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Biogeografi a
Guilherme Alves de Oliveira
Luciana A. Pires
Biogeografia
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
 Oliveira, Guilherme Alves 
 
 ISBN 978-85-8482-273-7
 1. Biogeografia. 2. Biodiversidade - Conservação. I. 
Pires, Luciana Andréa. II. Título.
 CDD 578 
Pires. – Londrina : Editora e Distribuidora Educacional 
S.A., 2016.
 224 p.
O48b Biogeografia / Guilherme Alves Oliveira, Luciana Andréa 
© 2016 por Editora e Distribuidora Educacional S.A 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, 
incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e 
transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e 
Distribuidora Educacional S.A.
Presidente: Rodrigo Galindo
Vice-Presidente Acadêmico de Graduação: Rui Fava
Gerente Sênior de Editoração e Disponibilização de Material Didático: 
Emanuel Santana
Gerente de Revisão: Cristiane Lisandra Danna
Coordenação de Produção: André Augusto de Andrade Ramos
Coordenação de Disponibilização: Daniel Roggeri Rosa
Editoração e Diagramação: eGTB Editora
2016
Editora e Distribuidora Educacional S.A
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br 
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Unidade 1 | Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e 
distribuição dos seres vivos no planeta
Seção 1 - Biogeografia histórica
1.1 | A biogeografia enquanto ciência
Seção 2 - A origem da vida
2.1 | Uma breve história das teorias e formação do planeta
2.2 | Teorias sobre a origem da vida
 2.2.1 | Gênesis e Criacionismo
 2.2.2 | Geração espontânea e Abiogênese
 2.2.3 | Panspermia Cósmica
 2.2.4 | Hipótese Autotrófica
 2.2.5 | Hipótese Heterotrófica
2.3 | Da origem da vida aos modelos científicos
Seção 3 - Evolução e biodiversidade
3.1 | Hereditariedade e genética
3.2 | Mendelismo e as características genéticas
3.3 | Lamarckismo, darwinismo e evolução
 3.3.1 | Os estudos de Jean Lamarck
 3.3.2 | Os estudos de Charles Darwin
 3.3.3 | Evidências da evolução
Seção 4 - Dispersão e distribuição dos seres vivos
4.1 | A deriva continental
 4.1.1 | Deriva continental e Biogeografia Histórica
Unidade 2 | Biogeografia ecológica: fatores limitantes da distribuição 
dos seres vivos
Seção 1 - Fatores limitantes da distribuição dos seres vivos
1.1 | Fatores geográficos
1.2 | Fatores climáticos
 1.2.1 | Dinâmica climática global, temperatura e barreiras geográficas
 1.2.2 | O clima e a biogeografia
1.3 | Fatores edáficos
1.4 | Fatores bióticos
1.5 | Fatores antrópicos
Sumário
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Seção 2 - Relações e interações ecológicas
2.1 | Relações harmônicas
 2.1.1 | Colônia (+) (+)
 2.1.2 | Sociedade (+) (+)
 2.1.3 | Mutualismo (+) (+)
 2.1.4 | Comensalismo (+) (0)
 2.1.5 | Protocooperação (+) (+)
2.2 | Relações Desarmônicas
 2.2.1 | Predatismo (+) (-)
 2.2.2 | Parasitismo (+) (-)
 2.2.3 | Competição (-) (-)
 2.2.4 | Amensalismo (-) (0)
2.3 | Relações Neutras
2.4 | Conclusões sobre as relações
Unidade 3 | Biomas terrestres e domínios biogeográficos do Brasil
Seção 1 - Ecossistemas, biomas e domínios
Seção 2 - Os biomas terrestres do planeta
2.1 | Classificações dos principais biomas do planeta
2.2 | Tundras – Árticas e Alpinas
2.3 | Taiga
2.4 | Florestas Decíduas Temperadas
2.5 | Pradarias (Campos Temperados)
2.6 | Campos Tropicais e Savanas
2.7 | Chaparral e Bosque Esclerófilo
2.8 | Desertos
2.9 | Florestas Tropicais
 2.9.1 | Estrutura das florestas tropicais
 2.9.2 | Dinâmica das florestas tropicais
 2.9.3 | Florestas Tropicais Sazonais Subperenifólias
 2.9.4 | Florestas Tropicais Úmidas
Seção 3 - Biomas brasileiros
3.1 | Biomas brasileiros
3.2 | Domínio Equatorial Amazônico
 3.2.1 | Domínio das Caatingas (Domínio das Depressões Interplanálticas 
Semiáridas do Nordeste)
 3.2.2 | Domínio dos Cerrados
 3.2.3 | Domínio dos Mares de Morros
 3.2.4 | Domínio das Araucárias (Domínios dos Planaltos de Araucárias)
 3.2.5 | Domínio das Pradarias
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Unidade 4 | Biodiversidade, Conservação e Manejo de Ecossistemas
Seção 1 - Biodiversidade: da norma à forma
1.1 | O conceito de biodiversidade
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101
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102
1.2 | Especificações dos conceitos: biodiversidade, bioma,
ecossistema e biocenose
 1.2.1 | A Biodiversidade
 1.2.2 | O Bioma
 1.2.3 | O Ecossistema
 1.2.4 | A Biocenose
1.3 | O meio ambiente na perspectiva pública e organizacional
 1.3.1 | O Ambientalismo no Brasil
Seção 2 - Conservação e o manejo de ecossistemas
2.1 | Conservação e preservação
 2.1.1 | Conservação
 2.1.2 | Preservação
2.2 | A biogeografia: preservação, conservação e manejo ambiental
 2.2.1 | A Biogeografia de Ilhas
2.3 | As unidades de conservação
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205
Apresentação
A biogeografia é um ramo muito importante da Geografia Física que aborda, 
como tema central, a distribuição dos seres vivos na superfície terrestre. Se você, 
por algum motivo, já tentou saber o porquê de um determinado organismo 
estar em um lugar e não estar em outro, de certa forma, você pensou acerca da 
biogeografia. Assim, vamos buscar entender, por exemplo, quais são os fatores que 
intervêm no fato de não haver pinguins no Polo Norte, ou camelos na Amazônia e 
até mesmo Araucárias no topo do Everest.
Essa compreensão só é possível a partir de uma análise interdisciplinar, pois 
não há como simplesmente dizer que um único fator seja o responsável pela 
adaptação da vida em determinado lugar. Assim é necessário que utilizemos os 
conhecimentos da Geologia, Geomorfologia, Biologia, Climatologia, Ecologia, 
Botânica, Edafologia e tantas outras áreas do conhecimento que se fizerem 
necessárias. Isso sem deixar de levar em conta a importância de realizar essa 
análise tendo consciência da interação da Biosfera com a Litosfera, Atmosfera e 
Hidrosfera (e também da Antroposfera!). 
Além de todas essas interações entre diferentes esferas e ramos do saber, a 
biogeografia também se ocupa de compreender como se deu a distribuição dos 
seres vivos no planeta através dos tempos. Ora, o clima mudou com o tempo, os 
continentes se deslocaram, algumas áreas que anteriormente estiveram submersas 
agora estão emersas (e vice-versa) e, como não poderia ser diferente, a distribuição 
e a adaptação dos seres vivos foram influenciadas por esses eventos.
Para que possamos compreender a biogeografia, nosso livro está separado em 
quatro unidades. Na primeira unidade, iniciaremos nossas discussões buscando 
compreender o que é a biogeografia histórica. Posteriormente, nos debruçaremos 
em analisar o início da vida e como se deu (e se dá!) a evolução e, por fim, como 
ocorreu a dispersão dos seres vivos no planeta.
Na segunda unidade, continuaremos a buscar a compreensão da distribuição 
dos organismos na superfície terrestre, tendo como foco de análise os fatores 
limitantes da distribuição dos seres vivos. As relações e interações ecológicas são 
fundamentais para o entendimento da biogeografia e as estudaremos na seção 2 
da segunda unidade.
A terceira unidade tem como escopo definir três diferentes e importantes 
conceitos: ecossistema, bioma e domínios. Apesar das similaridades entre os 
termos, há sensíveis diferenças que um professor de Geografia deve saber para 
atuar como docente. Trabalharemos, então, quais são os principais biomas 
terrestres e os domínios morfoclimáticos e fitogeográficos de nosso país.
Em nossa quarta e última unidade, teremos como objetivo discutir a respeito do 
que é a Biodiversidade e Ecossistema, para, enfim, estudarmos a conservação e omanejo de ecossistemas. 
Você perceberá que esta disciplina lhe proporcionará uma vasta gama de 
conhecimento para a compreensão da distribuição dos seres vivos na superfície 
terrestre, bem como será possível perceber o modo como os conteúdos de 
diversas disciplinas se interagem para responder às questões da biogeografia. Não 
podemos deixar de citar, também, que esse conteúdo está contemplado tanto 
nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) quanto nos Parâmetros Curriculares 
Nacionais (PCN). Portanto, boa leitura e bons estudos!
Unidade 1
BIOGEOGRAFIA HISTÓRICA: 
ORIGEM DA VIDA, EVOLUÇÃO 
E DISTRIBUIÇÃO DOS SERES 
VIVOS NO PLANETA 
Nesta Seção 1 dedicaremos uma análise e discussão acerca das 
especificidades e elementos abordados no estudo da Biogeografia Histórica 
para que possamos nos situar acerca dos ramos e enfoques presentes neste 
ramo de estudo da Biogeografia, apresentando alguns estudos e teóricos que 
fundamentaram os alicerces do que estudamos e discutimos até os dias atuais. 
Na Seção 2 vamos nos dedicar aos elementos teóricos realizados sobre a 
origem do nosso planeta, assim como a formação de vida nele. Junto a esta 
apresentação partiremos para uma análise sobre o atual modelo científico 
teórico no qual fundamentaremos as demais abordagens pelas unidades 
deste livro. 
Seção 1 | Biogeografia histórica
Seção 2 | A origem da vida
Objetivos de aprendizagem: 
Esta unidade tem por objetivo focar os estudos no entendimento e 
desenvolvimento dos segmentos da Biogeografia Histórica, o que é fundamental 
para compreendermos elementos como a origem da vida em nosso planeta, 
assim como teorias e conceitos evolutivos e, por fim, abranger as causas e 
os fatores que levaram à distribuição dos seres vivos extintos e aqueles ainda 
presentes pelo planeta Terra.
Guilherme Alves de Oliveira
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
U1
10
Na Seção 3 desta unidade dedicaremos um espaço para a construção 
e compreensão dos pensamentos de evolução e biodiversidade, com o 
objetivo de analisarmos os princípios evolutivos com base nas concepções 
genéticas e pelas correntes teóricas que abordem a adaptação dos seres 
vivos aos diferentes meios e ambientes.
Com a Seção 4 buscamos realizar uma abordagem pelo viés da 
Biogeografia Histórica das causas e circunstâncias que induziram a dispersão 
e distribuição dos seres vivos pelo nosso planeta, partindo de uma análise 
sobre os critérios geológicos, como a deriva continental, em conjunto com 
os elementos biológicos de adaptação que acarretaram a dispersão dos 
seres vivos que iremos conhecer. 
Seção 3 | Evolução e biodiversidade
Seção 4 | Dispersão e distribuição dos seres vivos
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
U1
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Introdução à unidade
A Biogeografia é uma ciência complexa, que se expressa através de uma série de 
fenômenos e elementos do que hoje conhecemos por “Ciências da Terra”. Entretanto, 
ao analisarmos cada um destes elementos e fenômenos e os compreender por um 
viés lógico e educacional, esta complexidade passa a se tornar muito mais alcançável.
Para tal, iremos então nos aprofundar em um dos ramos desta ciência, a 
Biogeografia Histórica. Esta abordagem nos fornecerá fundamentações para a 
construção e o discernimento de determinados fenômenos da Biogeografia.
Em primeira instância, devemos justificar que, ao tratar o estudo da Biogeografia 
pelos ramos da Biogeografia Histórica e Ecológica, não estaremos reforçando 
a dicotomia ou a dualidade da ciência, uma vez que é praticamente impossível 
dissociar a Biogeografia nestes dois ramos. Pois a Biogeografia deve ser tratada como 
uma ciência multidisciplinar, encarando uma gama de associação e fenômenos de 
distintos campos de pesquisa para a compreensão da origem, gêneros e distribuição 
geográfica dos seres vivos.
Mas então surge um primeiro questionamento: Qual é a efetividade de 
estudarmos a Biogeografia Histórica como uma vertente desta ciência? A resposta 
advém por um viés didático-pedagógico, no qual a dificuldade de compreensão de 
cada abordagem passa a ser suprimida pela construção de ideias e diálogos sobre 
cada elemento, alcançando assim, ao final de cada unidade, um novo patamar de 
conhecimento acerca da Biogeografia como um todo.
Nesta unidade vamos conhecer por um viés científico e funcional a estrutura 
de diversos fenômenos, como, a concepção da origem da vida em nosso planeta 
em suas diversas teorias, os conceitos acerca de evolução e seus fenômenos, 
destacando elementos da genética e das relações de seleção e adaptação natural e, 
por fim, buscamos uma análise das circunstâncias que proporcionaram a dispersão 
e distribuição dos seres vivos pelo planeta.
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
U1
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Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
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Seção 1
Biogeografia histórica
Antes de iniciarmos nossas aplicações, devemos, primeiramente, responder a 
um questionamento: “O que é e o que se estuda em Biogeografia?” A Biogeografia 
faz parte de um componente das Ciências da Terra que busca compreender os 
fenômenos e elementos da distribuição dos seres vivos em nosso planeta. Para tal, 
realizam-se diversos estudos que contemplam áreas como a Geografia, Geologia, 
Genética, Zoologia, Botânica e demais ciências afins.
Então, a Biogeografia se apresenta como uma ciência capaz de unificar os objetos 
de estudo de diferentes áreas com o propósito de investigar circunstâncias e fatores 
que possam nos auxiliar na compreensão de diversos fenômenos, sejam eles em 
escala geológica ou observados em nosso dia a dia.
1.1 A biogeografia enquanto ciência
Como fundamentação para a pergunta realizada anteriormente sobre o objeto 
de estudo da Biogeografia, a zoóloga Gillung (2011) apresenta como definição a 
seguinte observação: “Biogeografia é a ciência que estuda a distribuição geográfica 
dos seres vivos no espaço através do tempo, com o objetivo de entender os padrões 
de organização espacial dos organismos e os processos que resultaram em tais 
padrões” (GILLUNG, 2011, p. 3).
Mas, e a Biogeografia Histórica? Conforme Miranda (2012, p. 215), a centralidade 
do ramo aponta que “A Biogeografia Histórica se propõe a estudar agentes do 
passado utilizando padrões de distribuição de espécies e táxons supraespecíficos 
gerados por processos que atuam em larga escala e dizem respeito a milhares de 
anos”. Sendo assim, a Biogeografia Histórica é um ramo da Biogeografia que nos 
auxilia a compreender as distribuições dos seres vivos através de uma reconstituição 
dos fenômenos que motivaram essas distribuições. Um exemplo disto é a análise 
da deriva continental, que proporcionou a separação de ecossistemas comuns em 
novos ecossistemas independentes daquele anterior.
Além dos critérios de dispersão, a Biogeografia Histórica nos fornece meios 
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
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14
que auxiliam na abordagem de discussões acerca da genética, evolução e 
adaptação dos seres vivos nestes novos ambientes. Demonstrando assim que, para 
compreendermos as relações ecológicas e os fatores determinantes biogeográficos 
que abordaremos na Unidade 2, é fundamental o contato com algumas teorias, 
elementos e fenômenos que fazem parte do estudo da Biogeografia Histórica.
Na Antiguidade (século XV), um dos fatores motivadores para a fundamentação 
da Biogeografia como a ciência que nós conhecemos hoje foram as indagações de 
muitos biólogos e naturalistas acerca da distribuição dos seres vivos em diferentes 
regiões do planeta. Tais indagações acarretaram em diversas explorações científicas, 
onde cada um deles apresentava, através de seus registros, novas teorias sobre a 
dispersão dos seres, a origem da vida e a diferenciação destes ao redor do globo. 
Um dos agentesque fundamentaram o desenvolvimento da Biogeografia 
Histórica foi George Louis Leclerc (1707-1788), também conhecido como Conde 
de Buffon. Através de suas viagens, notou uma diferenciação clara entre os seres 
vivos e, consequentemente, instituiu o primeiro princípio biogeográfico, nomeado 
como “Lei de Buffon”, que afirmava que a diferenciação entre as espécies de fauna 
e flora era ocasionada pela diferenciação do clima em diferentes regiões do planeta 
e que em ambientes com características minimamente similares há a presença 
de animais diferentes. No Brasil, podemos aproximar os ensaios e as propostas de 
Buffon pela classificação dos domínios morfoclimáticos e fitogeográficos propostos 
pelo geógrafo Aziz Nacib Ab’Saber, presentes na obra “Os Domínios de Natureza no 
Brasil: Potencialidades Paisagísticas”.
Ou seja, a primeira teoria biogeográfica nos remete a uma relação direta dos 
seres vivos com um fator externo, como o clima, uma vez que a Lei de Buffon se 
aplica pela afirmação “Áreas distintas possuem espécies distintas”.
Com a difusão e o firmamento deste estudo, demais pesquisadores naturalistas 
passaram a utilizar a Lei de Buffon como um parâmetro em suas observações. Até 
que, em meados do século XIX, o naturalista Augustin Pyramus de Candolle, baseado 
no princípio biogeográfico já instituído, elencou dois conceitos considerados até 
hoje como o núcleo da Biogeografia que estudamos até nossos dias.
De Candolle trazia como elementos de análise ao estudo da Biogeografia os 
conceitos de Estação e Habitação, definindo-os da seguinte maneira:
Por estação eu me refiro à natureza especial da localidade na 
qual cada espécie costumeiramente cresce; e por habitação, 
uma indicação geral do país de onde a planta é nativa. O termo 
estação está essencialmente relacionado ao clima, ao terreno 
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
U1
15
Tal fundamentação firmou dois campos de análises dentro da Biogeografia que 
conhecemos hoje: a Biogeografia Histórica, que se baseia na análise de agentes com 
uma larga escala e espaço-tempo na história do planeta; já a Biogeografia Ecológica 
se baseia no estudo dos agentes com uma curta escala e tempo no presente do 
planeta.
Um exemplo de respectividade de cada campo de estudo que podemos observar é 
de quando estudamos ou analisamos fenômenos ou eventos de alta escala temporal, 
como a deriva continental e os processos evolutivos, podemos diretamente nos 
remeter à Biogeografia Histórica como ramo de estudo. Em contrapartida, ao analisar 
fenômenos de condicionantes espaciais ecológicos ou limitantes de distribuição, 
estes estudos farão parte do ramo da Biogeografia Ecológica.
Todavia, a problemática criada desde as fundamentações de De Candolle 
gerou inquietações na Biogeografia que perduram até hoje. A fragmentação destes 
dois segmentos proporcionou diversas críticas, sobretudo pela generalização das 
espécies em escala regional, dando origem assim à construção de diversas correntes 
na agora fundamentada Biogeografia.
Uma destas principais correntes para a análise tanto do ramo histórico quanto do 
ramo ecológico é a Panbiogeografia. A Panbiogeografia surgiu como uma análise 
mais aprofundada através dos estudos de dispersão e adaptação dos seres vivos dos 
renomados naturalistas Charles Darwin (1809-1882) e Alfred Wallace (1823-1913).
Esta corrente biogeográfica foi batizada por Leon Croizat (1894-1982), que se 
baseou em uma plotagem cartográfica de mapas com a sobreposição de elementos 
de análise de dispersão. Croizat observou, através de suas análises, uma espécie 
de trilha criada pela dispersão dos seres vivos, afirmando que ele poderia recriar o 
caminho reverso destes seres.
Ainda que Croizat refutasse a teoria da deriva continental, seu trabalho foi alvo de 
críticas, por não ter como parâmetro de análise as relações genéticas entre os seres 
vivos analisados e referenciados por mapeamento.
Entretanto, como um resultado de todos os estudos realizados posteriormente, 
os biólogos Gareth Nelson e Norman Pletnick trouxeram, aos nossos dias atuais, 
contribuições acerca de todo o estudo da Biogeografia Histórica, expressas através 
do conceito de Vicariância.
de um determinado local; o termo habitação está relacionado 
às circunstâncias geográficas e até mesmo geológicas (DE 
CANDOLLE, 1820, p. 383, tradução nossa). 
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
U1
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A Vicariância como metodologia se institui por meio de três segmentos que 
contemplam a teoria da tectônica de placas e as explicações dispersialistas, a relação 
filogenética e os conceitos evolutivos e, por fim, os princípios da Panbiogeografia e 
a aplicação cartográfica nas pesquisas.
Podemos afirmar que este método, atualmente, é o mais difundido no estudo de 
Biogeografia, sobretudo no ramo da Biogeografia Histórica, principalmente por se 
basear em um amálgama que nos traz as potencialidades de cada teoria e análises 
realizadas pelos naturalistas e biólogos que já trilharam suas ideias e histórias na 
Biogeografia como ciência.
Ao apresentarmos esta breve trajetória da Biogeografia em seu ramo histórico, 
podemos concluir que, ao abordar tal segmento nesta ciência, buscamos desenvolver 
um amplo espaço para análises de elementos, como a origem da vida, a evolução e 
a biodiversidade, em paralelo com as discussões acerca das causas que originaram 
a dispersão e distribuição dos seres vivos, criando assim a nossa própria trilha no 
conhecimento desta ciência.
Observamos nesta seção o desenvolvimento e os critérios 
para a definição da Biogeografia Histórica, porém, devemos 
compreender quais são os pontos positivos e negativos 
desta subdivisão da Biogeografia. Para compreender mais 
sobre os elementos que distinguem cada ramo desta ciência, 
leia: Biogeografia Ecológica VS. Histórica: Uma divisão 
Necessária? Pelo Laboratório de Sistemática e Biogeografia.
<http://www.ib.usp.br/~silvionihei/biogeografia.htm>. 
Acesso em: 22 jul. 2015.
De fato, podemos afirmar que a Biogeografia pode ser considerada 
uma ciência multidisciplinar, que une diversos conhecimentos para 
a compreensão de toda a dinâmica biótica dos seres vivos, desde sua 
origem até os segmentos de dispersão e distribuição geográfica dos 
seres vivos. Para conhecer um pouco mais sobre o histórico desta 
ciência, leia o artigo “Introdução à Biogeografia”, disponibilizado em: 
<http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/BolGeogr/article/
viewFile/12274/7401>. Acesso em: 14 ago. 2015. 
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
U1
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1. De acordo com o desenvolvimento teórico e prático da 
Biogeografia enquanto ciência, assinale a alternativa correta 
que elenca a abordagem de estudo da Biogeografia:
a) A Biogeografia é uma ciência que busca compreender a 
distribuição dos seres vivos e os fenômenos que motivaram 
essa distribuição.
b) A relação climática é um dos únicos elementos estudados 
pela Biogeografia.
c) A Biogeografia é uma ciência que estuda exclusivamente 
critérios evolutivos.
d) O homem, enquanto ser vivo, não tem qualquer 
representatividade nos estudos biogeográficos.
e) Os estudos no campo de pesquisa sobre evolução e genética 
não estão atrelados aos ramos da ciência biogeográfica.
2. Tratando-se da segmentação da Biogeografia, observamos 
a ramificação da ciência entre Biogeografia Histórica e 
Biogeografia Ecológica. No que se diz respeito aos estudos 
dirigidos ao campo da Biogeografia Histórica, destaque as 
afirmações a seguir entre verdadeiro (V) e falso (F) e a seguir 
assinale a alternativa correta.
São elementos de estudo da Biogeografia Histórica:
( ) Deriva continental e processos evolutivos.
( ) Condicionantes espaciais ecológicos.
( ) Dispersão e distribuição dos seres vivos.
( ) Correntes teóricas, como a Panbiogeografia.
( ) Análises de fenômenos biogeográficos de ampla escala.a) V – F – V – F – V. 
b) F – V – F – F – F. 
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
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c) V – F – V – F – V. 
d) F – V – V – V – F. 
e) V – F – V – V – V.
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
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Seção 2
A origem da vida
Desde o princípio da humanidade, nós, como seres humanos, mantemos dúvidas 
e indagações sobre: qual é a origem da vida? Como e quando surgiu vida nesse 
planeta? Estas perguntas persistem ainda com o advento da sociedade moderna 
que observamos hoje, porém, diversas teorias podem nos ajudar a compreender um 
pouco mais sobre a história do nosso planeta. 
Buscamos então compreender as hipóteses e teorias formuladas que indicam os 
elementos da formação do planeta, assim como a origem da vida dos seres que nele 
habitam, sob uma ótica analista. Para tal, iremos destacar nesta seção cada formulação 
em busca de evidenciarmos o atual modelo científico que nos auxilia a compreensão 
dos elementos e circunstâncias que proporcionaram a vida no planeta.
2.1 Uma breve história das teorias e formação do planeta
Ainda que muitas das teorias sobre a formação de vida no planeta que vamos listar 
não tenham evidências científicas, como, a panspermia dirigida e o criacionismo, 
devemos manter nossos olhares para os critérios científicos e os experimentos que 
nos auxiliam na delimitação dos segmentos de vida na Terra.
Porém, antes de pensarmos na origem da vida em nosso planeta, devemos pensar 
em como nosso planeta surgiu. Quais foram as circunstâncias que deram origem 
ao processo de formação do planeta Terra? Essa pergunta deve ser respondida 
antes mesmo de pensarmos na origem da vida, e para respondê-la devemos analisar 
algumas teorias e hipóteses quanto à origem do universo.
Ao analisarmos a ideia de formulação do universo antes mesmo do planeta Terra, 
já nos deparamos com três fundamentos teóricos para trazermos em discussão: a 
teoria do Big Bang, a teoria do Oscilamento e a teoria Criacionista.
A teoria do Big Bang, tal qual Novello (2010) relata, se baseia em uma súbita 
explosão de escala cósmica que induziu a uma expansão e fluxo de matéria e 
energia. Em paralelo, a teoria do Oscilamento possui o início similar ao Big Bang, se 
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
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20
diferenciando na ideia da expansão contínua, alegando que, ao atingir determinado 
ponto pelo processo de expansão, haverá uma retração, levando assim a um modelo 
cíclico. Por fim, a teoria Criacionista se atém na formulação do universo por meio 
de uma entidade divina ou cósmica designada como responsável pela origem do 
universo em toda a sua amplitude.
Ao pesquisarmos sobre a temática, iremos nos deparar com diversas teorias e 
vertentes das três citadas anteriormente, mas há um consenso formulado por hipóteses 
e experimentos que destacam as bases da teoria do Big Bang como um modelo para a 
concepção da formulação do universo e as demais teorias oriundas desta.
Entretanto, entre a origem do universo e a formulação dos planetas e sistemas 
que conhecemos hoje, houve um vasto espaço de tempo, denominado como 
período Planckiano. Cordani (2008) nos ajuda a compreender o que foi esse período 
para a ciência, com a seguinte formulação:
Cerca de 4,6 bilhões de anos atrás, após o período Planckiano que reconhecemos, 
havia uma densa nuvem de gás e poeira cósmica como material decorrente da 
explosão de estrelas em supernova. Este material se fundiu, dando origem a novas 
estrelas de diferentes grandezas, incluindo o Sol do nosso sistema planetário.
Outras partículas sólidas também presentes nesta nuvem, como gelo e rochas, 
se uniram criando um campo gravitacional decorrente da massa aglomerada e, 
consequentemente, atraindo partículas menores em suspensão. Eis que assim 
podemos idealizar a formação dos planetas em nosso sistema, integrando também 
o planeta Terra.
Assim como os demais planetas presentes no nosso sistema solar, a Terra se 
formou pela aglutinação destes materiais, e mesmo depois de formada continuou a 
ser alvejada por matérias externas, tais como os meteoritos de que temos registros, 
em uma escala extremamente maior do que a observada nos últimos anos.
Esses impactos dos materiais externos tiveram tanta relevância quanto a dinâmica 
interna do planeta. A importância destes fenômenos se representa pela regulação do 
A ciência não tem elementos para caracterizar o período que 
os físicos denominam como Planckiano, decorrido logo após 
o instante inicial. Trata-se do tempo necessário para a luz 
atravessar o comprimento de Planck, a unidade fundamental 
de comprimento, pois não é possível saber se as constantes 
fundamentais que governam nosso mundo já atuavam 
naquelas condições (CORDANI, 2008, p. 4). 
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
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que se tornaria a atmosfera e mesmo a formação do satélite lunar, formado pela 
colisão de um grande meteoro que retirou uma porção de massa do planeta com a 
violência do impacto, deixando-o em órbita, formando assim a Lua que conhecemos.
Com o passar de milhões de anos, a Terra passa a se solidificar em sua parte 
externa, segmentando-a no modelo proposto em Geologia, onde há crosta, manto 
e núcleo. Este momento da história geológica da Terra se remete ao período pré-
cambriano, e é nesse ponto que se passa a ter os primeiros registros das formas 
primitivas de vida na Terra.
2.2 Teorias sobre a origem da vida
2.2.1 Gênesis e Criacionismo
2.2.2 Geração espontânea e Abiogênese
Quais foram as hipóteses que nós, enquanto seres humanos, formulamos para 
racionalizar ou evidenciar a origem da vida no planeta? Eis que então surgem diversas 
teorias e experimentos com a finalidade de justificar a origem da vida em diversas 
vertentes, mas destacaremos aqui as mais relevantes para a construção da ciência e, 
sobretudo, da Biogeografia.
Paralelo à teoria de criação do universo, fora formulada através do criacionismo 
a hipótese do Gênesis, que sustentava que toda forma de vida no planeta fora criada 
por uma entidade divina que a regulava. Esta hipótese perdurou por muitos anos na 
história da humanidade em paralelo com os fundamentos da origem do universo do 
criacionismo, por meio de obras de cunho religioso, como a Bíblia, o Alcorão, Vedas 
e demais obras designadas como livros sagrados. 
Podemos observar os registros da hipótese do Gênesis ao observarmos os 
segmentos históricos e religiosos de diferentes civilizações e culturas. Em diversos 
momentos da humanidade essa teoria se apresenta como um princípio racional 
para a concepção da formação do planeta e da vida presente neste.
Conforme as observações históricas do pesquisador John S. Wilkins (2004), em 
seu levantamento cronológico da teoria intitulado “Spontaneus generation and the 
origin of life” (Geração Espontânea e a Origem da Vida), podemos apresentar aqui 
o desenvolvimento histórico e as discussões acerca desta teoria em um panorama 
comparativo e sequencial. 
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
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22
De modo a não apoiar a hipótese do criacionismo na íntegra, os gregos 
acreditavam que não haveria a necessidade de uma intervenção divina para 
a regulação da vida. Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) elaborou uma teoria que se 
pautava nesta ideia, considerando que a vida era o resultado da ação de um agente 
externo sobre uma matéria inanimada, na qual se formaria a vida. Esta teoria passou 
a ser reconhecida como Geração espontânea, na qual não haveria necessariamente 
a relação de uma entidade divina na formação da vida, mas sim seria resultado de 
um fenômeno natural.
Após muito tempo, a Igreja Católica foi conivente com a teoria da geração 
espontânea de Aristóteles, inclusive difundindo-a ao passar dos anos, até ser 
contestada na Idade Moderna.
Existem aindarelatos históricos sobre a teoria da geração espontânea, tal qual 
espécies de receitas para a criação natural de vida. Um dos exemplos clássicos 
que apoiava a teoria através do experimento se baseava em deixar a carne (matéria 
inanimada) exposta ao tempo (princípio ativo), criando assim moscas.
Somente no século XVII um naturalista italiano, chamado Francesco Redi (1626-
1697), contestou a teoria da geração espontânea realizando um experimento com 
amostras de carne em um frasco selado e em outro exposto. Consequentemente, 
Redi relatou que nas amostras seladas não havia nenhum vestígio de vida, refutando 
assim a teoria da geração espontânea.
Como conclusão de seus experimentos, Redi sugeriu o modelo de Biogênese, 
uma vez que, com o apoio de lupas, observou a presença de ovos de moscas nos 
frascos não vedados, evidenciando assim o seu modelo para a explicação da origem 
da vida. 
Anos depois, com a difusão do microscópio como instrumento aplicado às 
ciências, a teoria da geração espontânea foi rebatizada como Abiogênese e retornou 
ao posto de modelo para a explicação da origem da vida.
Essa retomada da teoria teve como principal circunstância a justificativa para os 
seres vivos observáveis apenas através do microscópio. Experimentos como o de 
John Needham (1713-1781) sugeriam que, ao ferver determinados tipos de infusões 
e deixando-os expostos, haveria uma proliferação de organismos, implicando o 
reconhecimento da abiogênese, uma vez que estes microrganismos surgiam de 
maneira espontânea com o resfriamento de suas infusões.
Com o intuito de refutar o experimento de Needham e a teoria da abiogênese, 
o naturalista Lazzaro Spallanzani (1729-1799) recriou os experimentos na tentativa 
de comprovar o conceito de biogênese aplicado por Francesco Redi. Para 
tal, Spallanzani realizou diversas infusões e deixou-as em grupos de amostras 
extremamente vedadas, pouco vedadas e totalmente expostas. Como resultado de 
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
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seus experimentos, observou que, quanto mais expostas ao ar, mais as amostras 
demonstravam a proliferação de organismos. Concluindo então que o ar conteria 
os ovos destes organismos, levando a comunidade científica a um embate entre a 
biogênese e a abiogênese.
Tal embate entre as teorias se manteve até 1862, quando o francês Louis Pasteur 
(1822-1895) redefiniu definitivamente as ideias acerca da geração espontânea e 
abiogênese através de seus experimentos. Estes experimentos se baseavam em criar 
a infusão de soluções, submetendo-as a uma temperatura contínua em recipientes 
esterilizados que permitiam a entrada de ar e minimizavam a entrada de organismos 
pelo distanciamento do pescoço do recipiente com o fundo. Como resultado de 
seus experimentos, Pasteur observou que os líquidos da infusão permaneciam 
inalterados e não se apresentava vestígio de qualquer microrganismo.
Dentre as conclusões de seus experimentos, Pasteur destacou que a vida tem 
origem em uma espécie de vida já existente. Wilkins (2004) nos traz o seguinte relato 
de Pasteur acerca da conclusão de seus experimentos:
Sendo assim, através de suas pesquisas e experimentos, Pasteur demonstrou 
meios para que a teoria da geração espontânea fosse definitivamente refutada, 
comprovando a existência de partículas em suspensão na atmosfera e não nos 
fluidos utilizados nos experimentos.
A revolução oriunda dos experimentos de Pasteur apresentou-se extremamente 
competente no que circunda o pensamento científico sobre Biogeografia, uma 
vez que, a partir da ruptura das teorias de abiogênese, deu-se início a uma busca 
à origem e localidade dos seres vivos, apontando os elementos e as dinâmicas do 
ambiente como fundamentais para a prospecção de certos organismos e seres vivos 
no planeta.
A vida não reside nos fluidos como sugerido, mas sim em seus 
componentes celulares. É necessário excluir estes fluidos sem 
células do reino das matérias vivas. A vida sempre será algo 
à parte, mesmo se descobrirmos o que mecanicamente a 
despertou. [...] Podemos evidenciar como origem os germes 
ou partículas sólidas através de elementos que flutuam na 
atmosfera ou de esporos de fungos ou ovos infusórios, mas 
eu prefiro pensar que a vida vem da vida ao invés somente da 
poeira. (PASTEUR apud WILKINS, 2004, p. 12, tradução nossa) 
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
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24
Você sabia que o método deste experimento de Louis Pasteur é utilizado 
até hoje? Além de revolucionar os ramos sobre as teorias da origem 
da vida, este método ganhou destaque mundial para a esterilização de 
alimentos, sendo reconhecida hoje como “pasteurização”, em referência 
ao cientista.
Para saber mais sobre esta e outras revoluções no ramo da ciência por 
Pasteur, acesse:
<http://www.cdcc.sc.usp.br/ciencia/artigos/art_31/EraUmaVez.html>. 
Acesso em: 16 jul. 2015.
2.2.3 Panspermia Cósmica
Esta teoria teve sua origem na antiguidade com as hipóteses do grego Anaxágoras 
(499 a.C. – 428 a.C.), que afirmava que a vida presente na Terra teria sido trazida pelo 
bombardeamento de meteoros e meteoritos que atingiram nosso planeta.
Por mais controversa que esta teoria possa se apresentar aos nossos olhos, 
alguns cientistas a têm como fundamento inicial para a explicação da origem da 
vida. Tais ideias foram resgatadas no século XIX por Hermman von Helmholtz (1821-
1894), alegando a possibilidade circunstancial de que determinados elementos e 
organismos essenciais para origem da vida tenham sido trazidos ao planeta através 
da queda de meteoros e meteoritos.
Em relação ao conceito de Panspermia cósmica, os biólogos Amabis e Martho 
(2006) podem nos ajudar a esclarecer e definir o conceito, com a seguinte afirmação:
Esta teoria, também conhecida como “sementes da vida”, ganhou determinado 
destaque através da difusão da comunidade científica clássica pelos trabalhos de 
filósofos e cientistas como Richter (1865) e Lord Kelvin (1871), fazendo com que a 
teoria se estruturasse como um modelo para a explicação da problemática.
A Panspermia considera que a vida na Terra se originou de 
seres vivos ou substâncias precursoras de vida provenientes 
de outros locais do cosmo. Esta ideia voltou a ganhar 
força nos últimos anos, com a descoberta de que o espaço 
interestelar não é um ambiente tão hostil à vida como se 
pensava anteriormente (AMABIS; MARTHO, 2006, p. 13).
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
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25
2.2.4 Hipótese Autotrófica
Esta hipótese se baseia na ideia de que os primeiros organismos que se formaram 
no planeta fossem seres autótrofos, ou seja, produziriam o próprio alimento para a 
manutenção de suas vidas. Em paralelo com a hipótese heterotrófica, a hipótese 
autotrófica se apresenta como uma das principais correntes de pensamento quando 
pensamos na origem e manutenção da vida em nosso planeta.
Os defensores desta teoria utilizam como elemento principal de apoio a análise 
de seres primitivos conhecidos como quimiolitoautotróficos. Desmembrando a 
tipologia textual da palavra, são os seres que produzem seu alimento através de 
reações químicas inorgânicas das rochas.
Estes organismos primitivos teriam como princípio de energia a matéria química 
disposta na Terra no período pré-cambriano. Para elucidar esta ideia, recorremos à 
análise de Amabis e Martho (2006, p. 16) sobre os seres quimioautotróficos, com a 
seguinte explanação:
Com o passar dos anos, duas principais correntes teóricas se formaram 
baseando-se na Panspermia como base para novas discussões. Conhecemos 
estas variações como Panspermia Dirigida e Nova Panspermia, ambas apresentam 
o mesmo conceito base apresentado anteriormente, porém, devemos observar 
cuidadosamente cada uma destas variações.
A Panspermia Dirigida faz parte de uma variação da Panspermia Cósmica com um 
paralelo bem delimitado com as ideias do Criacionismo que vimos anteriormente.Tal vertente teórica se apoia na ideia de que seres inteligentes de outras galáxias 
disseminaram a vida pelo universo. No meio científico e dentro das hipóteses sobre 
a origem da vida na Terra, esta teoria é a mais desacreditada, por conter critérios 
designados como “fantasiosos” pelos pesquisadores e cientistas da área.
Quanto à Nova Panspermia, esta se designa como uma atualização da teoria 
da Panspermia original, incluindo a ideia de que os vírus e outros componentes, 
com partículas tanto de DNA quanto de RNA, tenham chegado à Terra através dos 
meteoros. O apoio desta teoria baseia-se, sobretudo, em análises químicas e bióticas 
dos componentes dos meteoros, fazendo com que esta teoria não seja totalmente 
refutada dentro da comunidade científica.
De modo geral, a Panspermia Cósmica trouxe contribuições significantes para o 
alicerce e desenvolvimento de novas ideias e teorias, porém, ainda apresenta uma 
série de lacunas e dúvidas quanto ao transporte desses componentes químicos ou 
bióticos para o nosso planeta, fazendo com que a teoria da Panspermia não seja 
adotada como um modelo sobre a origem da vida na Terra.
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
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26
Uma possibilidade é que estes seres utilizassem compostos de 
ferro e enxofre (como, por exemplo, FeS e H2S) provavelmente 
abundantes na Terra primitiva. Esta ideia tem se consolidado 
graças à descoberta de microrganismos que vivem em 
ambientes inóspitos, como fontes de água quente e vulcões 
submarinos, obtendo energia a partir de reações químicas 
como a mostrada a seguir:
FeS + H2S → FeS2 + H2 + ENERGIA (AMABIS; MARTHO, 2006, 
p. 16)
Nossos hipotéticos ancestrais poderiam viver, como certos 
organismos quimiolitoautotróficos atuais, ao redor de fendas 
vulcânicas submersas, onde há liberação contínua de gás 
sulfídrico (H2S). Segundo a hipótese autotrófica, a partir dos 
primeiros seres quimiolitoautotróficos teriam se originado 
outros tipos de seres vivos, inicialmente os que realizavam 
fermentação, depois os fotossintetizantes e, finalmente, os 
que respiram gás oxigênio (AMABIS; MARTHO, 2006, p. 16).
Sendo assim, a primeira suposição da Teoria Autotrófica relata que estes 
microrganismos produziriam seu próprio alimento e teriam surgido através de 
reações químicas e bióticas ainda não conhecidas.
Outro ponto que podemos destacar acerca desta hipótese é a relação evolutiva 
destes seres, uma vez que hoje temos ideia de que existem diversos tipos de bactérias, 
considerados organismos simples unicelulares, que realizam o processo autotrófico 
para a obtenção de energia.
E nesta série de pensamento, podemos evidenciar que houve um processo 
evolutivo originado pela dificuldade e escassez da matéria química, forçando estes 
organismos a desenvolverem diferentes meios para a obtenção de energia.
Reforçando esta linha de pensamento surge a dúvida; quais foram os outros meios 
de obtenção de energia aos quais esses organismos tiveram que recorrer? Para sanar 
nossas dúvidas acerca dessa problemática, devemos observar os meios de obtenção 
de energia de organismos mais complexos do que os quimiolitoautotróficos, mas 
ainda assim considerados como organismos simples na escala evolutiva. A resposta 
definitiva nos vem através da seguinte análise evolutiva:
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
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Consolidando, deste modo, a hipótese de que as primeiras formas de vida 
em nosso planeta foram seres autótrofos, esta teoria nos permite crer que, de 
fato, determinados organismos primitivos obtinham energia através de processos 
metabólicos de elementos inorgânicos como as rochas, realizando assim a 
quimiossíntese desses elementos para a manutenção da vida e, consequentemente, 
passaram a adotar mecanismos de evolução para a obtenção de energia através de 
outros processos, como a fermentação e a fotossíntese.
2.2.5 Hipótese Heterotrófica
Esta hipótese tem como princípio a ideia de que as primeiras formas de vida 
se dividiam entre seres autótrofos, que produziam seu próprio alimento, e seres 
heterotróficos, que não conseguem produzir seu próprio alimento, buscando assim 
meios para a obtenção de energia através de outras matérias orgânicas presentes 
no ambiente.
O que fundamenta a origem destes seres é a hipótese de que estes organismos 
eram menos complexos, tendo assim a necessidade de acesso à energia através de 
elementos orgânicos por um processo semelhante à fermentação.
Na tentativa de reproduzir a formulação das primeiras formas de vida no planeta, 
Stanley Lloyd Miller (1930-2007), em 1953, realizou um experimento para simular 
a atmosfera primitiva de nosso planeta com a finalidade de provar os fenômenos 
presentes no período pré-cambriano.
Para tal, Miller construiu uma espécie de simulador atmosférico referente a este 
período geológico do planeta, implementando uma série de mecânicas capazes de 
emular as condições da Terra primitiva entre os balões de vidro interligados, assim 
como incluiu gases em suas respectivas proporções para observar o resultado dos 
experimentos. O processo metodológico e fundamentos para o funcionamento do 
experimento podem ser analisados tal qual como se sugere na seguinte citação:
Nesse simulador, constituído por tubos e balões de vidro 
interligados, foi colocada uma mistura dos gases: metano 
(CH
4
), amônia (NH
3
), hidrogênio (H
2
) e vapor d’água (H
2
O). 
A mistura gasosa foi submetida a fortes descargas elétricas 
durante alguns dias. Os gases simulavam a suposta atmosfera 
primitiva da Terra e as descargas elétricas simulavam as 
grandes tempestades que devem ter ocorrido nos primórdios 
da existência de nosso planeta. No simulador também havia 
um condensador, no qual a mistura de gases era resfriada. O 
Biogeografi a histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
U1
28
vapor d’água presente nessa mistura se condensava e escorria 
para a parte inferior do experimento, onde se acumulava. Com 
isso, Miller simulava a chuva, os mares e os lagos da Terra primitiva. 
Um aquecedor fazia ferver a água acumulada, que novamente 
se transformava em vapor, simulando a evaporação da água na 
superfície quentíssima do jovem planeta Terra (AMABIS; MARTHO, 
2006, p. 14). 
Como modelo estrutural do experimento de Miller, a citação acima referida nos auxilia 
na compreensão e no funcionamento da pesquisa através da análise da figura abaixo.
Seguindo este modelo técnico, após uma semana de funcionamento, o líquido 
na parte inferior do experimento foi devidamente examinado. Foi observada, então, 
através de testes químicos, a presença de componentes que não foram inseridos 
ao experimento, como tipos de aminoácidos e outras substâncias orgânicas menos 
complexas.
Os experimentos de Miller nos ajudam a enfatizar a relação com os seres 
heterotróficos, uma vez que podemos relacionar as bases da hipótese autotrófica 
com a presença de aminoácidos e outras substâncias orgânicas oriundas do 
experimento.
Esta pesquisa auxiliou as explicações de Aleksander Oparin (1894-1980) sobre 
a origem da vida, uma vez que Oparin defendia a ideia de que a Terra primitiva 
continha partículas de aminoácidos, proteínas e moléculas de gordura como 
Fonte: Amabis e Martho (2006, p. 14)
Figura 1.1 | Modelo ilustrado do simulador de Miller
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
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principais agentes para a formação da vida no planeta.
A ideia de que esses componentes se organizavam de maneira estrutural 
fundamentou os primeiros indícios para a hipótese de um organismo denominado 
Coacervado. Estes organismos se compunham de uma membrana, referente às 
moléculas de gordura, atuando como um invólucro dos aminoácidos e proteínas.
Os experimentos de Miller auxiliaram a constatação das formulações de Oparin 
e a origem dos coacervados. Entretanto, com as pesquisas atuais, tem-seindício de 
que os coacervados não podem ser designados como seres vivos, mas podem, sim, 
serem considerados como as moléculas precursoras da origem da vida em nosso 
planeta.
Em concomitância com a hipótese autotrófica, a teoria de organismos 
heterotróficos alega um princípio evolutivo baseado na indisponibilidade de alimentos 
para a manutenção da vida. Alegando que os seres heterotróficos possivelmente 
sofreram uma adaptação, a partir da qual evoluíram de organismos menos complexos 
para organismos autótrofos (que realizam fermentação ou fotossíntese) ou, mesmo, 
que buscaram outros meios de alimentação heterótrofa. 
Sendo assim, a hipótese heterotrófica nos fornece determinados alicerces para 
pensarmos não só na origem da vida em nosso planeta, mas também possibilita 
cogitarmos que o processo de adaptação e seleção natural dos serves vivos é 
um elemento-chave para a evolução dos organismos em diferentes tipos de 
complexidade.
2.3 Da origem da vida aos modelos científicos
Vimos até então que, para explicar a origem da vida em nosso planeta, diversos 
modelos, hipóteses e teorias são debatidos, aplicados e testados com o intuito claro 
de constatar a origem e a presença do primeiro ser vivo no planeta. A racionalização 
sobre a origem da vida sempre fez e sempre fará parte das indagações humanas, 
sendo assim impossível destacarmos, hoje, um modelo irrefutável e permanente 
para tal explicação.
Os avanços científicos e as produções de pesquisas e experimentos precedentes 
nos permitem, atualmente, traçar um modelado para a aproximação da origem da 
vida no planeta. Experimentos e hipóteses como os de Needham, Pasteur, Oparin e 
Miller agregaram valores históricos para os ramos das ciências biológicas e da Terra, 
sobretudo no que diz respeito aos questionamentos, como a origem da vida.
Entretanto, ainda não temos uma conclusão definitiva de como estes organismos, 
sejam eles autótrofos, heterótrofos, até mesmo os coacervados, rumaram para o 
modelado atual de vida em nosso planeta. Tal definição ainda motiva pesquisadores 
Biogeografia histórica: origem da vida, evolução e distribuição dos seres vivos no planeta 
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30
a descobrirem como esses organismos isolados moleculares adquiriram aptidão 
para produzirem seu próprio alimento ou, mesmo, sistemas de reprodução.
Teorias recentes, como a do mundo do RNA, contribuem para uma racionalização 
ante esta relação evolutiva, porém ainda há lacunas na transposição do conceito 
de RNA (ácido ribonucleico) para o de DNA (ácido desoxirribonucleico), levantando 
assim mais um degrau rumo à descoberta da origem da vida e dos primeiros seres.
Tal qual como o modelado tomado para a teoria do “mundo do RNA”, adotaremos 
como base para o nosso aprofundamento em Biogeografia uma junção da 
Hipótese Heterotrófica com a Hipótese Autotrófica. Ambas as hipóteses apresentam 
segmentos necessários para a compreensão da vida, por adotarem um modelo de 
evolução adaptativa.
Em circunstâncias diferentes, estas hipóteses confluem em um elemento comum, 
a evolução. Tal conceito de evolução está intimamente atrelado com a necessidade 
dos seres autótrofos e heterótrofos em buscar meios e mecanismos adaptativos 
para superar a competição e a ausência de alimentos em seu meio.
Mantermos o elemento evolutivo e as questões sobre o que motivou a evolução 
nos ajudará a desenvolvermos critérios fundamentais para a compreensão da 
origem da vida. Tal qual como o paradigma adaptativo que designou as indagações 
dos cientistas e as nossas, a ciência evolui este mesmo elemento de adaptação, 
fazendo com que nenhuma hipótese possa ser definitivamente rejeitada, mas sim 
incorporada a experimentos e pesquisas que nos auxiliem a comprovar as hipóteses. 
Foi assim que a vida evoluiu e é assim que nós ajudamos a ciência a evoluir.
Fomos apresentados nesta seção a diversas correntes e 
hipóteses sobre a origem da vida em nosso planeta. Ainda 
que não possamos apresentar de forma irrefutável um 
modelo que elenque os critérios da formação da vida na 
Terra, podemos nos basear nos modelos científicos adotados 
por diversos pesquisadores modernos.
Para pensarmos e avaliarmos de maneira crítica os 
fundamentos que abordamos, vale a pena assistir e refletir 
sobre os modelos e ensaios tratados no documentário “O 
surgimento da vida”. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=26SV_X506VY>. Acesso em: 15 ago. 2015.
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31
1. Conforme o critério apresentado em relação à formação do 
planeta Terra, assinale os apontamentos assertivos a seguir, 
posteriormente, assinale a alternativa correspondente:
I – A teoria do Big Bang se apoia na ideia de que houve uma 
súbita explosão em escala cósmica levando a um fluxo de 
matéria e energia pelo universo.
II – Os corpos celestes que conhecemos tiveram origem após 
o período Planckiano.
III – A origem do planeta Terra teve como ocorrência a fusão 
do material presente nas nuvens de gás e poeira cósmica.
IV – O Criacionismo é uma das principais teorias quanto à 
origem do planeta Terra, sendo esta teoria considerada um 
modelo para as explicações científicas atuais.
V - A Lua é um satélite do planeta Terra, originado pela colisão 
de um imenso corpo celeste durante a formação da Terra.
Dentre as afirmações sobre a origem do planeta Terra e do 
universo, estão corretas:
a) I, II, IV e V.
b) I, II, III e V.
c) I, IV e V.
d) I, III e V.
e) Somente V.
2. Tendo como fundamento teórico a apresentação das 
hipóteses e teorias sobre a origem da vida em nosso planeta, 
assinale a alternativa que apresenta corretamente os atributos 
dentre as opções afirmadas:
I - O Criacionismo está fundamentado na ideia de que uma 
divindade é responsável pela origem do planeta e de todas as 
formas de vida. Tal teoria se manteve, sobretudo, pela difusão 
das religiões em diferentes culturas e civilizações do planeta.
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II - A teoria da Geração espontânea foi uma das primeiras 
hipóteses científicas acerca da origem da vida em nosso 
planeta. Debatida durante muitos séculos, só houve uma 
definição concreta sobre a teoria após os experimentos de 
Louis Pasteur.
III - Como segmento teórico, a hipótese da Panspermia cósmica 
ainda fornece ideias e elementos de que possivelmente alguns 
componentes químicos essenciais para a origem da vida foram 
dispostos ao nosso planeta através de meteoros.
IV - Dentre as teorias apresentadas, o segmento da 
Panspermia Dirigida é o atual modelo científico adotado sobre 
as discussões da origem da vida no planeta, uma vez que é 
irrefutável a hipótese de que uma divindade cósmica tenha 
semeado a vida pela galáxia, inclusive na Terra.
V - A hipótese Autotrófica, em conjunto com a hipótese 
Heterotrófica, nos fornece elementos necessários para um 
delineamento da origem da vida na Terra, substancialmente 
por apresentar critérios químicos e bióticos acerca da 
formação da vida em um ambiente primitivo como a Terra em 
seu período pré-cambriano.
a) I, II, III e IV.
b) I, III, IV e V.
c) II, III, IV e V.
d) I, II, III e V.
e) Todas as afirmações estão corretas.
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Seção 3
Evolução e biodiversidade
A diversidade de seres vivos que conhecemos hoje é fruto das transformações a 
que estes seres foram submetidos. Mas como podemos explicar tais transformações? A 
resposta para esta pergunta está intimamente ligada com o conceito de evolução. Tal 
conceito nos auxilia a pensar que determinadas circunstâncias ocasionaram a modificação 
destes seres, levando à mudança de diversos organismos ao longo do tempo. 
Para compreendermos a Biodiversidade dos seres e como ocorrem estas 
modificações, devemos dirigir os estudos aos ramos da Biologia que possam 
nos fornecer elementos e processos de análise para tal. Sendoassim, nesta seção 
abordaremos princípios do conceito de Hereditariedade e Genética para entendermos 
os agentes fundamentais que proporcionam estas diversificações dos seres vivos, 
e também abordaremos os elementos da evolução adaptativa, compreendendo 
correntes teóricas e pensamentos de pesquisadores que possam nos auxiliar a 
compreender a evolução de sua norma à forma.
3.1 Hereditariedade e genética
Os conceitos de Hereditariedade e Genética são considerados fundamentais para 
compreendermos determinados aspectos quando buscamos desenvolver estudos 
dirigidos sobre evolução. Para darmos início a esta abordagem, devemos partir 
sobre a definição de um elemento-chave para a compreensão geral dos princípios 
de hereditariedade, o DNA.
O DNA se baseia em uma combinação molecular orgânica que coordena as 
informações necessárias a serem transmitidas para as células, que se desenvolvem de 
acordo com a função genética aplicada, tal qual um código. Para exemplificar determinado 
conceito, buscamos os apontamentos de Ridley (2006) na seguinte citação:
A molécula chamada de DNA (ácido desoxirribonucleico) 
proporciona o mecanismo físico de herança em quase todas 
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as criaturas vivas. O DNA é o portador das informações utilizadas 
para a construção de um novo corpo e para diferenciá-lo em várias 
partes. As moléculas de DNA existem em quase todas as células 
do corpo e em todas as células reprodutivas. [...] A molécula de 
DNA completa consiste em duas fitas, completamente pareadas, 
cada uma delas formada por uma sequência de nucleotídeos que 
são unidos quimicamente uns aos outros (RIDLEY, 2006, p. 47). 
Sendo assim, o DNA deve ser visto como uma chave que contém as informações 
que podem abrir determinadas características e funções nos organismos dos seres 
vivos. Mas como o organismo se forma a partir das informações do DNA? Para 
responder a esta pergunta devemos esclarecer e definir o gene.
O gene nada mais é do que um trecho do cromossomo que contém uma 
associação de nucleotídeos. E o que delimita a formação de organismos é a sequência 
de nucleotídeos, que ativam diversas novas sequências de proteínas, fazendo assim 
com que os organismos se formem pela função ativada através do ordenamento 
dos quatro tipos de nucleotídeos: Adenina, Citosina, Guanina e Timina.
Estes quatro tipos de nucleotídeos se combinam de uma forma variada, 
especificada pela combinação das duas fitas de cromossomos, fazendo assim com 
que haja uma informação predeterminada que se dirija a uma função estipulada 
nos organismos. Estas informações são combinadas através dos cromossomos 
presentes nos gametas reprodutivos. 
Como exemplos, podemos citar as características de DNA transmitidas por 
uma reprodução sexuada, como nos humanos, na qual os gametas masculino e 
feminino contêm 23 cromossomos cada, e, quando unidos através da fecundação, 
dão origem a um zigoto, formando um embrião com 46 cromossomos. Quanto a 
um exemplo que difere deste, em uma reprodução assexuada, como em vegetais, 
tendo como parâmetro as samambaias, neste tipo de vegetal não há uma troca 
de gametas com um ser externo, levando assim a uma autofecundação, trocando 
gametas entre o mesmo organismo com 600 cromossomos cada, dando origem 
a um novo organismo com 1.200 cromossomos, fazendo com que este novo 
organismo seja uma cópia idêntica do organismo primário.
Uma das principais causas da complexidade e perpetuação dos seres vivos mais 
complexos foi o abandono da reprodução assexuada. A carga genética deste tipo 
de reprodução é basicamente nula, com exceções de fenômenos que veremos a 
seguir. A baixa variabilidade implica que o organismo sempre será idêntico, fazendo 
com que este esteja sujeito ao mesmo tipo de adversidade do meio. 
Sobre um tipo das adversidades encaradas pela baixa variação genética, podemos 
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destacar, por exemplo, as bananas, que são oriundas de um mesmo organismo 
primário devido à sua reprodução assexuada, isto implica que todos estes organismos 
não apresentem imunidade ou resistência a certos tipos de vírus e fungos, fazendo 
com que, caso um organismo seja afetado por um vírus, toda a cultura de bananas 
possa ser comprometida se o vírus não for erradicado. 
Neste contexto, podemos afirmar que as cargas genéticas oriundas da reprodução 
sexuada trazem ganhos no que se refere à resiliência e diversidade dos seres vivos, 
atuando também como um fator determinante para a tolerância dos organismos a 
determinados ambientes, concomitando em sua dispersão geográfica.
Como potencialidade das variações genéticas, podemos constatar então que a 
reprodução sexuada é um dos elementos fundamentais para garantir a variabilidade 
genética dos seres vivos. Entretanto, existem outras formas de variabilidade nos seres 
vivos, como, a mutação. Neste caso, a ocorrência de mutação é oriunda de uma 
falha na cópia dos nucleotídeos, ou mesmos cromossomos dispostos no gameta.
A mutação atua como uma alteração de determinadas características dos 
organismos, fazendo assim com que o ambiente adaptativo diga se ela é uma 
mutação benéfica ou maléfica. Uma vez que analisarmos casos como a imunidade 
à malária causada pela mutação das hemácias em comunidades africanas, 
incapacitando a reprodução do protozoário que dá origem à doença, podemos 
evidenciar elementos benéficos da mutação. Todavia, caso membros desta mesma 
comunidade fossem transpostos a um ambiente de altitude com o ar rarefeito, os 
mesmos indivíduos apresentariam diversos problemas atrelados à falta de oxigênio, 
uma vez que a hemácia é a principal responsável pelo transporte deste.
Ao assimilarmos as variações genéticas, sejam elas oriundas da troca de gametas, 
ou de outras circunstâncias como a mutação, podemos concluir que tais variações 
e combinações genéticas auxiliam na biodiversidade de seres vivos em uma vasta 
gama de espécies, e ainda são responsáveis pelas características individuais de cada 
ser vivo. 
O ramo de estudo responsável pela análise destes tipos de fenômenos de 
variação genética e hereditariedade é a Genética Ecológica. Tal ramo entra em 
confluência com os estudos biogeográficos, sobretudo no que diz respeito à 
Biogeografia Ecológica. Por pautar as pesquisas nas análises populacionais e nos 
padrões adaptativos que evidenciam a contínua evolução dos seres vivos, a genética 
ecológica nos traz elementos fundamentais para os estudos de evolução, dispersão 
e diversidade presentes na Biogeografia.
No que se refere à Biogeografia Histórica, o direcionamento das pesquisas de 
genética ecológica nos fornece alicerces fundamentais para a compreensão de 
fenômenos e elementos em uma ampla escala. Podendo auxiliar na discussão 
acerca dos conceitos de dispersão e distribuição, pautados sob uma ótica da 
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variabilidade genética e de como podemos compreender a distribuição dos seres 
vivos no decorrer do tempo. 
Com estes segmentos apresentados, podemos concluir que é inegável a 
representatividade dos princípios genéticos e da hereditariedade para a diversidade 
e variação dos seres vivos. Contanto, como podemos afirmar que os genes e as 
características dos pais são transpostos aos filhos? Ou mesmo, por que certas 
características são mais comuns ao pai do que à mãe? Para responder a estas perguntas, 
devemos discutir e apresentar fundamentações teóricas e práticas acerca da relevância 
e critérios genéticos de dominância e recessividade, como veremos a seguir.
A Genética nos auxilia a compreender uma série de fenômenos e processos 
fundamentais para a manutenção dos seres vivos. A variabilidade genética 
possui um grande potencial para compreendermos e explicarmos muitas 
das circunstâncias que podemos observar enquanto pesquisamossobre 
Biogeografia.
Para compreender mais e explorar os potenciais da variabilidade genética, 
acesse:
<http://www.ib.usp.br/sti/evosite/evo101/IIICGeneticvariation.shtml>. 
Acesso em: 20 jul. 2015.
3.2 Mendelismo e as características genéticas
Outro parâmetro científico oriundo da genética que nos auxilia na compreensão 
dos elementos que caracterizam a biodiversidade dos seres vivos diz respeito ao 
mendelismo e às características genéticas dos seres vivos. A interpretação pelo viés 
biológico nos fornece alicerces para o entendimento dos fatores que ocasionam 
a diversidade, podendo interpretá-los como elementos bióticos essenciais que 
permitem a distribuição e variedade dos seres vivos sob uma ótica de dispersão 
geográfica.
As características físicas da hereditariedade, intituladas como fenótipo, foram os 
principais critérios motivadores para a investigação acerca da transmissão genética 
para as novas gerações de seres vivos. O questionamento sobre as semelhanças 
entre membros do mesmo grupo ou espécie biológica motivou e ainda motiva 
os pesquisadores a compreenderem um pouco mais sobre o conceito de 
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hereditariedade.
É notório que as trocas de gametas entre os seres vivos, proporcionadas através 
da reprodução sexuada, auxiliam no entendimento da transmissão de genes e a 
própria biodiversidade. Porém, para compreendermos a origem desta formulação 
e os conceitos da variabilidade genética, devemos retroceder no tempo histórico e 
analisar os alicerces desta definição.
O bastião da genética moderna a que temos acesso hoje foi Gregor Johan 
Mendel (1822-1884), um monge agostiniano considerado o pai da genética moderna 
e o precursor da corrente de estudos sobre a genética derivada de seu nome, o 
Mendelismo.
As pesquisas e os registros de Mendel abriram um novo leque de possibilidades 
para a compreensão do conceito de genética e hereditariedade. Trabalhando 
com organismos simples como ervilhas, Mendel observou que determinadas 
características dadas pelo cruzamento de indivíduos com fenótipos distintos 
resultavam em alternâncias de genes e em variabilidade nas gerações seguintes de 
ervilhas.
Para evidenciar o conceito de hereditariedade, Mendel realizou o cruzamento 
de ervilhas de grão amarelo e liso com ervilhas de grão verde e rugoso, atribuindo 
como características de genótipo a cor e a textura dos referentes grãos utilizados no 
experimento.
Nos dias atuais, sabemos que as características que determinam o genótipo 
vão além dos elementos da designação fenotípica, atribuindo os conceitos das 
associações entre os nucleotídeos antes citados, constituindo o gene presente 
no DNA. Todavia, Mendel expôs esse conceito de uma forma simplificada, mas 
extremamente funcional, através dos registros de suas pesquisas presentes na obra 
mundialmente conhecida como “Ensaio com plantas híbridas”.
Como observação dos cruzamentos destes tipos distintos de ervilhas, foi 
observado que na primeira geração todos os indivíduos possuíam características 
fenotípicas referentes apenas ao grão amarelo e liso. Tal circunstância intrigou 
o pesquisador, que retornou a realizar os cruzamentos entre membros desta 
primeira geração. O resultado deste segundo cruzamento foi expresso em uma 
vasta variabilidade de grãos, levando a crer que o que garantia a variabilidade não 
eram apenas as características físicas, mas sim algo que hoje compreendemos por 
variação genética e hereditariedade.
Com o intuito de ilustrar a pesquisa de Mendel, observe o registro da experiência 
ilustrado na figura a seguir e note os segmentos das variações observadas através das 
características fenotípicas de cada geração.
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Fonte: O autor (2015)
Figura 1.2 | Esquema ilustrado de cruzamento e características genéticas
Observamos, então, que a variabilidade dos fenótipos se expressou mais 
intensivamente na segunda geração, mas por qual motivo? A causa desta variação 
está vinculada aos precedentes da lei de segregação de Mendel. Quando analisamos 
os resultantes da primeira geração, observa-se uma predominância das características 
das ervilhas amarelas e lisas, porém, os genes do outro indivíduo que não foram 
evidenciados nesta geração ainda estão presentes. O motivo da não representação 
das características verde e rugosa está atrelado com o critério de dominância e 
recessividade.
Este critério foi um fundamento-chave para o progresso da genética, 
biodiversidade e evolução. A relação entre os alelos recessivos e dominantes vem 
como um alicerce para a lei da segregação e hereditariedade. Como observamos 
na primeira geração exposta na figura anterior, não há a presença de nenhuma 
característica verde (v) e rugosa (r), isto implica que tais alelos são recessivos, tendo 
como resultado a dominância das características amarela (A) e lisa (L).
Quando analisamos a segunda geração do experimento, podemos observar uma 
variabilidade de características atreladas à relação de dominância e recessividade do 
genótipo entre os indivíduos da primeira geração “AvLr x AvLr”, derivando em uma 
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alta variação e transferindo características, como rugosidade(r), às ervilhas amarelas 
(A), além do retorno da característica cor verde (v), presentes, anteriormente na 
geração parental.
A relação destes cruzamentos se baseia na metodologia conhecida por proporção 
mendeliana. Assim como na matemática, a proporção nos auxilia a compor em 
percentuais as variedades de opções, e o mesmo ocorre quando pensamos na 
variedade de opções que cada alelo oferece, sejam dominantes ou recessivos, para 
a representação do fenótipo do indivíduo.
 Para exemplificar a proporção mendeliana, partimos para as explicações de 
Ridley (2006) acerca da variação apresentada entre dois indivíduos heterozigotos 
(com duas características genéticas):
As proporções mendelianas são facilmente compreendidas e reproduzidas 
quando fazemos uso de uma tabela, como este exemplo que se baseia em uma 
referência visual da citação acima:
É visto então que a proporção mendeliana contribui para a compreensão 
da variação genética e os princípios da hereditariedade. Para a Biogeografia, o 
mendelismo e as atribuições dos conceitos da genética às variações dos seres 
vivos são dados como fundamentais para compreendermos a relação de dispersão 
e evolução dos seres, sendo assim um elemento crucial para o entendimento de 
Considere o cruzamento entre dois heterozigotos Aa e Aa. 
Tanto o macho quanto a fêmea produzem metade dos gametas 
a e metade de gametas A. Se considerarmos que metade dos 
óvulos da fêmea é a e, destes, metade será fecundada por 
espermatozoides a e metade por espermatozoides A; a outra 
metade dos óvulos A será fecundada por a e A. A proporção 
resultante na prole é de 25% AA, 50% Aa e 25% aa (RIDLEY, 
2006, p. 58). 
Fonte: O autor (2015)
Quadro 1.1 | Exemplificação das proporções mendelianas
Genes A A
A AA Aa
a Aa AA
Proporção: 25% AA 50% Aa 25%aa
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circunstâncias que elenquem o estudo biogeográfico dos seres vivos como um 
critério fundamental na pesquisa e ensino sobre Biogeografia.
3.3 Lamarckismo, darwinismo e evolução 
3.3.1 Os estudos de Jean Lamarck
Levantamos, até o presente momento, fundamentos teóricos e práticos que 
culminem nas hipóteses e teorias sobre a evolução dos seres vivos e como ela está 
definitivamente atrelada com os estudos de Biogeografia.
Para compreendermos de fato os elementos, as teorias e evidências da evolução, 
devemos cunhar um caminho de hipóteses, desmistificações e reformulação de 
ideias para que seja alcançada, de maneira eficaz, a real amplitude da evolução dos 
seres vivos e os conhecimentosoriundos destes.
Realizaremos aqui um aprofundamento de correntes teóricas, como o 
Lamarckismo e o Darwinismo, culminando em um segmento que nos apresente 
evidências do processo evolutivo e como estes se expressaram através do tempo por 
meio dos processos de adaptação e seleção natural dos seres vivos. As abordagens 
realizadas com a compreensão destas informações nos darão alicerces teóricos 
fundamentais para o entendimento geral da Biogeografia Histórica, fornecendo uma 
série de componentes essenciais quando buscamos assimilar os conhecimentos da 
Biogeografia ecológica e abrangermos, por fim, a real amplitude da Biogeografia 
enquanto ciência.
É notório que os elementos da hereditariedade em sua escala tenham dirigido 
as primeiras formulações sobre a evolução dos seres vivos. Sempre que tentamos 
compreender o presente e possíveis mudanças, realizamos uma análise do passado 
para que seja possível compreendermos quais foram as causas e circunstâncias que 
nos colocaram no cenário atual.
No contexto da biologia evolutiva não é diferente. Para compreender os princípios 
evolutivos que originaram a diversidade dos seres vivos e até mesmo a origem da vida 
como vimos anteriormente, realizaram-se diversas formulações e hipóteses acerca 
de como os organismos evoluíram e alcançaram a biodiversidade que conhecemos 
no planeta.
Dentre várias hipóteses acerca da evolução, concentraremos os esforços para a 
compreensão da corrente do lamarckismo e como esta corrente científica teve sua 
importância na época e qual é a real implicância desta no estudo da Biogeografia 
moderna que almejamos pesquisar, compreender e ensinar.
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Como o próprio nome sugere, o lamarckismo está diretamente relacionado 
com as concepções fundadas pelo biólogo francês Jean-Baptiste Pierre Antoine de 
Monet (1744-1829), que ganhou o título de cavaleiro de Lamarck, foi o precursor 
das formulações acerca das circunstâncias evolutivas que dirigiam as variações das 
espécies biológicas.
Sabemos hoje que as hipóteses formuladas por Lamarck possuem diversas 
lacunas que motivaram cientistas vindouros a realizarem novas formulações 
baseando-se nestas concepções. Adepto de correntes biogeográficas como a que 
levou o Conde de Buffon às suas formulações, Lamarck também se apoiava nas 
teorias da geração espontânea e no conceito de hereditariedade, formulando assim 
suas hipóteses acerca do processo evolutivo e instituindo então a corrente evolutiva 
do lamarckismo.
Pautando-se na ideia de que os primeiros organismos vivos surgiram através de 
algo inanimado, foi cunhada uma primeira formulação acerca da evolução destes 
seres alegando que a origem e evolução das primeiras formas de vida no planeta 
foram motivadas pelo ambiente em que elas habitavam.
Como relatam Almeida e Falcão (2005, p. 19), a centralidade das pesquisas de 
Lamarck não se pautava na evolução orgânica e muito menos nas explicações 
acerca da origem das primeiras formas de vida, mas sim na evolução sistemática dos 
seres vivos.
Na busca de compreender como os organismos evoluíam, o princípio da teoria e da 
corrente do lamarckismo afirmava que “os mecanismos da formação dos seres vivos 
se baseavam na organização complexa destes e a capacidade de reações a mudanças 
ambientais” ALMEIDA; FALCÃO, 2005, p. 19). Sendo estes os principais atributos para a 
formulação de suas teorias. Mas como o lamarckismo encara os processos evolutivos? 
Para compreendermos, devemos nos inteirar das leis propostas por Lamarck: a lei do 
uso e desuso e a lei da transmissão dos caracteres adquiridos. 
A lei do uso e desuso instituía que os organismos dos seres vivos estavam sujeitos 
de modo individual a alterações conforme a necessidade que o meio propunha. 
Como meio de evidenciar esta lei, Lamarck utilizava a relação do alongamento 
do pescoço de girafas, afirmando que a necessidade de alimentação de folhas 
nas copas das árvores forçava os animais a alongarem os seus pescoços, e assim 
justificava a variedade de comprimento entre estes animais como características que 
os distinguiam de outros quadrúpedes.
Pensando por um viés biogeográfico, esta lei possui um arcabouço fundamental 
para o desenvolvimento da ciência, uma vez que relatava indícios de uma relação 
direta com a diversidade dos animais com o meio. Outro elemento que destaca 
que esta lei não é totalmente refutável é a relação da atrofia de certos órgãos, tendo 
como exemplo a atrofia muscular nas pernas de pessoas que ficaram paraplégicas. 
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Todavia, a lei do uso e desuso apresenta determinadas falhas conceituais no 
processo evolutivo. Vimos como exemplo que o desuso pode influenciar em 
alterações nos organismos, mas não há indício na ciência moderna comprovando 
que o uso contínuo de determinada função possa levar ao desenvolvimento, como 
sugerido no caso do pescoço alongado das girafas.
 A segunda lei, referente à transmissão dos caracteres adquiridos, institui que as 
características da relação de uso e desuso seriam transpostas às futuras gerações 
pela hereditariedade. Ainda que esta hipótese não seja formulada exclusivamente 
por Lamarck, sendo vista como um pensamento comum entre alguns cientistas da 
época, Lamarck utilizou a relação de sua primeira lei como uma justificativa para o 
conceito de transmissão dos caracteres.
Na tentativa de exemplificar a lei dos caracteres adquiridos, iremos nos referenciar 
ao exemplo do uso e desuso utilizado nas girafas. Então, conforme esta lei implica, 
as características desenvolvidas por uma geração são transmitidas às gerações 
seguintes, como no caso das girafas que alongaram seus pescoços, desenvolvendo 
filhotes com pescoços alongados, conforme implicado por Amabis e Martho (1997).
A única relevância deste segmento do lamarckismo se institui pela atenção 
das características hereditárias. No entanto, esta lei é totalmente refutável 
quando observamos que as características fenotípicas de um indivíduo não 
são necessariamente transmitidas à geração seguinte, como compreendemos 
anteriormente pelos experimentos de genética e hereditariedade realizados por 
Mendel. É claro que o desenvolvimento dos ramos da genética na época não era 
difundido entre os cientistas, mas hoje sabemos que esta teoria não possui nenhuma 
evidência clara de que tais características possam ser transpostas às gerações 
posteriores.
O progresso da ciência é marcado tanto pelos erros quanto pelos acertos dos 
indivíduos que propõem hipóteses e teorias para justificar critérios que levam a 
indagações. Neste ponto, ao pensarmos nos critérios da Biogeografia, as hipóteses 
e teorias oriundas da corrente do lamarckismo possibilitaram um avanço significativo 
com as contestações e novas formulações a respeito do processo evolutivo e 
formulações das relações da biodiversidade em nosso planeta.
Sendo assim, podemos considerar que o lamarckismo, por mais que apresente 
diversas lacunas e equívocos teóricos, possui um valor significativo quanto ao 
desenvolvimento das ciências biológicas e das concepções da Biogeografia 
aplicadas para contestar as teorias e hipóteses apresentadas por esta corrente do 
evolucionismo.
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O pioneirismo de Lamarck, sem dúvida, foi um marco crucial para o 
desenvolvimento do modelo teórico atual sobre o evolucionismo. Apesar 
de refutadas, suas hipóteses nos trouxeram elementos catalisadores para 
o estudo das ciências biológicas.
Para conhecer um pouco mais da trajetória de Lamarck na ciência, leia a 
edição especial da revista “Ciência Hoje”, volume 45, disposta em:
<http://www.biologia.bio.br/curso/Introdu%C3%A7%C3%A3o%20
%C3%A0%20Biologia%20Evolutiva/A%20bicenten%C3%A1ria%20
filosofia%20zool%C3%B3gica%20de%20Lamarck.pdf>. Acesso em: 24 
jul. 2015.
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