Prévia do material em texto
Esthev de Bóer maria MADALENA DISCÍPULA, APÓSTOLA E MULHER Tradução: Lígia Capobianco MADRAS Do original: Mary Magdalei © Meinema First published by SCM Pr Tradução autorizada do ingi Direitos exclusivos para tod © 1999, by Madras Editora Supervisão Editorial e Cooi Wagner Veneziani Costa Produção e Capa: Equipe Técnica Madras Ilustração Capa: Alexandre Luiz Almeida Se^ Tradução: Lígia Capobianco Revisão: Marise Goulart de Andrade Marília Rodella ISBN: 85-7374-188-0 Proibida a reprodução tota qualquer meio eletrônico, ir cos, sem permissão expres Todos os direitos desta edi’ MADR^ Rua Pauí 02403-0: Caixa Pç Tel.:(011 http://ww Em memória de Geertje Streefland, Esther Rãs e Maartje Visser, minha mãe e avós, às quais sou muito grata. índice Introdução ……………………………………………………………… 11 I. Além do Mito………………………………………………………. 13 Maria Madalena: Penitente…………………………….. 15 Significado……………………………………………….. 16 Liturgia …………………………………………………… 17 Arte………………………………………………………… 18 Trabalho social …………………………………………. 19 A imagem fragmentada …………………………….. 20 O Retraio Desconsiderado …………………………….. 21 Discussão ………………………………………………… 21 Oriente e Ocidente ……………………………………. 23 A caricatura deliberada………………………………. 24 Contra-Reforma ………………………………………. 26 Popularidade ……………………………………………. 27 Na Busca de Quem Realmente Ela E ………………. 28 II. As Fontes Primárias sobre Maria Madalena ……………. 31 Maria, com o sobrenome “de Magdala” ………. 34 Magdala/Tarichea……………………………………… 34 Uma próspera cidade mercantil ………………….. 37 Campo de oposição, santuário de fugitivos …… 39 A procedência de Maria Madalena ………………. 43 8 Esther de Bóer Maria Madalena Como Discípula de Jesus …………. / ‘ A visão de Jesus sobre as mulheres ……………… ^ Como Jesus tratava as mulheres …………………. Maria Madalena como discípula ………………….. Ambivalência……………………………………………. Maria Madalena Como Testemunha-Chave ……… Evangelho de Marcos: ansiedade…………………. 6( O Evangelho de Mateus: fé ………………………… 61 O Evangelho de Lucas: sete espíritos demoníacos…………………………… 6’ Evangelho de João: persistência ………………….. 6 Maria Madalena …………………………………………… 6 Quem era ela?………………………………………….. 6. Qual a história de Maria Madalena?…………….. 7( III. A Busca Continua ……………………………………………… 7; Tradição Eclesiástica ……………………………………… 7 Disciplina e apostolado: ajudante …………………’ Repleta de Fé ……………………………………………’. Uma professora?………………………………………. 7 Jesus e Maria Madalena: distância……………….. 7; O Que as Areias do Deserto Entregaram…………. 8( Uma discípula e não uma professora……………. 8( Ajudante de Filipe …………………………………….. 8-‘ A discípula: ensinando e interpretando ………… 8; A grande percepção…………………………………… 8’ A hostilidade de Pedro ………………………………. 8i Jesus e Maria Madalena: intimidade ……………. 8< Algemas da Inconsciência ………………………………. 8’ Novas descobertas, novas questões ……………… 81 IV O Evangelho de Maria ………………………………………… 9 Prefácio……………………………………………………….. 9 Descoberta e publicação …………………………….. 9 Maria Madalena 9 Data…………………………………………….. Origem e disseminação …………………… A identidade de Maria …………………….. íadução ………………………………………….. construção e mensagem……………………… Três maneiras de ler………………………… Gnosticismo………………………………….. Dando espaço para o texto ………………. /“isões de Maria ………………………………… Pedro, André e Levi falam sobre Maria. Maria por ela própria ……………………… O autor sobre Maria……………………….. D Que Maria Tem a Dizer …………………… Sobre a graça e Ser…………………………. Sobre o tesouro……………………………… No caminho para cima ……………………. Conclusão ………………………………………… Maria Madalena e seu Evangelho……… Gnose e Maria Madalena ………………… ‘edro e Maria Madalena …………………….. 3 Fim da Busca………………………………. Maria Madalena: discípula e apóstola Maria Madalena: mulher ………………. VIaisUmaVez, Além do Mito …………… Naquela época e agora …………………. Conclusão ……………………………………… Da penitente para o ser humano …….. afia Selecionada ……………………………… os Textos Bíblicos …………………………… Introdução Maria Madalena devia ter muita coisa para contar. Ela seguiu Jesus de Nazaré, o Cristo da religião cristã, desde o começo de seu trabalho. Foi uma das poucas seguidoras que estiveram presentes na crucificação e enterro de Cristo e também foi a primeira pessoa a proclamar sua ressurreição. Maria Madalena tomou-se conhecida acima de tudo como a personificação da atratividade feminina. Neste livro, eu gostaria de mostrar como esta imagem não se desenvolveu até o século quinto ou sexto e circulou apenas na tradi- ção eclesiástica ocidental. Espero envolver os leitores na busca do que os primeiros quatro séculos nos contam sobre Maria Madalena. Gostaria de agradecer a todos os que ajudaram a escrever este livro. Tais colaborações abrangeram desde as expressões de interesse até os comentários críticos no texto e foram indispensáveis. Agradeço particularmente à Igreja Reformada Alemã de Ouderkerk aan de Amstel, que possibilitou a elaboração deste livro. Os membros da igreja me apoiaram como sua ministra e então pude dedicar três meses à pesquisa sobre Maria Madalena. Agradeço muito a este apoio. O texto a seguir é significativo para qualquer pessoa que se interesse por Maria Madalena, qualquer que seja a razão. Foi escrito em função do desejo de aprender mais sobre o significado de Jesus de um novo modo, por intermédio de Maria Madalena. Esther A. de Bóer Esther de Bóer Junho 1993. Em Vézelay, na França, pela terceira vez, no locai de peregrinação medieval à basílica de Maria Madalena. No vale, olhe para cima e veja a cidade na montanha alta. Suba à basílicc como os peregrinos: cansados, esperançosos. Entre e deixe-se enle-var pela obscuridade do visual impressionista. Olhe para cima. Sinte e aceite convite de Cristo para seguir além da obscuridade pare a luz. A unidade delineada ao longo do percurso surpreende pele efeito de luzes através da nave alta. O Todo sabe que a unidade í bem-vinda, não só por um único caminho. E então, um pouco antes de alcançar a luz, a descida à cripta escura como uma caverna: luzes de velas brilham sobre o que devi ter sido Maria Madalena. Silêncio de morte. “Deus, deixe-me ficai aqui.” Mas se prepare. Ascenda novamente. Brilhando, adian tando-se à luz, antes do altar, encontre os dizeres: Abençoada seja Maria Madalena, que foi redimida dos 7 demónios. Rogue a Jesus por nós, para que ele nos liberte do que nos mantém presos, longe dele, a fonte do amor e perdão. Você, que escolheu a melhor parte, ouvindo as palavras de Deus, rogue a Jesus por nós, pois seu mundo pode nos libertar das mentiras e escuridão. Você, que escolheu ser a primeira testemunha de Jesus Cristo livre das algemas da morte, rogue a Jesus por nós para que possamos viver em abundância na irmandade do Pai, Filho e Espírito Santo. Além do Mito Alguns anos atrás, quando estava estudando teologia na Univer-idade Livre de Amsterdã, descobri uma coisa muito importante. Naquela época, eu tentava me reconciliar com a tradição de fé na qual os -lomes masculinos dominavam: Abraão, Moisés, David, Isaías, Pedro, ‘aulo. Augusto, Anselmo, Lutero, Calvino, onde não parecia haver muitas mulheres. O grupo feminino da nossa faculdade reivindicava yae nosso estudo apresentasse um outro lado da imagem e, conse-yientemente, preparou uma lista de leitura extra para cada exame; mas, ao final, não havia mais que busca minuciosa acerca do assunto. Ou existiria mais? A bibliografia que estudava para prestar um exame no verão de 1982 continha o livro de Elaine Pageis Os Evangelhos Gnósticos. Neste livro, ela descrevia a origem da tradição dos primórdios da igreja baseada em escritos que foram encontrados em 1945, perto de Nag Hammadi, no Egito. Na introdução, ela dizia: “Em 1896, um egiptólogo alemão…comprou no Cairo um manuscrito que, para sua surpresa, continha o Evangelho de Maria (Madalena).” (1) Evangelho de Maria? Eu sabia que na Bíblia os evangelhos eram atribuídos a Mateus, Marcos, Lucas e João. Eu também sabia que havia outros evangelhos fora da Bíblia, entretanto os mesmos eram atribuídos a Pedro, Tomás, Tiago,Filipe e Judas. Fiquei tão maravilhada que este fato começou a determinar a direção de meus estudos. Eu queria ler o evangelho de Maria na linguagem original. Queria poder entendê-lo e ordená-lo. Inicialmente, estava apenas interessada no Evangelho de Maria mas, depois, fiquei interessada na figura de Maria Madalena. Demonstrei que não era somente eu que estava consciente da existência do evangelho. Os Evangelhos Gnósticos foram traduzidos para o holandês em 1980 e se tomaram um sucesso. Surgiram artigos e estudos de fim de semana sobre Esther de Bóer eles. Era um marco tanto para mim como para as outras pessoas. At’ então, Maria Madalena não significava muito para mim. Ela fazia su parte na semana santa, mas isso era tudo. Entretanto, com o passai dos séculos, a imagem dela parecia ter adquirido importância e inspi-rou muitas pessoas ao arrependimento, à conversão, ao embarque nc caminho místico que leva a Deus, a escrever poesias, peças e novelas e a pintar quadros relativos a questões sociais. Nos estudos de fim de semana, descobrimos que, no decorrer da história, Maria Madalene foi muito popular; mas que o interesse estava mais voltado para sue sexualidade que para seu testemunho. Todavia, Maria Madalena deve ter tido muito o que contar. Eli seguiu Jesus desde o começo do seu trabalho. E estava entre a; poucas pessoas que participaram da crucificação e do enterro d( Cristo. Ela foi a primeira a proclamar sua ressurreição. Entretanto, Maria Madalena passou para a história, acima d( tudo, como uma mulher atraente e pecadora que, graças a Jesus, s’ arrependeu e foi convertida. Este retrato levou muitas pessoas escrever sobre ela: Victor Saxer, Marjorie Malvem e Susan Haskin; realizaram um trabalho pioneiro neste sentido/2’ Entretanto, até aqui muito pouca atenção foi dada às primeiras tradições sobre Mari; Madalena; mas, como se trata de testemunho de grande importância o registro cuidadoso do que chegou a ser descoberto sobre ela n; antiguidade é valioso. Este é meu objetivo neste livro.01 É uma pés quisa sobre quem realmente foi Maria Madalena. É uma pesquis; sobre sua história. Os evangelhos do Novo Testamento são as fontes primária; que mencionam Maria Madalena. Ela também aparece nos escrito; dos padres da igreja. Durante os últimos duzentos anos, outros texto; reveladores sobre Maria Madalena foram descobertos, embora nã( tenham sido ainda incorporados à tradição. O Evangelho de Maria < um deles. Antes de começarmos a pesquisa na antiguidade, precisamo; levar em conta a imagem de Maria Madalena que apareceu no de correr dos tempos, principalmente a imagem mais comum da Idad< Média: a imagem da irmã de Marta e Lázaro, a mulher decaída, ; pecadora que, por intermédio de Jesus, pôde se levantar novamenti e se penitenciar por toda a vida. Esta imagem continua forte ati hoje. É importante que nos libertemos desta imagem para podermo ler os textos antigos com o menor preconceito possível. Maria Madalena Maria Madalena: Penitente Na Idade Média, Maria Madalena era tida em alta considera- ‘ cão, em tal grau que rivalizava com Maria, a mãe de Jesus, em popularidade.14’ Depois de Jerusalém, Roma e Santiago de Compostela, a cidade de Vézelay, na França, era o local de peregrinação mais importante da cristandade. A faasfïïca cfe Vézelay, uma esplêndida, constru- ção romântica, guarda as relíquias de Maria Madalena que atraiu i peregrinos por séculos/5’ t Ainda hoje a basílica é um grande chamariz. Nem tanto pelas relíquias, mas, acima de tudo, pelo surpreendente jogo de luzes e sombras. O visual da igreja é sombrio. A iluminação difunde-se ao redor do altar. Além disso, no soistício, em junho, a luz incide de determinada maneira causando a impressão de que se está caminhando da sombra para luz, quase como os passos do Cristo Ressuscitado. Então, no corredor, as luzes concentram-se em percursos irregulares, como se fossem muitas pedras por meio das quais é possível cruzar o rio da morte. Atualmente há uma estátua de Maria Madalena na igreja, que não existia na Idade Média. A imagem deveria estar no alto da entrada principal da basílica. As estátuas não são necessárias no pré- dio. O jogo de luzes envolve os peregrinos na história de Maria ‘Madalena, uma história obscura que, por causa de Jesus, pôde tomar-se uma história de luzes, a história de Maria Madalena, a penitente. :? Antes da conversão, Maria Madalena, a irmã de Marta e Lázaro, levava uma vida distante da piedade, negligenciando a moralidade. Ji-dito que ela era prostituta. Os sete pecados capitais a dominavam: içigulho, avareza, gula, luxúria, preguiça, inveja e a raiva. Como aconteceu? De acordo com algumas estórias, ela foi corrompida pela sua ’”ópria riqueza e beleza. De acordo com outras, ela se casara em uiaã. Seu marido recém-casado, João, ficou tão impressionado com milagre da transformação da água em vinho que abandonou a es- >sa para seguir Jesus. Amargamente desapontada, Maria deixou a dade e foi para Jerusalém, onde foi de mal a pior. , Mas Jesus transformou este quadro. Finalmente ela desistiu da ida mundana, ajoelhou-se em público diante de Jesus, lavou-lhe os és com lágrimas de arrependimento e os ungiu com óleo perfumado. 16 Esther de Bóer A partir daquele momento, ela o apoiou em tudo que foi possível, tornando-se uma seguidora devotada e ainda fornecendo suporte fi-nanceiro para Jesus e seus discípulos. Quando os doze apóstolos abandonaram Jesus, ela permaneceu fiel a ele. Seu desvelo foi recompensado na manhã de Páscoa. Ela teve a honra de ser a primeira testemunha da ressurreição. Ela ainda conseguiu escapar da posterior perseguição aos cristãos e foi para a França, levando os evangelhos. Lá, ela passou os últimos anos de sua vida em uma caverna, dedicando-se inteiramente à devoção, sendo alimentada pêlos anjos que finalmente a acompanharam ao céu. Significado Maria Madalena foi representada em uma pintura italiana do décimo terceiro século como uma reclusa: sua nudez coberta por cabelos longos, oito camafeus ao fundo relatando a história de sua vida. No primeiro plano, Maria Madalena eleva uma mão em sinal de bênção. Com a outra, ela exibe um texto aberto no qual está escrito: Não se desespere, você que é propenso ao pecado, mas, por meu exemplo, restabeleça sua relação com Deus.^ Este é o significado da Santa Maria Madalena. Ela personifica o chamado à conversão. A história de sua vida mostra aos crentes que há graças na união com Deus, mesmo para os que estavam afastados dele. Arrependimento e desvelo podem trazer os fiéis das profundezas às alturas. Além da penitência e desvelo, a devoção de Maria Madalena também se tomou um modelo histórico. Desde sua conversão é dito que ela bebeu as palavras de Jesus sem dar muita importância às necessidades diárias. Deste modo, ela escolheu a melhor parte, como enfatizou Jesus, comparando-a com a irmã, que chamou sua atenção para as tarefas domésticas femininas. “A que não lhe será tirada.” Mesmo quando Jesus foi crucificado e enterrado, ela não o deixou partir. Seu posterior jejum e orações completam o quadro: Maria Madalena dedicou-se à uma vida de contemplação e ascetismo e simboliza o modo de tomar-se um com Cristo. Ela é a noiva ao lado do noivo. Maria Madalena 17 Maria Madalena significou muito para Margery Kempe no sé- ;ulo quinze e para Catarina de Sena no século quatorze. A primeira i conhecida como mística: as descrições de suas visões foram pre-ervadas. A última, respeitada por seu estilo de vida ascético, pôde ;star ao lado de reis e papas com sua sabedoria e devoção. Ambas mderam defender suas escolhas “não- femininas” tendo Maria Madalena como modelo. Elas buscavam a mesma devoção e dedicação completa ao Senhor.(7) O festival de Santa Maria Madalena ocorre em 22 de julho, que ‘; o dia apontado no calendário sacro como data da comemoração. Qualquer um que abrir o Missal Romano antes do Segundo Concílio Vaticano e pesquisar a missa dedicada a ela verá inicialmente, ao ado de seu nome, a palavra “penitente”. Esta designação,revelada ia leitura do evangelho do dia, é extraída do Evangelho de Lucas, no uai a mulher, geralmente conhecida como pecadora, lavou os pés e Jesus com suas lágrimas, beijou-os e ungiu-os com preciosa mirra ;Lucas 7,36-50). Este gesto é interpretado como arrependimento de >eus muitos pecados. A outra leitura está no Cântico dos Cânticos (3,2-5; 8,6-7), que iescreve a busca do verdadeiro amado: Vou levantar-me e percorrer a cidade, as ruas e as pra- ças em busca daquele que meu coração ama (3,2). A mulher empreende a busca no meio da noite. Apesar dos guardas da cidade a terem desencorajado, ela persistia. Ao encontrá- lo, ela disse: Põe como um selo sobre o teu coração, como um selo sobre os teus braços; (8,6). Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, ….não despertei nem perturbeis o amor, antes que ele o queira (3,5). 18 Esther de Bóer Portanto, após penitência e arrependimento, o verdadeiro desvelo afetuoso de Maria Madalena é enfatizado. Na prece silêncios; do sacerdote no ofertório, os dois aparecem juntos e a penitênci; dela é chamada de “seu serviço generoso de amor”. O texto dos Salmos nos cânticos de entrada da missa chama os abençoados que são inocentes de acordo com a lei do Senhor (119,1). Os textos dos Salmos no ofertório e a comunhão celebram a justiça do rei e o esplendor da rainha, com quem Maria Madalena é identificada (45,10; 119,121- 2,128). E os Salmos, antes do Evangelho, dizem: Amais a justiça e detestais o mal, pelo que o Senhor, vosso Deus, vos ungiu com óleo de alegria (45,8). Por “vosso Deus”, o Missal significa Jesus. A unção pela mulher que era pecadora, Maria Madalena, é, deste modo, interpretada como um ato do próprio Deus. Concluindo a missa, segue-se a prece: Possamos… pela intercessão da abençoada Maria Madalena, libertar-nos de todos os males m Abençoada Maria Madalena. Em seu festival ela é celebrada como uma penitente. É a notória pecadora que aprende a conhecer c verdadeiro amor, uma rainha esplêndida ao lado do rei da justiça Além de Maria, mãe de Jesus, Madalena é a única mulher santa que tem um credo em sua própria missa, pois sua missão na manhã de Páscoa tem caráter apostólico. Ela é vista como uma apóstola ante; dos apóstolos.(9) Maria Madalena foi o tema favorito dos artistas durante sécu los. Sua história a transformou em uma figura colorida e dramática Erotismo, tragédia e poder estão juntos nesta única pessoa, tão pertc de Cristo. Na arte pictórica, Maria Madalena pode ser conhecida normal mente pelo jarro de unguento que carrega. Normalmente, uma Bi blia, um crânio e um crucifixo podem ser encontrados próximos ; Maria Madalena 19 ;la. Algumas vezes, alguém a representa como uma jovem, uma garota .asciva olhando para o céu, e algumas vezes como uma mulher defi- “lhando e desolada. As roupas podem ser ricas ou ela pode ser representada somente com os longos cabelos cobrindo o corpo. Os temas populares de sua vida são sua existência pecaminosa, a unção dos pés lê Jesus, sua presença na crucificação, o encontro com o Senhor ressuscitado, sua posterior existência monástica e as boas-vindas no ;éu. Os mesmos temas aparecem na literatura de maneira mais completa. Até mesmo os escritores apaixonados por observar mais profundamente o relacionamento entre Jesus e Maria Madalena, como, por exemplo, Jacobus de Voragine (décimo terceiro século) escreve sm sua coleção A lenda Dourada (The Golden Legend): Ele extraiu sete espíritos demoníacos dela e a fez bri-lhar através de seu amor. Ele a tornou sua amiga especial e a teve como sua anfitriã e administradora quando estavam viajando… Se ele a via chorando, chorava também. Por amor a ela, levantou seu irmão Lázaro da morte e curou a enfermidade do sangue da qual Marta, sua irmã, sofreu por sete anos/‘01 Dois exemplos contemporâneos são os livros de Luise Rinser e Nikos Kazantzakis. O último retrata Maria Madalena como ameaça sexual ao chamado de Jesus e o primeiro a descreve como uma mulher decidida na busca da verdade na vida que encontrou um guia em Jesus.(11) Trabalho social Assim sendo, Maria Madalena deixou traços na instrução religiosa, misticismo, liturgia, arte pictórica e literatura. Mas, isto não é tudo. Ela também pode ser encontrada na vida social. Na Idade Média ela foi a santa padroeira dos vinhedos, jardineiros, farmacêuticos, fabricantes de luvas, perfumes, chapéus, tecelões, marinheiros e depois também dos ciganos. Acima de tudo, a história da vida da santa é a força motivadora para proteção de prostitutas e todos aqueles que, devido à sua posição social inferior, podem sucumbir à prostituição. Esther de Bóer Este cuidado já foi praticado na Idade Média pela ordem das Penitentes de Santa Maria Madalena. A ordem foi formada visando a realizar o trabalho de conversão de mulheres e jovens que correrr perigos morais. Os conventos desta ordem dedicam-se ao ensino. Durante os séculos dezoito e dezenove surgiram por toda í Europa casas, conventos e instituições com o nome de Maria Madalena que foram importantes para o aperfeiçoamento de muitas mulheres que não tinham outra oportunidade de viver a não ser explo-rando a prostituição. Um exemplo moderno é o Centro Maria Madalena em Seul, na Coreia do Sul, que está ajudando milhares de jovens que trabalham na indústria do turismo sexual a construir uma nova existência.0^ Atualmente Maria Madalena é cada vez mais vista como c mulher amiga de Jesus. É importante notar que a “Fundação Philothea” para mulheres que têm ou tiveram relacionamento com padres mudou seu nome recentemente para “Fundação Magdala”03’. “Philothea” significï amigo de Deus. A imagem fragmentada Maria Madalena, a mulher caída que, com a ajuda de Jesus pode levantar-se novamente, a irmã de Marta e Lázaro, a pecador; que ungiu os pés de Jesus. Esta é a imagem dominante na eclesiás tica ocidental. Entretanto, não é mais que uma imagem. É a imagem que o; indivíduos puderam desafiar no curso da história e que, não obstante mantém-se. Somente neste século esta imagem começou a se dês fazer. Quando ocorreu a revisão dos santos durante o Segundo Con cílio do Vaticano (1969), foi dito sobre Maria Madalena que o di, dedicado a ela celebrava somente a pessoa para quem Cristo apare céu após a ressurreição, sem relacioná- la à Santa Marta ou à mulhe que era uma pecadora e cujos pecados foram perdoados pelo Se nhor.c^ Ao olhar para os fragmentos do que foi um dia Maria Madale na, a penitente, surgem as questões: Maria Madalena: não é a pecadora convertida? Não é a Maria que esteve atenta às palavras de Jesus em con traste com sua ocupada irmã Marta? Maria Madalena Como surgiu esta imagem corrompida? E, neste caso, quem foi Maria Madalena? O Retrato Desconsiderado No curso da história, a imagem de Maria Madalena é antiga e “reqüentemente criticada pelas pessoas engajadas no estudo dos de-alhes bíblicos. Em 1517, foi a vez de Jacques Lefèvre d’Étaples. daquela época, este humanista protestante publicou o livro De Mu-da Magdalena et triduo Christi disceptatione (Sobre Maria Ma-ialena e a partida de Cristo após três dias), em resposta às [uestões sobre a primeira discípula. Neste livro, ele defende a se- çuinte posição: a mulher que era a pecadora, a irmã de Marta e ^aria Madalena eram três figuras bíblicas distintas. Em 1521 ele foi —ondenado. A faculdade teológica de Paris sentenciou que os ensi-lamentos de Lefèvre eram considerados perigosos051. No entanto, ssta tese encontrou eco. Em 1773, o beneditino exegeta e historiador Dom Augustine 1’almet escreveu sua Dissertação sobre as Três Marias (Disser-ation on the Three Marys). No mesmo século, surgiu a necessi-lade de uma celebração litúrgica para a Maria Madalena bíblica. ‘retendia-se reservar o festival de 22 de julho exclusivamente para alaria Madalena e venerar Maria, a irmã de Marta, em outra data. 2sta reforma não foi aprovada oficialmente.061 Em 1935, Peter Ketter reposicionou a Maria Madalena bíblica. Sm seu livro A Questão de Madalena (The Magdalene Question), ;le mostrou que as fantasiasformadas sobre Maria Madalena eram njustas com relação aos detalhes bíblicos existentes sobre ela.07’ Atualmente esta visão é compartilhada por muitas pessoas e, lesde o Segundo Concílio do Vaticano, chegou até a influenciar o ;alendário oficial de santos. Discussão Tudo isto não quer dizer que a imagem de Maria Madalena que iparece não está apoiada em detalhes bíblicos. A discussão desenca-leada refere-se à questão sobre quais seriam estes detalhes bíblicos. Esther de Bóer O nome de Maria aparece em diferentes ocasiões no nov( Testamento e é normalmente discriminado de maneira precisa par. determinar a pessoa à qual se refere: por exemplo, como Maria, ; mãe de Tiago e José, Maria de Cléofas, Maria irmã de Marta, Mari; de Magdala. Apesar destas indicações mais precisas, nem sempre i fácil distinguir entre as diferentes Marias. O que pensamos de Ma ria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, Maria de José e Maria de Tiagc (Marcos 15,20,47; 16,1)? Trata-se de uma e da mesma pessoa? Maria de Magdala é algumas vezes nomeada juntamente con várias outras Marias e, por esta razão, não pode ser identificad; como sendo uma delas. Entretanto, seu nome nunca é mencionado nc mesmo instante que o da irmã de Marta. Isto significa que, a priori, não pode ser excluída a possibilidade de que Maria de Magdala e Maria, irmã de Marta, sejam uma e a mesma pessoa. É preciso ter cuidado. Além do mais, em muitas histórias do Novo Testamento, nas quais as mulheres desempenham papéis principais, os nomes das mesmas não são citados. Conseqüentemente, qualquer pessoa era busca da identidade de uma determinada mulher pode, possivelmente, referir-se a estas histórias. A história de Maria Madalena, a penitente, é baseada na combinação dos seguintes detalhes bíblicos: O evangelho de São João descreve Maria, a irmã de Marta com as seguintes palavras: Maria era quem ungira o Senhor com o óleo perfumado e lhe enxugara os pés com os seus cabelos (João 11,2).1‘8 Em Lucas, é a “mulher pecadora da cidade” que enxugou os pés de Jesus com os cabelos e ungiu os mesmos com perfume (Lucas 7,37). Portanto, a irmã de Marta é identificada com a mulher que erz a pecadora. Logo após, Lucas diz: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demónios (Lucas 8,2). Ele informa que ela e outras mulheres que foram curadas an-davam pelas cidades e aldeias com Jesus e seus discípulos. (Lucas 8,1-3). Os sete espíritos demoníacos são interpretados como pecados de uma mulher que era uma pecadora na história anterior. Por-Maria Madalena anto, Maria Madalena pode ser a mulher que era uma pecadora e [ue ungiu Jesus e, ao mesmo tempo, a irmã de Marta que o ungiu. A mulher citada por Lucas, uma pecadora “que tem demons-trado muito amor”(Lucas 7,47) é admitida como sendo a samaritana citada em João 4, que teve muitos maridos e que proclamou Jesus como o Messias, e também com a mulher adúltera em João 8,1-11, salva de ser apedrejada por Jesus. “Vai e não tornes a pecar”, disse-lhe Jesus. Seu novo estilo de vida é então descrito novamente em Lucas 10, 38-42, fala de Maria, irmã de Marta, “que se assentou aos pés do Senhor para ouvi-lo falar”. De acordo com Jesus, agindo deste modo, “Maria escolheu a boa parte, a que lhe não será tirada.” João declara sobre o amor de Jesus por Maria: “Ora, Jesus amava Marta, Maria, sua irmã, e Lázaro” (João 11,5). O enigma da questão sempre foi se estes dados bíblicos são todos relacionados com uma pessoa. Estes são os três vínculos frágeis da cadeia de dados bíblicos e aplicabilidade à Maria Madalena. Em primeiro lugar, o uso de textos de um Evangelho para responder a questões levantadas por outro. Em segundo lugar, a interpretação dos sete espíritos demoníacos como pecados e, em terceiro lugar, a identificação de Maria, irmã de Marta, que vive em Betânia, próximo à Jerusalém, com a Maria que recebeu o nome de Madalena devido ao local chamado Magdala, perto do Mar da Galiléia.09’ Oriente e Ocidente Os exegetas modernos não deixam dúvidas de que as exegeses bíblicas, as quais conduziram a história de Maria Madalena, são ilegí- timas. Os que argumentam pela imagem clássica formada ao redor de Maria Madalena devem reconhecer que o Novo Testamento não indica claramente a identificação de Maria Madalena com a irmã de Marta e com a mulher que era uma pecadora, que ungiu os pés de Jesus. Entretanto, eles diriam, a tradição antiga faz essa identificação. Em 1922, Uirich Holzmeister publicou uma investigação inte-ressante. Ele demonstrou que até o quinto século não havia tradição específica sobre a identificação. Os teólogos do cristianismo primiti-Esther de Bóer vo ou não se importavam com o problema ou partiam das vária? possibilidades: três mulheres, duas mulheres ou uma mulher.(20) Do quinto século em diante, ocorreu uma alteração na tradição eclesiástica. Na tradição oriental, Maria Madalena continuou sendc a figura que era na Bíblia: a testemunha da ressurreição. Ela não ( celebrada como uma “penitente”, mas como a “portadora da unção’ (não a unção para ungir os pés ou a cabeça, mas a unção que significa unção do corpo morto de Jesus) e “como um apóstolo”120. Diversos padres da tradição oriental a descrevem claramente come uma discípula e apóstola, embora ela seja mulher. Assim, Gregórk de Antioch (sexto século), em um de seus sermões, fez com qu Cristo dissesse para as mulheres na tumba: Proclame aos meus discípulos os mistérios que vocês viram. Tornem-se as primeiras professoras dos professores. Pedro, que me negou, precisa aprender que eu posso também escolher mulheres como apóstolas.‘221 Foi a tradição ocidental que identificou definitivamente Maria Madalena com a mulher que era a pecadora em Lucas, a irmã de Marta, e a tomou a “penitente”. O nome que é mencionado é o de Gregório, o Magno (séculc sexto), o papa conhecido, entre outras coisas, pela forma de cante que leva seu nome, gregoriano. Ele era um orador popular. Os temas importantes que ele mais abordava eram o Juízo Final e o chamado s penitência. Seus sermões sobre Maria Madalena como uma penitente por excelência tomaram-se clássicos/231 A caricatura deliberada Qualquer um que ame a Maria Madalena bíblica e a com pare com a Maria Madalena cristã deve ficar muito irritado E, para começar, eu preciso desabafar esta irritação aqui Assim escreveu Elisabeth Moltrnann-Wendel em 1980 no co meço de seu capítulo sobre Maria Madalena em As Mulheres pró ximas a Jesus (The Women around Jesus).^ A paixão express; nessas palavras pode ser facilmente observada. Na Bíblia, Maria Madalena é a primeira testemunha da ressur reição. Entretanto, o que caracteriza a Maria Madalena bíblica tor Maria Madalena ou-se maior e oculto do ponto de vista da identificação ocidental da laria de Magdala com a mulher, citada por Lucas, como sendo uma ecadora e a irmã de Marta. Na formação da imagem ocidental, a suposta vida de pecadora ^e Maria surge para ser enfatizada: sua conversão, desvelo e sua edicação. Entretanto, estas facetas, quase sem exceção, são deri- /adas da mulher citada por Lucas, que era uma pecadora e irmã de ^larta. O fato de Maria Madalena ter sido a primeira testemunha da essurreição foi eclipsado por esta razão. O fato de Cristo ter aparecido para Maria Madalena é inter-iretado como uma recompensa pela fidelidade dela e, como ela exe-utou a função de apóstola antes dos últimos apóstolos, é um sinal da preciação que Jesus tinha por ela. A ressurreição tem papel incidental ia história de Maria Madalena. Sua conversão e devoção permane- ;em no centro. A descrição enfatiza a sexualidade dela. Antes do incontro com Jesus, ela era uma imoral. Depois do encontro, ela voltou as costas para aquele tipo de vida. O fato de que ela, como seguidora de Jesus e testemunha da ressurreição, também tinha uma história, ficou no segundo plano. A ênfase na sexualidade suprimiu seu testemunho. Susan Haskins, que coletou muito material sobre Maria Madalena, e o publicou em 1993, escreveu: E então a transformação de Maria Madalena estava completa. Dafigura do evangelho com uma função ativa como arauto da Nova Vida a Apóstola antes dos Apóstolos ela tornou-se a prostituta redimida e o modelo de arrependimento da cristandade: uma figura controlável, uma arma efetiva e um instrumento de propaganda contra as demais do mesmo sexo.125> De acordo com Haskins, com Maria Madalena, a penitente, a ‘greja ocidental da Idade Média disputou não somente a sexualidade leia, como também a sexualidade de todas as mulheres. Nela, a igreja ascética rejeitou tudo que tinha a ver com a sexualidade. As mulheres eram a personificação desta ideia. Haskins chegou à conclusão de que a identificação de Maria Madalena com a mulher que tara a pecadora em Lucas e a irmã de Marta é um engano deliberado das exegeses bíblicas. A imagem de Maria Madalena foi delibera-Esther de Bóer damente adaptada de forma que, ao invés de ser a mulher que proclamou o evangelho da Páscoa, ela se tornou a mulher que serviu como modelo funcional para uma igreja misógina. Contra-Refonna A ira de Moltrnann-Wendel é compreensível e o argumento de Haskins é atraente. Entretanto, como as exegeses modernas nã( vêem qualquer razão para identificar as três mulheres, não podemo; assumir que as exegeses ocidentais medievais foram, deliberadamente, induzidas a erro. Haskins não menciona nenhum escrito medieval que suporte sua reivindicação. Assim sendo, há certos ser mões de Gregório, o Grande, nos quais ele enfatiza Maria Madalen; como penitente, mas não há nenhuma bula papal na qual ele aplique este fato à função de todas as mulheres da igreja. Observando-se a tradição eclesiástica oriental, também não si nota nenhuma sugestão direta à deliberada caricatura ocidental di Maria Madalena, dirigida às mulheres. Também nas igrejas da tradi- ção oriental, a posição das mulheres é inexpressiva ou inativa. O fat( de que o oriente associa Maria Madalena, acima de tudo, com a ressurreição e não, como no ocidente, com a sexualidade e penitência, evidentemente não teve nenhuma influência sobre as ideias aqui/26’ Está claro que atualmente a Maria Madalena bíblica está sendo colocada em evidência. Na Alemanha há uma organização feminina chamada “Grupo de Maria de Magdala” que está pressionando para obtenção de direitos iguais para as mulheres na igreja/27’ Mas afinal, será que Maria foi deliberadamente banida para o segunde plano na Idade Média devido à sua posição de mulher? É significativo relembrar o momento preciso no qual Maria Madalena tomou-se a penitente? Antes do Concílio de Trento (1545-1563) existiam ainda calendários de santos que não conferiam atributos a Maria Madalena 01; que a celebravam como a primeira testemunha da ressurreição d( Senhor. O dia dedicado a ela por praticantes locais variava de un-lugar para outro/28’ Entretanto, com a autoridade do Concílio, forarr produzidos livros litúrgicos que ligavam toda a Igreja Católica Romana. Deste modo, o Missal Romano apareceu em 1570. Naquele primeiro missal compulsório, foi dado à Maria Madalena o epíteto “pe-Maria Madalena litente”. Neste caso, o missal não estava apenas levando em conta a magem de Maria Madalena que foi disseminada por Gregório, o rrande, e outros. Esta imagem também surgiu da igreja da Contra- .eforma. Completamente contra a Reforma com sua doutrina da craca, a Contra- Reforma enfatizou a doutrina de penitência e méri-os. Aqui, Santa Maria Madalena exerceu um importante papel como i penitente e como a pessoa que foi favorecida “por excelência”/291 Popularidade O Segundo Concílio do Vaticano (1962-1965) comissionou uma evisão do Missal Romano que surgiu em 1970. A leitura do Evangelho do dia do festival de Maria Madalena, na edição revisada do Missal, é João 20,1-18. O encontro de Maria Madalena com o Se- .lhor Ressuscitado permanece no centro. A palavra “penitente” não é mais usada. A explicação adicional dada agora pelo Missal é que Maria Madalena foi uma das mulheres que seguiram Jesus em suas viagens. Ela estava presente quando ele morreu e foi a primeira pessoa a vê-lo após a ressurreição (Marcos 16,9). A veneração a ela espalhou-se pela igreja ocidental sobretudo no século vinte.(30) Portanto pode-se dizer que Maria Madalena, oficialmente, deixou de ser vista como penitente há precisamente 400 anos. Quatrocentos anos é bastante tempo, dado que em cada século inúmeras vozes se levantaram publicamente contra a imagem de Maria Madalena, a penitente. Terá sido o poder da igreja que causou isto? Ou seria esta simplesmente a razão? Marjorie Malvem.que estudou a transformação de Maria Madalena acima de tudo em peças, novelas e filmes, acha que, enquanto podemos investigar os possíveis propósitos por trás da imagem de Maria Madalena, a penitente, outra questão é mais importante: Maria Madalena era popular em seu papel de pecadora convertida. Como pôde Maria Madalena tomar-se tão popular assim? Como podemos explicar o fato de que a pecadora convertida foi, por tanto tempo, estabelecida contra a figura bíblica e ainda o é? Este não pode ser oficialmente o caso no Missal Romano, mas certamente ainda o é na devoção popular. Malvem chega à conclusão de que a metamorfose de Maria Madalena não é caricatura e sim mítica. Um mito aparece sempre que se toma impossível ou perigoso falar publicamente sobre certas Esther de Bóer ideias religiosas e sociais, ainda que exista a necessidade de cultivá-la e preservá-las. A imagem de Maria Madalena contém reminiscência das deusas do amor, sabedoria e fertilidade. Sua transformação a partir da Maria Madalena bíblica vai ao encontro do antigo desejo de feminino em contrapartida à deidade masculina/30 Está claro que a imagem ocidental formada ao redor de Mariï Madalena levanta muitas questões com as quais devemos lidar e que eu espero que sejam discutidas profundamente em outro lugar. Entretanto, não é isto que estaremos abordando neste livro. Estamo em busca de quem terá sido a própria Maria Madalena, na busca di que ela poderia nos contar. Estaremos caminhando na antiguidade. Tentaremos deixar par trás a imagem de Maria Madalena que temos ou que possamos ter i todos os sentimentos que acompanham esta imagem. Depois, pode remos começar a busca, pêlos textos da antiguidade, com a meno quantidade de pressupostos possível. Começaremos com os escritos antigos que mencionam Mari Madalena: os quatro Evangelhos bíblicos. Observaremos o que ele nos contam no próximo capítulo. Refletiremos sobre o nome de Maria, o discipulado de mulheres, as circunstâncias dos eventos da crucificação e na tumba e depois permitiremos que cada Evangelho apresente sua versão separadamente. No capítulo III, continuaremos a busca em textos mais recen tes. Primeiro, observaremos os textos concernentes à tradição ecle siástica e depois o que foi dito pêlos teólogos do cristianismo primiti vo. Mas, podemos ainda consultar outras fontes. Durante os último duzentos anos, foram encontrados no deserto do Egito textos antigo que não estão preservados pela tradição eclesiástica. Tais textos fo ram deliberadamente rejeitados ou lançados ao esquecimento de um; maneira ou outra. Como esses textos foram descobertos, estamo na feliz posição de termos a oportunidade de estudar o que as areia, do deserto protegeram do esquecimento. Maria Madalena 29 Vamos deixar o texto mais notável, o Evangelho de Maria, para o capítulo IV. A tradução apresentada naquele capítulo contém o texto que nós conhecemos. Levaremos em consideração o que diferentes estudiosos disseram sobre o Evangelho e investigaremos o que pode ser importante para nós. No capítulo V, fecharemos o círculo da questão. Observaremos as partes compostas de peças recortadas encontradas e tenta-remos reuni-las. Desta forma, a nova imagem de Maria Madalena virá à tona: além do mito. As Fontes Primárias sobre Maria Madalena V( você aparecer em milhares de coisas e, em milhares de esquinas, vi sua sombra desaparecer. Por milhares de noites, ouvi sua voz., mas agora, nado sozinho entre as ondas da vida turbulenta, entre as rochas afiadas, e sintotoda confiança desabando sei que estou longe de sua Jerusalém. (Theo van BaarenV” \s fontes primárias informam sobre um período particular da ,e Maria Madalena. Relatam sua presença durante a crucifica-i seu mestre e que ela o seguiu desde que ele começou sua ade pública. Informam que ela era uma das poucas testemu- le seu enterro e que, no terceiro dia, encontrou a tumba vazia e sbeu a revelação. Sm resumo, é isto que a Bíblia nos traz sobre ela. 3s Evangelhos do Novo Testamento são as fontes primárias de Ita sobre Maria Madalena. Estes livros datam da segunda me-o primeiro século. O Evangelho de Marcos é o mais antigo, a surgiram os de Mateus e Lucas e finalmente o de João. Estes Solhos informam sobre Jesus de Nazaré. Com cerca de trinta ele foi para Israel e gerou altas expectativas. Finalmente, ini- ;e a salvação divina das pessoas muito atormentadas. O pró- ïsus poderia ser o salvador há tanto esperado. Entretanto, após is anos ele foi considerado culpado de blasfémia pelas autori-Esther de Bóer dades judaicas e pregado na cruz pelas forças romanas como “rei dos judeus”. É dito que Jesus nasceu no ano 6 antes da era cristã e que morreu no ano 30 da era cristã. A palavra “evangelho” significa “boa nova”. Os quatro evangelhos destinam-se a convencer os leitores de que Jesus era de fato o salvador prometido: em hebreu, o Messias, em grego, o Cristo. A crucificação de Jesus não colocou um ponto final na questão, ac contrário, apenas a confirmou. Ele tinha de morrer. Isto foi prognos-ticado. Os Evangelhos terminam com avaliações dos eventos após a morte de Jesus. A tumba parecia vazia e alguns seguidores contaram que o viram e que falaram com ele. Nestas ocasiões, ele lhes deu ordens, bem como a autoridade de prosseguir seguindo seus passos. Este era o motivo e objetivo dos evangelistas: queriam deixai claro como seriam estes passos. Essas são as coisas importantes que devemos observar no co-meço de nossa pesquisa sobre Maria Madalena. As fontes primária? que a mencionam não se referem a ela, e sim à Jesus. Abordarr eventos ocorridos durante a vida e após a morte dele, os quais destinavam-se a convencer os leitores que, com Jesus, iniciava-se urr novo tempo. Outra declaração importante é que os quatro evangelistas contam sobre Jesus cada um de seu próprio modo. Os quatro Evangelhos trazem histórias transmitidas por meio da palavra oral e escrita São histórias sobre paixão e ressurreição, cura, lei, últimos eventos e parábolas que Jesus contou. Os evangelistas descreveram essas co-leções de histórias nos Evangelhos e as agruparam, formando composições próprias. A pessoa que ler os Evangelhos, um após o outro, se impressionará com as similaridades existentes entre Mateus, Marcos e Lucas, Os estudiosos acham que Mateus e Lucas são dependentes do material que foi usado como base para Marcos e que ambos conhecem outra fonte. A comparação de Mateus e Lucas com Marcos e de Mateus com Lucas também pode auxiliar na apresentação de características distintas de cada um dos três evangelistas. O Evangelho de João destaca-se, desde a primeira leitura, pelo estilo próprio e padrãc de pensamento. Cada um dos evangelistas não conta apenas sua própria histó- ria sobre Jesus. Com relação à Maria Madalena, cada um apresenta sua própria imagem. Maria Madalena 33 Os evangelistas concordam em três aspectos: todos a chamam lê Maria Madalena, a apresentam como seguidora de Jesus e desta- ;am o papel principal que ela teve principalmente nos eventos rela- ;ionados à crucificação, enterro e ressurreição. Nas próximas seções investigaremos essas concordâncias e iepois apresentaremos o texto de cada evangelista. Tendo por base ) resultado dessas duas abordagens, observaremos o que os Evan- ;elhos do Novo Testamento podem acrescentar à nossa pesquisa iobre Maria Madalena. Mas, primeiro, vamos fazer uma coisa diferente. Os evangelistas não dizem muito mais do que isto sobre Maria Madalena. Eles apresentam mais informações sobre Pedro, por exem- )lo, do que sobre ela. Saindo não se sabe de onde, ela esteve na mira tos refletores na manhã de Páscoa e depois desapareceu novamen-e, tão rápido quanto tinha aparecido. Qualquer pessoa que pesquise iobre Maria Madalena ficará decepcionado com a luz fraca que as ‘ontes primárias jogam sobre ela. Quem era Maria Madalena antes io encontro com Jesus? Que tipo de vida levava? Quantos anos ela inha? Como ela se converteu? O que aconteceu com ela depois? As ‘ontes primárias nos deixam adivinhar. Assim sendo, nos deparamos com a primeira encruzilhada de nossa pesquisa: a qual conclusão podemos chegar sobre o fato de os evangelistas contarem tão pouco? Pesquisadores como Michael Baigent, Richard Leigh, Henry Lincoln e Margaret Starbird acham que o silêncio que envolve Maria Madalena é deliberado. Eles citam tradições secretas orais nas quais afirma-se que Maria Madalena era esposa de Jesus e estava grávida. Para proteger ela e o bebé das forças de ocupação romana, foi necessário manter silêncio sobre sua existência.”’ Este livro não investiga esses aspectos da questão. Minha pesquisa dedica-se à investigação do que os textos da antiguidade informam e não estarei abordando questões relacionadas a outras tradições.(3) Os textos do Novo Testamento não explicam por qual motivo os quatro evangelistas informam tão pouco sobre Maria Madalena. A resposta mais óbvia parece ser que os evangelistas pensavam não ser importante fornecer qualquer informação adicional sobre ela para a história da crença em Jesus que queriam mostrar. Este assunto será retomado posteriormente. Esther de Bóer Maria, com o Sobrenome “de Magdala” Observando as notas de nascimento e falecimento nos jornais notamos que sempre aparecem os nomes ‘Madalene’ ou ‘Madale na’. Entretanto, os nomes Magda e Madeleine também aparecem ( são derivados. Então, supõe-se que ‘Madalena’ seja o primeiro nome Nada mais distante da verdade. Os quatro Evangelhos do Novo Tes tamento nunca citam Maria Madalena, o nome ao qual estamos acos tumados, e sim Maria de Madalena. O Evangelho de Lucas exprimi de maneira mais enfática, Maria, chamada Madalena (Lucas 8,2) Além disto, a expressão ‘de Madalena’ deixa claro a qual Maria s( está referindo. É a Maria que vem de Magdala. Maria Madalena: o próprio nome invoca o retrato de sua pró cedência. Magdala/Tarichea A cidade de Magdala não é mencionada no Novo Testamento ao menos, não parece estar mencionada no texto do Novo Testa mento. Mas, ele foi elaborado a partir de muitos manuscritos e, en alguns destes, o nome Magdala aparece em uma versão de Marco; (8,10) e uma de Mateus (15,39). Nessas leituras, onde seria Magdal; o texto oficial cita Dalmanuta e Magadã, respectivamente. Estes sã( dois nomes de lugares que os estudiosos não puderam identifica com clareza. Se tanto Marcos como Mateus estavam se referindo à Magdala, este é o lugar que Jesus e seus discípulos cruzaram de pois que ele alimentou quatro mil pessoas com alguns pães e pouco; peixes. Lá, na região de Magadã/Dalmanuta ou Magdala, fariseus pé diram-lhe que lhes mostrasse um milagre do céu para submete Io aprova (Mateus 16,1-4; Marcos 8,11-13). Se for assim, somenti podemos concluir, a partir do Novo Testamento, que havia escribas n; região de Magdala e que a região poderia ser alcançada por barco. Houve muita discussão acerca da possível localização de Mag dala.^ A partir da leitura da literatura rabínica, devemos procura por Magdala nas vizinhanças de Tiberias, perto do Mar da Galiléia. Maria Madalena 35 Atualmente, ao norte de Tiberias fica a pequena cidade de Mejdel. > nome pode lembrar o de Magdala. Trata-se de uma suposição que ï encaixa com os testemunhos dos primeiros peregrinos que situam .lagdala entre Tiberias e ao norte de Cafamaum. Há informações de peregrinos entre os séculos seis e dezessete. sem exceção, eles sustentam que Magdala era equidistante de Tibe- ias e Tabga, um lugar próximo a Cafarnaum. Também informaram sobre a casa de Maria Madalena que puderam inspecionare sobre a greja que a imperatriz Helena mandou construir (quarto século) em lonra da santa. Ricoldus de Monte Cruéis, em seu informe de via-gem (1294), conta-nos que a igreja não estava mais sendo usada no inal de décimo terceiro século. Ele escreveu: Então chegamos em Magdala…, a cidade de Maria Madalena, perto do Mar de Genasarete. Caímos em prantos lamentando, pois encontramos uma esplêndida igreja, completamente intacta mas que estava sendo usada como estábulo. Naquele lugar, cantamos e proclamamos ‘ o evangelho de Madalena.’^ Se Magdala fica, de fato, no sítio de Mejdel, então Jesus esteve á. A cidade ficava no caminho entre Nazaré, a pequena vila onde esus cresceu (cerca de trinta e dois quilómetros de Magdala) e Cafamaum, onde, mais tarde, ele foi viver. Cafamaum ficava a cerca de nove quilómetros de Magdala. É ossível que Jesus conhecesse a cidade muito bem. Em todos os ‘eventos, parece possível que ele tenha ensinado e talvez até curado ^pessoas lá, como relata o Evangelho de Marcos: r Ele retirou-se dali, pregando em todas as sinagogas e : por toda a Galiléia, e expulsando os demónios (Marcos | 7,39; cf. Mateus 4,23 e Lucas 8,1-3) [ j. Recentemente, nas escavações realizadas em Mejdel entre 1971 f 1977, descobriu-se que também existia uma sinagoga em Magdala. jVérgilio Corbo descobriu o que pôde por lá:16’ casas, ruas, casa de Ibanho, banhos públicos, lojas, praças. Infelizmente, ele não teve acesso ^ maior parte do terreno, mas, fez uma notável descoberta: uma pe-Ijuena sinagoga do período romano, de arquitetura comparável com Esther de Bóer a sinagoga de Massada. Esta pequena sinagoga é atualmente a mais antiga sinagoga descoberta da Palestina. A partir das escavações, parece que no final do primeiro século, começo do segundo ou possivelmente até mais tarde, a sinagoga foi usada como reservatório de água. Mais tarde, entre os restos, foram encontrados vestígios do que poderia ter sido uma sinagoga maior/7’ Também aparece na literatura rabínica que em Magdala exista uma sinagoga. Perto dela, ficava beth ha-midrash, uma escola para explicação e aplicação das escrituras sagradas (todos eventos do começo do segundo século ou talvez antes). A cidade produziu dois rabinos cujas vozes ainda podem ser ouvidas no Taimud e Midrashim: Rabino Isaac de Magdala e Rabino Judah de Magdala, ambos do começo do quarto século. No midrash sobre Lamentações 2.2 (segunda Elegia), que co-meça com as palavras “O Senhor destruiu sem piedade todas as moradias de Jacob”, Magdala é citada como exemplo. Os sábios davam uma longa descrição da devoção da cidade. Nas trezentas tendas era possível comprar os pássaros necessários para o ritual de purificação e as contribuições religiosas que seguiam para Jerusalém eram tantas que era preciso transportá-las em vagões. Contudo, a cidade estava devastada. Por quê? Enquanto a resposta da questão no caso de duas outras cidades eram “desunião” e “feitiçaria”, em Magdala a razão citada era “adultério” (Ika Rabbah II, 2,4). Portanto, a cidade não era apenas associada com a devoção. Também era associada com adultério. Magdala aparece na literatura rabínica com diferentes nomes: como Magdala (fortaleza), como Migdal Sebayah (torre dos tintureiros) e como Migdal Nunayah (torre do peixe). Fréderic Manns demonstrou que Magdala e que Migdal Sebayah são intercambiáveis e não idênticas. Migdal Nunayah ocorre apenas uma vez. Depois, também fica claro que está se referindo a Magdala. Migdal Nunayah e Migdal Sebayah provavelmente são nomes de áreas de Magdala.(8) Flavius Josephus, historiador judeu do primeiro século, escriba e comandante do exército, sempre cita a cidade de Tarichea. Qualquer um que leve todas essas descrições em conta, deve colocar Tarichea também ao norte de Tiberias, no mesmo lugar onde atualmente situa-se Mejdel. No caso, Magdala poderia ser o nome judeu da cidade e Tarichea, o nome grego. Naquela época, era frequente Maria Madalena 37 uma cidade ter dois nomes. Grego era o segundo idioma, o idioma internacional, desde que Alexandre, o Grande, fundou seu vasto império no terceiro século antes de Cristo. Josephus passa a impressão de que Tarichea era uma grande cidade com 40 mil habitantes, cuja frota de pesca consistia em 240 barcos. Ele relata que Tarichea tinha um hipódromo, uma pista de corrida de cavalos (Jewish War II, 599-608). Coisas que nem toda cidade poderia se dar ao luxo de ter. Magdala era uma cidade próspera. Com as escavações este fato toma-se evidente. As casas descobertas em Magdala contrastam com as pobres cabanas descobertas em Cafamaum.110 Os vários nomes para Magdala mostram a proveniência da prosperidade. Uma próspera cidade mercantil Magdala significa fortaleza. Josephus menciona a cidade sobretudo por sua situação estratégica e seu lugar na luta contra Roma. Magdala posiciona-se diretamente à margem oeste do Mar da Galiléia e era fortificada por pedras em ambos lados. A estrada ao longo do mar podia facilmente ser fechada por habitantes. Josephus, eleito governador da Galiléia pêlos rebeldes no começo da guerra judaica, fortificou o lado da cidade que ficava voltado em direção à terra (Jewish War III, 462-5). O historiador e geógrafo Strabo de Amaseia, do começo desta era, que descreveu os vários territórios do império Romano para uso dos futuros líderes políticos, menciona Tarichea em seu trabalho por outra razão: exalta o “excelente peixe salgado” da região (Geography XVI, 2,45). Tarichea não foi escolhida arbitrariamente como nome grego para Magdala. Tarecheion significa um lugar onde os peixes são res-secados. O peixe seco e salgado preservado deveria ser uma importante fonte de renda para Magdala. A indústria pesqueira seria também motivo do nome hebreu, Migdal Nunayah (torre do peixe) para Magdala. O fato de Strabo que não era um grande viajante e propagou informações sobre características notáveis sobretudo por Roma e Alexandria mencionar o peixe salgado da Tarichea indica a fama da cidade e que o peixe era comercializado mesmo fora da Galiléia.00’ as nsmer ae soer Em Magdala a prática mercantil deve ter sido ativa. A cidadf estava favoravelmente posicionada entre importantes rotas de comércio: em direção ao Egito (Via Maris), na direção da Síria e eir direção ao Mar Mediterrâneo. Também havia rotas em direção i. Judéia e para o norte. Strabo também menciona a segunda característica de Tarichea “árvores frutíferas, que parecem macieiras, crescem lá.” Josephus nos conta um pouco mais. O norte da Tarichea eiï uma área plana chamada Genasar (Genasarete no Novo Testamento) Josephus interrompeu os relatos sanguinários e os eventos estratégicos do período da guerra judaica para descrever os rendimentos provenientes desta planície. Ele exalta a fertilidade do solo e o clima favorável, particular mente adequado para o plantio de árvores como nogueira, palmeira oliveira e figueira. Além do mais, o solo produz plantas e arbustos raramente vistos juntos e frutas maduras ininterruptamente. Até uvas e figos estão lá durante dez meses do ano. Tudo isto é possível gra cãs a uma poderosa fonte “que é chamada de Cafamaum pêlos ha bitantes” (Jewish Warïll, 516-521). Então, podemos imaginar que entre os habitantes Magdala ti nhã fazendeiros que cultivavam o frutífero solo de Genasar, pesca dores ativos no Mar da Galiléia, trabalhadores no porto e na indús tria pesqueira onde o peixe era tratado e salgado e os mercadores que comercializavam todos estes produtos. Conjecturou-se que o tecido também seria tingido em Magdala devido ao nome de Migdal Sebayah: torre dos tintureiros. A indús tria de fingimento daquele período usava tintas de plantas e frutas Também era importante que houvesse muita água disponível.00 Grã cãs ao Mar da Galiléia e ao solo de Genasar, os habitantes de Mag dala podiam contar com ambos os recursos. Magdala tinha tudo que era preciso para ser uma cidade prós pêra comercialmente. Podia comercializar peixe salgado, tecidos tin gidos e diversos produtos agrícolas. Além do mais, a cidade tambéi.ficava favoravelmente localizada com relação às rotas de comercie internacional e sua situação estratégica também era importante. En tretanto, todos esses fatores trouxeram para a cidade não apenas prosperidade, mas também disputas. Maria Madalena Campo de oposição, santuário definitivos Maria Madalena viveu quando Israel estava sob o jugo da ocupa-i mana. Tal ocupação ocorria dentro e ao redor de Magdala.02’ \ partir de 63 a.C., após um período de independência relativa, ! i dos judeus começou a ser incorporada ao império romano. A ^em seguinte, sobre a determinação das taxas a serem pagas, | nstra que este processo não foi fácil. O romano Christian Lac-As autoridades romanas responsáveis pela cobrança de impostos entraram no lugar e viraram tudo de cabeça para baixo. Os campos foram medidos metro a metro, cada vinhedo e árvore frutífera foram contados, cada cabeça de gado foi registrada e a quantidade de pessoas foi anotada com precisão. A população foi conduzida à cidade e todos os mercados estavam repletos com as famílias chegando em grupos. Em todos os lugares se ouvia os gritos daqueles que estavam sendo interrogados sob tortura e agredidos. Filhos eram retirados de seus pais, mulheres de seus maridos. Após a inspeção geral, eles torturaram os responsáveis pêlos impostos para que fizessem declarações contra eles próprios e então, quando a dor venceu, estas pessoas registraram propriedades passíveis de impostos que nem sequer existiam. Idade ou estado de saúde não tinham importância no meio disto tudo (De mortibus Persecutorum 23.IF.).”^ A incorporação ao império romano encontrou muita oposição ideus e não somente porque eles queriam ser livres. Havia a ao religiosa. Os rebeldes recusavam-se a serem dirigidos por nantes estrangeiros que não praticavam a religião de Israel e isto como uma transgressão da lei que o próprio Deus estabele-or meio de Moisés. Moisés não disse que o rei de Israel não ia ser estrangeiro e que ele deveria estudar constantemente a ï Deus? (Deuteronômiol7,14-20) Os rebeldes concluíram que, como crentes, cada um era obriga-e recusar a pagar o imposto romano com todas as consequências i seguiram. Foi uma boa razão para a pergunta feita a Jesus: “É Esther de Bóer permitido ou não pagar o imposto a César?” (Mateus 22,15-22; Lucas 20,20-26; Marcos 12,13-17). Josephus deseja persuadir o leitor de que a convicção dos rebeldes certamente não seria compartilhada por todos. Ele escreve sobn um deles. Judas, o galileu: Naquele tempo, um galileu chamado Judas tentou levar os nativos à revolta, dizendo que seriam covardes se pa-gassem impostos aos romanos e se, após servir a apena, um Deus, aceitassem dirigentes humanos. Este homen era um rabino com seita própria e era bastante diferente dos outros (Jewish War II, 118). Entretanto, novas revoltas continuaram irrompendo e os terrores não pouparam a cidade de Magdala. Em 53 a.C. uma revolta dos galileus contra os romanos foi sufocada em Magdala. Josephus relata que, sob as ordens do romano Cassius Longinus, os soldados fizeram trinta mil prisioneiros entrf os habitantes e fugitivos que foram retirados da cidade e vendido; como escravos (Jewish War I, 180). Entretanto, no geral, está clan que Josephus não é muito preciso com os números. Todavia, seja o\ não trinta mil, ele relata claramente que se tratava de uma grand< quantidade de pessoas. A partir de 40 a.C., Herodes, o Grande apontado como “Rei dos Judeus” pêlos romanos tentou tomar o poder definitivamente e tomou-se famoso por sua crueldade. No começo do conflito, muitos rebeldes e suas famílias se esconderam nas cavernas de Arbela. perto de Magdala, e Herodes os mandou matar com fumaça. Muitos morreram neste processo e muitos preferiram morrer. Preferiram morrer a serem tomados como prisioneiros (Jewish War 1,310-313), É improvável que Maria Madalena tenha participado de um dos dois eventos citados. Se fosse este o caso, ela teria cerca de oitenta anos de idade quando seguiu Jesus. Entretanto, estas histó- rias com certeza ainda eram contadas para os integrantes da gera- ção da qual ela fazia parte. Josephus contava sobre o domínio de Herodes, o Grande: Herodes investigava os movimentos de todas as pessoas: evitando qualquer oportunidade de agitação. O movimente Maria Madalena de todas as pessoas era observado. Tanto na cidade como nas ruas, havia homens que espiavam todos os encontros (Antiguidades XV, 10,4). Portanto, a repressão era tangível em todos os lugares, inclusive em Magdala. Com a morte de Herodes em 4 a.C. irromperam outras revoltas. O filho mais velho dele, Archelaus, guardou luto por sete dias em Jerusalém antes de viajar para Roma para pedir que o imperador tomasse a decisão sobre a sucessão. Na conclusão do tempo oficial de luto, um pouco antes da comemoração da Páscoa, na festa de libertação do Egito, havia outra lamentação ao redor do templo, entre as pessoas que estavam reunidas lá. Agora, o luto não era por Herodes e sim por aqueles que antecipadamente foram queimados vivos sob as ordens de Herodes por terem rejeitado a colocação de uma águia dourada no templo. Imediatamente, Archelaus enviou toda a legião para a cidade a fim de dissipar a multidão oferecendo sacrifícios. Foram mortas três mil pessoas. Ele proibiu a celebração da Páscoa em Jerusalém naquele ano (Jewish War II, 1-13). Peregrinos de Magdala e das regiões vizinhas poderiam também estar em Jerusalém e podem ter voltado insatisfeitos com tudo aquilo. Talvez houvesse mortos e feridos a serem lamentados entre eles. Após a saída de Archelaus, irrompeu-se uma grande rebelião sob o comando de Judas, o Galileu. Também esta revolta só resultou em assassinatos e mortes. As tropas romanas vieram da Síria para ajudar a exterminar o movimento. Com uma grande armada seguiram pela Galiléia avançando para o sul e pilhando tudo por onde passavam. A cidade de Seforis, posicionada centralmente perto de Nazareth há cerca de dezenove quilómetros de Magdala, foi arrasada. Todos seus habitantes foram levados e vendidos como escravos (Jewish War II, 66-71). O imperador Augusto dividiu a terra em três e indicou os filhos de Herodes, o Grande, para cada território. Desta forma, a Galiléia caiu sob o controle de Herodes Antipas e, assim, teve início um período de estabilidade política. Distinto de seu pai e irmão, Herodes Antipas respondeu à oposição mais com diplomacia do que com a força. De fato, ele teve de Esther de Bóer agir assim, pois Roma estava mais sensível com relação aos distúr bios no país. Assim sendo, Archelaus foi exilado no ano seis da er, cristã devido à sua crueldade. Herodes de Antipas durou mais, de’ a.C a 39 do começo da era cristã (Jewish War II, 111-12). Herodes de Antipas é conhecido especialmente pelas duas grandes cidades que construiu na Galiléia. Logo no começo de seu governo, reconstruiu a cidade de Seforis e estabeleceu a sede de governo neste local. Mais tarde, a cidade de Tiberias (nomeada após ( imperador romano) nasceu na orla do Mar da Galiléia, ao sul di Magdala. Estas eram cidades realmente helenísticas, inspiradas n; cultura estrangeira e ofensivas aos olhos dos judeus. Na construçã» de Tiberias, Herodes de Antipas certamente não levou em conta todos os sepulcros que estavam localizados lá. Como resultado da construção de Tiberias, Magdala perdeu sua posição de cidade mais importante do mar da Galiléia. Como o irmão, Herodes de Antipas finalmente teve de deixar ( país e ir para o exílio. Seu sobrinho, Herodes Agrippa, que já gover nava os territórios do leste e norte do Mar da Galiléia, agora gover nava também sobre os territórios de Herodes Antipas. Em 41 da er; cristã, a Judéia foi adicionada a estes territórios. Magdala, Tiberias e as áreas circunvizinhas tomaram-se possessões pessoais de Herodes de Agrippa, por meio da ação do imperador Nero. Como resultado, ambas escaparam da destruição total na Guerra Judaica. A Guerra Judaica começou em 66. Em 67, Magdala foi recap-turada dos rebeldes por Vespasiano e Titus. Josephusfornece uma descrição detalhada da batalha que termina assim: Todo o lago estava manchado de sangue e abarrotado de cadáveres; não havia um único sobrevivente. no! dias seguintes um horrível mau cheiro tomou conta de região. As praias estavam cheias de destroços e corpos. inchados com o sol quente condensando a umidade tor-navam o ar tão pestilento que a calamidade não apenas horrorizou os judeus mas também revoltou aqueles quí permitiram a realização daquilo tudo… Os mortos, incluindo aqueles que pereceram antes na cidade, totali-zaram 6.700 (Jewish War III, 529-31). m.wm Madalena. Devido à guerra, naquela época Magdala estava alojando um gran-umero de refugiados. Vespasiano separou os dos habitantes da terra nde vieram dos que estavam primariamente envolvidos na guerra. 10, como os habitantes também não pegaram em armas, ele permitiu issagem livre dos refugiados na condição de que deixassem a cidade l estrada para Tiberias. Quando estavam na estrada, foram forçados trar em Tiberias e a se reunir em um estádio. Os que estavam velhos lebilitados foram mortos imediatamente. Ele enviou 6.000 homens ens e fortes para Nero e vendeu o resto, cerca de 30.400, como escra- (Jewís/iWarIU,532-42). Se Maria Madalena fosse relativamente jovem quando encon-Jesus, entre 20 e 30 anos, talvez com a idade de sessenta ou nta anos ela mesma tenha testemunhado a guerra sanguinária na ade onde nasceu ou ouviu outros comentando sobre o fato. Está claro que a crucificação de Jesus não foi nem o primeiro, m o último ato de violência com o qual Maria Madalena se de-antou na vida. Ela cresceu em uma cidade onde a ocupação roma-i era bastante tangível. A oposição a este domínio e o sofrimento corrente a marcaram desde a mocidade. A procedência de Maria Madalena Com exceção de Maria Madalena, todas as Marias do Novo estamento podem ser reconhecidas por suas famílias. Maria, mãe e Jesus, Maria, mãe de Tiago, Maria de José, Maria de Tiago, Ma-ia irmã de Marta e Lázaro, Maria de Cléofas… e então, Maria de Magdala? Esta Maria não é nomeada por seu pai, um parente, um ïlho, uma irmã ou irmão. Talvez sua família não seja conhecida no ïírculo de Jesus. Em todos os eventos, ela não foi definida por sua amília, mas pelo fato de ter vindo de Magdala. - Devemos pensar então na Maria de Magdala que buscava agra- âar os homens próximos e distantes? Citei a única referência à pro- (niscuidade sexual em Magdala no começo deste capítulo, mencionada no Midrash das Lamentações. Os sábios afirmavam que “adultério” era a causa da destruição de Magdala. Entretanto, adultério é mencionado no contexto da devoção. Apesar da devoção, Magdala foi devastada por causa do adultério. Não há nenhuma razão óbvia l»ara associar Maria Madalena em particular com adultério, da mes-Nna forma que não há razão especial para descrevê-la como devota jeKtraordinária devido à devoção de Magdala. 44 Esther de Bóer Entretanto, podemos permitir que seu nome invoque a atmosfe rã geral de Magdala que era a atmosfera de uma cidade que era roti internacional na qual as pessoas e todos os tipos de religiões e prática se encontravam no mercado. Era a atmosfera de uma cidade prósper que teve de sofrer com a ocupação romana e com a oposição a eli sob violência e motim político resultante da ocupação. Também era, atmosfera de uma cidade tolerante na qual tanto a cultura judaic, como a helenística estavam interiorizadas. Maria Madalena deve seu nome ao nome hebreu da cidade. El; é chamada especificamente de Maria de Magdala e não de Maria di Tarichea, o que fortalece a impressão de que ela erajudia.1141 Maria Madalena como Discípula de Jesus Os Evangelhos do Novo Testamento concordam ao contar qu Maria Madalena era uma das seguidoras de Jesus. Ela também na era a única mulher; havia outras. Os Evangelhos não apresentar. nenhuma indicação precisa sobre como isso aconteceu. O texto seguinte informa o que o Evangelho de Marcos diz quando o autor estí relatando a crucificação de Jesus: Achavam-se ali também umas mulheres, observando d( longe, entre as quais Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago o menor, e de José, e Salomé, que o tinham seguido e ( haviam assistido, quando ele estava na Galiléia; e muita; outras que haviam subido com ele a Jerusalém (Marco; 15,40-41; Mateus 27,55-56; Lucas 8,1-3). “Seguido” e “assistido” são palavras relativas à disciplina.05 Entretanto, não está claro se as mulheres pertenciam ao pequem grupo de seguidores permanentes de Jesus ou se elas se juntavam i estes seguidores por períodos curtos. Também não ficava claro qua o papel que representavam: juntaram-se a Jesus durante a peregri nação até Jerusalém, onde eram responsáveis pela satisfação da; necessidades materiais do pequeno grupo que o acompanhava 01 eram integrantes do grupo em igualdade de condições? Os evange listas apresentam poucas informações, além do mais, seus testemu Maria Madalena. nhos não eram unânimes. Certamente mencionam Maria Madalena pelo nome em primeiro lugar, sempre que estão se referindo às mulheres seguidoras de Jesus. Neste capítulo, será examinada a atitude de Jesus com relação às mulheres, conforme indicado nos Evangelhos, para que seja possível inferir alguma coisa mais sobre a possível função delas entre os seguidores. Depois, a função de Maria Madalena será mais especificamente investigada. A visão de Jesus sobre as mulheres Jesus não disse nada especial sobre a posição que as mulheres deveriam ocupar; de qualquer modo, o Novo Testamento não diz nada sobre este assunto. Mas, pode-se deduzir algumas ideias sobre a visão que Jesus tinha das mulheres observando-se o modo como ele lidava com as coisas que afetavam o mundo da experiência feminina naquele tempo. Ele menciona as leis de pureza, casamento e divórcio, maternidade e família. As leis da pureza relativas aos alimentos, sexo, gravidez e nascimento; o contato com o sangue ou com doentes e mortos; na verdade, qualquer coisa que seja realizada com o corpo. Qualquer um que se tomasse impuro poderia tomar outras pessoas impuras pelo contato físico e, conseqüentemente, era considerado um banido. O sistema de pureza dividia a sociedade entre as categorias limpo e sujo. As leis eram tão rígidas que os pobres, doentes, estrangeiros e mulheres em geral eram frequentemente vistos como sujos por períodos mais longos do que os israelitas ricos, saudáveis e os homens. A visão de Jesus tolerava esta divisão da sociedade por princí- pio. O ponto inicial ressaltado por ele era que não havia nada que tomasse uma pessoa suja. Somente o que vinha do coração poderia tomar alguém sujo. Ele disse: Ora, o que sai do homem, isso é que mancha o homem. Porque é do interior do coração dos homens que procedem os maus pensamentos: devassidões, roubos, assassinatos, adultérios, cobiças, perversidade s, fraudes, de-sonestidade, inveja, difamação, orgulho e insensatez. Todos estes vícios procedem de dentro e tornam impuro o homem. (Marcos 7,21-23, Mateus 15,18-20). Esther de Bóer Jesus espiritualiza a sujeira física, o que se toma o ponto inicia para homens e mulheres, em princípio iguais, não apenas em termo? de religiosidade, mas também em questões sociais, em contraste ac que era habitual no tempo de Jesus.06’ Naquele tempo, após o casamento, a iniciativa do divórcio re-caía principalmente sobre o marido. A mulher podia ser mandade embora por todos os tipos de razão, o que fazia com que sua posição social fosse incerta. Também neste caso Jesus traçou outra diretriz ele refere-se à história da criação declarando que um marido nãc pode mandar sua mulher embora. O marido deixa seu pai e sua mãe para se ligar à sua esposa “e os dois não serão senão uma só carne” Moisés permitiu o divórcio apenas por causa da insensibilidade de coração das pessoas. Jesus disse a este respeito: Quem repudia sua mulher e se casa com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher repudia o marido e st casa com outro, comete adultério (Marcos 10,11-12; Ma teus 19,9). De acordo com esta citação, não ésomente o marido que tom; a iniciativa. A mulher também tem escolha. Jesus exige que ambos os cônjuges sejam fiéis. A mulher não é dependente dos capricho’ de seu esposo. Ambos são igualmente responsáveis pelo casamento A mãe que tinha um filho era muito respeitada no tempo d< Jesus, e principalmente a mãe de um filho que tinha função religiosa Então, ocorreu que uma mulher disse a Jesus: “ Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e os peito. que te amamentaram!” Mas Jesus replicou, “ Antes, b em-aventurado s aque lês que ouvem a palavra de Deus e a observam!” (Luca, 11,27-28). A resposta de Jesus é notável à primeira vista. Com a palavri “antes”, ele reconhece que a mulher está certa.07’ É uma introduçã( para a confirmação das palavras dela. Mas, o que Jesus diz, pareci referir-se a alguma coisa bem diferente. Encontramos a chave par; entender a resposta de Jesus em Isaías, onde ele explica sobre ( tempo em que Deus mostrará sua glória: Maria Madalena Seus filhinhos serão carregados ao colo, e acariciados no regaço. Como uma criança que a mãe consola, sereis con-solados em Jerusalém (Isaías 66,12-14). Jesus deixa claro por quem ele acha que foi amamentado e ;arregado. Ele relaciona o ventre e peitos que a mulher citou com ;le mesmo e Deus. A vida dada por Deus determina a bem-aventu- ança de uma pessoa e também a bem-aventurança de uma mulher. Também, em outro lugar, Jesus estende as relações consangüí- ieas entre os indivíduos para um relacionamento tendo por base a vida com Deus. Quando sua mãe, irmãos e irmãs foram convocados, ïle diz sobre a multidão que estava sentada ao redor dele: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe (Marcos 3,34-35; Mateus 12,49-50; Lucas 8,21). Jesus quebra as convenções daquele tempo.(18) Ele espiritualiza is leis de pureza e laços familiares. Declara que o casamento deve ser um vínculo entre duas pessoas sendo que ambas são responsá- veis e podem tomar iniciativas. Jesus vê os homens e mulheres como indivíduos a quem pode-se dirigir em termos iguais. O importante não é a sujeira ou limpeza física, laços familiares, casamento, mas a disposição que apresentam: a pureza do coração, se fazem a vontade de Deus e mantêm a fé uns com os outros. O estado físico não determina quem eles são; ao contrário, o que importa é o estado espiritual deles. Como Jesus tratava as mulheres A visão de Jesus sobre as mulheres pode resistir ao teste da prática, ao menos a prática relatada na Bíblia. Foram preservadas histórias a partir das quais se descobre como Jesus se relacionava com as mulheres nos últimos anos de sua vida. Tais histórias confirmam o que já descobrimos. Os Evangelhos do Novo Testamento não indicam em nenhum lugar que Jesus tratava de maneira diferente homens e mulheres. Um bom exemplo é a história de uma cananéia que Jesus encontrou fora de Israel, nos arredores de Tiro e Sidônia (Mateus 15,21-28; Marcos 7,24-30). Ela pediu para Jesus curar sua filha que estava Esther de Bóer possuída. Jesus recusou-se, afirmando ter sido enviado “às ovelhas perdidas da casa de Israel”, aquelas pessoas muito atormentadas e não para os de fora. Ele diz: Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos (Mateus 15,26; Marcos 7,27). E ela replicou: Certamente, Senhor; mas os cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos (Mateus 15,27; Marcos 7,28) Jesus exaltou as palavras da mulher, e “na mesma hora sua filha ficou curada”. A mesma coisa aconteceu com o centurião romano em Cafarnaum (Mateus 8,5- 13; Lucas 7,1-10) que pediu para Jesus curar um menino acamado. Jesus disse: Eu irei e o curarei (Mateus 8.7).“91 Neste caso, a razão não é explicada em muitas palavras, mas a sugestão fica clara: um forasteiro não tinha direito ao que era de Israel. Também neste caso, Jesus curou a criança devido à resposta do centurião: Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa. Dizei uma só palavra e meu servo será curado (Mateus 8,8, Lucas 7,6-7). Jesus considerou a mulher de fora de Israel tão seriamente como o centurião do campo romano que ficava perto de sua própria casa. Ele se impressionou com a fé de ambos. Ambas as crianças foram curadas. Se houvesse alguma diferença de aproximação, a mesma se tomaria evidente nessas situações. Jesus ouviu a mulher, discutiu e permitiu-se ser convencido, da mesma forma como agiu com o homem. Há ainda outras histórias que indicam que a conduta de Jesus era contrária à variedade de normas que eram habituais para ho-Aíaria Madalena mens e mulheres. Assim, os escribas e fariseus levaram uma mulher à presença de Jesus, enquanto ele estava ensinando no templo (João 8,1-11). Disseram-lhe que ela tinha sido pega em adultério e que portanto, de acordo com a lei de Moisés, deveria ser apedrejada. O que é notável neste caso é que eles não trouxeram o homem. Afinal de contas os dois foram pegos juntos e ele também deveria ser ape-drejado (Levítico 20,10). Eles agiram deste modo para “testar” Jesus, para que tivessem alguma acusação contra ele e sabiam claramente que, confrontado com este fato, Jesus poderia negar a lei de Moisés. Entretanto, Jesus foi hábil e salvou a mulher sem entrar em discussão. Ele diz: Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra (João 8,7). Depois disto, eles partiram, um por um. Outro exemplo é a história da mulher “atormentada por um fluxo de sangue” (Mateus 9,19-22; Marcos 5,25-34; Lucas 8,43-48). Como era considerada impura, não podia tocar e nem ser tocada pêlos outros. Entretanto, quando ela tocou a orla do manto de Jesus na esperança de ser curada, ele não deixou que tal gesto passasse despercebido. Ao contrário, fez uma coisa inesperada: exaltou a fé da mulher em público ao invés de criticá-la. Ele disse: “Minha filha”. Ela é uma filha de Israel, embora, de acordo com o código predominante, ela não tenha se comportado como tal. Há ainda histórias a partir das quais se toma evidente que Jesus conhece o universo de experiências femininas profundamente e leva-o a sério. Um exemplo disto é a bênção das crianças (Mateus 19,13-15); Marcos 10,13-16; Lucas 18,15- 17). Crianças e mães tinham seu próprio lugar e não tinham espaço na vida pública. Quando os evangelistas relataram a quantidade de pessoas que comeram os pães e os poucos peixes que Jesus multiplicou, contaram somente os homens. “Sem contar as mulheres e crianças”, disse Mateus para deixar as coisas claras (Mateus 14,21; 15,38). Em determinada ocasião, quando as pessoas trouxeram as crianças para Jesus, esperando que fossem tocadas e abençoadas, os discípulos as mandaram embora. Jesus tinha coisas mais importantes a fazer. Mas, o próprio Jesus tinha outra visão e, colocando as crianças no centro, disse: Esther de Bóer Deixai vir a mim os pequeninos, porque o Reino de Dem é daqueles que se lhes assemelham. Em verdade vos digo: todo o que não receber o Reino de Deus com c mentalidade de uma criança, nele não entrará (Marca 10,14-15). E ele abençoou as crianças, impondo-lhes as mãos. Outro exemplo é a história sobre Marta e Maria, na qual Marte sente que está perdendo, pois há muito o que fazer cuidando da hos-pitalidade a Jesus (Lucas 10,38-42). Ela então reclama para Jesu que sua irmã não a está ajudando. É surpreendente que Marta sl sinta à vontade para contar para Jesus o que a perturba. Evidentemente, ela assume que ele se importará com seu problema doméstico e concordará em usar a autoridade. A resposta de Jesus tambérr é desconcertante. Maria escolheu a melhor parte: sentar-se aos pés de Jesus e ouvir suas palavras. “Assentou-se aos pés” é uma expressão que indica situação de aprendizado. A mesma expressão tambérr é usada por Paulo em seu discurso “instruí-me aos pés de Gamaliel’ para indicar a procedência de sua instrução (Atos 22,3). O fato de que os ensinamentos de Jesus destinavam-se nãc apenas aos homens mas também às mulheres é evidente pois, en” suas ilustrações e histórias, ele busca referir-se