Prévia do material em texto
Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 1 TUTORIA 1 – MÓDULO 4 – 10/08/2020 SP1- “Por onde começar? ” 1) RECONHECER A HISTÓRIA DA IMPLANTAÇÃO DO SUS, COM SEUS PRINCÍPIOS E DIRETRIZES, ABRANGENDO O UNIVERSO DOS CUIDADOS À SAÚDE DA POPULAÇÃO NO PAÍS. LINHA DO TEMPO: A HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Com 518 anos de história brasileira – contados a partir da vinda dos portugueses –, as políticas de saúde sofreram diversas mudanças. Colonização e Império: pouco – ou nada – feito em relação à saúde pública no Brasil Como se sabe, antes da chegada de europeus em território brasileiro, os povos indígenas já o habitavam há centenas de anos. Os povos indígenas já tinham enfermidades, mas com a colonização portuguesa tudo piorou, principalmente pela conhecida expressão usada em aulas sobre a história do Brasil: as “doenças de branco”. Doenças comuns na Europa, que não existiam no Brasil, acabaram sendo trazidas. O ponto de atenção é de que os indígenas não tinham imunidade para elas e a consequência foi a morte de milhares deles. Durante os 389 anos de duração da Colônia e do Império, pouco ou nada foi feito com relação à saúde. Não havia políticas públicas estruturadas, muito menos a construção de centros de atendimento à população. Além disso, o acesso a tratamentos e cuidados médicos dependia da classe social: pessoas pobres e escravos viviam em condições duras e poucos sobreviviam às doenças que tinham. As pessoas nobres e colonos brancos, que tivessem terras e posses, tinham maior facilidade de acesso a médicos e remédios da época. Portanto, suas chances de sobrevivência eram maiores. Com a chegada da Família Real portuguesa ao Brasil, em 1808, e a sua vontade em desenvolver o Brasil para que se aproximasse da realidade vivida em Portugal, uma das primeiras medidas foi a fundação de cursos universitários. Foram criados cursos de Medicina, Cirurgia e Química, sendo os pioneiros: a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro e o Colégio Médico-Cirúrgico no Real Hospital Militar de Salvador. Assim, aos poucos, os médicos estrangeiros foram substituídos por médicos brasileiros, ou formados no Brasil. Caridade, filantropia e saúde: o papel das Santas Casas de Misericórdia A ligação entre entidades religiosas e tratamentos de saúde é bastante forte e existe desde a colonização do Brasil. Movimentos da Igreja Católica, da Igreja Protestante, da Igreja Evangélica, da Comunidade Espírita, entre outras, chegam a ter 2.100 estabelecimentos de saúde espalhados por todo o território brasileiro, de acordo com a Confederação de Santas Casas de Misericórdia (CMB). As Santas Casas de Misericórdia são uma dessas entidades que se destinaram a prestar assistência médica às pessoas. As santas casas foram, durante décadas, a única opção de acolhimento e tratamento de saúde para quem não tinha dinheiro. Elas eram fundadas pelos religiosos e, num primeiro momento, conectadas com a ideia de caridade – entre o século XVIII e o ano de 1837. Sobre seu financiamento, a CMB explica: “desde sua origem, até o início das relações com os governos (especialmente na década de 1960), as Santas Casas foram criadas e mantidas pelas doações das comunidades, vivendo períodos áureos, em que construíram seus patrimônios, sendo boa parte destes tombados como patrimônio histórico.” De acordo com a Confederação das Santas Casas de Misericórdia do Brasil, o surgimento das primeiras santas casas Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 2 coincidiu já com o “descobrimento” do Brasil. Elas foram criadas antes mesmo de o país se organizar juridicamente e determinar as funções do Estado – a organização jurídica brasileira ocorreu, de fato, com a Constituição Imperial de 1824. Antes da Constituição de 1824, algumas das santas casas no Brasil eram: as Santas Casas de Santos (1543), Salvador (1549), Rio de Janeiro (1567), Vitória (1818), São Paulo (1599), João Pessoa (1602), Belém (1619), entre diversas outras. De 1838 a 1940, as santas casas mudaram seu propósito e começaram a agir por meio da filantropia, que é, de acordo com a CMB, uma forma de “tornar a ajuda útil àqueles que dela necessitam”. Mais importante do que bens, a filantropia seria a orientação das pessoas e a preocupação com o seu bem- estar futuro. Independência ou morte? Mudanças nas políticas de saúde durante o Império Em 1822, D. Pedro II declara a independência brasileira com relação a Portugal bradando: “Independência ou morte!”. Relacionando o bordão com a saúde pública, pode-se dizer que houve avanços durante o período imperial – de acordo com o Dr. Dráuzio Varella, pouco eficazes. Além de transformar escolas em faculdades, D. Pedro II criou órgãos para vistoriar a higiene pública principalmente na nova capital brasileira, o Rio de Janeiro. A cidade, além de sofrer diversas mudanças urbanas, como calçamento de ruas e iluminação pública, também visava a higienizar o centro urbano – de maneira sanitária e social. Social, pois expulsava do centro da cidade os casebres e as pessoas de classe social mais inferior, proliferando então o desenvolvimento de favelas nas áreas periféricas. A higienização sanitária deveria ocorrer por conta das recorrentes endemias de febre amarela, peste bubônica, malária e varíola, doenças associadas à falta de saneamento básico e de higiene. Os esgotos, na época, corriam a céu aberto e o lixo era depositado em valas. Assim, o alvo da campanha pela saúde pública nesse princípio de século XIX foi estruturar o saneamento básico. Saúde pública na República: as vacinas e os sanitaristas Com a declaração do fim da escravidão em 1888, o país ficou dependente de mão de obra imigrante para continuar no cultivo de insumos que eram a base da economia brasileira, principalmente o café. Entre 1900 e 1920, o Brasil ainda era refém dos problemas sanitários e das epidemias. Portanto, para a recepção dos imigrantes europeus, houve diversas reformas urbanas e sanitárias nas grandes cidades, como o Rio de Janeiro, em que houve atenção especial às suas áreas portuárias. Para o governo, o crescimento do país dependia de uma população saudável e com capacidade produtiva, portanto era de seu interesse que sua saúde estivesse em bom estado. Os sanitaristas comandaram esse período com campanhas de saúde, sendo um dos destaques o médico Oswaldo Cruz, que enfrentou revoltas populares na defesa da vacina obrigatória contra a varíola – na época, a população revoltou-se com a medida, pois não foram explicados os objetivos da campanha e do que se tratavam as vacinas. As ações dos sanitaristas chegaram até o Sertão Nordestino, divulgando a importância dos cuidados com a saúde no meio rural. Lá, porém, as pessoas eram muito pobres econtinuavam em moradias precárias, vitimadas por doenças mesmo com a disseminação de vacinas. Ainda nos anos de 1920, foram criadas as CAPS: Caixas de Aposentadoria e Pensão. Os trabalhadores as criaram para garantir proteção na velhice e na doença. Posteriormente e devido à pressão popular, Getúlio Vargas ampliou as CAPS para outras categorias profissionais, tornando-se o IAPS: Instituto de Aposentadorias e Pensões. Período Getulista: o começo da organização das leis Com a presidência de Getúlio Vargas, houve reformulações no sistema a fim de criar uma atuação mais centralizada, inclusive quanto à saúde pública. O foco de seu governo foi o tratamento de Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 3 epidemias e endemias, sem muitos avanços, pois os recursos destinados à saúde eram desviados a outros setores – de acordo com o Dr. Dráuzio Varella, parte dos recursos dos IAPS ia para o financiamento da industrialização. A Constituição de 1934, promulgada durante o governoVargas, concedia novos direitos aos trabalhadores, como assistência médica e “licença-gestante”. Além disso, a Consolidação das Leis Trabalhistas de 1943, a CLT, determina aos trabalhadores de carteira assinada, além do salário mínimo, também benefícios à saúde. Anos 50 e a 3a Conferência Nacional da Saúde Em 1953, foi criado o Ministério da Saúde. Foi a primeira vez em que houve um ministério dedicado exclusivamente à criação de políticas de saúde, com foco principalmente no atendimento em zonas rurais, já que nas cidades a saúde era privilégio de quem tinha carteira assinada. As Conferências Nacionais de Saúde tiveram um papel muito importante na consolidação do entendimento da importância da saúde pública no Brasil. A 3a Conferência Nacional de Saúde ocorreu nofinal de 1963 e apresentou diversos estudos sobre a criação de um sistema de saúde. De acordo com o doutor em saúde pública Gilson Carvalho, houve duas bandeiras principais nessa conferência: 1. A criação de um sistema de saúde para todos, o direito à saúde deveria ser universal; 2. A organização de um sistema descentralizado, visando ao protagonismo do município. Além disso, afirma que a ditadura militar, iniciada em março de 1964, sepultou a proposta poucos meses depois. A saúde pública durante a ditadura militar (1964-1985) A saúde sofreu com o corte de verbas durante o período de regime militar e doenças como dengue, meningite e malária se intensificaram. Houve aumento das epidemias e da mortalidade infantil, até que o governo buscou fazer algo. Uma das medidas foi a criação do INPS (Instituto Nacional de Previdência Social), que foi a união de todos os órgãos previdenciários que funcionavam desde 1930, a fim de melhorar o atendimento médico. Passou-se a enxergar a atenção primária de pacientes cada vez mais como responsabilidade dos municípios; os casos mais complexos eram responsabilidade dos governos estadual e federal. De acordo com o Dr. Gilson Carvalho, houve “projetos privatizantes como o do Vale Consulta e para as regiões mais pobres uma reedição da Fundação Sesp denominado Programa de Interiorização de Ações e Serviços de Saúde (Piass). O Piass não se implantou por falta de vontade política dos governos à época. Tinha mais virtudes que defeitos. Faltou interesse público para levá-lo à frente.” Durante os anos de 1970, mesmo no auge do milagre econômico, as verbas para saúde eram baixas: 1% do orçamento geral da União. Ao fim da década, as prefeituras das cidades que mais cresciam começaram a se organizar para receber e conceder aos migrantes algum tipo de atendimento na área da saúde. Começou-se a estruturar políticas públicas que envolveram as Secretarias Municipais de Saúde, que depois se estenderam aos estados e a ministérios, como os Ministérios da Previdência Social e da Saúde. Anos 80 e o princípio da saúde pública como direito O Movimento Sanitarista e a 8a Conferência Nacional de Saúde O movimento sanitarista foi de importância ímpar ao entendimento de saúde pública, do conceitode saúde e também da evolução do direito à saúde no Brasil. A reforma sanitária se refere às ideias de uma série de mudanças e transformações necessárias à saúde. Sua composição era de técnicos da saúde – médicos, enfermeiros, biomédicos... – e intelectuais, partidos políticos, diferentes correntes e tendências e movimentos sociais diversos. Ao fim da década de 1970, o movimento adquiriu certa maturidade em função de uma série de estudos acadêmicos e práticos Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 4 realizados, principalmente, nas faculdades de Medicina. Nas universidades, o entendimento de medicina se tornava cada mais social, pensando a saúde como uma série de fatores que vão além do bem-estar do corpo humano. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), alguns dos atores do movimento sanitarista foram os médicos residentes, “que na época trabalhavam sem carteira assinada e com uma carga horária excessiva”, por exemplo. Outras movimentações da Reforma Sanitária foram as primeiras greves realizadas depois de 1968 e os sindicatos médicos, que também estavam em fase de transformação. “Esse movimento entra também nos conselhos regionais, no Conselho Nacional de Medicina e na Associação Médica Brasileira – as entidades médicas começam a ser renovadas. A criação do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), em 1976, também é importante na luta pela reforma sanitária. A entidade surge com o propósito de lutar pela democracia, de ser um espaço de divulgação do movimento sanitário, e reúne pessoas que já pensavam dessa forma e realizavam projetos inovadores”, de acordo com a Fiocruz. Enquanto a ditadura militar existia, o movimento sanitarista foi “testando” uma série de hipóteses a respeito do seu entendimento de saúde. Na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fundação Oswaldo Cruz são colocados em prática diversos projetos “e pessoas que faziam política em todo Brasil foram treinadas”. Os projetos envolviam: → saúde comunitária; → clínica de família; → pesquisas comunitárias. No final da década de 80, o INAMPS adotou uma série de medidas que o aproximaram ainda mais de uma cobertura universal de clientela, dentre as quais se destaca o fim da exigência da Carteira de Segurado do INAMPS para o atendimento nos hospitais próprios e conveniados da rede pública. Esse processo culminou com a instituição do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), implementado por meio da celebração de convênios entre o INAMPS e os governos estaduais. Assim, podemos verificar que começava a se construir no Brasil um sistema de saúde com tendência à cobertura universal, mesmo antes da aprovação da Lei 8.080 (também conhecida como Lei Orgânca da Saúde), que instituiu o SUS. Isso foi motivado, por um lado, pela crescente crise de financiamento do modelo de assistência médica da Previdência Social e, por outro, à grande mobilização política dos trabalhadores da saúde, de centros universitários e de setores organizados da sociedade, que constituíam o então denominado “Movimento da Reforma Sanitária”, no contexto da democratização do país. Ao fim da ditadura, as propostas da Reforma Sanitária foram reunidas num documento chamado Saúde e Democracia, enviado para aprovação do Legislativo. Uma das conquistas foi a realização da 8ª Conferência Nacional da Saúde em 1986. Pela primeira vez na história, foi possível a participação da sociedade civil organizada no processo de construção do que seria o novo modelo de saúde pública brasileiro. Essa conferência foi tão importante pois desde o seu tema – “saúde como direito de todos e dever do Estado” – teve como resultado uma série de documentos que basicamente esboçaram o surgimento do Sistema Único de Saúde (SUS). A conferência ampliou os conceitos de saúde pública no Brasil, propôs mudanças baseadas no direito universal à saúde com melhores condições de vida, além de fazer menção à saúde preventiva, à descentralização dos serviços e à participação da população nas decisões. O relatório da conferência teve suas principais resoluções incorporadas à Constituição Federal de 1988. A Constituição de 1988 e a criação do SUS: o direito à saúde como dever do Estado A Constituição Federal de 1988 foi o primeiro documento a colocar o direito à saúde definitivamente no ordenamento jurídico brasileiro. A saúde passa a ser um direito do cidadão e Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 5 um dever do Estado. A Constituição ainda determina que o sistema de saúde pública deve ser gratuito, de qualidade e universal, isto é, acessível a todos os brasileiros e/ou residentes no Brasil. O Sistema Único de Saúde foi regulado posteriormente pela lei 8.080 de 1990, em que estão distribuídas todas as suasatribuições e funções como um sistema público. Compreender a atuação da gestão pública frente ao caso (doenças transmissíveis) Estrutura do SUS Ministério da Saúde Gestor nacional do SUS, formula, normatiza, fiscaliza, monitora e avalia políticas e ações, em articulação com o Conselho Nacional de Saúde. Atua no âmbito da Comissão Intergestores Tripartite (CIT) para pactuar o Plano Nacional de Saúde. Integram sua estrutura: Fiocruz, Funasa, Anvisa, ANS, Hemobrás, Inca, Into e oito hospitais federais. Secretaria Estadual de Saúde (SES) Participa da formulação das políticas e ações de saúde, presta apoio aos municípios em articulação com o conselho estadual e participa da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) para aprovar e implementar o plano estadual de saúde. Secretaria Municipal de Saúde (SMS) Planeja, organiza, controla, avalia e executa as ações e serviços de saúde em articulação com o conselho municipal e a esfera estadual para aprovar e implantar o plano municipal de saúde. Conselho Nacional de Saúde (CNS) O CNS propõe, delibera, monitora e avalia as políticas públicas e o plano de saúde adotados nas três esferas de governo. Os conselhos de saúde garantem a participação da população na fiscalização e formulação de estratégias da aplicação pública dos recursos de saúde. Conselho de Saúde (municipal ou estadual) São 26 conselhos estaduais, um do DF e conselhos municipais que atuam como instância de participação social e controle das políticas e planos de saúde. Conselho Nacional de Secretário da Saúde (Conass) Entidade representante das secretarias estaduais de saúde e do DF, integra a CIT e atua em prol de ações e serviços de saúde. Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 6 Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) Entidade representante das secretarias municipais de saúde, integra a CIT e atua em prol de ações e serviços de saúde. Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems) Representação estadual dos Conasems, integra a CIB, articula e mobiliza os secretários municipais para o intercâmbio de experiências e fortalecimento das políticas de saúde. Comissão Intergestores Tripartite (CIT) Instância deliberativa que integra gestores municipais, estaduais e federais para o planejamento, implementação e avaliação de políticas de planos de saúde. Comissão Intergestores Bipartite (CIB) Instância deliberativa que integra gestores estaduais e municipais para o planejamento, implementação e avaliação de políticas e planos de saúde. Gestão do Sistema Único de Saúde Para efeito de entendimento das funções no Sistema Único de Saúde conceituamos: Gerência como a administração de uma unidade ou órgão de saúde (ambulatório, hospital, instituto, fundação, etc) que se caracterizam como prestadores de serviços do SUS. Gestão como a atividade e responsabilidade de comandar um sistema de saúde (municipal, estadual ou nacional) exercendo as funções de coordenação, articulação, negociação, planejamento, acompanhamento, controle, avaliação e auditoria. Para que se possa discutir o papel de cada esfera de governo no Sistema Único de Saúde é importante definir quem são os gestores do SUS em cada nível e o que são as funções gestoras no SUS. Os gestores do SUS são os representantes de cada esfera de governo designados para o desenvolvimento das funções do Executivo na saúde. As funções gestoras no SUS podem ser definidas como “um conjunto articulado de saberes e práticas de gestão necessários para a implementação de políticas na área da saúde” (Souza, 2002). Definir o papel e as atribuições dos gestores do SUS nos três níveis de governo significa identificar as especificidades da atuação de cada esfera no que diz respeito a cada uma das macrofunções(formulação de políticas/planejamento; financiamento; coordenação, regulação, controle e avaliação [do sistema/ redes e dos prestadores públicos ou privados]; prestação direta de serviços de saúde) gestoras, de forma coerente com a finalidade de atuação do Estado em cada esfera governamental, com os princípios e objetivos estratégicos da política de saúde, e para cada campo da atenção na saúde (promoção da saúde, articulação intersetorial, Vigilância Sanitária, Vigilância Epidemiológica, saúde do trabalhador, assistência à saúde, entre outros). A Legislação do SUS e diversas normas e portarias editadas nos anos 90 empreenderam esforços no sentido de definir e diferenciar o papel dos gestores da saúde nas três esferas de governo. A Constituição Federal estabelece os princípios, diretrizes e competências do Sistema Único de Saúde, mas não define especificamente o papel de cada esfera de governo no SUS. Um Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 7 maior detalhamento da competência e das atribuições da direção do SUS em cada esfera – nacional, estadual e municipal – é feito pela Lei 8.080/90 ou Lei Orgânica da Saúde. A Lei Orgânica da Saúde estabelece em seu artigo 15 as atribuições comuns das três esferas de governo, de forma bastante genérica e abrangendo vários campos de atuação. São definidas como atribuições comuns da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, em seu âmbito administrativo: Definição das instâncias e mecanismos de controle, avaliação e de fiscalização das ações e serviços de saúde; Administração dos recursos orçamentários e financeiros destinados, em cada ano à saúde; Acompanhamento, avaliação e divulgação do nível de saúde da população e das condições ambientais; Organização e coordenação do sistema de informação em saúde; Elaboração de normas técnicas e estabelecimento de padrões de qualidade para promoção da saúde do trabalhador; Participação na formulação da política e na execução das ações de saneamento básico e colaboração na proteção e recuperação do meio ambiente; Elaboração e atualização periódica do plano de saúde; Elaboração da proposta orçamentária do Sistema Único de Saúde – SUS de conformidade com plano de saúde; Realização de operações externas de natureza financeira de interesse da saúde, autorizadas pelo Senado Federal; Requisição, pela autoridade competente da esfera administrativa correspondente, de bens e serviços, tanto de pessoas naturais como de jurídicas, assegurada justa indenização, para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e transitórias, decorrentes de situações de perigo eminente, de calamidade pública ou irrupção de epidemias; Celebração de convênios, acordos e protocolos internacionais relativos à saúde, saneamento e meio ambiente; Elaboração de normas técnico-científicas de promoção, proteção e recuperação da saúde; Articulação com os órgãos de fiscalização do exercício profissional e outras entidades representativas da sociedade civil para a definição e controle dos padrões éticos para a pesquisa, ações e serviços de saúde; Articulação da política e dos planos de saúde; Realização de pesquisas e estudos na área de saúde; Fomento, coordenação e execução de programas e projetos estratégicos e de atendimento emergencial; Uma análise geral da Lei 8.080/90 permite destacar em relação à competência de cada nível específico de gestão do SUS os pontos a seguir descritos Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 8 Competências da União À direção nacional do Sistema Único de Saúde compete: Formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação e nutrição; Participar na formulação e na implementação das políticas de controle das agressões ao meio ambiente, de saneamento básico e relativas às condições e aos ambientes de trabalho; Definir ecoordenar os sistemas de redes integradas de assistência de alta complexidade, de rede de laboratórios de saúde pública, de Vigilância Epidemiológica e Vigilância Sanitária; Participar da definição de normas e mecanismos de controle, com órgãos afins, de agravo sobre o meio ambiente ou dele decorrentes, que tenham repercussão na saúde humana; Participar da definição de normas, critérios e padrões para o controle das condições e dos ambientes de trabalho e coordenar a política de saúde do trabalhador; Coordenar e participar na execução das ações de Vigilância Epidemiológica; Estabelecer critérios, parâmetros e métodos para o controle da qualidade sanitária de produtos, substâncias e serviços de consumo e uso humano; Prestar cooperação técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o aperfeiçoamento da sua atuação institucional; Elaborar normas para regular as relações entre o Sistema Único de Saúde e os serviços privados contratados de assistência à saúde; Promover a descentralização para as Unidades federadas e para os Municípios, dos serviços e ações de saúde, respectivamente de abrangência estadual e municipal; Acompanhar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde, respeitadas as competências estaduais e municipais; Elaborar o Planejamento Estratégico Nacional no âmbito do SUS, em cooperação técnica com os Estados, Municípios e Distrito Federal; Estabelecer o Sistema Nacional de Auditoria e coordenar a avaliação técnica e financeira do SUS em todo o Território Nacional, em cooperação técnica com os Estados, Municípios e Distrito Federal; Competência do Estado À direção estadual do Sistema Único de Saúde compete: Promover a descentralização para os municípios dos serviços e das ações de saúde; Acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do Sistema Único de Saúde; Prestar apoio técnico e financeiro aos municípios e executar supletivamente ações e serviços de saúde; Coordenar e, em caráter complementar, executar ações e serviços: de Vigilância Epidemiológica, de Vigilância Sanitária, de alimentação e nutrição e de saúde do trabalhador; Participar, junto com os órgãos afins, do controle dos agravos do meio ambiente que tenham repercussão na saúde humana; Participar da formulação da política e da execução de ações de saneamento básico; Participar das ações de controle e avaliação das condições e dos ambientes de trabalho; Identificar estabelecimentos hospitalares de referência e gerir sistemas públicos de alta complexidade, de referência estadual e regional; Estabelecer normas, em caráter suplementar para o controle e avaliação das ações e serviços de saúde; Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 9 O acompanhamento, a avaliação e divulgação dos indicadores de morbidade e mortalidade no âmbito da UF; Competência do Município À direção municipal do Sistema Único de Saúde compete: Planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde e gerir e executar os serviços públicos de saúde; Participar do planejamento, programação e organização da rede regionalizada e hierarquizada do Sistema Único de Saúde, em articulação com sua direção estadual; Participar da execução, controle e avaliação das ações referentes às condições e aos ambientes de trabalho; Executar serviços de Vigilância Epidemiológica, de Vigilância Sanitária, de alimentação e nutrição, de saneamento básico e de saúde do trabalhador; Colaborar na fiscalização das agressões ao meio ambiente que tenham repercussão sobre a saúde humana e atuar junto aos órgãos municipais, estaduais e federais competentes para controlá-las; Formar consórcios administrativos intermunicipais; Gerir laboratórios públicos de saúde e hemocentros; Celebrar contratos e convênios com entidades prestadoras de serviços privados de saúde, bem como controlar e avaliar sua execução; Controlar e fiscalizar os procedimentos dos serviços privados de saúde; Normatizar complementarmente as ações e serviços públicos de saúde no seu âmbito de atuação. 2) IDENTIFICAR O PROCESSO SAÚDE-DOENÇA EM UMA PERSPECTIVA NÃO APENAS INDIVIDUAL, MAS COLETIVA, EM UM DETERMINADO TERRITÓRIO. O plano coletivo expande ainda mais o entendimento sobre o processo saúde-adoecimento, que é encarado não como a simples soma das condições orgânicas e sociais de cada indivíduo isoladamente, senão a expressão de um processo social mais amplo, que resulta de uma complexa trama de fatores e relações, representados por determinantes do fenômeno nos vários níveis de análise: família, domicílio, microárea, bairro, município, região, país, continente etc. (NARVAI et al., 2008). Nessa linha, fica mais fácil compreender a definição de Minayo (1994 apud NARVAI et al., 2008) sobre saúde: “fenômeno clínico e sociológico vivido. Muito se tem escrito sobre o processo saúde-doença, no entanto um novo instrumento intelectual para a apreensão da saúde e da doença deve levar em conta a distinção entre a doença, tal como definida pelo sistema da assistência à saúde, e a saúde, tal como percebida pelos indivíduos. Ademais, deve incluir a dimensão do bem-estar, um conceito ainda mais amplo, no qual a contribuição da saúde não é a única e nem a mais importante. O sofrimento experimentado pelas pessoas, suas famílias e grupos sociais não corresponde necessariamente à concepção de doença que orienta os provedores da assistência, como os profissionais da Estratégia Saúde da Família. Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 10 Saúde e doença não são duas faces de uma mesma moeda. De fato, se considerarmos um sistema de saúde, por exemplo, o SUS, é possível verificar que as ações voltadas para o diagnóstico e o tratamento das doenças são apenas duas das suas atividades. Inclusão social, promoção de equidade ou de visibilidade e cidadania são consideradas ações de saúde. O entendimento da saúde como um dispositivo social relativamente autônomo em relação à ideia de doença, assim como as repercussões que esse novo entendimento traz para a vida social e para as práticas cotidianas em geral e dos serviços de saúde em particular, abrem novas possibilidades na concepção do processo saúde-doença. Dessa maneira, o processo saúde-doença está diretamente atrelado à forma como o ser humano, no decorrer de sua existência, foi se apropriando da natureza para transformá-la, buscando o atendimento às suas necessidades (GUALDA; BERGAMASCO, 2004) Em síntese, pode-se dizer, em termos de sua determinação causal, que o processo saúde-doença representa o conjunto de relações e variáveis que produzem e condicionam o estado de saúde- doença de uma população, que varia em diversos momentos históricos do desenvolvimento científico da humanidade 3) RECONHECER AS FUNÇÕES DA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA e DISCUTIR MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA A vigilância epidemiológica tem como propósito fornecer orientação técnica permanente para os que têm a responsabilidade de decidir sobre a execução de ações de controle de doenças e agravos, tornando disponíveis, para esse fim, informações atualizadas sobre a ocorrência dessas doenças ou agravos, bem como dos seus fatores condicionantes em uma área geográfica ou população determinada. Subsidiariamente, a vigilância epidemiológica constitui-se em importante instrumento para o planejamento, a organização e a operacionalização dos serviços de saúde, como também para a normatização de atividades técnicas correlatas. Sua operacionalização compreende um ciclo completo de funções específicas e intercomplementares que devem ser, necessariamente, desenvolvidas de modo contínuo, permitindo conhecer, a cada momento, o comportamento epidemiológicoda doença ou agravo escolhido como alvo das ações, para que as medidas de intervenção pertinentes possam ser desencadeadas com oportunidade e eficácia. São funções da vigilância epidemiológica: coleta de dados; processamento de dados coletados; análise e interpretação dos dados processados; recomendação das medidas de controle apropriadas; promoção das ações de controle indicadas; avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas; divulgação de informações pertinentes Todos os níveis do sistema de saúde têm atribuições de vigilância epidemiológica compreendendo o conjunto das funções mencionadas. Quanto mais eficientemente essas funções forem realizadas no nível local, maior será a oportunidade com que as ações de controle tenderão a ser desencadeadas. Além disso, a atuação competente no nível local estimulará maior visão do conjunto nos níveis estadual e nacional, abarcando o amplo espectro dos problemas prioritários a serem enfrentados em diferentes situações operacionais. Ao mesmo tempo, os responsáveis técnicos no âmbito estadual, e, com maior razão, no federal, poderão dedicar-se seletivamente, a questões mais complexas, emergênciais ou de maior extensão, que demandem a participação de especialistas e centros de referência, inclusive de nível internacional. Dessa forma, não mais se admite que a atuação no âmbito local esteja restrita à realização de coleta de dados e à sua transmissão a outros níveis. O fortalecimento de sistemas municipais de saúde, tendo a vigilância epidemiológica como um de seus instrumentos mais importantes de atuação, deve constituir-se na estratégia principal de Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 11 institucionalização. A Norma Operacional Básica do SUS - NOB-SUS/96, no seu item 14 já prevê a transferência de recursos financeiros fundo a fundo para estados e municípios para custeio das ações de epidemiologia e de controle de doenças/agravos formalizando a criação e operação de sistemas locais de vigilância epidemiológica com aporte de recursos diferenciados para cada área de acordo com o desenvolvimento desses sistemas, que serão aferidos pelo índice de Valorização de Resultados (IVR) (12.1.6 da NOB/SUS/96). Gestão do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica Atribuições do Ministério Da Saúde A portaria 1.399/99, em seu artigo 1º, atribui ao Ministério da Saúde, por intermédio da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), a gestão do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica e Ambiental em Saúde no âmbito nacional, compreendendo: Coordenação nacional das ações de Epidemiologia e Controle de Doenças, com ênfase naquelas que exigem simultaneidade nacional ou regional para alcançar êxito; Execução das ações de Epidemiologia e Controle de Doenças, de forma complementar à atuação dos estados; Execução das ações de Epidemiologia e Controle de Doenças, de forma suplementar, em caráter excepcional, quando constatada insuficiência da ação estadual; Definição das atividades e parâmetros que integrarão a Programação Pactuada Integrada PPIECD para a área de Epidemiologia e Controle de Doenças; Normatização técnica; Assistência técnica a estados e, excepcionalmente, a municípios; Provimento dos seguintes insumos estratégicos: imunobiológicos; inseticidas; meios de diagnóstico laboratorial para as doenças sob monitoramento epidemiológico (kits diagnósticos); Participação no financiamento das ações de Epidemiologia e Controle de Doenças; Gestão dos sistemas de informação epidemiológica (SINAN, SIM, SINASC, SI-PNI e outros sistemas que venham a ser introduzidos) Divulgação de informações e análises epidemiológicas;7 Promoção, coordenação e execução, em situações específicas, de pesquisas epidemiológicas e operacionais na área de prevenção e controle de doenças e agravos; Definição de Centros de Referência Nacionais de Epidemiologia e Controle de Doenças; Fiscalização, supervisão e controle da execução das ações de Epidemiologia e Controle de Doenças programadas na PPI-ECD, incluindo a permanente avaliação dos sistemas estaduais de Vigilância Epidemiológica e ambiental em saúde; Coordenação do Programa Nacional de Imunizações incluindo a definição das vacinas obrigatórias no País, as estratégias e normatização técnica sobre sua utilização. Atribuições dos Estados Segundo o artigo 2º da portaria 1399/99, compete aos Estados a gestão do componente estadual do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica e Ambiental em Saúde, compreendendo as seguintes ações: Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 12 Coordenação e supervisão das ações de prevenção e controle, com ênfase naquelas que exigem simultaneidade estadual ou microrregional para alcançar êxito; Execução das ações de Epidemiologia e Controle de Doenças, de forma complementar à atuação dos municípios; Execução das ações de Epidemiologia e Controle de Doenças, de forma suplementar, quando constatada insuficiência da ação municipal; Definição, em conjunto com os gestores municipais, na Comissão Intergestores Bipartite - CIB, da Programação Pactuada Integrada PPI-ECD para as ações de Epidemiologia e Controle de Doenças, em conformidade com os parâmetros definidos pela FUNASA; Assistência técnica aos municípios; Participação no financiamento das ações de Epidemiologia e Controle de Doenças Provimento dos seguintes insumos estratégicos: medicamentos específicos, nos termos pactuados na CIT; equipamentos de proteção individual; seringas e agulhas; óleo de soja; e equipamentos de aspersão de inseticidas; Gestão dos estoques estaduais de insumos estratégicos, inclusive com abastecimento dos municípios; Gestão dos sistemas de informação epidemiológica, no âmbito; Divulgação de informações e análises epidemiológicas; Execução das atividades de informação, educação e comunicação IEC de abrangência estadual; Capacitação de recursos humanos; Definição de Centros de Referência Estaduais de Epidemiologia e Controle de Doenças; Normatização técnica complementar à do nível federal para o seu território; Fiscalização, supervisão e controle da execução das ações de Epidemiologia e Controle de Doenças realizadas pelos municípios, programadas na PPI-ECD, incluindo a permanente avaliação dos sistemas municipais de Vigilância Epidemiológica e ambiental em saúde; Coordenação das ações de vigilância ambiental de fatores de risco à saúde humana, incluindo o monitoramento da água de consumo humano e contaminantes com importância em saúde pública; Provimento de diagnóstico laboratorial das doenças de notificação compulsória e outros agravos de importância epidemiológica, na rede estadual de laboratórios de saúde pública; Coordenação das ações de vigilância entomológica para as doenças transmitidas por vetores (artrópodes), incluindo a realização de inquéritos entomológicos; Coordenação do componente estadual do Programa Nacional de Imunizações; Atribuições dos Municípios Compete aos Municípios, segundo o artigo 3º. da portaria 1399, a gestão do componente municipal do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica e Ambiental em Saúde, compreendendo as seguintes atividades: Notificação de doenças de notificação compulsória, surtos e agravos inusitados, conforme normatização federal e estadual; Investigação epidemiológica de casos notificados, surtos e óbitos por doenças específicas; Busca ativa de casos de notificação compulsória nas unidades de saúde, inclusive laboratórios, domicílios, creches e instituições de ensino, entre outros, existentes em seu território; Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 13 Busca ativa deDeclarações de Óbito e de Nascidos Vivos nas unidades de saúde, cartórios e cemitérios existentes em seu território; Provimento da realização de exames laboratoriais voltados ao diagnóstico das doenças de notificação compulsória, em articulação com Secretaria Estadual de Saúde; Provimento da realização de exames laboratoriais para controle de doenças, como os de malária, esquistossomose, triatomíneos, entre outros a serem definidos pela PPI-ECD; Acompanhamento e avaliação dos procedimentos laboratoriais realizados pelas unidades públicas e privadas componentes da rede municipal de laboratórios que realizam exames relacionados à saúde pública; Monitoramento da qualidade da água para consumo humano, incluindo ações de coleta e provimento dos exames físico, químico e bacteriológico de amostras, em conformidade com a normatização federal; Captura de vetores e reservatórios, identificação e levantamento do índice de infestação; Registro, captura, apreensão e eliminação de animais que representem risco à saúde do ser humano; Ações de controle químico e biológico de vetores e de eliminação de criadouros; Coordenação e execução das ações de vacinação integrantes do Programa Nacional de Imunizações, incluindo a vacinação de rotina com as vacinas obrigatórias, as estratégias especiais como campanhas e vacinações de bloqueio e a notificação e investigação de eventos adversos e óbitos temporalmente associados à vacinação; Vigilância Epidemiológica da mortalidade infantil e materna; Gestão dos sistemas de informação epidemiológica, no âmbito municipal; Divulgação de informações e análises epidemiológicas; Participação no financiamento das ações de Epidemiologia e Controle de Doenças; Participação, em conjunto com os demais gestores municipais e Secretaria Estadual de Saúde, na Comissão Intergestores Bipartite - CIB, na definição da Programação Pactuada Integrada epidemiologia e controle de doenças PPI-ECD para a área de Epidemiologia e Controle de Doenças, em conformidade com os parâmetros definidos pela FUNASA; Gestão dos estoques municipais de insumos estratégicos, inclusive com abastecimento dos executores das ações; Coordenação e execução das atividades de IEC de abrangência municipal; Capacitação de recursos humanos. Investigação epidemiológica Três enfoques Estudo de casos I. Usado para avaliação inicial de problemas ainda mal conhecidos e cujas características ou variações naturais não foram convenientemente detalhadas; II. Relativamente fácil de ser realizado e de baixo custo; III. É um enfoque qualitativo e exploratório, embora muitas facetas possam ser quantificadas; IV. Possibilidade de observação intensiva de cada caso; Investigação experimental de laboratório I. Possível imprimir maior precisão a todas as etapas de investigação; Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 14 II. Grau de subjetividade pode ser reduzido, em laboratório, pela adoção de rigorosos controles, que servem também de parâmetros para a comparação dos resultados; Pesquisa populacional Estudos descritivos Têm o objetivo de informar sobre a distribuição de um evento, na população, em termos quantitativos. A inspeção da distribuição das frequências de um evento, sejam elas dispostas em tabelas, gráficos ou outra forma de expressão de resultados, é utilizada para alcançar dois objetivos principais: I. Identificar grupos de risco, o que informa sobre as necessidades e as características dos segmentos que poderiam beneficiar-se de alguma forma de medida saneadora; II. Sugerir explicações para as variações de frequência, o que serve de base ao prosseguimento de pesquisas sobre o assunto, através de estudos analíticos; Estudos analíticos As pesquisas analíticas estão usualmente subordinadas a uma ou mais questões científicas, as “hipóteses”, que relacionam eventos: uma suposta “causa” e um dado “efeito”. Outras vezes, pode não haver uma hipótese explicitada, mas sim a busca por fatores que contribuam para o aparecimento de doenças. O intuito é explorar, em profundidade, a relação “causa-efeito”. A presença de um grupo-controle, formado simultaneamente por um grupo de estudo, e que serve para a comparação de resultados. Estudo experimental, do tipo “ensaio clínico randomizado” I. Parte-se da “causa” em direção ao “efeito”; II. Os participantes são colocados “aleatoriamente” para formar grupos: o de estudo e o de controle. A alocação aleatória tem o objetivo de formar grupos com características semelhantes. III. Em seguida, procede-se à “intervenção”, em que se deseja avaliar os resultados, em apenas um dos grupos, servindo o outro para termos de comparação de resultados; Estudo de coorte I. Parte-se da “causa” em direção ao “efeito”; II. Não há alocação aleatória da exposição; III. Os grupos são formados por “observação” das situações, na vida real, ou por alocação arbitrária de uma intervenção, permitindo comparações como as seguintes: obeso X não- obeso ou operados X os que recusam cirurgia; Estudo de caso-controle I. Parte do “efeito” para chegar às “causas”; II. Pesquisa etiológica retrospectiva, feita de trás para frente, só podendo ser realizada “após o fato consumado”, ou seja, depois de o efeito já ter ocorrido; Estudo transversal I. “Causa” e “efeito” são detectados simultaneamente; Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 15 II. Somente a análise de dados que permite identificar os grupos de interesse, os “expostos”, os “não-expostos”, os “doentes” e os “sadios”, de modo a investigar a associação entre exposição e doença; Estudos ecológicos A unidade de observação é um conjunto de indivíduos. O termo “estudo ecológico” tem origem na utilização de áreas geográficas como unidades de análise e, por extensão, generalizou-se para outras situações em que a unidade é formada por um grupo. Atualmente, denomina-se “variável ecológica”, aquela que descreve o que ocorre em grupos de indivíduos: por exemplo, porcentagem de adultos com vida sedentária. Os dados já estão agregados e não se sabe se um determinado indivíduo tem esta ou aquela característica. Etapa 1. Coleta de Dados sobre os Casos Em geral, as unidades de saúde dispõem de formulários padronizados do Sinan (Ficha de Investigação Epidemiológica) para a maioria das doenças incluídas no sistema de vigilância epidemiológica. Quando se tratar de evento inusitado, uma ficha de investigação especial deverá ser elaborada, considerando-se as características clínicas e epidemiológicas da doença/agravo suspeito. O preenchimento desta ficha deve ser muito cuidadoso, registrando-se com o máximo de exatidão possível as informações de todos os seus campos. O investigador poderá acrescentar novos itens que considere relevantes. O espaço reservado para “observações” deve ser utilizado para anotar informações adicionais que possam ajudar no esclarecimento do evento. Dados obtidos mediante entrevista com o paciente, familiares, médicos e outros informantes: Identificação do paciente - nome, idade, sexo, estado civil, profissão, local de trabalho e de residência, com ponto de referência; Anamnese e exame físico - data de início dos primeiros sintomas, história da moléstia atual, antecedentes mórbidos, antecedentes vacinais, mudanças de hábitos nos dias antecedentes aos sintomas e dados do exame físico; Suspeita diagnóstica - na pendência de dados complementares para firmar o diagnóstico, devem ser formuladas as principais suspeitas visando possibilitar a definição de medidas de controle preliminares e a solicitação de exames laboratoriais; Meio ambiente - depende do tipo de doença investigada. Por exemplo, se a suspeita for uma doença de veiculaçãohídrica são essenciais as informações sobre o sistema de abastecimento e o tratamento de água, bem como o destino de resíduos líquidos, sólidos e lixo, alagamentos, chuvas; em outros casos, podem estar envolvidos insetos vetores, inseticidas e pesticidas, etc.; Exames laboratoriais - devem ser solicitados com vistas ao esclarecimento do diagnóstico do paciente, fontes de contaminação, veículo de transmissão e pesquisa de vetores, conforme cada situação. É importante salientar que embora os exames laboratoriais representem importante contribuição para a conclusão diagnóstica, em muitas ocasiões não se faz necessário aguardar os seus resultados para dar início às medidas de controle. Etapa 2. Busca de Pistas Esta é uma etapa essencial da investigação epidemiológica, pois visa buscar subsídios que permitirão responder a várias das questões formuladas. Cabe ao investigador, considerando os dados já coletados nas etapas anteriores, estabelecer que outras informações são importantes para o esclarecimento do evento, sendo relevante para este raciocínio identificar: fontes de infecção (a exemplo de água, alimentos, ambiente insalubre, etc.); período de incubação do agente; modos de transmissão (respiratória, sexual, vetorial, etc.); faixa etária, sexo, raça e grupos sociais mais acometidos (características biológicas e sociais); presença de outros casos na Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 16 localidade (abrangência da transmissão); possibilidade da existência de vetores ligados à transmissão da doença; fatores de risco: época em que ocorreu (estação do ano); ocupação do indivíduo; situação de saneamento na área de ocorrência dos casos (fonte de suprimento de água, destino dos dejetos e do lixo, etc.); outros aspectos relevantes das condições de vida nas áreas de procedência dos casos (hábitos alimentares, aspectos socioeconômicos, etc.); potenciais riscos ambientais (físicos, químicos, biológicos, etc.). As equipes de outras áreas devem ser acionadas para troca de informações e complementação de dados a serem utilizados nas análises (parciais e final), no sentido de permitir uma caracterização mais abrangente do evento e orientar os passos seguintes da investigação. Ou seja, a avaliação dessas e de outras variáveis, em seu conjunto, fornecerão as pistas que contribuirão para a identificação do problema e a tomada de medidas mais específicas orientadas para o seu controle. Etapa 3. Busca Ativa de Casos O propósito desta etapa é identificar casos adicionais (secundários ou não) ainda não notificados ou aqueles oligossintomáticos que não buscaram atenção médica, e tem como finalidade: tratar adequadamente esses casos; determinar a magnitude e extensão do evento; ampliar o espectro das medidas de controle. Para isso, deve-se identificar e proceder a investigação de casos similares no espaço geográfico onde houver suspeita da existência de contatos e/ou fonte de contágio ativa. Esta busca de casos pode ser restrita a um domicílio, rua ou bairro e/ou ser realizada em todas as unidades de saúde (centros, postos de saúde, consultórios, clínicas privadas, hospitais, laboratórios, etc.), ou ainda ultrapassar as barreiras geográficas de municípios ou estados, conforme as correntes migratórias ou características dos veículos de transmissão. Etapa 4. Processamento e Análises Parciais dos Dados Na medida em que se dispor de novos dados/informações, deve-se sempre proceder análises parciais visando definir o passo seguinte, até que a conclusão da investigação e as medidas de controle tenham se mostrado efetivas. A consolidação, análise e interpretação dos dados disponíveis devem considerar as características de pessoa, tempo, lugar e os aspectos clínicos e epidemiológicos, para a formulação de hipóteses quanto ao diagnóstico clínico, fonte de transmissão, potenciais riscos ambientais e efetividade das medidas de controle adotadas até o momento. Quando a investigação não se referir a casos isolados, os dados colhidos deverão ser consolidados em tabelas, gráficos, mapas da área em estudo, fluxos de pacientes e outros. Essa disposição fornecerá uma visão global do evento, permitindo a avaliação de acordo com as variáveis de tempo, espaço e pessoas (quando? onde? quem?), possível relação causal (por quê?), e deverá ser comparada com a informação referente a períodos semelhantes de anos anteriores. Uma vez processados, os dados deverão ser analisados criteriosamente. Quanto mais oportuna e adequada for a análise, maior será a efetividade desta atividade, pois orientará com mais precisão o processo de decisão-ação. Etapa 5. Encerramento de Casos Nesta etapa da investigação epidemiológica, as fichas epidemiológicas de cada caso devem ser analisadas visando definir qual critério (clínico-epidemiológico-laboratorial; clínico- laboratorial; clínico-epidemiológico) foi ou será empregado para o diagnóstico final, considerando as definições de caso específicas para cada doença, de acordo com as instruções constantes neste Guia. Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 17 Etapa 6. Relatório Final Os dados da investigação deverão ser sumarizados em um relatório que inclua a descrição do evento (todas as etapas da investigação), destacando-se: causa da ocorrência, indicando, inclusive, se houve falhas da vigilância epidemiológica e/ou dos serviços de saúde e quais providências foram adotadas para sua correção; se as medidas de prevenção implementadas em curto prazo estão sendo executadas; descrição das orientações e recomendações, a médio e longo prazos, a serem instituídas tanto pela área de saúde quanto de outros setores; alerta às autoridades de saúde dos níveis hierárquicos superiores, nas situações que coloquem sob risco outros espaços geopolíticos. Este documento deverá ser enviado aos profissionais que prestaram assistência médica aos casos, bem como aos participantes da investigação clínica e epidemiológica, representantes da comunidade, autoridades locais, administração central dos órgãos responsáveis pela investigação e controle do evento. 4) EXPLORAR AS NECESSIDADES COLETIVAS DE SAÚDE EM POPULAÇÕES. No que tange às necessidades em saúde, elas também são social e historicamente determinadas e se situam entre natureza e cultura, ou seja, não dizem respeito somente à conservação da vida, mas à realização de um projeto em que o indivíduo, ponte entre o particular e o genérico, progressivamente se humaniza. As necessidades em saúde não são apenas necessidades médicas, nem problemas de saúde como doenças, sofrimentos ou riscos, mas dizem respeito também a carências ou vulnerabilidades que expressam modos de vida e identidades, expressos no que é necessário para se ter saúde e que envolve condições necessárias para o gozo da vida(3). A complexidade desses objetos da prática em Saúde Coletiva exige a instrumentalização do profissional de saúde para que respondam adequadamente ao seu caráter coletivo(4) . As necessidades em saúde podem funcionar como analisadoras das práticas em saúde, considerando que seus reconhecimento e enfrentamento estão vinculados aos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), o que implica, por parte das equipes de saúde, em esforço de tradução e atendimento às necessidades trazidas pela população(5). Acredita-se que os serviços de saúde, quando se organizam com foco nas necessidades da população, podem ou tendem a serem mais eficientes, no sentido de apresentar maior capacidade de escutar e atender as necessidades em saúde(6). A adoção de instrumentos com potência para o reconhecimento das necessidades dos diferentes grupos sociais pode contribuir para a reorganização das práticas de saúde, para que sejam operacionalizadasem respostas às necessidades que as originaram, numa circularidade entre necessidades em saúde e trabalho em saúde. Atrelado a isso, ao permitir a complementaridade entre aspectos objetivos da realidade e concepções subjetivas da população valoriza, também, a possibilidade de expressão dos sujeitos envolvidos e os significados atribuídos aos seus modos de vida, saúde e sofrimento(5). Nos espaços onde se operam as articulações entre os serviços de saúde e a população é que se definem, recortam, objetivam e são reconhecidas as necessidades em saúde. É também nesses espaços, integrados às demais instâncias da rede de atenção à saúde, que se buscam atender as necessidades em saúde. Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 18 SUGESTÕES PARA UMA MELHORA NA SAÚDE COLETIVA: Alterações de determinados termos ou expressões que se mostraram de difícil compreensão. Melhora na relação de equipe da UBS. 5) REFLETIR SOBRE O PAPEL, ESTRUTURA DA ORGANIZAÇÃO DAS VIGILÂNCIAS EM SAÚDE. Vigilância em saúde ambiental Conjunto de ações e serviços que propiciam o conhecimento e a detecção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de recomendar e adotar medidas de promoção à saúde, prevenção e monitoramento dos fatores de riscos relacionados às doenças ou agravos à saúde; Possui objetivos diversos: I. Produzir e tratar as informações sobre as questões ambientais com o intuito de disponibilizar ao SUS instrumentos para o planejamento e execução de ações relativas às atividades de promoção de saúde e de prevenção e controle de doenças relacionadas ao meio ambiente; II. Identificar os riscos e divulgar as informações referentes aos fatores ambientais condicionantes e determinantes das doenças e outros agravos à saúde; III. Fomentar ações intersetoriais com vistas a fornecer respostas integradas aos problemas ambientais; IV. Atua de forma a reduzir ou eliminar potenciais riscos à saúde, derivados e/ou relacionados às condições ambientais; No caso da VSA, o foco do trabalho é a exposição dos indivíduos e comunidades aos fatores de risco de origem ambiental, que podem causar alterações orgânicas que resultem em malefícios às pessoas; Atualmente, o Subsistema de Vigilância em Saúde Ambiental (SINVSA) está subdivido em três grandes áreas, todas sob a Coordenação Geral da Vigilância Ambiental (CGVAM), ligada à Secretaria de Vigilância em Saúde: vigilância em saúde de populações expostas a contaminantes químicos, vigilância da qualidade da água e vigilância em saúde ambiental relacionada aos desastres naturais. Vigilância em saúde do trabalhador e da trabalhadora Conjunto de ações que visam promoção da saúde, prevenção da morbimortalidade e redução de riscos e vulnerabilidades na população trabalhadora, por meio da integração de ações que intervenham nas doenças e agravos e seus determinantes decorrentes dos modelos de desenvolvimento, de processos produtivos e de trabalho. Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho, abrangendo: Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 19 I. Assistência ao trabalhador vítima de acidentes de trabalho ou portador de doença profissional e do trabalho; II. Participação, no âmbito do SUS, em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo de trabalho; III. Participação, no âmbito de competência do SUS, da normatização, fiscalização e controle das condições de produção, extração, armazenamento, transporte, distribuição e manuseio de substâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador; IV. Avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde; V. Informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindical e às empresas sobre os riscos de acidentes de trabalho, doença profissional e do trabalho, bem como os resultados de fiscalizações, avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão, respeitados os preceitos da ética profissional; VI. Participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde do trabalhador nas instituições e empresas públicas e privadas; VII. Revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração das entidades fiscais; VIII. A garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao órgão competente a interdição de máquina, de setor de serviço ou de todo ambiente de trabalho; A VISAT trabalha sempre em conjunto com outras instituições, como sindicatos; Busca caracterizar o território, perfil social, econômicos e ambiental da população trabalhadora; Objetiva intervir nos fatores determinantes dos riscos e agravos à saúde da população trabalhadora, visando eliminá-los ou, na sua impossibilidade, atenuá-los e controlá-los; Vigilância epidemiológica Conjunto de ações que proporcionam o conhecimento e a detecção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes da saúde individual e coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças, transmissíveis e não- transmissíveis, e agravos à saúde; Tem como propósito fornecer orientação técnica permanente para os profissionais de saúde, que têm a responsabilidade de decidir sobre a execução de ações de controle de doenças e agravos, tornando disponíveis, para esse fim, informações atualizadas sobre a ocorrência dessas doenças e agravos, bem como dos fatores que a condicionam, numa área geográfica ou população definida; Instrumento para o planejamento, a organização e a operacionalização dos serviços de saúde, como também para a normatização de atividades técnicas correlatas; A comunicação da ocorrência de determinada doença ou agravo à saúde feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou qualquer cidadão, para fins de adoção de medidas de intervenção pertinentes; Funções da Vigilância Epidemiológica: I. Coleta de dados (em todos os níveis de atenção do sistema); II. Processamento dos dados coletados; III. Análise e interpretação dos dados processados; IV. Recomendação das medidas de controle apropriadas; Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 20 V. Promoção das ações de controle indicadas; VI. Avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas; VII. Divulgação de informações pertinentes; Doenças transmissíveis I. As doenças transmissíveis ainda representam importante causa de adoecimento e mortalidade das populações, principalmente nos países em desenvolvimento, devido a carências relacionadas às condições sociais e econômicas, que determinam más condições de qualidade de vida; II. A descoberta dos microrganismos e posteriormente dos antibióticos – era da bacteriologia –, instaurou um período de esperança de controlar e acabar com os causadores das doenças transmissíveis. Contudo, apesar de todo o desenvolvimento de inúmeros medicamentos e antibióticos, as doenças transmissíveis persistem em nosso meio; Doenças e agravos não transmissíveis I. As doenças e agravos não transmissíveis (DANT) são algumas das principais causas de morbidade e mortalidade no Brasil, por isso se tornaram um importante problema de saúde pública, o que leva à perda na qualidade de vida, redução da autonomiae forte impacto na economia global. Os agravos como acidentes de transporte, homicídios e suicídios apresentam crescimento na sociedade moderna, o que representa um novo desafio para o setor saúde, pois atingem populações jovens e sadias e economicamente ativas; II. As doenças crônicas têm um alto custo para o SUS, pois os indiví- duos podem ficar anos em tratamento. A prevenção e o controle dessas doenças são essenciais para manter a qualidade de vida e inclusive conter os gastos; III. Fatores de risco: sedentarismo, tabagismo, consumo de álcool e outras drogas, hábitos alimentares inadequados etc. Vigilância sanitária Conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços do interesse da saúde. Abrange a prestação de serviços e o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo e descarte; Nas áreas de atuação da vigilância sanitária estão inseridas ações relacionadas ao controle de riscos sanitários em: I. Produtos: Alimentos, medicamentos, cosméticos, saneantes, sangue e derivados, equipamentos para a saúde; II. Serviços de saúde: unidades de assistência ambulatorial, clínicas, hospitais, ações de assistência domiciliar, práticas de interesse à saúde, serviços de diagnóstico e terapia em particular os de radiações ionizantes, hemoterapia e terapia renal substitutiva, odontologia e prótese; III. Ambiente: água, resíduos sólidos, edificações, ambiente do trabalho etc. IV. Saúde do trabalhador: ambiente de trabalhador e a saúde do trabalhador; Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 21 V. Portos, aeroportos e fronteiras: controle específico de portos, aeroportos e fronteiras, de veículos, cargas e pessoas; As principais unidades componentes do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária que estruturam sua operacionalização: I. Nível federal: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS); II. Nível estadual: Os 27 órgãos de vigilância sanitária das secretarias estaduais de saúde que também contam com suporte laboratorial central em cada UF com grandes diferenças de capacidade técnica e analítica; III. Nível municipal: Serviços de vigilância sanitária organizados em ações desenvolvidas articuladas com outras áreas de vigilância em especial a epidemiológica com denominações organizacionais diversas, como vigilância da saúde, proteção à saúde, entre outras; O cidadão tem o direito de ser informado sobre os riscos, sobre a qualidade e a eficácia dos produtos e serviços; A vigilância sanitária tem o papel ético de compreender que as desigualdades podem ser reduzidas por meio de orientações fundadas na equidade e na responsabilidade social, e não podem ser unicamente baseadas no princípio da eficiência econômica; 6) DIFERENCIAR SURTOS, EPIDEMIAS, ENDEMIAS, PANDEMIAS E SINDEMIAS. Surto epidêmico No surto, a ocorrência pode estar restringida a um grupo ocasional de pessoas, ou a um coletivo de população permanente como um colégio, um quartel, edifício de apartamentos, e até mesmo todo um bairro. Epidemia I. Ocorrência de doença em grande número de pessoas ao mesmo tempo; (lato sensu) II. É uma alteração, espacial e cronologicamente delimitada, de estado de saúde-doença de uma população, caracterizada por uma elevação progressivamente crescente, inesperada e descontrolada dos coeficientes de incidência de determinada doença, ultrapassando e reiterando valores acima do limiar epidêmico preestabelecido; (conceito operativo) III. Restrita a um intervalo marcado por um começo definido e um término esperado com retorno da incidência aos patamares endêmicos observados antes da ocorrência epidêmica; IV. Apresentam aspectos próprios e característicos, que as discriminam permitindo que sejam agrupadas em conjuntos diferenciados entre si; V. Epidemia explosiva/maciça (a manifestação da doença ocorre envolvendo em pouco tempo a quase totalidade das pessoas sob risco / aquela que apresenta uma rápida progressão até atingir a incidência máxima num curto espaço de tempo); VI. Epidemia lenta (a velocidade com que é atingida a incidência máxima é lenta, a ocorrência é gradual e progride durante um longo tempo); VII. Epidemia propagada/progressiva (transmissão de hospedeiro a hospedeiro / a doença é difundida de pessoa a pessoa por via respiratória, anal, oral, genital, ou por vetores / a propagação da epidemia se dá em cadeia); Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 22 VIII. Epidemia por fonte comum (inexistência de um mecanismo de transmissão hospedeiro a hospedeiro / o fator extrínseco é veiculado pela água, por alimento, ar ou introduzido por inoculação / todos os afetados devem ter tido acesso direto ao veículo disseminador da doença, não necessariamente ao mesmo tempo e no mesmo lugar); IX. Epidemia por fonte pontual (leva em consideração o intervalo de tempo durante o qual a população afetada esteve em contato com uma fonte singular disseminadora da doença / exposição se dá durante um curto intervalo de tempo e cessa, não se tornando a repetir); X. Epidemia por fonte persistente (a fonte tem existência dilatada, e a exposição da população prolonga-se por um largo lapso de tempo); Endemia I. Denomina-se endemia à ocorrência coletiva de uma determinada doença que, no decorrer de um largo período histórico, acometendo sistematicamente grupos humanos distribuídos em espaços delimitados e caracterizados, mantém a sua incidência constante, permitidas a flutuações de valores tais como as variações sazonais; II. O termo endemia refere-se à doença habitualmente presente entre os membros de um determinado grupo, em uma determinada área, isto é, presente em uma população definida; III. Prevalência usual da doença em um determinado local ou grupo; Pandemia I. Ocorrência epidêmica caracterizada por uma larga distribuição espacial, atingindo várias nações. A pandemia pode ser tratada como uma série de epidemias localizadas em diferentes regiões e que ocorrem em vários países ao mesmo tempo; 7) RECONHECER O FLUXO E OS SISTEMAS DE NOTIFICAÇÃO DE DOENÇAS. Introdução Nada pode ser feito em epidemiologia sem o uso da informação. Nenhum dos seus campos de atuação e entre eles, a vigilância epidemiológica, pode ser desenvolvido sem informação. Por outro lado, deve-se ter claro que a informação é uma atividade “meio” e não “fim”. Assim, para que se possa atuar em vigilância epidemiológica é necessário dispor de informação: já se tornou clássica a expressão do processo “ informação-decisãoação” como eixo central da vigilância epidemiológica. Essa informação deve ser a mais atualizada, completa e fidedigna possível e depende do preenchimento dos instrumentos (fichas de notificação, declarações, boletins de atendimento etc), e da coleta e organização dos dados, de forma a permitir a análise dos mesmos, o que deve ser feito por técnicos com formação específica para esse fim. É fundamental também que todos os profissionais de saúde tenham acesso às informações de saúde e as tornem disponíveis à comunidade. A informação, sob este aspecto, deve ser vista como um importante instrumento de participação da comunidade, uma vez que possibilita à comunidade o acompanhamento e avaliação das atividades dos serviços de saúde, a análise das prioridades políticas a partir da realidade epidemiológica de determinado espaço geográfico e, de fundamental importância, o acompanhamento da aplicação dos recursos públicos. Conceitua-se dado como “ um valorquantitativo obtido para caracterizar um fato ou circunstância” ou “o número bruto que ainda não sofreu qualquer espécie de tratamento estatístico”, ou ainda, “a matéria-prima da Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 23 produção de informação”. Por outro lado, entende-se informação como “o conhecimento obtido a partir dos dados e que implica em interpretação por parte do usuário” ou “informação é o dado trabalhado. É o resultado da análise e combinação de vários dados”. Um sistema é um conjunto de unidades de produção, análise e divulgação de dados, atuando articuladamente, com a finalidade de atender à necessidade de informação da instituição que implementa esse sistema. Um sistema de informação seria uma reunião de pessoas e máquinas que visa a obtenção e processamento de dados que atendam à necessidade de informação da instituição que implementa esse sistema. Um sistema de informações se faz necessário para que o planejamento, as decisões e as ações dos gestores, num determinado nível decisório (municipal, estadual e federal), não sejam baseados em dados subjetivos, em conhecimentos ultrapassados ou em preconceitos. 2 Guia de Vigilância Epidemiológica Um sistema de informação em saúde constitui-se, assim, num componente do sistema de saúde e tem como propósito geral facilitar a formulação e avaliação das políticas, planos e programas de saúde, subsidiando o processo de tomada de decisões, com vistas a contribuir para a melhoria da situação de saúde da população. São funções do Sistema de Informação em Saúde (SIS) o planejamento, a coordenação e a supervisão dos processos de seleção, coleta, aquisição, registro, armazenamento, processamento, recuperação, análise e difusão de dados e geração de informações. Os dados requeridos pelo sistema de saúde são coletados e processados regularmente no setor saúde, cabendo ao SIS o planejamento e operação dos respectivos subsistemas. Também são de interesse os dados produzidos extrasetorialmente, cabendo ao SIS a articulação com os órgãos que os produzem, com vistas a suprir as necessidades do setor saúde e estabelecer um fluxo regular de informação. Assim sendo, o SIS deve obter e fornecer dados nas seguintes áreas: demografia: incluindo informações sobre a população, mortalidade e natalidade; morbidade: morbidade hospitalar e ambulatorial, registros especiais, seguro social, acidentes de trânsito, de trabalhos, etc.; meio ambiente: saneamento básico, abastecimento de água, destino dos dejetos e lixo, poluição ambiental, condições de habitação, estudo de vetores; recursos de saúde e produção de serviços: recursos físicos, humanos, financeiros, produção na rede de serviços básicos de saúde e em outras instituições de saúde, vigilância sanitária; e documental e administrativa: legislação médico-sanitária, referências bibliográficas, sistemas administrativos. Existem também dados necessários ao setor saúde que não são coletados regularmente e que podem ser obtidos através de inquéritos e estudos especiais, de forma eventual e localizada, ou mesmo em âmbito nacional. Cabe aqui colocar a importância dos indicadores em relação aos dados utilizados num Sistema de Informação de Saúde, pois não é qualquer dado que tem utilidade para o sistema de saúde. É preciso haver alguma racionalidade na definição dos dados que serão coletados, processados e analisados nos SIS para evitar desperdício de tempo, recursos, descrédito no sistema de informação pela população e mesmo pelos técnicos: os dados que devem preferencialmente ser coletados são os necessários para a construção de indicadores. Indicadores são informações produzidas com periodicidade definida e critérios constantes e devem apresentar os seguintes requisitos para a sua obtenção: disponibilidade de dados, simplicidade técnica, uniformidade, sinteticidade e poder discriminatório. Sistemas de Informação em Saúde e a Vigilância Epidemiológica 3 Indicadores de saúde são variáveis suscetíveis à mensuração direta, que refletem o estado de saúde de pessoas numa comunidade. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os indicadores de saúde dividem-se em 5 grandes grupos: Indicadores de política de saúde; Indicadores sócio- econômicos; Indicadores de provisão de serviços de saúde; Indicadores de provisão/cobertura de serviços de atenção básica de saúde; e Indicadores básicos de saúde. Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 24 Sistemas de Informação em Saúde Historicamente, a construção dos Sistemas de Informação vinha sendo voltada para uma racionalidade de centralização e verticalização, que se demonstrava na organização e disponibilidade dos bancos de dados nacionais. O que se verificava, a partir dessa concepção, era o acúmulo de dados, com pequena utilização para apoio à decisão e poucas informações integradas para dar conta da complexa situação de saúde nas diferentes regiões do país. A implantação do SUS requer que o Sistema de Informação em Saúde seja diferente: os indicadores escolhidos devem refletir a concepção de saúde que norteia o Sistema Único e devem subsidiar as análises necessárias ao seu desenvolvimento. Consta da Lei nº. 8.080, no capítulo II - Dos princípios e diretrizes do SUS, no Art. 7º, VII: “... utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática...” e no Capítulo IV - Da competência e das atribuições do SUS, na Seção I, Art. 15, IV: “...organização e coordenação do sistema de informação em saúde”. Um dos objetivos básicos do Sistema de Informação em Saúde na concepção do SUS é possibilitar a análise da situação de saúde no nível local, análise essa que tome como referencial microrregiões homogêneas e, necessariamente, leve em consideração as condições de vida da população no processo saúde-doença. Um outro aspecto de fundamental importância é a existência de um sistema hierarquizado, no qual o fluxo ascendente de variáveis se dê de modo inversamente proporcional à agregação geográfica. Deve- se ressaltar, ainda, a necessidade de integração dos bancos de dados e uma maior dinamização das ações de vigilância epidemiológica, através da utilização dos sistemas nacionais informações como pré-requisitos para o desenvolvimento de uma política de informação e informática para o SUS. Neste sentido, consideráveis esforços estão sendo realizados pelo Ministério da Saúde através do DATASUS, SAS e CENEPI para fortalecer as grandes bases de dados nacionais. No âmbito do REFORSUS, vem sendo implantada a Rede Nacional de Informações em Saúde - RNIS, que busca desenvolver a capacidade informacional, em todos os níveis, para operação dos cinco maiores sistemas: SIH, SIA, SIM, SINASC e SINAN. Complementarmente, há a iniciativa da Rede de 4 Guia de Vigilância Epidemiológica Informações para a Saúde - RIPSA, que visa articular as principais instituições responsáveis pela produção de indicadores e dados básicos de interesse para a saúde, objetivando a análise da situação de saúde e suas tendências. Entre as atividades em curso, busca-se estabelecer padrões para compatibilizar os diferentes sistemas, possibilitando o uso integrado de dados e transformar aqueles que anteriormente eram processados de modo centralizado e de utilização restrita ao âmbito federal, em sistemas de base municipal, através da alteração de fluxos e do uso de recursos de informática. Os sistemas de informação apresentados na Tabela I possuem manuais instrucionais e modelos dos instrumentos de coleta (fichas e declarações) para implantação e utilização no microcomputador. Os programas e seus manuais encontram-se no CENEPI à disposição dos interessados. Sistema de Informação de Mortalidade - SIM O SIM foi criado pelo Ministério da Saúde em 1975, como um