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1 Ressonância Magnética Nuclear de 1H: aplicações na identificação de micromoléculas Prof. Dr Murilo Marinho de Castro LIma Dezembro/2013 INTRODUÇÃO 2 Ressonância Magnética Nuclear 3 Espectroscopia é o estudo da interação da energia com a matéria. Quando se aplica energia à matéria, ela pode ser absorvida, emitida, causar uma modificação química ou ainda ser transmitida. A Ressonância Magnética Nuclear (RMN) é a técnica espectroscópica mais valiosa aos químicos orgânicos. Muitos núcleos podem ser estudados por RMN, como 19F e 31P, porém 1H e 13C são os mais comuns. Enquanto a técnica de infra-vermelho revela os grupos funcionais presentes numa molécula, a RMN faz o mapeamento do esqueleto carbono-hidrogênio da molécula. A técnica de RMN de 1H é capaz de determinar o número de cada núcleo distinto de hidrogênio, assim como, obter informações acerca do ambiente químico vizinho a tais núcleos. A origem do sinal de RMN 4 Muitos núcleos atômicos possuem um propriedade denominada spin, onde os núcleos comportam-se como se estivessem girando ao redor de um eixo. Todo núcleo que possui massa atômica ou número atômico ímpar, ou ambos, apresentam tal propriedade. 5 A origem do sinal de RMN Na ausência de um campo magnético externo, os spins nucleares estão orientados randomicamente. Porém, quando uma amostra contendo tais núcleos sofre a ação de um campo magnético externo (B0), esses núcleos adotam orientações específicas. Alguns podem se alinhar paralelamente ao campo magnético, enquanto outros podem assumir uma orientação antiparalela. A orientação paralela é um pouco menos energética, e portanto, mais favorecida. A origem do sinal de RMN 6 Para o 1H ... A origem do sinal de RMN 7 Quando os núcleos são irradiados com uma radiação eletromagnética numa frequência adequada, ocorre absorção de energia e mudança da orientação do spin do estado menos energético para o mais energético. E quando acontece essa mudança na orientação do spin, diz-se que os núcleos estão em ressonância com a radiação aplicada ressonância magnética nuclear 8 E absorvida= (E spin -1/2 - E spin +1/2)= hυ A origem do sinal de RMN A exata frequência necessária para que a ressonância ocorra depende tanto da força do campo magnético aplicado quanto da identidade do núcleo. Se um campo magnético muito forte for aplicado, a diferença de energia entre os estados de spin é maior, e portanto, uma maior frequência é necessária para que ocorra a mudança na orientação do estado de spin menos energético para o mais energético. ΔE= f(γB0)=hυ γ= razão magnetogírica 9 Operação básica de um espectrômetro de RMN 1- A amostra é solubilizada em solvente deuterado e colocada num tubo de vidro apropriado, que é então, posicionado entre os polos do magneto. 2- O campo magnético forte provoca o alinhamento dos spins nucleares nas possíveis orientações, e a amostra é, então, irradiada com energia de radiofrequência (rf). 3- Se a frequência da irradiação da rf é mantida constante e a força do campo magnético varia, cada núcleo entra em ressonância de acordo com a força do campo magnético. 4- O detector monitora a absorção da energia de rf, e o sinal eletrônico é amplificado, e enviado ao computador, que através de transformada de Fourier, o apresenta na forma de picos. 10 Deslocamento químico Os prótons de uma molécula estão cercados por elétrons, e portanto, existem em ambientes químicos diferentes uns dos outros. Dessa forma, numa mesma molécula, os prótons ressonam em frequências distintas. A densidade eletrônica na camada de valência varia para de um próton para outro. Os prótons estão blindados pelos elétrons que os circundam. A circulação de elétrons na camada de valência dos prótons é chamada de corrente diamagnética local. Tal corrente gera um campo magnético no sentido contrário ao campo magnético aplicado, que é a anisotropia diamagnética. 11 Deslocamento químico O espectro de RMN é apresentado como um diagrama, onde a força do campo magnético aplicado cresce da esquerda para direita. Os núcleos que absorvem em campo baixo requerem um campo magnético menos forte para que ocorra a ressonância, portanto tais núcleos estão menos blindados. Enquanto que os núcleos que absorvem em campo alto necessitam da aplicação de um campo magnético forte, são mais blindados pelos elétrons da camada de valência. Campo baixo (desblindado) Campo alto (blindado) 12 Deslocamento químico Deslocamento químico δ, onde 1δ equivale a 1 ppm da frequência operante no espectrômetro Ex.: Num aparelho de 500MHz, 1 δ = 500 Hz δ = deslocamento em Hz Frequência do espectrômetro em MHz Efeitos da eletronegatividade no deslocamento químico 13 Substituintes eletronegativos no carbono reduzem a blindagem local diamagnética na vizinhança dos prótons ligados, pois reduzem a densidade eletrônica ao redor dos prótons. Quanto mais eletronegativo o substituinte, mais desblindado será o próton e, portanto, seu deslocamento químico aparecerá em campo mais baixo. CH3F CH3OH CH3Cl CH3Br CH3I CH4 Eletronegatividade 4.0 3.5 3.1 2.8 2.5 2.1 δ 4.26 3.40 3.05 2.68 2.16 0.23 Efeitos da hidridização no deslocamento químico 14 Hidrogênios sp3 0- 2 ppm Hidrogênios sp2 Numa ligação C-H sp2, o C tem maior caráter s (33%), do que um C sp3. Quanto maior o caráter s, maior é a eletronegatividade do C Efeitos da hidridização no deslocamento químico 15 Hidrogênios sp hidrogênios acetilênicos aparecem entre 2- 3ppm. Pela hibridização, eles deveriam ser mais desblindandos que os hidrogênios vinílicos, dado o maior caráter s. Devido ao efeito de anisotropia, os hidrogênios acetilênicos são blindados, aparecendo em campo mais alto. Anisotropia corrente magnética gerada pela circulação de elétrons π 16 Equivalência química Todos os prótons encontrados em ambientes químicos idênticos numa molécula são quimicamente equivalentes. 1 sinal no espectro de RMN 1H 3 sinais no espectro de RMN 1H 2 sinais no espectro de RMN 1H Equivalência química 17 Para moléculas relativamente pequenas, uma rápida olhada na estrutura já é o suficiente para identificar os tipos de prótons presentes e quantos sinais de absorção irão aparecer no espectro de RMN 1H. Em caso de dúvida, a equivalência ou não equivalência de dois prótons pode ser determinada comparando quais seriam as estruturas formadas caso cada hidrogênio fosse substituído por um grupo X. Nessa molécula do 2-metilpropeno existem dois grupos de hidrogênios homotópicos, portanto 2 sinais no espectro de RMN 1H. 17 18 Equivalência química Se a substituição de cada um dois átomos de hidrogênio pelo mesmo grupo gera compostos que são enantiômeros, diz-se que os dois átomos de hidrogênio são enantiotópicos. Substituição de cada H por -OH enantiômeros Hidrogênios enantiotópicos possuem o mesmo deslocamento químico e apresentam apenas um sinal no espectro de RMN 1H. Equivalência química 19 Se a substituição de cada um dois átomos de hidrogênio pelo mesmo grupo gera compostos que são diastereoisômeros, diz-se que os dois átomos de hidrogênio são diastereotópicos. Substituição de cada H por -OH O cloroeteno fornece 3 sinais de prótons não equivalentes: um para o próton do grupo ClCH=, e um para cada um dos hidrogênios diastereotópicos do grupo =CH2. 20 Integração das absorções no RMN 1H A área sob cada pico é proporcional ao número de prótons que geram o pico. O espectrômetro é capaz, através de medidas eletrônicas, integrar a área abaixo de cada sinal, e assim, fornecer o número relativo a cada tipo de hidrogênio presente na molécula. 9 3 Acoplamento Spin-Spin 21 Pelo fato dos núcleos dos átomos de hidrogênio possuírem momento magnético, comportam-se como “ímãs. Por se comportarem como ímãs, os núcleos “sentirão” uns aos outros atravésdas ligações químicas, ou seja, o momento magnético de um núcleo afeta o momento magnético do núcleo vizinho. A esse fenômeno dá-se o nome de acoplamento spin-spin. De maneira geral, a regra do n+1 é empregada. Prótons que possuem n prótons equivalentes vizinhos, apresentam n+1 picos no espectro de RMN 1H. Acoplamento Spin-Spin 22 Prótons equivalentes comportam-se com um único grupo Ha possui dois hidrogênios vizinhos (n+1=3) tripleto Integral= 1 Hb e Hc são equivalentes e possuem um único H vizinho (n+1=2) dupleto Integral= 2 Ha possui 3 Hs equivalentes vizinhos (n+1=4) quarteto Integral=2 a b Hidrogênios b possuem 2 Hs equivalentes vizinhos (n+1=3) tripleto Integral= 3 23 Acoplamento Spin-Spin As metilas possuem 1 H vizinho (n+1=2) dupleto Integral=6 Seis hidrogênios equivalentes vizinhos (n=1=7) septeto Integral=1 Acoplamento Spin-Spin 24 A proporção da intensidade de cada pico no multipleto derivado da regra de n+1 pode ser verificada pelo triângulo de Pascal. Nº de prótons equivalentes vizinhos Multipleto 0 Simpleto 1 Dupleto 2 Tripleto 3 Quarteto 4 Quinteto 5 Sexteto 6 Hepteto Acoplamento Spin-Spin 25 A distância entre cada pico em um simples multipleto é chamada de constante de acoplamento, J (medida em Hz). A constante de acoplamento é a medida de quão fortemente um núcleo está sendo afetado pelos estados de spin de seus vizinhos. Acoplamento Spin-Spin 26 bromoetano Acoplamento Spin-Spin 27 E quando a regra de n+1 falha? Quando os prótons ligados a um mesmo carbono não são quimicamente equivalentes, eles possuem deslocamentos químicos diferentes e, portanto, a regra n+1 não é aplicável. Livre rotação JAC= JBC JAB= 0 n+1 Espectro de 1ª ordem Não há rotação JAC≠ JBC JAB ≠ 0 Não se aplica n+1 Espectro de 2ª ordem 28 Acoplamento Spin-Spin geminal cis trans Acoplamento Spin-Spin 29 Espectros de 2ª ordem são observados quando núcleos com deslocamentos químicos muito próximos, porém não idênticos, acoplam entre si. Espectro obtido em 60 MHz Informações fornecidas pela RMN 30 Informações diretas... Intensidade Nº de núcleos que dá origem ao sinal Deslocamento químico Ambiente químico dos núcleos Constante de acoplamento Geometria molecular e conectividade 31 Aplicações da RMN de 1H Aplicações da RMN de 1H 32 Elucidação estrutural Investigação de formulações Análise de misturas Determinação da pureza de amostras Controle e garantia da qualidade Análise quantitativa Investigação de mecanismos de reação Pesquisa e desenvolvimento nas áreas da química: orgânica, inorgânica e físico-química Indústria química Pesquisa nas áreas biológica e bioquímica Indústria de alimentos Indústria Farmacêutica Indústria de polímeros Desenvolvimento e produção agroquímica 33 Análise de micromoléculas Alcanos 34 R-CH3 0.7- 1.3 ppm R-CH2-R 1.2 – 1.4 ppm R3- CH 1.4 – 1.7 ppm -CH-CH- 3J= 7- 8 HZ Alcenos 35 C=C-H 4.5 – 6.5 ppm C=C-C-H 1.6 – 2.6 ppm Alcenos 36 J= 16Hz J= 16Hz 7.83 ppm 6.46ppm Ácido trans-cinâmico Alcenos 37 3Jbc= 16Hz 3Jac= 8Hz 2Jab= 4Hz Vinil acetato Compostos aromáticos 38 a b c 6.8 ppm 2.59 ppm 1.24 ppm 39 Compostos aromáticos Efeito do substituinte... Compostos aromáticos 40 Compostos aromáticos 41 δ δ δ δ Compostos aromáticos 42 Anéis para-dissubstituídos anetol Plano de simetria Compostos aromáticos 43 Outras substituições... Ex.: 2,4-dinitroanisol Álcoois 44 C-OH 0.5- 5.0 ppm CH-O-H 3.2 – 3.8 ppm O deslocamento químico do H de –OH é variável, pois depende da concentração da amostra, do solvente, da presença de água ou impurezas ácidas ou básicas. Muitas vezes esses fatores podem causar o alargamento do pico. Éteres 45 R – O - CH 3.2 – 3.8 ppm Éteres 46 Aminas 47 R-N-H 0.5-4.0 ppm -CH- N- 2.2 – 2.9 ppm 3.0 – 5.0 ppm Aldeídos 48 R- CHO 9.0 – 10.0ppm R-CH-CH=O 2.1-2.4 ppm -CH-CHO 3J= 1 – 3 Hz Comum a todo Hα carbonila efeito anisotrópico da carbonila Cetonas 49 2.1 – 2.4 ppm Simpleto intenso em 2.1ppm Ésteres 50 R-CH-COOR 2.1- 2.5ppm R-COO-CH- 3.5- 4.8ppm Diagnóstico de ésteres Ácidos Carboxílicos 51 R- COOH 11.0 – 12.0 ppm -CH-COOH 2.1 – 2.5ppm Ácido etilmalônico Amidas 52 R(CO)-N-H 5.0 – 9.0 ppm -CH-CONH 2.1- 2.5 ppm R(CO)-N-CH 2.2 – 2.9 ppm A absorção de –NH é extremamente variável, dependendo, além do ambiente químico da molécula, também da T e do solvente. A rotação nas amidas é bem restrita, graças à ressonância entre o N e a carbonila na ausência de livre rotação, Hs ligados ao N não são equivalentes, fornecendo 2 picos de absorção. 53 Para treinar... 1 54 Acetato de etila IDH= C – H/2 + N/2 – Hal/2 + 1 4-8/2 +1 = 1 2 55 a b c d e c d a b IDH= 8 – 11/2 + ½ + 1= 4 3 56 2-metoxibenzaldeído 4 57 0.97 (3H, t, J=7Hz) 1.42 (2H, sextupleto, J= 7Hz) 2.00 (2H, quinteto, J= 7Hz) 4.40 (2H, t, J= 7Hz) a b c e 5 58 δ 1.08(6H, d, J=7Hz) 2.45 (4H, t, J= 5Hz) 2.80 (4H, t, J= 5Hz) 2.93 (1H, hepteto, J= 7Hz) a b a b 6 59 7.83 (2H, d, J = 8.8 Hz, H-2’ e H-6’) 6.92 (2H, d, J = 8.8 Hz, H-3’ e H-5’) 6.83 (1H, d, J = 2.1 Hz, H-6) 6.71 (1H, d, J = 2.1 Hz, H-8) 6.58 (1H, s, H-3) apigenina Bibliografia 60 Clayden, J.; Greeves, N.; Warren, S.; Wothers, P. Organic Chemistry. 4ª edição. Oxford University Press, 2005 McMurry, John. Organic Chemistry. 7ª edição. Thomson Brooks Cole, 2008 Pavia, D. L.; Lampman, G. M.; Kriz, G. S. Introduction to spectroscopy. 3ª edição. Thomson Brooks Cole, 2001 Solomons, G.; Fryle, C. B. Química Orgância. 1ª edição. LTC Editora, 2001 Atividade Complementar 61 62 image3.png image4.emf image5.png image6.png image7.png image8.png image9.png image10.emf image11.png image12.png image13.png image14.png image15.png image16.png image17.png image18.emf image19.emf image20.emf image21.emf C C H H C H 3 C H 3 C C H H C H 2 C l C H 3 C C C l H C H 3 C H 3 a a b b image22.emf C H H B r C H 3 C O H H B r C H 3 C H H O B r C H 3 image23.emf C C H C l H H C C H C l O H H C C H C l H O H image24.png image25.emf image26.png image27.png image28.png image29.png image30.emf C H 3 C H 2 I image31.png image32.png image33.emf C H c C l C l C C l H b H a image34.emf O H H H b a c d image35.png image36.png image37.emf 0 1 2 PPM image38.emf 0 . 9 1 1 . 3 7 0 . 9 1 image39.png image40.png image41.png image42.png image43.emf 0 1 2 3 4 5 6 PPM image44.emf H 3 C H 2 C C H 2 C H 3 C H 2 C H 3 a a a b b b c c c image45.png image46.png image47.png image48.png image49.png image50.emf C O H image51.png image52.png image53.png image54.png image55.png image56.png image57.emf 0 1 2 3 PPM image58.emf O H 1 . 1 6 3 . 5 7 1 . 1 6 2 . 0 image59.png image60.png image61.emf 0 1 2 PPM image62.emf O 2 . 5 4 2 . 5 4 image63.emf N H image64.png image65.png image66.png image67.png image68.png image69.png image70.png image71.png image72.png image73.emf O O image74.png image75.emf H 2 N image76.png image77.emf 0 2 4 6 8 10 PPM image78.emf H O O 7 . 0 1 7 . 4 3 6 . 9 6 7 . 7 0 1 0 . 2 4 3 . 7 3 image79.png image80.png image81.emf N O 2 image82.emf N O image83.emf O O H H O O O H image84.png image85.png
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