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1 @jumorbeck ↠ O sistema cardiovascular desempenha uma função vital no organismo: distribuir o sangue oxigenado aos tecidos e remover os produtos metabólicos residuais. ↠ As enfermidades ocasionadas por patologias relacionadas ao sistema cardiovascular prejudicam milhões de indivíduos no mundo. ↠ No Brasil, estima-se que a hipertensão seja a condição clínica mais frequente, atingindo 36 milhões de adultos (ARQUIVOS BRASILEIROS DE CARDIOLOGIA, 2016). Dados subjetivos para o exame físico do sistema cardiovascular ↠ Os dados subjetivos compreendem informações fornecidas pelo paciente ou pelos familiares sobre a história pregressa, os sintomas, as queixas, as preocupações, entre outras. ↠ De acordo com Baikie (2006), no sistema cardíaco, é essencial que as informações a seguir sejam coletadas: ➢ Queixa principal: geralmente, o paciente relata queixas como dispneia ou tosse, dor torácica, fraqueza ou fadiga, dor ou edema de membros inferiores, tontura, cefaleia e palidez. ➢ História atual: você deve questionar sobre os sinais e sintomas que o paciente vem apresentando. ➢ História pregressa: atenção aos distúrbios relacionados ao coração, pergunte sobre hipertensão, diabete mellitus, desmaios, mau súbitos e defeitos congênitos do coração. Questione as clientes do sexo feminino sobre o uso de hormônios, hipertensão na gravidez e menopausa. ➢ História familiar: muitas doenças cardiovasculares têm tendências hereditárias que podem sugerir um problema cardíaco, como infarto, doença vascular, dislipidemias, hipertensão e morte súbita. ➢ História psicossocial: perguntas sobre ocupação, antecedentes educacionais, condições de habitação, atividades diárias e relações familiares, pois revelam os níveis de estresse e como são controlados os hábitos atuais de saúde, como atividade física e hábitos alimentares. ↠ Para avaliar especificamente o sistema vascular, pode- se investigar informações subjetivas para doenças arteriais ou venosas. ↠ Entre as arteriais, é necessário pesquisar: ➢ dor manifestada como formigamento, queimação, constrição, aperto, cãibras ou fadiga; ➢ claudicação da cor da pele, como palidez, cianose, rubor e livedo reticular; ➢ diminuição da temperatura da pele; ➢ alterações tróficas, como atrofia da pele, diminuição do tecido subcutâneo, queda dos pelos, alterações ungueais, calosidades, lesões ulceradas, edema e gangrena seca. ↠ Para investigar as doenças venosas, devem-se questionar as seguintes informações: ➢ dor referida, como sensação de peso nas pernas, queimação, ardência, cansaço, cãibras, dor do tipo fincada ou ferroada; ➢ alterações tróficas, como edema, celulite, eczema, úlceras e dermatofibrose; ➢ hemorragia por ruptura de varizes; ➢ sudorese profunda em insuficiência venosa crônica grave. Principais sinais e sintomas no paciente com doença cardíaca ↠ Os principais sinais e sintomas que caracterizam uma patologia cardíaca têm relação direta com o sistema respiratório, a qual é estabelecida pela pequena circulação, incluindo os dois órgãos. As manifestações são: ➢ dispneia; ➢ fadiga; ➢ dor no peito; ➢ síncope; ➢ edema; ➢ variações na pressão arterial e frequência cardíaca; ➢ nictúria; ➢ cianose; ➢ tosse — hemoptise. A dispneia caracteriza-se pela dificuldade de respirar, já a dispneia paroxística noturna ocorre na posição dorsal plana quando o paciente que apresenta insuficiência cardíaca congestiva (ICC) recebe maior volume sanguíneo no coração e desperta do sono relatando-a. Durante a anamnese, deve-se investigar quantos travesseiros ele usa ou se acorda no meio da noite com falta de ar. Já no exame físico, é prioridade auscultar seu aparelho pulmonar. Exame físico do sistema cardiovascular 2 @jumorbeck A fadiga caracteriza-se pela exaustão ao realizar um exercício que exige força ou cansaço decorrente de esforços. Ela pode ser justificada nos pacientes com doença cardíaca pelo baixo débito cardíaco, visualizado nesta fórmula: Débito cardíaco = frequência cardíaca × volume sistólico final Para isso, o enfermeiro deve auscultar não apenas a frequência, como também as válvulas cardíacas e o aparelho respiratório A cianose caracteriza-se pela coloração roxo-azulada das mucosas e pele, é frequente em pacientes com lesões isquêmicas (infarto do miocárdio) ou baixo débito cardíaco e insuficiência cardíaca, porque possuem uma diminuição da perfusão tissular, usualmente têm vasoconstrição, bem como as mãos frias e, às vezes, sudoréticas devido à secreção aumentada da adrenalina. O enfermeiro deve avaliar mucosas, pele e unhas, buscando informações no exame físico tegumentar. A dor no peito pode ser caracterizada como torácica ou anginosa e descrita pelo paciente como contínua, aperto por pressão ou em pontada. Quanto à sua localização, há subesternal, área pulmonar, região inferior do tórax e superior do abdome. Contudo, nem toda dor ou desconforto torácico é uma manifestação típica de doença cardíaca, assim, deve-se saber que ela pode se originar de diversas outras estruturas intratorácicas não cardíacas. A síncope caracteriza-se pela perda súbita e transitória da consciência e, consequentemente, da postura, está associada à circulação sistêmica, mais precisamente pela circulação rica em oxigênio que é encaminhada para o cérebro, e ocorre sobretudo em pacientes com placas de ateroma nas artérias carótidas. O edema é a coleção de uma quantidade anormal de líquido no espaço extracelular, sendo pior à noite e com melhora pela manhã. A insuficiência cardíaca causa-o por ser resultado da pressão venosa aumentada e, nesse caso, segundo Jarvis (2012), ele pode ser divido em: ➢ edema pulmonar, que é severo e frequentemente acompanhado de vazamento aumentado de líquido nas cavidades serosas, bem como de ascite e derrame pleural; ➢ edema periférico, que se acumula nas partes mais baixas do corpo (edema dependente), notadamente nos maléolos do tornozelo ou na tíbia em pacientes que deambulam e no sacro dos que estão confinados ao leito. A nictúria é a micção frequente no turno da noite, sendo que o repouso durante esse período favorece a reabsorção e excreção de líquido. A hemoptise, por sua vez, se trata da eliminação de sangue ou do escarro sanguinolento dos pulmões, das traqueias ou dos brônquios — pacientes com problemas na válvula mitral apresentam-na. Assim, o enfermeiro deve avaliar o aparelho pulmonar, principalmente nos casos de edema agudo do pulmão. Técnicas propedêuticas para avaliação do sistema cardiovascular ↠ O exame físico é essencial para reconhecer possíveis alterações do sistema cardiovascular, para o qual usa-se três técnicas propedêuticas: inspeção, palpação e ausculta. INSPEÇÃO ↠ Na inspeção geral do tórax: ➢ O paciente possui uma atitude de postura antálgica? ➢ Ao observar o tórax, você identifica abaulamentos, retrações, cicatrizes e/ou manchas? ➢ Deve-se pesquisar também o formato do tórax, como foi descrito na inspeção do sistema respiratório, o volume e a vascularização (presença de circulação colateral). Especificamente em relação ao sistema cardiovascular, deve-se fazer a inspeção do precórdio e pescoço, observando e localizando o ictus cordis e a turgência de jugular patológica. Você pode ou não ver o impulso apical (ictus cordis), a pulsação criada conforme o ventrículo esquerdo gira contra a parede do tórax durante a sístole. Ele pode ser visível entre o quarto ou quinto espaço intercostal, bem como pode haver dificuldade de visualização em mulheres em razão da mama, em pacientes obesos ou nas pessoas com paredes torácicas espessadas, sendo observado facilmente em indivíduos magros com cardiomegalia. Pulsações epigástricas e supraesternais são frequentemente visualizadas em sujeitos normais, mas quando forem muito acentuadas, sugeremhipertrofia ventricular direita (se epigástrica) ou, na região supraesternal, indicam a possibilidade de hipertensão arterial sistêmica ou aneurisma de aorta PALPAÇÃO ↠ Ao proceder a palpação, realize-a de forma suave para não prejudicar as pulsações ou os achados similares. ↠ Quando palpar a artéria carótida, pode haver uma hipersensibilidade no seio carotídeo que causa a redução da frequência cardíaca, pressão arterial e isquemia encefálica com síncope. ↠ O local de palpação do pulso apical é no 5º espaço intercostal, podendo ser medido por meio das polpas digitais que localizam o choque de ponta — recomenda- se que o examinador peça ao paciente que expire e pare de respirar. O aumento do tamanho do coração pode provocar o deslocamento do impulso para baixo e ocupar mais do que um espaço intercostal, sendo que o impulso sustentado com mais força e duração pode causar hipertrofia do ventrículo esquerdo. 3 @jumorbeck AUSCULTA ↠ A ausculta cardíaca no precórdio é feita em quatro áreas que correspondem às quatro valvas, conforme você pode ver a seguir. ➢ Área aórtica: 2º espaço intercostal direito. ➢ Área da valva pulmonar: 2º espaço intercostal esquerdo. ➢ Área da valva tricúspide: 4º espaço intercostal esquerdo (borda esternal inferior esquerda). ➢ Área mitral: 5º espaço intercostal próximo à linha hemiclavicular esquerda. ↠ Já as bulhas cardíacas se dividem em B1, B2, B3 e B4. ↠ Em B1, tem-se o fechamento das valvas mitral e tricúspide: ➢ a mitral antecede a tricúspide, pois a sístole no ventrículo esquerdo inicia-se ligeiramente antes do direito; ➢ o timbre é mais grave, conhecido como TUM; ➢ o tempo de duração é um pouco maior que B2; ➢ melhor ausculta no foco mitral (caso ausculte separadamente mitral com tricúspide, deve-se considerar fisiológico); ➢ B1 aumenta a intensidade se houver aumento da velocidade do sangue (febre, anemia, hipertireoidismo, ansiedade e exercícios físicos) ou quando a valva mitral estiver estenosada; ➢ B1 diminui a intensidade quando existir aumento do tecido adiposo ou líquido sobrejacente (obesidade, enfisema e derrame pericárdico), hipertensão arterial sistêmica, fibrose ou calcificação da valva mitral. ↠ Em B2, há o fechamento das valvas aórtica e pulmonar: ➢ a valva aórtica precede a pulmonar, porém, durante a expiração, ambas se fecham sincronicamente dando origem a um único ruído; ➢ na inspiração, há um retardo na valva pulmonar suficiente para perceber os dois componentes, que se trata do desdobramento fisiológico de segunda bulha, conhecido como TLA; o timbre é mais agudo, conhecido como TA ou TLA; ➢ em condições normais, a 2ª bulha é mais intensa nos focos aórtico e pulmonar; ➢ B2 aumenta a intensidade, com hipertensão arterial sistêmica, acometimento da valva aórtica devido à sífilis e exercícios físicos; ➢ B2 diminui a intensidade, com hipotensão arterial, valvas espessadas ou calcificadas, estenose aórtica ou pulmonar. ↠ Já B3 é um ruído protodiastólico que se origina das vibrações da parede ventricular durante o enchimento ventricular rápido. ➢ é um ruído de baixa frequência, conhecido como TU; ➢ ausculta-se a 3ª bulha normal em crianças e adultos jovens. Quando for patológica, ela origina um ritmo tríplice de galope. ↠ B4, por sua vez, é um ruído débil que ocorre no fim da diástole ou na pré-sístole e corresponde ao fluxo mobilizado pela contração atrial. Ausculta das artérias ↠ Principais artérias avaliadas são temporal, carótida, subclávia, aorta abdominal, renal, ilíaca e femoral. 4 @jumorbeck ↠ Na artéria carótida, por exemplo, solicite ao paciente para não respirar durante a avaliação a fim de evitar interferência com a troca de ar. Use, ainda, a campânula (sons de menor frequência) e diretamente na artéria. A obstrução leve produz sopro curto, pouco intenso e localizado; já a obstrução grave aumenta a duração e torna o timbre mais agudo. A obstrução quase total ou total, por sua vez, abole o sopro. Frequência cardíaca ↠ Pode ser verificada por meio da palpação de um pulso periférico, ausculta do pulso apical ou da visualização pelo cardioscópio. ↠ Você deve observar também se há diferença em relação à medida do pulso radial (déficit de pulso) devido às arritmias. Avaliação abdominal ↠ Os principais pontos para pesquisar na avaliação abdominal são a presença de ascite, fígado aumentado e aneurisma aórtico. O fígado é um órgão muito vascularizado e aumenta em resposta a qualquer aumento de pressão atrial direita, podendo se associar ao reflexo hepatojugular. Na insuficiência cardíaca direita severa e na endocardite bacteriana, o baço também pode ficar aumentado passivamente, devido à resposta ao sistema imune. ↠ Já o aneurisma da aorta abdominal é comum, sobretudo em homens acima dos 60 anos. O achado característico ao exame se trata da pulsação ao nível do umbigo. Particularidades no ciclo vital acerca do sistema cardiovascular Gestante ↠ A gestação altera a frequência e o débito cardíaco, as pressões sanguíneas arterial e venosa, a circulação e o volume sanguíneo. ↠ Com o crescimento do útero, existe a compressão da veia cava inferior e das pélvicas, dificultando o retorno venoso proveniente de pernas e pés, o que ocasiona edema dos membros inferiores e dilatações varicosas em pernas, reto e vulva de algumas gestantes. A identificação de uma 3ª bulha ou um sopro sistólico pode ocorrer na ausculta cardíaca. Já a frequência cardíaca geralmente alta ocasiona essa anormalidade, que após o parto desaparece, e a localização do ictus cordis pode modificá-la devido à elevação do diafragma, que desloca o coração para cima e para a esquerda CRIANÇA ↠ As crianças possuem vasos sanguíneos de menor calibre, dificultando a palpação de pulsos, cuja frequência é mais elevada se comparada à do adulto. ↠ A ausculta cardíaca nelas deve ser sistematizada para que fiquem tranquilas e não apresentem alteração dos sinais vitais. ↠ A dificuldade nesse exame físico, além da agitação motora, inclui a ausculta da 2ª bulha, decorrente do fechamento assincrônico de valvas semilunares, aórticas e pulmonares Idoso ↠ Nos idosos, as paredes das artérias tornam-se endurecidas com o passar do tempo, e a aorta fica dilatada e alongada devido à alteração na quantidade e natureza da elastina e do colágeno, bem como à deposição de cálcio. Assim, há aumento na resistência vascular proeminente, pois a camada média perde a musculatura lisa e o tecido elástico. Já o edema evidenciado nesses indivíduos pode ocorrer em razão das varicosidades venosas, obstrução linfática ou diminuição da albumina sérica. Além disso, o mecanismo de compensação da diminuição do enchimento capilar pode resultar na ausculta cardíaca de B4. Referências: LANA, Letice. D.; SILVA, Fernanda. G.; COUTINHO, Andreia. O. R.; HIGA, Camila. B. de. O. Semiologia. Editora ABDR: Grupo A, 2018. 9788595028470. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978859 5028470/. Acesso em: 28 set. 2021.