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Indaial – 2023 Profissional Prof.ª Grace Kelly Cabral dos Santos 1a Edição fundamentos de teraPia ocuPacional e Ética Elaboração: Prof.ª Grace Kelly Cabral dos Santos Copyright © UNIASSELVI 2023 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI. Núcleo de Educação a Distância. SANTOS, Grace Kelly Cabral dos. Fundamentos de Terapia Ocupacional e Ética Profissional. Grace Kelly Ca- bral dos Santos. Indaial - SC: Arqué, 2023. 170p. ISBN 978-65-5646-652-1 ISBN Digital 978-65-5646-653-8 “Graduação - EaD”. 1. Fundamentos 2. Terapia 3. Ética CDD 174 Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Seja bem-vindo ao curso de Terapia Ocupacional, uma das profissões que mais cresce no país. Você está recebendo o livro didático da disciplina Fundamentos de Terapia Ocupacional e Ética Profissional. Neste, abordaremos os assuntos pertinentes aos ensinamentos em Terapia Ocupacional, servindo de base à sua futura profissão. Este livro está divido em três unidades, o que favorece uma melhor organização e estruturação dos temas abordados. Na Unidade 1, estudaremos a introdução e fundamentação da Terapia Ocupacional, sendo destacados os principais pontos norteadores da profissão desde os primórdios aos dias atuais. Na Unidade 2, intitulada Fundamentos Éticos e Morais da Terapia Ocupacional, abordaremos os princípios e aspectos éticos da profissão, caracterizando os principais órgãos e representantes da categoria em nível estadual, federal e mundial, além dos aspectos bioéticos envolvendo o atendimento e a pesquisa. Na Unidade 3, intitulada Atuação do Terapeuta Ocupacional, estudaremos sobre os teóricos e tipos de métodos em Terapia Ocupacional, as especificidades da profissão nos diferentes cenários de prática e as atividades desenvolvidas nos níveis de atenção à saúde. Ao final de cada tema de aprendizagem, você encontrará atividades autodirigidas para a consolidação do conteúdo aprendido, além de um resumo sobre os conteúdos apresentados em cada unidade. Bons Estudos! Grace Kelly Cabral dos Santos APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. 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O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO EM TERAPIA OCUPACIONAL ................ 1 TÓPICO 1 - HISTÓRICO DA TERAPIA OCUPACIONAL...........................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 MARCOS HISTÓRICOS DA TERAPIA OCUPACIONAL NO MUNDO.....................................3 3 TERAPIA OCUPACIONAL NO BRASIL .................................................................................8 4 O SÍMBOLO DA TERAPIA OCUPACIONAL .........................................................................11 RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 13 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................14 TÓPICO 2 - FUNDAMENTOS EM TERAPIA OCUPACIONAL ................................................ 17 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 17 2 FUNDAMENTOS DA TERAPIA OCUPACIONAL NO EXTERIOR ........................................ 17 3 FUNDAMENTOS DA TERAPIA OCUPACIONAL NO BRASIL ............................................ 22 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 28 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 29 TÓPICO 3 - DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A TERAPIA OCUPACIONAL ................................................................................................. 31 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 31 2 PROMULGAÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS ................................. 31 3 ESTRATÉGIAS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA OS CURSOS DE TERAPIA OCUPACIONAL ........................................ 41 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 46 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................47 REFERÊNCIAS .....................................................................................................................49 UNIDADE 2 — FUNDAMENTOS ÉTICOS E MORAIS DA TERAPIA OCUPACIONAL ............ 53 TÓPICO 1 — PRINCÍPIOS E CONCEITOS SOBRE ÉTICA ..................................................... 55 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 55 2 PRINCÍPIOS E CONCEITOS SOBRE ÉTICA ...................................................................... 55 2.1 ÉTICA E DEONTOLOGIA DA PROFISSÃO ........................................................................................60 3 CÓDIGO DE ÉTICA DO TERAPEUTA OCUPACIONAL ...................................................... 63 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 68 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 69 TÓPICO 2 - SISTEMA DE CONSELHOS PROFISSIONAIS ................................................... 71 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 71 2 FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE TERAPEUTAS OCUPACIONAIS ............................... 71 3 CONSELHO FEDERAL E REGIONAL DE TERAPIA OCUPACIONAL ..................................72 4 ASSOCIAÇÕES .................................................................................................................75 RESUMO DO TÓPICO 2 .........................................................................................................78 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................79 TÓPICO 3 - BIOÉTICA ..........................................................................................................81 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................81 2 COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA .....................................................................................81 3 NORMATIVAS E DIRETRIZES PARA REALIZAÇÃO DE PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS ............................................................................................................ 89 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................................96 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................102 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................103 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................105 UNIDADE 3 — ATUAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL ...............................................109 TÓPICO 1 — TEÓRICOS E MÉTODOS EM TERAPIA OCUPACIONAL ...................................111 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................111 2 RELAÇÃO TERAPEUTA x PACIENTE ...............................................................................111 3 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO EM TERAPIA OCUPACIONAL .............................................. 115 4 TEÓRICOS NA FUNDAMENTAÇÃO DA PRÁTICA ............................................................ 127 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 131 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................132 TÓPICO 2 - ÁREAS DE ATUAÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL ......................................135 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................135 2 TERAPIA OCUPACIONAL DA EDUCAÇÃO E INCLUSÃO ................................................135 3 TERAPIA OCUPACIONAL EM NEUROLOGIA ..................................................................136 4 TERAPIA OCUPACIONAL SOCIAL ................................................................................. 140 5 TERAPIA OCUPACIONAL NA GERIATRIA E GERONTOLOGIA .......................................142 6 TERAPIA OCUPACIONAL EM ONCOLOGIA E CUIDADOS PALIATIVOS .........................143 7 TERAPIA OCUPACIONAL NA SAÚDE MENTAL .............................................................. 144 8 TERAPIA OCUPACIONAL NA TECNOLOGIA ASSISTIVA ................................................145 9 TERAPIA OCUPACIONAL NA SAÚDE DO TRABALHADOR ............................................ 147 10 TERAPIA OCUPACIONAL NA SAÚDE DA CRIANÇA ..................................................... 147 11 TERAPIA OCUPACIONAL NO CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA .................................149 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 151 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................152 TÓPICO 3 - NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE ......................................................................155 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................155 2 TERAPIA OCUPACIONAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE .......................................155 3 TERAPIA OCUPACIONAL NA ATENÇÃO SECUNDÁRIA À SAÚDE .................................156 4 TERAPIA OCUPACIONAL NA ATENÇÃO TERCIÁRIA À SAÚDE ..................................... 157 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................158 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................162 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................163 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................165 1 UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO EM TERAPIA OCUPACIONAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer os marcos históricos da Terapia Ocupacional; • conhecer a história da Terapia Ocupacional no Brasil; • aprender os fundamentos e definições de Terapia Ocupacional; • aprender os componentes fundamentais para a formação em Terapia Ocupacional. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TEMA DE APRENDIZAGEM 1 – HISTÓRICO DA TERAPIA OCUPACIONAL TEMA DE APRENDIZAGEM 2 – FUNDAMENTOS EM TERAPIA OCUPACIONAL TEMA DE APRENDIZAGEM 3 – DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A TERAPIA OCUPACIONAL Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 HISTÓRICO DA TERAPIA OCUPACIONAL 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tema de Aprendizagem 1, abordaremos os marcos históricos da Terapia Ocupacional, enfatizando os principais pontos que trouxeram contribuições para a profissão como conhecemos. Identificaremos os principais pontos de atuação já realizados por terapeutas ocupacionais no Brasil e no mundo, sendo explanadas as origens da Terapia Ocupacional, os princípios, conceitos e seus objetivos. Ademais, será abordada a história da profissão nos primeiros cursos de Terapia Ocupacional no Brasil, com destaque para a região sudeste do país. Posteriormente, apresentaremos os símbolos que identificam a profissão, bem como o significado de cada item que os compõem. TÓPICO 1 - UNIDADE 1 2 MARCOS HISTÓRICOS DA TERAPIA OCUPACIONAL NO MUNDO Pode-se enfatizar que a origem e o desenvolvimentoda Terapia Ocupacional estão relacionados ao momento histórico da humanidade. Apesar de a Terapia Ocupacional ser considerada uma profissão particularmente nova, surgida nos primeiros anos do século XX, o reconhecimento da cura da ocupação remonta a milhares de anos (WILLIARD; SPACKMAN, 2011). No século XVII, por exemplo, Tomas Willis, imortalizado pelo polígono de Willis, já reconhecia o valor da utilização da ocupação na insanidade. Defendia o encaminhamento de pessoas para a realização de atividades que promovessem o bem-estar e alegria, como a dança, música, canto, caça, pesca e estudos (WILLIARD; SPACKMAN, 2011). Contudo, esse tipo de tratamento foi pouco valorizado naquela época para o tratamento das pessoas com insanidade, sendo realizados os tratamentos médicos como sangrias, uso de purgantes e eméticos para o enfraquecimento e controle do comportamento do paciente (WILLIARD; SPACKMAN, 2011). Somente no início do século XIX houve uma maior compreensão acerca da utilização da ocupação como ferramenta de tratamento em diversos contextos, mas principalmente no cuidado na saúde mental (WILLARD; SPACKMAN, 2011). 4 Diante da evolução da medicina e dos tipos de tratamento instaurados aos pacientes, ao longo do tempo, marcada por mudanças drásticas no estilo de vida e de hábitos, a Terapia Ocupacional surgiu como uma nova modalidade de tratamento (WILLARD; SPACKMAN, 2011). Segundo Soares (2014), a profissão de Terapia Ocupacional possuiu diversas nomenclaturas. Contudo, no início do século XX, George Barton sugeriu a denominação hoje conhecida e aceita em diversos países. Isso contribuiu para a formação de uma linguagem talvez universal na Terapia Ocupacional. George Edward Barton, norte-americano, arquiteto, em 1917, fundou a sociedade nacional de profissionais de Terapia Ocupacional, conhecida hoje como American Occupational Therapy Association. Seu principal objetivo era investigar, experenciar e conhecer o uso da ocupação como terapia, principalmente após seu adoecimento (MONTAÑO; VALER; CASTILHO, 2015). A Terapia Ocupacional possui sua definição e conceito atualizados periodicamente. Hoje é possível encontrar essa nomeação adotada pelos países americanos e países anglo-americanos como Austrália, Japão e África do Sul entre outros (SOARES, 2014). O termo ergoterapia é adotado pelo continente europeu, o qual associou a palavra à sua origem etimológica, que deriva do grego ergein, que significa fazer, trabalhar e agir (SOARES, 2014). Diversas definições tentaram conceituar o fazer em Terapia Ocupacional. Ela “bebeu” em diversas fontes de conhecimento ao longo do tempo, mas, principalmente, no seu início, quando a prática da profissão era pautada nos princípios do trabalho enquanto ocupação (SOARES, 2014). Figura 1 – Reunião de fundação para a Sociedade Nacional para a promoção da Terapia Ocupacional, em 1917 Fonte: https://img3.findhealthclinics.com/146/176/788755281461768.jpg. Acesso em: 27 fev. 2022. 5 Na figura 1, da esquerda para a direita, sentados: Susan Cox Jonhson, George Barton, Eleanor Clarke Slagle. De pé, da esquerda para a direita: Willian Rush Dunton, Isabel Gladwin Barton, Thomas Bessell Kidner. NOTA Para Williard e Spackman (2011), "a Terapia Ocupacional é a arte e a ciência de ajudar as pessoas a realizarem atividades cotidianas que sejam importantes e significativas para sua saúde e bem-estar por meio do engajamento em ocupações valorizadas". Pode-se citar que a Terapia Ocupacional remonta à Antiguidade, apresentando, como precursores, gregos e romanos, os quais consideravam o trabalho, tarefas, artes e artesanatos como meios de “cura” para aqueles que estavam possuídos, e estas atividades também eram oferecidos a todos os doentes como meio de contato com o divino (DE CARLO; BARTALOTTI, 2008). Em meados de 1786, o médico francês Philippe Pinel instaurou uma nova abordagem no tratamento dos doentes mentais asilados, sendo associada a utilização da ocupação como tratamento, sendo conhecido como tratamento moral, em que o trabalho era o melhor método para estabelecer uma boa moral e disciplina (CONSELHO REGIONAL DE FISOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL 12ª REGIÃO, 2017). Contudo, a maioria dos autores referem os ensaios da Terapia ocupacional que datam de 1789 da Revolução Francesa e da Primeira Guerra Mundial, períodos históricos e marcados por transformações sociopolíticas e econômicas (SOARES, 2014). Nesse período, novas instituições de saberes foram criadas, principalmente na área da saúde mental, na qual houve mudanças significativas no tratamento dos pacientes, que antes eram enclausurados em manicômios e passaram a agregar espaços de tratamento. Contudo essas mudanças ainda necessitariam de novas perspectivas, como elucidado futuramente (SOARES, 2014). Nas épocas anteriores às revoluções, havia a segregação dos diferentes (loucos, incapazes, idosos, deficientes, prostitutas), que eram isolados do convívio social, com o objetivo de proteger a sociedade da desordem e dos perigos que eles representavam. Nos asilos, conhecidos como antigos leprosários na Idade Média, os marginalizados recebiam ações punitivas em um sistema semipenitenciário (DE CARLO; BARTALOTTI, 2008). Os hospitais, nesse contexto, tinham a função muito mais religiosa do que médica, pois deveria ser um local de transformação espiritual. A equipe possuía o papel 6 caritativo, mais voltado ao cuidado para salvar a alma. A presença do médico era só para justificar o serviço de promoção à saúde (DE CARLO; BARTALOTTI, 2008). Após as transformações técnico-científicas, o tratamento das doenças mentais passou a ser o cérebro, sendo caracterizadas pela etiologia como doenças de ordem cerebral. Ou seja, uma visão mais biomédica se instaurou. Isso contribuiu para o crescimento dos princípios da psicobiologia, que relacionava os padrões de hábitos e doença mental. A metodologia de intervenção consistia em utilizar o tempo de maneira ativa e intencional do tempo, equilibrando o trabalho, repouso, lazer e sono (DE CARLO; BARTALOTTI, 2008). Baseado nessas informações, e com o advento do crescimento da preocupação com a prevenção e manifestação de doenças e o aumento significativo, de pessoas incapacitadas em decorrência da guerra, surge o movimento denominado reabilitação, o qual consistia em utilizar a ocupação no atendimento de pacientes com demandas físicas e mentais (DE CARLO; BARTALOTTI, 2008). Os princípios norteadores da Terapia Ocupacional também se referem à organização do comportamento a partir do agir, com a utilização ativa e intencional do tempo no contexto dos indivíduos. Isso contribuiu para os determinantes teóricos e práticos na criação de uma nova profissão – a Terapia Ocupacional (DE CARLO; BARTALOTTI, 2008). Ademais, a concepção da utilização das ocupações como ferramenta terapêutica na prática médica – exercida principalmente por enfermeiras e assistentes sociais – surgiu na literatura a partir do século XVII, sendo reconhecida, dois séculos depois, como uma prática de saúde no âmbito biopsicossocial (DE CARLO; BARTALOTTI, 2008). A profissão, no seu início, era praticada por mulheres, pois acreditava-se que elas tinham o “dom” natural de cuidar, voltado principalmente à concepção da saúde que configurava a mulher com sentimentos maternais intrínsecos a ela. Estas também foram denominadas de “auxiliares de reconstrução” (DE CARLO; BARTALLOTI, 2008). Além disso, o envolvimento de mulheres, para alguns autores, reflete as mudanças sociais que já vinham sendo realizadas, pois elas podiam ampliar suas possibilidades para além do ambiente doméstico (MONZELI; MORISSON; LOPES, 2019). Jane Addams e Ellen Gates Starr, como principais fundadoras da Hull House no final dos anos de 1880, Julia Lathrop, uma das primeiras a se incorporar a essa instituição, e Eleanor Clarke Slagle foram as primeiras mulheres responsáveis pelas ações da Hull House. Esse trabalho, no âmbito da ação social, do lidar comdemandas da questão social da sociedade capitalista que se levantava sob os alicerces estadunidenses, sob um enfoque político, começa também, para parte 7 dessas mulheres, a oferecer parâmetros para ações que, mais tarde, viriam compor propostas em torno da Terapia Ocupacional (MORRISON, 2016 apud MONZELI; MORRISON; LOPES, 2019). O tratamento dos pacientes variava de premissas puramente físicas até as exclusivamente psíquicas, porém era comum a observação da mistura dos dois fatores na literatura inicial, onde o exercício restaurava a saúde física e esta restaurava a saúde mental (WILLARD; SPACKMAN, 2011). Kielhofner e Burke apud De Carlo e Bartalotti (2008) referem que a Terapia Ocupacional, enquanto ciência, precisou se adequar ao método e rigor científicos presentes nas décadas de 1930 e 1940, onde, com o avanço do conhecimento científico, com melhores caracterizações das doenças e patologias, houve a necessidade da adequação do conhecimento do senso comum para um tratamento com respaldo científico. Em meados de 1915, foi criado o primeiro curso de Terapia Ocupacional, no Estado de Chicago, nos Estados Unidos. Posteriormente, a profissão é difundida na Europa, no pós-guerra, com a criação de departamentos de Terapia Ocupacional em hospitais militares (CONSELHO REGIONAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL 12ª REGIÃO, 2017). A profissão continuou a crescer e a se definir a partir dos anos 1950. Os números de cursos de Terapia Ocupacional continuava a crescer e o número de profissionais graduados também, iniciando a avaliação da utilização de assistentes treinados na carência de profissionais capacitados para o tratamento dos pacientes (WILLIARD; SPACKMAN, 2011). A partir dos anos 1960 e 1970, houve um crescimento considerável da profissão, bem como mudanças, sendo incorporados novos conhecimentos, principalmente na área neurocomportamental, instaurando a criação de novas abordagens de tratamento, como a abordagem da integração sensorial desenvolvida por A. Jean Ayres (WILLIARD; SPACKMAN, 2011). Ayres foi influenciada por teóricos como Margaret Rood, Carl e Bertha Bobath no tratamento das disfunções neuromuscular, e por Piaget, que conceituou o desenvolvimento a partir de uma visão sensório-motora. A autora compreendia que as experiências sensoriais são incorporadas e utilizadas pelo ser humano para permitir a adaptação comportamental. Tal abordagem serve de base e continua sendo aprimorada no tratamento e acompanhamento de crianças na área da terapia comportamental, atualmente (WILLIARD; SPACKAMN, 2011). Diante da historicidade da Terapia Ocupacional, nos Estado Unidos, enquanto profissão, pode-se considerar que alguns fatores foram decisivos para a criação/ implantação da Terapia Ocupacional na América Latina, porém não existe um consenso em relação a uma única história da profissão. 8 No ano de 2017, comemorou-se o centenário da profissão no mundo, e a Associação Americana de Terapia ocupacional enfatizou a importância da Terapia Ocupacional como uma poderosa profissão, amplamente reconhecida e respaldada pela prática baseada em evidência, atendendo a necessidades ocupacionais da sociedade, enfatizando, também, o fortalecimento da atuação da Terapia Ocupacional em colaboração com outras profissões (WILLIARD; SPACKMAN, 2011). Destaca-se que o fato de a profissão ter sido criada por pessoas com diferentes tipos de formações possibilitou a pluralidade na formação de terapeutas ocupacionais, além de proporcionar a criação de uma visão holística sobre as ocupações humanas (SOARES, 2022). 3 TERAPIA OCUPACIONAL NO BRASIL Com os seus primórdios e consolidação nos Estados Unidos e na Europa, a Terapia Ocupacional, enquanto profissão, começou a ser implantada em outros países e outros continentes, com destaque para a América Latina. Monzeli, Morrison e Lopes (2019), destacam a América Latina da seguinte maneira: Começar com uma definição de América Latina, para além de importante, é bastante complicado e, em alguns momentos, paradoxal. É importante porque se coloca a tarefa de localizar histórica e geograficamente uma região, alguns idiomas e muitos povos distintos e diversos. Complicado, exatamente por essa enorme diversidade, não só de povos e culturas, mas também de discursos sobre essas diversidades. Paradoxal, pois, para falar dessa complexidade, muitas vezes, se tomam perspectivas postas pelas nações invasoras e colonizadoras, criando uma identidade “América Latina” em oposição e assimetria a essas nações. Países como México, Venezuela, Chile e Brasil foram alguns países que incorporaram e reconheceram a Terapia Ocupacional enquanto profissão de reabilitação, sendo importante frisar os acontecimentos em nível de saúde pública no momento da criação dos primeiros cursos nesses países (MONZELI; MORRISON; LOPES, 2019). Em 1950, os primeiros cursos técnicos de Terapia Ocupacional foram criados nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Esse movimento se consolidou a partir das revoluções ocorridas mundialmente no setor da reabilitação. Posteriormente, outros cursos foram sendo criados em outros estados brasileiros (REIS; LOPES, 2018). Uma das pioneiras em relação à incorporação da Terapia Ocupacional no Brasil foi Fernanda de Carvalho, formada na segunda turma do curso de Terapia Ocupacional no país pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Implantou o Setor de Terapia Ocupacional na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (MELO; GALLIAN, 2017). 9 Para Fernanda de Carvalho, a profissão possibilitou o contato com o outro, de maneira intensa, principalmente com as pessoas que sofriam discriminação naquela época. E por muito tempo não se entendia a necessidade do terapeuta ocupacional nas equipes de assistência, pois estes eram substituídos erroneamente por psicólogos que realizam arteterapia (MELO; GALLIAN, 2017). As primeiras turmas da profissão realizavam a formação completa e intensiva em 2 anos. A Escola de Reabilitação do Rio de Janeiro (ERRJ) foi criada para atender às demandas do centro de reabilitação, contudo, devido à procura pelo curso aumentar, optou-se pela continuidade do curso (REIS; LOPES, 2018). Paulatinamente, o curso também era implantado no Estado de São Paulo, o qual contou com o apoio Associação Brasileira de Reabilitação, no movimento realizado pela Organização Mundial de Saúde, Organização Internacional de Trabalho e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, com o objetivo de disseminar e consolidar a reabilitação mundialmente (REIS; LOPES, 2018). Ressalta-se que os primeiros cursos de Terapia Ocupacional apresentaram dificuldades frente a uma graduação incipiente e precária, onde as referências bibliográficas eram escassas, possuindo poucos manuais e jornais estrangeiros. O conhecimento era propagado a partir da experiência dos próprios terapeutas recém- formados, sem uma sistematização, de fato, científica (CARDINALLI; SILVA, 2021b). Ainda na região Sudeste, a profissão na região de Belo Horizonte surgiu com o intuito de criação de mão de obra na área da reabilitação para a realização de atendimento especializado na área das desordens do sistema locomotor. Em 1969, o curso ganhou status de ensino superior, e, em 1974, o curso passou pela primeira proposta de reformulação de currículo (REIS; LOPES, 2018). No Recife, a Terapia Ocupacional chegou ao Nordeste com a criação do Instituto Universitário de Reabilitação. O curso tinha a duração de 75 dias, e estava incorporado ao Curso de Reabilitação. Em 1962, iniciaram-se os cursos técnicos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional com a duração bianual, de caráter privado e com acesso mediante aprovação em processo seletivo (REIS; LOPES, 2018). Em 1969, a profissão foi regulamentada no Brasil e reconhecida em todo o território como uma formação de ensino superior, por meio do Decreto nº 938, de 13 de outubro de 1969 (REIS; LOPES, 2018). O curso de Terapia Ocupacional daUFSCar foi estruturado em 1978 pelo médico José Rodrigues Louzã. Contudo a docente Maria Luísa Guilhamon Emmel assumiu a coordenação do curso. Naquela época, era pouco ocupado por terapeutas ocupacionais de fato, mas conseguir a atuação desses profissionais significa um avanço na área (REIS; LOPES, 2018). 10 As décadas de 1970 e 1980 foram de grande transformação para a Terapia Ocupacional no Brasil, principalmente na organização dos cursos de graduação e nas demandas internacionais sobre a regulamentação no país (ABRATO, 2021). As mudanças curriculares seguiram o modelo do primeiro currículo mínimo nacional em 1983 e, posteriormente, foram sendo realizadas novas mudanças sendo a última realizada em 2015 e implantada em 2016 no curso de Terapia Ocupacional (REIS; LOPES, 2018). De fato, os primeiros terapeutas ocupacionais que adentraram pela carreira docente tiveram que enfrentar inúmeros obstáculos para dar continuidade aos cursos; tiveram que inventar uma nova profissão e, ao mesmo tempo que se inventavam enquanto docentes, era necessário construir cursos, formar pessoas e abrir o mercado de trabalho para as novas gerações de profissionais (REIS; LOPES, 2018). A Terapia Ocupacional tornou-se uma profissão que permitiu e permite sua mutação ao longo das demandas populacionais. Além de ser uma atuação disciplinar, ela considera o resgate de atividades de direitos e emancipatórias (SOARES, 2014). Sobre a metamorfose da profissão, Galheigo et al. (2018) destacam o seguinte: Ao longo dessas seis décadas, desde a criação dos primeiros cursos de Terapia Ocupacional no Brasil, em 1956, referenciais teóricos e metodológicos vêm sendo incorporados e substituídos de acordo com os contextos e mudanças históricas, sociais e políticas do país, tendo sido o ensino, a pesquisa e a extensão desenvolvidos nas universidades, importantes vetores de produção de novas perspectivas e tendências para a profissão. Destaca-se que a curiosidade pelo desconhecido possibilitou um movimento de transformação no país. A Terapia Ocupacional, enquanto curso de nível superior, mostrou a necessidade da incorporação de uma profissão que conseguisse unir disciplinas e áreas de diferentes interesses (CARDINALLI; SILVA, 2021b). Galheigo et al. (2018) referem que o processo de problematização da prática é desencadeado a partir das conjunturas sócio-históricas que corroboram para o questionamento da prática e favorecem a criação de novas abordagens na profissão. Ou seja, o saber em Terapia Ocupacional é sempre mutável, contribuindo, assim, para a modernização da profissão. Quadro 1 – Linha do tempo acerca da evolução teórico-prática da Terapia Ocupacional no Brasil Tendência Início Nome 1ª 1956 Constituição das primeiras bases teórico- práticas da terapia ocupacional no Brasil 11 Fonte: adaptado de Galheigo e Braga (2018b) Figura 2 – Antigo Brasão da Terapia Ocupacional Fonte: Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional 13ª Região (2014, s.p.) 2ª Fim dos 1970s Problematização dos saberes e práticas da terapia ocupacional, a partir de aportes da Saúde Coletiva e das Ciências Humanas e Sociais 3ª Após meados de 1990s Constituição dos campos de saber e prática da terapia ocupacional por meio de contextualiza- ção sócio-política, problematização teórico-con- ceitual e proposição de práticas emancipatórias 4ª Após 2000/5 Intensa diversificação teórico-conceitual e metodológica na produção de saberes e práticas de terapia ocupacional 4 O SÍMBOLO DA TERAPIA OCUPACIONAL O símbolo da Terapia Ocupacional foi criado por André Luís Bentin Lacerda e Patrícia Moreira Bastos, sob a influência da mitologia grega. Como observado abaixo, o fogo representa o elemento da natureza que transmite a ideia de fonte de energia que impulsiona o fazer; a serpente é o desenvolvimento do conhecimento, sabedoria, conversão de intenções; O círculo representa a livre criação, o infinito e o universo, relacionado a algo que não tem fim; O delta ou triângulo representa a tríade terapeuta-cliente-atividade, ou seja, o processo terapêutico (CONSELHO REGIONAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL 13ª REGIÃO, 2014). Em 2017, o Brasão oficial da Terapia Ocupacional brasileira mudou, a partir de consulta pública, sendo promulgado pela resolução nº 481, de 26 de abril de 2017, em homenagem ao centenário da profissão. 12 Figura 3 – Brasão Oficial da Terapia Ocupacional Fonte: Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional 12ª Região (2017b, s.p.) O bastão de Esculápio refere-se ao poder da cura, sendo representado pela letra T, simbolizando o processo de intervenção e ressignificação do cotidiano, pela busca da autonomia e independência. As asas da fênix representam a transformação e renascimento da vida ocupacional do sujeito. As serpentes rementem a astúcia, criatividade e capacidade de resiliência dos terapeutas a partir do processo de terapia. A letra "O" representa as ocupações/atividades significativas do sujeito ocupacional (CONSELHO REGIONAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL 12ª REGIÃO, 2017b). Os símbolos representativos da Terapia Ocupacional colaboram para a construção e o fortalecimento da identidade profissional, bem como auxiliam na representação da profissão perante a sociedade. Sendo assim, conhecer o significado dos símbolos que permeiam a profissão é essencial na compreensão sobre as origens, fundamentos e o que é, de fato, ser terapeuta ocupacional. Além disso, a mudança pode sinalizar e confirmar as mudanças ocorridas na profissão ao longo dos anos, o que nos permite reconhecer a adaptação desta ao período histórico. 13 Neste tópico, você aprendeu: • Os marcos históricos que contribuíram para criação da Terapia Ocupacional, principalmente revoluções sociais, políticas, econômicas e científicas do século XX. • Os pioneiros na criação da profissão, nos Estados Unidos, com destaque para George Barton, Susan Cox Jonhson, Eleanor Clarke Sangle, dentre outros. • A história da Terapia Ocupacional no Brasil, destacando os principais percursores dos primeiros cursos no país, desde os cursos técnicos ao reconhecimento da profissão como curso de ensino superior. • Os símbolos de representação da Terapia Ocupacional no Brasil, nos quais consta o significado de cada elemento e sua relação na abordagem terapêutica ocupacional na prática. RESUMO DO TÓPICO 1 14 AUTOATIVIDADE 1 O trabalho como mecanismo para tratar pessoas enfermas já era utilizado desde a Grécia Antiga, sendo de grande importância para o tratamento em saúde naqueles tempos e durante alguns fatos históricos da história contemporânea. Diante disso, e considerando o surgimento da Terapia Ocupacional, identifique os principais marcos históricos que contribuíram para a criação e crescimento da profissão e assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Revolução Industrial, Renascimento e II Guerra Mundial. b) ( ) I e II Guerras Mundiais, Monarquia e Independência do Brasil. c) ( ) Revolução Industrial, Renascimento, I e II Guerras Mundiais. d) ( ) Revolução Francesa, Revolução Industrial, Renascimento, I e II Guerras Mundiais. 2 Os primeiros cursos de Terapia Ocupacional no Brasil surgiram com a necessidade de estabelecer ações de reabilitação no país, em consonância com as atividades mundiais. Considerando o exposto, elabore um parágrafo sobre a implantação dos primeiros cursos de Terapia Ocupacional no país. 3 O fazer em Terapia Ocupacional sempre foi permeado de possibilidades, por isso, conceituar a profissão em uma única vertente é uma tarefa árdua. Contudo a profissão necessita de um “norte” para poder seguir. Sendo assim, a regulamentação da profissão em um país é de suma importância para o embasamento da prática e direcionamento dos profissionais atuantes. Considerando o exposto sobre a profissão de Terapia Ocupacional no Brasil, esta foi reconhecida e regulamentada em 1989. Isso se deu a partir de qual Decreto? a) ( ) Decreto nº 938, de 13 de outubrode 1969. b) ( ) Decreto nº 839, de 13 de outubro de 1969. c) ( ) Decreto nº 922, de 13 de outubro de 1969. d) ( ) Decreto nº 983, de 13 de outubro de 1969. 4 Muitos percursores tiveram a sua contribuição para a Terapia Ocupacional se consolidar como profissão no Brasil. Em alguns casos, terapeutas ocupacionais estrangeiros vieram ao país para incorporar essa nova profissão. Contudo muitos que estavam se capacitando em Terapia Ocupacional eram alunos e, ao mesmo tempo, docentes do curso. Diante disso, uma personagem brasileira foi muito importante nos primeiros cursos técnicos de Terapia Ocupacional. Assinale a alternativa CORRETA acerca do nome dessa percussora: 15 a) ( ) Joaquina de Carvalho. b) ( ) Fernanda de Carvalho. c) ( ) Janaína de Carvalho. d) ( ) Eleonor de Carvalho. 5 Acerca da Terapia Ocupacional nos Estados Unidos, um dos principais percursores foi o engenheiro George Edward Barton, o qual necessitou da reabilitação em sua vida. Considerando a contribuição de George Barton para a Terapia Ocupacional, discorra acerca da criação da Associação Americana de Terapia Ocupacional, hoje conhecida mundialmente. 16 17 FUNDAMENTOS EM TERAPIA OCUPACIONAL 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tema de Aprendizagem 2, abordaremos os fundamentos em Terapia Ocupacional no Brasil e no mundo, abordando os aspectos norteadores da profissão atualmente. Destacaremos os desafios em “definir”, qualificar e delimitar fronteiras entre as áreas da saúde e afins, além das mudanças políticas e sociais que interferiram na fundamentação da profissão. Enfatizaremos as bases filosóficas que fundamentam o exercício da profissão no Brasil e no mundo, destacando os principais autores que contribuíram para o saber em Terapia Ocupacional. UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 2 FUNDAMENTOS DA TERAPIA OCUPACIONAL NO EXTERIOR A transição da terapia pelo trabalho para a Terapia Ocupacional ocorreu a partir da Primeira Grande Guerra, devido, principalmente, a pressões sociais dos veteranos de guerra, os quais buscavam autonomia financeira e valorização social (SOARES, 2014). Os fundamentos da profissão consolidaram-se ao longo do reconhecimento da profissão nos Estados Unidos, no início do século XX, quando se considerou como elemento fundamental os hábitos. A principal referência nesse assunto foi Eleanor Clarke Slagle, umas das fundadoras da Associação Americana de Terapia Ocupacional e da formação da profissão nos Estados Unidos (DRUMMOND, 2014). O arcabouço teórico de Eleanor Clarke Slagle sofreu influência de Adolf Meyer, o qual fundamentou a ideia das relações entre os padrões de hábitos e doença mental, associando a noção de homem à perspectiva de organismo complexo, dividindo o ser em categorias e áreas do cotidiano (DE CARLO; BARTALOTTI, 2008). Estabelecer uma rotina com hábitos saudáveis era o principal objetivo da atuação do terapeuta ocupacional, visto que a realização de tais atividades poderiam contribuir para que o paciente conseguisse uma vida mais saudável (DRUMMOND, 2014). 18 Ao longo do avanço da profissão, e com o advento de novos cursos e entidades representativas, surgiu a necessidade de embasamento teórico para sustentar a prática terapêutica ocupacional. Tal fato foi desencadeado por fatores externos e internos à profissão. Como fatores externos à profissão, pode-se apontar a repercussão econômica, política e social advinda da Segunda Guerra Mundial ao incrementar a produção de bens tecnológicos e a busca das especializações em diversas áreas. [...] Como fatores internos à profissão, pode-se apontar o desejo de autonomia dos terapeutas ocupacionais em relação à classe médica e a própria insatisfação quanto à falta de domínio teórico das práticas realizadas (DRUMMOND, 2014). Nota-se que a busca por embasamento teórico-metodológico para os terapeutas ocupacionais se estabeleceu a partir das mudanças político-sociais e devido às demandas dos profissionais diante das necessidades dos grupos atendidos (DRUMMOND, 2014). Autores como Reed e Sanderson (1980) apud Francisco (1988) propõem que a Terapia Ocupacional seja reconhecida como uma análise e aplicação da ocupação para autoatividade, participação e lazer, as quais devem ser identificadas a partir das avaliações, raciocínio clínico e proposta de tratamento, os quais possam identificar e tratar os problemas que estejam interferindo no desempenho funcional. No final dos anos 1940 e 1950, a área da saúde começou a observar o homem a partir do modelo biomédico, concentrando-o nos aspectos bioquímicos e biofísicos sob a perspectiva da psiquiatria. Durante esse período de reducionismo, a Terapia Ocupacional sofreu pressão da comunidade médica a assumir tais fundamentos para atuar. Então, surgiu o desafio de transformar o uso da atividade em algo cientificamente aceitável. Isso gerou a busca por resposta, o que contribuiu para o surgimento da aplicação da ocupação, agora com a aplicação de exercícios (FRANCISCO, 1988). Essa nova estruturação deixou de lado o homem ocupacional enquanto objeto de estudo e atuação, sendo substituído por um modelo mecânico e progressivo linear. Diante desse fato, o terapeuta ocupacional se transforma em especialista em exercícios progressivos de resistência, atividades de vida diária, trata de lesões em músculos, tendões, memória e atenção (FRANCISCO, 1988). Para a aplicação da atividade como exercício, são propostos alguns procedimentos para se obter o sucesso no tratamento. São eles: a) Análise da atividade: objetiva conhecer a atividade em suas minúcias, destacando suas especificidades científicas, e as propriedades (componentes físicos e mentais) para sua realização; b) Adaptação das atividades: a atividade deve ser capaz de estimular a parte lesada do paciente, com o objetivo de reabilitar. Para isso, a adaptação deve seguir alguns 19 critérios – a atividade deve proporcionar mais movimentos do que posicionamento; permitir graduação; proporcionar um número de repetições de movimentos; poder ser realizada em etapas. c) Seleção e graduação da atividade: o objetivo é possibilitar a reabilitação das funções prejudicadas, considerando a tolerância na realização das atividades ou etapas; Nos anos 1950 e 1960, a psicodinâmica passou a ser utilizada na ação da Terapia Ocupacional. O fazer humano era carregado de simbolismo, tendo a psicanálise de Sigmund Freud como percursora. A expressão de sentimentos, idealizações e o inconsciente eram utilizados durante a atividade (FRANCISCO, 1988). Pelo fato de a profissão ainda não possuir um vasto arcabouço teórico, Drummond (2014) refere que as primeiras fontes de conhecimento foram as áreas da medicina e da psicologia, o que contribuiu para o domínio de questões envolvendo as patologias e os aspectos biológicos e psicológicos envolvidos no processo terapêutico ocupacional. A partir da década de 1970, os preceitos em terapias ocupacionais começaram a ser fundamentados e consolidados, e as áreas de atuação da Terapia Ocupacional conseguiram encontrar um ponto de congruência, principalmente sobre a perspectiva da produção da ocupação. Destaca-se, portanto, a atuação de Mary Reilly, a qual retratou a produção do comportamento ocupacional (DRUMMOND, 2014). Esse conceito de comportamento ocupacional considerou teorias filosóficas, psicológicas, sociológicas e antropológicas, ou seja, as ciências humanas e sociais, para embasar e fundamentar os princípios norteadores da Terapia Ocupacional, partindo do pressuposto de que a ocupação era o centro da atuação (DRUMMOND, 2014). Nesse momento, as pesquisas em Terapia Ocupacional passaram a considerar a ocupação como objeto de estudo, descentralizando as doenças, as quais eram o elemento principal nas análises das pesquisas e práticas dos terapeutas ocupacionais (DRUMMOND, 2014). Diante disso, surgem os primeiros modelos de estudos centrados no comportamento ocupacional, sendo eles o modelo da ocupação humana e a Ciência Ocupacional, osquais contribuíram para a criação da estrutura da prática de Terapia Ocupacional: Domínio e Processo e da Terminologia Uniforme da Terapia Ocupacional (DRUMMOND, 2014). A ciência ocupacional resgata as ideias dos fundadores da Terapia Ocupacional, os quais acreditavam que a ocupação e o conhecimento da sua capacidade para a promoção da saúde e bem-estar poderiam ser utilizados para melhorar a qualidade de vida da população em geral (WILLIARD; SPACKMAN, 2011). 20 Sob a liderança de Yerxa, o primeiro programa de ciência ocupacional foi desenvolvido na Universidade do Sul da California com o objetivo de melhor compreender a complexidade da ocupação humana (WILLIARD; SPACKMAN, 2011). A autora também defendeu o engajamento do profissional em Terapia Ocupacional na pesquisa científica, com o objetivo de desenvolver as bases filosóficas e teóricas da profissão. Isso contribuiu para os três princípios da Terapia Ocupacional contemporânea, que são: prática centrada no cliente, prática centrada na ocupação e prática baseada em evidências (WILLIARD; SPACKMAN, 2011). Os princípios acerca da prática centrada no cliente, prática centrada na ocupação e prática baseada em evidências serão abordados nas próximas unidades. NOTA Figura 4 – Domínio e Processo Fonte: American Occupational Therapy Association (2020, s.p.) O domínio e processo são interligados, apesar de serem descritos separadamente para melhor compreensão. Os componentes que integram ambos possuem uma constante relação entre si. A Figura 5 apresenta os campos do domínio e processo, com o objetivo geral da profissão no alcance da saúde, bem-estar e participação a partir do processo terapêutico (GOMES; TEIXEIRA; RIBEIRO, 2021). 21 A 4ª edição do documento de Domínio e Processo, publicado em 2020, refere as competências e os aspectos que devem ser observados no atendimento terapêutico ocupacional (GOMES; TEIXEIRA; RIBEIRO, 2021). Esse documento destaca os pilares da profissão para distingui-la de outras profissões: a) valores e crenças fundamentados na ocupação; b) conhecimento e a experiência o uso terapêutico da ocupação; c) comportamentos e normas da profissão; d) comportamentos e normas profissionais; e) uso terapêutico do eu. Mais especificamente, o domínio se refere a ocupações, contextos, padrões de desempenho, competências de desempenho e fatores do cliente. Todos esses aspectos têm uma relação dinâmica de interdependência (GOMES; TEIXEIRA; RIBEIRO, 2021). Os aspectos do domínio de Terapia Ocupacional incluem as ocupações, contextos, padrões de desempenho, competências de desempenho e fatores do cliente. • Ocupações: atividades de vida diária, atividades instrumentais de vida diária, gestão em saúde, descanso e sono, educação, trabalho, brincar/jogar, lazer e participação social. • Contextos: fatores ambientais e fatores pessoais. • Padrões de desempenho: incluem hábitos, rotinas, papéis e rituais. • Competência do desempenho: competências motoras, competências de processo, competências de interação social. • Fatores do cliente: valores, crenças, e espiritualidade, funções do corpo, estruturas do corpo. Os conceitos fundamentais do domínio e processo ressaltam a importância dos contextos e complexidade do ser humano, contribuindo para o arcabouço teórico- prático da profissão, para diferi-la de outras profissões, na prestação de serviços (GOMES; TEIXEIRA; RIBEIRO, 2021). Já a Terminologia Uniforme da Terapia Ocupacional, criada pela Associação Americana de Terapia Ocupacional, propôs a apresentação de terminologias comuns à profissão, para conseguir diferenciá-la das demais, como as áreas de desempenho, componentes do desempenho e contextos de desempenho (WILLARD; SPACKMAN, 2011). Outro pressuposto refere-se à tríade pessoa-atividade-ambiente, onde as habilidades e as capacidades são consideradas na realização da atividade, destacando a motivação, novidade, tolerância, engajamento e a familiaridade para o sucesso no desempenho ocupacional do indivíduo (WILLIARD; SAPARCKAM, 2011). Ao longo do tempo, outros aspectos foram sendo incorporados na prática e teoria em Terapia Ocupacional. Destaca-se a prática baseada em evidências, a qual se mostra como o mais novo avanço da sociedade e da profissão, pois busca o refinamento 22 do tratamento a partir da compreensão acerca dos meios mais efetivos do tratamento oferecido aos pacientes, clientes, usuários ou populações (WILLIARD; SPACKMAN, 2011). Nota-se que há várias tentativas de conceituar a Terapia Ocupacional como uma profissão da área da saúde envolvida com o social, contudo diferentes teóricos apontam para a prática da profissão ser mais neutra em relação à saúde dos envolvidos (FRANCISCO, 1988). Portanto a atuação do terapeuta ocupacional deve estar sempre se transformando, pois muitos se pautam no passado e não conseguem ir além, o que impede o avanço da profissão (FRANCISCO, 1988). 3 FUNDAMENTOS DA TERAPIA OCUPACIONAL NO BRASIL Até meados de 1980, no Brasil, observou-se que os fundamentos da profissão se baseavam na literatura estrangeira e na própria vivência dos profissionais, o que delimitava o saber e a legitimação da prática (DRUMMOND, 2014). Berenice Rosa expõe que o fazer em Terapia Ocupacional perpassa por uma série de ações em que, primeiramente, a atividade humana deve ser compreendida como um lugar de criação, recriação e produção humana, em que o ato de realizar determinada tarefa esteja atrelado não somente ao fato biológico, mas que esteja permeado por sentimentos, intenções e necessidades (FRANCISCO, 1988). Posteriormente, o fazer deve considerar as necessidades, a problematização, ser desafiante para superar os conflitos envolvidos. Em terceiro lugar, não existe receita ao lidar com o outro, e nem técnicas específicas que garantirão a resolução dos problemas. Por último, o terapeuta ocupacional deve estar preparado a se dispor, a ser um mediador, instrumento ou recurso terapêutico na resolução do caso (FRANCISCO, 1988). Muito se discursa para delimitar a prática da Terapia Ocupacional em uma única definição, mas observa-se a sua mutação ao longo da história, envolvendo diretamente as ciências sociais. Por isso, nota-se que a questão das diferenças entre as atuações está relacionada ao modelo teórico e prático da profissão (FRANCISCO, 1988). No Brasil, a prática de Terapia Ocupacional nas décadas de 1960 e 1970 pautava- se no conceito positivista de ciência. Assim como no resto do mundo, a profissão buscava seu embasamento teórico-metodológico, essa corrente influenciou a formação dos primeiros profissionais no país (PINTO, 1990 apud DRUMMOND, 2014). No final dos anos 1980, os terapeutas ocupacionais passam a produzir nacionalmente, além de criticar a influência recebida, principalmente a norte-americana. sobre a prática da Terapia Ocupacional no Brasil, principalmente pelo modelo biomédico amplamente utilizado como objetivo de terapêutica (DRUMMOND, 2014). 23 Além disso, muitos profissionais foram sendo formados, o que repercutiu no questionamento coletivo da formação, devido ao aumento do número de docentes e, consequentemente, da prática profissional. A inserção da Terapia Ocupacional na saúde primária estabeleceu uma rotina de cuidados dentro da realidade da população brasileira, a qual não condizia com o ideal estrangeiro (DRUMMOND, 2014). Vale lembrar que a profissão foi regulamentada em plena Ditadura Militar, por um decreto em conjunto com a fisioterapia, em um período em que a sociedade brasileira perecia de desigualdades sociais, concentração de riquezas e a impossibilidade de acesso aos direitos básicos (OLIVER; SOUTO; NICOLAU, 2018). Diante disso, grupos de terapeutas ocupacionais engajados em movimentos pela justiça social e comprometidos pela redemocratização do país participam da articulação para a construção da Constituição de 1988, contribuindo para o estabelecimento das políticas e diretrizes das políticas sociais universais, contemplando as áreasda saúde, social, educação e trabalho (OLIVER; SOUTO; NICOLAU, 2018). A experiência e competência dos profissionais de Terapia Ocupacional são reconhecidas, e estes, como parte das equipes de diferentes setores, se engajam na proposição, desenvolvimento e implementação de programas e serviços para favorecer o acesso a direitos essenciais. Alguns desses profissionais são convidados a participar em assessorias e consultorias de políticas e programas em saúde, assistência social, reabilitação, trabalho e/ou cultura (OLIVER; SOUTO; NICOLAU, 2018). Os terapeutas ocupacionais demonstram também as diferenças entre o cotidiano e as atividades de vida diária, como uma das áreas de desempenho ocupacional. Reforçam que a redução do cotidiano as áreas do desempenho interfere significativamente na análise da complexidade humana (DRUMMOND, 2014). A partir da década de 1990, houve avanços na literatura em Terapia Ocupacional no Brasil, além da contribuição de outras áreas, voltando a formação e atuação interdisciplinar, em que a compreensão sobre o impacto dessa nova atuação se faz necessária, para o entendimento da realidade profissional (DRUMMOND, 2014). O engajamento da profissão na composição de equipes multiprofissionais, multidisciplinares e interdisciplinares possibilitou o crescimento da Terapia Ocupacional em outros cenários de prática, como a saúde coletiva, hospitalar, gerontologia, educação, dentre outros (CARDINALLI; SILVA, 2021b). Ademais, destaca-se a contribuição da Terapeuta Ocupacional M. J. Benneton, a qual se dedica ao desenvolvimento da psicodinâmica em Terapia Ocupacional desde a década de 1970 pelo médico Luiz Cerqueira, um dos principais percussores da criação de serviços extra-hospitalares de saúde mental (DE CARLO; BARTALOTTI, 2008). 24 O Termo “atividade humana”, adotado a partir dos anos 1990, passou a integrar a produção nacional em Terapia Ocupacional. Isso trouxe, de certa maneira, uma melhor identidade profissional para além da concepção do trabalho, ofertando um sentido mais amplo da manifestação humana (CARDINALLI; SILVA, 2021a). As dificuldades em definir uma terminologia única para a Terapia Ocupacional perduram até hoje. De acordo com Cardinalli e Silva (2021a), há uma intensa diversificação teórico-conceitual e metodológica na produção de saberes e práticas de Terapia Ocupacional, marcada pelo aumento progressivo da produção acadêmica, como publicações de livros e de pesquisas. No estudo desenvolvido por Cazeiro, Barcellos e Costa (2019), os autores referem que até a utilização de termos para designar as ações da Terapia Ocupacional são mutáveis e dependem do arcabouço teórico-prático que norteia a prática profissional. Há concepções adversas em relação aos termos ocupação, ação e fazer. Para os profissionais de Terapia Ocupacional brasileiros, eles estão interligados. A ocupação, geralmente, está associada à atividade (CAZEIRO; BARCELLOS; COSTA, 2019). Para Pedral e Bastos (2008), ambas são coexistentes, pois não pode haver ocupação sem a atividade, e vice-versa, visto que a ocupação é a realização dos papeis desempenhados no cotidiano. A Terapia Ocupacional, portanto, é plural, possui potencialidades e desdobra- mentos históricos que permeiam a sua prática. Por isso, defini-la em algo singular e linear dificulta a compreensão do indivíduo como um todo (CARDINALLI; SILVA, 2021b). Destaca-se que a elaboração do arcabouço teórico em Terapia Ocupacional no país foi influenciada pelas bases teóricas internacionais, especialmente dos países europeus, Estados Unidos e Canadá. Além disso, a dialética com outras áreas possibilitou a criação de saberes únicos que envolvem o cotidiano do profissional, sua expertise e os aspectos culturais (CARDINALLI; SILVA, 2021b). Autores como Cardinalli e Silva (2021b) referem 14 categorias em relação à rede de conhecimentos de Terapia Ocupacional no Brasil. São elas: [...] a) interesse pelo desconhecido; b) graduação incipiente e precária; c) formação continuada em Terapia Ocupacional; d) marcas da repressão e resistência do/ao Regime Militar; e) desenvolvimento e organização política da categoria; f) investimentos à pesquisa em Terapia Ocupacional; g) compreensões sobre especificidades da profissão; h) adoção e/ou enunciação de concepções, perspectivas, métodos ou campos; i) redes amplas, que instigam e oferecem suporte para investimento na produção de conhecimento; j) crítica e/ ou resistência aos padrões acadêmico-científicos; k) o encantamento por conhecer e, posteriormente, fazer e criar essa profissão; l) prazer em produzir conhecimento em/de/sobre Terapia Ocupacional; m) protagonismo feminino; n) construção de conhecimento diretamente relacionado ao fazer da Terapia Ocupacional. 25 Esses aspectos são essenciais no desenvolvimento da história coletiva e individual da profissão, principalmente no campo de conhecimento, refletindo a busca por sua identidade profissional, auxiliando na compreensão do conhecimento específico da Terapia Ocupacional (CARDINALLI; SILVA, 2021b). Destaca-se, também, a rede de suporte entre os terapeutas ocupacionais na troca de experiências e compartilhamento de saberes para o investimento em produções científicas na área. A expertise do outro em determinado assunto ou situação pode contribuir para um aprimoramento da prática ou vivência, suscitando novas maneiras de saber (CARDINALLI; SILVA, 2021b). A experiência na prática é igualmente importante, pois, teoria e prática são construídas e modificadas em conjunto, por isso, quando se considera a produção do conhecimento, o arcabouço teórico e a experiência precisam dialogar, pois muito se questiona sobre os saberes adquiridos longe da academia (CARDINALLI; SILVA, 2021b). O diálogo com os marcos históricos, sociais e políticos favoreceu a produção acadêmica e profissional nacional, contribuindo, assim, para a construção da identidade e referencial teórico-prático, sendo categorizados quatro movimentos, considerando o período histórico (GALHEIGO et al., 2018). De certa maneira, os conhecimentos e pensamentos acerca da Terapia Ocupacional, apesar de múltiplos e diversificados em várias áreas, permitem a troca de perspectivas entre si, o que colabora para o fortalecimento profissional (GALHEIGO et al., 2018). Em síntese, o primeiro movimento iniciou-se na criação dos primeiros cursos de Terapia Ocupacional na Escola de Reabilitação do Rio de Janeiro e no Instituto de Ortopedia do Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo. Contudo a psiquiatra Nise da Silveira já realizava práticas de Terapia Ocupacional como método de tratamento não conservador aos pacientes psiquiátricos nos anos 1940 (CASTRO; LIMA, 2007). A utilização da arte e da cultura foram ferramentas primordiais nos processos terapêuticos na esquizofrenia. Nise buscou aprimorar-se de uma terapêutica mais humanística, indo contra as práticas psiquiátricas daquele tempo, as quais se baseavam em eletrochoques, lobotomias, terapia química e medicamentosa (CASTRO; LIMA, 2007). 26 Figura 5 – Atividades desenvolvidas pelos pacientes no Centro Psiquiátrico Pedro II. Figura 6 – Imagens do Inconsciente Fonte: Centro Cultural do Ministério da Saúde (2014, s.p.) Fonte: Hirzman (1983) Decidiu conhecer a subjetividade dos esquizofrênicos, para poder conhecer a fundo suas dores, pensamentos e, assim, pode melhorar sua qualidade de vida. Debruçou-se na terapêutica ocupacional e propôs o fortalecimento do método e fundamento científico da atuação, desenvolvendo uma prática clínica em Terapia Ocupacional (CASTRO; LIMA, 2007). No período no qual esteve no Centro Psiquiátrico Pedro II e à frente do setor de terapêutica ocupacional, Nise da Silveira desenvolveu diversas pesquisas com o objetivo de registrar os resultados obtidos com o uso das atividades, comprovar a eficácia dessa maneira de terapêutica, investigar os efeitos adversos dos tratamentos psiquiátricos tradicionais, além de comprovar a capacidadee habilidades criativas e de aprendizado dos esquizofrênicos (CASTRO; LIMA, 2007). Nesse período, dezessete núcleos de atividades foram desenvolvidos, dentre eles, a marcenaria, trabalhos manuais, costura, dança e teatro. Tais atividades possibilitavam o fortalecimento do ego dos pacientes, estabelecendo a ampliação do relacionamento com o meio social através da expressividade (CASTRO; LIMA, 2007). 27 Além disso, a terapêutica ocupacional objetivava a mudança do ambiente hospitalar, e na própria psiquiatria, onde as atividades eram desenvolvidas com objetivo puramente clínico, e não para gerar benefícios à instituição. A psique era um dos principais objetos de estudo da psiquiatra, entender como os pacientes se expressavam a partir da pintura, por exemplo. Para isso, a teoria junguiana e seu método de investigação, que considerava a psique como um sistema dinâmico-regulador, era muito semelhante aos pensamentos de Nise, servindo, assim, como principal base para sua atuação (CASTRO; LIMA, 2007). Jung reconhecia os aspectos de natureza pessoal presentes no inconsciente, mas acreditava que o inconsciente trazia consigo um estrato mais profundo da psique, comum a toda a humanidade. Distinguia, portanto, duas esferas na psique inconsciente: um inconsciente pessoal relacionado à história pessoal de cada indivíduo, e um inconsciente coletivo, que compõe um elo e um vínculo ente o indivíduo e a humanidade (CASTRO; LIMA, 2007, p. 25). O trabalho desenvolvido pela psiquiatra Nise possibilitou uma nova maneira de compreensão da saúde mental, com novas possibilidades de tratamento, e do entendimento da linguagem não verbal dos pacientes acompanhados (CENTRO CULTURAL DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014). Portanto, os fundamentos da Terapia Ocupacional não são algo acabado, tangível e delimitado. Deve-se compreender que a produção do conhecimento perpassa pela história, pelas clientelas que se compõem o tempo e espaço, as diferentes culturas, aos aspectos sociais, políticos e econômicos que determinarão as práticas, as transdisciplinaridades e as infinitas construções e (re)construções acerca dos fundamentos em Terapia Ocupacional (DRUMMOND, 2014). O cuidado com o outro deve ser um dos pilares da Terapia Ocupacional, pois, objetiva a melhora do bem-estar do indivíduo, sendo permeada por ocupações significativas. O cuidado em saúde pode ser desempenhado pelo profissional de maneira voluntária ou paga (SOARES, 2022). No caso do terapeuta ocupacional, o cuidado está inserido em uma visão biomédica, na qual se configura como um conjunto de técnicas e procedimentos que visam ao tratamento de uma doença e a reabilitação (SOARES, 2022). 28 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • Os principais fundamentos da Terapia Ocupacional nos contextos nacional e internacional, enfatizando os marcos da época de regulamentação da profissão. • Os desafios encontrados na implementação e definição do seu objeto de estudo e na transformação da atuação da profissão, em atividade com comprovação científica e embasamento teórico-metodológico da profissão enquanto ciência. • Os movimentos de terapeutas ocupacionais brasileiros, na reformulação das atuações nos diferentes cenários de prática, com inserção em campos e contextos de vulnerabilidade e injustiça social, para a garantia de direitos constitucionais básicos. 29 AUTOATIVIDADE 1 No ano de 2022, a Terapia Ocupacional completou 53 anos de regulamentação no Brasil, a construção e consolidação da profissão foi influenciada por marcos históricos, sendo um reflexo da sociedade e do momento político e econômico do país. Sendo assim, destaque em linhas breves o período e contexto no qual a Terapia Ocupacional surgiu no Brasil. 2 Na fundamentação da Terapia Ocupacional enquanto ciência, ela buscou, em outras fontes, conhecimentos para embasar a profissão, o que direcionou sua prática. Cite as principais bases de conhecimentos que fundamentaram a profissão no seu início. 3 A história da Terapia Ocupacional se relaciona diretamente com o período da história, sendo influenciada diretamente pelos acontecimentos técnico-científicos que ocorreram ao longo do tempo, a nível nacional e internacional. Por isso, o saber da profissão necessitou de adequações para acompanhar a evolução dos saberes médicos. Por isso, a fundamentação teórica e prática foi essencial no fortalecimento da profissão enquanto ciência. Diante disso, e sobre a fundamentação da Terapia Ocupacional, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Nos anos 1960, a prática da Terapia Ocupacional, no Brasil, era pautada no modelo negacionista. ( ) O modelo da Ciência da Ocupação contribuiu para a elaboração da Estrutura e Prática: Domínio e Processo e o Terminologia Uniforme em Terapia Ocupacional. ( ) A partir dos anos 1980, a formação e incorporação de docentes brasileiros em Terapia Ocupacional suscitou novos questionamentos acerca dos modelos vigentes em Terapia Ocupacional, sob a influência norte-americana, a qual condizia com a realidade brasileira em todos os aspectos. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) F -V - F. b) ( ) F - F - V. c) ( ) V - F - V. d) ( ) V - V - V. 4 Segundo Berenice Rosa, em sua obra Terapia Ocupacional, de 1988, alguns critérios devem ser considerados quando se tratar da atividade como exercícios, os quais devem possuir alguns critérios-chave para sua execução. Sendo assim, assinale a alternativa CORRETA que apresenta os procedimentos, em ordem cronológica, a serem utilizados na escolha de uma atividade: 30 a) ( ) Análise da atividade; adaptação; seleção; e graduação. b) ( ) Objetivos, análise da atividade; graduação; e resultados. c) ( ) Objetivos; análise da atividade;, adaptação; e regulação. d) ( ) Escolha; adaptação; graduação; e resultados. 5 Segundo os estudos realizados até aqui, alguns teóricos foram fundamentais na criação e fortalecimento da Terapia Ocupacional ao redor do mundo. Contudo sempre é valido destacar a participação dos pioneiros da profissão. Por conseguinte, assinale a alternativa CORRETA que se refere à principal autora da fundamentação da profissão de Terapia Ocupacional nos Estados Unidos, no início do século XX: a) ( ) Mary Sheily. b) ( ) Eleanor Clarke. c) ( ) Emanuela Sligle. d) ( ) Mary Reilly. 31 TÓPICO 3 - DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A TERAPIA OCUPACIONAL 1 INTRODUÇÃO Considera-se que a Terapia Ocupacional é uma profissão da área da saúde, a qual possui a atividade humana como objeto de estudo, incluindo a promoção, prevenção e reabilitação em diferentes contextos e ambientes, por isso, as diretrizes curriculares devem ser utilizadas para que os cursos formadores possam, de fato, contribuir para habilitar profissionais capacitados para atender às necessidades da população. No Tema de Aprendizagem 3, abordaremos as diretrizes curriculares nacionais para a formação em Terapia Ocupacional no Brasil, destacando os principais pontos que os cursos de formação devem possuir para oferecer uma qualificação profissional que atenda às demandas da população. Além disso, destacaremos as principais metodologias utilizadas nos cursos de graduação de Terapia Ocupacional no Brasil, enfatizando os desafios da implantação das metodologias de ensino, as vantagens e desvantagens acerca da incorporação dessas metodologias, com destaque para o método de Aprendizagem Baseada em Problemas. UNIDADE 1 2 PROMULGAÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS O primeiro documento a ser utilizado na regulamentação da Terapia Ocupacional enquanto profissão foi o Decreto Lei nº 938, de 13 de outubro de 1969, o qual definia as particularidades da profissão em seu âmbito, primordialmente, de reabilitação (SOARES, 2014). Contudo a profissão já vinha se consolidando no território brasileiro, sendo destacada pelos primeiros cursos, como o do Instituto de Reabilitação, que mais tarde seria transferido para a Universidadede São Paulo. Por meados de 1975, criou-se o Conselho Profissional da categoria em conjunto com a Fisioterapia, o qual, em conjunto com as associações mundiais, buscou criar o currículo mínimo para os cursos de graduação. Em 1982, o Ministério da Educação e Cultura resolve aprovar a carga horária de 3.240 horas a serem realizadas em 4 anos (FACULDADE DE MEDICINA DA USP, 2020). No Brasil, a reforma nacional dos currículos dos cursos de graduação iniciou no ano de 1996, e objetivou o desenvolvimento da articulação entre a teoria/formação 32 acadêmica e a prática profissional, considerando as exigências do mercado de trabalho e a flexibilização curricular (BREGALDA; MÂNGIA, 2020). Na formação dos cursos de graduação, as competências são os principais norteadores, envolvendo os conhecimentos teóricos e práticos, habilidades e ações para a realização da prática profissional específica a cada profissão (BREGALDA; MÂNGIA, 2020). No ano de 2001, existiam 29 escolas de Terapia Ocupacional no Brasil, sendo sete nas regiões Norte e Nordeste, duas na região Centro-Oeste, dezesseis na região Sudeste e quatro na região Sul. Nota-se a maior concentração de cursos nas regiões mais desenvolvidas do país - Sudeste e Sul (DE CARLO; BARTALOTTI, 2008). Atualmente, no Brasil, existem 38 cursos de graduação em funcionamento, sendo 21 em instituições públicas e 17 em instituições privadas. Existem, também, três cursos de pós-graduação em Terapia Ocupacional, sendo dois strictu sensu e um profissional na Universidade de Federal de São Carlos (UFSCar), em São Paulo (BRASIL, 2020). A resolução nº 650, de 4 de dezembro de 2020, dispõe sobre as recomendações do Conselho Nacional de Saúde quanto às diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação de Terapia Ocupacional. A reformulação das diretrizes surgiu durante o XVI Encontro Nacional de Docentes de Terapia Ocupacional, realizado em Vitória-ES (BRASIL, 2020). O documento seguiu os seguintes princípios: Perfil do Egresso, Princípios Orientadores da Formação, Conhecimentos Essenciais, Estratégias de Formação e Projetos Pedagógicos do Curso (BRASIL, 2020). Os artigos 3º e 4º dessa resolução referem que o curso deverá ter, no mínimo, 3600 horas, integralizadas em 4 anos. O egresso deverá ter sua formação voltada a uma atuação generalista, humanista, crítica-reflexiva, sendo capaz de atuar com grupos e indivíduos em suas ocupações, cotidianos e atividades, atuando nas áreas da saúde, educação, seguridade social, esporte, trabalho, lazer, cultura e meio ambiente (BRASIL, 2020). O art. 5º condiz com o perfil do egresso de Terapia Ocupacional, após a formação. Reneto (2020, s.p.) descreve 50 subitens, destacados a seguir: 1. Compreender a problemática específica das pessoas, grupos, coletivos e populações com as quais trabalhará, contextualizada em seus processos/implicações pessoais, sociais, culturais e políticos/as que influenciam o engajamento em suas atividades/ ocupações/cotidianos. 2. Conhecer e manter-se atualizado acerca dos indicadores e conjunturas sociais, econômicos, culturais, ambientais e políticos global, nacional, regionais e locais, fundamentais à cidadania e à prática profissional. 3. Conhecer e analisar as realidades nacional, regionais e locais da sociedade brasileira em relação ao modo de produção e trabalho das diferentes pessoas, grupos, coletivos e populações que a compõem. 33 4. Conhecer as políticas públicas de seguridade social (saúde, assistência social e previdência social), e outras políticas e programas sociais referentes à educação, habitação, cultura, mobilidade e direitos humanos na atenção a pessoas, grupos, coletivos e populações de todas as faixas etárias e diferentes classes, raças/etnias e gêneros. 5. Reconhecer a saúde, a proteção e inclusão social, a cultura, a educação e o trabalho como direitos e atuar de forma a garantir a intersetorialidade e a integralidade da assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações individuais e coletivas realizadas em serviços e equipamentos sociais em todos os níveis de complexidade. 6. Conhecer as políticas públicas para compreender sua constituição, a dimensão das responsabilidades das instâncias federativas (federal, estadual e municipal) e a inserção e atribuições do terapeuta ocupacional. 7. Reconhecer as modificações nas relações societárias, de trabalho e comunicação em âmbito mundial, nacional e regional, assim como entender os desafios de tais mudanças para a vida cotidiana, possibilitando ações e intervenções que garantam o exercício de direitos e a participação na vida social. 8. Conhecer a realidade loco-regional considerando os indicadores sociais que influenciam na inserção, na participação social e no exercício da cidadania dos sujeitos, com vistas à formulação de estratégias de intervenção em Terapia Ocupacional. 9. Conhecer as dinâmicas culturais e determinantes sociais relacionados aos processos de exclusão, segregação, asilamento, institucionalização, discriminação e estigmatização de diferentes grupos e territórios e seu impacto nas atividades/ocupações/ cotidianos, para defender e promover a inclusão e participação social como direito. 10. Conhecer os fundamentos históricos da Terapia Ocupacional em nível mundial, nacional e regional. 11. Conhecer os fundamentos epistemológicos e teórico-metodoló- gicos da Terapia Ocupacional e seus diferentes modelos/pers- pectivas/abordagens de compreensão, avaliação e intervenção. 12. Compreender a relação das pessoas, grupos, coletivos e popu- lações com as atividades/ocupações/cotidianos em diferentes contextos, considerando fatores biológicos, funcionais, relacio- nais, afetivos, históricos, sociais, econômicos, tecnológicos, cul- turais e políticos. 13. Identificar, experienciar, compreender, analisar, interpretar e ava- liar a atividade/ocupação/cotidiano de pessoas, grupos, coletivos e populações, considerando a centralidade das atividades coti- dianas: culturais, artísticas, artesanais, educacionais, de traba- lho, de lazer, sociais, lúdicas, esportivas, básicas e instrumentais da vida diária, descanso e sono, para a construção complexa da identidade dos sujeitos e do processo terapêutico ocupacional, que visem a autonomia, a ampliação de direitos, a independên- cia, a participação, inclusão e a emancipação social. 14. Conhecer os fundamentos de diferentes perspectivas teóricas sobre a atividade/ocupação/cotidiano, funcionalidade, ativida- des de vida diária, autonomia, independência, acessibilidade, participação e emancipação social. 15. Conhecer os principais métodos de diagnóstico, formulação de objetivos, estratégias de planejamento, desenvolvimento e avaliação da intervenção que constituem o processo terapêutico- ocupacional. 34 16. Realizar registros das intervenções em Terapia Ocupacional por meio de linguagem adequada ao contexto em que ocorrem, reconhecendo sua importância assistencial, educacional, científica, administrativa e jurídica. 17. Conhecer como os contextos e dinâmicas sociais interferem na realização de atividades/ocupações/cotidiano e na participação social das pessoas, grupos, coletivos e populações, bem como a dimensão coletiva dessa realização e do seu potencial de transformação social, considerando os movimentos sociais, as políticas ambientais e socioeconômicas, as questões de gênero, etnia, classe social, geracionais, nacionalidade, naturalidade, dentre outras. 18. Compreender as relações indivíduo-sociedade, os processos de vul- nerabilidade, de exclusão-inclusão social e de saúde-doença-defici- ência em suas múltiplas determinações, contemplando os aspectos biológicos, históricos, econômicos, psicossociais, culturais, espirituais e ambientais para o processo terapêutico-ocupacional, visando auto- nomia, participação, inclusão e emancipação social. 19. Desenvolver atividades profissionais junto à diferentes grupos populacionais, que apresentem alterações nas dimensões mo-