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*Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. COMPLIANCE DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA COMPLIANCE OF PUBLIC ADMINISTRATION Paulo Soares Rodrigues da Silva* RESUMO O presente trabalho tem como objeto de estudo a análise da importância do compliance de Administração Pública. O problema foco desta pesquisa é identificar se o compliance aplicado na gestão de Administração Pública impacta positivamente na organização corporativa, e para isso durante o estudo buscou-se observar as ferramentas utilizadas na gestão organizacional, a prática nas equipes e se houve mudança de comportamento do gestor, a fim de causar impacto na própria equipe e consequentemente na organização na qual esse indivíduo trabalha. Para isso o presente estudo se utilizou de meios de pesquisas bibliográficas, doutrinas e leis bem como da metodologia dedutiva, para análise dos principais pontos apresentados sobre a aplicabilidade do compliance como ferramenta de cumprimento da IN MP/SLTI Nº 4/2014, que regulamenta o processo de contratação de Soluções de TI pela Administração Pública Federal, tudo em termos práticos e efetivos. Palavras-chave: Compliance; Soluções de Tecnologia da Informação; Administração Pública; Instrução Normativa. ABSTRACT This work aims to study the importance of public administration compliance. The focus problem of this research is to identify if the compliance applied in the Public Administration management has a positive impact on the corporate organization, and for this purpose, during the study, we sought to observe the tools used in organizational management and how, the practice in the teams and if there was a change in behavior of the leader, in order to impact the team itself and consequently the organization in which that individual works. For this, the present study used bibliographic research means, doctrines and laws as well as the deductive methodology, to analyze the main points presented about the applicability of compliance as a tool for compliance with IN MP / SLTI No. 4/2014, which regulates the process of contracting IT Solutions by the Federal Public Administration, all in practical and effective terms. Keywords: Compliance; Information Technology Solutions; Public Administration; Normative Instruction. *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. 1- Sumário 2- INTRODUÇÃO 3 3- DAS ORGANIZAÇÕES 4 3.1 - GESTÃO DE EMPRESAS 7 3.2 - MEDIDAS CORPORATIVAS ANTICORRUPÇÃO E LEGISLAÇÕES ESPECÍFICAS 10 4- COMPLIANCE 16 4.1 - OBJETIVOS E MOTIVAÇÕES DO COMPLIANCE 21 5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 23 3 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. 2- INTRODUÇÃO Compliance em época contemporânea, trata-se de uma ferramenta de gestão bastante útil e utilizada pelas empresas que buscam estar em conformidade com as leis, a ética e o regulamento externo e interno, tudo no sentido de se buscar minimizar eventuais riscos e guiar o comportamento das organizações perante o mercado no qual atua, eis que o compliance traz a conformidade legal às organizações. Para a consecução de tal fim buscou-se explorar a temática pelas mais diversas vertentes, iniciando-se com um breve estudo sobre as empresas, a gestão empresarial e a governança corporativa, passando em seguida ao estudo do compliance, na busca pelo entendimento de seus pilares e objetivos, e mais assuntos relativos ao tema e necessários ao deslinde do trabalho. No entanto, no Brasil a aplicação de tal ferramenta de gestão revela-se ainda tímida, motivo pelo qual se faz relevante o estudo do presente tema, de forma a servir de subsídios para que as empresas brasileiras compreendam a importância do compliance para as organizações. O presente trabalho tem por objetivo fornecer um estudo descritivo teórico a respeito da aplicação da ferramenta do compliance pela Administração Pública, em especial no Brasil onde tal ferramenta ainda não é amplamente explorada pelas empresas, sendo este o tema a ser tratado no presente trabalho. Portanto, este estudo procurará esclarecer os principais pontos da aplicação do compliance, que traz a necessária conformidade legal as atividades das organizações, revelando-se uma ferramenta indispensável para as empresas que buscam o crescimento sem desrespeitar as regras legais, morais e éticas vigentes. As motivações das organizações para adoção do compliance são várias, e pretende-se com o presente estudo demonstrar como o compliance aplicado na gestão das empresas pode trazer inúmeras vantagens para a mesma. Dessa forma, se questiona: A compliance desafia as teorias estabelecidas da empresa e perturba a economia política da governança corporativa? O tema abordado no presente trabalho mostra-se de grande importância não só pela relevância que representa as organizações estarem adequadas a padrões legais e éticos, mas para analisar a aplicabilidade do compliance como ferramenta de cumprimento das normas legais e éticas, frente aos entendimentos doutrinários e jurisprudenciais. Tal relevância cada vez mais expressiva que possui a aplicação do compliance para as empresas, demonstra a necessidade de se estudar o tema em profundidade. Assim, se visa discorrer sobre a aplicação do compliance 4 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. no contexto administrativo das empresas, sejam elas privadas, mistas ou públicas, mostra-se pertinente e necessário, e tudo através de entendimentos doutrinários, teóricos e jurisprudenciais, sendo por estes motivos a escolha do presente tema. Tal estudo se faz necessário, eis que o mundo organizacional e empresarial é um dos que mais sente necessidade de se adequar a atual realidade altamente competitiva, sendo assim, é importante estudar quais os caminhos e estratégias que as organizações estão tomando no sentido de otimizar a empresa e o que as fazem se destacar perante as demais organizações. Investir em ferramentas como compliance revela-se uma excelente estratégia de crescimento de uma organização, fazendo, portanto, necessário o estudo sobre o assunto. Devido à natureza da proposta que ora se apresenta, recorrer-se-á metodologicamente à revisão bibliográfica para a promoção de um estudo descritivo fundamentado em artigos científicos, obras completas e demais produções científico-acadêmicas que se mostrem úteis e pertinentes à pesquisa em tela. Almeja-se com o presente trabalho ajudar a uma melhor compreensão a respeito do assunto através do fornecimento de conclusões fáticas que, além de seu interesse geral e específico no âmbito jurídico acadêmico, podem servir de base para futuros trabalhos. 3- DAS ORGANIZAÇÕES Antes de se discorrer sobre todos os aspectos existentes com relação a importância do compliance para as empresas, necessário se proceder a uma breve explanação sobre a empresa, pessoa jurídica suscetível de direitos e deveres. Importante o correto entendimento da amplitude que tem toda a questão referente às empresas, eis que esta tem papel relevante não só para as partes da relação empresarial, como para a economia e desenvolvimento do país, em especial no Brasil, país de cunho eminentemente capitalista. De acordo com Fábio Ulhoa Coelho1: Os bens e serviços de que todos precisamos para viver — isto é, os que atendem às nossasnecessidades de vestuário, alimentação, saúde, educação, lazer etc. — são produzidos em organizações econômicas especializadas e negociadas no mercado. Segundo Caldas Neto a pessoa jurídica pode ser intersubjetiva, ou seja, constituída pela união solene de duas pessoas com o intento de formar uma entidade autônoma e independente, ou patrimonial, que corresponde à afetação de um patrimônio destinado a um 5 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. determinado fim. Logo, os requisitos subjetivos para a criação das pessoas jurídicas é a vontade humana que lhe dá origem, a organização de pessoas, destinação de um patrimônio afetado a um fim específico, licitude de seus propósitos e a capacidade jurídica reconhecida pela norma jurídica.1 Segundo Silva, para a constituição da pessoa jurídica de modo que ela tenha personalidade, são necessários critérios, passando, ainda, esta constituição por duas fases, sendo que a primeira trata da constituição da pessoa jurídica, tendo dois critérios que são o elemento material e formal. O elemento material refere-se a vontade de constituir pessoa jurídica, sendo que esta pode constituída de duas formas: por ato unilateral (intervivos ou causa mortes) ou por ato bilateral (vontade das partes). 2 De acordo com Coelho antes de dar início à exploração de seu negócio o exercente de atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços deve inscrever-se no Registro das Empresas, que dispõe sobre o registro público de empresas mercantis e atividades afins. Trata-se de um sistema integrado por órgãos de dois níveis diferentes de governo, e essa peculiaridade do sistema repercute no tocante à vinculação hierárquica de seus órgãos, que varia em função da matéria. 3 Segundo Silva, no ordenamento jurídico pátrio a organização empresarial tem personalidade própria sendo detentor de direitos e deveres na esfera cível semelhante à pessoa física e no que lhes couber. Gozando de personalidade jurídica, os integrantes virão a responder nos limites do valor aplicado, não se comunicando o capital individual de cada sócio com o da sociedade. 4 De acordo com Santini: O efetivo reconhecimento dos direitos da personalidade da pessoa jurídica se deu com o advento do Código Civil de 2002, especificamente com a redação do artigo 52, que determinou a aplicação às pessoas jurídicas, obviamente de acordo com a compatibilidade, as tutelas dos direitos da personalidade.5 1 CALDAS NETO, Joaquim. Aspectos relativos aos direitos da personalidade e da função social para fins de desconsideração da pessoa jurídica. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVIII, n. 133, fev 2015. 2 SILVA, Carla Santos. Desconsideração da personalidade da pessoa jurídica na Legislação Brasileira. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIX, n. 145, fev 2016. 3 COELHO, Fábio Ulhoa. Coelho, Coelho, Fábio Ulhoa Manual de direito comercial : direito de empresa / Fábio Ulhoa Coelho. – 26. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. 4 SILVA, Jonathas Barbosa Pereira Leite da. Desconsideração da personalidade jurídica da pessoa jurídica face à atual ordem jurídica brasileira. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n. 119, dez 2013. 5 SANTINI, Leonardo da Costa; BEZERRA, Christiane Singh. Considerações sobre os direitos da personalidade da Pessoa Jurídica. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 91, ago 2011. 6 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. De acordo com Caldas Neto6, a organização empresarial trata-se de um instituto criado pelo ordenamento pátrio com legitimidade para obter direitos e deveres e auxiliar no cumprimento dos valores sociais e econômicos como a livre inciativa e justiça social previstos na Constituição Federal. A existência legal das pessoas jurídicas é iniciada com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, com autorização ou aprovação do Poder Executivo se necessário, sendo que só após o registro será considerada regular e detentora de direitos e deveres. 7 Existem três requisitos para a existência de uma organização empresarial, sem os quais não haverá legalidade em sua criação, sendo eles, pessoas ou bens, licitude de propósitos ou fins e capacidade jurídica reconhecida por norma, se tratando de condições basilares que tem como pilar princípios e normas inclusive constitucionais. No entanto, sua junção traz as características próprias e únicas da pessoa jurídica, que será criada com a união de duas ou mais pessoas, desde que para fins lícitos e dentro de uma função social, e, ainda, capacidade jurídica, requisito primordial para a criação de qualquer pessoa jurídica dotada de personalidade. Com relação ao interesse público, conforme preceitua Carvalhosa8 tendo por pressuposto o caráter institucional da companhia, o regime de proteção estatal do interesse público caracteriza-se pela imposição das sociedades de determinadas condutas no mercado, e para isso atribui-se jurisdição administrativa sobre as sociedades abertas, na medida em que possuem ela capital aberto na Bovespa eis que este é o foco da pesquisa, é considerada pelo Estado como uma instituição de interesse social relevante, motivo pelo qual conta com determinada proteção do Poder Público. De acordo com ensinamentos de Coelho9 Em consonância com a definição de um regime econômico de inspiração neoliberal, pela Constituição, o legislador ordinário estabeleceu mecanismos de amparo à liberdade de competição e de iniciativa. Estes mecanismos, basicamente, configuram a coibição de práticas empresariais incompatíveis com o referido regime, as quais se encontram agrupadas em duas categorias: infração à ordem econômica e concorrência desleal. Para Crozatti, todas atividades em uma empresa, seja de que natureza ou propósito for, 6 CALDAS NETO, Joaquim. Aspectos relativos aos direitos da personalidade e da função social para fins de desconsideração da pessoa jurídica. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVIII, n. 133, fev 2015. 7 CALDAS NETO, Joaquim. Aspectos relativos aos direitos da personalidade e da função social para fins de desconsideração da pessoa jurídica. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVIII, n. 133, fev 2015. 8 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à lei de sociedades anônimas. 2013. 9 COELHO, Fábio Ulhoa. Coelho, Coelho, Fábio Ulhoa Manual de direito comercial : direito de empresa / Fábio Ulhoa Coelho. – 26. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014 7 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. consomem recursos e geram produtos e serviços, sendo que a maneira de cada empresa executar as atividades sofre influência direta das crenças e valores implícitos nas regras, atitudes, comportamentos, hábitos e costumes que caracterizam as relações humanas na organização. Desta forma, a cultura organizacional vem a impactar os níveis de eficiência e eficácia das atividades executadas na empresa, de acordo com o grau de importância das variáveis inerentes às próprias atividades. 10 Tem-se, portanto, que as empresa na atualidade, ganharam uma relevância nunca vista, além da tutela e proteção do Poder Público, há, ainda, uma obrigatoriedade de que venha alcançar um fim social. Mas para que uma organização adquira uma plenitude, deve apostar em uma boa gestão de empresas, conforme se verá no capítulo seguinte. 3.1 - GESTÃO DE EMPRESAS Na atualidade administraruma empresa, em especial as de grande porte, trata-se de uma tarefa complexa e que envolve diversas ações, e para isso as organizações devem contar na atualidade com uma boa gestão de empresas, que nada mais é que um termo que se refere a técnicas de avaliação e um conjunto de ferramentas que auxiliam as empresas nas tomadas de decisões de alto nível. A importância de compliance para as empresas deriva diretamente de sua gestão, pois para o aplicar é necessário que a empresa possua uma gestão inovadora. Isso porque, segundo Crozatti, o ambiente dos negócios exige das organizações crescentes níveis de eficácia, o que necessariamente implica em constante mudança organizacional, e o compliance por ser no Brasil uma ferramenta, ainda, pouco explorada, será melhor bem aceito por uma gestão moderna e aberta a inovações. 11 Atualmente, se vê que as empresas resistem a investir em uma boa gestão, o que lhe traz prejuízos a curto e longo prazo. A falta de conhecimento na utilização de uma boa gestão e o desconhecimento do poder que possui uma gestão de qualidade, prejudica o crescimento e a permanência no mercado, e desmistificar que o investimento em uma gestão de qualidade, com uma governança corporativa, são estratégias acessíveis para poucas empresas, se mostra 10 CROZATTI, Jaime. Modelo de gestão cultural organizacional: conceitos e interações. Cad. estud. São Paulo, n. 18, p. 01 a 20 de agosto de 1998. 11 CROZATTI, Jaime. Modelo de gestão cultural organizacional: conceitos e interações. Cad. estud. São Paulo, n. 18, p. 01 a 20 de agosto de 1998. 8 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. imprescindível. Cada empresa pode adotar um modelo de gestão de acordo com as suas particularidades e com o que pretende atingir, entre outros fatores. Segundo Coelho, ela pode ser definida como um sistema de indicadores de desempenho que delineia os caminhos a serem desenvolvidos pela administração, tornando as atividades organizacionais integradas, sistêmicas e interdependentes. 12 Segundo Crozatti, assim como, cada pessoa tem características próprias e individuais e desempenho consequentemente diferenciado, as empresas [...] são dotadas de individualidades que as distinguem umas das outras. Prossegue o autor: “No caso das empresas, as individualidades podem ser verificadas em aspectos como: níveis de eficiência e eficácia, estrutura física, estrutura organizacional, níveis e linhas de poder, entre outros.” 13 De acordo com Coelho: Nas organizações orientadas por processos, a estrutura organizacional tende a ser menos vertical e mais horizontal. O trabalho se organiza em torno dos processos e das equipes que o executam. O controle é assumido pela pessoa que executa o processo. Os gerentes se aproximam mais dos clientes e dos executantes do trabalho. Cada membro de uma equipe terá, pelo menos, uma familiaridade básica com todas as etapas do processo e realizará uma variedade de tarefas. Ressaltamos que nem todos os membros da equipe realizam exatamente o mesmo trabalho, pois cada empregado possui específicas competências e qualificações.14 Segundo Jacometti15, o mercado já não é mais visto como impessoal e as companhias já não são tão isoladas como anteriormente. Decisões econômicas e financeiras encontram-se inseridas numa complexa rede de relações de trabalho entre gerentes financeiros, analistas de estoque, diretores de companhia, executivos seniores e reguladores do estado, e o futuro das empresas dependerá do entendimento de como os arranjos da governança corporativa e o estilo de liderança trabalham e aplicam o que é melhor. 12 COELHO, Cláudio Carneiro Bezerra Pinto. COMPLIANCE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: UMA NECESSIDADE PARA O BRASIL. Revista de Direito da Faculdade Guanambi, [s.l.], v. 3, n. 01, p.77, 2016. 13 CROZATTI, Jaime. Modelo de gestão cultural organizacional: conceitos e interações. Cad. estud. São Paulo, n. 18, p. 01 a 20 de agosto de 1998. 14 COELHO, Cláudio Carneiro Bezerra Pinto. COMPLIANCE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: UMA NECESSIDADE PARA O BRASIL. Revista de Direito da Faculdade Guanambi, [s.l.], v. 3, n. 01, p.77, 2016. 15 JACOMETTI, Márcio. Considerações sobre a evolução da governança corporativa no contexto brasileiro: uma análise a partir da perspectiva weberiana. Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v. 46, n. 3, p. 758, June 2012. 9 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. Um empreendedor organiza vários fatores de produção, como terra, trabalho, capital, maquinário etc. para canalizá-los em atividades produtivas. O produto finalmente chega aos consumidores através de várias agências. As atividades de negócios são divididas em várias funções, essas funções são atribuídas a diferentes indivíduos. Vários esforços individuais devem levar à consecução de objetivos comerciais comuns. A organização é uma estrutura de deveres e responsabilidades exigidos do pessoal no desempenho de várias funções com o objetivo de alcançar objetivos de negócios por meio da organização. A gerência tenta combinar várias atividades de negócios para atingir metas predeterminadas. A gestão de uma empresa diz respeito a sua administração em todas as esferas, representando uma ferramenta de extrema importância a ser utilizada pelas organizações, ganhando maior relevância a cada dia. Assim, se lança mão de ferramentas que venham a somar a seu trabalho administrativo e o compliance revela-se uma excelente medida de auxílio e otimização do trabalho empresarial. Um fato que levou as empresas a investir em gestão e processos da qualidade foi o aumento da competitividade advinda do atual paradigma capitalista que incentiva o consumo, e que obrigou as organizações a tomarem medidas para que melhores serviços e produtos se fizessem presente nas empresas, de forma a conquistar clientes e aumentar sua lucratividade e vantagem competitiva. Conforme preceitua Machado da Silva16 em sua obra: A competitividade da organização só estará garantida ao se conseguir estabelecer uma posição privilegiada, sustentada no ambiente. Essa posição privilegiada pode resultar da criação e consolidação de uma imagem de empresa competitiva; todavia, vai depender do que está sendo valorizado no ambiente e das características do segmento em que a organização atua. Se nesse ambiente a eficiência operacional é o elemento mais valorizado para a competitividade, a empresa competitiva será aquela que inovar nesse sentido e conseguir estabelecer os padrões que serão seguidos pelas demais. As organizações devem reter seus clientes de acordo com satisfação, fornecendo produtos e/ou prestando serviços de qualidade, pois é um fator importantíssimo para desenvolver prosperidade na busca de melhoria de desempenho e de relacionamento com seu 16 MACHADO-DA-SILVA, Clóvis L.; BARBOSA, Solange de Lima. Estratégia, fatores de competitividade e contexto de referência das organizações: uma análise arquetípica. Rev. adm. contemp., Curitiba, v. 6, n. 3, p. 7-32, Dec. 2002. 10 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. público externo. As inovações e transformações ocorrem em época contemporânea de forma acelerada, em especial depois do advento da revolução tecnológica, em que se propiciou a evolução destas, buscandose modernizar e inovar, onde para isso lançam mãos de ferramentas como a governança corporativa, que veio cumprir um papel fundamental nessa evolução. 3.2 - MEDIDAS CORPORATIVAS ANTICORRUPÇÃO E LEGISLAÇÕES ESPECÍFICAS Corrupção tem sido um termo bastante utilizado nos últimos tempos, pois a corrupção se destacou de forma tão emblemática que se torna imprescindível ao presente estudo a análise do contexto no país e das medidas tomadas no sentido de se coibir tais práticas, e, em especial, após o advento da Lei Anticorrupção, lei nº 12.846/2013 que entrou em vigor no país em 2014 e que trouxe profundas inovações com relação à corrupção e à responsabilização de empresas. Corrupção pode ser definida como qualquer prática que venha a ser espúria ou delituosa. A palavra corrupção deriva do latim corruptus, que significa quebrado em pedaços, sendo ainda que o verbo corromper significa “tornar pútrido”. A corrupção é ainda mais grave quando está inserida na política ou em órgãos públicos, por servidores que venham a se utilizar da máquina pública para a prática de delitos e crimes, como a lavagem de dinheiro, motivo pelo qual a Lei Anticorrupção veio a trazer uma maior penalização de casos de corrupção por agentes públicos. Corrupção trata-se de um fenômeno complexo e presente em todos os lugares do planeta, em especial no Brasil onde está entranhada no meio social, econômico e político. A doutrina não possui um entendimento único sobre o termo, e celeumas doutrinárias são comuns a respeito do termo que pode compreender uma série de atos, o que dificulta a uma delimitação sobre o tema. A doutrina vem se esforçando para estabelecer modelos explicativos acerca do fenômeno da corrupção no mundo e, particularmente, no Brasil. Popularmente, corrupção pode englobar uma série de atos, que podem compreender: ganho ilícito, fraude, falsificação, peculato, suborno, clientelismo, entre outros. Isto posto, torna-se difícil elaborar um conceito único acerca do fenômeno da corrupção. Há uma gradação bastante significativa quando se começa a observar os pequenos desvios do quotidiano (como o descumprimento da fila) até o crime organizado 11 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. (cujo ato corruptivo é penalizado de forma especial pelos Estados modernos).17 Atualmente entende-se que a corrupção não se traduz no ato em si, e sim o resultado das práticas advindas de atos ilícitos e que dão início a um processo. A busca por vantagens é o que motiva o ato, na maior parte dos casos, seja vantagem econômica, política ou qualquer outra que se mostre interessante para o sujeito a ponto de o mesmo decidir burlar as regras do sistema, o ordenamento jurídico vigente e o próprio Estado. O Brasil conta com uma longa prática da utilização de órgãos do Governo para ações de corrupção, sendo que as empresas privadas também se encontram amplamente inseridas em atos corruptivos, e parcerias espúrias são firmadas entre instituições privadas e públicas, para atos de corrupção, como lavagem de dinheiro e contratações superfaturadas. De forma que, conforme Castro: O primeiro fator para a ocorrência da fraude está relacionado à pressão ou motivação que justifica a prática do ato ilícito. O segundo fator associa-se à oportunidade com a qual o fraudador depara-se para realização da prática da fraude, ou seja, à visualização da possibilidade de cometer o ato ilícito devido à existência de falhas no sistema de controle estabelecido pela organização. O terceiro fator, a racionalização, refere-se a um componente necessário para ocorrência do crime. Logo, seu surgimento não ocorre após a prática da fraude, mas antes dela, afinal, o fraudador não se vê como um criminoso.18 A corrupção pode assumir várias formas, como o suborno, o peculato, a fraude, a extorsão e outras que tragam as características inerentes ao ato corruptivo. Tem-se ainda que para se configurar a corrupção são necessários no mínimo dois agentes: o denominado corruptor e o corrompido, podendo ainda estar presentes outros sujeitos como o conivente e o irresponsável. Existem ainda tipos de corrupção, como a intencional que é aquela onde há o desejo de se obter vantagens ilícitas; a necessária que é a que se lança mão para agilizar processos ou obter serviços; a ativa em que se oferece vantagem a funcionário público em troca de benefícios 17 GABARDO, Emerson; CASTELLA, Gabriel Morettini e. A nova lei anticorrupção e a importância do compliance para as empresas que se relacionam com a Administração Pública. 2015. 18 CASTRO, Patricia Reis; AMARAL, Juliana Ventura; GUERREIRO, Reinaldo. Aderência ao programa de integridade da lei anticorrupção brasileira e implantação de controles internos. Rev. contab. finanç., São Paulo , v. 30, n. 80, p. 188, Aug. 2019. 12 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. próprios; e a passiva que se caracteriza quando o funcionário público solicita ou recebe qualquer tipo de vantagem. Existem ainda os tipos de corrupção preditiva e lateral, sendo a preditiva aquela que diz respeito a agentes políticos, em que grupos selam acordos com um ou com todos os candidatos competitivos, e estes acordos são efetuados através de pauta de compromissos e doações de campanha eleitoral, independentemente de tendência ideológica. Por fim, a lateral é o mecanismo pelo qual entes públicos aliciam bancadas legislativas, muitas vezes de partidos diversos, para que votem favoravelmente a assuntos de seus interesses, beneficiando-os assim. Na história recente do país, são muitos os escândalos de corrupção envolvendo grandes empresas, financiadoras de campanha, e todos os principais partidos políticos. São clássicos os casos Sivam, Pasta Rosa, Anões do Orçamento, Bingos, Precatórios, Propinoduto, compra de votos para aprovação da emenda da reeleição para cargos majoritários, os “mensalões” do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e do Partido dos Trabalhadores (PT), o caso do cartel dos metrôs de São Paulo e Distrito Federal, e, o mais recente, o escândalo da empresa Petrobrás S/A, um esquema que teria movimentado ilegalmente dezenas de bilhões, e que levou à cadeia diretores executivos de grandes construtoras.19 De acordo com Filgueiras20, a tradição política brasileira não respeita a separação entre o público e o privado, não sendo um exemplo de Estado em sua concepção etiológica, sendo a corrupção uma espécie de prática cotidiana, tudo no âmbito de uma tradição herdada do mundo ibérico, porém, esta realidade está mudando, tanto com relação a tolerância da corrupção como com relação ao uso de entes e agentes públicos para a prática de atos de corruptivos. O Brasil, com longa tradição de corrupção que teve nos últimos anos passou a questioná-la, além de passar a existir um movimento de cobrança por parte da população, da mídia e de próprios órgãos do Estado, como o Ministério Público Federal (MPF), de mecanismos que venham a combate-la efetivamente no país, como leis específicas e penalidades mais duras e severas contra corruptor e corrompido. A utilização de empresas para o cometimento de práticas corruptivas passou a ser duramente combatida, e a compliance se mostra uma excelente ferramenta no combate a estes atos. 19 XAVIER, Christiano Pires Guerra. PROGRAMAS DE COMPLIANCE ANTICORRUPÇÃO NO CONTEXTO DA LEI 12.846/13: ELEMENTOS E ESTUDO DE CASO. 2015. 20 FILGUEIRAS, Fernando. A tolerância à corrupção no Brasil: uma antinomia entreas normas morais e prática social. Opin. Publica , Campinas, v. 15, n. 2, p. 389, novembro de 2009. 13 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. Quem teve também papel preponderante na busca e criação de mecanismos anticorrupção no país foi a mídia internacional, sendo que a mesma tem dado ampla cobertura a escândalos relacionados à corrupção, e este destaque dado pela imprensa em todo o mundo aos eventos corruptivos do país, vieram a demonstrar para o mundo a fragilidade dos sistemas políticos e legais do país, assim como a fragilidade ou mesmo ausência de mecanismos de coibição à corrupção. Medidas de combate a corrupção começaram a se delinear no país, e culminaram com a Lei Anticorrupção nº 12.846/2013, a Lei de Lavagem de dinheiro nº 9.613/1998, além de outras medidas e ações que visam ao combate efetivo à corrupção, que trouxe várias inovações ao ordenamento pátrio, bem como a necessidade de as empresas se cercarem de cuidados e cautelas, de forma que os atos de seus agentes não venham a se refletir na empresa, seja em sua imagem, seja financeiramente, seja de qualquer forma que se reflita negativamente para a empresa. Filgueira21 explicita que: É fundamental pensar a corrupção em uma dimensão sistêmica que alie a moralidade política - pressuposta e que estabelece os significados da corrupção - com a prática social propriamente dita, na dimensão do cotidiano. Resgatar uma dimensão de moralidade para pensar o tema da corrupção significa buscar uma visão abrangente que dê conta dos significados que ela pode assumir na esfera pública. É a partir dessas significações que podemos observar as formas que ela pode assumir na sociedade, de acordo com aspectos políticos, sociais, culturais e econômicos. Para Rossoni, o interessante no efetivo combate a corrupção é que possa existir de fato um distanciamento da alienação e do radicalismo e uma aproximação de uma abertura ao diálogo em benefício da sociedade, com a relativização dos discursos e aceitação das diferenças, pois a sociedade é formada pela interligação entre os sujeitos, sendo que dessas relações é que se definem os fenômenos sociais, como a corrupção. Em outras palavras, o equilíbrio é requisito fundamental para que haja um efetivo combate a corrupção no Brasil. 22 A Lei Anticorrupção trouxe medidas e sanções próprias, e essa maior força punitiva e de combate a corrupção se traduz em medidas e estratégias, e entre estas medidas está a possibilidade de responsabilização administrativa das pessoas jurídicas, e ainda o acordo de leniência e o programa de integridade. As três medidas anteriormente aludidas fazem parte do 21 FILGUEIRAS, Fernando. A tolerância à corrupção no Brasil: uma antinomia entre as normas morais e prática social. Opin. Publica , Campinas, v. 15, n. 2, p. 387, novembro de 2009. 22 ROSSONI, Ana Carolina Gonçalves; MOTTA, Roberta Fin. A corrupção no contexto atual da mídia. Est. Inter. Psicol., Londrina , v. 8, n. 1, p. 03, jun. 2017. 14 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. pacote de medidas de combate a corrupção, sendo que com a possibilidade de sanções administrativas, houve um aumento da preocupação das empresas com relação à sua responsabilização, até porque existe a previsão de multa pecuniária a ser aplicada na esfera administrativa. Larentis23 afirma que: A resposta sancionatória administrativa está prevista no artigo 6º da Lei Anticorrupção. Para o cálculo da multa, é considerado o faturamento bruto em percentual que varia de 0,1% a 20%, sendo que não há previsão de causa especial de aumento na lei em comento. Analisando a Lei Anticorrupção, percebe-se, também, conforme o artigo 6, §5º, que há menção da publicação extraordinária da condenação em diários e jornais. A medida de combate consubstanciada em sanção administrativa, dado ao aspecto que traz intrínseco relativo à aplicação de multa pecuniária, se mostrou deveras efetiva, pois tem servido para prevenir atos de corrupção pelas empresas privadas. Antes da entrada em vigor da Lei Anticorrupção, existia a possibilidade de punição das empresas privadas por atos de corrupção através da Lei de Improbidade Administrativa, no entanto, muitos eram os obstáculos a serem vencidos para seu efetivo cumprimento. Com a legislação específica muito dessa celeuma restou superada, pois ela trouxe ao ordenamento pátrio medidas mais diretas e efetivas de combate a corrupção. Acordo de leniência é firmado entre a empresa que cometeu um ato ilícito e a Administração Pública, se dispondo tal a organização a colaborar e auxiliar nas investigações, de forma que levem à captura e penalização de outros envolvidos no crime, recebendo como benefício a diminuição de sua pena. Caso colabore com as autoridades poderá receber desta um tratamento mais brando. De acordo com Larentis24 os requisitos, conforme a Lei Anticorrupção são: I - a identificação dos demais envolvidos na infração, quando couber; e II - a obtenção célere de informações e documentos que comprovem o ilícito sob apuração; III - a pessoa jurídica admita sua participação no ilícito e coopere plena e permanentemente com as investigações e o processo administrativo, comparecendo, sob suas expensas, sempre que solicitada, a todos os atos processuais, até seu encerramento. Além dos requisitos contidos no parágrafo primeiro da Lei Anticorrupção, as 23 LARENTIS, Bruno Zorrer. Aspectos da Lei n.º 12846/2013. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XXI, n. 169, fev 2018. 24 LARENTIS, Bruno Zorrer. Aspectos da Lei n.º 12846/2013. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XXI, n. 169, fev 2018. 15 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. características do acordo de leniência estão nos demais parágrafos do artigo 16, sendo cada um dos artigos responsáveis por um dos requisitos necessários para que o acordo seja possível e venha a ter validade. Necessário esclarecer que o acordo de leniência não exime a empresa que aderiu a ele de reparar o dano causado pelo ato de corrupção por ela cometido. Da análise da referida lei conclui-se que se trata de uma excelente ferramenta no combate a corrupção. Por óbvio que, para que a aludida lei traga os resultados esperados, deve-se o Estado propiciar medidas para que possa ser tal legislação específica colocada em prática, com a investigação, processo e penalização se devida, a todos os que forem comprovados com envolvimento em práticas ilícitas de corrupção. A operação Lava Jato é um dos exemplos da prática eficaz das diretrizes e normas trazidas pelas novas leis contra a corrupção. Gabardo e Castella25 preceituam que: Em nível nacional, a recente Lei 12.846/2013 impôs uma série de normas e institutos jurídicos, entre eles a responsabilização objetiva das pessoas jurídicas. Desta forma, o Poder Público brasileiro está ainda mais habilitado juridicamente para lidar com desvios de conduta das mais diversas ordens. Foram conferidos ao Estado mecanismos administrativos eficazes e céleres para responsabilizar, educar e obter o ressarcimento do erário em face de atos de corrupção e fraudes praticadas por pessoas jurídicas e seus agentes, especialmente nas licitações públicas e na execução dos contratos. A tais mecanismos administrativos ainda se agregam os judiciais. O Decreto nº 8.420 de 18 de março de 2015, teveo objetivo de regulamentar a responsabilização pela prática de atos contra a administração pública tratada na Lei Anticorrupção, trazendo para isso cinco medidas: (I) responsabilização administrativa; (II) sanções administrativas e encaminhamentos judiciais; (III) acordo de leniência; (IV) programa de integridade; e (V) cadastro nacional de empresas inidôneas e suspensas e cadastro nacional de empresas punidas. Dentre tais medidas, o programa de integridade é a única estabelecida, com finalidade de detectar e sanar desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos praticados contra a administração pública, sendo que as demais medidas referem-se a atos celebrados depois de as práticas corruptas foram executadas.26 25 GABARDO, Emerson; CASTELLA, Gabriel Morettini e. A nova lei anticorrupção e a importância do compliance para as empresas que se relacionam com a Administração Pública. 2015. 26 CASTRO, Patricia Reis; AMARAL, Juliana Ventura; GUERREIRO, Reinaldo. Aderência ao programa de integridade da lei anticorrupção brasileira e implantação de controles internos. Rev. contab. finanç., São Paulo , v. 30, n. 80, p. 190, Aug. 2019. 16 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. A maior e melhor inovação trazida pela Lei Anticorrupção foi a possibilidade de responsabilização das pessoas jurídicas, que passaram a ser punidas objetivamente por atos de seus agentes considerados de corrupção. Essa responsabilidade, além de jurídica é também administrativa, o que se traduz em maior efetividade no combate a corrupção no país. Ainda de acordo com Ribeiro: Os principais objetivos da presente lei são suprir a lacuna existente no ordenamento jurídico brasileiro quanto à responsabilização de pessoas jurídicas pela prática de atos ilícitos contra a administração pública, em especial por atos de corrupção, bem como atender aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil no combate à corrupção. Diante das estruturas de incentivo aqui elencadas, em especial a da Lei Anticorrupção Empresarial, pode-se inferir que a disseminação nas empresas dos conceitos de transparência e ética é fundamental para a prevenção de condutas inadequadas e para o desenvolvimento e a perenidade das empresas no mercado27 Entre as medidas de combate a corrupção trazidas pela nova legislação específica destaca-se os programas de integridade ou compliance. A Lei Anticorrupção lançou uma série de exigências de conformidade para as empresas nacionais, e o compliance ou programas de integridade foram uma dessas exigências, na medida em que obriga que as empresa se adequem ao estipulado em lei. O instituto do compliance surgiu como uma nova proposta de mitigação dos riscos e danos da sociedade moderna e contemporânea, e tornou-se rapidamente utilizado em alta escala por empresas públicas e privadas, conforme se verá no capítulo seguinte. 4- COMPLIANCE Compliance tem no Brasil uma história relativamente recente, sendo a partir da adesão do país a tratados e convenções internacionais relativas a violações a direitos humanos, conformidade legal, proteção de empresas públicas e ações anticorrupção, entre outras práticas, é que no Brasil surgiu a necessidade de criação de mecanismos que viessem trazer conformidade não só do país com a legislação pátria, mas com as medidas internacionais de 27 RIBEIRO, Marcia Carla Pereira; DINIZ, Patricia Dittrich Ferreira. Compliance e Lei Anticorrupção nas Empresas. St, Curitiba, v. 1, n. 1, p.99, mar. 2015. 17 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. combate a corrupção. Segundo Madeira28, entre as consequências domésticas dos tratados internacionais estão a promoção de debates políticos, desenvolvimentos constitucionais e mudanças nos estatutos nacionais. Para que fosse implantado no Brasil um sistema efetivo de combate a corrupção, com legislação específica e mecanismos administrativos eficazes no combate a desvios de conduta das mais diversas ordens, assim como o combate a fraudes praticadas por pessoas jurídicas e seus agentes, em especial nas licitações públicas e na execução dos contratos, utilizou-se os tratados e convenções internacionais que o Brasil participou traçando as diretrizes e bases. Não obstante as origens históricas do compliance no Brasil, este só veio a ser devidamente regularizado com o advento da Lei Anticorrupção, que obrigou às empresas à conformidade. No entanto, mesmo antes de tal obrigatoriedade, muitas empresas já vinham adotando o compliance na sua gestão, porém com a aludida lei o compliance restou inserido definitivamente na cultura organizacional brasileira. O que havia antes de 2014 eram os benefícios que podiam ser obtidos com a implementação de uma cultura de ética e de controles internos, que restou regulada com a Lei Anticorrupção. Nas últimas décadas ocorreram inovações e transformações como em época contemporânea, em especial depois do advento da revolução trazida pela era tecnológica, em que se propiciou que a civilização progredisse na caminhada rumo a evolução, e assim também foi com as empresas, que cada vez mais buscam se modernizar e inovar, e para isso lançam mãos de ferramentas como o compliance e seus programas que vieram a cumprir um papel fundamental nessa evolução, na medida em que torna-se cada vez mais necessário que as empresas e organizações funcionem de acordo com as leis e normas vigentes. O compliance nasceu da necessidade de impor às empresas ações somente estritas dentro da conformidade legal, ética e moral, dentro dos ditames da sociedade e das leis, em especial com relação a práticas ilícitas em que se utilizam as empresas e organizações para obter vantagens ilícitas. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), compliance é o dever de cumprir, de estar em conformidade e fazer cumprir regulamentos internos e externos impostos às atividades da instituição, 28 MADEIRA, Lígia Mori. Compliance:a (rara) aplicação de instrumentos internacionais de proteção a direitos humanos pelos tribunais intermediários no Brasil. Rev. Bras. Ciênc. Polít., Brasília , n. 21, p. 45-76, Dec. 2016. 18 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. de natureza moral.29 Segundo Silva, as organizações estão sujeitas e expostas a mudanças, originárias no ambiente externo que, evidentemente, afetarão o mercado, os processos e as pessoas, e a sobrevivência das empresas sujeita-se à sua capacidade de promover, constantemente, ajustes para adequação do ambiente corporativo, legitimando a crescente preocupação das organizações com os fatores internos, que são os que proporcionariam maior competitividade frente ao ambiente externo. 30 Com esse rigorismo trazido pela Lei Anticorrupção às empresas privadas, nasceu a necessidade de as mesmas adequarem-se às condutas previstas na referida lei, de forma que não venham a ser penalizadas nem por atos ou ações próprias nem de seus parceiros e fornecedores. Essa adequação se traduz na adoção de séries de medidas e práticas, ou programas de integridade, como é denominado pela lei. Esses programas de integridade ou compliances se tornaram imprescindíveis no país por todas as empresas que visam diminuir os riscos de vir a ser penalizadas pela nova lei, em especialpela questão econômica, já que as multas para as empresas condenadas por corrupção são altíssimas e as penas gravíssimas. Outro fator positivo de a empresa recorrer a um programa de integridade é que se a mesma for flagrada cometendo ato de corrupção, se tiver instituído o programa de integridade, terá sua penalidade atenuada, pois mostrou-se uma organização preocupada com questões como ética e transparência, sendo aquela ação corrupta um ato isolado. O termo compliance é utilizado para designar as ações para mitigar riscos e prevenir corrupção e fraude nas organizações, independentemente do ramo de atividade. As organizações podem ser regulamentadas pelo poder público (como é o caso dos setores regulamentados pelas agências) ou subordinadas simultaneamente às leis nacionais e de outros países, como à americana Sarbanes-Oxley (SOX), de 2002, cujo artigo obriga as empresas de capital aberto a adequar comportamentos éticos dos profissionais e candidatos, buscar a identificação, mitigação, análise das consequências e prevenção de atitudes inadequadas.31 29 SANTOS, Renato Almeida dos et al . Compliance e liderança: a suscetibilidade dos líderes ao risco de corrupção nas organizações. Einstein (São Paulo), São Paulo, v. 10, n. 1, p. 3, mar. 2012. 30 SILVA, Raiane Rodrigues de. A IMPORTÂNCIA DO SETOR DE RECURSOS HUMANOS NO CONTEXTO DA ESTRATÉGIA DA ORGANIZAÇÃO. 2015. 31 SANTOS, Renato Almeida dos et al . Compliance e liderança: a suscetibilidade dos líderes ao risco de corrupção nas organizações. Einstein (São Paulo), São Paulo, v. 10, n. 1, p. 1, mar. 2012. 19 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. Esse conjunto de ações que se traduz em compliance nada mais é que medidas efetivas e práticas, tomadas pela administração da empresa ou organização, que pode ainda contar com um setor de gestão que trata da questão da conformidade legal. Frente a nova realidade o compliance vem para adequar as empresas as normas legais, trazendo assim conformidade legal, além de atuar no combate a práticas de corrupção na medida em que analisa e atua ativamente contra qualquer prática e estratégia que não esteja de acordo não só com as normas legais como com a cultura e práticas organizacionais. De acordo com Madeira32 o conceito central para compreender a proteção a direitos humanos é o de compliance (cumprimento), sendo este conceito empregado de quatro formas: a) grupo de estudos examina o cumprimento dos cidadãos em relação às leis nacionais e às decisões judiciais; b) outro grupo de estudos investiga o cumprimento legal por parte dos Poderes Executivos e Legislativos e das burocracias; c) um terceiro grupo procede a análise do cumprimento dos tratados e das legislações internacionais e das recomendações e decisões das Cortes internacionais; e d) um último grupo aplica o conceito para examinar a conformação entre decisões dos tribunais superiores e autoridades e Cortes subnacionais. Dado a todos os motivos já expostos no presente estudo, como as medidas anticorrupção e legislação específicas adotados no Brasil e que trouxe o programa de integridade, surgiu o compliance, inclusive como fruto de lei, eis que veio a ser efetivamente regulamentado com relação a responsabilização das empresas por ato de corrupção, com a regulamentação da Lei Anticorrupção, o Decreto n.º 8.420 de 18 de março de 2015, no qual foi abordado o programa de compliance de forma especifica em seus artigos 41 e 42, com a denominação de programa de integridade. Assim, conforme Santos: Nas organizações, o compliance originou-se nas instituições financeiras, com a criação do Banco Central Americano, em 1913, que objetivava, entre outras metas, a formação de um sistema financeiro mais flexível, seguro e estável. Logo após a quebra da Bolsa de Nova York em 1929, foi criado o New Deal, política intervencionista na economia para “corrigir as distorções naturais do capitalismo”. Apesar de sua origem, programas de compliance não são exclusivos das instituições bancárias e compreendem fundamentalmente a busca pela 32 MADEIRA, Lígia Mori. Compliance:a (rara) aplicação de instrumentos internacionais de proteção a direitos humanos pelos tribunais intermediários no Brasil. Rev. Bras. Ciênc. Polít., Brasília , n. 21, p. 46, Dec. 2016. 20 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. aderência entre a ética individual e a coletiva – daí a expressão compliance, termo anglo-saxão originário do verbo to comply, que significa agir de acordo com uma regra, um pedido ou um comando. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), compliance é o dever de cumprir, de estar em conformidade e fazer cumprir regulamentos internos e externos impostos às atividades da instituição, de natureza moral.33 A ferramenta compliance permite que os atos dos representantes das empresas sejam cercados de cuidados, de forma que ocorra uma diminuição de riscos para as empresas, trazendo conformidade dos atos das organizações e de seus gestores, adequando-os ao que determina as leis de combate a corrupção como a lavagem de dinheiro. Para a implantação de uma política de Compliance, a empresa deverá inicialmente elaborar um programa com base na sua realidade, cultura, atividade, campo de atuação e local de operação. Ele deverá ser implementado “em todas as entidades que a organização participa ou possui algum tipo de controle ou investimento” (COIMBRA; MANZI, 2010, p. 20-21), principalmente mediante o estabelecimento de políticas, a elaboração de um Código de Ética, a criação de comitê específico, o treinamento constante e a disseminação da cultura, o monitoramento de risco de Compliance, a revisão periódica, incentivos, bem como a criação de canal confidencial para recebimento de denúncias, com a consequente investigação e imposição de penalidades em razão de eventual descumprimento da conduta desejada.34 De acordo com Ribeiro, compliance possui tanto um caráter coercitivo como de gerenciamento, sendo que em ambas as características busca-se enfatizar mecanismos que evitem o non-compliance, sendo que o papel coercitivo em termos de monitoramento e aplicação de sanções tem um peso relevante, enquanto que o caráter de gerenciamento baseia- se no desenvolvimento de capacidades, interpretação de regras e transparência. Pela teoria de empoderamento, o compliance torna-se necessário em virtude da necessidade de mudanças comportamentais de membros das empresas; já sob a perspectiva gerencial, explica-se a non- compliance como um dos efeitos da falta de capacidade e de regramentos ambíguos.35 33 SANTOS, Renato Almeida dos et al . Compliance e liderança: a suscetibilidade dos líderes ao risco de corrupção nas organizações. Einstein (São Paulo), São Paulo, v. 10, n. 1, p. 1, mar. 2012. 34 RIBEIRO, Marcia Carla Pereira; DINIZ, Patricia Dittrich Ferreira. Compliance e Lei Anticorrupção nas Empresas. St, Curitiba, v. 1, n. 1, p.89, mar. 2015. 35 MADEIRA, Lígia Mori. Compliance:a (rara) aplicação de instrumentos internacionais de proteção a direitos humanos pelos tribunais intermediários no Brasil. Rev. Bras. Ciênc. Polít., Brasília , n. 21, p. 47, Dec. 2016. 21 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. 4.1 - OBJETIVOS E MOTIVAÇÕES DO COMPLIANCEConforme já estudado, o Brasil vem trazendo um tratamento mais severo para as empresas e seus gestores, tanto públicas como privadas, que cometem atos como de corrupção para obter vantagens ilícitas, como caso de uso de empresas para lavagem de dinheiro, uma prática até recentemente na história do Brasil, bastante comum. De acordo com Castro36, a Lei nº 12.846/2013, “dispõe sobre a responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira, e dá outras providências”, e visa coibir práticas lesivas. A principal novidade que a lei trouxe foi a definição de medidas punitivas, que até então eram inexistentes ou paliativas e com pouca interferência financeira e criminal com relação a prática de corrupção. Castro, em consonância com o exposto supra: No Brasil, a conscientização sobre a importância do compliance anticorrupção vem aumentando significativamente nos últimos anos devido a uma série de fatores, dentre eles a crescente relevância global da economia brasileira, o aumento do investimento estrangeiro direto no país e os recentes escândalos envolvendo empresas nacionais e o sistema político do país. No entanto, mesmo com a velocidade que as mudanças estão acontecendo, ainda há um gap na cultura de compliance anticorrupção do país em comparação a mercados maduros, especialmente quando a legislação anticorrupção brasileira é confrontada à FCPA (Del Debbio et al., 2013). Dentre as iniciativas governamentais nacionais, sobressaem-se a elaboração do Guia para programas de compliance do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE, 2016) e, especialmente, as publicações da Lei Anticorrupção, Lei nº 12.846 de 1 de agosto de 2013, e do Decreto nº 8.420 de 18 de março de 2015.37 Como visto, o compliance tem como objetivo principal minimizar os riscos das empresas e organizações, públicas ou privadas, adequando-a em conformidade com as leis, 36 CASTRO, Patricia Reis; AMARAL, Juliana Ventura; GUERREIRO, Reinaldo. Aderência ao programa de integridade da lei anticorrupção brasileira e implantação de controles internos. Rev. contab. finanç., São Paulo , v. 30, n. 80, p. 190, Aug. 2019. 37 CASTRO, Patricia Reis; AMARAL, Juliana Ventura; GUERREIRO, Reinaldo. Aderência ao programa de integridade da lei anticorrupção brasileira e implantação de controles internos. Rev. contab. finanç., São Paulo , v. 30, n. 80, p. 190, Aug. 2019. 22 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. padrões éticos, regulamentos internos e externos e normas reguladoras, sempre na busca por trazer conformidade legal às atividades das organizações. Esse conjunto de ações, ou programas vem ainda a prevenir a corrupção, especialmente dentro das empresas e organizações públicas. Valores como ética e transparência passaram a ser cada vez mais valorizados, inclusive no âmbito das organizações, públicas e privadas, tornando-se fatores primordiais dentro das empresas. Com relação às empresas públicas e sua administração, fatos como o uso da máquina pública para fins escusos e corruptos e o vazamento de dados privados tornaram a aplicação de compliance primordial dentro da Administração Pública. As motivações para a adoção de compliance nas organizações são várias. A corrupção, em suas várias formas, provoca prejuízos financeiros imediatos, destrói a imagem e a reputação das organizações, estraga o ambiente de trabalho, esgarça a sociedade, aumenta os custos de investimento, e alimenta condutas nocivas para o desenvolvimento econômico e social. Ao contrário do que análises economicistas sugerem, a confiança entre os agentes está na base dos negócios: a maior parte das transações econômicas não são sustentadas por supersistemas de segurança, mas na confiança. Um sistema de controle infalível, se existisse, seria mais caro do que o benefício potencial da vigilância.38 As motivações que levam às empresas a adotar em sua gestão o compliance são inúmeras, como a corrupção, que traz prejuízos financeiros às empresas, além de causar danos à imagem e reputação das mesmas, com a consequente desmoralização, além de outros prejuízos como aumento de custos e diminuição do desenvolvimento econômico. Estes e outros motivos ensejadores fizeram do compliance atualmente um programa presente em grande parte das empresas, em especial as de grande porte. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho teve por escopo proceder ao estudo sobre a importância do compliance para as organizações, em todos seus aspectos, em especial após o advento da Lei Anticorrupção, que veio a trazer uma maior responsabilização das empresas por atos de corrupção praticados por seus agentes, sócios, gestores e fornecedores e que motivou a criação do compliance como uma ferramenta que traz conformidade legal e ética para as organizações. 38 SANTOS, Renato Almeida dos et al . Compliance e liderança: a suscetibilidade dos líderes ao risco de corrupção nas organizações. Einstein (São Paulo), São Paulo , v. 10, n. 1, p. 1-10, mar. 2012 . 23 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. O tema do compliance e sua importância para as organizações na atualidade se mostrou deveras relevante eis que recentemente e com relativo atraso em comparação a outros países, o Brasil passou a contar com medidas mais efetivas e duras de combate a corrupção, como a Lei Anticorrupção, que veio a trazer diversas inovações tais como uma maior responsabilização das empresas, fazendo com que medidas de conformidade fossem adotadas, como o compliance. Mostrou-se necessário para o correto e amplo entendimento do tema da importância que tem o compliance para as organizações, o estudo sobre as organizações, deveres e direitos de seus sócios, Governança Corporativa, o compliance frente ao Novo Mercado da B3, passando- se na sequência a discorrer-se sobre as medidas anticorrupção adotadas, inclusive o compliance, a base legal e como a legislação atual trouxe o compliance para o universo do combate a corrupção. Buscou-se ao longo da realização do presente trabalho demonstrar a importância que tem o compliance para as organizações na atualidade, com enfoque no Brasil, que conta atualmente com leis específicas contra atos de corrupção, tudo à luz dos princípios e direitos fundamentais constitucionais. Da investigação da aplicação do compliance para as empresas, concluiu-se que são os mesmos mecanismos efetivos no combate a corrupção, trazendo para as organizações a segurança necessária, para que os riscos de ações de corrupção sejam mitigados. As exigências atuais do mercado trazem a necessidade de que as empresas existam e funcionem dentro da legalidade. Em especial as empresas que já fazem parte e tem seu capital aberto ou para aquelas que pretendem ingressar no mercado de ações da BM&F e Bovespa, além das organizações públicas que devem adotar diversas práticas de Governança Corporativa, adicionais àquelas já exigidas pela legislação atual. 5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Larissa Silva. Os direitos dos acionistas minoritários nas sociedades anônimas: uma análise da Lei n° 6.404. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 19, n. 3952, 27 abr. 2014. BRASIL. Ministério do Planejamento. Instrução Normativa n° 4, de 11 de setembro de 2014. Disponível em: <https://www.governodigital.gov.br/documentos-e- arquivos/legislacao/1%20-%20IN%204%20%2011-9-14.pdf> Acesso em: jun. 2021. BRASIL. Notícia doMinistério do Planejamento, 2015. Disponível em: <http://www.planejamento.gov.br/conteudo.asp?p=noticia&ler=9384> Acesso em: jun. 2021. 24 *Pós-Graduando em Administração Pública da Universidade Estácio de Sá, Tecnólogo em Processos Gerenciais e Analista de Prestação de Contas na Diretoria de Finanças da PMERJ. E-mail psoaresrj33@yahoo.com.br. CALDAS NETO, Joaquim. Aspectos relativos aos direitos da personalidade e da função social para fins de desconsideração da pessoa jurídica. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVIII, n. 133, fev. 2015. Disponível em: <http://www.ambito- juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=15764>. Acesso agosto,2020. CARVALHOSA, Modesto. Comentários à lei de sociedades anônimas. 2013. Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=pt- BR&lr=&id=gjpnDwAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT65&dq=carvalhosa&ots=appDly_IoR&sig= X4W2BVUl88mlhxQmPqJpScIq00A#v=onepage&q=carvalhosa&f=false. Acesso em: jun. 2021. CASTRO, Patricia Reis; AMARAL, Juliana Ventura; GUERREIRO, Reinaldo. 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