LH, o GnRH ainda parece ser o hormônio crítico para a liberação de gonadotrofina. A função ainda mais importante do GAP pode ser sua capacidade de inibir a secreção de prolactina. • Modificação da liberação de gonadotrofina: 1. A liberação pulsátil do hormônio de liberação da gonadotrofina (GnRH) induz a produção pulsátil crítica das gonadotrofinas, hormônio estimulador de folículos (FSH) e hormônio luteinizante (LH). O principal padrão secretório da gonadotrofina é pulsátil; o padrão é guiado pela secreção pulsátil do GnRH do hipotálamo (Fig. 35-4). A liberação pulsátil do hormônio de liberação da gonadotrofina (GnRH) induz a produção pulsátil crítica das gonadotrofinas, hormônio estimulador de folículos (FSH) e hormônio luteinizante (LH). 2. A liberação da gonadotrofina é então modulada pelo processo de feedback negativo do estrogênio e progesterona. A liberação da gonadotrofina é então modulada pelo processo de feedback negativo do estrogênio e progesterona. A importância deste modo de liberação é exibida pelo fato de que se o GnRH for administrado de maneira contínua (farmacológica), o sistema pode ser desregulado. A ocupação contínua dos receptores nos gonadotrofos pelo GnRH interrompe o sinal intracelular para a síntese e liberação de gonadotrofinas. A indução bem-sucedida de um estro fértil em cadelas pode ser realizada pela administração de um análogo canino do GnRH; entretanto, a dose deve ser diminuída com a aproximação da ovulação, ou ocorrerá inibição. Em geral, o sistema gerador de pulso para a secreção de gonadotrofina está aumentado na fase folicular e diminuído na fase lútea do ciclo estral (Fig. 35-5). O estrógeno diminui a amplitude do pulso, e a progesterona diminui a frequência do pulso de secreção de gonadotrofina. Isto significa que durante a fase folicular, a frequência do pulso aumenta devido à ausência de progesterona, e a amplitude do pulso diminui devido à presença de estrógeno. Esta combinação de fre q u ênc ia d e p u lso aumentada e amplitude de p u l s o d i m i n u í d a é importante para sustentar a fase de crescimento final do folículo antral em desenvolvimento. 3 O hipotálamo e a adeno-hipófise são capazes de responder a um aumento sustentado na secreção de estrógeno por meio do aumento da secreção de gonadotrofina, uma relação que é denominada feedback positivo. O súbito aumento sustentado nos níveis de estrógeno, que ocorre por vários dias durante o desenvolvimento final do folículo antral, causa um aumento na secreção de gonadotrofina por aumentar a frequência de liberação pulsátil do GnRH. Em essência, a frequência de liberação pulsátil de gonadotrofinas supera a taxa de depuração metabólica. O propósito da onda de gonadotrofina é induzir mudanças no folículo que levem à sua ruptura (ovulação). A duração da onda de gonadotrofina é relativamente curta, em geral de 12 a 24 horas, possivelmente porque o fator principal que dirige a resposta, o estrógeno, diminui em concentração conforme os folículos respondem à onda pré-ovulatória de gonadotrofina. Este mecanismo fisiológico particular para iniciar a ovulação é eficaz, pois o folículo é capaz de sinalizar seu estágio de maturação para o hipotálamo e adeno-hipófise através de um produto (estrógeno) que é produzido em quantidades crescentes com o aumento da maturação do folículo. A secreção de gonadotrofinas é modificada pelos hormônios esteroides ovarianos estrógeno e progesterona. Com o tempo, o efeito desses hormônios é supressivo para a secreção de gonadotrofinas. Estrógenos, em particular, causam inibição do feedback negativo da secreção de gonadotrofinas, que é caracterizada por sua sensibilidade (eficaz em baixas concentrações) e seu início rápido (em poucas horas). O aumento substancial nas concentrações de gonadotrofinas, que ocorre após uma ovariectomia, é amplamente causado pela remoção dos estrógenos. Como a progesterona afeta a frequência do pulso de gonadotrofina, acredita-se que seu efeito modulador ocorra no hipotálamo. Os estrógenos parecem influir na secreção de gonadotrofina através de um efeito tanto na glândula hipófise quanto no hipotálamo. Embora haja diferenças no local de ação entre as espécies, parece que o sítio para a inibição do feedback negativo de gonadotrofinas, tanto por progesterona quanto por estrógeno, encontra-se em uma área acima da eminência média, conhecida como núcleo arqueado. O local hipotalâmico para a estimulação do feedback positivo de liberação de gonadotrofinas pelo estrógeno é provavelmente anterior, isto é, na região hipotalâmica pré-óptica anterior. A secreção de gonadotrofinas pode ser modificada por hormônios peptídicos e proteicos produzidos pelo hipotálamo e pelo ovário. A β-endorfina, um peptídio opioide produzido a part ir da mo lécu la precu rsora h ipota lâm ica pró- opiomelanocortina, pode inibir a secreção de LH quando sistemicamente administrada como fármaco. Seu papel na modulação fisiológica da secreção de gonadotrofina, entretanto, precisa ser identificado. Um outro hormônio, a inibina, uma proteína produzida pelas células da granulosa dos folículos em desenvolvimento, também inibe a secreção de gonadotrofinas, particularmente de FSH, durante os estágios finais do desenvolvimento folicular. Como foi descrito na seção de foliculogênese, esta depressão na secreção de FSH pode ser importante para o animal controlar o número de folículos que evoluem até a maturação final. O controle da secreção de gonadotrofinas no macho é similar ao da fêmea; pulsos de GnRH, decorrentes do hipotálamo, influem na secreção pulsátil de gonadotrofinas. Isto, por sua vez, promove a secreção de testosterona, também em forma pulsátil, dos testículos. Uma grande diferença entre os sexos é que não existe a necessidade de um feedback positivo da liberação de gonadotrofinas no macho; os gametas são produzidos e liberados continuamente em um sistema tubular que se abre para o exterior. Isto nega qualquer necessidade de uma onda de liberação de gonadotrofinas, como é requerido nas fêmeas para a ruptura da superfície ovariana, para a liberação dos oócitos. A prolactina é o terceiro hormônio produzidopela adeno- hipófise que é importante nos processos reprodutivos, principalmente por seu efeito na glândula mamária e na lactação nos mamíferos. Embora a secreção de prolactina seja pulsátil, o controle da secreção tem mais ênfase sobre a inibição do que na estimulação da secreção. Este conceito é sustentado por achados que indicam que a secreção de prolactina aumenta se a glândula hipófise estiver desconectada do hipotálamo, tanto por corte da haste hipofisária, como pela transferência da glândula hipofisária para outro local (p. ex., cápsula do rim). Então, muita atenção tem sido dada aos fatores que inibem a secreção de prolactina. A catecolamina dopamina, que é produzida por neurônios no hipotálamo ventral (núcleo arqueado), é um potente inibidor da secreção de prolactina (Fig. 35-6). Outros fatores que inibem a secreção de prolactina são o ácido γ-aminobutír ico (GABA) e GAP. Agonistas dopaminérgicos, tais como os compostos tipo ergotamina, bromocriptina e cabergolina, podem ser usados para suprimir a secreção de prolactina em casos de hiperprolactinemia. A cabergolina, um potente inibidor da prolactina, pode ser usada para encurtar os intervalos entre estros e promover a luteólise em cadelas e gatas durante a metade final da gestação (a prolactina é uma luteotropina). O controle por feedback negativo da prolactina é mostrado na Fig. 35-6. 4 Um dos primeiros fatores liberadores de prolactina conhecido foi o hormônio liberador de tireotrofina (TRH). A relevância fisiológica do TRH na secreção de prolactina ainda é desconhecida, apesar de receptores para TRH terem sido identificados em lactotropos na adeno-hipófise. O peptídio intestinal vasoativo (VIP), um potente estimulador da secreção de prolactina, pode exercer um papel fisiológico na secreção de prolactina através da inibição da síntese de dopamina no hipotálamo. Estrógenos podem aumentar a secreção de prolactina pelos lactotropos por diminuir a sensibilidade do lactotropo à dopamina e aumentar o número de receptores de TRH. Interessantemente, a ovário-histerectomia realizada durante a cesárea usualmente mantém a habilidade para a efetiva lactação posterior, mas isso sempre deve ser avaliado antes da ovário-histerectomia ou ovariectomia ser realizada. A remoção do ovário, fonte primária de estrogênio, pode ser prejudicial se a lactação for marginal. • Desenvolvimento do folículo ovariano: 1. O desenvolvimento dos gametas ocorre inicialmente sem o suporte de gonadotrofinas e, subsequentemente, com a secreção pulsátil de gonadotrofinas. A proliferação do oócito, que ocorre por divisão mitótica durante o desenvolvimento fetal, termina ao redor do nascimento na maioria das espécies mamíferas. Os oócitos iniciam o processo de redução do número de cromossomos para o estado haploide por meiose logo após o nascimento, sob a influência do fator inibidor da meiose, que parece ser produzido pela rete ovarii. O processo é logo interrompido no diplóteno, ou dictióteno, estágio da meiose I pelo fator inibidor da meiose, o qual é provavelmente produzido pelas células foliculares em desenvolvimento. O oócito permanece neste estágio até o folículo começar seu desenvolvimento final, um intervalo que pode ser tão longo quanto 50 anos ou mais em humanos. O folículo, neste ponto, é delimitado por uma membrana basal externa (membrana propria), que é secretada pelas células foliculares. O desenvolvimento inicial do folículo envolve o crescimento do oócito. Este crescimento é acompanhado por uma intensa atividade sintética; uma grande quantidade de ácido ribonucleico (RNA) é sintetizada. Ao mesmo tempo, as células foliculares começam a se dividir e formar uma granulosa que é composta por várias células esparsas. As células da granulosa secretam então outra substância, a zona pelúcida, que é depositada na granulosa e imediatamente circunda o oócito. As células da granulosa mantêm contato com o oócito através da zona pelúcida, por meio do desenvolvimento de processos citoplasmáticos. A interação entre as células da granulosa é facilitada pelo desenvolvimento de junções comunicantes. Esta forma de comunicação é importante, pois a granulosa não tem suprimento sanguíneo; os vasos sanguíneos são excluídos no nível da membrana própria. A camada da teca forma-se ao redor da membrana própria para completar as camadas do folículo. Folículos neste estágio são chamados de folículos primários ou folículos pré-antrais. Os fatores que controlam o crescimento folicular não são conhecidos. Fatores externos, tais como as gonadotrofinas, não são necessários, pois os folículos pré-antrais podem se desenvolver em animais hipofisectomizados. Em espécies tais como bovinos e equinos (talvez ovinos e caprinos), em que vários folículos dominantes desenvolvem-se durante o ciclo estral, é provável que alguns folículos se desenvolvam a cada dia. Em animais nos quais um grupo de folículos se desenvolve sincronicamente (porcas, gatas, cadelas), parece haver menor tendência a ter ondas de crescimento folicular competindo durante a fase lútea (porca) e uma tendência a ter somente um grupo de folículos durante o período pré-ovulatório (gata e cadela). Assim, o desenvolvimento de um grupo de folículos pode limitar o desenvolvimento folicular do estado primordial, pelo menos durante o período de desenvolvimento folicular ativo que leva à ovulação. O crescimento folicular inicial está sob controle genético, e o padrão reflete as necessidades da espécie em particular. 2. No folículo pré-antral, receptores gonadotróficos para o hormônio luteinizante desenvolvem-se na teca, o que resulta na síntese de andrógenos; o hormônio folículo estimulante orienta a granulosa na transformação de andrógenos para estrógenos. Para permitir a progressão dos folículos além do estágio pré-antral, as células da granulosa e da teca necessitam desenvolver receptores para gonadotrofinas. Receptores de FSH e de LH se desenvolvem na granulosa e na teca, respectivamente. O início do folículo antral é marcado pelo aparecimento de líquido que começa a dividir a granulosa. O líquido folicular, um produto secretório da granulosa, se junta para formar uma cavidade com uma quantidade crescente de l íqu ido (antrum) na granu losa. No desenvolvimento posterior do folículo antral, o oócito permanece circundado por uma camada de células da granulosa chamada de cumulus oophorus, que está ligada à parede do folículo por um pequeno pedúnculo de células da granulosa. A proximidade das células da granulosa e das células da teca permite uma síntese cooperativa de estrógenos. A teca produz andrógenos (testosterona e androstenediona), sob influência do LH, que se difunde através da membrana própria nas células da granulosa, onde os andrógenos são transformados em estrógeno (estrad io l- 17) . Nesse momento do desenvolvimento, a granulosa é incapaz de formar andrógenos, os precursores da biossíntese de estrógeno, e a teca tem capacidade limitada para a produção de estrógenos. Este conceito de esforço cooperativo, chamado de mecanismo de duas células para a secreção de estrógeno, é geralmente aceito como sendo o modo pelo qual a maioria do estrógeno folicular é produzida. Estes estrógenos têm um efeito de feedback positivo na granulosa; eles estimulam as células a 5 passar pela divisão mitótica, e então o folículo cresce conforme a granulosa prolifera, em resposta a seu próprio produto secretado (estrógeno). Um efeito do estrógeno é a formação de receptores adicionais para FSH à medida que progride o progresso do desenvolvimento folicular. Nessa situação, o folículo antral torna-se cada vez mais sensível ao FSH à medida que se desenvolve e é capaz de crescer sob um estado relativamente estável de secreção de FSH. 3. No final da fase folicular ovariana, receptores para o hormônio luteinizante desenvolvem- se na granulosa, o que permite que a onda pré-ovulatória de hormônio luteinizante cause a ovulação.No final da fase de desenvolvimento do folículo antral, o FSH e o estrógeno iniciam a formação de receptores de LH na granulosa, enquanto os receptores de FSH começam a diminuir. O aumento da secreção de estrógeno pelo folículo antral finalmente resulta na iniciação da onda pré-ovulatória de gonadotrofinas. Então, no último estág io do desenvo lv imento , o fo l í cu lo reg r ide progressivamente sob controle do LH, o qual promove a última aceleração do crescimento até o ponto de ovulação. - Controle da Ovulação e do Corpo Lúteo: • Ovulação: 1. Folículos ovulatórios são selecionados no início da luteólise (grandes anima is domésticos). Até o advento da ultrassonografia, era difícil identificar padrões de crescimento folicular nos animais domésticos, especialmente os dos folículos que se desenvolvem durante a fase lútea do ciclo. O conceito de desenvolvimento folicular durante a fase lútea foi enfatizado pelo trabalho de Rajakowski, que descreveu a presença de folículos na metade do ciclo da vaca. Com a ultrassonografia, foi possível definir o crescimento e a regressão foliculares durante a fase lútea do ciclo na vaca e na égua. Em bovinos, o padrão predominante é de vários folículos antrais dominantes (grandes) desenvolvendo- se sequencialmente durante o ciclo (Fig. 36-1). Os ciclos foliculares são distintos à medida que a regressão folicular se inicia normalmente (como é indicado pelo tamanho do folículo) antes do início do crescimento do próximo folículo. O primeiro folículo dominante regride em torno da metade da fase lútea, com um segundo folículo dominante começando a crescer imediatamente. Se o segundo folículo dominante é o folículo ovulatório, ou se um terceiro se desenvolve, depende do estágio do folículo no momento da regressão do corpo lúteo (CL). Se o segundo folículo dominante tiver começado a regredir no momento da regressão do CL, um terceiro folículo se desenvolve. Então, o folículo ovulatório selecionado é, por acaso, o folículo dominante que ainda está em estágio de desenvolvimento no momento em que a regressão do CL se inicia. A duração requerida para o desenvolvimento do folículo antral até o ponto de ovulação tem sido estimada, por várias técnicas, em torno de dez dias nos animais domésticos, talvez um pouco mais em alguns primatas. A partir de estudos ultrassonográficos e endocrinológicos, duas fases distintas no desenvolvimento final do folículo antral aparentemente ocorrem nos grandes animais domésticos: uma fase relativamente lenta, que dura quatro a cinco dias, seguida de uma segunda fase de crescimento acelerado, novamente durando quatro a cinco dias, que termina na ovulação (Fig. 36-2). A fase final do desenvolvimento folicular pode ser iniciada durante a fase lútea, e, assim, o início da fase pode ocorrer sob a influência de uma taxa de pulso de liberação de gonadotrofina relativamente lenta, que ocorre durante a fase lútea. O rápido crescimento folicular requer a exposição a uma pulsação de gonadotrofina mais rápida pelo terceiro ou quarto dia, a fim de que o(s) folículo(s) complete(m) o padrão de crescimento normal até a ovulação. Esta situação normalmente ocorre em conjunto com o início da regressão do CL, o que passivamente permite um aumento na taxa pulsátil de secreção de gonadotrofina (Fig. 35-4). 6 Uma das maneiras de o folículo dominante manter seu status é a produção de substâncias que inibam o desenvolvimento de outros folículos antrais. Umas das substâncias é a inibina, um hormônio peptídio produzido pela granulosa, o qual inibe a secreção de hormônio folículo estimulante (FSH). O folículo dominante é capaz de compensar as menores concentrações de FSH e continuar a crescer devido ao número de receptores de FSH que possui, comparado ao folículo competidor. O desenvolvimento folicular é dinâmico uma vez alcançada a fase de crescimento rápido; o(s) folículo(s) deve(m) atuar através de uma adequada estimulação gonadotrófica em um curto intervalo de dias, ou o resultado é a morte do folículo. Se o folículo antral de crescimento rápido não for exposto a um ambiente gonadotrófico apropriado, inicia-se imediatamente a atresia (regressão) dos folículos. Os folículos que regridem são invadidos por células inflamatórias, e a área previamente ocupada pelo folículo antral é finalmente preenchida com tecido conjuntivo; ou seja, o folículo é substituído por uma cicatriz ovariana. 2. A ovulação é causada por uma onda pré-ovulatória de gonadotrofinas induzida por estrogênio. A onda pré-ovulatória de hormônio luteinizante (LH), que se inicia em torno de 24 horas antes da ovulação na maioria das espécies, incluindo a vaca, a cadela, a cabra, a porca e a ovelha, dá início a mudanças críticas no folículo que influem em sua condição de órgão endócrino e resultam na liberação do oócito (Fig. 36-3). Dois importantes tecidos, o oócito e a granulosa, foram mantidos sob controle pela produção de substâncias que são provavelmente de origem granulosa. Um fator inibidor do oócito impede que o oócito recomece a meiose, e um fator inibidor da luteinização previne a transformação prematura da granulosa em tecido lúteo. O impacto da onda de LH bloqueia a produção desses fatores. Na maioria dos animais, a retomada da meiose resulta na primeira divisão meiótica (meiose I), ou formação do primeiro corpúsculo polar, que é completada antes da ovulação. Em animais com potencial para extensa longevidade reprodutiva (p. ex., bovinos), o início do processo meiótico poderia ter se iniciado há dez anos ou mais, antes de sua conclusão. O efeito da onda de LH na granulosa é permitir o início do processo de luteinização, o qual transforma as células de secretoras de estrogênio, para secretoras do progesterona. Este processo está em andamento antes de a ovulação ocorrer. Com o advento da onda de LH, a secreção de estrogênio declina concomitantemente com o início da secreção de progesterona. Uma outra função da onda pré-ovulatória de liberação de LH é estimular a granulosa a produzir substâncias, tais como relaxina e prostaglandina F2α (PGF2α), que afetam a continuidade do tecido conjuntivo das camadas tecais do folículo. Estas e outras substâncias desconhecidas interferem na teca por meio do desenvolvimento de vesículas (nos fibrócitos) que contêm enzimas hidrolíticas capazes de quebrar a matriz de colágeno do tecido conjuntivo. A ruptura do folículo é causada pela desintegração do tecido conjuntivo. Em resumo, o estrogênio é usado pelo(s) folículo(s) (1) para estimular o crescimento e desenvolvimento da granulosa e (2) para sinalizar para o hipotálamo e a hipófise a prontidão do(s) folículo(s) para a ovulação. • Corpo lúteo: 1. O corpo lúteo secreta progesterona, a qual é essencial para a gestação. A principal função do CL é a secreção de progesterona, que prepara o útero para o início e a manutenção da gestação. O CL se forma a partir da parede do folículo, que se colapsa e se dobra após a ovulação. Com a ruptura do folículo, há uma quebra dos tecidos que envolvem a granulosa, particularmente da membrana basal, podendo ocorrer uma hemorragia dos vasos da teca na cavidade. As pregas de tecido que se projetam para dentro da cavidade contêm células da granulosa e da teca e, mais importante ainda, o sistema vascular que suportará o crescimento e diferenciação celulares. Embora as células da granulosa sejam as células dominantes do CL, as células da teca também contribuem significativamente para a composição da estrutura. O processo que as células da granulosa sofrem durante a mudança de secreção de estrogênio, luteinização, inicia-se com o advento da onda pré-ovulatória de LH e acelera com a ovulação. Na maioria das espécies domésticas, significativa produção de progesterona pelo CL inicia-se no intervalo de 24 horas após a ovulação. Em algumas espécies, incluindo cães e primatas, pequenas quantidades de progesterona são produzidas durante a onda pré- ovulatóriade LH; nas cadelas, isto é importante para a expressão da receptividade sexual, que ocorre com a diminuição dos níveis de estrogênio enquanto os níveis de progesterona aumentam. 2. O hormônio luteinizante é importante para a manutenção do corpo lúteo. Para a maioria dos animais domésticos, o LH é a importante luteotrofina, com o CL mantido, tanto nos animais não prenhes como nos prenhes, por um padrão pulsátil 7 relativamente lento de liberação de LH (um pulso por duas a três horas). Em roedores, a prolactina é a luteotrofina importante; a liberação bifásica diária de prolactina é iniciada pela cópula, o que é essencial para a manutenção do CL. Das espécies domésticas, a prolactina tem sido indicada como luteotrofina em ovelhas e cadelas. A foliculogênese normal, um pré-requisito para a ovulação, estabelece o estágio para o desenvolvimento subsequente do CL pós- -ovulatório. Assim, maior atenção clínica é dada para os fatores que controlam a regressão do CL do que para fatores luteotróficos. 3. A regressão do corpo lúteo em grandes animais domésticos não prenhes é controlada pela secreção uterina de prostaglandina F2α. A regressão do CL é importante em grandes animais não prenhes, de forma que os animais entram outra vez em um estado potencialmente fértil tão logo quanto possível. A vida média do CL após a ovulação deve ter duração suficiente para permitir ao novo concepto em desenvolvimento sintetizar e liberar fatores que permitirão a manutenção do CL, mas relativamente curta para que os animais não prenhes possam retornar a um estado potencialmente fértil. Nos grandes animais domésticos, a duração da fase lútea é em torno de 14 dias, na ausência de gestação. Isto permite que esses animais se reciclem a intervalos relativamente frequentes, aproximadamente a cada três semanas. Atualmente é aceito que a PGF2α, um ácido graxo com 20 carbonos insaturados, é a substância uterina que causa regressão do CL nos grandes animais domésticos, incluindo bovinos, caprinos, equinos, suínos e ovinos; a PGF2α não tem uma função natural conhecida na regressão do CL em gatas, cadelas ou primatas. A terapia com prostaglandina (PGF2α e PGE) tem sido usada clinicamente para causar luteólise em cadelas e gatas, para tratamento de piometra ou indução de aborto. Nas grandes espécies domésticas, a regressão do CL é iniciada pela síntese e liberação de PGF2α (comumente de origem endometrial) em torno de 14 dias pós- ovulação. O modo de transferência de PGF2α do útero para o ovário se dá através de transferência contracorrente local ou transferência sistêmica geral. A transferência contracorrente envolve o movimento de moléculas por meio do sistema sanguíneo vascular de altas concentrações no efluente venoso (veia útero-ovariana) para uma área de menor concentração (artéria ovariana) (Fig. 36-4). A transferência sistêmica envolve a passagem de moléculas através do sistema circulatório geral. Em algumas espécies (vaca e ovelha), a síntese de PGF2α do corno uterino somente influencia a vida do CL do ovário ipsilateral. Em outras espécies (porca e talvez égua), a síntese de PGF2α de um corno é suficiente para causar a regressão do CL em ambos os ovários. Este efeito provavelmente ocorre devido à maior produção de PGF2α pelo tecido uterino, bem como por uma diferença na taxa de metabolismo de PGF2α. A PGF2α é rapidamente metabolizada sistemicamente, com mais de 90% modificados por uma passagem através dos pulmões. Então, o sistema envolvendo o uso de PGF2α como agente luteolítico nas grandes espécies domésticas requer que a PGF2α seja conservada através de um sistema de transferência especial, ou que seja produzida em quantidades relativamente grandes. O padrão de síntese e liberação de PGF2α é essencial para seu efeito luteolítico. Por exemplo, a síntese e a liberação de PGF2α deve ser pulsátil, com pulsos ocorrendo em torno de intervalos de seis horas, para que a luteólise seja influenciada (Fig. 36-5). O conceito desenvolvido foi de que um mínimo de quatro a cinco pulsos, no período de 24 horas, é requerido para causar a luteólise completa. Se os intervalos de pulsos aumentarem significativamente antes da luteólise completa (p. ex., para 12 horas), o CL pode se recuperar e continuar funcionando, mesmo com um menor nível de atividade de síntese de esteroides. O útero deve ser exposto a estrogênio e progesterona para sintetizar e liberar PGF2α. Embora o início da síntese de PGF2α que leva a luteólise não esteja completamente entendido, uma possível explicação é que estrogênios (de um folículo antral) causem o início da síntese e liberação de PGF2α. Em ovinos, acredita-se que uma interação ocorra entre o útero e o ovário após o pulso inicial de PGF2α. A PGF2α influi no CL causando tanto a redução na produção de progesterona quanto na liberação de ocitocina lútea. A ocitocina então interage com receptores uterinos para iniciar outra sucessão de síntese de PGF2α. A síntese de PGF2α cessa seis a 12 horas após as concentrações de progesterona terem se tornado basais, ou seja, com a conclusão da luteólise. Um sistema para reciclagem precoce não está presente em cadelas e gatas não prenhes tanto quanto a regressão do CL; a fase lútea está em torno de 70 e 35 dias, respectivamente. Cadelas com infertilidade como um resultado de ciclos estrais frequentes podem ter diestro menor ou anestro patologicamente. 8 4. Alterações na vida média luteal, em grandes animais domésticos ocorrem devido a alterações na síntese de prostaglandina F2α pelo útero. Mudanças significativas na duração da vida do CL em espécies animais grandes ocorrem somente devido a alterações no útero. Como discutido no Cap. 38, a presença de um embrião resulta no bloqueio da síntese de PGF2α e uma continuidade na atividade lútea. Fases lúteas prolongadas também ocorrem tipicamente em éguas na ausência de infecção uterina. Este déficit nas éguas parece ser uma propensão genética levando a síntese e liberação de PGF2α. A ausência de um corno uterino também pode resultar em uma ampliada fase lútea em animais nos quais o corno ipsilateral controla o CL (controle local). Nesta situação (p. ex., na vaca), se a ovulação ocorrer no ovário ipsilateral ao corno ausente, a fase lútea é prolongada devido à necessidade do corno ipsilateral para controlar o tempo de vida do CL. Em grandes animais domésticos não prenhes, respostas inflamatórias do endométrio causadas por contaminação bacteriana podem resultar em síntese e liberação de PGF2α significativas, levando à luteólise prematura e ao encurtamento do ciclo estral. Deve ser enfatizado que a atividade lútea é quase sempre normal na ausência de anormalidades uterinas nos grandes animais domésticos. Então, ciclos estrais curtos nestes animais são patognomônicos de infecção uterina. • Ciclos ovarianos: 1. Em animais com ovulação espontânea, os ciclos ovarianos têm duas fases: folicular e lútea; animais que requerem cópula para ovular podem ter somente a fase folicular. Um ciclo ovariano em um animal não prenhe é definido como o intervalo entre ovulações sucessivas. O ciclo é composto de duas fases, uma fase folicular inicial e uma fase lútea, subsequente, com a ovulação separando as fases. Na maioria dos animais domésticos e primatas, o processo ovulatório é governado por mecanismos internos; o estrogênio do folículo antral inicia a liberação ovulatória de gonadotrofinas. Estes animais são chamados de ovuladores espontâneos. Existem diferenças fundamentais entre os animais quanto à relação das fases folicular e lútea do ciclo. Em primatas superiores, há uma separação completa das fases folicular e lútea, sem crescimento folicular significativo até que a luteólise esteja completa. Em grandes animais domésticos, um crescimento folicular significativo ocorre durante a fase lútea do ciclo. Por exemplo, na vaca, um grande folículo antral está presente no início da luteólise, e na égua, o crescimentolúteo pode igualmente resultar em ovulação dos folículos durante a fase lútea (em torno de 5% dos ciclos). Então, nos grandes animais domésticos, muito do crescimento folicular encaixa-se na fase lútea. Esta situação resulta em ciclos mais curtos nos grandes animais domésticos versus primatas (17-21 dias versus 28 dias); o intervalo da luteólise para ovulação é mais curto nos grandes animais domésticos (cinco a dez dias) do que em primatas (12-13 dias). O período do crescimento do folículo antral até a ovulação não é apreciavelmente diferente, entretanto, a progressão final do crescimento do folículo antral requer cerca de dez dias em grandes animais domésticos e em torno de 12 a 13 dias em primatas. Animais que requerem cópula para ovular são conhecidos como ovuladores induzidos. Eles incluem gatos, coelhos, furões, martas, camelos, lhamas e alpacas. A cópula substitui o estrogênio como o estímulo que induz a liberação ovulatória de gonadotrofinas. Entretanto, estes animais requerem exposição a elevadas concentrações de estrogênio antes de poderem responder a cópula pela liberação de gonadotrofinas. Ovuladores induzidos têm um padrão de crescimento folicular (na ausência de coito) no qual grupos de folículos se desenvolvem, são mantidos em um estado maduro por uns poucos dias, e então regridem. O padrão de crescimento folicular pode ser distintamente separado, como na gata, no qual os folículos se desenvolvem e regridem a cada seis a sete dias, com um mínimo de oito a nove dias entre as ondas de crescimento folicular. Ondas foliculares podem também ter algumas sobreposições, como em lhamas e alpacas (Fig. 36-6), ou podem se sobrepor intimamente, como nos coelhos. 9 2. A fase lútea é modificada pela cópula em algumas espécies. Nas espécies de roedores, a fase lútea do ciclo ovariano é estendida pela cópula. A vida do CL é de somente um a dois dias na ausência de cópula. A cópula inicia a liberação de prolactina, que resulta no prolongamento da atividade lútea por mais dez ou 11 dias na ausência de gestação. Este fenômeno é chamado de pseudogestação. Em cães, a regressão espontânea do CL marcando o final do diestro ocorre em associação ao aumento nos níveis de prolactina, causando pseudogestação clínica. Cadelas não prenhes podem fazer ninho, entrar em lactação e cuidar de objetos durante este período. A rainha pode apresentar pseudogestação se a cópula ocorreu com um zangão infértil. - Ciclos Reprodutivos: • Ciclos reprodutivos: 1. Os dois tipos de ciclos reprodutivos são o estral e o menstrual. São conhecidos dois tipos de ciclos reprodutivos, estral e menstrual, com o termo ciclo ovariano representando o intervalo entre duas ovulações sucessivas. Estas terminologias foram desenvolvidas para utilizar certas características externas na identificação precisa de uma fase particular do ciclo reprodutivo e, o mais importante, relacionando-as ao momento da ovulação. Nos animais domésticos que apresentam períodos definidos de estro (ou receptividade sexual); o termo utilizado é ciclo estral e o início do proestro determina o começo do ciclo (Fig. 37-1). Nos primatas, que são sexualmente receptivos durante grande parte do ciclo reprodutivo, o termo ciclo menstrual é usado, com a menstruação (descarga vaginal de fluido sanguinolento e debris celulares) determinando o início do ciclo (Fig. 37-2). Em muitas espécies, o primeiro dia do ciclo tanto para o ciclo estral quanto para o menstrual tem início logo após a fase lútea. Na cadela, um período normal de anestro separa diestro e proestro (os estágios do ciclo estão descritos adiante). Nos animais domésticos, o proestro geralmente tem início 48 horas após o final da fase lútea; a cadela e a porca são exceções, com o proestro em cadelas atrasado pela fase anestra (dois a três meses) e o proestro da porca não ocorrendo por cinco a seis dias. Nos primatas, a menstruação normalmente começa em 24 horas após o final da fase lútea. Embora os dois tipos de ciclo tenham o seu início no mesmo momento em relação à fase lútea (logo em seguida), o momento da ovulação é diferente. Isto ocorre porque, como foi discutido anteriormente, as fases folicular e lútea estão separadas nos primatas, com a ovulação ocorrendo no mínimo 12 a 13 dias após a menstruação. Na maioria dos animais domésticos, a fase folicular ocorre junto com a fase lútea, e, portanto, a ovulação ocorre relativamente mais cedo no ciclo estral. Nos animais domésticos é mais fácil predizer o momento da ovulação (em relação aos primatas), pois o estro está normalmente associado à liberação pré-ovulatória de gonadotrofina e ovulação. O início do desenvolvimento folicular nos primatas pode ser atrasado por diversas razões (p. ex., estresse), tornando o momento da ovulação menos previsível nos primatas do que nos animais domésticos. O ciclo estral é dividido classicamente em fases que representam tanto os eventos comportamentais quanto gonadais (Fig. 37-1). A terminologia, originalmente desenvolvida para o hamster, rato e camundongo, é a seguinte: • Proestro. Período de desenvolvimento folicular, ocorrendo subsequente à regressão lútea e terminando no estro. • Estro. Período de receptividade sexual. • Metaestro. Período do desenvolvimento inicial do corpo lúteo (CL). • Diestro. Período da fase madura do CL. A terminologia clássica não é particularmente útil para os animais domésticos. As terminologias comuns utilizadas para os animais domésticos envolvem tanto as atividades comportamentais quanto as gonadais. O ciclo pode ser descrito de uma forma comportamental, indicando o momento em que os animais estão em estro (sexualmente receptivos) ou 10 não, incluindo as fases de proestro, metaestro e diestro. O ciclo também pode ser descrito com referência à atividade ovariana, caso a diferenciação dos folículos e do CL seja possível. Os animais podem estar na fase folicular (proestro e estro) ou na fase lútea (metaestro e diestro). Nos equinos, em função da identificação do CL por palpação transretal ser relativamente difícil, as éguas são classificadas pelo seu comportamento sexual: estro ou não estro. A classificação comportamental também é utilizada para outras espécies domésticas, incluindo caprinos, suínos e ovinos, em função da dificuldade de determinar o estado ovariano. O estado ovariano dos bovinos pode ser determinado de forma precisa por palpação transretal, e as vacas são normalmente classificadas pelo estado ovariano: folicular ou lútea. O estado ovariano da cadela e da gata pode ser determinado por meio da realização da citologia vaginal (efeito estrogênio) e dosagem de progesterona plasmática. Se o CL puder ser identificado, pode-se afirmar que a atividade ovariana está normal no animal em questão, pois o CL representa o resultado do crescimento folicular e da ovulação. • Puberdade e senescência reprodutiva: 1. Puberdade é a época na qual o animal libera pela primeira vez células germinativas maduras. Para as fêmeas iniciarem o ciclo reprodutivo, elas precisam passar pelo processo de puberdade. O termo puberdade é usado para definir o início da vida reprodutiva. Nas fêmeas, embora o início da atividade sexual (nos animais domésticos) ou o primeiro sangramento menstrual (nos primatas) sejam utilizados como o início da puberdade, a definição mais precisa é o momento da primeira ovulação. Para todas as espécies, há uma necessidade fundamental de se atingir um determinado peso para iniciar a puberdade; nos bovinos, por exemplo, é de cerca de 275 kg, e em ovinos cerca de 40 kg (Fig. 37-3). Se esta necessidade não for alcançada em função de uma nutrição inadequada, a puberdade é retardada. A idade de alcance da puberdade nos animais domésticos é a seguinte: gatas, seis a 12 meses; vacas, oito a 12 meses; cadelas, seis a 12 meses; cabras, sete-oito meses; éguas, 12 a 18 meses; e ovelhas, sete a oito meses. Classicamente, as cadelas atingem 75% do seu tamanhoadulto antes da puberdade. Os mecanismos fisiológicos envolvendo o controle da puberdade nos animais domésticos são mais conhecidos nos ovinos. Um dos conceitos fundamentais do início da puberdade envolve um aumento na síntese e liberação do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) pelo hipotálamo, que estimula a secreção da gonadotrofina (de forma pulsátil) e o crescimento folicular. Antes da puberdade, a secreção de GnRH e gonadotrofina está inibida, pois o hipotálamo está altamente sensível à inibição do feedback negativo pelo estrogênio. Uma das condições para a puberdade em ovelhas é a maturação do hipotálamo, que resulta na redução da sensibilidade ao feedback negativo pelo estrogênio. O início da puberdade não é retardado devido à falta de resposta das gônadas pré-púberes, já que o desenvolvimento de folículos ovarianos pode ser estimulado através da administração de gonadotrofina. As alterações no fotoperíodo são importantes para que as ovelhas entrem na puberdade. Demonstrou-se que as ovelhas devem ser expostas a fotoperíodos longos durante seu desenvolvimento pré-puberal; o período pode ser tão curto quanto uma a duas semanas (sob condições experimentais). O término de fotoperíodos longos, que ocorre com o solstício do verão, permite a redução da sensibilidade do hipotálamo em resposta ao feedback negativo do estrogênio. O intervalo mínimo do fim da exposição ao fotoperíodo longo e o início da puberdade é de dez semanas, sob condições experimentais. Estes aspectos estão em concordância com o tempo da puberdade espontânea, no qual a primeira ovulação geralmente ocorre no final de setembro (no Hemisfério Norte), ou cerca de 13 semanas depois do solstício de verão. Note que este conceito de início da puberdade não envolve a redução do fotoperíodo; a ênfase está no ponto de inversão que envolve o término da exposição a um fotoperíodo longo. Com um crescimento apropriado e a exposição ao fotoperíodo, a secreção de gonadotrofinas em ovelhas causa um significativo crescimento folicular. Este crescimento é mantido devido à sensibilidade reduzida do hipotálamo ao estrogênio produzido pelos folículos em crescimento. O primeiro evento endócrino da puberdade na ovelha é o surgimento de um pico pré-ovulatório de gonadotrofina, presumidamente induzido pelo estrogênio produzido pelos folículos em desenvolvimento (Fig. 37-4). O pico de gonadotrofina resulta na formação de uma estrutura lútea, através da luteinização do(s) folículo(s), que apresenta uma meia-vida curta de três a quatro dias. Após a regressão dessa estrutura lútea inicial, outro pico de gonadotrofina ocorre, levando à ovulação e à formação do CL, este geralmente com uma meia-vida normal. Neste momento, a atividade ovariana cíclica é finalmente iniciada na ovelha. 11 O fotoperíodo pode apresentar um efeito supressivo sobre o início da puberdade nos animais cuja ciclicidade ovariana é controlada pela luz. Gatinhos nascidos na primavera podem estar grandes o suficiente para entrar na puberdade no fim do outono, mas a puberdade pode ser atrasada alguns meses, caso os gatinhos estejam sob fotoperíodo natural. O fotoperíodo tem influência no momento do início da puberdade em macacos do gênero Macaca, dependendo da maturidade fisiológica do indivíduo. A primeira ovulação, ou início da puberdade, pode ocorrer durante o final do outono ou início do inverno, com cerca de 30 meses de idade (20% dos animais) ou 12 meses depois, com cerca de 42 meses de idade (80% dos animais). Os animais que entram na puberdade com 30 meses possuem uma maturação mais precoce do sistema neuroendócrino, em que uma significativa secreção de gonadotrofina tem início durante a primavera anterior. Então, se a puberdade for ocorrer precocemente, existe uma janela de tempo para o início da puberdade em macacos do gênero Macaca, que deve ter seu início durante o fotoperíodo favorável de decréscimo de luz; a nutrição e crescimento são prováveis determinantes da precocidade do início da puberdade. O início da puberdade normalmente resulta no estabelecimento da atividade ovariana cíclica em um período de tempo relativamente curto (i. e., em poucas semanas a um mês em cordeiros). As ovelhas podem ter o início da atividade ovariana cíclica no começo da puberdade, o que pode levar à gestação (se coberta) no primeiro estro, ou podem ter um início falso com o estabelecimento de fases lúteas limitadas, e parada da atividade ovariana por diversas semanas a um mês antes que elas voltem a ciclar. Em geral, o início da ciclicidade ovariana em ovelhas tem início depois e termina antes, quando comparadas a animais adultos de uma mesma raça. O término precoce da atividade ovariana resulta de uma resposta precoce ao feedback negativo do estrogênio. O início da atividade ovariana cíclica em primatas púberes leva um tempo maior; o primeiro crescimento folicular significativo normalmente termina em falha na ovulação. Em macacas do gênero Macaca são geralmente necessários de três a seis meses após a menarca, ou primeiro sangramento vaginal, antes da ocorrência da primeira ovulação na puberdade. Em humanos, o crescimento folicular sem a ovulação pode ocorrer por até um ano antes do estabelecimento da atividade ovariana cíclica normal, incluindo a ovulação e a formação do CL. Nos cordeiros machos, o início da puberdade é inicialmente estimulado quando eles começam a perder a sensibilidade à inibição estrogênica por feedback normalmente por volta de 15 semanas de idade. Para muitos machos, isso ocorre durante um fotoperíodo longo ou em ascensão, ao contrário do que ocorre nas fêmeas. A espermatogênese (processo de produção do esperma, resultando na presença de espermatozoides maduros) normalmente se inicia neste período, mas devido à demora deste processo, os carneiros normalmente não são capazes de fertilizar uma fêmea até cerca de 30 ou mais semanas de idade ou mais, ou durante o início da puberdade das ovelhas. Então, a puberdade no macho é um fenômeno gradual, se comparado ao processo abrupto na fêmea. Em função de as ovelhas adultas apresentarem o mesmo pico de gonadotrofina duplo durante o início da estação reprodutiva, sugeriu-se que os animais adultos passam pelo processo de puberdade todos os anos quando tem início a estação reprodutiva. Recentes estudos com ovelhas adultas, entretanto, indicam que a refratariedade a um fotoperíodo longo pelo qual os animais passam durante a primavera e verão é o aspecto crítico para o estabelecimento da atividade ovariana. Assim, o conceito de que a renovação da atividade ovariana em ovelhas recapitula a puberdade parece não ser preciso, pelo menos em alguns aspectos. 2. A senescência reprodutiva em primatas ocorre devido à deficiência ovariana, e não por insuficiência na secreção de gonadotrofina. O término da atividade ovariana que ocorre nos primatas é denominado menopausa. Nos humanos, por exemplo, normalmente ocorre entre 45 e 50 anos de idade. A menopausa é resultado da depleção dos oócitos, que ocorreu durante a vida reprodutiva do indivíduo; em essência, ela representa a falência ovariana. Não está claro se os folículos deixam de se desenvolver de seu estado primordial devido a uma redução absoluta ou relativa no número de folículos, ou se uma ausência de receptores para gonadotrofina impede que os folículos atinjam um estágio de crescimento dependente da gonadotrofina. O início da menopausa normalmente envolve uma irregularidade cíclica causada por uma falha do desenvolvimento folicular e ovulação. A secreção das gonadotrofinas pode estar aumentada, ou até normal, em função da ausência de estrogênio e, consequentemente, do feedback negativo sobre a secreção de gonadotrofinas. Por fim, a atividade folicular ovariana cessa, a concentração de estrogênio diminuí, e na ausência de inibição por feedback negativo, as concentrações de gonadotrofina aumentam consideravelmente. A senescência reprodutiva nãoé reconhecida nos animais domésticos. Isso é parcialmente devido a algumas espécies domésticas terem seu ciclo de vida encurtado por razões econômicas ou humanas. Portanto, um fenômeno como a menopausa claramente não ocorre nos animais domésticos. Um efeito da idade pode ser observado em cães: o intervalo do ciclo estral gradualmente aumenta de um normal, de 7,5 meses, para 12-15 meses durante o fim da vida. Além disso, o tamanho da ninhada diminui e o aumento da mortalidade neonatal, provavelmente associado a distocia, ocorre com o aumento da idade das fêmeas. A senescência reprodutiva da 12 chita foi relatada como uma consequência uterina, em vez de alterações ovarianas. • Comportamento sexual: 1. A receptividade sexual é estimulada na fêmea pelo estrogênio e pelo hormônio liberador de gonadotrofinas e nos machos pela testosterona. O estabelecimento do comportamento sexual depende da exposição, ou ausência da exposição, do hipotálamo à testosterona durante o período neonatal inicial. Em essência, a testosterona (que sofreu aromatização a estrogênio) causa masculinização dos centros sexuais do hipotálamo; na ausência da testosterona, o hipotálamo se torna feminilizado. Uma área do hipotálamo, a área pré- óptica medial, foi identificada no rato como uma área que é estruturalmente modificada pela exposição à testosterona. Existem diversos princípios que abordam os efeitos dos hormônios sobre o comportamento sexual dos animais domésticos. Primeiro, a magnitude da alteração da concentração hormonal que afeta o comportamento sexual é pequena; no gato, por exemplo, um aumento na concentração plasmática do estradiol-17 de 10 para 20 pg/mL resulta em sinais de proestro. Segundo, o sinergismo entre os hormônios é geralmente importante para a receptividade sexual; no cão, por exemplo, a exposição ao estrogênio seguida pela progesterona é importante. Terceiro, a sequência de exposição aos hormônios pode ser importante; na ovelha, por exemplo, a exposição à progesterona é necessária antes da exposição ao estrogênio para a manifestação do estro. O estrogênio do folículo antral em desenvolvimento é o hormônio necessário para a receptividade sexual em todos os animais domésticos. A progesterona, proveniente tanto da granulosa do folículo pré-ovulatório quanto do CL, também é importante para o estro em alguns animais. Nas ovelhas e cabras, o estro ocorre em resposta ao estrogênio somente se o animal tiver sido previamente exposto à progesterona (por meio da presença do CL do ciclo anterior). O estro normalmente se inicia dento de um curto período de tempo após o final da fase lútea (i. e., 24-36 horas) devido à presença de folículos antrais grandes no momento da luteólise; então o período da última exposição à progesterona e o início do estro é curto (Fig. 37-5). A necessidade de progesterona para a receptividade sexual significa que a primeira fase folicular da estação reprodutiva, que leva a ovulação na ovelha, não é acompanhada pelo estro. Muitas ovelhas adultas apresentam o estro após a primeira fase lútea. As ovelhas geralmente necessitam da exposição a duas ou mais fases lúteas antes de manifestarem o estro. Das espécies domésticas, os cães apresentam uma particularidade quanto à receptividade sexual ser regulada pela progesterona, produzida inicialmente pela granulosa durante o pico pré--ovulatório do hormônio luteinizante (LH) e subsequentemente pelo CL em desenvolvimento. A exposição anterior ao estrogênio torna a fêmea atraente ao macho, mas não causa receptividade sexual; o estro necessita de uma exposição adicional à progesterona. O estro geralmente é mantido por mais de uma semana durante o desenvolvimento da fase lútea. Em outras espécies domésticas, a progesterona é inibitória para a manifestação do estro. A importância de exposição prévia à progesterona para a manifestação do estro foi sugerida para o gado leiteiro em função da observação de uma incidência reduzida de estro durante a primeira ovulação pós-parto (dias 15 a 20). Redução tota l de progesterona ocorre em vacas imediatamente anterior ao parto e, nessa situação, os animais não teriam sido expostos à progesterona durante duas a três semanas. As porcas também apresentam uma incidência reduzida de estro na primeira ovulação, que normalmente não ocorre até o final da amamentação, em geral não antes de pelo menos 45 dias após o parto. Outras espécies domésticas (i. e., gatas, cabras e éguas), manifestam o estro na primeira ovulação da estação sem uma necessidade aparente de uma exposição à progesterona. A testosterona é importante para a libido nas fêmeas primatas. A camada da teca dos folículos em atresia forma um interstício ativo que secreta os andrógenos androstenediona e testosterona. Os andrógenos também são importantes para a manutenção da libido nos machos. Ocasionalmente, machos castrados, particularmente cavalos, são capazes de manter a libido apesar da baixa concentração de andrógenos (de origem suprarrenal) presentes após a castração. Estes animais podem às vezes ser diferenciados daqueles com os testículos retidos (animais criptórquicos) por meio da dosagem plasmática de testosterona; entretanto, os níveis séricos de testosterona em machos intactos variam a cada minuto. Um teste de estimulação por GnRH identifica com maior acurácia tecidos testiculares remanescentes (2,2 µ g/kg de forma intravenosa, e coleta de amostra antes e uma-três horas depois). Quando comercialmente disponíveis, os níveis séricos de LH são parâmetros melhores para a diferenciação entre um animal criptórquico bilateral (LH < 1 ng/mL) e um animal castrado (LH > 1 ng/mL). Tanto as evidências experimentais quanto as circunstanciais indicam que o GnRH possui uma influência na receptividade sexual. A administração de GnRH em ratas ovariectomizadas produziu uma resposta sexual (lordótica), e em leitoas pré- púberes, a administração de GnRH resultou na manifestação de estro dentro de 24 horas. A evidência circunstancial é que o início da receptividade sexual está bem próximo do início do pico pré-ovulatório de gonadotrofina. Devido a este pico ser 13 resultado de um aumento na frequência da liberação pulsátil de gonadotrofina induzida por síntese e liberação aumentadas de GnRH, é provável que esta elevada atividade secretora de GnRH influencie os centros sexuais do hipotálamo para haver estimulação da receptividade sexual. Isto permite que o início do processo ovulatório, causado pelo pico de gonadotrofina, seja bem próximo à receptividade sexual. • Fatores externos que controlam os ciclos reprodutivos: 1. Fotoperíodo, lactação, nutrição e interação animal são fatores importantes que influem na reprodução. Fotoperíodo: O fotoperíodo controla a ocorrência dos ciclos reprodutivos em determinadas espécies domésticas, incluindo felinos, caprinos, equinos e ovinos. O resultado é que estes animais possuem uma fase do ano na qual apresentam uma atividade ovariana contínua (cíclica), assim como um outro período sem atividade, chamado de anestro. A resposta ao fotoperíodo é diferente entre essas espécies; felinos e equinos são positivamente influenciados pelo aumento da luminosidade, e os caprinos e ovinos são positivamente influenciados pela redução do fotoperíodo (Fig. 37-6). Normalmente, uma resposta positiva a uma alteração no fotoperíodo ocorre relativamente logo após o solstício de verão ou de inverno (i. e., de um a dois meses). Uma resposta negativa a uma alteração no fotoperíodo normalmente necessita de uma duração maior para o efeito (i. e., dois a quatro meses para suprimir a atividade ovariana após a ocorrência de um solstício em particular). O resultado é que, na ausência de uma gestação, a atividade ovariana cíclica normalmente ocupa mais da metade do ano nestas quatro espécies sazonais. Em gatas, a atividade ovariana cíclica pode variar do final de janeiro até outubro (hemisfério norte). Em éguas, a atividadeovariana geralmente vai de março a outubro. Inversamente, as ovelhas e cabras apresentam atividade ovariana do final de julho até fevereiro ou março (dependendo da raça). Como indicado anteriormente, a exposição à progesterona imediatamente antes do desenvolvimento folicular é necessária para a receptividade sexual em ovelhas. A duração completa da estação reprodutiva da ovelha não é manifestada externamente devido (1) a primeira ovulação não ser precedida pela presença de um CL, e (2) a última fase folicular poder ser atrasada devido a um fotoperíodo negativo, com a perda do efeito do priming da progesterona antes do crescimento folicular. O principal tradutor do fotoperíodo é a glândula pineal, que produz a melatonina em resposta à escuridão. A via, no sistema nervoso central, envolvida na interpretação da luz inclui a retina, núcleo supraquiasmático, gânglio cervical superior e a glândula pineal. Embora anteriormente a melatonina tenha sido descrita como antigonadal, isso obviamente não é verdadeiro, pois tanto fases curtas quanto longas de escuridão, com resultantes secreções curta e longa de melatonina, podem apresentar um efeito positivo sobre o ciclo reprodutivo. Em ovelhas, no entanto, a exposição a uma escuridão crescente pode ser importante somente para a manutenção da atividade ovariana. Acredita-se que o início da atividade ovariana ocorra em resposta ao desenvolvimento de uma refratariedade a fotoperíodos longos. O desenvolvimento da fotorrefratariedade ao fotoperíodo longo como um requisito para a ciclicidade ovariana é compatível com o fato de a ovelha poder começar a atividade ovariana cíclica antes mesmo do início do solstício de verão. Das espécies sazonais, a gata é a mais sensível às alterações no fotoperíodo; o estro, em conjunto com a presença de um folículo antral maduro, pode ocorrer tão cedo quanto 15 de janeiro (no Hemisfério Norte). Provavelmente, a atividade folicular inicial começa pelo menos dez dias antes da primeira manifestação do estro, ou 15 dias após o solstício de inverno. Então, uma mudança total no fotoperíodo tão breve quanto 15 minutos pode ser percebida e traduzida pela gata como atividade ovariana. Os efeitos supressivos do fotoperíodo podem ser superados por meio de regimes de exposição à luminosidade artificial. Isso é relativamente fácil no caso de gatas e éguas, em que ambientes com luminosidade são compatíveis com a atividade ovariana (i. e., pelo menos 12 horas de luz por dia). Se o fotoperíodo for estabelecido antes do término da atividade ovariana no outono, a atividade ovariana cíclica continua durante o período associado ao anestro. Se for permitido que éguas entrem em anestro no outono, pode levar no mínimo dois meses de exposição à luminosidade aumentada para o retorno da atividade ovariana. O momento normal para expor a égua à luminosidade é no dia primeiro de dezembro (no Hemisfério Norte), esperando-se uma atividade ovariana cíclica no início de fevereiro. Normalmente não é possível manter ovelhas e cabras em instalações escuras visando aumentar a exposição destes animais à escuridão para superar os efeitos supressivos do aumento da luminosidade. Uma evolução recente sobre este 14 assunto foi a administração oral ou sistêmica (implantes) de melatonina em ovelhas durante a primavera. Esta exposição à melatonina resultou em um início precoce da atividade ovariana e aumentou o número de múltiplas ovulações acima do normalmente observado no início da estação reprodutiva. Lactação: A lactação pode apresentar efeitos supressivos sobre a atividade ovariana. Nas porcas, a supressão da atividade ovariana é completa; porcas não entram em estro antes da desmama dos leitões. As gatas podem ter a atividade ovariana suprimida durante a lactação, embora ocasionalmente manifestem o estro durante o final da lactação. A atividade ovariana tende a ser suprimida em vacas de corte em lactação, com o primeiro estro e ovulação não ocorrendo antes de 45 dias pós-parto. O processo de mamada é, aparentemente, importante na inibição da atividade ovariana; vacas leiteiras não apresentam essa supressão causada pela lactação, a menos que haja um grande déficit nutricional. Cabras e ovelhas normalmente iniciam a lactação durante um fotoperíodo que é altamente supressivo para a atividade ovariana, e, portanto, o restabelecimento da atividade ovariana nestas espécies é confundido pelo fotoperíodo. Ovelhas parindo no outono e ovulando 12 dias após o parto (média, 23 dias após o parto) indicam que a lactação apresenta um efeito supressor pequeno sobre a atividade ovariana nas ovelhas. As éguas normalmente ovulam do 10o ao 15o dia pós-parto, com a lactação não apresentando nenhum efeito supressivo sobre a atividade ovariana em relação a este intervalo ovulatório. Um dos conceitos da supressão lactacional da atividade ovariana envolve a importância da mamada com a relacionada estimulação sobre síntese de prolactina. Os fatores inibitórios da síntese da prolactina, incluindo a dopamina e o peptídio associado ao GnRH, precisam ser suprimidos para que ocorra a síntese de prolactina. O estímulo sensorial da mamada suprime a produção destes fatores inibidores da prolactina. Como a dopamina e o peptídio associado ao GnRH são fatores essenciais na síntese das gonadotrofinas, a redução da liberação destes compostos resulta em uma atividade ovariana reduzida através da diminuição da síntese e liberação de gonadotrofina. Feromônios: Os feromônios são compostos químicos que permitem a comunicação entre os animais através do sistema olfatório. Quando o comportamento sexual é envolvido, os compostos são denominados feromônios sexuais. Os feromônios possuem diversas fontes teciduais; as principais fontes nos animais são as glândulas sebáceas, o trato reprodutivo e o trato urinário. Os primeiros experimentos demonstrando a potência do odor do macho em influenciar o comportamento reprodutivo foram realizados em ratos. Uma síndrome, denominada efeito Whitten, envolve a sincronização do estro em ratas através da introdução súbita de um macho (ou odor do macho na cama), com um grande número de animais ciclando três dias após a introdução do macho. Neste caso, o efeito do feromônio é estimular a síntese e liberação das gonadotrofinas. Outra síndrome, denominada efeito Bruce, envolve o bloqueio do desenvolvimento da gestação pela introdução de um macho diferente (estranho) próximo à fêmea recém-coberta. O efeito do odor de um macho estranho é bloquear a liberação da prolactina, hormônio responsável pela manutenção do CL em associação a gestação em roedores. A regressão do CL neste caso causa a perda fetal. Portanto, os feromônios podem afetar fortemente o ciclo reprodutivo. Os feromônios são importantes para a atração do macho pela fêmea durante o momento da receptividade sexual. A atratividade sexual da fêmea surge a partir dos feromônios que ela libera em uma base limitada e cíclica em associação ao estro. Por exemplo, o metil-p-hidroxibenzoato, isolado de secreções vaginais de cadelas no proestro e estro, produziu um intenso interesse anogenital por parte dos machos quando aplicado em cadelas no anestro. As fêmeas também são influenciadas pelos odores do macho; as porcas em estro assumem um reflexo de monta (rigidez) quando expostas a urina de machos. Os andrógenos podem funcionar como feromônios, ou podem influenciar a produção de substâncias nos rins que influem no comportamento sexual das fêmeas. A atratividade da fêmea ao macho envolve uma mudança na percepção do macho pela fêmea resultante de uma mudança no estado fisiológico da fêmea, e não devido a alterações que estão ocorrendo nos machos. A forma clássica pela qual os machos delimitam seu território é através da urina. Em geral, os feromônios que afetam o comportamento sexual tendem a apresentar um odor almiscarado. O feromônio clássico utilizado pelos humanos é o perfume, que é derivadoda civetona, um composto cíclico de 17 carbonos obtido de civetas. O efeito Whitten tem sido utilizado para manipular o ciclo estral dos animais. Em ovinos, os machos são introduzidos em um lote de ovelhas antes da estação reprodutiva para adiantar, ou assegurar, a ciclicidade ovariana no início da estação reprodutiva. Pensava-se anteriormente que o efeito da introdução do macho era rápido (i. e., uma resposta com gonadotrofina somente poderia ser obtida nos primeiros dias em ovelhas que apresentassem folículos antrais), mas hoje está claro que a interação entre os carneiros e as ovelhas por longos períodos de anestro resulta em atividade ovariana precoce. Como foi discutido, os feromônios podem ser responsáveis por alguns dos efeitos do macho. Estudos mais recentes, entretanto, demonstraram que a visualização do macho pela fêmea, assim como o contato físico, é um fator importante 15 que inf luenc ia a secreção de gonadotrofina e , consequentemente, a atividade ovariana. O efeito Whitten também tem sido utilizado para influenciar o início da puberdade em porcas. A introdução de machos em um grupo de leitoas diversas semanas antes do período esperado para a puberdade (180-200 dias) tem sido usada para garantir, ou adiantar, o início da puberdade. O efeito dormitório, a bem conhecida sincronização do ciclo menstrual em mulheres que dividem o mesmo ambiente, também ocorre em cadelas criadas juntas. 2. A nutrição inadequada leva a uma inatividade ovariana, especialmente em bovinos. Em gado leiteiro geneticamente selecionado para elevada produtividade, a habilidade de produzir mais de 45 quilos de leite por dia é um grande avanço. É praticamente impossível uma vaca leiteira conseguir consumir a alimentação necessária durante a primeira fase da lactação para manter o peso corporal, e elas geralmente se encontram em balanço energético negativo por até 100 dias após o parto. Os animais precisam ter um nível de nutrição adequado para iniciar a atividade ovariana, portanto a atividade ovariana é suprimida até que seja estabelecido um balanço energético positivo. Se um produtor deseja que a vaca dê grandes quantidades de leite, ele deve estar disposto a esperar que a nutrição “se alinhe ” com a produção de leite. A nutrição inadequada pode interferir na atividade ovariana no período pós-parto. Uma medida de manejo às vezes utilizada para aumentar a eficiência produtiva é manter as vacas de corte em um plano nutricional marginal durante o inverno. Essa abordagem força o animal a utilizar as reservas de gordura adquiridas durante o período de pastagem. Se vacas de corte gestantes não retornarem para um balanço energético positivo no último mês de gestação, o restabelecimento da atividade ovariana cíclica, que normalmente ocorre entre os dias 45 e 60 após o parto, será retardado. Outra situação que pode afetar a atividade ovariana envolve as novilhas gestantes. Essa categoria animal geralmente necessita de uma nutrição extra durante o período pós-parto para restabelecer a atividade ovariana, pois possui requerimentos nutricionais para o crescimento, assim como para a lactação. - Gestação e Parto: • Gestação: 1. O desenvolvimento de um embrião envolve a fusão de um oócito e um espermatozoide no oviduto. O desenvolvimento de um novo indivíduo requer a transferência dos gametas masculinos para o trato genital feminino para a fertilização do(s) gameta(s) feminino(s). O espermatozoide, que foi concentrado e estocado no epidídimo, gradualmente modifica seu metabolismo de oxidativo (aeróbico) para glicolítico (anaeróbico) enquanto se movimenta pelo epidídimo. Nesta situação, os espermatozoides estão em um estado de metabolismo reduzido. Os espermatozoides maduros apenas são capazes de metabolizar um tipo especial de açúcar, a frutose, dentro do trato reprodutivo. A lactose, a glicose, a dextrose e a frutose têm sido utilizadas em diluidores de sêmen disponíveis comercialmente. O esperma geralmente é ejaculado na vagina, entretanto algumas espécies domésticas (cães, equinos e suínos) ejaculam diretamente dentro da cérvix e do útero. O movimento do esperma através da cérvix é auxiliado pelas alterações induzidas pelo estrógeno no muco cervical, as quais resultam na formação de canais que facilitam a movimentação do esperma. Isto tem sido particularmente enfatizado em primatas, nos quais a diminuição do muco ocorre apenas antes da ovulação, um fator que pode ser utilizado para prever o momento da ovulação. O ambiente do sistema genital feminino, de uma forma geral, é inóspito para a sobrevivência do esperma; por exemplo, os leucócitos são rapidamente atraídos ao lúmen uterino, pois os espermatozoides são reconhecidos como estranhos ao trato genital feminino. Reservatórios especiais se desenvolveram no trato feminino para auxiliar na sobrevivência do esperma durante o transporte; estes incluem a cérvix e o oviduto, este último envolvendo áreas na junção uterotubárica e dentro da ampola. Os reservatórios são preenchidos progressivamente (da parte caudal até a cranial do trato), necessitando- se de horas, antes que os reservatórios dos ovidutos estejam repletos. Finalmente, o reservatório dentro da ampola é capaz de liberar um pouco de esperma em uma forma contínua, de maneira que a fertilização possa ocorrer pouco depois da chegada dos oócitos no oviduto. Os primeiros estudos sobre transporte de esperma enfatizaram a agilidade do processo, com relatos de esperma passando da vagina para a porção fimbriada final do oviduto em questão de minutos. Atualmente sabe-se que o chamado transporte rápido pelo qual o esperma passa não está envolvido na fertilização; na realidade, ele é danificado pelo transporte rápido. O esperma necessita passar por mudanças dentro do trato genital feminino que são pré-requisitos para a fertilização; este processo é denominado capacitação. Um dos efeitos da capacitação é a remoção de glicoproteínas da superfície celular do espermatozoide. As glicoproteínas, talvez adicionadas com propósitos de proteção, interferem na fertilização. Esta mudança permite que o espermatozoide realize a reação acrossômica quando entra em contato com oócitos. A reação acrossômica envolve a liberação de enzimas hidrolíticas do acrossoma; isto deve ser importante para a penetração do espermatozoide através da granulosa e da zona pelúcida até a membrana plasmática do oócito. A hialuronidase causa a quebra do ácido hialurônico, um componente importante da matriz intercelular das células 16 da granulosa que envolvem o oócito. A acrosina, uma enzima proteolítica, digere a cobertura acelular em volta do oócito. Ambos os eventos enz imáticos perm item que o espermatozoide penetre no oócito. A reação acrossômica também modifica a superfície do espermatozoide, o que permite a fusão com o oócito. A reação acrossômica resulta em movimentos de cauda que caracterizam um batimento flagelar que tende a orientar o esperma em uma direção progressiva. Por causa das mudanças que o espermatozoide deve sofrer dentro do trato reprodutivo feminino antes da fertilização, a deposição do esperma antes da ovulação é o período preferencial para se alcançar uma fertilidade máxima. Uma exceção ocorre quando esperma de baixa longevidade é utilizado, como é o caso do sêmen diluído resfriado ou congelado. Nestes casos, a deposição do sêmen no trato reprodutivo feminino deve ocorrer perto do momento da maturação do óvulo associado à fertilização. As fêmeas em geral são sexualmente receptivas por pelo menos 24 horas antes da ovulação e, em uma situação natural (interação livre entre sexos), a inseminação geralmente acontece algumas horas antes da ocorrência da ovulação. Mesmo com ovulação induzida, como nas gatas, o intervalo entre a cópula e a ovulação normalmente é de 24 horas ou mais. Em essência, o sistema evoluiu para haver um esperma fértil no local da fertilização quando os oócitos chegarem. Isto corrobora