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2 PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; OLIVEIRA, Leonardo Pestillo de. Psicologia do Esporte e do Exercício. Leonardo Pestillo de Oliveira. Maringá - PR.:Unicesumar, 2018. 168 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Psicologia do Esporte. 2. Rendimento Esportivo. 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1660-4 CDD - 22ª Ed. 150 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Ana Claudia Salvadego, Revisão Textual Meyre Barbosa da Silva, Ilustração Bruno Pardinho, Mateus Fotos Shutterstock. DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Minco�, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas, Supervisão de Produção de Conteúdo Nádila Toledo. Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e proissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- nos em 4 pilares: intelectual, proissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando proissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualiicado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modiicou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), signiica possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desaiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desaios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou proissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desaios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e proissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. boas-vindas Débora do Nascimento Leite Diretoria de Design Educacional Janes Fidélis Tomelin Pró-Reitor de Ensino de EAD Kátia Solange Coelho Diretoria de Graduação e Pós-graduação Leonardo Spaine Diretoria de Permanência http://lattes.cnpq.br/5641304042011472 apresentação do material PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO Professor Dr. Leonardo Pestillo de Oliveira Olá, prezado(a) acadêmico(a), é com grande satisfação que apresento a você a nossa disciplina de Psicologia do Esporte e do Exercício como uma disciplina do curso de Educação Física. A realização desta disciplina possibilitará a compreensão de elementos da Psicologia que fazem parte do contexto esportivo. Tendo conhecimento da importância de se compreender as característicaspsi- cológicas envolvidas na prática esportiva, seja ela proissional ou não, espero que você se sinta inclinado a buscar uma qualiicação adequada que possa colaborar com sua atuação proissional após a conclusão desta graduação. Todo mecanismo de aprendizagem perpassa duas vias, uma delas é responsa- bilidade do professor, que objetiva transmitir o conteúdo com a preocupação de que este seja realizado com qualidade, a outra é a do aluno, que deve compreender a importância de cada elemento a ele fornecido, pois trata-se de um processo em construção constante.Veremos, aqui, elementos da Psicologia e sua contribuição para o contexto esportivo de rendimento ou não. Na Unidade I, temos como conteúdo um pouco da história da Psicologia do Esporte e do Exercício no mundo e um pouco de sua história no Brasil. Este tópico é importante para termos uma visão geral sobre como a área surgiu, compreen- deremos as suas principais características e como ela pode ser importante para os praticantes. Desmistiicaremos um dos principais mitos existentes sobre a área, o mito de que a Psicologia do Esporte e do Exercício é importante apenas para atletas proissionais. Ou seja, precisamos compreender que esta área de atuação está presente em qualquer contexto que envolva o esporte e a atividade física. Na Unidade II, após termos discutido um pouco do histórico, faremos uma discussão sobre como o desenvolvimento humano e o desenvolvimento no con- texto esportivo ocorrem concomitantemente. Veremos como o esporte pode ser uma ferramenta importante para colaborar com o desenvolvimento de crianças e adolescentes, além de veriicar como o desenvolvimento de um atleta ocorre, quais fases e características são importantes ao longo do tempo. Já na Unidade III, temos como tema principal as características individuais que inluenciam o sujeito a iniciar, continuar ou parar uma prática esportiva. Al- gumas variáveis psicológicas são muito discutidas no contexto da Psicologia do Esporte e do Exercício, e teremos alguns tópicos relacionadas a elas. Teremos uma discussão sobre a motivação do sujeito, como a autoconiança e as expectativas de rendimento podem inluenciar a prática e também quais habilidades psicológicas estão presentes neste contexto. Após a discussão de variáveis individuais, teremos, na Unidade IV, uma apre- sentação de características presentes na coletividade, ou seja, no trabalho com grupos. A coesão de grupo é uma das variáveis mais discutidas quando se fala em rendimento esportivo, mas não podemos deixar de discutir também o papel do líder neste processo bem como a cooperação e a comunicação entre todos os que fazem parte de uma mesma equipe, ou grupo. Para inalizar, teremos, na Unidade V, a discussão sobre os elementos que envolvem características de saúde e bem-estar psicológico. Estas características são importantes tanto para trabalharmos com atletas proissionais como com amadores ou pessoas que realizam atividades físicas com objetivo de melhorar sua qualidade de vida. Falaremos um pouco sobre como as lesões, no esporte, podem atrapalhar e até interromper uma carreira de sucesso, e também como a prática excessiva do esporte pode vir a se tornar um vilão à saúde física e mental. Espero que este enfoque dado a alguns elementos da Psicologia do Esporte e do Exercício possam contribuir para sua formação de forma satisfatória e que possa estimulá-lo a continuar seus estudos e sua busca por conhecimento sobre a área. Com experiência em duas áreas que são fundamentais para esta disciplina, formação interdisciplinar, quero, também, fornecer a você um pouco do que a Psicologia do Esporte e do Exercício pode colaborar com a formação de um pro- issional de Educação Física e em sua atuação proissional futura. Desejo a você boa leitura e bons estudos! INTRODUÇÃO U ma parcela signiicativa da população tem uma percepção de que a Psicologia é uma área que se ocupa apenas de tra- balhar com a área clínica e ainda considerando o estereóti- po de “loucura”, termo já não utilizado para descrever pes- soas que sofrem de transtornos mentais. Engana-se quem ainda tem esta visão limitada em relação à área clínica da Psicologia, pois há diversos outros campos de atuação em que a Psicologia se faz presente, entre eles está o contexto esportivo, e é sobre isso que falaremos nesta Unidade I. A Psicologia enquanto ciência é jovem quando comparada a outras áreas, e por mais que o foco inicial tenha sido a saúde mental das pessoas com transtornos mentais, as demais áreas da Psicologia também surgi- ram em paralelo. Os primeiros estudos da área de Psicologia do Esporte e do Exercício que se tem conhecimento datam do inal do século XIX, mesmo período em que a Psicologia passa a ser reconhecida enquanto ciência e área especíica de atuação. Com isso, estudaremos alguns elementos do início da área, compre- enderemos como ela se desenvolveu ao longo do tempo e quais caracte- rísticas ainda hoje estão presentes e garantem sua permanência no ce- nário atual. Um ponto importante a ser discutido também é sobre como a Psicologia do Esporte e do Exercício pode ser ferramenta importante não apenas para psicólogos, mas também para proissionais de Educação Física. Basta compreendermos qual a função de cada proissional dentro de suas características especíicas, sabendo quais os limites de atuação e como estas duas áreas podem atuar em conjunto. O objetivo principal desta Unidade é fornecer uma visão geral sobre a área e sobre como utilizar estes conhecimentos na atuação proissional, seja no esporte de rendimento, seja no esporte amador, seja, inclusive, no contex- to escolar, pois este também é um contexto em que o esporte está presente. EDUCAÇÃO FÍSICA 15 realizar, levando em consideração todos os pos- síveis resultados deste planejamento. A sua com- preensão sobre como a Psicologia do Esporte e do Exercício surgiu, como se desenvolveu e como está atualmente será mais adequada se você também se planejar, estabelecer um plano de leitura, estudo e, principalmente, se buscar outras fontes de infor- mação, pois este livro dará apenas uma explicação geral sobre a área. Feito este planejamento, começaremos com o que se conhece, de início, como Psicologia do Es- porte e do Exercício, e que suscitou as primeiras discussões sobre a área. Para isso, precisamos dei- nir o que pretendemos estudar. O que seria, então, Psicologia do Esporte e do Exercício? Weinberg e Gould (2017) dão-nos uma deinição que nos leva a compreender a área como o estudo cientíico do comportamento das pessoas quando estão envolvi- das em atividades esportivas, em atividades físicas e, principalmente, na aplicação prática deste co- nhecimento. Ou seja, não basta apenas estudarmos os principais conceitos e as características, é preci- so colocá-los em prática. Uma deinição ainda mais abrangente e que nos permite ter uma visão geral da área é apresentada pela American Psychological Association - APA, principal organização cientíica e proissional que representa a Psicologia, nos Estados Unidos, e que serve de base para muitos outros países. Segundo o site da própria organização, a Psicologia do Es- porte é a capacidade de se utilizar conhecimentos e habilidades psicológicas para atender ao ótimo desempenho e ao bem-estar dos atletas, aos as- pectos sociais e de desenvolvimento de praticantes de esportes, e às questões sistêmicas associadas a conigurações e a organizações esportivas ([2018], on-line)1. Com estas deinições, podemos perceber que a Psicologia do Esporte e do Exercício é uma área que pode abranger diversos contextos, não apenas o do esporte proissional, de rendimento, em que os atletas fazem do contexto esportivo a sua principal atividade proissional. Basta considerarmos que em qualquer local em que o esporte esteja envolvido, e que tenhamos pessoas praticando,a Psicologia po- derá também estar lá, levando seus conhecimentos e proporcionando aos praticantes uma busca mais adequada aos resultados. Sendo assim, podemos considerar dois objetivos principais da área. O primeiro seria voltado ao con- texto esportivo proissional, pois visa a compreender como os fatores psicológicos dos atletas podem afe- tar o seu desempenho físico. Já o segundo objetivo seria voltado ao público não proissional, mas que está, de alguma forma, envolvido no contexto espor- tivo, ou seja, compreender como a prática esportiva e de exercícios de um sujeito pode afetar o seu de- senvolvimento psicológico, a sua saúde e o seu bem- -estar (WEINBERG; GOULD, 2017). Partindo destes dois objetivos, pode-se imagi- nar como os pesquisadores começaram a inserir os conhecimentos da Psicologia no contexto esportivo. Após compreendermos quais os objetivos da Psico- logia do Esporte e do Exercício, precisamos saber da sua história, como começou e como chegou até os dias atuais. A história remete-nos à Grécia Anti- ga, considerada o berço dos estudos sobre a relação mente e corpo. Avançando no tempo, o inal do sé- culo XIX ica marcado pelos primeiros estudos e as pesquisas sobre as questões psicológicas, no contex- to esportivo (SAMULSKI, 2009). Este desenvolvi- mento da Psicologia do Esporte e do Exercício pode ser dividido em seis períodos, e alguns dos princi- pais fatos estão destacados a seguir. 16 PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO Entre os anos de 1893 e 1920, alguns países destacaram-se, sendo considerados os pioneiros dos estudos cientíicos da área. O primeiro deles é os Estados Unidos, em 1893. E. W. Scripture realiza estudos baseados em dados de atletas de Yale, e temos, na Universidade de Indiana, os primeiros experimentos direcionados para a relação entre a Psicologia e o esporte. Estes estudos foram conduzidos por Norman Triplett, que, em 1897, estudou sobre como um adversário pode inluenciar no rendimento de um atleta, neste caso, no ciclismo. Seus estudos chegaram a algumas respostas, mostrando que a presença de um outro atleta poderia ser um estímulo para a liberação de uma energia que não, necessariamente, estava manifestada no atleta, dando início, então, aos estu- dos da motivação no contexto esportivo (GOULD; VOELKER, 2014; TRIPLETT, 1898). Em 1899, Scripture de Yale descreve traços de personalidade que acreditava serem favo- recidos pela prática esportiva, e, em 1918, o ainda estudante Coleman Griith conduz estudos informais de jogadores de futebol americano e de basquetebol na University of Illinois (WEINBERG; GOULD, 2017). 1893-1920 1921-1938 Primeiros anos D e st a q u e s d o P e rí o d o 1 D e st a q u e s d o P e rí o d o 2 Após este período do inal do século XIX, o início do século XX é marcado pelo desen- volvimento dos primeiros laboratórios e Institutos de Psicologia do Esporte. Além dos Estados Unidos, outros países, como Alemanha, Japão e Rússia também começaram a investir em pesquisas na área. • 1920: Robert Schulte dirige um laboratório de psicologia na German High School for Physi- cal Education. • 1920: início do primeiro laboratório de Psicologia do Esporte, por P. A. Rudik, em Moscou, no Instituto Estatal de Cultura Física. Até então, alguns estudos isolados eram realizados, porém o americano Coleman Gri- ith passa a dedicar sua carreira aos estudos da Psicologia, no contexto esportivo. En- quanto psicólogo da University of Illinois, foi nomeado diretor, em 1925, do laboratório intitulado Research in Athletics Laboratory, o que lhe confere reconhecimento como o pai da Psicologia do Esporte, na América do Norte (GOULD; VOELKER, 2014). Entre os anos de 1921 e 1931, Griith publicou 25 artigos oriundos de pesquisas realizadas sobre Psicologia do Esporte. Desenvolvimento de laboratórios e de testes psicológicos EDUCAÇÃO FÍSICA 17 1939-1965 1966-1977 D e st a q u e s d o P e rí o d o 3 D e st a q u e s d o P e rí o d o 4 Já na década de 1940, entra um novo período do desenvolvimento da área, em que os estudos tornam-se mais especíicos e, na University of California, em Berkeley, Franklin Henry foi um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento cientíico da Psicologia do Esporte (WEINBERG; GOULD, 2017). • 1943: Dorothy Yates trabalha com boxeadores universitários e estuda os efeitos de inter- venções de seu treino com relaxamento. • 1949: Warren Johnson avalia as emoções experimentadas pelos atletas antes das com- petições. • 1951: John Lawther publica Psychology of Coaching. Além dos Estados Unidos, outros países, como Austrália, Brasil, Inglaterra, Alemanha, Itália, Japão e União Soviética começam a apresentar estudos e trabalhos realizados no contexto da Psicologia do Esporte. Neste período, o trabalho com atletas envolvia técni- cas comportamentais, cognitivas, e, principalmente Franklin Henry e Anna Espenscha- de recomendavam a prática mental e visualização (EKLUND; TENENBAUM, 2014). Este período de desenvolvimento cientíico leva à realização do primeiro Congresso Mundial de Psicologia do Esporte, em Roma, no ano de 1965. Nesta cidade, também foi fundada a International Society of Sport Psychology (ISSP). Preparação para o futuro Todos estes fatos que marcam o início da área fazem com que ela chegue às univer- sidades de forma mais especíica, não apenas em laboratórios ou estudos isolados, mas também em disciplinas dos cursos de graduação. Ao mesmo tempo, outras as- sociações nacionais surgem também em diversos países. Em 1966, surgem a Associa- tion for Sport Psychology, na Alemanha, e a North American Society for the Psychology of Sport and Physical Activity (NASPSPA), nos Estados Unidos, e, em 1967, a British Society of Sports Psychology (Inglaterra) e a French Society of Sports Psychology (França) (EKLUND; TENENBAUM, 2014). Estabelecimento da psicologia do esporte como disciplina acadêmica EDUCAÇÃO FÍSICA 21 A principal estratégia utilizada para que a área de- senvolva-se no contexto acadêmico, no Brasil, é a criação de laboratórios de pesquisa especializados e também a realização de eventos cientíicos que dão suporte e abrem espaço para as discussões teóricas e práticas entre proissionais da área. A Psicologia do Esporte e do Exercício é uma ciência e precisa ser compreendida como tal. Por isso a importância de que ela seja inserida cada vez mais no contexto acadêmico, abarcando os três pi- lares que podemos citar como sendo as principais áreas de atuação, na atualidade. Alguns autores, que, no Brasil, a disciplina de Psicologia do Espor- te e do Exercício não está presente em grande parte dos cursos de graduação de Psicologia, ou está pre- sente apenas como uma disciplina eletiva. Fato que não ocorre com os cursos de Educação Física, pois a maioria destes apresenta a disciplina como parte obrigatória de sua matriz curricular (RUBIO, 2000). como Samulski (2009) e Weinberg e Gould (2017) apontam que o proissional que atua hoje no cam- po da Psicologia do Esporte tem a possibilidade de atuar em diversas carreiras. Porém há três papéis básicos que condensam as principais atividades, são eles: o papel de pesquisador, o papel de profes- sor e o papel de consultor. O primeiro registro da relação entre a Psico- logia aplicada ao esporte no Brasil é de 1954. Nesse ano, João Carvalhaes foi contratado pela Federação Paulista de Futebol para tra- balhar na avaliação, seleção e treinamento de árbitros de futebol. Devido à divulgação de seu trabalho com os árbitros, em 1957, foi contratado para aplicar a Psicologia nos atletas do São Paulo Futebol Clube. Nesse mesmo ano, foi convocado para compor a comissão técnica da Seleção Brasileira de Futebol, responsável pela preparação para a Copa de 1958. Fonte: Hernandez (2011). SAIBA MAIS A Psicologia do Esporte e do Exercício per- mite um leque amplo de possibilidades de atuação. Proissionaisde Educação Física e de Psicologia devem unir esforços para que esta área se fortaleça ainda mais no Brasil. REFLITA Figura 1 - Os três papéis básicos da Psicologia do Esporte e do Exercício Fonte: o autor. 22 PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO FUNÇÃO DE PESQUISA A pesquisa é uma função muito importante no con- texto da Psicologia do Esporte e do Exercício. Neste caso, o papel de pesquisador é aquele desenvolvido no campo acadêmico e tem por objetivo aumentar o conhecimento cientíico da área, por meio de pes- quisas cientíicas. A maioria dos psicólogos e pro- issionais de Educação Física que atuam na área e que estão vinculados a alguma universidade empe- nham-se em desenvolver pesquisas para compreen- der melhor este contexto. Uma das vantagens da área acadêmica é a possibilidade de realizar pesquisas em conjunto com outros proissionais, o que pode cola- borar para aumentar a interdisciplinaridade da área, fato este importante tendo em vista que o sujeito que está inserido no contexto esportivo precisa ser pensado enquanto um sujeito biopsicossocial, como já descrito por Urie Bronfenbrenner, na década de 1970 (ROSA; TUDGE, 2013). Como já destacado, o papel desempenhado neste caso é o de pesquisador, que pode desenvol- ver teorias, procedimentos de avaliação de atletas e pessoas envolvidas no contexto esportivo, além de compreender melhor as variáveis psicológicas que estão envolvidas no esporte e na atividade física. O conhecimento que é adquirido na pesquisa servirá de base para uma função que discutiremos em bre- ve, que é o da intervenção. FUNÇÃO DE ENSINO Talvez a área que mais se destaca no Brasil, a área do ensino é composta por professores que compar- tilham seu conhecimento com alunos interessados em conhecer melhor a área. Muitos especialistas em Psicologia do Esporte e do Exercício estão no con- texto acadêmico, ministrando cursos universitários e compondo corpo docente em disciplinas de cursos de graduação em Psicologia e Educação Física. Es- tes transmitem seu conhecimento e suas habilidades técnicas acerca da área, e é o principal momento em que se pode compreender a relação entre fatores psi- cológicos e a prática esportiva ou de atividade física. Samulski (2009) destaca algumas metas que de- vem ser seguidas pelos professores neste contexto, ou seja, os principais pontos a serem transmitidos aos alunos, como: • Princípios e fundamentos psicológicos presen- tes nos processos de aprendizagem e de ensino. • Conhecimentos e capacidades psicológicas para a educação prática nos diversos setores de aplicação no esporte. • Conhecimentos e técnicas em metodologia da pesquisa psicológica. FUNÇÃO DE INTERVENÇÃO Após um período de formação proissional, é pos- sível assumir uma posição de intervenção junto a atletas de esporte individual ou coletivo. O principal objetivo, neste caso, é trabalhar para o desenvolvi- mento de habilidades psicológicas para melhorar o desempenho em competições e treinamento (VE- ALEY, 2007). Esta seria, talvez, a função que mais necessita de desenvolvimento no Brasil, tendo em vista a não existência de uma formação especíica e também a falta de conhecimento sobre qual seria o papel de um psicólogo esportivo junto a uma equipe ou a um atleta. Há muitas atividades que um psicólogo esportivo pode realizar junto a equipes esportivas, EDUCAÇÃO FÍSICA 23 atletas proissionais e amadores, atletas de equipes escolares, ou seja, em qualquer contexto envolvendo esporte e atividade física, o psicólogo poderá atuar visando ao auxílio dos envolvidos. No entanto, é pos- sível dividirmos em dois tipos de especialidades que encontramos na Psicologia do Esporte e do Exercí- cio contemporâneo: Psicologia Clínica do Esporte e Psicologia Educacional do Esporte. Veremos quais as principais características de cada uma delas. Psicologia Clínica do Esporte De acordo com Brewer e Petrie (2014) e Proctor e Boan-Lenzo (2010), esta é a área em que os prois- sionais são qualiicados, extensivamente, em Psico- logia. Isso porque aprendem a detectar e a tratar in- divíduos que apresentam algum tipo de transtorno emocional, como depressão, ansiedade, tendências suicidas, entre outros transtornos que são detecta- dos também na população geral. Além disso, este trabalho exige uma autorização especíica que, neste caso, é dada pelos Conselhos Federal e Regional de Psicologia, tendo em vista a profundidade de alguns destes problemas, exigindo uma qualiicação especí- ica para tal. Há um mito de que o atleta proissional não apre- senta transtornos emocionais, pois este é visto pela população como um sujeito saudável, física e psico- logicamente. Mas, assim como a população geral, os atletas e praticantes de atividade física desenvolvem desde transtornos leves até transtornos emocionais graves, necessitando, assim, de tratamento especíico. Os transtornos mentais estão presentes em qualquer estágio do desenvolvimento humano, alguns momen- tos com maior prevalência que outros, mas há sempre a necessidade de cuidado (GULLIVER et al., 2012). Psicologia Educacional do Esporte Nesta especialidade, os proissionais recebem trei- namento extensivo na área de ciência do esporte e do exercício, em Educação Física e em Cinesiolo- gia. Esta é uma área em que os proissionais não são habilitados a tratar transtornos emocionais, estando capacitados apenas a compreender os as- pectos psicológicos que podem contribuir para um melhor desempenho dos atletas e praticantes de atividade física. Este é o gancho importante para justiicar como os proissionais da Educação Física podem trabalhar com Psicologia do Esporte e do Exercício. O controle da ansiedade, o auxílio no desenvol- vimento de habilidades psicológicas, da coniança e do autocontrole são elementos que não neces- sitam de uma habilitação em Psicologia para tal. Isso porque, na maioria dos casos, é o treinador, o preparador físico e o especialista em Ciências do Esporte que convivem diariamente com o atleta, estando em contato diário com suas característi- cas mentais positivas e negativas (SI; STATLER; SAMULSKI, 2014). EDUCAÇÃO FÍSICA 25 TENENBAUM, 2007). Desenvolver habilidades pessoais, a percepção psicológica em função do ad- versário (COIMBRA; BARA FILHO; MIRANDA, 2013), a autoconiança (PALUDO et al., 2016), a autodeterminação (OLIVEIRA et al., 2015), o con- trole das emoções (DIAS et al., 2013) são apenas al- gumas das possibilidades de trabalho, tendo como foco principal as situações concretas em que os atletas estão envolvidos. Há, ainda, a necessidade de se desenvolver um trabalho baseado nas características dos atletas. Principalmente quando se fala em equipes, há o de- saio de se pensar nas características individuais de cada um dos membros desta. Os estudos sobre per- sonalidade ajudam a compreender as características de cada sujeito, mas não determinam como estes se comportarão nem como responderão a determina- dos estímulos que são emitidos ao longo do proces- so (ROSADO; FONSECA; SERPA, 2013). Para isso, há diversas estratégias de treinamento psicológico que podem ser adaptadas às necessidades particu- lares de cada atleta, levando-os a um autoconheci- mento mais elaborado e a uma maior autogestão das emoções (WEINBERG; GOULD, 2017). As exigências de desempenho estão cada dia maiores, os atletas buscam a excelência a cada trei- namento, a cada competição, sendo este um dos fatores que, naturalmente, levam à percepção das diferenças entre um e outro. Proporcionalmente às exigências cada vez maiores, os atletas convivem com as pressões externas, o que interferem, direta- mente, no seu desempenho. Voltamos à discussão sobre a necessidade de pensarmos o sujeito (neste caso o atleta) como um ser biopsicossocial (ROSA; TUDGE, 2013), culminando na percepção de que a preparação esportivacompreende fatores físicos, técnicos, táticos e psicológicos. Toda preparação envolvida no contexto es- portivo deve ser pensada e organizada de forma a facilitar o trabalho. A intervenção psicológica deve ser estruturada de acordo com a realidade dos atletas e/ou da equipe esportiva, seguindo etapas e pensando na realidade de cada esporte. Neste caso, o proissional da psicologia, ao iniciar um trabalho no contexto esportivo, deve levar em consideração as características de periodização do treinamento dos atletas. Bompa (1999) apresenta três etapas que podem ser seguidas durante o que se conhece por uma tempo- rada de treinamento esportivo: (1) Preparação, (2) Competição e (3) Transição. A partir disso, Lidor, Blumenstein e Tenenbaum (2007) indicam que a preparação psicológica deve reletir as necessidades especíicas dos atletas em cada uma das fases. Sendo assim, a intervenção psicológica no contexto espor- tivo deve ocorrer com uma relação muito próxima da periodização do treinamento. 26 PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO Seguindo esta perspectiva, Vieira, Vissoci e Oli- veira (2010) aprofundaram esta discussão no cam- po da intervenção psicológica e descreveram quatro etapas que podem ser seguidas no acompanhamen- to de atletas de rendimento. A proposta foi dividida no seguinte modelo: • Etapa 1 - Contato inicial. • Etapa 2 - Levantamento das necessidades. • Etapa 3 - Programa de intervenção. • Etapa 4 - Avaliação dos resultados. As duas primeiras etapas do programa de inter- venção psicológica são as que ocorrem em menor tempo. Isso porque devem ser realizadas logo nos primeiros momentos da intervenção. Durante o contato inicial, é preciso informar aos envolvidos todas as etapas que serão realizadas bem como qual o papel de cada envolvido neste processo, momento de estabelecimento de rapport (vínculo entre psicó- logos e equipe esportiva) e também de deinição de metas/objetivos a serem atingidos, durante a tempo- rada. Os objetivos devem ser delimitados de acordo com o cronograma da equipe, as competições alvo, e também os objetivos individuais, tendo em vista que os atletas de esporte coletivo também têm suas metas individuais (WEINBERG; GOULD, 2017). Após todas as apresentações e já com as dúvidas sanadas, é o momento de a equipe psicológica realizar o levantamento das necessidades psicológicas para a equipe alvo. É preciso icar a par dos horários de trei- namentos, os tipos de treinamento e a rotina diária dos atletas, pois isto se torna uma ferramenta de conheci- mento individual e coletivo dos atletas. O foco princi- pal é avaliar variáveis psicológicas da equipe e comissão técnica. São utilizados testes psicométricos individuais, entrevistas e observações de conduta em treinamentos e competições (VIEIRA; VISSOCI; OLIVEIRA, 2010). Os dados obtidos nesta avaliação serão utili- zados no decorrer do trabalho, mas uma das ava- liações que ocorre durante todo o trabalho é a observação sistemática de treinamentos e competi- ções, pois, quando realizada de maneira especíica, funciona como um instrumento que permite aos proissionais da psicologia identiicarem padrões de comportamentos dos atletas, da comissão téc- nica, bem como relacionar estes padrões de com- portamento dos atletas com o desempenho destes (CILLO, 2003). As características psicológicas po- sitivas e negativas devem ser levadas em considera- ção a todo momento, pois, silenciosamente, podem levar os atletas a aumentarem ou diminuírem seu desempenho, muitas vezes, de forma silenciosa, e, ao serem negligenciadas, podem causar sérias con- sequências no decorrer da temporada. Com as informações coletadas, chega o mo- mento de executar o programa de inter- venção, que seguirá o calendário esportivo da equipe e/ou do atleta. A intervenção psi- cológica também deve se- guir uma periodização especíica, isto porque as exigências psico- lógicas em cada etapa da tempo- rada esportiva se alteram e precisam ser reguladas, dependendo das exigências. No traba- lho com atletas de mo- dalidades individu- ais, as sessões são EDUCAÇÃO FÍSICA 27 realizadas de acordo com as necessidades destes, mas a periodicidade semanal é uma das priori- dades. Nos esportes coletivos, esta periodicidade também é preservada com atividades em grupo, mas, neste caso, há uma especiicidade que deve ser levada em conta, as intervenções individuais com os atletas, pois esta individualidade também precisa ser trabalhada, não com tanta frequência quanto às atividades em grupo, mas sempre que se achar necessário (SAMULSKI, 2009). As intervenções são realizadas de um lado com características pedagógicas, visando a levar os atletas a conhecerem os conceitos psicológicos que os afetam diariamente, tais como ativação, an- siedade, humor, motivação para a prática, entre outros. Este conhecimento inicial tem por obje- tivo fazer com que os atletas cheguem a um au- toconhecimento sobre suas características, sendo capazes de resolver seus próprios conlitos emocionais, principalmente, em momentos de tensão e competição (LIDOR; BLUMENSTEIN; TE- NENBAUM, 2007). Temas gerais de discus- são, como coesão de gru- po, motivação para a prática esportiva, melhora da comu- nicação entre os membros e auto- gestão da saúde mental são es- senciais em qual- quer equipe. Mas fatores especíi- cos são levados em conta após o levantamento das necessidades individuais. Cada equipe terá suas pró- prias características, e isso deve ser levado em conta. O treinamento psicológico que é fornecido aos atle- tas torna-se importante, pois é uma das formas de levá-los ao autoconhecimento e à maior capacidade de lidar de maneira eicaz com as exigências físicas e emocionais às quais são expostos (WEINBERG; GOULD, 2017). A intervenção psicológica propriamente dita dura o tempo necessário, de acordo com o crono- grama da temporada em questão e, ao im, é pre- ciso realizar uma avaliação de todo o processo, vi- sando a destacar os pontos positivos e negativos do trabalho. Uma forma de se fazer esta avaliação é pelos resultados da equipe ou dos atletas durante a temporada, mas basear o sucesso ou o fracasso de um trabalho apenas pelos títulos alcançados pode ser uma estratégia não muito adequada (ÁLVAREZ et al., 2013). É preciso reconhecer quais mudanças signii- cativas ocorreram durante este processo, como os atletas se percebem após todo o trabalho realizado, a opinião da comissão técnica, ou seja, de todos os envolvidos. Pois, apenas com esta avaliação inal é possível realizar uma reestruturação do trabalho para que no ano seguinte as atividades possam ser realizadas de forma mais especíica possível. O ob- jetivo sempre será levar os atletas a melhorarem seu desempenho esportivo, mas isso só será possí- vel se metas reais forem traçadas. Metas reais ten- dem a ser atingidas com trabalho e dedicação, mas metas que são deinidas sem uma avaliação correta tendem a não ser atingidas e podem gerar frus- tração, sendo um ponto muito negativo em qual- quer trabalho que seja realizado (WEINBERG; GOULD, 2017). EDUCAÇÃO FÍSICA 29 capacidades individuais dos alunos e os incenti- varem a praticarem atividades que estimulem sua mente. Além disso, o desenvolvimento humano deve ser encarado como um processo que ocorre em diversas frentes: físico, cognitivo, afetivo, social e moral (SANTOS, 2016). iniciação de uma criança no esporte é permeada de mudanças, novas interações sociais e a possibilidade de se adaptar a novas realidades. O esporte praticado nas escolas pode ser tam- bém um trampolim para a proissionalização. E este aspecto envolve também um ponto importante, que é o econômico. Quanto mais desigualdade social um país apresenta, mais as pessoas buscam alternativas para melhorar suas condições de vida, e o esporteé uma destas ferramentas (MACHADO; MOIOLI; PRESOTO, 2016). Por isso, as relações devem ser estabelecidas sempre visando o desenvolvimento natural das crianças, sem a obrigatoriedade de se re- alizar uma atividade não desejada. A prática esportiva na infância não deve ser en- carada apenas como um trampolim social, tampou- co como uma obrigatoriedade de que estas crianças venham a se tornar atletas proissionais. Mesmo que a etapa escolar seja um momento de desligamento das questões familiares, a família continua com um papel fundamental no desenvolvimento das crian- ças, motivo este pelo qual as discussões sobre a rela- ção cada vez mais próxima das famílias com o con- texto escolar são importantes. Toda atividade que o ser humano realiza pre- cisa ser um momento que lhe cause prazer, e com as crianças e os adolescentes não é diferente. Este início da carreira esportiva pode ser um momento não tão agradável assim, tendo em vista as diversas variáveis envolvidas neste processo. Estas variáveis terão sua parcela de inluência na continuidade da prática esportiva, mas também na possibilidade de abandono da prática. Algumas pesquisas têm sido conduzidas com o intuito de compreender o que se chama de dropout, um fenômeno para nomear o abandono esportivo (PIRES; BRANDÃO; MACHADO, 2005). Há di- Há sempre um foco maior em atletas proissionais quando o assunto é esporte, mas estes mesmos atle- tas tiveram seu período de aprendizagem e de de- senvolvimento antes de se tornarem os atletas que são. O comportamento humano adapta-se de acor- do com as características do ambiente em que está inserido e, durante seu desenvolvimento, há com- portamentos que são inatos (ligados aos fatores bio- lógicos) e os que são moldados pela atividade cultu- ral das pessoas com as quais se relaciona. Berger e Luckmann (2012) descrevem que o indivíduo nasce e se torna membro de uma sociedade, ou seja, é um ser social, que vive em grupo. Ao sair do seio da família e adentrar ao contexto escolar, a criança passa a se relacionar com pessoas de outras culturas e locais, rompendo com o modelo de educação que vinha recebendo em casa, e, assim, passa a receber inluência deste novo núcleo de con- vivência (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). A 30 PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO versas causas para o abandono precoce da prática esportiva, tais como as elevadas exigências técnicas, os treinos exaustivos e a não adaptação psicológica às demandas do contexto (FONSECA; ZECHIN; MANGINI, 2014). A intervenção psicológica, no contexto do início da carreira esportiva, perpassa também o contexto escolar e deve ser realizada de forma adequada, ten- do em vista sua complexidade, pois envolve múlti- plas responsabilidades. Estas responsabilidades são referentes aos próprios atletas jovens, aos pais, aos técnicos, aos professores, aos árbitros e, até mesmo, aos torcedores que acompanham o desenvolvimen- to dos jovens atletas. A intervenção, neste momento, visa a uma relexão por parte dos envolvidos de que o futuro é incerto, e o trabalho a ser realizado neste momento é o de direcionar o jovem a ter a capacida- de de decidir o que fará com sua vida ao longo dos anos que virão. É preciso icar atento, pois o esporte com crianças e adolescentes também tem um caráter recreativo e formativo. Não necessariamente se tornarão grandes atletas do esporte mundial, mas, claro, os exemplos dos adultos devem ser utiliza- dos também, tendo em vista que as crianças e os jovens seguem seus passos, e a responsabilidade destes chamados “exemplos” cresce a cada com- portamento realizado. 31 considerações inais Para encerrar, faremos uma retomada do assunto que foi discutido nesta Unidade cuja estrutura foi elaborada com o intuito de que você, aluno(a), fosse apresenta- do(a) aos elementos iniciais da Psicologia do Esporte e do Exercício. Foram apresentados quatro tópicos principais para a compreensão inicial da área. Iniciamos falando um pouco sobre como começaram as discussões relacio- nadas à importância da Psicologia ao ser utilizada no contexto esportivo para ajudar os atletas a melhorarem seu desempenho. Este início foi marcado por ex- periências especíicas, em determinados países que ainda hoje são os grandes produtores cientíicos da área. Em seguida, entramos nas discussões sobre como a Psicologia do Esporte e do Exercício está na atualidade, as relações entre a Educação Física e a Psicolo- gia, como grandes áreas precisam se estreitar cada vez mais, sempre buscando o desenvolvimento dos interesses em comum. Só com a união dos proissionais é que poderemos ter mais destaque no trabalho com o contexto esportivo e a atividade física. Finalizamos a Unidade I apresentando duas formas de pensar a atuação da Psicologia do Esporte e do Exercício hoje. A intervenção no esporte de rendi- mento, que é o campo de trabalho em que as pessoas mais acreditam estar inseri- da a Psicologia. Mas não devemos nos esquecer de que os grandes atletas inicia- ram suas carreiras em locais e equipes com características diferentes. O início da carreira e seu desenvolvimento, que será discutido de forma mais especíica na Unidade II, precisa ser considerado e, muitas vezes, o esporte escolar é o início de muitas carreiras de sucesso. Espero que esta explicação inicial tenha despertado em você o interesse por compreender melhor quais as contribuições que a Psicologia pode trazer para o contexto esportivo. Cada área com suas especiicidades pode e deve contribuir para o desenvolvimento humano e, assim, levar os atletas a melhores desempe- nhos, dentro de suas próprias possibilidades. 32 atividades de estudo 1. Mário sempre quis ser professor de Educação Física, no entanto ele se sente frus- trado porque seus alunos do Ensino Médio têm pouco interesse em desenvolver capacidades e em aprender habilidades básicas. O objetivo de Mário é motivar os alunos sedentários a engajarem-se em atividades físicas. Neste sentido, é im- portante que Mário conheça alguns elementos principais da área chamada Psi- cologia do Esporte (WEINBERG; GOULD, 2008). Considere as assertivas a seguir: I - O psicólogo do esporte e do exercício identiica princípios e diretrizes que os proissionais podem usar para ajudar adultos e crianças a participarem e se beneiciarem de atividades esportivas e de exercícios. II - Entender como os fatores psicológicos afetam o desempenho físico de um indivíduo pode ser considerado um dos objetivos da Psicologia do Esporte. III - Entender como a participação em esportes e exercícios afeta o desen- volvimento psicológico, a saúde e o bem-estar de uma pessoa pode ser considerado um dos objetivos da Psicologia do Esporte. IV - A Psicologia do Esporte aplica-se a uma ampla parcela da população. Assinale a alternativa que contenha assertivas verdadeiras sobre a Psicologia do Esporte: a) I e II. b) II e III. c) I e III. d) I e IV. e) I, II, III e IV. 2. Os proissionais que atuam no contexto da Psicologia do Esporte e do Exercício têm possibilidade de atuação junto a diversos atletas e a modalidades esportivas, e não apenas atletas proissionais, como também atletas amadores e aqueles que praticam atividade física. Analise as alternativas a seguir e assinale aquela que melhor representa o motivo pelo qual cada um destes tipos de atletas prati- cam o esporte/atividade física. Siga a ordem: atletas proissionais, atletas amado- res e praticantes de atividade física. a) Orientados para performance; orientados para a superação de recordes; foco na competição. b) Orientados para competição; orientados para o bem-estar; orientados para o lazer. c) Opção proissional; foco na superação pessoal; prazer da atividade física. d) Questão de sobrevivência; escolha da prática como meio de vida; diiculda- de em aderir ao exercício. e) Relexão sobre a prática; cobrança pessoal e institucional; sem intenção decompetir. 33 atividades de estudo 3. Há muito o que se fazer no contexto da Psicologia do Esporte e do Exercício, e isso se deine, também, dependendo da área em que se atua. É possível inserir o trabalho da Psicologia do Esporte e do Exercício em diversas frentes, como o esporte de rendimento, esporte escolar, esporte recreativo, prevenção, saúde e reabilitação. Assinale a alternativa correta sobre o esporte escolar: a) Contexto em que se analisa a modiicação dos fatores psíquicos determi- nantes do rendimento no esporte, com a inalidade de melhorá-lo e otimi- zar o processo de recuperação. b) É o contexto em que se analisa o comportamento recreativo de grupos de diferentes faixas etárias, classes socioeconômicas e atuações de dife- rentes motivos. c) Parte do princípio de se analisar, por um lado, os processos de ensino e aprendizagem e, por outro, processos de educação e socialização. d) Principais temas de análise são esporte e personalidade, agressão, inte- ração entre treinador e atleta, estresse psíquico na competição e motiva- ção esportiva. e) Contexto em que são pesquisadas as possibilidades preventivas e terapêu- ticas do esporte. 4. Muitas discussões são realizadas atualmente sobre esta área de atuação, conhe- cida como Psicologia do Esporte e do Exercício, por isso, é importante conhecer qual o propósito desta área. Baseando-se nas discussões de Weinberg e Gould (2007), descreva o que é (deinição) Psicologia do Esporte e do Exercício, ressal- tando quais os dois objetivos principais desta área de atuação. 5. A atuação proissional mais conhecida no contexto da Psicologia do Esporte e do Exercício está relacionada aos esportes de alto rendimento, mas não é só isso o foco do psicólogo do esporte. Os psicólogos do esporte modernos seguem car- reiras variadas, desempenhando três papéis básicos em suas atividades prois- sionais. Explique quais são os três campos de atuação de um psicólogo esportivo, abordando seus papéis principais. 36 referências ÁLVAREZ, O.; FALCO, C.; ESTEVAN, I.; MOLI- NA-GARCÍA, J.; CASTILLO, I. Intervención psico- lógica en un equipo de gimnasia rítmica deportiva: Estudio de un caso. Revista de Psicología del Depor- te. v. 22, n. 2, p. 395-401, 2013. ANDRADE, A.; BRANDT, R.; DOMINSKI, F. H.; VILARINO, G. T.; COIMBRA, D.; MOREIRA, M. 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A partir daí, estudaremos também uma característica que todos te- mos, mas que também é muito especíica, a personalidade. Esta precisa ser compreendida dentro de alguns parâmetros para que, cientiicamen- te, possamos entender melhor as pessoas com quem convivemos. E já que falaremos sobre desenvolvimento humano, estudaremos, também, como se dá o desenvolvimento de crianças e adolescentes por meio do esporte e quais as contribuições que o contexto esportivo pode trazer para este público, como ser um elemento de desenvolvimento moral. Por im, veremos por quais fases estas crianças e adolescentes passam até se tornarem atletas proissionais de sucesso ou, às vezes, nem tanto assim. É preciso, também, dividir as fases de desenvolvimento dentro do contexto esportivo para que, assim, possamos ter uma visão mais especí- ica em cada um dos momentos em que esses atletas estão vivendo. EDUCAÇÃO FÍSICA 45 Todo proissional que trabalha diretamente com pessoas deve ter conhecimento básico sobre como elas se comportam, como elas chegaram até ali, en- im, é preciso conhecê-las. A Psicologia, enquanto uma ciência, fornece elementos essenciais para que as pessoas possam se relacionar de forma eiciente e em busca de atingir os objetivos traçados em algum contexto, no nosso caso, o esportivo. Todas as decisões que tomamos ao longo de nos- sas vidas são baseadas na nossa história (passado), levando em consideração as pessoas com quem con- vivemos diariamente (presente) e, principalmente, pensando nos objetivos que pretendemos alcançar (futuro). Começamos, então, a nos questionar sobre o porquê de algumas pessoas escolherem se dedicar ao esporte e, dentro deste contexto, se dedicarem a modalidades esportivas especíicas (ALVES, 2015; SENA et al., 2017). Antes de falarmos em desenvolvimento do atle- ta, precisamos compreender o desenvolvimento do ser humano, pois, antes de escolher ser atleta, o in- divíduo precisa aprender a ser um sujeito posto em um contexto. As relações humanas são estabeleci- das, e o primeiro núcleo social em que a criança é inserida é a família (LEME et al., 2016), o que nos leva a compreender que as principais características que apresentamos atualmente foram também in- luenciadas por esta família. A Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Hu- mano, uma proposta consistente de Bronfenbrenner (2011), leva-nos a compreender, por exemplo, quais motivos levam as pessoas a se envolverem em de- terminadas atividades, entre elas, as atividades es- portivas. Esta teoria oferece-nos a possibilidade de compreender o desenvolvimento humano a partir de sistemas que inluenciam o desenvolvimento, ao mesmo tempo em que são inluenciados. Para começarmos a discutir essa teoria, precisa- mos entender sua principal característica. Segundo Bronfenbrenner (2011), o desenvolvimento humano é resultado da interação entre o indivíduo e o am- biente em que ele está inserido. Essa interação dá- -nos a perspectiva de compreender as características deste indivíduo, bem como as suas relações com as outras pessoas e com o ambiente. Além disso, é por meio dela que as atividades são realizadas e, tam- bém, sua história é construída. 46 PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO A partir do que se observa na Figura 1, podemos com- preender a divisão do desenvolvimento humano em etapas, ou melhor dizendo, em sistemas. O desenvolvi- mento humano é considerado um processo que depen- de de uma interação sinérgica de quatro componentes: o Processo, a Pessoa, o Contexto e o Tempo (BRON- FENBRENNER, 2011). Estas interações constantes ocorrem ao longo do desenvolvimento humano, que é tanto produto quanto produtor do seu processo. Veja- mos as características de cada um destes componentes: multidimensional que esta abordagem nos fornece, implicando respeitar o espaço de todos os proissio- nais envolvidos no processo. A representação gráica do modelo bioecológico pode ser uma das principais formas de compreen- dermos o seu signiicado. Isso pode ser ilustrado na Figura 1. As pesquisas sobre o desenvolvimento de atletas apresentam bastante semelhança com as caracterís- ticas da abordagem bioecológica, pois compreen- dem os processos que são gerados ao longo do tem- po e o desenvolvimento biopsicossocial do sujeito/ atleta que está dentro deste ambiente (ROTHER; MEJIA, 2015). Isto nos leva a considerar toda a ótica Figura 1 - Modelo de Bronfenbrenner Fonte: adaptado de Bronfenbrenner (2011). EDUCAÇÃO FÍSICA 47 PROCESSO O Processo representa todas as mudanças que ocorrem no desenvolvimento da pessoa. Bron- fenbrenner enfatizou o papel desempenhado pela pessoa em seu próprio desenvolvimento por meio de um mecanismo denominado processos proxi- mais (ROSA; TUDGE, 2013). As interações entre a pessoa e o ambiente são importantes, mas só serão eicazes se ocorrerem com regularidade e ao longo de períodos extensos de tempo (LEME et al., 2016). Os processos proximais são o centro da teoria bio- ecológica e são vistos como as forças motrizes do desenvolvimento humano (BRONFENBRENNER; MORRIS, 2006). PESSOA O segundo elemento considerado por Bron- fenbrenner em sua teoria é a Pessoa. Este elemen- to envolve características biológicas e psicológicas que são já determinadas, mas também envolve as características que surgem como resultado das in- terações com o ambiente (BRONFENBRENNER, 2011). Neste sentido é que se denominam caracte- rísticas biopsicológicas, que são produto e produ- toras do seu desenvolvimento. Leme et al. (2016) descrevem que este elemento Pessoa apresenta três características biopsicológicas, as quais denominam Força, Recursos e Demandas. Força A Força é considerada a mais provável de in- luenciar os resultados de desenvolvimento de uma pessoa, seja de forma geradora ou disrupti- va. As características desenvolvimentais gerado- ras contemplam a curiosidade, disposição para engajar-se em atividades solitárias ou coletivas, prontidão para seguir metas de longo prazo. Já as características disruptivas envolvem impulsivida- de, intempestividade, distração, falta de habilidade para adiar gratiicações imediatas, agressividade (ROSA; TUDGE, 2013). Recursos A característica dos Recursos é de inluenciar as ha- bilidades da pessoa em engajar-se efetivamente nos processos proximais (BRONFENBRENNER; MOR- RIS, 2006). Estes recursos podem sofrer algumas limitações, tais como deiciências que restringem ou inibem o desenvolvimento da pessoa. Estas de- iciências podem variar como doenças físicas e/ou mentais, distúrbios genéticos e também podem ser relacionados à competência da pessoa, ao conheci- mento e às experiênciasadquiridas ao longo da vida (LEME et al., 2016). Demandas Por im, as Demandas contemplam as caracterís- ticas da pessoa que estimulam ou desencorajam as reações ao ambiente, o que pode contribuir, ou não, para o aumento dos processos proximais (BRON- FENBRENNER; MORRIS, 2006). Um exemplo de como nossas características sofrem esta inluência são as questões de aparência física, idade, gênero e etnia, que são inluenciadas constantemente pelas crenças, pelos valores e pelos papéis sociais estabele- cidos pela cultura em que a pessoa vive. EDUCAÇÃO FÍSICA 51 Após compreendermos como se dá o desenvolvi- mento humano de forma geral, a partir dos conhe- cimentos de Bronfenbrenner (2011), precisamos detalhar algumas características individuais que nos levam a compreender melhor alguns compor- tamentos e atitudes das pessoas. Uma das carac- terísticas mais discutidas e também mais contro- versas é a personalidade, que, por si só, nos leva à compreensão de que somos seres humanos. A personalidade é a característica comum a todos os seres humanos e o que nos diferencia dos demais seres vivos. Muito se ouve, no dia a dia, sobre o que é perso- nalidade e, partindo para a literatura da Psicologia do Esporte, Weinberg e Gould (2017) descrevem-na como um conjunto de características de uma pessoa que a faz única. Pensando nesse conjunto de carac- terísticas, há diversas teorias e diversos instrumen- tos que são utilizados para descrever este fenômeno na vida do ser humano. As organizações esportivas fazem esforços constantes para um desenvolvimen- to dinâmico e o máximo de facilidades para manter seus atletas, mas, apesar de todo este esforço, apenas uma pequena parcela destes atletas chega ao topo (KHAN et al., 2016). É comum encontrarmos pesquisas no âmbito esportivo que analisam a personalidade dentro de padrões. Podemos considerar que as teorias que compõem o que se conhece por Abordagem Traço são muito utilizadas neste meio. Esta abordagem pressupõe que as características principais da perso- nalidade de uma pessoa são relativamente estáveis, ou seja, os traços são permanentes e consistentes em diversas situações. Um dos modelos mais aceitos hoje é o dos cinco grandes fatores da personalidade, conhecido também como Big 5 (ALLEN; GREEN- LESS; JONES, 2013). A razão para que os modelos da abordagem traço sejam muito utilizados no contexto esportivo circunda a necessidade de alguns treinadores e ges- tores esportivos compreenderem quais atletas terão sucesso, ou não, a partir de uma medida psicológica. Este fato é muito completo, tendo em vista que as características atuais de uma pessoa não determi- nam o caminho que ela seguirá. O fato de um atleta apresentar determinado traço psicológico que o pre- disponha a se comportar de determinada maneira não signiica que isso ocorrerá em todas as situações (WEINBERG; GOULD, 2017). O Modelo Big 5 é composto por cinco diferentes aspectos associados com o conceito de personalidade: • Variação individual de um indivíduo sobre o design evolucionário geral para a natureza humana, expressa como um padrão em de- senvolvimento de: • Traços disposicionais. • Adaptações características. • Histórias de vida integrativas complexas e di- ferencialmente situadas. • Em cultura (LIDOR, 2014). Baseados em teorias como esta, é possível veriicar o que se chama de “personalidade do esporte”, referên- cia a atletas que possuem determinadas caracterís- ticas e qualidades que os levam a se tornar grandes atletas, como disciplina, inteligência de jogo, con- trole emocional, motivação positiva, entre outros (SAMULSKI, 2009). A principal característica do modelo Big 5 é a deinição dos cinco traços de personalidade mais amplos, chamados de Extroversão, Amabilidade, Conscienciosidade, Neuroticismo e Abertura para Experiências (GOMES; GOLINO, 2012). Vejamos cada uma destas características como ilustradas na Figura 2. EDUCAÇÃO FÍSICA 55 EDUCAÇÃO FÍSICA 57 de regra social ou de justiça. O segundo momento, chamado Heteronomia, surge quando a criança já é capaz de compreender, rudimentarmente, as re- gras sociais e apresenta pouca noção de justiça. Já o último momento, conhecido por Autonomia, é a fase em que os adolescentes apresentam consciên- cia de que as regras são importantes instrumentos que regulam as relações sociais (FREITAS, 2002; LELEUX, 2003). A partir das discussões iniciais de Piaget, Kohl- berg (1964, 1981, 1984) desenvolve suas ideias empiricamente e sistematiza todo o conhecimen- to sobre o desenvolvimento moral em estágios sequenciais e organizados hierarquicamente. Ao apresentar o conceito de “competência moral”, Kohlberg (1964) explica como o sujeito tende a agir, conscientemente, quando se depara com situ- ações que envolvem aspectos morais. Por consciên- cia moral entende-se que é a “capacidade de tomar decisões e emitir juízos morais (baseados em prin- cípios internos) e a agir de acordo com tais juízos” (KOHLBERG, 1964, p. 425). Kohlberg (1971) explica esses conceitos por meio de três estágios de desenvolvimento moral (Pré-Convencional, Convencional e Pós-Conven- cional), e cada estágio é subdividido em dois níveis, como descritos a seguir: 58 PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO Estágios do Desenvolvimento Níveis de Consciência Moral Noção de Justiça Pré-Convencional 1. Orientação “Punição-obediência” Ordem Social Os mais fracos devem obediência aos mais fortes. A criança é capaz de responder a regras culturais, noção de bom e mau, certo e errado. 2. Orientação instrumental-relativista Polidez Troca de agrados ou ofensas. Tratar os outros como eles lhe tratam. Convencional 3. Orientação “Bom moço” Compreensão da regra de outro Relexão sobre o role taking. As crianças neste estágio demonstram como é importante satisfazer as expectativas da família ou do grupo social pertencente. Neste nível, observa-se uma orientação no sentido de autoridade, de papéis ixos e de manutenção da ordem 4. Orientação “Lei e Ordem” Perspectiva de manutenção da lei e da ordem Pós-Convencional 5. Orientação Legalismo social-contratual Princípio racional de legitimação do direito justa é aquela que é deinida em termos de direitos individuais gerais e padrões examinados pela sociedade Principal característica deste estágio é o sujeito agir de acordo com os princípios morais universais, baseados na reciprocidade e igualdade. conceitos de reversibilidade e universalidade. Neste período, justo é aquilo que é deinido pela decisão que é 6. Orientação no sentido de princípios éticos universais Moral point of view Quadro 1 - Etapas do desenvolvimento moral segundo Kohlberg Fonte: Kohlberg (1971, 1976, 1981). EDUCAÇÃO FÍSICA 59 Nível 1: Orientação “punição-obediência” Uma ação é considerada boa ou má a partir das consequências físicas que ela gera. As crianças neste nível ainda não conseguem realizar operações mentais concretas no sentido de reversibilidade, ou seja, no sentido da reci- procidade lógica. A justiça é compreendida no sentido de uma ordem social, castigo, punição (HABERMAS, 1990). Nível 2: Orientação instrumental-relativista Todas as ações que satisfazem instrumentalmente as próprias necessidades (e ocasionalmente a necessidade dos outros) são consideradas ações justas. A noção de reversibilidade lógica já está presente e pode ser ilus- trada no seguinte ponto: “tu te inclinas a mim e eu me inclino a ti” (HABERMAS, 1990, p. 60). Relexão sobre o Nível 3: Orientação “bom moço” O comportamento que agrada aos outros é considerado o ideal e adequado. As pessoas consideradas autori- dades e as instituições reconhecidas socialmente são importantes, pois as regras e convenções determinadas por elas embasam aquilo que é correto e moral. Este é o estágio em que o sujeito pode assumir uma função (role taking) ou diferentes papéis(APEL, 1994). expectativas da família ou do Nível 4: Orientação “lei e ordem” Neste nível, observa-se uma orientação no sentido de autoridade, de papéis ixos e de manutenção da ordem social (HABERMAS, 1990). A manutenção da ordem social é considerada a principal forma de perspectiva moral (BATAGLIA; MORAIS; LEPRE, 2010). Nível 5: Orientação Legalismo social-contratual Principal característica deste nível é o princípio do contrato social e dos direitos à vida e à liberdade, uma ação justa é aquela que é deinida em termos de direitos individuais gerais e padrões examinados pela sociedade (BATAGLIA; MORAIS; LEPRE, 2010). Mas é preciso considerar que alguns direitos e valores são considerados re- lativos, ou seja, devem ser sustentados por toda a sociedade, independente da opinião da maioria, neste caso, estamos falando de vida e liberdade (LELEUX, 2003). Nível 6: Orientação no sentido de princípios éticos universais Nível de desenvolvimento moral em que está presente o conceito de competência de juízo moral, além dos conceitos de reversibilidade e universalidade. Neste período, justo é aquilo que é deinido pela decisão que é tomada de forma autônoma, baseada na consciência, de acordo com os princípios éticos (KOHLBERG, 1964). Considera-se ainda que, neste nível de desenvolvimento moral, estejam presentes os princípios éticos univer- sais de justiça (igualdade de valores) válidos pela humanidade. EDUCAÇÃO FÍSICA 61 66 PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO Pensar na carreira esportiva baseada nestas fases é considerar uma carreira com transições chamadas normativas. Esta Transição Esportiva Normativa é re- lativamente previsível, segundo a lógica do desenvol- vimento esportivo, seguindo padrões de organização esportiva e sem levar em consideração aspectos que possam atrapalhar este desenvolvimento (STAMBU- LOVA, 2014). Mas é preciso pensar também nas Tran- sições Esportivas Não-Normativas, que são menos previsíveis e estão relacionadas às questões esportivas, como lesões, mudanças de clube, perda de patrocínio e também a questões não esportivas da vida do atleta, que envolvem a separação dos familiares, insucesso nos estudos, problemas inanceiros e relacionamentos afetivos (SAMULSKI; MARQUES, 2009). O apoio social e emocional ao atleta é de ex- trema importância nos momentos de transi- ção de carreira. (Geraldine M. Murphy) REFLITA Pensar nas etapas que um atleta pode passar ao longo de sua vida é de extrema importância, principalmente, porque, como vimos, há fatores que são mais previsí- veis e os que são menos previsíveis. O grande desaio desta temática e da prática é pensar no atleta a partir de seu desenvolvimento biopsicossocial e estar atento aos elementos que podem, de alguma maneira, inluenciar a transição de uma fase a outra. O trabalho realizado a partir da integração de diversos proissionais, como psicólogos, proissionais de Educação Física, especia- listas em Administração e Marketing Esportivo pode facilitar a possibilidade de diminuir os fatores que pos- sam por ventura prejudicar o andamento da carreir 67 considerações inais Chegamos ao inal da nossa Unidade II da disciplina de Psicologia do Esporte e do Exercício, em que começamos a compreender um pouco mais sobre as carac- terísticas especíicas das pessoas que estão envolvidas no contexto esportivo, no caso, os atletas. Discutimos, aqui, quatro pontos que são essenciais para compreendermos um pouco do que ocorre no desenvolvimento humano, baseando nossas discus- sões no contexto esportivo. Pensar no desenvolvimento humano é pensar em quais características são importantes neste momento e, para isso, utilizamos uma das teorias que nos levam a pensar de forma global este processo, a Teoria Bioe- cológica do Desenvolvimento Humano de Bronfenbrenner. Bronfenbrenner faz-nos pensar em como nossa vida vai se desenvolvendo em algumas etapas e em relações que vamos assumindo ao longo do tempo. Mas, in- dividualmente, é a personalidade que começa a ser importante, pois é o conjunto de características que adquirimos ao longo do tempo, a partir de características próprias e também de elementos de fora que são internalizados, do ambiente, das relações que estabelecemos. Ao entrarmos, especiicamente, no contexto esportivo, vimos como ocorre o desenvolvimento psicológico de crianças e adolescentes por meio do espor- te, assumindo que o esporte pode ser um ótimo contexto para se adquirir ca- racterísticas psicológicas e comportamentais positivas. Já, quando o assunto é esporte proissional, o desenvolvimento da carreira bem estabelecido torna-se fundamental para que o atleta possa realizar suas transições de fase de forma saudável até chegar a uma aposentadoria baseada em bons desempenhos e bons relacionamentos dentro do esporte. A partir destes elementos, o objetivo é levar a você, aluno(a), um pouco da compreensão de como as características individuais são importantes para o de- senvolvimento humano e também para o desenvolvimento esportivo, seja no contexto esportivo proissional, seja no contexto esportivo voltado para a quali- dade de vida e que contribui para o desenvolvimento humano. 68 atividades de estudo 1. As transições de carreira são elementos importantes para se compreender como o atleta reage às mudanças que ocorrem ao longo de sua vida. A fase de aposentadoria é considerada uma das mais complexas, tendo em vista que muitos atletas não se preparam para ela, e pode apresentar aspectos que diicultam a inalização saudável desta carreira esportiva. Considerando esta fase de aposentadoria, assinale a alternativa que contém indicadores deste processo mal elaborado: a) Diiculdade de desenvolver um novo papel social. b) Proximidade entre nível de aspiração e nível de habilidade. c) Relacionamentos de apoio ilimitados. d) Experiência prévia com situação de perda. e) Apoio das instituições esportivas para a superação desse momento. 2. A palavra personalidade tem origem no latim persona, que se referia a uma máscara teatral usada pelos atores romanos, nas encenações. Esses atores antigos usavam máscara, que representava o papel em que se projetava este “falso eu”. Sobre a personalidade, analise as airmativas a seguir: I - Por personalidade, os psicólogos contemporâneos querem referir-se àqueles padrões relativamente consistentes e duradouros de percep- ção, pensamento, sentimento e comportamento que dão às pessoas identidade distinta. II - Personalidade é o padrão de características constantes que produzem consistência e individualidade em determinada pessoa. III - A personalidade não pode ser vista como uma integração ou totalida- de complexa e dinâmica, moldada por muitas forças. Assinale a alternativa correta: a) Apenas a airmativa I é correta. b) Apenas a airmativa II é correta. c) Apenas a airmativa III é correta. d) Apenas as airmativas I e II são corretas. e) Todas as airmativas estão corretas. 69 atividades de estudo 3. Como abordamos, a personalidade é um aspecto do ser humano que lhe garante individualidade e permite que sejamos considerados únicos. O mo- delo Big 5 da personalidade tem sido um dos mais utilizados em diversos contextos, inclusive, no esportivo. Segundo o modelo dos fatores, são cinco as dimensões básicas da personalidade: Extroversão, Amabilidade, Conscien- ciosidade, Estabilidade Emocional (ou neurose) e Abertura para Experiências. Assinale a alternativa que apresenta a deinição correta do fator Extroversão: a) Propensão de um indivíduo para acatar a ideia dos outros. As pessoas com esta característica são cooperativas, receptivas e coniáveis. b) Uma pessoa com esta característica é responsável, organizada, coniá- vel e persistente. c) Refere-se à capacidade de uma pessoa para lidar com o estresse. As pessoas com esta característica costumam ser calmas, autoconiantes e seguras. d) Refere-se aos interesses de uma pessoa e ao seu fascínio