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INSTITUTO DE ESTUDOS EM DIREITO E SOCIEDADE – IEDS FACULDADE DE DIREITO – FADIR Docente: Paola Giraldo Herrera Discente: Reynaldo Lobato Sousa Matrícula: 202044627042 FICHAMENTO DE ANTROPOLOGIA JURÍDICA: LIVRO DE ORACY NOGUEIRA “PRECONCEITO RACIAL DE MARCA E PRECONCEITO RACIAL DE ORIGEM” TÍTULO CITAÇÕS DO LIVRO ANÁLISE CRÍTICA O que é preconceito? "Uma atitude desfavorável, culturalmente condicionada, em relação aos membros de uma população" (NOGUEIRA, 2006:p.292) Em sentido genérico, preconceito é a construção de um pré-conceito atribuído negativamente a pessoas ou grupos sociais, cuja suas características são desvalorizadas e estigmatizadas, ocasionando o exercício da discriminação. Nesse sentido, a ideia pré concebida de quem o julga, não possui base fundamentante provida de analise ou construção do conhecimento, mas sim, críticas formadas pelo estereótipo, pelos fatores físicos, biológicos, culturais, identitários, dentre outros, que visam atacar o indivíduo, seja pela sua identidade, gênero, classe, etnia, território, etc. Esta prática, ademais, é um dos grandes desafios que assolam a democracia brasileira, uma vez que a Constituição da República Federativa do Brasil estabelece como uma de suas finalidades "promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer formas de discriminação." Calcado em garantir uma sociedade justa, solidária, com respeito à dignidade da pessoa humana e livre de preconceitos. O que é preconceito racial? “Considera-se como preceito racial uma disposição (ou atitude) desfavorável, culturalmente condicionada, em relação aos membros de Preconceito racial é a modalidade de estigmatizar indivíduos ou um conjunto de indivíduos, tendo como ponto referencial a cor de sua pele. Esse preconceito, assim como nos demais, estabelecem ideias conclusivas generalizantes a partir de uma característica específica, uma população, aos quais se tem como estigmatizados, seja devido a aparência, seja devido a toda ou parte da ascendência étnica que se lhes atribui ou reconhece. (NOGUEIRA, 2006:p.292) nesse caso, a raça. Nesse contexto, condicionar seres humanos por meio de suas tonalidades significa atribuí- los papéis de raça, que visam manipular, segregar e construir hierarquias de supremacia branca. Consequentemente, tem-se uma sociedade em que o indivíduo negro é desfavorecido somente por ser negro. Portanto, na tentativa de conceituar o preconceito racial, Beato (1998, apud SANT'ANA, 2005, p. 60), assim como Nogueira, entende que este é "a teoria ou ideia de que existe uma relação de causa e efeito entre as características físicas herdadas por uma pessoa e certos traços de sua personalidade, inteligência ou cultura. E, somados a isso, a noção de que certas raças são naturalmente inferiores ou superiores a outras.” O que é preconceito de marca? “O preconceito é de marca, serve de critério o fenótipo ou aparência racial (...) Assim, a concepção de branco e não-branco varia, no Brasil, em função do grau de mestiçagem, de indivíduo para individuo, de classe para classe, de região para região (...) pois que o indivíduo, sendo portador de traços “caucasóides”, seja considerado branco, ainda que se conheça sua ascendência negra ou o seu parentesco com indivíduo , sendo portador de traços “caucasóides”, seja considerado branco, ainda que se conheça sua ascendência negra ou o seu parentesco com indivíduos negroides. (NOGUEIRA, 2006:pp.293-294) "Preconceito racial de marca" é a terminologia desenvolvida pelo pensador Oracy Nogueira para apontar o tipo de relação racial predominantemente existente em uma sociedade, na qual o Brasil se configura. Esse conceito assinala que a população nacional é visivelmente marcada pela sua intensa formação miscigenatória, agregando uma identidade coletiva ao país por meio das cores. Nesse contexto, a dinâmica do preconceito racial brasileiro revela que através da intensidade da cor da pele o indivíduo pode estar sendo alvo de racismo. Dessa forma, a Pigmentocracia ou Colorismo, termos usados pela primeira vez pela escritora Alice Walker (mulher negra) no ensaio “If the Present Looks Like the Past, What Does the Future Look Like?”, que foi publicado no livro “In Search of Our Mothers’ Garden” em 1982 (geledes.org.br), releva a configuração de um sistema racial moldado pela hierarquia da pigmentação da pele, ou seja, quanto mais melanina o sujeito tiver (pele mais escura) maior são as chances deste experimentar o racismo, ao passo que enquanto mais clara a tonalidade da pele, menor é probabilidade deste ser vítima de discriminação e exclusão. O que é preconceito de origem? "Onde é de origem, presume- se que o mestiço, seja qual for sua aparência e qualquer que seja a proporção de ascendência do grupo discriminador ou do grupo discriminado, que se possa invocar, tenha as “potencialidades Ao estudar as relações interpessoais e grupais do comportamento dos norte-americanos, Nogueira, à luz da perspectiva racial, elabora o conceito de "Preconceito Racial de Origem" ao inferir que o mecanismo adotado por esta nação, a fim de exercer práticas racistas, é a ancestralidade. Nesse viés, os componentes que constituem a árvore genealógica de cada indivíduo, sendo nela presentes traços genéticos negroides, é fator primordial para o indivíduo ser hereditárias” deste último grupo e, portanto, a ele se filie, “racialmente. " (NOGUEIRA, 2006:p.293) considerado negro e consequentemente sofrer as penalidades por estar nessa condição. Desse modo, o preconceito racial nessa conjuntura é de forma conectiva, genotípica, cujo indicativo para evocar a discriminação é a origem. Um dos fatores, portanto, que podem justificar o ódio pela origem negra, por exemplo, é o passado histórico no qual colônias sulistas após o fim do regime escravocrata, entraram em declínio e pobreza, posto que sua economia era fundamentada nesse comércio. Quanto ao modo de atuar: “Se o indivíduo de cor contrabalançar a desvantagem da cor por uma superioridade inegável, em inteligência ou instrução (...) poderá levar o clube a lhe dar acesso. (...) Nos Estados Unidos, ao contrário, as restrições impostas ao grupo negro, em geral, se mantêm, independentemente de condições pessoais." (NOGUEIRA, 2006:p.294) A manifestação do preconceito racial em sociedades que expressam diferentes considerações quanto ao sentido de "ser alvo" dessa prática, evidentemente atuam de maneiras dicotomias. Nesse viés, coube ao pesquisador Oracy Nogueira analisá-las: de maneira silenciosa e expresso nas entrelinhas, onde o preconceito racial é de marca há um relativismo na aplicação do racismo, demonstrando que fatores não exclusivos à raça podem ser um agravante ou um benefício para o negro, ou seja, contribuições sociais ou ascensão econômica pessoal do indivíduo de pele escura é reconhecida como um processo não comum de causa e efeito, na qual tem-se o estigma (e por isso o sobressalto) de que por ele ser negro dificilmente alcançaria determinado patamar/prestígio e, em virtude disso, seu reconhecimento enquanto sujeito negro é valorizado, passando a ocupar tratamentos diferenciados dos que são da mesma etnia, e equiparando-se a um branco que o consegue sem muitos esforços. Provando, portanto, a natureza circunstancial do preconceito racial aos marcados. Em contrapartida, quando a ação preconceituosa ocorre por conta da origem, como nos EUA, esta ação é impermeável, isto é, não há condições que favoreçam a não discriminação por parte de racistas. Independentemente de forças maiores que possibilitem ao negro norte-americano ter outro status ou proporcionar um serviço à comunidade, seus feitos sociais não anulam o seu pertencer negro, isso porque o sujeito não perde a negritude, uma vez enraizada e portanto excluída. Quanto a definição de membro do grupo discriminadore do grupo descriminado: “Onde o preconceito é de marca, como no Brasil, o limiar entre o tipo que se atribui ao grupo discriminador e que se atribui ao grupo discriminado Aqui convém ressaltar para fins distributivéis de preconceito e discriminação, a indagação sobre quem são os dominados e quem os domina. Mormente, a construção de pseudas afirmações sobre distinções entre "raças humanas" que visava classificar hierarquicamente os próprios humanos, se tornou um é indefinido, varando substantivamente (...) Nos Estados Unidos, ao contrário, o branqueamento, pela miscigenação, por mais completo que seja, não implica incorporação do mestiço ao grupo branco. ” (NOGUEIRA, 2006:pp.293- 294) discussão que ganhou forças primacialmente na europa do século XV. Ao incorporar e proferir essas ideias anti- científicas para o mundo, o pensamento eurocêtrico criou a concepção de haver uma suposta "Supremacia Branca" em detrimento da "incapacidade" dos não- brancos. Nesse sentido, é clara a compreensão de que nações colonizadas por estas concepções perpetuaram- na entre seus civis, como por exemplo nos Estados Unidos da América, que preservam a composição pura de seus ancestrais brancos, os quais se sentem legitimados a despejar ódio e segregar àqueles originários de "raça inferior". No Brasil, onde predominantemente há a discriminação racial por marca, o desejo de fazer parte do grupo dominante é dado por aqueles que se consideram "brancos", na medida em que a tonalidade da pele é clara, justificando sua posição enquanto discriminador. Todavia, essa autoafirmação é uma hipocrisia, ao passo que os brasileiros tendem a negar sua formação através do processo de miscigenação cultural, que os torna miscigenados, não brancos. Sob esse prisma, a realidade contemporânea do Brasil põe em cheque que a população utiliza de atalhos, sejam eles linguísticos ou comportamentais, para desviar ao máximo da condenação de pertencer ao grupo dos discriminados racialmente. Ilustrando essa prática, o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) ao classificar a população em raça/cor, revelou que o grupo de autodeclarados pretos eram insuficientes, menos de 10% (2019), e por isso seria necessário agrupá-los aos pardos. José Luiz Petruccelli, pesquisador da instituição declarou: "Existe diferença no comportamento social entre pretos e pardos: quanto mais escuro, mais discriminado." Revelando a resistência em assumir a cor que o designa enquanto alvo do preconceito racial. Quanto a carga afetiva: "Em todas essas situações, sob o poder de sugestão da hilaridade, incute-se, sub- repticiamente, no espírito tanto das crianças brancas como das de cor, a noção de “inferioridade” do negro ou de indesejabilidade dos traços negroides. (...) Nos Estados Unidos (...) suas O modo como cada indivíduo trata outro indivíduo a fim de ofender ou prejudicar-los, está intimamente relacionado com a significação que atribuímos àquelas características, passando a resignificar-las muitas das vezes. A obra literária "Casa-Grande & Senzala" (1933) do sociólogo Gilberto Freyre, além de expor a origem de comportamentos racistas que ainda estão consolidados em dias atuais, alusa, resignadamente, a tentava de sublimação, conceito difundido pela psicanálise que visa converter interesses individuais em aceitação da manifestações são mais conscientes, tomando a forma de exclusão ou segregação intencional da população negra, em relação aos mais diversos aspectos da vida social." coletividade, para que os símbolos que representem a cultura negra passem a ser indesejáveis e repussíveis. Nesse contexto, a exemplificação de Nogueira se traduz na perpetuação práticas racistas ensinadas reiteradamente tanto em seio familiar quanto socialmente, de que o estereótipo escuro e suas características são algo negativo, fomentadas inconscientemente por gerações, indicando, dessa forma, como se comporta o preconceito de marca enquanto carga afetiva. Por outro lado, a manifestação do preconceito racial de origem tende a ser mais severa, por se tratar de um modelo racial mais emotivo, a carga afetiva dos discriminadores para com os discriminados é quase nula, posto que expressamente o repúdio às pessoas escuras é declarada, na qual barreiras físicas são erguidas e leis segregacionistas foram sancionadas, buscando minimizar atuação política e social dos que não fazem parte dos laços afetivos dos brancos. Quanto ao efeito sobre as relações raciais interpessoais: "no Brasil, um indivíduo pode ter preconceito contra as pessoas de cor, em geral, e, ao mesmo tempo, ser amigo particular, cliente ou admirador de determinada pessoa de cor, sem que isso cause espécie ou implique uma mudança de atitude ou de conceito das demais pessoas em relação a ele (...) Nos Estados Unidos, o branco que mantém relações de amizade com pessoas de cor é pejorativamente chamado de negro-lover ou de “negro voluntário”, além de estar sujeito a sanções mais drásticas." (NOGUEIRA, 2006:p.297) Consoante o filósofo grego Aristóteles, o ser humano é um animal político e por isso, viver em sociedade é uma característica inerente a sua natureza, possibilitando sua sobrevivência. Nesse sentido, a necessidade do ser humano de adapta-se à vida sedentária contribuiu para a socialização e criação de laços com outros indivíduos, formando assim, o sentimento de fidelidade. Após essa introdução, é recorrente perceber que, no Brasil, os laços de fidelidade entre as pessoas é um mecanismo relevante para abrir exceção à práticas discriminatórias como o racismo. O vínculo de apego, construído pelas relações interpessoais, é defendido por Oracy Nogueira como um dos fatores que operacionaliza o relativismo da ação racista, no sentido de torná-la branda, mais leve, silenciosa e até mesmo uma hipocrisia do pensamento racista, na medida em que discrimina somente aqueles que não estão em sua bolha social. Por outro lado, esse mesmo mecanismo utilizado, é posto em prática para justificar o seu não perfil racista e mascará-lo socialmente, ao alegarem: "como posso ser racista? Tenho até amigos que são negros." Onde o preconceito racial se configura de origem, a engrenagem dos laços de lealdade não evitados. Nesse caso, a tendência é isolar o sujeito de cor escura e os que possuem vínculo com eles, tornando-se alvos de segregação. O Apartheid, por exemplo, foi um regime de segregação racial que restringia, além de muitos diretos, o contato de negros com os brancos, pois não se admitia que suas realidades se misturassem. A questão da intrapessoalidade, no Estado Unidos, é uma política de prevenção a miscigenação muito forte, o desgosto de misturar culturas étnicas é observada, por exemplo, na constituição da família norte-americana, na qual todos os componentes são brancos ou todos negros. Quanto a ideologia: "Ao mesmo tempo que é miscigenacionista que toca aos traços físicos, a ideologia brasileira de relações inter- raciais ou interétnicas é assimilacionista, no que se refere aos traços culturais. (...) Nos Estados Unidos, a expectativa da maioria, em relação às minorias sujeitas a discriminação, é de que se mantenham endogâmicas e nucleadas." (NOGUEIRA, 2006:p.298) A dinâmica de como funciona o exercício do preconceito, seja ele de qualquer natureza ou modalidade, possui uma matriz que o impulsiona e garante sua manutenção, independentemente dos efeitos positivos ou negativos causados por ela. Nesse viés, a ideologia como reguladora do modo de compreensão do mundo, foi instrumento de análise do sociólogo Oracy Nogueira, que ao comparar o comportamento da população brasileira e norte americana à luz das relações inter-raciais, engrenou considerações ríspidas. Onde o preconceito racial é de marca, a priori, o sentimento de inclusão e reciprocidade é manifestado quando em contato com o estrangeiro, o fator da identidadeé ainda mais praticado e aceito em contrapartida ao exercício da alteridade, isto é, reconhecer a diferença alheia e valorizar-la em uma relação de independência, sem a preocupação de assimilar-la à um único conjunto cultural. A ideologia assimilacionista, todavia, não faz- se-á presente na conjuntura norte americana, na qual o preconceito é na origem, posto que, a intocabilidade da etnia branca é um fundamento anti-assimilacionista, na qual a segregação racial é a ideologia que os impede de conviverem em simbiose, ocasionando confinamemto e pouca diversidade entre seus civis. Além disso, a formação do povo brasileiro, pautada na exploração indígena, escravidão negra e na imigração européia foram pilares para constituição de um mosaico étnico. A diversidade racial do Brasil, nesta análise, teve sua expansão demográfica decorrente de violência sexual, surgindo assim, o mestiço. Ao passo que o setor econômico expandia, devido ao intenso trabalho de muitos escravos na região, a população estava ficando majoritariamente escura, logo, políticas para reverter esse processo foram tomadas. Nesse contexto, a lógica da imigração européia como método de clarear a população a qualquer custo, indicou um sagaz sistema de branqueamento por meio da miscigenação. Como defendido por Nogueira, a ideologia miscigenacionista tinha como interesse a supremacia demasiadamente branca, visando, a longo prazo, a exclusão de todos os traços visivelmente negros. Dessa forma, é incontestável que no século XIX essa ideologia refletiu-se em vários campos sociais, inclusive como inspiração para as obras do artista Modesto Brocos em "A Redenção de Cam" de 1895, pintura esta que é uma das mais reacionárias e preconceituosas da arte literária brasileira. Nela, uma idosa negra, provavelmente ex-escrava, ergue as mãos em graças ao nascimento do neto branco, sua filha, fruto de estupro, está em posição de Maria segurando a criança em posição de Menino Jesus, ao lado do pai europeu. Esse retrato, é a majestosa evidência do projeto de Darwinismo Social que têm como finalidade a extinção de um raça em detrimento do embranquecimento da população brasileira. Quanto a distinção entre diferentes minorias: "onde o preconceito é de marca, as minorias menos endogâmicas e menos etnocêntricas são favorecidas; onde o preconceito é de origem, ao contrário, há maior tolerância para com as minorias mais endogâmicas e mais etnocêntricas." (NOGUEIRA, 2006:p.298) A ideia de pertencimento nacional por vias da cultura é o marco que prevalece em sociedades, onde tratam o preconceito como fator derivado marca, coloração, isso pois, a receptividade de novas bagagem culturais são difíceis, para essa população, de aceitá-las pertencentes ao mesmo território ao qual se têm vínculos afetivos. No Brasil, por exemplo, a tendência do estrangeiro é adapta-se aos conformes da cultura local a fim de ser identificado parte desse sistema e consequentemente ser reconhecido como integrante e não um "intruso". Nesse viés, o sentimento de patriotismo, embora contribua para a "união" de interesses coletivos, atua como um instrumento de resistência à cultura, praticas, costumes que são paralelas ao padrão majoritário imposto. Desse modo, em relação ao preconceito racial de marca, quanto menos semelhante a minoria da cultura, dos traços físicos e comportamentais brasileiros, maiores são suas chances de serem vítimas. Diferentemente, onde o preconceito é de origem, quantos mais distantes a tentativa de identificação com a cultural ou traços estadunidenses maior é o favorecimento dessa minoria em serem atacadas, uma vez que estas mantenham-se afastadas e mais nucleadas sem interferência ao demais. A liberdade de expressão cultural é mais aceita e tolerante em relação ao Brasil, por exemplo. Quanto a etiqueta: “ Onde o preconceito é de marca, a etiqueta de relações inter-raciais põe ênfase no controle do comportamento de indivíduos do grupo discriminador, de modo a evitar a susceptibilização ou humilhação de indivíduos do grupo discriminado; onde é de origem, a ênfase está no controle do comportamento de membros do grupo discriminado, de modo a conter a agressividade dos elementos do grupo discriminador. ” (NOGUEIRA, 2006:p.299) No seriado norte americano "Everybody Hates Chris”, o protagonista negro divide seus problemas pessoais com a preocupação em ser "destaque" em um espaço de maioria branca, como na escola. Esse cenário é a realidade de negros que precisam se adaptar em ambientes que sabem que não são bem-vindos, exclusivamente por sua cor de pele, a fim de não despertar conflitos com os intolerantes raciais. A obrigatoriedade da etiqueta ditando certos comportamentos e tratamentos com os indivíduos brancos, é comprovada por meio de políticas que desfavorecem os indivíduos de cor escura, cria-se um cenário de que exclusão e restrições à direitos que os fragilizam tornando-os vulneráveis e dependentes de submissões ao grupo discriminador, refletindo, por exemplo, no tratamento desigual de oportunidades, acesso à lugares, etc. Portanto, o branco estadunidense sente-se legitimado a esperar comportamentos dóceis do grupo minoritário. Entretanto, na sociedade brasileira espera-se o contrário, o controle comportamental frente as discussões de raça provoca nos indivíduos incluídos ao grupo dos discriminadores, ao mesmo tempo que sentem -se privilegiados por permanecer nessa posição, a tentativa de conter suas atitudes, uma vez que o preconceito racial de marca existente é motivado pela aparência, o modo de comportamento que o sujeito se expressa perante a uma pessoa do grupo discriminado, é minuciosamente articulado para que a sua índole não tenha má reputação. Desse modo, é comum o brasileiro negro receber denominações como "moreno" ou "mulato", pois entende -se que ao reconhecer aquele individuo como negro, a relação de hierarquia racial que está inconscientemente empregada em suas mentes, começa a transparecer. Quanto ao efeito do grupo descriminado: À medida que aumenta a freqüência dos contatos secundários, se torna mais constante, para o indivíduo de cor, o risco de ser tratado Cabe ressaltar, em primeiro plano, que Oracy Nogueira ao estudar o exercício do preconceito racial em ambas sociedades explica, nas entrelinhas, que a questão da aceitação da identidade negra é mecanismo capaz de reverter, principalmente no Brasil, os preconceitos e em função dos traços raciais – e, portanto, de um estereótipo – pelo menos nas situações de contato categórico (...) Nos Estados Unidos, a consciência da própria identificação racial, por parte do negro, é contínua, permanente, obsedante; (...) enfim, em todo o esforço destinado de possuir os estereótipos correntes, que implicam inferioridade inata ou situacional do negro." (NOGUEIRA, 2006:p.300) discriminação pela cor da pele. Esse mecanismo observado nas modalidades em que há preconceito de marca e de origem, é responsável por criar a consciência da importância de deter práticas racistas. No Brasil, onde há preconceito racial por marca, a característica desta consciência é intermitente, isto é, facultativamente o indivíduo tomará ciência da existência do preconceito racial, essa despreocupação pode ser explicada pelo fato de que o indivíduo miscigenado não se reconhece enquanto pertencente do grupo oprimido, apenas quando o próprio tem uma experiência racista muito desagradável que ele "se enxerga" enquanto alvo, porém, não se envolve com essas "coisas". Nesse sentido, enquanto o sujeito permanece em seu ciclo de convívio com pessoas afins, usa dessa proteção como ferramenta ideológica, achando que o racismo não é algo provável se acontecer, então quando está com contatos secundários, pessoas de outras etnias, passa se conscientizar pela causa que lhe ameaça. Nos Estados Unidos, a atividade de consciência racial é contínua, postoque os habitantes negros desta nação criam uma identidade própria para assegurar sua liberdade e integridade, na medida em que são rigidamente excluídos e atacados frequentemente por conta da raça. Devido a natureza severa com as quais eles são tratados, políticas de prevenção estão sempre trabalhadas para que, eventualmente, a discriminação ocorra. Quanto a reação do grupo discriminado: "Onde o preconceito é de marca, a reação tende a ser individual, procurando o indivíduo “compensar” suas marcas pela ostentação de aptidões e característicos que impliquem aprovação social tanto pelos de sua própria condição racial (cor) como pelos componentes do grupo dominante e por indivíduos de marcas mais “leves” que as suas; onde o preconceito é de origem, a reação tende a ser coletiva, pelo reforço da solidariedade A lógica de operacionalização do preconceito racial de marca é vinculativo com outros fatores sociais, na qual a presença da flexibilidade em atingir seus alvos pode ser evitada através de atributos pessoas que pessoas negras se equivalem, como a ascensão econômica, reconhecimento intelectual e etc. Na medida em que este indivíduos deste grupo étnico experimenta atos racistas a estratégia é evitar que o episódio se repita consigo, buscando o seu desenvolvimento individual para proteje-se do estigma de ser negro, ao passo que não pratica o senso de coletividade ao lutar simbolicamente para que nenhum outro membro do grupo seja a próxima vítima de discriminação. Ademais, o processo de "passividade branca", ou seja, o sujeito que busca esconder suas características negras para ser reconhecido enquanto não pertencente do grupo grupal, pela redefinição estética." (NOGUEIRA, 2006:p.301) discriminado, ocorre normalmente com indivíduos autodeclarados pardos, cuja pigmentação da pele é menor. Embora em algumas circunstâncias consiga status de "branco", para receber tratamentos mais cordiais é necessário que tenha alguma vantagem sobre os da mesma etnia a fim de está no mesmo patamar de um branco que o consegue sem muitos esforços. Todavia, onde o preconceito é de origem, a questão da aceitação social não persiste, o grupo discriminado que sofre racismo não tem a opção de contrabalançar sua dor com aptidões agregadas, logo, o sentimento de expurgar essa prática criminosa da sociedade é mais severa e posta em prática coletivamente. A ideia de protagonismo negro, por exemplo, no Estados Unidos, é sinônimo da conquista de uma raça negra que lutou conjuntamente para este fim, entretanto, no Brasil, a mesma situação é descrita como a "superação e resiliência daquele que enfrentou muitos desafios." Quanto ao efeito da variação proporcional do contingente maioritário: “Onde o preconceito é de marca, a tendência é se atenuar nos pontos em que há maior proporção de indivíduos do grupo discriminado; onde é de origem, ao contrário." (NOGUEIRA, 2006:p.303) A proposta aqui é compreender de que forma a distribuição étnico-espacial negra está geograficamente estabelecida, no sentido de ser foco de discriminação e exclusão racial ou beira protetiva contra os ataques raciais. Nessa ideia, onde o preconceito racial é de origem, a autora estadunidense do livro "White Fragility", Robin DiAngelo, alega que os Estados Unidos é uma sociedade profundamente desigual e separada por raça, e os brancos são os beneficiados dessa separação e desigualdade, posto que possuem favoritismo estatal para restringir a população negra da vida cidadã. Nesse contexto, segundo explica Nogueira, populações de ancestralidades negra que estão demograficamente em maior número em um espaço físico do território norte- americano, possuem maior probabilidade se serem atacadas de forma grupal, do que regiões minoritárias de cidadãos negro, uma vez que a força política destes últimos é ínfima comparadas aos de maior influência numérica. Esse cenário de ódio à aglomeração negra foi perceptível em um dos atentados mais desumanos que a população negra norte-americana enfrentou, membros do grupo ultra-racista que visa a supremacia branca, Kun Klux Klan, invadiu uma pequena cidade dos Estados Unidos predominantemente negra, matando brutalmente os moradores de origem afro-americana (portageledes.org.br). Em outra perspectiva, a lógica de implantação do preconceito racial de marca quanto à variação do contingente minoritário está diretamente proporcional ao menor nível de representantes do grupo discriminado. Isto é, onde a força representativa do negro é maior, numericamente, menos chances de alguém que alí convive experimentar o racismo ou qualquer forma de preconceito racial, ao passo que onde o grupo é menor, torna-se mais vulnerável a qualquer momento ser observável como o "diferente" e por isso excluído. Quanto à estrutura social: "a probabilidade de ascensão social está na razão inversa da intensidade das marcas de que o indivíduo é portador (...) onde o preconceito é de origem, o grupo discriminador e o discriminado permanecem rigidamente separados um do outro. ” (NOGUEIRA, 2006:p.303) Sabe-se que o racismo no Brasil é estrutural, isto é, a construção da lógica discriminatória racial foi um processo paulatinamente consolidado na estrutural do pensamento social. Concomitantemente, a formação desse preconceito engrenou bases em recortes de classes, valendo -se desses pilares para sustentar um preconceito pautado no fenótipo estigmatizado. Nesse sentido, a estrutura social permite que o indivíduo que sofre preconceito racial também sofra preconceito de classe, uma vez que a imagem do sujeito de cor escura está mais "vulnerável ao crime por ser pobre". Nesse contexto, o reflexo social que os efeitos desses preconceitos reverberam, podem ser entendidos, conforme as características peculiares de cada uma das nações, como mecanismos de desigualdade, vulnerabilidade e segregação. No Brasil, por exemplo, tem-se o estigma de que aqueles de cor escura são associados a pobreza e a marginalidade, isso se justifica pelo fato de que, historicamente, a população negra tendo ancestrais escravos que após o fim do regime escravocrata ficaram à margem do desamparo ocupando posições e lugares desfavorecidos. Hodiernamente, essa condição resultou na falta de oportunidades para essa etnia, como garantias básicas de saúde e educação. Dessa forma, os efeitos do "preconceito racial de marca" acaba recaindo sob aqueles negros que na maioria dos casos são pobres. Nesse sentido, a manifestação social desse preconceito une-se ao recorte de classe, observados não isoladamente para explicar, por exemplo, dados apontados pelo site Guia do Estudante "a partir das pesquisas feitas durante o ano de 2018, o IBGE apontou que 78,8% dos jovens brancos entre 18 e 24 anos estão no Ensino Superior. Entre os negros na mesma faixa etária, essa porcentagem cai para 55,6%." Os dados revelam que a dificuldade no ingresso ao ensino superior impossibilita a ascensão do negro periférico e consequentemente amplia os ricos de ser julgado pelos traços negroides como consequência direta da pobreza, embora não pertença necessariamente naquela condição financeira. Nos Estados Unidos, todavia, a reação social perante os negros é dada de forma mais prática e concreta, onde a segregação e exclusão contribuem para a inviabilidade destes quanto ao usufruto de direitos fundamentais. A mobilidade social como instrumento de passividade à discriminação racial é inexistente, uma vez que independe de fatores externos que possam influenciar na reconsideração da aplicação preconceito, o que diferente do preconceito racial de marca. Quanto ao tipo de movimento político a que inspira: "no Brasil, os movimentos sociais e políticos que têm apelado para a consciência de grupo da população de cor, como fonte de motivação para o proselitismo (...) Nos Estados Unidos, a minoria negra não apenas atua comose fosse uma nacionalidade em luta por um status, como tem sido equiparada a uma minoria nacional." (NOGUEIRA, 2006:p.304) Oracy Nogueira ao afirmar que a luta de raça está condicionada à luta de classe, faz-se-à necessário invocar o pensamento marxista no rege a construção do preconceito racial como elemento de consequência da dicotomia entre oprimidos e opressores. Basilarmente, "A história de todas as sociedades que existiram até hoje é a história da luta de classes." Nessa interpretação, a realidade contemporânea é fruto do embate histórico entre antagonismos nos quais uma classe dominava a outra. Nessa lógica de pensamento, o preconceito racial possui bases nesse fundamento uma vez que a condição para existir o racismo é uma classe dominando a outra. Nesse contexto, tanto o preconceito racial de marca quanto o de origem para obter êxito nessa superação é necessário que possuam consciência de classe. Ou seja, reconhecer a identidade da classe ao qual faz parte, afim de quebrar os papéis sociais a ela impostos, e elaborar políticas antirracistas em conjunto com os membros da classe, é o caminho para sua superação. Dessa forma, no Brasil a tendência é que os movimentos sociais minoritários se unam em prol de um objetivo comum, já que suas origens são comuns. Divergindo das políticas norte-americanas que trataram, prioritariamente, cada classe de seus litígios sociais, em um vínculo forte e sério, na qual não se admite o desrespeito para com suas pautas, o sentimento de uma verdadeira nacionalidade por meio da raça paralela à outra em escala maior.