Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A literatura brasileira na República Em pouco mais de um século, o Brasil deixou de ser um país de maioria analfabeta, com uma vida literária restrita e submissa às modas ditadas por uma pequena elite, para se tornar uma nação com uma literatura própria e diversa, em que se multiplicam as possibilidades de acesso, distribuição e publicação de textos. O início do século XX A literatura já era uma atividade regular nas grandes cidades do jovem Brasil republicano. Ela recebia as últimas contribuições de Machado de Assis, circulava por jornais, revistas, cafés e salões sociais e, como quase tudo na época, seguia infl uenciada pelos franceses, ecoando-os em variadas tendências e autores, da poesia simbolista de Alphonsus de Guimaraens à prosa de Euclides da Cunha. As gráficas vão para o interior Longe da capital federal, a literatura também se desenvolvia nas cidades que cresciam pelo interior, onde surgiam gráfi cas para imprimir a prosa e a poesia locais, de cordéis no Nordeste a contos históricos de gaúchos, além de periódicos e até mesmo cópias ilegais dos best-sellers. Primeira Guerra: crise e renovação O confl ito gerou turbulências por todo o mundo, desencadeando a Revolução Russa e agravando a crise da política do “café com leite” no Brasil. Fazendeiro fracassado, Monteiro Lobato foi para São Paulo e tornou-se um escritor de sucesso. Empreendedor, superou a falta de livrarias vendendo no varejo popular edições mais bonitas e baratas. Fundador da Companhia Editora Nacional, renovou a literatura e a indústria gráfi ca, publicando novos autores e importando máquinas. 1900 1920 1940 6,3 3,4 O avanço educacional no século XX População brasileira a partir dos 15 anos de idade, em milhões de pessoas. 11,4 13,3 6,2 10,4 Nos anos 1930 foi criado o Ministério da Educação e começou a formação universitária de professores e teóricos de literatura. Desde então, houve a diminuição da porcentagem de analfabetos. Estes 3,4 milhões correspondem aos adultos do país que sabiam, pelo menos, escrever o próprio nome. O número dos que tinham o hábito de leitura, porém, era muito menor; estimava-se que menos de 250 mil pessoas podiam comprar um livro. Problema histórico que só começou a receber atenção adequada nas últimas décadas, o analfabetismo ainda representa um desafi o para as políticas de educação pública. Número de adultos brasileiros: Legenda Analfabetos Alfabetizados Ano INTERAÇÕES 718 I_plus_literatura_cap30_C.indd 718 11/11/10 6:07:13 PM A literatura é, pois, um sistema vivo de obras, agindo umas sobre as outras e sobre os leitores; e só vive na medida em que estes a vivem, decifrando-a, aceitando-a, deformando-a.” Antonio Candido, Literatura e sociedade. O segundo quarto do século XX O avanço da urbanização e da indústria transformava o país enquanto jovens artistas infl uenciados pelas vanguardas europeias lançavam o Modernismo. Suas atividades culturais estimularam grupos por todo o país e iniciaram décadas de renovação, durante as quais surgiriam grandes nomes do cenário literário brasileiro: Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Nelson Rodrigues, Ferreira Gullar, os irmãos Campos, entre outros. Novas formas de publicação Nos anos 1970, mesmo com a Ditadura e a censura, a literatura avançou, seguindo as experiências das décadas anteriores, aproximando-se da música e outras artes e das inquietações da contracultura. Novos autores desenvolveram mídias alternativas, como o tabloide Jornalivro e os fanzines, publicações feitas em fotocopiadoras e em mimeógrafos – um tipo simples de impressora manual doméstica. Do analógico ao digital: uma via de mão dupla No século XXI, a escrita ganhou novos espaços e adquiriu outras formas. Muitos autores e leitores adotaram a internet como meio de publicação, encontro e difusão de obras. De 2006 a 2010, cerca de 20 milhões de textos foram baixados de graça da biblioteca digital Domínio Público. Shakespeare, Fernando Pessoa e Machado de Assis lideram as estatísticas de busca do site. Os blogs e o Twitter tornaram-se meios de circulação de novos textos literários. 1960 1980 2000 16 19,3 16,3 24,3 55,3 103,2 O governo federal passou a cogitar a distribuição gratuita de livros didáticos em 1929, mas só nos anos 1990 é que isso começou a acontecer de forma contínua e massiva, com verba garantida pela lei. A partir dos anos 2000, a distribuição incluía dicionários e obras literárias. A quantidade relativa de analfabetos caía continuamente, mas apenas em meados dos anos 1980 é que se pôde perceber de fato a diminuição do número de analfabetos na população total. Fontes: HALLEWELL, L. O livro no Brasil. São Paulo: Edusp, 2008; CANDIDO, A. Iniciação à literatura brasileira. São Paulo: Humanitas, 1999; ÁTICA. Momentos do livro no Brasil. São Paulo: Ática, 1998. Fonte: INEP. Mapa do analfabetismo no Brasil, 2003. Pela evolução dos dados do gráfi co abaixo e contando com as tecnologias atuais, é possível que ainda possamos ver o dia em que toda a população tenha condições de participar da vida literária nacional, interagindo e enriquecendo o sistema literário. 719 I_plus_literatura_cap30_C.indd 719 11/11/10 6:07:18 PM I_plus_literatura_cap27_C.indd 638 11/11/10 4:24:22 PM I_plus_literatura_especial1_C.indd 720 11/11/10 7:36 PM
Compartilhar