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Maria Madalena Discipulado, Apostala e Mulher


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Prévia do material em texto

Esthev	de	Bóer
maria
MADALENA
DISCÍPULA,	APÓSTOLA	E	MULHER
Tradução:
Lígia	Capobianco
	
MADRAS
Do	original:	Mary	Magdalei
©	Meinema
First	published	by	SCM	Pr
Tradução	autorizada	do	ingi
Direitos	exclusivos	para	tod
©	1999,	by	Madras	Editora
Supervisão	Editorial	e	Cooi
Wagner	Veneziani	Costa
Produção	e	Capa:
Equipe	Técnica	Madras
Ilustração	Capa:
Alexandre	Luiz	Almeida	Se^
Tradução:
Lígia	Capobianco
Revisão:
Marise	Goulart	de	Andrade
Marília	Rodella
ISBN:	85-7374-188-0
Proibida	a	reprodução	tota
qualquer	meio	eletrônico,	ir
cos,	sem	permissão	expres
Todos	os	direitos	desta	edi’
MADR^
Rua	Pauí
02403-0:
Caixa	Pç
Tel.:(011
http://ww
Em	memória	de
Geertje	Streefland,
Esther	Rãs	e	Maartje	Visser,
minha	mãe	e	avós,
às	quais	sou	muito	grata.
índice
Introdução	………………………………………………………………	11
I.	Além	do	Mito……………………………………………………….	13
Maria	Madalena:	Penitente……………………………..	15
Significado………………………………………………..	16
Liturgia	……………………………………………………	17
Arte…………………………………………………………	18
Trabalho	social	………………………………………….	19
A	imagem	fragmentada	……………………………..	20
O	Retraio	Desconsiderado	……………………………..	21
Discussão	…………………………………………………	21
Oriente	e	Ocidente	…………………………………….	23
A	caricatura	deliberada……………………………….	24
Contra-Reforma	……………………………………….	26
Popularidade	…………………………………………….	27
Na	Busca	de	Quem	Realmente	Ela	E	……………….	28
II.	As	Fontes	Primárias	sobre	Maria	Madalena	…………….	31
Maria,	com	o	sobrenome	“de	Magdala”	……….	34
Magdala/Tarichea………………………………………	34
Uma	próspera	cidade	mercantil	…………………..	37
Campo	de	oposição,	santuário	de	fugitivos	……	39
A	procedência	de	Maria	Madalena	……………….	43
8	Esther	de	Bóer
Maria	Madalena	Como	Discípula	de	Jesus	………….	/	‘
A	visão	de	Jesus	sobre	as	mulheres	………………	^
Como	Jesus	tratava	as	mulheres	………………….
Maria	Madalena	como	discípula	…………………..
Ambivalência…………………………………………….
Maria	Madalena	Como	Testemunha-Chave	………
Evangelho	de	Marcos:	ansiedade………………….	6(
O	Evangelho	de	Mateus:	fé	…………………………	61
O	Evangelho	de	Lucas:
sete	espíritos	demoníacos……………………………	6’
Evangelho	de	João:	persistência	…………………..	6
Maria	Madalena	……………………………………………	6
Quem	era	ela?…………………………………………..	6.
Qual	a	história	de	Maria	Madalena?……………..	7(
III.	A	Busca	Continua	………………………………………………	7;	Tradição
Eclesiástica	………………………………………	7
Disciplina	e	apostolado:	ajudante	…………………’
Repleta	de	Fé	……………………………………………’.
Uma	professora?……………………………………….	7
Jesus	e	Maria	Madalena:	distância………………..	7;	O	Que	as	Areias	do
Deserto	Entregaram………….	8(
Uma	discípula	e	não	uma	professora…………….	8(
Ajudante	de	Filipe	……………………………………..	8-‘
A	discípula:	ensinando	e	interpretando	…………	8;	A	grande
percepção……………………………………	8’
A	hostilidade	de	Pedro	……………………………….	8i	Jesus	e	Maria
Madalena:	intimidade	…………….	8<
Algemas	da	Inconsciência	……………………………….	8’
Novas	descobertas,	novas	questões	………………	81
IV	O	Evangelho	de	Maria	…………………………………………	9
Prefácio………………………………………………………..	9
Descoberta	e	publicação	……………………………..	9
Maria	Madalena	9
Data……………………………………………..
Origem	e	disseminação	……………………
A	identidade	de	Maria	……………………..
íadução	…………………………………………..
construção	e	mensagem………………………
Três	maneiras	de	ler…………………………
Gnosticismo…………………………………..
Dando	espaço	para	o	texto	……………….
/“isões	de	Maria	…………………………………
Pedro,	André	e	Levi	falam	sobre	Maria.
Maria	por	ela	própria	………………………
O	autor	sobre	Maria………………………..
D	Que	Maria	Tem	a	Dizer	……………………
Sobre	a	graça	e	Ser………………………….
Sobre	o	tesouro………………………………
No	caminho	para	cima	…………………….
Conclusão	…………………………………………
Maria	Madalena	e	seu	Evangelho………
Gnose	e	Maria	Madalena	…………………
‘edro	e	Maria	Madalena	……………………..
3	Fim	da	Busca……………………………….
Maria	Madalena:	discípula	e	apóstola
Maria	Madalena:	mulher	……………….
VIaisUmaVez,	Além	do	Mito	……………
Naquela	época	e	agora	………………….
Conclusão	………………………………………
Da	penitente	para	o	ser	humano	……..
afia	Selecionada	………………………………
os	Textos	Bíblicos	……………………………
	
Introdução
Maria	Madalena	devia	ter	muita	coisa	para	contar.	Ela	seguiu	Jesus	de	Nazaré,	o
Cristo	da	religião	cristã,	desde	o	começo	de	seu	trabalho.	Foi	uma	das	poucas
seguidoras	que	estiveram	presentes	na	crucificação	e	enterro	de	Cristo	e	também
foi	a	primeira	pessoa	a	proclamar	sua	ressurreição.	Maria	Madalena	tomou-se
conhecida	acima	de	tudo	como	a	personificação	da	atratividade	feminina.
Neste	livro,	eu	gostaria	de	mostrar	como	esta	imagem	não	se	desenvolveu	até	o
século	quinto	ou	sexto	e	circulou	apenas	na	tradi-
ção	eclesiástica	ocidental.	Espero	envolver	os	leitores	na	busca	do	que	os
primeiros	quatro	séculos	nos	contam	sobre	Maria	Madalena.
Gostaria	de	agradecer	a	todos	os	que	ajudaram	a	escrever	este	livro.	Tais
colaborações	abrangeram	desde	as	expressões	de	interesse	até	os	comentários
críticos	no	texto	e	foram	indispensáveis.
Agradeço	particularmente	à	Igreja	Reformada	Alemã	de	Ouderkerk	aan	de
Amstel,	que	possibilitou	a	elaboração	deste	livro.
Os	membros	da	igreja	me	apoiaram	como	sua	ministra	e	então	pude	dedicar	três
meses	à	pesquisa	sobre	Maria	Madalena.	Agradeço	muito	a	este	apoio.
O	texto	a	seguir	é	significativo	para	qualquer	pessoa	que	se	interesse	por	Maria
Madalena,	qualquer	que	seja	a	razão.	Foi	escrito	em	função	do	desejo	de
aprender	mais	sobre	o	significado	de	Jesus	de	um	novo	modo,	por	intermédio	de
Maria	Madalena.
Esther	A.	de	Bóer
Esther	de	Bóer
Junho	1993.	Em	Vézelay,	na	França,	pela	terceira	vez,	no	locai	de	peregrinação
medieval	à	basílica	de	Maria	Madalena.	No	vale,	olhe	para	cima	e	veja	a	cidade
na	montanha	alta.	Suba	à	basílicc	como	os	peregrinos:	cansados,	esperançosos.
Entre	e	deixe-se	enle-var	pela	obscuridade	do	visual	impressionista.	Olhe	para
cima.	Sinte	e	aceite	convite	de	Cristo	para	seguir	além	​	da	obscuridade	pare	a
luz.	A	unidade	delineada	ao	longo	do	percurso	surpreende	pele	efeito	de	luzes
através	da	nave	alta.	O	Todo	sabe	que	a	unidade	í	bem-vinda,	não	só	por	um
único	caminho.
E	então,	um	pouco	antes	de	alcançar	a	luz,	a	descida	à	cripta	escura	como	uma
caverna:	luzes	de	velas	brilham	sobre	o	que	devi	ter	sido	Maria	Madalena.
Silêncio	de	morte.	“Deus,	deixe-me	ficai	aqui.”	Mas	se	prepare.	Ascenda
novamente.	Brilhando,	adian	tando-se	à	luz,	antes	do	altar,	encontre	os	dizeres:
Abençoada	seja	Maria	Madalena,
que	foi	redimida	dos	7	demónios.
Rogue	a	Jesus	por	nós,	para	que	ele	nos	liberte	do	que	nos	mantém	presos,	longe
dele,
a	fonte	do	amor	e	perdão.
Você,	que	escolheu	a	melhor	parte,
ouvindo	as	palavras	de	Deus,
rogue	a	Jesus	por	nós,
pois	seu	mundo	pode	nos	libertar	das	mentiras	e	escuridão.
Você,	que	escolheu	ser	a	primeira	testemunha	de	Jesus	Cristo	livre	das	algemas
da	morte,	rogue	a	Jesus	por	nós
para	que	possamos	viver	em	abundância
na	irmandade	do
Pai,	Filho	e	Espírito	Santo.
Além	do	Mito
Alguns	anos	atrás,	quando	estava	estudando	teologia	na	Univer-idade	Livre	de
Amsterdã,	descobri	uma	coisa	muito	importante.	Naquela	época,	eu	tentava	me
reconciliar	com	a	tradição	de	fé	na	qual	os	-lomes	masculinos	dominavam:
Abraão,	Moisés,	David,	Isaías,	Pedro,	‘aulo.	Augusto,	Anselmo,	Lutero,
Calvino,	onde	não	parecia	haver	muitas	mulheres.	O	grupo	feminino	da	nossa
faculdade	reivindicava	yae	nosso	estudo	apresentasse	um	outro	lado	da	imagem
e,	conse-yientemente,	preparou	uma	lista	de	leitura	extra	para	cada	exame;	mas,
ao	final,	não	havia	mais	que	busca	minuciosa	acerca	do	assunto.
Ou	existiria	mais?
A	bibliografia	que	estudava	para	prestar	um	exame	no	verão	de	1982	continha	o
livro	de	Elaine	Pageis	Os	Evangelhos	Gnósticos.
Neste	livro,	ela	descrevia	a	origem	da	tradição	dos	primórdios	da	igreja	baseada
em	escritos	que	foram	encontrados	em	1945,	perto	de	Nag	Hammadi,	no	Egito.
Na	introdução,	ela	dizia:	“Em	1896,	um	egiptólogo	alemão…comprou	no	Cairo
um	manuscrito	que,	para	sua	surpresa,	continha	o	Evangelho	de	Maria
(Madalena).”	(1)	Evangelho	de	Maria?	Eu	sabia	que	na	Bíblia	os	evangelhos
eram	atribuídos	a	Mateus,	Marcos,	Lucas	e	João.	Eu	também	sabia	que	havia
outros	evangelhos	fora	da	Bíblia,	entretanto	os	mesmos	eram	atribuídos	a	Pedro,
Tomás,	Tiago,Filipe	e	Judas.	Fiquei	tão	maravilhada	que	este	fato	começou	a
determinar	a	direção	de	meus	estudos.	Eu	queria	ler	o	evangelho	de	Maria	na
linguagem	original.
Queria	poder	entendê-lo	e	ordená-lo.	Inicialmente,	estava	apenas	interessada	no
Evangelho	de	Maria	mas,	depois,	fiquei	interessada	na	figura	de	Maria
Madalena.	Demonstrei	que	não	era	somente	eu	que	estava	consciente	da
existência	do	evangelho.	Os	Evangelhos	Gnósticos	foram	traduzidos	para	o
holandês	em	1980	e	se	tomaram	um	sucesso.	Surgiram	artigos	e	estudos	de	fim
de	semana	sobre	Esther	de	Bóer
eles.	Era	um	marco	tanto	para	mim	como	para	as	outras	pessoas.	At’
então,	Maria	Madalena	não	significava	muito	para	mim.	Ela	fazia	su	parte	na
semana	santa,	mas	isso	era	tudo.	Entretanto,	com	o	passai	dos	séculos,	a	imagem
dela	parecia	ter	adquirido	importância	e	inspi-rou	muitas	pessoas	ao
arrependimento,	à	conversão,	ao	embarque	nc	caminho	místico	que	leva	a	Deus,
a	escrever	poesias,	peças	e	novelas	e	a	pintar	quadros	relativos	a	questões
sociais.	Nos	estudos	de	fim	de	semana,	descobrimos	que,	no	decorrer	da	história,
Maria	Madalene	foi	muito	popular;	mas	que	o	interesse	estava	mais	voltado	para
sue	sexualidade	que	para	seu	testemunho.
Todavia,	Maria	Madalena	deve	ter	tido	muito	o	que	contar.	Eli	seguiu	Jesus
desde	o	começo	do	seu	trabalho.	E	estava	entre	a;	poucas	pessoas	que
participaram	da	crucificação	e	do	enterro	d(
Cristo.	Ela	foi	a	primeira	a	proclamar	sua	ressurreição.
Entretanto,	Maria	Madalena	passou	para	a	história,	acima	d(
tudo,	como	uma	mulher	atraente	e	pecadora	que,	graças	a	Jesus,	s’
arrependeu	e	foi	convertida.	Este	retrato	levou	muitas	pessoas	escrever	sobre	ela:
Victor	Saxer,	Marjorie	Malvem	e	Susan	Haskin;	realizaram	um	trabalho	pioneiro
neste	sentido/2’	Entretanto,	até	aqui	muito	pouca	atenção	foi	dada	às	primeiras
tradições	sobre	Mari;	Madalena;	mas,	como	se	trata	de	testemunho	de	grande
importância	o	registro	cuidadoso	do	que	chegou	a	ser	descoberto	sobre	ela	n;
antiguidade	é	valioso.	Este	é	meu	objetivo	neste	livro.01	É	uma	pés	quisa	sobre
quem	realmente	foi	Maria	Madalena.	É	uma	pesquis;	sobre	sua	história.
Os	evangelhos	do	Novo	Testamento	são	as	fontes	primária;	que	mencionam
Maria	Madalena.	Ela	também	aparece	nos	escrito;	dos	padres	da	igreja.	Durante
os	últimos	duzentos	anos,	outros	texto;	reveladores	sobre	Maria	Madalena	foram
descobertos,	embora	nã(
tenham	sido	ainda	incorporados	à	tradição.	O	Evangelho	de	Maria	<
um	deles.
Antes	de	começarmos	a	pesquisa	na	antiguidade,	precisamo;	levar	em	conta	a
imagem	de	Maria	Madalena	que	apareceu	no	de	correr	dos	tempos,
principalmente	a	imagem	mais	comum	da	Idad<
Média:	a	imagem	da	irmã	de	Marta	e	Lázaro,	a	mulher	decaída,	;	pecadora	que,
por	intermédio	de	Jesus,	pôde	se	levantar	novamenti	e	se	penitenciar	por	toda	a
vida.	Esta	imagem	continua	forte	ati	hoje.	É	importante	que	nos	libertemos	desta
imagem	para	podermo	ler	os	textos	antigos	com	o	menor	preconceito	possível.
Maria	Madalena
Maria	Madalena:	Penitente
Na	Idade	Média,	Maria	Madalena	era	tida	em	alta	considera-
‘	cão,	em	tal	grau	que	rivalizava	com	Maria,	a	mãe	de	Jesus,	em
popularidade.14’
Depois	de	Jerusalém,	Roma	e	Santiago	de	Compostela,	a	cidade	de	Vézelay,	na
França,	era	o	local	de	peregrinação	mais	importante	da	cristandade.	A	faasfïïca
cfe	Vézelay,	uma	esplêndida,	constru-
ção	romântica,	guarda	as	relíquias	de	Maria	Madalena	que	atraiu	i	peregrinos	por
séculos/5’
t	Ainda	hoje	a	basílica	é	um	grande	chamariz.	Nem	tanto	pelas	relíquias,	mas,
acima	de	tudo,	pelo	surpreendente	jogo	de	luzes	e	sombras.	O	visual	da	igreja	é
sombrio.	A	iluminação	difunde-se	ao	redor	do	altar.	Além	disso,	no	soistício,	em
junho,	a	luz	incide	de	determinada	maneira	causando	a	impressão	de	que	se	está
caminhando	da	sombra	para	luz,	quase	como	os	passos	do	Cristo	Ressuscitado.
Então,	no	corredor,	as	luzes	concentram-se	em	percursos	irregulares,	como	se
fossem	muitas	pedras	por	meio	das	quais	é	possível	cruzar	o	rio	da	morte.
Atualmente	há	uma	estátua	de	Maria	Madalena	na	igreja,	que	não	existia	na
Idade	Média.	A	imagem	deveria	estar	no	alto	da	entrada	principal	da	basílica.	As
estátuas	não	são	necessárias	no	pré-
dio.	O	jogo	de	luzes	envolve	os	peregrinos	na	história	de	Maria	‘Madalena,	uma
história	obscura	que,	por	causa	de	Jesus,	pôde	tomar-se	uma	história	de	luzes,	a
história	de	Maria	Madalena,	a	penitente.
:?	Antes	da	conversão,	Maria	Madalena,	a	irmã	de	Marta	e	Lázaro,	levava	uma
vida	distante	da	piedade,	negligenciando	a	moralidade.
Ji-dito	que	ela	era	prostituta.	Os	sete	pecados	capitais	a	dominavam:	içigulho,
avareza,	gula,	luxúria,	preguiça,	inveja	e	a	raiva.	Como	aconteceu?	De	acordo
com	algumas	estórias,	ela	foi	corrompida	pela	sua	’”ópria	riqueza	e	beleza.	De
acordo	com	outras,	ela	se	casara	em	uiaã.	Seu	marido	recém-casado,	João,	ficou
tão	impressionado	com	milagre	da	transformação	da	água	em	vinho	que
abandonou	a	es-
>sa	para	seguir	Jesus.	Amargamente	desapontada,	Maria	deixou	a	dade	e	foi	para
Jerusalém,	onde	foi	de	mal	a	pior.
,	Mas	Jesus	transformou	este	quadro.	Finalmente	ela	desistiu	da	ida	mundana,
ajoelhou-se	em	público	diante	de	Jesus,	lavou-lhe	os	és	com	lágrimas	de
arrependimento	e	os	ungiu	com	óleo	perfumado.
	
16	Esther	de	Bóer
A	partir	daquele	momento,	ela	o	apoiou	em	tudo	que	foi	possível,	tornando-se
uma	seguidora	devotada	e	ainda	fornecendo	suporte	fi-nanceiro	para	Jesus	e	seus
discípulos.
Quando	os	doze	apóstolos	abandonaram	Jesus,	ela	permaneceu	fiel	a	ele.	Seu
desvelo	foi	recompensado	na	manhã	de	Páscoa.
Ela	teve	a	honra	de	ser	a	primeira	testemunha	da	ressurreição.	Ela	ainda
conseguiu	escapar	da	posterior	perseguição	aos	cristãos	e	foi	para	a	França,
levando	os	evangelhos.	Lá,	ela	passou	os	últimos	anos	de	sua	vida	em	uma
caverna,	dedicando-se	inteiramente	à	devoção,	sendo	alimentada	pêlos	anjos	que
finalmente	a	acompanharam	ao	céu.
Significado
Maria	Madalena	foi	representada	em	uma	pintura	italiana	do	décimo	terceiro
século	como	uma	reclusa:	sua	nudez	coberta	por	cabelos	longos,	oito	camafeus
ao	fundo	relatando	a	história	de	sua	vida.	No	primeiro	plano,	Maria	Madalena
eleva	uma	mão	em	sinal	de	bênção.	Com	a	outra,	ela	exibe	um	texto	aberto	no
qual	está	escrito:	Não	se	desespere,	você	que	é	propenso	ao	pecado,	mas,	por
meu	exemplo,	restabeleça	sua	relação	com	Deus.^
Este	é	o	significado	da	Santa	Maria	Madalena.	Ela	personifica	o	chamado	à
conversão.	A	história	de	sua	vida	mostra	aos	crentes	que	há	graças	na	união	com
Deus,	mesmo	para	os	que	estavam	afastados	dele.	Arrependimento	e	desvelo
podem	trazer	os	fiéis	das	profundezas	às	alturas.
Além	da	penitência	e	desvelo,	a	devoção	de	Maria	Madalena	também	se	tomou
um	modelo	histórico.	Desde	sua	conversão	é	dito	que	ela	bebeu	as	palavras	de
Jesus	sem	dar	muita	importância	às	necessidades	diárias.	Deste	modo,	ela
escolheu	a	melhor	parte,	como	enfatizou	Jesus,	comparando-a	com	a	irmã,	que
chamou	sua	atenção	para	as	tarefas	domésticas	femininas.	“A	que	não	lhe	será
tirada.”
Mesmo	quando	Jesus	foi	crucificado	e	enterrado,	ela	não	o	deixou	partir.	Seu
posterior	jejum	e	orações	completam	o	quadro:	Maria	Madalena	dedicou-se	à
uma	vida	de	contemplação	e	ascetismo	e	simboliza	o	modo	de	tomar-se	um	com
Cristo.	Ela	é	a	noiva	ao	lado	do	noivo.
Maria	Madalena	17
Maria	Madalena	significou	muito	para	Margery	Kempe	no	sé-
;ulo	quinze	e	para	Catarina	de	Sena	no	século	quatorze.	A	primeira	i	conhecida
como	mística:	as	descrições	de	suas	visões	foram	pre-ervadas.	A	última,
respeitada	por	seu	estilo	de	vida	ascético,	pôde	;star	ao	lado	de	reis	e	papas	com
sua	sabedoria	e	devoção.	Ambas	mderam	defender	suas	escolhas	“não-
femininas”	tendo	Maria	Madalena	como	modelo.	Elas	buscavam	a	mesma
devoção	e	dedicação	completa	ao	Senhor.(7)
O	festival	de	Santa	Maria	Madalena	ocorre	em	22	de	julho,	que	‘;	o	dia	apontado
no	calendário	sacro	como	data	da	comemoração.
Qualquer	um	que	abrir	o	Missal	Romano	antes	do	Segundo	Concílio	Vaticano	e
pesquisar	a	missa	dedicada	a	ela	verá	inicialmente,	ao	ado	de	seu	nome,	a
palavra	“penitente”.	Esta	designação,revelada	ia	leitura	do	evangelho	do	dia,	é
extraída	do	Evangelho	de	Lucas,	no	uai	a	mulher,	geralmente	conhecida	como
pecadora,	lavou	os	pés	e	Jesus	com	suas	lágrimas,	beijou-os	e	ungiu-os	com
preciosa	mirra	;Lucas	7,36-50).	Este	gesto	é	interpretado	como	arrependimento
de	​>eus	muitos	pecados.
A	outra	leitura	está	no	Cântico	dos	Cânticos	(3,2-5;	8,6-7),	que	iescreve	a	busca
do	verdadeiro	amado:
Vou	levantar-me	e	percorrer	a	cidade,	as	ruas	e	as	pra-
ças	em	busca	daquele	que	meu	coração	ama	(3,2).
A	mulher	empreende	a	busca	no	meio	da	noite.	Apesar	dos	guardas	da	cidade	a
terem	desencorajado,	ela	persistia.	Ao	encontrá-
lo,	ela	disse:
Põe	como	um	selo	sobre	o	teu	coração,	como	um	selo	sobre	os	teus	braços;	(8,6).
Conjuro-vos,	ó	filhas	de	Jerusalém,	….não	despertei	nem	perturbeis	o	amor,
antes	que	ele	o	queira	(3,5).
	
18	Esther	de	Bóer
Portanto,	após	penitência	e	arrependimento,	o	verdadeiro	desvelo	afetuoso	de
Maria	Madalena	é	enfatizado.	Na	prece	silêncios;	do	sacerdote	no	ofertório,	os
dois	aparecem	juntos	e	a	penitênci;	dela	é	chamada	de	“seu	serviço	generoso	de
amor”.
O	texto	dos	Salmos	nos	cânticos	de	entrada	da	missa	chama	os	abençoados	que
são	inocentes	de	acordo	com	a	lei	do	Senhor	(119,1).
Os	textos	dos	Salmos	no	ofertório	e	a	comunhão	celebram	a	justiça	do	rei	e	o
esplendor	da	rainha,	com	quem	Maria	Madalena	é	identificada	(45,10;	119,121-
2,128).
E	os	Salmos,	antes	do	Evangelho,	dizem:
Amais	a	justiça	e	detestais	o	mal,	pelo	que	o	Senhor,	vosso	Deus,	vos	ungiu	com
óleo	de	alegria	(45,8).
Por	“vosso	Deus”,	o	Missal	significa	Jesus.	A	unção	pela	mulher	que	era
pecadora,	Maria	Madalena,	é,	deste	modo,	interpretada	como	um	ato	do	próprio
Deus.
Concluindo	a	missa,	segue-se	a	prece:
Possamos…	pela	intercessão	da	abençoada	Maria	Madalena,	libertar-nos	de
todos	os	males	m	Abençoada	Maria	Madalena.	Em	seu	festival	ela	é	celebrada
como	uma	penitente.	É	a	notória	pecadora	que	aprende	a	conhecer	c	verdadeiro
amor,	uma	rainha	esplêndida	ao	lado	do	rei	da	justiça	Além	de	Maria,	mãe	de
Jesus,	Madalena	é	a	única	mulher	santa	que	tem	um	credo	em	sua	própria	missa,
pois	sua	missão	na	manhã	de	Páscoa	tem	caráter	apostólico.	Ela	é	vista	como
uma	apóstola	ante;	dos	apóstolos.(9)
Maria	Madalena	foi	o	tema	favorito	dos	artistas	durante	sécu	los.	Sua	história	a
transformou	em	uma	figura	colorida	e	dramática	Erotismo,	tragédia	e	poder
estão	juntos	nesta	única	pessoa,	tão	pertc	de	Cristo.
Na	arte	pictórica,	Maria	Madalena	pode	ser	conhecida	normal	mente	pelo	jarro
de	unguento	que	carrega.	Normalmente,	uma	Bi	blia,	um	crânio	e	um	crucifixo
podem	ser	encontrados	próximos	;	Maria	Madalena	19
;la.	Algumas	vezes,	alguém	a	representa	como	uma	jovem,	uma	garota	.asciva
olhando	para	o	céu,	e	algumas	vezes	como	uma	mulher	defi-
“lhando	e	desolada.	As	roupas	podem	ser	ricas	ou	ela	pode	ser	representada
somente	com	os	longos	cabelos	cobrindo	o	corpo.	Os	temas	populares	de	sua
vida	são	sua	existência	pecaminosa,	a	unção	dos	pés	lê	Jesus,	sua	presença	na
crucificação,	o	encontro	com	o	Senhor	ressuscitado,	sua	posterior	existência
monástica	e	as	boas-vindas	no	;éu.
Os	mesmos	temas	aparecem	na	literatura	de	maneira	mais	completa.	Até	mesmo
os	escritores	apaixonados	por	observar	mais	profundamente	o	relacionamento
entre	Jesus	e	Maria	Madalena,	como,	por	exemplo,	Jacobus	de	Voragine	(décimo
terceiro	século)	escreve	sm	sua	coleção	A	lenda	Dourada	(The	Golden	Legend):
Ele	extraiu	sete	espíritos	demoníacos	dela	e	a	fez	bri-lhar	através	de	seu	amor.
Ele	a	tornou	sua	amiga	especial	e	a	teve	como	sua	anfitriã	e	administradora
quando	estavam	viajando…	Se	ele	a	via	chorando,	chorava	também.	Por	amor	a
ela,	levantou	seu	irmão	Lázaro	da	morte	e	curou	a	enfermidade	do	sangue	da
qual	Marta,	sua	irmã,	sofreu	por	sete	anos/‘01
Dois	exemplos	contemporâneos	são	os	livros	de	Luise	Rinser	e	Nikos
Kazantzakis.	O	último	retrata	Maria	Madalena	como	ameaça	sexual	ao	chamado
de	Jesus	e	o	primeiro	a	descreve	como	uma	mulher	decidida	na	busca	da	verdade
na	vida	que	encontrou	um	guia	em	Jesus.(11)
Trabalho	social
Assim	sendo,	Maria	Madalena	deixou	traços	na	instrução	religiosa,	misticismo,
liturgia,	arte	pictórica	e	literatura.	Mas,	isto	não	é	tudo.	Ela	também	pode	ser
encontrada	na	vida	social.	Na	Idade	Média	ela	foi	a	santa	padroeira	dos
vinhedos,	jardineiros,	farmacêuticos,	fabricantes	de	luvas,	perfumes,	chapéus,
tecelões,	marinheiros	e	depois	também	dos	ciganos.	Acima	de	tudo,	a	história	da
vida	da	santa	é	a	força	motivadora	para	proteção	de	prostitutas	e	todos	aqueles
que,	devido	à	sua	posição	social	inferior,	podem	sucumbir	à	prostituição.
Esther	de	Bóer
Este	cuidado	já	foi	praticado	na	Idade	Média	pela	ordem	das	Penitentes	de	Santa
Maria	Madalena.	A	ordem	foi	formada	visando	a	realizar	o	trabalho	de
conversão	de	mulheres	e	jovens	que	correrr	perigos	morais.	Os	conventos	desta
ordem	dedicam-se	ao	ensino.
Durante	os	séculos	dezoito	e	dezenove	surgiram	por	toda	í	Europa	casas,
conventos	e	instituições	com	o	nome	de	Maria	Madalena	que	foram	importantes
para	o	aperfeiçoamento	de	muitas	mulheres	que	não	tinham	outra	oportunidade
de	viver	a	não	ser	explo-rando	a	prostituição.	Um	exemplo	moderno	é	o	Centro
Maria	Madalena	em	Seul,	na	Coreia	do	Sul,	que	está	ajudando	milhares	de
jovens	que	trabalham	na	indústria	do	turismo	sexual	a	construir	uma	nova
existência.0^
Atualmente	Maria	Madalena	é	cada	vez	mais	vista	como	c	mulher	amiga	de
Jesus.
É	importante	notar	que	a	“Fundação	Philothea”	para	mulheres	que	têm	ou
tiveram	relacionamento	com	padres	mudou	seu	nome	recentemente	para
“Fundação	Magdala”03’.	“Philothea”	significï	amigo	de	Deus.
A	imagem	fragmentada
Maria	Madalena,	a	mulher	caída	que,	com	a	ajuda	de	Jesus	pode	levantar-se
novamente,	a	irmã	de	Marta	e	Lázaro,	a	pecador;	que	ungiu	os	pés	de	Jesus.	Esta
é	a	imagem	dominante	na	eclesiás	tica	ocidental.
Entretanto,	não	é	mais	que	uma	imagem.	É	a	imagem	que	o;	indivíduos	puderam
desafiar	no	curso	da	história	e	que,	não	obstante	mantém-se.	Somente	neste
século	esta	imagem	começou	a	se	dês	fazer.
Quando	ocorreu	a	revisão	dos	santos	durante	o	Segundo	Con	cílio	do	Vaticano
(1969),	foi	dito	sobre	Maria	Madalena	que	o	di,	dedicado	a	ela	celebrava
somente	a	pessoa	para	quem	Cristo	apare	céu	após	a	ressurreição,	sem	relacioná-
la	à	Santa	Marta	ou	à	mulhe	que	era	uma	pecadora	e	cujos	pecados	foram
perdoados	pelo	Se	nhor.c^
Ao	olhar	para	os	fragmentos	do	que	foi	um	dia	Maria	Madale	na,	a	penitente,
surgem	as	questões:
Maria	Madalena:	não	é	a	pecadora	convertida?
Não	é	a	Maria	que	esteve	atenta	às	palavras	de	Jesus	em	con	traste	com	sua
ocupada	irmã	Marta?
Maria	Madalena
Como	surgiu	esta	imagem	corrompida?
E,	neste	caso,	quem	foi	Maria	Madalena?
O	Retrato	Desconsiderado
No	curso	da	história,	a	imagem	de	Maria	Madalena	é	antiga	e	“reqüentemente
criticada	pelas	pessoas	engajadas	no	estudo	dos	de-alhes	bíblicos.	Em	1517,	foi	a
vez	de	Jacques	Lefèvre	d’Étaples.
daquela	época,	este	humanista	protestante	publicou	o	livro	De	Mu-da	Magdalena
et	triduo	Christi	disceptatione	(Sobre	Maria	Ma-ialena	e	a	partida	de	Cristo	após
três	dias),	em	resposta	às	[uestões	sobre	a	primeira	discípula.	Neste	livro,	ele
defende	a	se-
çuinte	posição:	a	mulher	que	era	a	pecadora,	a	irmã	de	Marta	e	^aria	Madalena
eram	três	figuras	bíblicas	distintas.	Em	1521	ele	foi	—ondenado.	A	faculdade
teológica	de	Paris	sentenciou	que	os	ensi-lamentos	de	Lefèvre	eram
considerados	perigosos051.	No	entanto,	ssta	tese	encontrou	eco.
Em	1773,	o	beneditino	exegeta	e	historiador	Dom	Augustine	1’almet	escreveu
sua	Dissertação	sobre	as	Três	Marias	(Disser-ation	on	the	Three	Marys).	No
mesmo	século,	surgiu	a	necessi-lade	de	uma	celebração	litúrgica	para	a	Maria
Madalena	bíblica.
‘retendia-se	reservar	o	festival	de	22	de	julho	exclusivamente	para	alaria
Madalena	e	venerar	Maria,	a	irmã	de	Marta,	em	outra	data.
2sta	reforma	não	foi	aprovada	oficialmente.061
Em	1935,	Peter	Ketter	reposicionou	a	Maria	Madalena	bíblica.
Sm	seu	livro	A	Questão	de	Madalena	(The	Magdalene	Question),	;le	mostrou
que	as	fantasiasformadas	sobre	Maria	Madalena	eram	njustas	com	relação	aos
detalhes	bíblicos	existentes	sobre	ela.07’
Atualmente	esta	visão	é	compartilhada	por	muitas	pessoas	e,	lesde	o	Segundo
Concílio	do	Vaticano,	chegou	até	a	influenciar	o	;alendário	oficial	de	santos.
Discussão
Tudo	isto	não	quer	dizer	que	a	imagem	de	Maria	Madalena	que	iparece	não	está
apoiada	em	detalhes	bíblicos.	A	discussão	desenca-leada	refere-se	à	questão
sobre	quais	seriam	estes	detalhes	bíblicos.
Esther	de	Bóer
O	nome	de	Maria	aparece	em	diferentes	ocasiões	no	nov(
Testamento	e	é	normalmente	discriminado	de	maneira	precisa	par.
determinar	a	pessoa	à	qual	se	refere:	por	exemplo,	como	Maria,	;	mãe	de	Tiago	e
José,	Maria	de	Cléofas,	Maria	irmã	de	Marta,	Mari;	de	Magdala.	Apesar	destas
indicações	mais	precisas,	nem	sempre	i	fácil	distinguir	entre	as	diferentes
Marias.	O	que	pensamos	de	Ma	ria,	mãe	de	Tiago,	o	Menor,	e	de	José,	Maria	de
José	e	Maria	de	Tiagc	(Marcos	15,20,47;	16,1)?	Trata-se	de	uma	e	da	mesma
pessoa?
Maria	de	Magdala	é	algumas	vezes	nomeada	juntamente	con	várias	outras
Marias	e,	por	esta	razão,	não	pode	ser	identificad;	como	sendo	uma	delas.
Entretanto,	seu	nome	nunca	é	mencionado	nc	mesmo	instante	que	o	da	irmã	de
Marta.	Isto	significa	que,	a	priori,	não	pode	ser	excluída	a	possibilidade	de	que
Maria	de	Magdala	e	Maria,	irmã	de	Marta,	sejam	uma	e	a	mesma	pessoa.	É
preciso	ter	cuidado.
Além	do	mais,	em	muitas	histórias	do	Novo	Testamento,	nas	quais	as	mulheres
desempenham	papéis	principais,	os	nomes	das	mesmas	não	são	citados.
Conseqüentemente,	qualquer	pessoa	era	busca	da	identidade	de	uma	determinada
mulher	pode,	possivelmente,	referir-se	a	estas	histórias.
A	história	de	Maria	Madalena,	a	penitente,	é	baseada	na	combinação	dos
seguintes	detalhes	bíblicos:	O	evangelho	de	São	João	descreve	Maria,	a	irmã	de
Marta	com	as	seguintes	palavras:
Maria	era	quem	ungira	o	Senhor	com	o	óleo	perfumado	e	lhe	enxugara	os	pés
com	os	seus	cabelos	(João	11,2).1‘8
Em	Lucas,	é	a	“mulher	pecadora	da	cidade”	que	enxugou	os	pés	de	Jesus	com	os
cabelos	e	ungiu	os	mesmos	com	perfume	(Lucas	7,37).	Portanto,	a	irmã	de	Marta
é	identificada	com	a	mulher	que	erz	a	pecadora.	Logo	após,	Lucas	diz:
Maria,	chamada	Madalena,	da	qual	tinham	saído	sete	demónios	(Lucas	8,2).
Ele	informa	que	ela	e	outras	mulheres	que	foram	curadas	an-davam	pelas
cidades	e	aldeias	com	Jesus	e	seus	discípulos.	(Lucas	8,1-3).	Os	sete	espíritos
demoníacos	são	interpretados	como	pecados	de	uma	mulher	que	era	uma
pecadora	na	história	anterior.	Por-Maria	Madalena
anto,	Maria	Madalena	pode	ser	a	mulher	que	era	uma	pecadora	e	[ue	ungiu	Jesus
e,	ao	mesmo	tempo,	a	irmã	de	Marta	que	o	ungiu.
A	mulher	citada	por	Lucas,	uma	pecadora	“que	tem	demons-trado	muito
amor”(Lucas	7,47)	é	admitida	como	sendo	a	samaritana	citada	em	João	4,	que
teve	muitos	maridos	e	que	proclamou	Jesus	como	o	Messias,	e	também	com	a
mulher	adúltera	em	João	8,1-11,	salva	de	ser	apedrejada	por	Jesus.	“Vai	e	não
tornes	a	pecar”,	disse-lhe	Jesus.
Seu	novo	estilo	de	vida	é	então	descrito	novamente	em	Lucas	10,	38-42,	fala	de
Maria,	irmã	de	Marta,	“que	se	assentou	aos	pés	do	Senhor	para	ouvi-lo	falar”.
De	acordo	com	Jesus,	agindo	deste	modo,	“Maria	escolheu	a	boa	parte,	a	que	lhe
não	será	tirada.”
João	declara	sobre	o	amor	de	Jesus	por	Maria:	“Ora,	Jesus	amava	Marta,	Maria,
sua	irmã,	e	Lázaro”	(João	11,5).
O	enigma	da	questão	sempre	foi	se	estes	dados	bíblicos	são	todos	relacionados
com	uma	pessoa.
Estes	são	os	três	vínculos	frágeis	da	cadeia	de	dados	bíblicos	e	aplicabilidade	à
Maria	Madalena.	Em	primeiro	lugar,	o	uso	de	textos	de	um	Evangelho	para
responder	a	questões	levantadas	por	outro.
Em	segundo	lugar,	a	interpretação	dos	sete	espíritos	demoníacos	como	pecados
e,	em	terceiro	lugar,	a	identificação	de	Maria,	irmã	de	Marta,	que	vive	em
Betânia,	próximo	à	Jerusalém,	com	a	Maria	que	recebeu	o	nome	de	Madalena
devido	ao	local	chamado	Magdala,	perto	do	Mar	da	Galiléia.09’
Oriente	e	Ocidente
Os	exegetas	modernos	não	deixam	dúvidas	de	que	as	exegeses	bíblicas,	as	quais
conduziram	a	história	de	Maria	Madalena,	são	ilegí-
timas.
Os	que	argumentam	pela	imagem	clássica	formada	ao	redor	de	Maria	Madalena
devem	reconhecer	que	o	Novo	Testamento	não	indica	claramente	a	identificação
de	Maria	Madalena	com	a	irmã	de	Marta	e	com	a	mulher	que	era	uma	pecadora,
que	ungiu	os	pés	de	Jesus.
Entretanto,	eles	diriam,	a	tradição	antiga	faz	essa	identificação.
Em	1922,	Uirich	Holzmeister	publicou	uma	investigação	inte-ressante.	Ele
demonstrou	que	até	o	quinto	século	não	havia	tradição	específica	sobre	a
identificação.	Os	teólogos	do	cristianismo	primiti-Esther	de	Bóer
vo	ou	não	se	importavam	com	o	problema	ou	partiam	das	vária?
possibilidades:	três	mulheres,	duas	mulheres	ou	uma	mulher.(20)	Do	quinto
século	em	diante,	ocorreu	uma	alteração	na	tradição	eclesiástica.	Na	tradição
oriental,	Maria	Madalena	continuou	sendc	a	figura	que	era	na	Bíblia:	a
testemunha	da	ressurreição.	Ela	não	(
celebrada	como	uma	“penitente”,	mas	como	a	“portadora	da	unção’
(não	a	unção	para	ungir	os	pés	ou	a	cabeça,	mas	a	unção	que	significa	unção	do
corpo	morto	de	Jesus)	e	“como	um	apóstolo”120.	Diversos	padres	da	tradição
oriental	a	descrevem	claramente	come	uma	discípula	e	apóstola,	embora	ela	seja
mulher.	Assim,	Gregórk	de	Antioch	(sexto	século),	em	um	de	seus	sermões,	fez
com	qu	Cristo	dissesse	para	as	mulheres	na	tumba:	Proclame	aos	meus
discípulos	os	mistérios	que	vocês	viram.	Tornem-se	as	primeiras	professoras	dos
professores.	Pedro,	que	me	negou,	precisa	aprender	que	eu	posso	também
escolher	mulheres	como	apóstolas.‘221
Foi	a	tradição	ocidental	que	identificou	definitivamente	Maria	Madalena	com	a
mulher	que	era	a	pecadora	em	Lucas,	a	irmã	de	Marta,	e	a	tomou	a	“penitente”.
O	nome	que	é	mencionado	é	o	de	Gregório,	o	Magno	(séculc	sexto),	o	papa
conhecido,	entre	outras	coisas,	pela	forma	de	cante	que	leva	seu	nome,
gregoriano.	Ele	era	um	orador	popular.	Os	temas	importantes	que	ele	mais
abordava	eram	o	Juízo	Final	e	o	chamado	s	penitência.	Seus	sermões	sobre
Maria	Madalena	como	uma	penitente	por	excelência	tomaram-se	clássicos/231
A	caricatura	deliberada
Qualquer	um	que	ame	a	Maria	Madalena	bíblica	e	a	com	pare	com	a	Maria
Madalena	cristã	deve	ficar	muito	irritado	E,	para	começar,	eu	preciso	desabafar
esta	irritação	aqui	Assim	escreveu	Elisabeth	Moltrnann-Wendel	em	1980	no	co
meço	de	seu	capítulo	sobre	Maria	Madalena	em	As	Mulheres	pró	ximas	a	Jesus
(The	Women	around	Jesus).^	A	paixão	express;	nessas	palavras	pode	ser
facilmente	observada.
Na	Bíblia,	Maria	Madalena	é	a	primeira	testemunha	da	ressur	reição.	Entretanto,
o	que	caracteriza	a	Maria	Madalena	bíblica	tor	Maria	Madalena
ou-se	maior	e	oculto	do	ponto	de	vista	da	identificação	ocidental	da	laria	de
Magdala	com	a	mulher,	citada	por	Lucas,	como	sendo	uma	ecadora	e	a	irmã	de
Marta.
Na	formação	da	imagem	ocidental,	a	suposta	vida	de	pecadora	^e	Maria	surge
para	ser	enfatizada:	sua	conversão,	desvelo	e	sua	edicação.	Entretanto,	estas
facetas,	quase	sem	exceção,	são	deri-
/adas	da	mulher	citada	por	Lucas,	que	era	uma	pecadora	e	irmã	de	^larta.	O	fato
de	Maria	Madalena	ter	sido	a	primeira	testemunha	da	​essurreição	foi	eclipsado
por	esta	razão.
O	fato	de	Cristo	ter	aparecido	para	Maria	Madalena	é	inter-iretado	como	uma
recompensa	pela	fidelidade	dela	e,	como	ela	exe-utou	a	função	de	apóstola	antes
dos	últimos	apóstolos,	é	um	sinal	da	preciação	que	Jesus	tinha	por	ela.	A
ressurreição	tem	papel	incidental	ia	história	de	Maria	Madalena.	Sua	conversão	e
devoção	permane-
;em	no	centro.	A	descrição	enfatiza	a	sexualidade	dela.	Antes	do	incontro	com
Jesus,	ela	era	uma	imoral.	Depois	do	encontro,	ela	voltou	as	costas	para	aquele
tipo	de	vida.	O	fato	de	que	ela,	como	seguidora	de	Jesus	e	testemunha	da
ressurreição,	também	tinha	uma	história,	ficou	no	segundo	plano.	A	ênfase	na
sexualidade	suprimiu	seu	testemunho.
Susan	Haskins,	que	coletou	muito	material	sobre	Maria	Madalena,	e	o	publicou
em	1993,	escreveu:
E	então	a	transformação	de	Maria	Madalena	estava	completa.	Dafigura	do
evangelho	com	uma	função	ativa	como	arauto	da	Nova	Vida	​	a	Apóstola	antes
dos	Apóstolos	​	ela	tornou-se	a	prostituta	redimida	e	o	modelo	de	arrependimento
da	cristandade:	uma	figura	controlável,	uma	arma	efetiva	e	um	instrumento	de
propaganda	contra	as	demais	do	mesmo	sexo.125>
De	acordo	com	Haskins,	com	Maria	Madalena,	a	penitente,	a	‘greja	ocidental	da
Idade	Média	disputou	não	somente	a	sexualidade	leia,	como	também	a
sexualidade	de	todas	as	mulheres.	Nela,	a	igreja	ascética	rejeitou	tudo	que	tinha
a	ver	com	a	sexualidade.	As	mulheres	eram	a	personificação	desta	ideia.	Haskins
chegou	à	conclusão	de	que	a	identificação	de	Maria	Madalena	com	a	mulher	que
tara	a	pecadora	em	Lucas	e	a	irmã	de	Marta	é	um	engano	deliberado	das
exegeses	bíblicas.	A	imagem	de	Maria	Madalena	foi	delibera-Esther	de	Bóer
damente	adaptada	de	forma	que,	ao	invés	de	ser	a	mulher	que	proclamou	o
evangelho	da	Páscoa,	ela	se	tornou	a	mulher	que	serviu	como	modelo	funcional
para	uma	igreja	misógina.
Contra-Refonna
A	ira	de	Moltrnann-Wendel	é	compreensível	e	o	argumento	de	Haskins	é
atraente.	Entretanto,	como	as	exegeses	modernas	nã(
vêem	qualquer	razão	para	identificar	as	três	mulheres,	não	podemo;	assumir	que
as	exegeses	ocidentais	medievais	foram,	deliberadamente,	induzidas	a	erro.
Haskins	não	menciona	nenhum	escrito	medieval	que	suporte	sua	reivindicação.
Assim	sendo,	há	certos	ser	mões	de	Gregório,	o	Grande,	nos	quais	ele	enfatiza
Maria	Madalen;	como	penitente,	mas	não	há	nenhuma	bula	papal	na	qual	ele
aplique	este	fato	à	função	de	todas	as	mulheres	da	igreja.
Observando-se	a	tradição	eclesiástica	oriental,	também	não	si	nota	nenhuma
sugestão	direta	à	deliberada	caricatura	ocidental	di	Maria	Madalena,	dirigida	às
mulheres.	Também	nas	igrejas	da	tradi-
ção	oriental,	a	posição	das	mulheres	é	inexpressiva	ou	inativa.	O	fat(
de	que	o	oriente	associa	Maria	Madalena,	acima	de	tudo,	com	a	ressurreição	e
não,	como	no	ocidente,	com	a	sexualidade	e	penitência,	evidentemente	não	teve
nenhuma	influência	sobre	as	ideias	aqui/26’
Está	claro	que	atualmente	a	Maria	Madalena	bíblica	está	sendo	colocada	em
evidência.	Na	Alemanha	há	uma	organização	feminina	chamada	“Grupo	de
Maria	de	Magdala”	que	está	pressionando	para	obtenção	de	direitos	iguais	para
as	mulheres	na	igreja/27’	Mas	afinal,	será	que	Maria	foi	deliberadamente	banida
para	o	segunde	plano	na	Idade	Média	devido	à	sua	posição	de	mulher?	É
significativo	relembrar	o	momento	preciso	no	qual	Maria	Madalena	tomou-se	a
penitente?
Antes	do	Concílio	de	Trento	(1545-1563)	existiam	ainda	calendários	de	santos
que	não	conferiam	atributos	a	Maria	Madalena	01;	que	a	celebravam	como	a
primeira	testemunha	da	ressurreição	d(
Senhor.	O	dia	dedicado	a	ela	por	praticantes	locais	variava	de	un-lugar	para
outro/28’	Entretanto,	com	a	autoridade	do	Concílio,	forarr	produzidos	livros
litúrgicos	que	ligavam	toda	a	Igreja	Católica	Romana.	Deste	modo,	o	Missal
Romano	apareceu	em	1570.	Naquele	primeiro	missal	compulsório,	foi	dado	à
Maria	Madalena	o	epíteto	“pe-Maria	Madalena
litente”.	Neste	caso,	o	missal	não	estava	apenas	levando	em	conta	a	magem	de
Maria	Madalena	que	foi	disseminada	por	Gregório,	o	rrande,	e	outros.	Esta
imagem	também	surgiu	da	igreja	da	Contra-
.eforma.	Completamente	contra	a	Reforma	com	sua	doutrina	da	craca,	a	Contra-
Reforma	enfatizou	a	doutrina	de	penitência	e	méri-os.	Aqui,	Santa	Maria
Madalena	exerceu	um	importante	papel	como	i	penitente	e	como	a	pessoa	que
foi	favorecida	“por	excelência”/291
Popularidade
O	Segundo	Concílio	do	Vaticano	(1962-1965)	comissionou	uma	evisão	do
Missal	Romano	que	surgiu	em	1970.	A	leitura	do	Evangelho	do	dia	do	festival
de	Maria	Madalena,	na	edição	revisada	do	Missal,	é	João	20,1-18.	O	encontro	de
Maria	Madalena	com	o	Se-
.lhor	Ressuscitado	permanece	no	centro.	A	palavra	“penitente”	não	é	mais	usada.
A	explicação	adicional	dada	agora	pelo	Missal	é	que	Maria	Madalena	foi	uma
das	mulheres	que	seguiram	Jesus	em	suas	viagens.	Ela	estava	presente	quando
ele	morreu	e	foi	a	primeira	pessoa	a	vê-lo	após	a	ressurreição	(Marcos	16,9).	A
veneração	a	ela	espalhou-se	pela	igreja	ocidental	sobretudo	no	século	vinte.(30)
Portanto	pode-se	dizer	que	Maria	Madalena,	oficialmente,	deixou	de	ser	vista
como	penitente	há	precisamente	400	anos.
Quatrocentos	anos	é	bastante	tempo,	dado	que	em	cada	século	inúmeras	vozes	se
levantaram	publicamente	contra	a	imagem	de	Maria	Madalena,	a	penitente.	Terá
sido	o	poder	da	igreja	que	causou	isto?
Ou	seria	esta	simplesmente	a	razão?
Marjorie	Malvem.que	estudou	a	transformação	de	Maria	Madalena	acima	de
tudo	em	peças,	novelas	e	filmes,	acha	que,	enquanto	podemos	investigar	os
possíveis	propósitos	por	trás	da	imagem	de	Maria	Madalena,	a	penitente,	outra
questão	é	mais	importante:	Maria	Madalena	era	popular	em	seu	papel	de
pecadora	convertida.
Como	pôde	Maria	Madalena	tomar-se	tão	popular	assim?	Como	podemos
explicar	o	fato	de	que	a	pecadora	convertida	foi,	por	tanto	tempo,	estabelecida
contra	a	figura	bíblica	e	ainda	o	é?	Este	não	pode	ser	oficialmente	o	caso	no
Missal	Romano,	mas	certamente	ainda	o	é	na	devoção	popular.
Malvem	chega	à	conclusão	de	que	a	metamorfose	de	Maria	Madalena	não	é
caricatura	e	sim	mítica.	Um	mito	aparece	sempre	que	se	toma	impossível	ou
perigoso	falar	publicamente	sobre	certas	Esther	de	Bóer
ideias	religiosas	e	sociais,	ainda	que	exista	a	necessidade	de	cultivá-la	e
preservá-las.	A	imagem	de	Maria	Madalena	contém	reminiscência	das	deusas	do
amor,	sabedoria	e	fertilidade.	Sua	transformação	a	partir	da	Maria	Madalena
bíblica	vai	ao	encontro	do	antigo	desejo	de	feminino	em	contrapartida	à	deidade
masculina/30
Está	claro	que	a	imagem	ocidental	formada	ao	redor	de	Mariï	Madalena	levanta
muitas	questões	com	as	quais	devemos	lidar	e	que	eu	espero	que	sejam
discutidas	profundamente	em	outro	lugar.	Entretanto,	não	é	isto	que	estaremos
abordando	neste	livro.	Estamo	em	busca	de	quem	terá	sido	a	própria	Maria
Madalena,	na	busca	di	que	ela	poderia	nos	contar.
Estaremos	caminhando	na	antiguidade.	Tentaremos	deixar	par	trás	a	imagem	de
Maria	Madalena	que	temos	ou	que	possamos	ter	i	todos	os	sentimentos	que
acompanham	esta	imagem.	Depois,	pode	remos	começar	a	busca,	pêlos	textos	da
antiguidade,	com	a	meno	quantidade	de	pressupostos	possível.
Começaremos	com	os	escritos	antigos	que	mencionam	Mari	Madalena:	os	quatro
Evangelhos	bíblicos.	Observaremos	o	que	ele	nos	contam	no	próximo	capítulo.
Refletiremos	sobre	o	nome	de	Maria,	o	discipulado	de	mulheres,	as
circunstâncias	dos	eventos	da	crucificação	e	na	tumba	e	depois	permitiremos	que
cada	Evangelho	apresente	sua	versão	separadamente.
No	capítulo	III,	continuaremos	a	busca	em	textos	mais	recen	tes.	Primeiro,
observaremos	os	textos	concernentes	à	tradição	ecle	siástica	e	depois	o	que	foi
dito	pêlos	teólogos	do	cristianismo	primiti	vo.	Mas,	podemos	ainda	consultar
outras	fontes.	Durante	os	último	duzentos	anos,	foram	encontrados	no	deserto	do
Egito	textos	antigo	que	não	estão	preservados	pela	tradição	eclesiástica.	Tais
textos	fo	ram	deliberadamente	rejeitados	ou	lançados	ao	esquecimento	de	um;
maneira	ou	outra.	Como	esses	textos	foram	descobertos,	estamo	na	feliz	posição
de	termos	a	oportunidade	de	estudar	o	que	as	areia,	do	deserto	protegeram	do
esquecimento.
	
Maria	Madalena	29
Vamos	deixar	o	texto	mais	notável,	o	Evangelho	de	Maria,	para	o	capítulo	IV.	A
tradução	apresentada	naquele	capítulo	contém	o	texto	que	nós	conhecemos.
Levaremos	em	consideração	o	que	diferentes	estudiosos	disseram	sobre	o
Evangelho	e	investigaremos	o	que	pode	ser	importante	para	nós.
No	capítulo	V,	fecharemos	o	círculo	da	questão.	Observaremos	as	partes
compostas	de	peças	recortadas	encontradas	e	tenta-remos	reuni-las.	Desta	forma,
a	nova	imagem	de	Maria	Madalena	virá	à	tona:	além	do	mito.
	
As	Fontes	Primárias
sobre	Maria	Madalena
V(	você	aparecer	em	milhares	de	coisas	e,	em	milhares	de	esquinas,	vi	sua
sombra	desaparecer.
Por	milhares	de	noites,	ouvi	sua	voz.,
mas	agora,	nado	sozinho	entre	as	ondas
da	vida	turbulenta,	entre	as	rochas	afiadas,	e	sintotoda	confiança	desabando
sei	que	estou	longe	de	sua	Jerusalém.
(Theo	van	BaarenV”
\s	fontes	primárias	informam	sobre	um	período	particular	da	,e	Maria	Madalena.
Relatam	sua	presença	durante	a	crucifica-i	seu	mestre	e	que	ela	o	seguiu	desde
que	ele	começou	sua	ade	pública.	Informam	que	ela	era	uma	das	poucas	testemu-
le	seu	enterro	e	que,	no	terceiro	dia,	encontrou	a	tumba	vazia	e	sbeu	a	revelação.
Sm	resumo,	é	isto	que	a	Bíblia	nos	traz	sobre	ela.
3s	Evangelhos	do	Novo	Testamento	são	as	fontes	primárias	de	Ita	sobre	Maria
Madalena.	Estes	livros	datam	da	segunda	me-o	primeiro	século.	O	Evangelho	de
Marcos	é	o	mais	antigo,	a	​	surgiram	os	de	Mateus	e	Lucas	e	finalmente	o	de
João.	Estes	Solhos	informam	sobre	Jesus	de	Nazaré.	Com	cerca	de	trinta	ele	foi
para	Israel	e	gerou	altas	expectativas.	Finalmente,	ini-
;e	a	salvação	divina	das	pessoas	muito	atormentadas.	O	pró-
ïsus	poderia	ser	o	salvador	há	tanto	esperado.	Entretanto,	após	is	anos	ele	foi
considerado	culpado	de	blasfémia	pelas	autori-Esther	de	Bóer
dades	judaicas	e	pregado	na	cruz	pelas	forças	romanas	como	“rei	dos	judeus”.
É	dito	que	Jesus	nasceu	no	ano	6	antes	da	era	cristã	e	que	morreu	no	ano	30	da
era	cristã.
A	palavra	“evangelho”	significa	“boa	nova”.	Os	quatro	evangelhos	destinam-se	a
convencer	os	leitores	de	que	Jesus	era	de	fato	o	salvador	prometido:	em	hebreu,
o	Messias,	em	grego,	o	Cristo.	A	crucificação	de	Jesus	não	colocou	um	ponto
final	na	questão,	ac	contrário,	apenas	a	confirmou.	Ele	tinha	de	morrer.	Isto	foi
prognos-ticado.	Os	Evangelhos	terminam	com	avaliações	dos	eventos	após	a
morte	de	Jesus.	A	tumba	parecia	vazia	e	alguns	seguidores	contaram	que	o	viram
e	que	falaram	com	ele.	Nestas	ocasiões,	ele	lhes	deu	ordens,	bem	como	a
autoridade	de	prosseguir	seguindo	seus	passos.	Este	era	o	motivo	e	objetivo	dos
evangelistas:	queriam	deixai	claro	como	seriam	estes	passos.
Essas	são	as	coisas	importantes	que	devemos	observar	no	co-meço	de	nossa
pesquisa	sobre	Maria	Madalena.	As	fontes	primária?
que	a	mencionam	não	se	referem	a	ela,	e	sim	à	Jesus.	Abordarr	eventos	ocorridos
durante	a	vida	e	após	a	morte	dele,	os	quais	destinavam-se	a	convencer	os
leitores	que,	com	Jesus,	iniciava-se	urr	novo	tempo.
Outra	declaração	importante	é	que	os	quatro	evangelistas	contam	sobre	Jesus
cada	um	de	seu	próprio	modo.	Os	quatro	Evangelhos	trazem	histórias
transmitidas	por	meio	da	palavra	oral	e	escrita	São	histórias	sobre	paixão	e
ressurreição,	cura,	lei,	últimos	eventos	e	parábolas	que	Jesus	contou.	Os
evangelistas	descreveram	essas	co-leções	de	histórias	nos	Evangelhos	e	as
agruparam,	formando	composições	próprias.
A	pessoa	que	ler	os	Evangelhos,	um	após	o	outro,	se	impressionará	com	as
similaridades	existentes	entre	Mateus,	Marcos	e	Lucas,	Os	estudiosos	acham	que
Mateus	e	Lucas	são	dependentes	do	material	que	foi	usado	como	base	para
Marcos	e	que	ambos	conhecem	outra	fonte.	A	comparação	de	Mateus	e	Lucas
com	Marcos	e	de	Mateus	com	Lucas	também	pode	auxiliar	na	apresentação	de
características	distintas	de	cada	um	dos	três	evangelistas.	O	Evangelho	de	João
destaca-se,	desde	a	primeira	leitura,	pelo	estilo	próprio	e	padrãc	de	pensamento.
Cada	um	dos	evangelistas	não	conta	apenas	sua	própria	histó-
ria	sobre	Jesus.	Com	relação	à	Maria	Madalena,	cada	um	apresenta	sua	própria
imagem.
	
Maria	Madalena	33
Os	evangelistas	concordam	em	três	aspectos:	todos	a	chamam	lê	Maria
Madalena,	a	apresentam	como	seguidora	de	Jesus	e	desta-
;am	o	papel	principal	que	ela	teve	principalmente	nos	eventos	rela-
;ionados	à	crucificação,	enterro	e	ressurreição.
Nas	próximas	seções	investigaremos	essas	concordâncias	e	iepois
apresentaremos	o	texto	de	cada	evangelista.	Tendo	por	base	)	resultado	dessas
duas	abordagens,	observaremos	o	que	os	Evan-
;elhos	do	Novo	Testamento	podem	acrescentar	à	nossa	pesquisa	iobre	Maria
Madalena.
Mas,	primeiro,	vamos	fazer	uma	coisa	diferente.
Os	evangelistas	não	dizem	muito	mais	do	que	isto	sobre	Maria	Madalena.	Eles
apresentam	mais	informações	sobre	Pedro,	por	exem-
)lo,	do	que	sobre	ela.	Saindo	não	se	sabe	de	onde,	ela	esteve	na	mira	tos
refletores	na	manhã	de	Páscoa	e	depois	desapareceu	novamen-e,	tão	rápido
quanto	tinha	aparecido.	Qualquer	pessoa	que	pesquise	iobre	Maria	Madalena
ficará	decepcionado	com	a	luz	fraca	que	as	‘ontes	primárias	jogam	sobre	ela.
Quem	era	Maria	Madalena	antes	io	encontro	com	Jesus?	Que	tipo	de	vida
levava?	Quantos	anos	ela	inha?	Como	ela	se	converteu?	O	que	aconteceu	com
ela	depois?	As	‘ontes	primárias	nos	deixam	adivinhar.
Assim	sendo,	nos	deparamos	com	a	primeira	encruzilhada	de	nossa	pesquisa:	a
qual	conclusão	podemos	chegar	sobre	o	fato	de	os	evangelistas	contarem	tão
pouco?
Pesquisadores	como	Michael	Baigent,	Richard	Leigh,	Henry	Lincoln	e	Margaret
Starbird	acham	que	o	silêncio	que	envolve	Maria	Madalena	é	deliberado.	Eles
citam	tradições	secretas	orais	nas	quais	afirma-se	que	Maria	Madalena	era
esposa	de	Jesus	e	estava	grávida.	Para	proteger	ela	e	o	bebé	das	forças	de
ocupação	romana,	foi	necessário	manter	silêncio	sobre	sua	existência.”’
Este	livro	não	investiga	esses	aspectos	da	questão.	Minha	pesquisa	dedica-se	à
investigação	do	que	os	textos	da	antiguidade	informam	e	não	estarei	abordando
questões	relacionadas	a	outras	tradições.(3)
Os	textos	do	Novo	Testamento	não	explicam	por	qual	motivo	os	quatro
evangelistas	informam	tão	pouco	sobre	Maria	Madalena.
A	resposta	mais	óbvia	parece	ser	que	os	evangelistas	pensavam	não	ser
importante	fornecer	qualquer	informação	adicional	sobre	ela	para	a	história	da
crença	em	Jesus	que	queriam	mostrar.	Este	assunto	será	retomado
posteriormente.
Esther	de	Bóer
Maria,	com	o	Sobrenome
“de	Magdala”
Observando	as	notas	de	nascimento	e	falecimento	nos	jornais	notamos	que
sempre	aparecem	os	nomes	‘Madalene’	ou	‘Madale	na’.	Entretanto,	os	nomes
Magda	e	Madeleine	também	aparecem	(
são	derivados.	Então,	supõe-se	que	‘Madalena’	seja	o	primeiro	nome	Nada	mais
distante	da	verdade.	Os	quatro	Evangelhos	do	Novo	Tes	tamento	nunca	citam
Maria	Madalena,	o	nome	ao	qual	estamos	acos	tumados,	e	sim	Maria	de
Madalena.	O	Evangelho	de	Lucas	exprimi	de	maneira	mais	enfática,	Maria,
chamada	Madalena	(Lucas	8,2)	Além	disto,	a	expressão	‘de	Madalena’	deixa
claro	a	qual	Maria	s(
está	referindo.	É	a	Maria	que	vem	de	Magdala.
Maria	Madalena:	o	próprio	nome	invoca	o	retrato	de	sua	pró	cedência.
Magdala/Tarichea
A	cidade	de	Magdala	não	é	mencionada	no	Novo	Testamento	ao	menos,	não
parece	estar	mencionada	no	texto	do	Novo	Testa	mento.	Mas,	ele	foi	elaborado	a
partir	de	muitos	manuscritos	e,	en	alguns	destes,	o	nome	Magdala	aparece	em
uma	versão	de	Marco;	(8,10)	e	uma	de	Mateus	(15,39).	Nessas	leituras,	onde
seria	Magdal;	o	texto	oficial	cita	Dalmanuta	e	Magadã,	respectivamente.	Estes
sã(
dois	nomes	de	lugares	que	os	estudiosos	não	puderam	identifica	com	clareza.	Se
tanto	Marcos	como	Mateus	estavam	se	referindo	à	Magdala,	este	é	o	lugar	que
Jesus	e	seus	discípulos	cruzaram	de	pois	que	ele	alimentou	quatro	mil	pessoas
com	alguns	pães	e	pouco;	peixes.
Lá,	na	região	de	Magadã/Dalmanuta	ou	Magdala,	fariseus	pé	diram-lhe	que	lhes
mostrasse	um	milagre	do	céu	para	submete	Io	aprova	(Mateus	16,1-4;	Marcos
8,11-13).	Se	for	assim,	somenti	podemos	concluir,	a	partir	do	Novo	Testamento,
que	havia	escribas	n;	região	de	Magdala	e	que	a	região	poderia	ser	alcançada	por
barco.
Houve	muita	discussão	acerca	da	possível	localização	de	Mag	dala.^	A	partir	da
leitura	da	literatura	rabínica,	devemos	procura	por	Magdala	nas	vizinhanças	de
Tiberias,	perto	do	Mar	da	Galiléia.
	
Maria	Madalena	35
Atualmente,	ao	norte	de	Tiberias	fica	a	pequena	cidade	de	Mejdel.
>	nome	pode	lembrar	o	de	Magdala.	Trata-se	de	uma	suposição	que	ï	encaixa
com	os	testemunhos	dos	primeiros	peregrinos	que	situam	.lagdala	entre	Tiberias
e	ao	norte	de	Cafamaum.
Há	informações	de	peregrinos	entre	os	séculos	seis	e	dezessete.
sem	exceção,	eles	sustentam	que	Magdala	era	equidistante	de	Tibe-
​ias	e	Tabga,	um	lugar	próximo	a	Cafarnaum.	Também	informaram	sobre	a	casa
de	Maria	Madalena	que	puderam	inspecionare	sobre	a	greja	que	a	imperatriz
Helena	mandou	construir	(quarto	século)	em	lonra	da	santa.	Ricoldus	de	Monte
Cruéis,	em	seu	informe	de	via-gem	(1294),	conta-nos	que	a	igreja	não	estava
mais	sendo	usada	no	inal	de	décimo	terceiro	século.	Ele	escreveu:	Então
chegamos	em	Magdala…,	a	cidade	de	Maria	Madalena,	perto	do	Mar	de
Genasarete.	Caímos	em	prantos	lamentando,	pois	encontramos	uma	esplêndida
igreja,	completamente	intacta	mas	que	estava	sendo	usada	como	estábulo.
Naquele	lugar,	cantamos	e	proclamamos	‘	o	evangelho	de	Madalena.’^
Se	Magdala	fica,	de	fato,	no	sítio	de	Mejdel,	então	Jesus	esteve	á.	A	cidade
ficava	no	caminho	entre	Nazaré,	a	pequena	vila	onde	esus	cresceu	(cerca	de
trinta	e	dois	quilómetros	de	Magdala)	e	Cafamaum,	onde,	mais	tarde,	ele	foi
viver.
Cafamaum	ficava	a	cerca	de	nove	quilómetros	de	Magdala.	É
​ossível	que	Jesus	conhecesse	a	cidade	muito	bem.	Em	todos	os	‘eventos,	parece
possível	que	ele	tenha	ensinado	e	talvez	até	curado	^pessoas	lá,	como	relata	o
Evangelho	de	Marcos:	r	Ele	retirou-se	dali,	pregando	em	todas	as	sinagogas	e	:
por	toda	a	Galiléia,	e	expulsando	os	demónios	(Marcos	|	7,39;	cf.	Mateus	4,23	e
Lucas	8,1-3)	[
j.	Recentemente,	nas	escavações	realizadas	em	Mejdel	entre	1971
f	1977,	descobriu-se	que	também	existia	uma	sinagoga	em	Magdala.
jVérgilio	Corbo	descobriu	o	que	pôde	por	lá:16’	casas,	ruas,	casa	de	Ibanho,
banhos	públicos,	lojas,	praças.	Infelizmente,	ele	não	teve	acesso	^	maior	parte	do
terreno,	mas,	fez	uma	notável	descoberta:	uma	pe-Ijuena	sinagoga	do	período
romano,	de	arquitetura	comparável	com	Esther	de	Bóer
a	sinagoga	de	Massada.	Esta	pequena	sinagoga	é	atualmente	a	mais	antiga
sinagoga	descoberta	da	Palestina.
A	partir	das	escavações,	parece	que	no	final	do	primeiro	século,	começo	do
segundo	ou	possivelmente	até	mais	tarde,	a	sinagoga	foi	usada	como	reservatório
de	água.	Mais	tarde,	entre	os	restos,	foram	encontrados	vestígios	do	que	poderia
ter	sido	uma	sinagoga	maior/7’
Também	aparece	na	literatura	rabínica	que	em	Magdala	exista	uma	sinagoga.
Perto	dela,	ficava	beth	ha-midrash,	uma	escola	para	explicação	e	aplicação	das
escrituras	sagradas	(todos	eventos	do	começo	do	segundo	século	ou	talvez
antes).	A	cidade	produziu	dois	rabinos	cujas	vozes	ainda	podem	ser	ouvidas	no
Taimud	e	Midrashim:	Rabino	Isaac	de	Magdala	e	Rabino	Judah	de	Magdala,
ambos	do	começo	do	quarto	século.
No	midrash	sobre	Lamentações	2.2	(segunda	Elegia),	que	co-meça	com	as
palavras	“O	Senhor	destruiu	sem	piedade	todas	as	moradias	de	Jacob”,	Magdala
é	citada	como	exemplo.	Os	sábios	davam	uma	longa	descrição	da	devoção	da
cidade.	Nas	trezentas	tendas	era	possível	comprar	os	pássaros	necessários	para	o
ritual	de	purificação	e	as	contribuições	religiosas	que	seguiam	para	Jerusalém
eram	tantas	que	era	preciso	transportá-las	em	vagões.	Contudo,	a	cidade	estava
devastada.	Por	quê?	Enquanto	a	resposta	da	questão	no	caso	de	duas	outras
cidades	eram	“desunião”	e	“feitiçaria”,	em	Magdala	a	razão	citada	era
“adultério”	(Ika	Rabbah	II,	2,4).	Portanto,	a	cidade	não	era	apenas	associada	com
a	devoção.	Também	era	associada	com	adultério.
Magdala	aparece	na	literatura	rabínica	com	diferentes	nomes:	como	Magdala
(fortaleza),	como	Migdal	Sebayah	(torre	dos	tintureiros)	e	como	Migdal
Nunayah	(torre	do	peixe).	Fréderic	Manns	demonstrou	que	Magdala	e	que
Migdal	Sebayah	são	intercambiáveis	e	não	idênticas.	Migdal	Nunayah	ocorre
apenas	uma	vez.	Depois,	também	fica	claro	que	está	se	referindo	a	Magdala.
Migdal	Nunayah	e	Migdal	Sebayah	provavelmente	são	nomes	de	áreas	de
Magdala.(8)	Flavius	Josephus,	historiador	judeu	do	primeiro	século,	escriba	e
comandante	do	exército,	sempre	cita	a	cidade	de	Tarichea.	Qualquer	um	que	leve
todas	essas	descrições	em	conta,	deve	colocar	Tarichea	também	ao	norte	de
Tiberias,	no	mesmo	lugar	onde	atualmente	situa-se	Mejdel.	No	caso,	Magdala
poderia	ser	o	nome	judeu	da	cidade	e	Tarichea,	o	nome	grego.	Naquela	época,
era	frequente	Maria	Madalena	37
uma	cidade	ter	dois	nomes.	Grego	era	o	segundo	idioma,	o	idioma	internacional,
desde	que	Alexandre,	o	Grande,	fundou	seu	vasto	império	no	terceiro	século
antes	de	Cristo.
Josephus	passa	a	impressão	de	que	Tarichea	era	uma	grande	cidade	com	40	mil
habitantes,	cuja	frota	de	pesca	consistia	em	240
barcos.	Ele	relata	que	Tarichea	tinha	um	hipódromo,	uma	pista	de	corrida	de
cavalos	(Jewish	War	II,	599-608).	Coisas	que	nem	toda	cidade	poderia	se	dar	ao
luxo	de	ter.
Magdala	era	uma	cidade	próspera.
Com	as	escavações	este	fato	toma-se	evidente.	As	casas	descobertas	em	Magdala
contrastam	com	as	pobres	cabanas	descobertas	em	Cafamaum.110	Os	vários
nomes	para	Magdala	mostram	a	proveniência	da	prosperidade.
Uma	próspera	cidade	mercantil
Magdala	significa	fortaleza.	Josephus	menciona	a	cidade	sobretudo	por	sua
situação	estratégica	e	seu	lugar	na	luta	contra	Roma.
Magdala	posiciona-se	diretamente	à	margem	oeste	do	Mar	da	Galiléia	e	era
fortificada	por	pedras	em	ambos	lados.	A	estrada	ao	longo	do	mar	podia
facilmente	ser	fechada	por	habitantes.	Josephus,	eleito	governador	da	Galiléia
pêlos	rebeldes	no	começo	da	guerra	judaica,	fortificou	o	lado	da	cidade	que
ficava	voltado	em	direção	à	terra	(Jewish	War	III,	462-5).
O	historiador	e	geógrafo	Strabo	de	Amaseia,	do	começo	desta	era,	que	descreveu
os	vários	territórios	do	império	Romano	para	uso	dos	futuros	líderes	políticos,
menciona	Tarichea	em	seu	trabalho	por	outra	razão:	exalta	o	“excelente	peixe
salgado”	da	região	(Geography	XVI,	2,45).
Tarichea	não	foi	escolhida	arbitrariamente	como	nome	grego	para	Magdala.
Tarecheion	significa	um	lugar	onde	os	peixes	são	res-secados.	O	peixe	seco	e
salgado	preservado	deveria	ser	uma	importante	fonte	de	renda	para	Magdala.	A
indústria	pesqueira	seria	também	motivo	do	nome	hebreu,	Migdal	Nunayah
(torre	do	peixe)	para	Magdala.
O	fato	de	Strabo	​	que	não	era	um	grande	viajante	e	propagou	informações	sobre
características	notáveis	sobretudo	por	Roma	e	Alexandria	​	mencionar	o	peixe
salgado	da	Tarichea	indica	a	fama	da	cidade	e	que	o	peixe	era	comercializado
mesmo	fora	da	Galiléia.00’
as	nsmer	ae	soer
Em	Magdala	a	prática	mercantil	deve	ter	sido	ativa.	A	cidadf	estava
favoravelmente	posicionada	entre	importantes	rotas	de	comércio:	em	direção	ao
Egito	(Via	Maris),	na	direção	da	Síria	e	eir	direção	ao	Mar	Mediterrâneo.
Também	havia	rotas	em	direção	i.
Judéia	e	para	o	norte.
Strabo	também	menciona	a	segunda	característica	de	Tarichea	“árvores
frutíferas,	que	parecem	macieiras,	crescem	lá.”
Josephus	nos	conta	um	pouco	mais.	O	norte	da	Tarichea	eiï	uma	área	plana
chamada	Genasar	(Genasarete	no	Novo	Testamento)	Josephus	interrompeu	os
relatos	sanguinários	e	os	eventos	estratégicos	do	período	da	guerra	judaica	para
descrever	os	rendimentos	provenientes	desta	planície.
Ele	exalta	a	fertilidade	do	solo	e	o	clima	favorável,	particular	mente	adequado
para	o	plantio	de	árvores	como	nogueira,	palmeira	oliveira	e	figueira.	Além	do
mais,	o	solo	produz	plantas	e	arbustos	raramente	vistos	juntos	e	frutas	maduras
ininterruptamente.	Até	uvas	e	figos	estão	lá	durante	dez	meses	do	ano.	Tudo	isto
é	possível	gra	cãs	a	uma	poderosa	fonte	“que	é	chamada	de	Cafamaum	pêlos	ha
bitantes”	(Jewish	Warïll,	516-521).
Então,	podemos	imaginar	que	entre	os	habitantes	Magdala	ti	nhã	fazendeiros	que
cultivavam	o	frutífero	solo	de	Genasar,	pesca	dores	ativos	no	Mar	da	Galiléia,
trabalhadores	no	porto	e	na	indús	tria	pesqueira	onde	o	peixe	era	tratado	e
salgado	e	os	mercadores	que	comercializavam	todos	estes	produtos.
Conjecturou-se	que	o	tecido	também	seria	tingido	em	Magdala	devido	ao	nome
de	Migdal	Sebayah:	torre	dos	tintureiros.	A	indús	tria	de	fingimento	daquele
período	usava	tintas	de	plantas	e	frutas	Também	era	importante	que	houvesse
muita	água	disponível.00	Grã	cãs	ao	Mar	da	Galiléia	e	ao	solo	de	Genasar,	os
habitantes	de	Mag	dala	podiam	contar	com	ambos	os	recursos.
Magdala	tinha	tudo	que	era	preciso	para	ser	uma	cidade	prós	pêra
comercialmente.	Podia	comercializar	peixe	salgado,	tecidos	tin	gidos	e	diversos
produtos	agrícolas.	Além	do	mais,	a	cidade	tambéi.ficava	favoravelmente	localizada	com	relação	às	rotas	de	comercie	internacional
e	sua	situação	estratégica	também	era	importante.	En	tretanto,	todos	esses	fatores
trouxeram	para	a	cidade	não	apenas	prosperidade,	mas	também	disputas.
	
Maria	Madalena
Campo	de	oposição,	santuário	definitivos	Maria	Madalena	viveu	quando	Israel
estava	sob	o	jugo	da	ocupa-i	mana.	Tal	ocupação	ocorria	dentro	e	ao	redor	de
Magdala.02’
\	partir	de	63	a.C.,	após	um	período	de	independência	relativa,	!
i	dos	judeus	começou	a	ser	incorporada	ao	império	romano.	A	^em	seguinte,
sobre	a	determinação	das	taxas	a	serem	pagas,	|
nstra	que	este	processo	não	foi	fácil.	O	romano	Christian	Lac-As	autoridades
romanas	responsáveis	pela	cobrança	de	impostos	entraram	no	lugar	e	viraram
tudo	de	cabeça	para	baixo.	Os	campos	foram	medidos	metro	a	metro,	cada
vinhedo	e	árvore	frutífera	foram	contados,	cada	cabeça	de	gado	foi	registrada	e	a
quantidade	de	pessoas	foi	anotada	com	precisão.	A	população	foi	conduzida	à
cidade	e	todos	os	mercados	estavam	repletos	com	as	famílias	chegando	em
grupos.	Em	todos	os	lugares	se	ouvia	os	gritos	daqueles	que	estavam	sendo
interrogados	sob	tortura	e	agredidos.	Filhos	eram	retirados	de	seus	pais,
mulheres	de	seus	maridos.	Após	a	inspeção	geral,	eles	torturaram	os
responsáveis	pêlos	impostos	para	que	fizessem	declarações	contra	eles	próprios	e
então,	quando	a	dor	venceu,	estas	pessoas	registraram	propriedades	passíveis	de
impostos	que	nem	sequer	existiam.
Idade	ou	estado	de	saúde	não	tinham	importância	no	meio	disto	tudo	(De
mortibus	Persecutorum	23.IF.).”^
A	incorporação	ao	império	romano	encontrou	muita	oposição	ideus	e	não
somente	porque	eles	queriam	ser	livres.	Havia	a	ao	religiosa.	Os	rebeldes
recusavam-se	a	serem	dirigidos	por	​nantes	estrangeiros	que	não	praticavam	a
religião	de	Israel	e	isto	como	uma	transgressão	da	lei	que	o	próprio	Deus
estabele-or	meio	de	Moisés.	Moisés	não	disse	que	o	rei	de	Israel	não	​ia	ser
estrangeiro	e	que	ele	deveria	estudar	constantemente	a	ï	Deus?
(Deuteronômiol7,14-20)
Os	rebeldes	concluíram	que,	como	crentes,	cada	um	era	obriga-e	recusar	a	pagar
o	imposto	romano	com	todas	as	consequências	i	seguiram.	Foi	uma	boa	razão
para	a	pergunta	feita	a	Jesus:	“É
	
Esther	de	Bóer
permitido	ou	não	pagar	o	imposto	a	César?”	(Mateus	22,15-22;	Lucas	20,20-26;
Marcos	12,13-17).
Josephus	deseja	persuadir	o	leitor	de	que	a	convicção	dos	rebeldes	certamente
não	seria	compartilhada	por	todos.	Ele	escreve	sobn	um	deles.	Judas,	o	galileu:
Naquele	tempo,	um	galileu	chamado	Judas	tentou	levar	os	nativos	à	revolta,
dizendo	que	seriam	covardes	se	pa-gassem	impostos	aos	romanos	e	se,	após
servir	a	apena,	um	Deus,	aceitassem	dirigentes	humanos.	Este	homen	era	um
rabino	com	seita	própria	e	era	bastante	diferente	dos	outros	(Jewish	War	II,	118).
Entretanto,	novas	revoltas	continuaram	irrompendo	e	os	terrores	não	pouparam	a
cidade	de	Magdala.
Em	53	a.C.	uma	revolta	dos	galileus	contra	os	romanos	foi	sufocada	em
Magdala.	Josephus	relata	que,	sob	as	ordens	do	romano	Cassius	Longinus,	os
soldados	fizeram	trinta	mil	prisioneiros	entrf	os	habitantes	e	fugitivos	que	foram
retirados	da	cidade	e	vendido;	como	escravos	(Jewish	War	I,	180).	Entretanto,	no
geral,	está	clan	que	Josephus	não	é	muito	preciso	com	os	números.	Todavia,	seja
o\
não	trinta	mil,	ele	relata	claramente	que	se	tratava	de	uma	grand<
quantidade	de	pessoas.
A	partir	de	40	a.C.,	Herodes,	o	Grande	​	apontado	como	“Rei	dos	Judeus”	pêlos
romanos	​	tentou	tomar	o	poder	definitivamente	e	tomou-se	famoso	por	sua
crueldade.	No	começo	do	conflito,	muitos	rebeldes	e	suas	famílias	se
esconderam	nas	cavernas	de	Arbela.
perto	de	Magdala,	e	Herodes	os	mandou	matar	com	fumaça.	Muitos	morreram
neste	processo	e	muitos	preferiram	morrer.	Preferiram	morrer	a	serem	tomados
como	prisioneiros	(Jewish	War	1,310-313),	É	improvável	que	Maria	Madalena
tenha	participado	de	um	dos	dois	eventos	citados.	Se	fosse	este	o	caso,	ela	teria
cerca	de	oitenta	anos	de	idade	quando	seguiu	Jesus.	Entretanto,	estas	histó-
rias	com	certeza	ainda	eram	contadas	para	os	integrantes	da	gera-
ção	da	qual	ela	fazia	parte.
Josephus	contava	sobre	o	domínio	de	Herodes,	o	Grande:	Herodes	investigava	os
movimentos	de	todas	as	pessoas:	evitando	qualquer	oportunidade	de	agitação.	O
movimente	Maria	Madalena
de	todas	as	pessoas	era	observado.	Tanto	na	cidade	como	nas	ruas,	havia	homens
que	espiavam	todos	os	encontros	(Antiguidades	XV,	10,4).
Portanto,	a	repressão	era	tangível	em	todos	os	lugares,	inclusive	em	Magdala.
Com	a	morte	de	Herodes	em	4	a.C.	irromperam	outras	revoltas.	O	filho	mais
velho	dele,	Archelaus,	guardou	luto	por	sete	dias	em	Jerusalém	antes	de	viajar
para	Roma	para	pedir	que	o	imperador	tomasse	a	decisão	sobre	a	sucessão.	Na
conclusão	do	tempo	oficial	de	luto,	um	pouco	antes	da	comemoração	da	Páscoa,
na	festa	de	libertação	do	Egito,	havia	outra	lamentação	ao	redor	do	templo,	entre
as	pessoas	que	estavam	reunidas	lá.	Agora,	o	luto	não	era	por	Herodes	e	sim	por
aqueles	que	antecipadamente	foram	queimados	vivos	sob	as	ordens	de	Herodes
por	terem	rejeitado	a	colocação	de	uma	águia	dourada	no	templo.
Imediatamente,	Archelaus	enviou	toda	a	legião	para	a	cidade	a	fim	de	dissipar	a
multidão	oferecendo	sacrifícios.	Foram	mortas	três	mil	pessoas.	Ele	proibiu	a
celebração	da	Páscoa	em	Jerusalém	naquele	ano	(Jewish	War	II,	1-13).
Peregrinos	de	Magdala	e	das	regiões	vizinhas	poderiam	também	estar	em
Jerusalém	e	podem	ter	voltado	insatisfeitos	com	tudo	aquilo.
Talvez	houvesse	mortos	e	feridos	a	serem	lamentados	entre	eles.
Após	a	saída	de	Archelaus,	irrompeu-se	uma	grande	rebelião	sob	o	comando	de
Judas,	o	Galileu.	Também	esta	revolta	só	resultou	em	assassinatos	e	mortes.	As
tropas	romanas	vieram	da	Síria	para	ajudar	a	exterminar	o	movimento.	Com	uma
grande	armada	seguiram	pela	Galiléia	avançando	para	o	sul	e	pilhando	tudo	por
onde	passavam.
A	cidade	de	Seforis,	posicionada	centralmente	perto	de	Nazareth	há	cerca	de
dezenove	quilómetros	de	Magdala,	foi	arrasada.	Todos	seus	habitantes	foram
levados	e	vendidos	como	escravos	(Jewish	War	II,	66-71).
O	imperador	Augusto	dividiu	a	terra	em	três	e	indicou	os	filhos	de	Herodes,	o
Grande,	para	cada	território.
Desta	forma,	a	Galiléia	caiu	sob	o	controle	de	Herodes	Antipas	e,	assim,	teve
início	um	período	de	estabilidade	política.
Distinto	de	seu	pai	e	irmão,	Herodes	Antipas	respondeu	à	oposição	mais	com
diplomacia	do	que	com	a	força.	De	fato,	ele	teve	de	Esther	de	Bóer
agir	assim,	pois	Roma	estava	mais	sensível	com	relação	aos	distúr	bios	no	país.
Assim	sendo,	Archelaus	foi	exilado	no	ano	seis	da	er,	cristã	devido	à	sua
crueldade.	Herodes	de	Antipas	durou	mais,	de’
a.C	a	39	do	começo	da	era	cristã	(Jewish	War	II,	111-12).
Herodes	de	Antipas	é	conhecido	especialmente	pelas	duas	grandes	cidades	que
construiu	na	Galiléia.	Logo	no	começo	de	seu	governo,	reconstruiu	a	cidade	de
Seforis	e	estabeleceu	a	sede	de	governo	neste	local.	Mais	tarde,	a	cidade	de
Tiberias	(nomeada	após	(
imperador	romano)	nasceu	na	orla	do	Mar	da	Galiléia,	ao	sul	di	Magdala.	Estas
eram	cidades	realmente	helenísticas,	inspiradas	n;	cultura	estrangeira	e	ofensivas
aos	olhos	dos	judeus.	Na	construçã»
de	Tiberias,	Herodes	de	Antipas	certamente	não	levou	em	conta	todos	os
sepulcros	que	estavam	localizados	lá.	Como	resultado	da	construção	de	Tiberias,
Magdala	perdeu	sua	posição	de	cidade	mais	importante	do	mar	da	Galiléia.
Como	o	irmão,	Herodes	de	Antipas	finalmente	teve	de	deixar	(
país	e	ir	para	o	exílio.	Seu	sobrinho,	Herodes	Agrippa,	que	já	gover	nava	os
territórios	do	leste	e	norte	do	Mar	da	Galiléia,	agora	gover	nava	também	sobre	os
territórios	de	Herodes	Antipas.	Em	41	da	er;	cristã,	a	Judéia	foi	adicionada	a
estes	territórios.
Magdala,	Tiberias	e	as	áreas	circunvizinhas	tomaram-se	possessões	pessoais	de
Herodes	de	Agrippa,	por	meio	da	ação	do	imperador	Nero.	Como	resultado,
ambas	escaparam	da	destruição	total	na	Guerra	Judaica.
A	Guerra	Judaica	começou	em	66.	Em	67,	Magdala	foi	recap-turada	dos	rebeldes
por	Vespasiano	e	Titus.	Josephusfornece	uma	descrição	detalhada	da	batalha	que
termina	assim:	Todo	o	lago	estava	manchado	de	sangue	e	abarrotado	de
cadáveres;	não	havia	um	único	sobrevivente.	no!
dias	seguintes	um	horrível	mau	cheiro	tomou	conta	de	região.	As	praias	estavam
cheias	de	destroços	e	corpos.
inchados	com	o	sol	quente	condensando	a	umidade	tor-navam	o	ar	tão	pestilento
que	a	calamidade	não	apenas	horrorizou	os	judeus	mas	também	revoltou	aqueles
quí	permitiram	a	realização	daquilo	tudo…	Os	mortos,	incluindo	aqueles	que
pereceram	antes	na	cidade,	totali-zaram	6.700	(Jewish	War	III,	529-31).
	
m.wm	Madalena.
Devido	à	guerra,	naquela	época	Magdala	estava	alojando	um	gran-umero	de
refugiados.	Vespasiano	separou	os	dos	habitantes	da	terra	nde	vieram	dos	que
estavam	primariamente	envolvidos	na	guerra.
10,	como	os	habitantes	também	não	pegaram	em	armas,	ele	permitiu	issagem
livre	dos	refugiados	na	condição	de	que	deixassem	a	cidade	l	estrada	para
Tiberias.	Quando	estavam	na	estrada,	foram	forçados	trar	em	Tiberias	e	a	se
reunir	em	um	estádio.	Os	que	estavam	velhos	lebilitados	foram	mortos
imediatamente.	Ele	enviou	6.000	homens	ens	e	fortes	para	Nero	e	vendeu	o
resto,	cerca	de	30.400,	como	escra-
(Jewís/iWarIU,532-42).
Se	Maria	Madalena	fosse	relativamente	jovem	quando	encon-Jesus,	entre	20	e
30	anos,	talvez	com	a	idade	de	sessenta	ou	nta	anos	ela	mesma	tenha
testemunhado	a	guerra	sanguinária	na	ade	onde	nasceu	ou	ouviu	outros
comentando	sobre	o	fato.
Está	claro	que	a	crucificação	de	Jesus	não	foi	nem	o	primeiro,	m	o	último	ato	de
violência	com	o	qual	Maria	Madalena	se	de-antou	na	vida.	Ela	cresceu	em	uma
cidade	onde	a	ocupação	roma-i	era	bastante	tangível.	A	oposição	a	este	domínio
e	o	sofrimento	corrente	a	marcaram	desde	a	mocidade.
A	procedência	de	Maria	Madalena
Com	exceção	de	Maria	Madalena,	todas	as	Marias	do	Novo	estamento	podem
ser	reconhecidas	por	suas	famílias.	Maria,	mãe	e	Jesus,	Maria,	mãe	de	Tiago,
Maria	de	José,	Maria	de	Tiago,	Ma-ia	irmã	de	Marta	e	Lázaro,	Maria	de
Cléofas…	e	então,	Maria	de	Magdala?	Esta	Maria	não	é	nomeada	por	seu	pai,
um	parente,	um	ïlho,	uma	irmã	ou	irmão.	Talvez	sua	família	não	seja	conhecida
no	ïírculo	de	Jesus.	Em	todos	os	eventos,	ela	não	foi	definida	por	sua	amília,	mas
pelo	fato	de	ter	vindo	de	Magdala.
-	Devemos	pensar	então	na	Maria	de	Magdala	que	buscava	agra-
âar	os	homens	próximos	e	distantes?	Citei	a	única	referência	à	pro-
(niscuidade	sexual	em	Magdala	no	começo	deste	capítulo,	mencionada	no
Midrash	das	Lamentações.	Os	sábios	afirmavam	que	“adultério”	era	a	causa	da
destruição	de	Magdala.	Entretanto,	adultério	é	mencionado	no	contexto	da
devoção.	Apesar	da	devoção,	Magdala	foi	devastada	por	causa	do	adultério.	Não
há	nenhuma	razão	óbvia	l»ara	associar	Maria	Madalena	em	particular	com
adultério,	da	mes-Nna	forma	que	não	há	razão	especial	para	descrevê-la	como
devota	jeKtraordinária	devido	à	devoção	de	Magdala.
	
44	Esther	de	Bóer
Entretanto,	podemos	permitir	que	seu	nome	invoque	a	atmosfe	rã	geral	de
Magdala	que	era	a	atmosfera	de	uma	cidade	que	era	roti	internacional	na	qual	as
pessoas	e	todos	os	tipos	de	religiões	e	prática	se	encontravam	no	mercado.	Era	a
atmosfera	de	uma	cidade	prósper	que	teve	de	sofrer	com	a	ocupação	romana	e
com	a	oposição	a	eli	sob	violência	e	motim	político	resultante	da	ocupação.
Também	era,	atmosfera	de	uma	cidade	tolerante	na	qual	tanto	a	cultura	judaic,
como	a	helenística	estavam	interiorizadas.
Maria	Madalena	deve	seu	nome	ao	nome	hebreu	da	cidade.	El;	é	chamada
especificamente	de	Maria	de	Magdala	e	não	de	Maria	di	Tarichea,	o	que
fortalece	a	impressão	de	que	ela	erajudia.1141
Maria	Madalena	como	Discípula	de	Jesus
Os	Evangelhos	do	Novo	Testamento	concordam	ao	contar	qu	Maria	Madalena
era	uma	das	seguidoras	de	Jesus.	Ela	também	na	era	a	única	mulher;	havia
outras.	Os	Evangelhos	não	apresentar.
nenhuma	indicação	precisa	sobre	como	isso	aconteceu.	O	texto	seguinte	informa
o	que	o	Evangelho	de	Marcos	diz	quando	o	autor	estí	relatando	a	crucificação	de
Jesus:
Achavam-se	ali	também	umas	mulheres,	observando	d(
longe,	entre	as	quais	Maria	Madalena,	Maria,	mãe	de	Tiago	o	menor,	e	de	José,	e
Salomé,	que	o	tinham	seguido	e	(
haviam	assistido,	quando	ele	estava	na	Galiléia;	e	muita;	outras	que	haviam
subido	com	ele	a	Jerusalém	(Marco;	15,40-41;	Mateus	27,55-56;	Lucas	8,1-3).
“Seguido”	e	“assistido”	são	palavras	relativas	à	disciplina.05
Entretanto,	não	está	claro	se	as	mulheres	pertenciam	ao	pequem	grupo	de
seguidores	permanentes	de	Jesus	ou	se	elas	se	juntavam	i	estes	seguidores	por
períodos	curtos.	Também	não	ficava	claro	qua	o	papel	que	representavam:
juntaram-se	a	Jesus	durante	a	peregri	nação	até	Jerusalém,	onde	eram
responsáveis	pela	satisfação	da;	necessidades	materiais	do	pequeno	grupo	que	o
acompanhava	01
eram	integrantes	do	grupo	em	igualdade	de	condições?	Os	evange	listas
apresentam	poucas	informações,	além	do	mais,	seus	testemu	Maria	Madalena.
nhos	não	eram	unânimes.	Certamente	mencionam	Maria	Madalena	pelo	nome
em	primeiro	lugar,	sempre	que	estão	se	referindo	às	mulheres	seguidoras	de
Jesus.
Neste	capítulo,	será	examinada	a	atitude	de	Jesus	com	relação	às	mulheres,
conforme	indicado	nos	Evangelhos,	para	que	seja	possível	inferir	alguma	coisa
mais	sobre	a	possível	função	delas	entre	os	seguidores.	Depois,	a	função	de
Maria	Madalena	será	mais	especificamente	investigada.
A	visão	de	Jesus	sobre	as	mulheres
Jesus	não	disse	nada	especial	sobre	a	posição	que	as	mulheres	deveriam	ocupar;
de	qualquer	modo,	o	Novo	Testamento	não	diz	nada	sobre	este	assunto.	Mas,
pode-se	deduzir	algumas	ideias	sobre	a	visão	que	Jesus	tinha	das	mulheres
observando-se	o	modo	como	ele	lidava	com	as	coisas	que	afetavam	o	mundo	da
experiência	feminina	naquele	tempo.	Ele	menciona	as	leis	de	pureza,	casamento
e	divórcio,	maternidade	e	família.
As	leis	da	pureza	relativas	aos	alimentos,	sexo,	gravidez	e	nascimento;	o	contato
com	o	sangue	ou	com	doentes	e	mortos;	na	verdade,	qualquer	coisa	que	seja
realizada	com	o	corpo.	Qualquer	um	que	se	tomasse	impuro	poderia	tomar
outras	pessoas	impuras	pelo	contato	físico	e,	conseqüentemente,	era	considerado
um	banido.	O
sistema	de	pureza	dividia	a	sociedade	entre	as	categorias	limpo	e	sujo.	As	leis
eram	tão	rígidas	que	os	pobres,	doentes,	estrangeiros	e	mulheres	em	geral	eram
frequentemente	vistos	como	sujos	por	períodos	mais	longos	do	que	os	israelitas
ricos,	saudáveis	e	os	homens.
A	visão	de	Jesus	tolerava	esta	divisão	da	sociedade	por	princí-
pio.	O	ponto	inicial	ressaltado	por	ele	era	que	não	havia	nada	que	tomasse	uma
pessoa	suja.	Somente	o	que	vinha	do	coração	poderia	tomar	alguém	sujo.	Ele
disse:
Ora,	o	que	sai	do	homem,	isso	é	que	mancha	o	homem.
Porque	é	do	interior	do	coração	dos	homens	que	procedem	os	maus
pensamentos:	devassidões,	roubos,	assassinatos,	adultérios,	cobiças,
perversidade	s,	fraudes,	de-sonestidade,	inveja,	difamação,	orgulho	e	insensatez.
Todos	estes	vícios	procedem	de	dentro	e	tornam	impuro	o	homem.	(Marcos
7,21-23,	Mateus	15,18-20).
	
Esther	de	Bóer
Jesus	espiritualiza	a	sujeira	física,	o	que	se	toma	o	ponto	inicia	para	homens	e
mulheres,	em	princípio	iguais,	não	apenas	em	termo?
de	religiosidade,	mas	também	em	questões	sociais,	em	contraste	ac	que	era
habitual	no	tempo	de	Jesus.06’
Naquele	tempo,	após	o	casamento,	a	iniciativa	do	divórcio	re-caía
principalmente	sobre	o	marido.	A	mulher	podia	ser	mandade	embora	por	todos
os	tipos	de	razão,	o	que	fazia	com	que	sua	posição	social	fosse	incerta.	Também
neste	caso	Jesus	traçou	outra	diretriz	ele	refere-se	à	história	da	criação
declarando	que	um	marido	nãc	pode	mandar	sua	mulher	embora.	O	marido	deixa
seu	pai	e	sua	mãe	para	se	ligar	à	sua	esposa	“e	os	dois	não	serão	senão	uma	só
carne”
Moisés	permitiu	o	divórcio	apenas	por	causa	da	insensibilidade	de	coração	das
pessoas.	Jesus	disse	a	este	respeito:	Quem	repudia	sua	mulher	e	se	casa	com
outra,	comete	adultério	contra	a	primeira.	E	se	a	mulher	repudia	o	marido	e	st
casa	com	outro,	comete	adultério	(Marcos	10,11-12;	Ma	teus	19,9).
De	acordo	com	esta	citação,	não	ésomente	o	marido	que	tom;	a	iniciativa.	A
mulher	também	tem	escolha.	Jesus	exige	que	ambos	os	cônjuges	sejam	fiéis.	A
mulher	não	é	dependente	dos	capricho’
de	seu	esposo.	Ambos	são	igualmente	responsáveis	pelo	casamento	A	mãe	que
tinha	um	filho	era	muito	respeitada	no	tempo	d<
Jesus,	e	principalmente	a	mãe	de	um	filho	que	tinha	função	religiosa	Então,
ocorreu	que	uma	mulher	disse	a	Jesus:	“​	Bem-aventurado	o	ventre	que	te	trouxe,
e	os	peito.
que	te	amamentaram!”
Mas	Jesus	replicou,	“​	Antes,	b	em-aventurado	s	aque	lês	que	ouvem	a	palavra	de
Deus	e	a	observam!”	(Luca,	11,27-28).
A	resposta	de	Jesus	é	notável	à	primeira	vista.	Com	a	palavri	“antes”,	ele
reconhece	que	a	mulher	está	certa.07’	É	uma	introduçã(
para	a	confirmação	das	palavras	dela.	Mas,	o	que	Jesus	diz,	pareci	referir-se	a
alguma	coisa	bem	diferente.	Encontramos	a	chave	par;	entender	a	resposta	de
Jesus	em	Isaías,	onde	ele	explica	sobre	(
tempo	em	que	Deus	mostrará	sua	glória:
Maria	Madalena
Seus	filhinhos	serão	carregados	ao	colo,	e	acariciados	no	regaço.	Como	uma
criança	que	a	mãe	consola,	sereis	con-solados	em	Jerusalém	(Isaías	66,12-14).
Jesus	deixa	claro	por	quem	ele	acha	que	foi	amamentado	e	;arregado.	Ele
relaciona	o	ventre	e	peitos	que	a	mulher	citou	com	;le	mesmo	e	Deus.	A	vida
dada	por	Deus	determina	a	bem-aventu-
​ança	de	uma	pessoa	e	também	a	bem-aventurança	de	uma	mulher.
Também,	em	outro	lugar,	Jesus	estende	as	relações	consangüí-
ieas	entre	os	indivíduos	para	um	relacionamento	tendo	por	base	a	vida	com
Deus.	Quando	sua	mãe,	irmãos	e	irmãs	foram	convocados,	ïle	diz	sobre	a
multidão	que	estava	sentada	ao	redor	dele:	Eis	aqui	minha	mãe	e	meus	irmãos.
Aquele	que	faz	a	vontade	de	Deus,	esse	é	meu	irmão,	minha	irmã	e	minha	mãe
(Marcos	3,34-35;	Mateus	12,49-50;	Lucas	8,21).
Jesus	quebra	as	convenções	daquele	tempo.(18)	Ele	espiritualiza	is	leis	de	pureza
e	laços	familiares.	Declara	que	o	casamento	deve	ser	um	vínculo	entre	duas
pessoas	sendo	que	ambas	são	responsá-
veis	e	podem	tomar	iniciativas.
Jesus	vê	os	homens	e	mulheres	como	indivíduos	a	quem	pode-se	dirigir	em
termos	iguais.	O	importante	não	é	a	sujeira	ou	limpeza	física,	laços	familiares,
casamento,	mas	a	disposição	que	apresentam:	a	pureza	do	coração,	se	fazem	a
vontade	de	Deus	e	mantêm	a	fé	uns	com	os	outros.	O	estado	físico	não	determina
quem	eles	são;	ao	contrário,	o	que	importa	é	o	estado	espiritual	deles.
Como	Jesus	tratava	as	mulheres
A	visão	de	Jesus	sobre	as	mulheres	pode	resistir	ao	teste	da	prática,	ao	menos	a
prática	relatada	na	Bíblia.	Foram	preservadas	histórias	a	partir	das	quais	se
descobre	como	Jesus	se	relacionava	com	as	mulheres	nos	últimos	anos	de	sua
vida.	Tais	histórias	confirmam	o	que	já	descobrimos.
Os	Evangelhos	do	Novo	Testamento	não	indicam	em	nenhum	lugar	que	Jesus
tratava	de	maneira	diferente	homens	e	mulheres.
Um	bom	exemplo	é	a	história	de	uma	cananéia	que	Jesus	encontrou	fora	de
Israel,	nos	arredores	de	Tiro	e	Sidônia	(Mateus	15,21-28;	Marcos	7,24-30).	Ela
pediu	para	Jesus	curar	sua	filha	que	estava	Esther	de	Bóer
possuída.	Jesus	recusou-se,	afirmando	ter	sido	enviado	“às	ovelhas	perdidas	da
casa	de	Israel”,	aquelas	pessoas	muito	atormentadas	e	não	para	os	de	fora.	Ele
diz:
Não	convém	jogar	aos	cachorrinhos	o	pão	dos	filhos	(Mateus	15,26;	Marcos
7,27).
E	ela	replicou:
Certamente,	Senhor;	mas	os	cachorrinhos	ao	menos	comem	as	migalhas	que
caem	da	mesa	de	seus	donos	(Mateus	15,27;	Marcos	7,28)
Jesus	exaltou	as	palavras	da	mulher,	e	“na	mesma	hora	sua	filha	ficou	curada”.
A	mesma	coisa	aconteceu	com	o	centurião	romano	em	Cafarnaum	(Mateus	8,5-
13;	Lucas	7,1-10)	que	pediu	para	Jesus	curar	um	menino	acamado.	Jesus	disse:
Eu	irei	e	o	curarei	(Mateus	8.7).“91
Neste	caso,	a	razão	não	é	explicada	em	muitas	palavras,	mas	a	sugestão	fica
clara:	um	forasteiro	não	tinha	direito	ao	que	era	de	Israel.	Também	neste	caso,
Jesus	curou	a	criança	devido	à	resposta	do	centurião:
Senhor,	eu	não	sou	digno	de	que	entreis	em	minha	casa.
Dizei	uma	só	palavra	e	meu	servo	será	curado	(Mateus	8,8,	Lucas	7,6-7).
Jesus	considerou	a	mulher	de	fora	de	Israel	tão	seriamente	como	o	centurião	do
campo	romano	que	ficava	perto	de	sua	própria	casa.	Ele	se	impressionou	com	a
fé	de	ambos.	Ambas	as	crianças	foram	curadas.	Se	houvesse	alguma	diferença	de
aproximação,	a	mesma	se	tomaria	evidente	nessas	situações.	Jesus	ouviu	a
mulher,	discutiu	e	permitiu-se	ser	convencido,	da	mesma	forma	como	agiu	com
o	homem.
Há	ainda	outras	histórias	que	indicam	que	a	conduta	de	Jesus	era	contrária	à
variedade	de	normas	que	eram	habituais	para	ho-Aíaria	Madalena
mens	e	mulheres.	Assim,	os	escribas	e	fariseus	levaram	uma	mulher	à	presença
de	Jesus,	enquanto	ele	estava	ensinando	no	templo	(João	8,1-11).	Disseram-lhe
que	ela	tinha	sido	pega	em	adultério	e	que	portanto,	de	acordo	com	a	lei	de
Moisés,	deveria	ser	apedrejada.	O
que	é	notável	neste	caso	é	que	eles	não	trouxeram	o	homem.	Afinal	de	contas	os
dois	foram	pegos	juntos	e	ele	também	deveria	ser	ape-drejado	(Levítico	20,10).
Eles	agiram	deste	modo	para	“testar”	Jesus,	para	que	tivessem	alguma	acusação
contra	ele	e	sabiam	claramente	que,	confrontado	com	este	fato,	Jesus	poderia
negar	a	lei	de	Moisés.	Entretanto,	Jesus	foi	hábil	e	salvou	a	mulher	sem	entrar
em	discussão.	Ele	diz:
Quem	de	vós	estiver	sem	pecado,	seja	o	primeiro	a	lhe	atirar	uma	pedra	(João
8,7).
Depois	disto,	eles	partiram,	um	por	um.
Outro	exemplo	é	a	história	da	mulher	“atormentada	por	um	fluxo	de	sangue”
(Mateus	9,19-22;	Marcos	5,25-34;	Lucas	8,43-48).
Como	era	considerada	impura,	não	podia	tocar	e	nem	ser	tocada	pêlos	outros.
Entretanto,	quando	ela	tocou	a	orla	do	manto	de	Jesus	na	esperança	de	ser
curada,	ele	não	deixou	que	tal	gesto	passasse	despercebido.	Ao	contrário,	fez
uma	coisa	inesperada:	exaltou	a	fé	da	mulher	em	público	ao	invés	de	criticá-la.
Ele	disse:	“Minha	filha”.
Ela	é	uma	filha	de	Israel,	embora,	de	acordo	com	o	código	predominante,	ela	não
tenha	se	comportado	como	tal.
Há	ainda	histórias	a	partir	das	quais	se	toma	evidente	que	Jesus	conhece	o
universo	de	experiências	femininas	profundamente	e	leva-o	a	sério.	Um	exemplo
disto	é	a	bênção	das	crianças	(Mateus	19,13-15);	Marcos	10,13-16;	Lucas	18,15-
17).	Crianças	e	mães	tinham	seu	próprio	lugar	e	não	tinham	espaço	na	vida
pública.	Quando	os	evangelistas	relataram	a	quantidade	de	pessoas	que	comeram
os	pães	e	os	poucos	peixes	que	Jesus	multiplicou,	contaram	somente	os	homens.
“Sem	contar	as	mulheres	e	crianças”,	disse	Mateus	para	deixar	as	coisas	claras
(Mateus	14,21;	15,38).	Em	determinada	ocasião,	quando	as	pessoas	trouxeram	as
crianças	para	Jesus,	esperando	que	fossem	tocadas	e	abençoadas,	os	discípulos
as	mandaram	embora.	Jesus	tinha	coisas	mais	importantes	a	fazer.	Mas,	o
próprio	Jesus	tinha	outra	visão	e,	colocando	as	crianças	no	centro,	disse:	Esther
de	Bóer
Deixai	vir	a	mim	os	pequeninos,	porque	o	Reino	de	Dem	é	daqueles	que	se	lhes
assemelham.	Em	verdade	vos	digo:	todo	o	que	não	receber	o	Reino	de	Deus	com
c	mentalidade	de	uma	criança,	nele	não	entrará	(Marca	10,14-15).
E	ele	abençoou	as	crianças,	impondo-lhes	as	mãos.
Outro	exemplo	é	a	história	sobre	Marta	e	Maria,	na	qual	Marte	sente	que	está
perdendo,	pois	há	muito	o	que	fazer	cuidando	da	hos-pitalidade	a	Jesus	(Lucas
10,38-42).	Ela	então	reclama	para	Jesu	que	sua	irmã	não	a	está	ajudando.	É
surpreendente	que	Marta	sl	sinta	à	vontade	para	contar	para	Jesus	o	que	a
perturba.	Evidentemente,	ela	assume	que	ele	se	importará	com	seu	problema
doméstico	e	concordará	em	usar	a	autoridade.	A	resposta	de	Jesus	tambérr	é
desconcertante.	Maria	escolheu	a	melhor	parte:	sentar-se	aos	pés	de	Jesus	e	ouvir
suas	palavras.	“Assentou-se	aos	pés”	é	uma	expressão	que	indica	situação	de
aprendizado.	A	mesma	expressão	tambérr	é	usada	por	Paulo	em	seu	discurso	​
“instruí-me	aos	pés	de	Gamaliel’
​	para	indicar	a	procedência	de	sua	instrução	(Atos	22,3).
O	fato	de	que	os	ensinamentos	de	Jesus	destinavam-se	nãc	apenas	aos	homens
mas	também	às	mulheres	é	evidente	pois,	en”
suas	ilustrações	e	histórias,	ele	busca	referir-se