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QUANDO CRISTO VOLTAR


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MAX LUCADO
Mais de 65 milhões de livros vendidos
QUANDO
CRISTO
VOLTAR
RESPOSTAS E PALAVRAS DE ESPERANÇA SOBRE O
ACONTECIMENTO MAIS AGUARDADO PELOS CRISTÃOS
Traduzido por
AQUILES QUEIRÓZ
THOMAS NELSON BRASIL
Rio de Janerio - 2011
Título original
When Christ Comes
Copyright da obra original © 1999 por Max Lucado
Edição original por Thomas Nelson, Inc. Todos os direitos reservados.
Copyright da tradução © Vida Melhor Editora S.A., 2011.
Editor responsável
Omar de Souza
Supervisão editorial
Clarisse de Athayde Costa Cintra
Produção editorial
Thalita Aragão Ramalho
Capa
Douglas Lucas
Tradução
Aquiles Queiróz
Copidesque
Fernanda Silveira
Revisão
Magda de Oliveira Carlos
Margarida Seltmann
Cristina Loureiro de Sá
Diagramação e projeto gráfico
Carmen Beatriz
Edição digital: janeiro 2012
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
L965q
Lucado, Max, 1955-
Quando Cristo voltar / Max Lucado; [tradução Aquiles Queiróz]. - Rio de Janeiro:
Thomas Nelson Brasil, 2011.
il.
Tradução de: When Christ comes
ISBN 978-85-2201-055-4
1. Escatologia. 2. Segundo Advento - Meditações. I. Título.
Thomas Nelson Brasil é uma marca licenciada à Vida Melhor Editora S.A.
Todos os direitos reservados à Vida Melhor Editora S.A.
Rua Nova Jerusalém, 345 – Bonsucesso
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Arquivo ePub produzido pela Simplíssimo Livros
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http://www.simplissimo.com.br/
Para minha mãe
Thelma Lucado
Você me deu mais do que a luz — você se deu.
E eu amo você.
Sumário
Agradecimentos
Quando Cristo voltar
1. “Você entra com a confiança, eu cuido de levá-lo”
Quando ele virá?
Pensar sobre a segunda vinda me perturba. Haverá vida sem fim?
Espaço sem limites? E sobre o Armagedom, o lago de fogos, a marca de
besta? Será que é para eu entender tudo isso? Devo me sentir bem com
tudo isso?
2. Esperando adiante
Um dia para ser aguardado
Alguns cristãos estão tão obcecados com os últimos dias que não se dão
conta dos dias do presente. Outros fazem justamente o contrário. Eles
dizem que Jesus está chegando. Mas vivem como se ele nunca viesse.
Uma pessoa tem pânico, a outra é paciente demais. Haverá um
equilíbrio?
3. O berço da esperança
Um dia de prova e promessa
Eu sou do tipo cauteloso. Quero acreditar na promessa da volta de
Jesus, mas devo fazê-lo? Será que eu ouso confiar nas palavras de um
carpinteiro de uma cidade do interior que viveu há dois mil anos em um
país distante? Posso acreditar no que Jesus fala sobre sua vinda?
4. Nos braços cálidos de Deus
Um dia de reencontros felizes
E o que dizer sobre os entes queridos que já morreram? Onde eles
estão? No período entre nossa morte e a volta de Cristo, o que
acontece?
5. Você novinho em folha
Um dia de rejuvenescimento
O que é essa história de um novo corpo? Vamos trocar de corpos? O
novo corpo será diferente desse que eu tenho? Será que eu reconhecerei
os outros? Será que vão me reconhecer?
6. Um novo guarda-roupa
Um dia de redenção
Eis-me aqui, no portão de entrada do céu. Minha família entra, meus
amigos entram, mas, quando chega minha vez, o portão se fecha. Como
posso saber que não serei barrado?
7. Olha quem está dentro!
Um dia de recompensas
Entendo que alguns irão receber recompensas no céu — os mártires, os
missionários, os heróis. Mas o que dizer de gente comum como eu? Há
alguma coisa pela qual eu possa ansiar?
8. Você faria tudo de novo
Um dia de doces surpresas
Às vezes me pergunto se eu fiz alguma diferença neste mundo. Será que
fiz? E se fiz, como saberei?
9. O último dia do mal
Um dia de prestar contas
E o demônio? Quando Cristo voltar, o que acontecerá com ele? Como
posso resistir a ele até lá?
10. Graça item por item
Um dia de perdão permanente
Pensar sobre o dia do julgamento me deixa inseguro. Tudo o que já fiz
será revelado, não é? Mas por que isso é necessário? E quando meus
pecados secretos forem revelados, não ficarei envergonhado?
Humilhado?
11. A advertência do amor
Um dia de justiça definitiva
Minha pergunta tem a ver com o inferno. Ele existe mesmo? Em caso
positivo, para que existe? Por que um Deus amoroso mandaria pessoas
ao inferno?
12. Vendo Jesus
Um dia de deslumbramento e júbilo
Todo mundo irá ver Jesus? E, desculpe perguntar, será que eu quero ver
Jesus? Nenhuma visão é eternamente bela, o que faria de Jesus uma
exceção?
13. Passando pela porta
Um dia de celebração sem fim
Por que Jesus viria por mim? Comparado aos outros, eu sou bem
comum. E já cometi muitos erros. Por que ele estaria interessado em
mim?
Ouvidos atentos para as trombetas
Notas
Guia de estudo
Agradecimentos
Anos atrás, escutei uma anedota curiosa, e provavelmente apócrifa, sobre o
escritor Mark Twain. Um professor de escola dominical disse ao autor que
seu nome havia vindo à baila na sala de aula. Um de seus jovens alunos
tentava lembrar-se dos nomes dos livros do Novo Testamento. Ele começou
dizendo: “Mateus, Marcos Twain, Lucas e João.”
“O que o senhor acha disso, Sr. Twain?”, ela perguntou.
“Bem”, ele respondeu, “já faz um bom tempo que eu estive em tão fina
companhia”.
Posso dizer o mesmo. Durante o tempo que empreguei escrevendo este
livro, desfrutei da companhia de alguns dos mais finos filhos de Deus. E,
para alguns entre eles, eu ofereço minhas palavras de gratidão.
Para minha editora, Liz Heaney — quantos livros juntos já fizemos?
Mais de uma dúzia, não é? Cada um melhor do que o outro, espero. Cada
livro certamente mais divertido que o anterior. Obrigado por ser uma grande
amiga e por não rir muito alto dos meus erros.
Para minha assistente, Karen Hill — de alguma maneira você consegue
fazer tudo. Cuidar do escritório. Evitar as interferências indesejáveis.
Socorrer-me quando estou com problemas. Mas, ao longo do processo, você
nunca perdeu seu sorriso nem sua energia. Você é única. Obrigado, muito
obrigado.
Para Steven e Cheryl Green, Austin, Caroline e Claire — tão certo
quanto o sol nasce e se põe, vocês são amigos fiéis. Obrigado por serem
Jesus para nossa família.
Para Steve Halliday — obrigado por outro guia de estudos abrangente
que instiga a gente e desafia meu coração.
Para a família da UpWords — nenhum outro autor poderia desejar uma
equipe melhor.
Para a congregação de Oak Hills — que ano foi esse! Nova sede. Novas
instalações. Novo cronograma. Estou feliz que vocês não tenham optado
por um novo pastor. Vivemos em uma época em que nossas preces foram
atendidas. Pelo privilégio de compartilhar a Palavra de Deus a cada semana,
sou eternamente grato.
Para os anciãos de Oak Hills — por seu cuidado pastoral diligente na
igreja, por seu amor fraternal por minha família, por suas preces incansáveis
pelo meu trabalho, eu lhes agradeço.
Para a (cada vez maior) equipe da Oak Hills — vocês são os maiores, e
estou orgulhoso de fazer parte do time.
Para Victor e Tara McCracken — obrigado por um verão pleno de
estudo. Bem-vindos a San Antonio.
Para Becky Rayburn, nosso anjo oficial — que bênção você é!
Para minhas filhas, Jenna, Andrea e Sara — uma no Ensino Médio,
outra no Ensino Fundamental, outra na Pré-escola, mas todas em meu
coração. Eu as amo com devoção.
E para minha esposa, Denalyn — para mostrar-me sua misericórdia,
Deus deu-me a cruz. Para mostrar-me sua abundância, Deus deu-me você.
E para você, o leitor — como guia para as próximas páginas, eu farei o
melhor que puder, falando quando tiver o que dizer e calando-me quando
não tiver. E, se a qualquer momento, você tiver vontade de fechar o livro e
bater um papo com o verdadeiro Autor, por favor, faça-o.
Eu ainda estarei aqui quando você voltar.
Quando Cristo voltar
Você está em seu carro, dirigindo para casa. Seus pensamentos oscilam
entre o jogo a que você quer assistir ou a refeição que você quer comer,
quando subitamente um som, diferente de todos os que você já ouviu,
preenche o ar. O som vem do alto. Uma trombeta? Um coral? Um coral de
trombetas? Você não sabe,mas precisa descobrir o que é. Então você
encosta, sai do carro e olha para cima. Ao fazê-lo, percebe que não é o
único curioso. O acostamento tornou-se um estacionamento. As portas dos
carros estão escancaradas, e as pessoas olham para o céu. Os clientes
abandonam as lojas. Os meninos que jogam no campinho à frente pararam o
jogo. Os jogadores e seus pais estão olhando para o céu.
E o que eles veem, e o que você vê, jamais foi visto antes.
Como se fosse uma cortina, os véus da atmosfera se partem. Uma luz
brilhante derrama-se sobre a Terra. Não há sombras. Nenhuma. Do ponto de
onde vem a luz começa a fluir um rio de cores — cristais pontiagudos de
cada matiz que já se viu e outro milhão de tons jamais vistos. Seguindo o
fluxo está uma frota infinita de anjos. Atravessam as cortinas, um grupo por
vez, até ocupar cada centímetro quadrado do céu. Norte. Sul. Leste. Oeste.
Milhares de asas prateadas sobem e descem em uníssono, e, por sobre o
som das trombetas, você pode ouvir querubins e serafins entoando “Santo,
santo, santo”.
O derradeiro flanco de anjos é seguido por 24 anciãos de barbas
prateadas e por uma multidão de almas que se juntam aos anjos em louvor.
Agora os movimentos cessam e as trombetas silenciam, deixando apenas a
tríade triunfante: “Santo, santo, santo.” Entre cada palavra há uma pausa.
Com cada palavra, uma profunda reverência. Você pode ouvir sua voz
juntar-se ao coro. Você não sabe o que querem dizer as palavras, mas você
sabe que deve fazê-lo.
Subitamente, os céus se calam. Tudo é silêncio. Os anjos se voltam, você
se volta, o mundo inteiro se volta — e ei-lo. Jesus. Através das ondas de luz
você pode ver a silhueta do Cristo Rei. Ele está montado em um grande
corcel, e o corcel ergue-se sobre uma nuvem radiante. Ele abre sua boca, e
você é envolvido pela declaração: “Eu sou o alfa e o ômega.”
Os anjos inclinam as cabeças. Os anciãos tiram suas coroas. E, à sua
frente, há uma figura tão intensa que você instantaneamente sabe: nada
mais importa. Esqueçam os números da bolsa e os boletins escolares. As
reuniões de vendas e os jogos de futebol. Nada vale a pena. Tudo o que
importava, já não importa, pois eis que Cristo chegou…
Como você se sente com essas palavras? Não seria interessante
sentarmo-nos em círculo e escutar as reações de cada pessoa? Se um grupo
de gente como a gente sintetizasse as emoções em relação à volta de Cristo
a nosso mundo — que palavras ouviríamos? Que palavras você usaria?
Desconforto? É provável que muita gente escolha essa palavra.
Disseram-nos que nossos erros serão expostos. Disseram-nos que nossos
segredos serão revelados. Os livros serão abertos, e serão lidos os nomes.
Você sabe que Deus é Santo. Você sabe que você mesmo não é. Como
poderia a noção de Seu retorno causar-nos outra coisa que não desconforto?
Se não fosse o bastante, há ainda todas aquelas frases — “a marca da
besta”, “o anticristo” e “a batalha do Armagedom”. E que tal “as guerras e
os rumores de guerra”? E o que disse aquele cara na tevê? “Evite todos os
números de telefone com os dígitos 666.” E aquele artigo na revista
descrevendo o novo senador como o anticristo? Desconfortável, para dizer
o mínimo.
Ou talvez não seja “desconforto” a palavra que você escolheria.
Negação talvez fosse mais precisa. (Ou não seria justamente pela negação
que você lida com o desconforto?) A ambiguidade não é uma companheira
agradável. Preferimos ter respostas e explicações, mas o fim dos tempos
parece não ter muito disso. Por que refletir sobre o que você não consegue
explicar? Se ele vier, ótimo. Se não, tudo bem também. É melhor eu ir para
a cama; vou trabalhar amanhã.
E que tal esta palavra: “desapontamento”? Essa pode surpreendê-lo, a
não ser que você já tenha sentido isso — nesse caso você vai se identificar.
Quem ficaria desapontado com a notícia da volta do Cristo? Uma grávida,
por exemplo, ficaria — ela quer segurar seu bebê em seu colo. Um casal de
noivos ficaria — eles querem se casar. Um soldado em uma missão no
estrangeiro ficaria — ele quer voltar para casa antes.
Essas três palavras formam uma pequena amostragem das muitas
emoções provocadas pelo pensamento sobre a volta do Cristo. Outras
pessoas podem ficar obcecadas (aquele pessoal que empunha cartazes,
estuda códigos e proclama profecias complexas). Pânico. (“Venda tudo e
corra para as montanhas!”).
Eu me pergunto como Deus quer que a gente se sinta. Não é difícil
encontrar a resposta. Jesus o disse claramente em João 14: “Não se perturbe
o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em mim.… voltarei e
os levarei para mim” (vv. 1, 3). É uma história simples: o Pai foi embora
por um tempo. Mas voltará. E, até lá, ele quer que seus filhos estejam em
paz.
Eu quero a mesma coisa para as minhas três filhas.
Eu as deixei ontem à noite, para que eu pudesse me afastar e concluir
este livro. Com um beijo e um abraço, eu atravessei a porta e prometi voltar.
Se eu queria deixá-las? Não! Mas este livro requeria meu trabalho, e o
editor precisava do texto, então aqui estou — afastado, batendo nas teclas
do computador. Nós aceitamos o fato de que um tempo de separação é
necessário para concluir um trabalho.
Enquanto estamos afastados, por acaso eu quereria que elas se sentissem
desconfortáveis? Será que eu quero que elas temam a minha volta? Não.
E que tal a negação? Será que eu ficaria satisfeito se soubesse que elas
tinham tirado meu retrato de cima do piano e meu prato da mesa de jantar, e
que estão se recusando a conversar sobre minha chegada? Eu acho que não.
E que tal o desapontamento? “Puxa, eu espero que papai não volte antes
da sexta — eu quero muito ir naquela festa do pijama.” Serei eu um pai tão
chato a ponto de a minha chegada acabar com toda a diversão?
Livro nenhum traz as respostas a todas essas perguntas. E nenhum leitor
irá concordar com todas as minhas sugestões. (Alguns de vocês estavam
apenas começando a ler sobre a volta quando cismaram com uma opinião
minha em uma das frases anteriores.) Porém, talvez Deus queira usar este
livro para encorajá-lo a ficar em paz a respeito de sua volta.
Você gostaria de discutir sobre o fim dos tempos e sentir-se bem por
conta disso? Será que não lhe seriam úteis algumas palavras reconfortantes
a respeito do retorno de Cristo? Se sim, eu acho que tenho algumas a
compartilhar.
Vamos conversar.
Capítulo 1
“Você entra com a confiança,
eu cuido de levá-lo”
Quando ele virá?
Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam
também
em mim.… voltarei e os levarei para mim.
— JOÃO 14:1, 3
Ser pai é um desafio constante. Quem entre nós tem todas as respostas às
perguntas das crianças?
“Por que eu não posso ter outro cachorrinho?”
“Mas você se casou quando tinha 18 anos. Por que eu não posso fazer o
mesmo?”
“Papai, o que é Viagra?”
Perguntas como essas fariam um sábio ficar cismado. São fichinha, no
entanto, quando comparadas a uma pergunta que as crianças fazem quando
viajam. Depois de uma extensa pesquisa conduzida pela Lucado & Amigos
(entrevistei algumas pessoas no corredor), determinei qual é a pergunta
mais temida pelos pais. Qual é a questão que mais acomete papais e
mamães? É aquela que os pequenos fazem na viagem — “falta muito?”
Deem-nos problemas de geometria ou de sexualidade, mas não force um
pai a responder à pergunta “falta muito?”
É uma pergunta impossível. Como se fala de tempo e distância para
alguém que não compreende os conceitos de tempo e distância? Os pais de
primeira viagem (literalmente) podem achar que é fácil, basta fornecer os
dados, “380 quilômetros”. Mas o que significam quilômetros para uma
criança no Ensino Fundamental? Nada! Dava no mesmo se você tivesse
falado grego. Então a criança pergunta: “O que significa ‘380
quilômetros’?” Nesse momento, você tem vontade de informar que um
quilômetro equivale a mil metros ou mais ou menos dois terços de uma
milha. Mas suas palavras caem no vazio, ela olha para você sem entender,
senta-se quietinha até que você esqueça e então pergunta: “falta muito?”
O mundo das crianças é livrede marcadores de quilômetro e de relógios
despertadores. Você pode falar sobre minutos e quilômetros, mas para a
criança esses conceitos não fazem sentido. Então, o que fazer? A maior
parte dos pais apela para a criatividade. Quando nossas meninas eram
pequenininhas, amavam ver A pequena sereia. Então Denalyn e eu
usávamos o filme como uma escala de tempo: “mais ou menos o tempo que
se leva para assistir ao filme da sereia três vezes”.
E, por alguns minutos, isso parecia funcionar. Mas, cedo ou tarde, elas
voltavam a perguntar. E, cedo ou tarde, dizíamos o que todos os pais dizem,
ao fim: “confie na gente. Aproveite a viagem e não pense nos detalhes.
Vamos garantir que chegaremos em casa sãos e salvos”.
E era verdade. Não queríamos que nossas crianças se agoniassem com
os detalhes. Então fazíamos um pacto com elas, “nós levamos vocês, vocês
entram com a confiança”.
Parece familiar? Pode ser. Jesus disse-nos as mesmas palavras. Logo
antes da crucificação, disse aos discípulos que ele os deixaria. “Para onde
vou, vocês não podem me seguir agora, mas me seguirão mais tarde” ( João
13:36).
Uma declaração que certamente suscitaria perguntas. Pedro falou por
todos quando perguntou: “Senhor, por que não posso seguir-te agora?” (v.
37).
Confira se a resposta de Jesus não reflete a ternura de um pai para seu
filho: “Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam
também em mim. Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse
assim, eu lhes teria dito. Vou preparar-lhes lugar. E se eu for e lhes preparar
lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu
estiver” (João 14:1-3).
Reduza esse parágrafo até só ter uma frase, e essa talvez seja “vocês
entram com a confiança, e eu cuido de levá-los”. Esse é um lembrete salutar
quando se trata de esperar a volta do Cristo. Para muitos, o verbo “confiar”
não é facilmente associado à sua volta.
Nossa mentalidade de Ensino Fundamental está mal equipada para lidar
com os pensamentos de eternidade. Quando se trata de um mundo sem
fronteiras de espaço e tempo, não temos como entender esses conceitos.
Consequentemente, nosso Senhor assume a postura de um pai: “você entra
com a confiança, eu cuido de levá-lo”. Essa é precisamente a mensagem de
alerta de João 14. Vamos refletir sobre ela um pouco.
Todas as palavras podem ser resumidas em três: “Confie em mim.” “Não
se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em mim”
(v.1).
Não se deixe perturbar pela volta de Cristo. Não fique ansioso sobre as
coisas que você não pode compreender. Questões como a virada do milênio
e o anticristo podem nos desafiar e incomodar, mas não podem nos
assombrar e certamente não podem nos dividir. Para o cristão, a volta do
Cristo não é uma charada a resolver ou um código secreto — é apenas um
dia pelo qual se deve esperar.
Jesus quer que confiemos nele. Ele não nos quer perturbados, então ele
nos tranquiliza com estas verdades:
Tenho muito espaço para vocês. “Na casa de meu Pai há muitos aposentos”
(v. 2). Por que Jesus se refere a “muitos aposentos”? O que quis dizer Jesus
quando mencionou o tamanho da casa? Você pode responder a essa
pergunta pensando em quantas vezes na vida você ouviu o contrário. Já não
houve ocasiões em que lhe disseram “não temos vaga para você aqui”?
Não teria sido no escritório? “Sinto muito, não temos vaga para você
neste negócio.”
Não teria sido nos esportes? “Não temos vaga para você neste time.”
De alguém que você ama? “Não tenho espaço para você em meu
coração.”
De algum intolerante? “Não tem lugar aqui para gente como você.”
E, mais triste, não teria sido na igreja? “Você cometeu erros demais.
Aqui não tem lugar para você.”
Eis umas das mais tristes palavras no mundo: “Não temos lugar para
você aqui.”
Jesus conhecia o som dessas palavras. Ele estava ainda no ventre de
Maria, quando o estalajadeiro disse: “Não temos vagas para vocês aqui.”
Quando os moradores de sua cidade natal tentaram apedrejá-lo, não
estavam dizendo a mesma coisa? “Não temos lugar para profetas nesta
cidade.”
Quando os líderes religiosos acusaram-no de blasfêmia, não estavam
enxotando-o? “Não temos lugar para um autoproclamado messias neste
país.”
E quando ele foi posto na cruz, não seria a suma mensagem de rejeição?
“Não temos lugar para você neste mundo.”
Mesmo hoje Jesus recebe o mesmo tratamento. Ele vai de coração a
coração, pedindo para entrar. Mas, na maioria das vezes, ele escuta as
mesmas palavras proferidas pelo estalajadeiro de Belém: “Sinto muito.
Lotado. Não temos vagas para você aqui.”
Porém, de vez em quando, ele é bem-vindo. Alguém abre a porta de seu
coração e convida-o a ficar. E, para essa pessoa, Jesus dá a grande
promessa: “Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam
também em mim. Na casa de meu Pai há muitos aposentos.”
“Tenho muito espaço para vocês”, diz ele. Que promessa deliciosa ele
nos faz! Abrimos espaço para ele em nosso coração, e ele nos abre espaço
em sua casa. Sua casa tem espaço de sobra.
Sua casa traz uma segunda bênção:
Tenho um lugar preparado para você. “Vou preparar-lhes lugar” (v. 2).
Há alguns anos, eu passei uma semana pregando em uma igreja da
Califórnia cujos membros eram anfitriões incríveis. Todas as minhas
refeições foram providenciadas, cada uma em uma casa diferente, cada casa
uma mesa completa, e conversas deliciosas. Mas, após algumas refeições,
comecei a notar uma coisa estranha. Tudo o que comíamos era salada. Eu
gosto de salada como todo mundo, mas eu gosto mais dela como um
aquecimento para o prato principal. Mas, em todo lugar que eu ia, salada
era o prato principal. Nada de carne. Sem sobremesa. Só saladas.
A princípio, achei que era uma coisa da Califórnia. Mas, por fim, tive de
perguntar. A resposta me confundiu: “Disseram que você só come saladas.”
Bem, eu prontamente desfiz o engano, e me perguntei de onde eles tinham
tirado essa distorção absurda. Ao recapitular, descobrimos que surgiu a
partir de um ruído na comunicação entre nosso escritório e o deles.
Os anfitriões tinham a melhor boa-vontade, mas a informação de que
dispunham não era boa. Alegro-me em dizer que o problema foi corrigido e
que eu desfrutei de uma boa carne. Mais alegre ainda estou em dizer a você
que Jesus não cometerá o mesmo erro com você.
Ele está fazendo por você o que meus amigos da Califórnia fizeram por
mim. Está preparando o lugar. Há uma diferença, no entanto. Ele sabe
exatamente do que você precisa. Você não precisa se preocupar sobre tédio
ou cansaço ou em ver as mesmas pessoas ou cantar a mesma música. E
você certamente não precisa se preocupar se todas as refeições serão só
salada.
Ele está preparando o lugar perfeito para você. Gosto muito da definição
de John MacArthur para a vida eterna: “O céu é o lugar perfeito para as
pessoas tornadas perfeitas.”1
Confie nas promessas de Cristo. “Tenho espaço de sobra para vocês;
tenho um lugar preparado para vocês.”
E o último compromisso de Jesus:
Não estou brincando. “E se eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os
levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver” (v. 3). Você
consegue identificar uma ligeira mudança de tom nesse último versículo?
As primeiras frases são mais acolhedoras: “Não se perturbe o coração de
vocês.” “Creiam em Deus.” “Há muitos aposentos.” Há ternura nessas
palavras. Mas então o tom muda. Discretamente. A ternura continua, mas
agora pontuada com convicção: “Eu voltarei…”
George Tulloch mostrava uma determinação semelhante. Em 1996, ele
liderou uma expedição ao lugar onde o Titanic havia afundado em 1912.
Ele e sua tripulação encontraram diversos objetos, de óculos a joias e
louças. Em sua pesquisa, Tulloch percebeu que um grande pedaço do casco
havia partido do navio e jazia não muito longe. Tulloch imediatamente
percebeu a oportunidade. Havia uma chance de resgatar parte do próprio
navio.
O time então tratou de erguer o pedaço de ferro de vinte toneladas e
colocá-lo a bordo. Foram bem-sucedidos ao içá-lo à superfície, mas uma
tempestade irrompeu, partindo as amarras,e o Atlântico pegou de volta seu
tesouro. Tulloch foi obrigado a recuar e reagrupar-se. Mas, antes de partir,
fez algo curioso. Desceu até o fundo do mar e, com o braço robótico de seu
submarino, grudou uma tira de metal a uma parte do casco. Na tira ele havia
escrito estas palavras: “Eu voltarei. George Tulloch.”2
À primeira vista, foi um ato de humor. Quero dizer, não é como se ele
tivesse de se preocupar com alguém roubando aquele pedaço de ferro. Para
começo de conversa, estava a quatro mil metros da superfície do Atlântico.
Além disso… bem, era só um pedaço de sucata. Quem é que se interessaria
tanto por ele?
É claro que alguém poderia dizer a mesma coisa sobre você e eu. Por
que Deus se daria ao trabalho de nos resgatar? Que valor temos para ele?
Ele deve ter suas razões, porque, há dois mil anos, ele entrou nas águas
turbulentas deste mundo em busca de seus filhos. E, para todos que
permitirem que ele o faça, ele toma posse e escreve seu nome. “Eu
voltarei”, é o que diz.
George Tulloch não só disse. Dois anos mais tarde, voltou e resgatou o
pedaço de ferro.
Jesus fará o mesmo. Não sabemos quando ele virá nos buscar. Não
sabemos como ele virá nos buscar. Na verdade, nem sabemos porque ele
viria nos buscar. Oh, até temos nossas ideias e opiniões. Mas o que mais
temos é fé. Fé que ele terá espaços de sobra e um lugar preparado e que, no
momento certo, ele virá para que estejamos onde ele está.
Ele cuidará de nos levar. Cabe a nós ter confiança.
Capítulo 2
Esperando adiante
Um dia para ser aguardado
Visto que tudo será assim desfeito, que tipo de pessoas é
necessário que vocês sejam? Vivam de maneira santa e
piedosa, esperando o dia de Deus.
— 2 PEDRO 3:11, 12
É engraçado como as Escrituras fazem as pessoas serem lembradas de
modos diferentes. Abraão é lembrado como o que confia. Pense em Moisés,
e você terá a imagem de uma pessoa que lidera. O lugar de Paulo nas
Escrituras foi determinado pela sua escrita, e João é conhecido pelo seu
amor. Mas Simeão é lembrado, note bem, não por liderar ou pregar ou amar,
mas sim por esperar.
“Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão, que era justo e
piedoso, e que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava
sobre ele” (Lucas 2:25, grifo do autor).
Prestemos atenção em Simeão, o homem que sabia como esperar pela
chegada do Cristo. A maneira como ele esperou pela primeira vinda é nosso
modelo de como devemos esperar pela sua segunda vinda.
Nosso breve encontro com Simeão ocorre oito dias após o nascimento
de Jesus. Jesus e Maria haviam trazido seu filho ao Templo. É dia de um
sacrifício, o dia da circuncisão, o dia de dedicação. Mas, para Simeão, é o
dia de celebração.
Imaginemos um sujeito de cabeça branca, encarquilhado, cruzando com
dificuldade as vielas de Jerusalém. As pessoas na feira chamam seu nome,
mas ele só acena, e segue adiante. Os vizinhos o cumprimentam, e ele
cumprimenta de volta, mas não para. Amigos batem papo nas esquinas, e
ele sorri e continua. Ele tem um lugar para ir, e não tem tempo a perder.
O versículo 27 contém esta declaração curiosa: “Movido pelo Espírito,
ele foi ao templo.” Aparentemente, Simeão não tinha planos de ir ao
templo. Deus, no entanto, pensava de outra maneira. Não sabemos como
surgiu a convocação — um chamado do vizinho, um convite de sua esposa,
um palpite no coração — nós não sabemos. Mas de alguma maneira Simeão
soube que deveria deixar seus compromissos de lado: “estou indo para o
templo”, anunciou.
Desse lado do ocorrido, compreendemos a convocação. Se Simeão
compreendeu ou não, é outra questão. Sabemos, no entanto, que não era a
primeira vez que Deus lhe cutucava os ombros. Em pelo menos outra
oportunidade havia recebido uma mensagem de Deus.
“Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que ele não morreria antes de ver
o Cristo do Senhor” (v. 26).
É de se perguntar o que uma mensagem como essa faria a uma pessoa. O
que ela faria a você se você soubesse que falaria com Deus? Sabemos o que
ela fez a Simeão.
Ele “esperava a consolação” (v. 25).
Ele estava “vivendo na expectativa da salvação de Israel” (v. 25,
PHILLIPS, tradução livre).
Ele “observava e aguardava a restauração de Israel” (v. 25, NEB,
tradução livre).
Simeão é um homem atento e a postos, de olho aberto procurando
aquele que estava para vir a fim de salvar Israel.
Talvez você saiba como é procurar alguém que veio encontrá-lo. Eu sei.
Quando eu viajo para falar às pessoas, muitas vezes não sei quem vai me
buscar no aeroporto. Alguém foi designado para isso, mas eu não conheço a
pessoa. Assim, desembarco do avião procurando pelos rostos de pessoas
que nunca vi. Porém, apesar de nunca ter visto a pessoa, sei que vou
encontrá-la. Ela pode ter meu nome em uma placa, ou meu livro em suas
mãos, ou apenas uma expressão curiosa no rosto. Se você me perguntasse
como é que eu iria reconhecer quem veio me encontrar, eu diria “não sei,
sei apenas que vou reconhecer”.
Aposto que Simeão teria dito a mesma coisa. “Como é que você vai
reconhecer o rei, Simeão?” “Eu não sei, sei apenas que vou reconhecê-lo.”
E assim, continua a procurar. Como um detetive atrás de pistas, ele procura.
Estudando cada rosto que passa. Encarando os olhos de estranhos. Está
procurando por alguém.
A língua grega, tão rica de termos, tem um depósito lotado de verbos
que significam “olhar”. Um significa “olhar adiante”, outro “desviar o
olhar”; outro é usado em “olhar para dentro”, e assim por diante. A
expressão “olhar para algo intencionalmente” requer uma palavra específica
e “olhar por alguém atenciosamente”, “perscrutar com atenção” exige outra.
De todas as formas de “olhar”, a que melhor captura o que significa
“olhar para o que vem” é o termo usado para descrever o que fazia Simeão:
prosdechomai. Dechomai significando “esperar”. Pros, “adiante”. Combine
ambos e você terá a representação de “esperar adiante”. A gramática pode
não ser grandes coisas, mas a imagem é perfeita. Simeão esperava, não
exigia, não se apressava, apenas esperava.
Ao mesmo tempo, ele esperava adiante. Pacientemente, atentamente.
Uma calma expectativa. Olhos arregalados. Braços estendidos. Procurando
na multidão o rosto certo, e esperando que o rosto aparecesse hoje.
Tal era o modo de vida de Simeão, e tal pode ser o seu. Assim como
Simeão, não nos foi dito do Cristo que virá? Não somos, assim como
Simeão, herdeiros de uma promessa? Não fomos convocados pelo mesmo
espírito? Não estamos aguardando ver o mesmo rosto?
Certamente. Na verdade, o mesmíssimo verbo é usado mais à frente em
Lucas, para descrever a postura do servo que aguarda:
Estejam prontos para servir, e conservem acesas as suas candeias,
como aqueles que esperam (prosdechomai) seu senhor voltar de
um banquete de casamento; para que, quando ele chegar e bater,
possam abrir-lhe a porta imediatamente. Felizes os servos cujo
senhor os encontrar vigiando quando voltar. Eu lhes afirmo que
ele se vestirá para servir, fará que se reclinem à mesa, e virá servi-
los (Lucas 12:35-37).
Observe a postura dos servos: a postos e aguardando. Note o que faz o
mestre. Está tão encantado que seus servos o estão aguardando e cuidando
dele que ele mesmo toma a forma de um servo e os serve! Eles sentam-se
para o banquete e são cuidados pelo mestre! Por quê? Por que recebem tal
honra? O mestre ama encontrar pessoas que estão esperando por sua volta.
O mestre recompensa os que “esperam adiante”.
As duas palavras são cruciais.
Primeiramente, precisamos esperar. Paulo diz: “Mas se esperamos o que
ainda não vemos, aguardamo-lo pacientemente” (Romanos 8:25). Simeão é
nosso modelo. Ele não estava tão agoniado com o “ainda não” a ponto de
ignorar o “agora mesmo”. Lucas diz que Simeão era um “justo e piedoso”
(2:25). Pedro nos conclama a seguir seu exemplo.
“O dia do Senhor, porém, virá como ladrão. Os céus desaparecerão com
um grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor, e a Terra, e
tudo o que nela há, será desnudada. Visto que tudo será assim desfeito, que
tipo de pessoas é necessário que vocês sejam?” (2 Pedro3:10, 11).
Boa pergunta. Que tipo de pessoa devemos ser? Pedro nos diz: “Vivam
de maneira santa e piedosa, esperando [eis aquela palavrinha de novo] o dia
de Deus e apressando a sua vinda” (vv. 11, 12, com intervenção do autor).
Esperança no futuro não é uma desculpa para sermos irresponsáveis no
presente. Esperemos adiante, mas esperemos.
Porém, para a maioria de nós, esperar não é o problema. Ou, talvez eu
deva dizer, esperar é o problema. Somos tão bons em esperar que não
esperamos adiante. Esquecemos de procurar. Somos tão pacientes que nos
tornamos complacentes. Estamos satisfeitos demais. Quase não
perscrutamos os céus. Raramente corremos para o Templo. Poucas vezes, se
tanto, permitimos que o Espírito Santo interrompa nossos planos e nos guie
para a louvação a fim de que possamos ver Jesus.
É para aqueles entre nós que são fortes em esperar e fracos em observar
que o Senhor se dirige, quando diz: “Quanto ao dia e à hora ninguém sabe,
nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai […] Portanto,
vigiem, porque vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor. […] Assim,
também vocês precisam estar preparados, porque o Filho do homem virá
em uma hora em que vocês menos esperam” (Mateus 24:36, 42,44).
Simeão nos recorda de “esperar adiante”. Pacientemente atentos. Mas
não tão pacientes que nos faça perder a atenção. E nem tão atentos que
percamos nossa paciência.
Ao fim, a oração de Simeão foi atendida. “Simeão o tomou nos braços e
louvou a Deus, dizendo: ‘Ó Soberano, como prometeste, agora podes
despedir em paz o teu servo’” (Lucas 2:28, 29).
Bastou olhar o rosto de Jesus para Simeão saber que era hora de ir para
casa. E bastará uma olhada no rosto de nosso Salvador para que saibamos
da mesma coisa.
Capítulo 3
O berço da esperança
Um dia de prova e promessa
Mas cada um por sua vez: Cristo, o primeiro; depois, quando
ele vier, os que lhe pertencem.
— 1 CORÍNTIOS 15:23
O terremoto de 1989 na Armênia precisou apenas de quatro minutos para
arrasar toda a nação e matar trinta mil pessoas. Assim que o tremor
mortífero cessou, um pai correu para uma escola primária a fim de salvar
seu filho. Quando chegou, viu que o edifício havia desabado. Olhando para
a massa de pedras e detritos, lembrou-se de uma promessa que fizera a seu
filho: “Não importa o que acontecer, eu sempre estarei ao seu lado.” Guiado
pela própria promessa, localizou a área mais próxima de onde ficava a sala
de seu filho e começou a retirar as pedras. Outros pais chegaram e
começaram a chorar pelas suas crianças. “É tarde demais”, disseram ao
homem. “Você sabe que as crianças estão mortas. Não adianta tentar.” Até
um policial encorajou-o a desistir.
Mas o pai se recusou. Por oito horas, depois dezesseis, depois 32, trinta
e 36, e ele escavando. Suas mãos estavam escalavradas e sua energia quase
extinta, mas ele se recusava a desistir. Finalmente, após 38 horas de aflição,
ele arrancou um grande bloco de concreto e ouviu a voz de seu filho. Ele
gritou o nome de seu menino, “Arman! Arman!” E uma voz respondeu:
“Papai, sou eu!” E o menino acrescentou estas palavras maravilhosas: “Eu
disse às outras crianças para não se preocuparem. Disse que se você
estivesse vivo, viria me salvar, e, quando me salvasse, salvaria todas elas,
também. Porque você tinha prometido: ‘Não importa o que aconteça, eu
sempre vou estar ao seu lado’.”1
Deus nos fez a mesma promessa. “Eu voltarei…”, nos garantiu. Sim, as
rochas desabarão. Sim, o chão irá tremer. Mas as crianças de Deus não têm
de sentir medo — pois o Pai nos prometeu que estaremos com ele.
Será que nós ousamos acreditar na promessa? Ousamos confiar em sua
lealdade? Não haveria uma parte em nós, mais cautelosa, que se pergunta o
quão confiáveis seriam essas palavras?
Talvez você não tenha dúvidas. Se for assim, pode ser que queira pular
este capítulo. Para outros entre nós, no entanto, um lembrete pode ser bem
útil. Como podemos saber que ele fará o que disse? Como podemos
acreditar que ele irá remover as pedras e nos libertar?
Porque ele já fez isso uma vez.
Vamos revisitar o momento? Sentemo-nos no chão, vamos sentir a
escuridão e mergulhar no silêncio enquanto enxergamos, com os olhos do
coração, o que os olhos de nosso rosto não podem enxergar.
Vamos visitar o túmulo, porque é onde Jesus está deitado.
Imóvel. Frio. Rígido. O maior troféu da morte. Ele não está dormindo ou
descansando ou em estado de coma no túmulo — está morto no túmulo.
Não há ar em seus pulmões. Não há pensamentos em seu cérebro. Seus
membros não sentem nada. Seu corpo é tão sem vida quanto a lápide
rochosa sobre o qual foi deposto.
Os executores se certificaram. Quando Pilatos soube que Jesus estava
morto, perguntou aos soldados se eles tinham certeza. Eles tinham. Se
tivessem visto o Nazareno se contorcer, se tivessem ouvido um gemido,
teriam quebrado suas pernas para apressar seu fim. Mas não fora necessário.
Uma estocada de uma lança acabou com as dúvidas. Os romanos sabiam
fazer seu trabalho. E o trabalho deles havia terminado. Afrouxaram os
pregos, desceram o corpo, e deram-no a José e Nicodemos.
José de Arimateia. Nicodemos, o fariseu. Ocupavam posições poderosas
e tinham influência. Homens de meios e recursos. Mas que teriam trocado
tudo isso por um sopro que saísse do corpo de Jesus. Tinham respondido à
oração de seu coração, a oração por um Messias. Não importa quanto os
soldados o quisessem morto, mas esses homens ainda o queriam vivo.
Você não sabe que, enquanto limpavam o sangue da barba, tentavam
ouvir sua respiração? E que, quando removiam os panos de suas mãos,
tinham a esperança de que houvesse um pulso? Você não sabe que eles
procuraram a vida?
Mas não a encontraram.
Então fizeram o que se espera que se faça a um homem morto.
Embalsamaram-no em linho e o depositaram no túmulo. O túmulo de José.
Soldados romanos foram destacados para guardar o corpo. E um selo
romano foi colocado sobre a rocha que encerrava o túmulo. Por três dias,
ninguém chegou perto da sepultura.
E então chegou o domingo. E com o domingo veio a luz — uma luz de
dentro do túmulo. Uma luz brilhante? Uma luz suave? Faiscante? Vinda de
cima? Não sabemos. Mas houve uma luz. Pois que ele era a luz. E com a
luz veio a vida. A escuridão foi banida, a deterioração foi revertida. O céu
sopra e Jesus respira. Seu peito se expande. Seus lábios ressecados se
abrem. Seus dedos nodosos se erguem. As válvulas de seu coração passam a
se comprimir e as juntas rígidas flexionam-se.
E, quando visualizamos o momento, assombramo-nos.
Assombramo-nos não somente pelo que vemos, mas pelo que sabemos.
Sabemos que, da mesma maneira, iremos morrer. Sabemos que iremos,
também, ser enterrados. Nossos pulmões, como os dele, serão esvaziados.
Nossas mãos, como as dele, serão enrijecidas. Mas seu corpo que se ergue e
a rocha que afasta faz nascer uma crença poderosa: “Eis no que
acreditamos: se formos incluídos na morte de Cristo que conquista o
pecado, também seremos incluídos na ressurreição que salvará vidas”
(Romanos 6:5-9, MSG).
Para os de Tessalônica, Paulo declarou: “Já que Jesus morreu e livrou-se
da sepultura, Deus certamente irá trazer de volta à vida aqueles que
morrerem em Jesus” (1 Tessalonicenses 4:14, MSG).
E, para os de Corinto, afirmou: “Assim como, por estarem unidos com
Adão [isto é, somos todos parentes], todos morrem, assim também, por
estarem unidos com Cristo, todos ressuscitarão. Porém, cada um será
ressuscitado na sua vez” (1 Coríntios 15:22, 23, NTLH, com intervenção do
autor).
Para Paulo e para qualquer seguidor de Cristo, a promessa é
simplesmente esta: a ressurreição de Jesus é uma prévia e uma prova da
nossa ressurreição.
Mas como podemos confiar nessa promessa? A ressurreição é uma
realidade? É verdade que o túmulo ficou vazio? Essa não é apenas uma boa
pergunta. É a grande pergunta. Pois, como escreveu Paulo, “se Cristo não
foi ressuscitado, a fé que vocês têm é uma ilusão, e vocês continuam
perdidos nos seus pecados” (1 Coríntios 15:17, NTLH). Em outras palavras,
se Cristo foi erguido, entãoseus seguidores se juntarão a ele; mas, se não,
então seus seguidores são meros tolos. A ressurreição, portanto, é a base da
fé cristã. Se essa base é sólida, então a construção sobre ela é confiável. Se
você a remover, toda a casa desmorona.
No entanto, não se pode remover a base, porque, se Jesus não estava no
túmulo, onde estaria?
Alguns especulam que ele nem ao menos teria morrido. Acreditou-se
que ele estava morto, quando estaria apenas inconsciente. Até que acordou,
e caminhou para fora da sepultura. Mas, falando sério, essa teoria não se
sustenta. Jesus foi submetido a chicotadas, sede e desidratação, havia
pregos em suas mãos e em seus pés, e, acima de tudo, uma lança enfiada em
seu flanco. Como poderia um homem sobreviver a tal tratamento? E mesmo
se ele sobrevivesse, poderia ele, com as próprias mãos, fazer rolar uma
rocha imensa do túmulo, derrotar os guardas romanos e fugir? Dificilmente.
Esqueça a hipótese de Jesus não estar morto.
Outros acusam os discípulos de terem roubado o corpo para forjar a
ressurreição. Dizem que os seguidores de Jesus — pescadores e coletores
de impostos, gente comum — sobrepujaram os soldados romanos,
sofisticados e bem armados, e os detiveram o tempo suficiente para mover a
rocha selada, desembrulhar o corpo e fugir. Muito pouco plausível, mas,
mesmo que fosse, supondo que os discípulos teriam roubado o corpo, como
explicaríamos seus martírios? Muitos entre eles morreram por sua fé.
Morreram por sua crença no Senhor ressuscitado. Poderiam ter falsificado a
ressurreição e depois morrer por uma mentira? Acho que não. Temos de
concordar com John R. W. Stott, que escreveu: “Hipócritas e mártires não
são feitos do mesmo material.”2
Alguns chegam ao ponto de afirmar que os judeus roubaram o corpo.
Seria possível que alguns inimigos de Jesus tivessem levado o corpo?
Talvez, mas por que o fariam? Eles querem o corpo no túmulo. E, cabe
perguntar, se eles de fato roubaram o corpo, por que não o apresentaram?
Por que não o exibiram? Coloquem o cadáver do carpinteiro em um féretro
e desfilem por Jerusalém, e o movimento liderado por Jesus seria
desmoralizado. Mas eles não apresentaram o corpo. Por quê? Porque o
corpo não estava com eles.
A morte de Cristo foi real. Os discípulos não levaram seu corpo embora.
Os judeus não o levaram. Então onde está? Bem, durante os últimos dois
mil anos, milhões de pessoas preferiram aceitar a simples explicação dada
pelo anjo a Maria Madalena. Quando ela veio visitar a sepultura e a
encontrou vazia, disseram a ela: “Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha
dito” (Mateus 28:6).
Por três dias o cadáver de Jesus se deteriorou. Não “descansou em paz”,
veja bem. Deteriorou-se. As bochechas murcharam e a pele empalideceu.
Mas, após três dias, o processo se reverteu. Algo aconteceu lá no fundo
daquela sepultura… e o Cristo vivo saiu de lá.
E, no momento em que ele caminhou para fora de lá, tudo mudou. Como
disse Paulo: “Se formos unidos com ele por uma morte igual a dele, assim
também seremos unidos com ele por uma ressurreição igual a dele. Pois
sabemos que a nossa velha natureza pecadora já foi morta com Cristo na
cruz a fim de que o nosso eu pecador fosse morto, e assim não sejamos
mais escravos do pecado” (Romanos 6:5, 6, NTLH).
A ressurreição é como um fogo de artifício explodindo para anunciar a
quem busca com sinceridade de que é seguro acreditar. É seguro acreditar
na justiça final. É seguro acreditar que o céu é nossa morada e que a Terra é
só uma passagem. É seguro acreditar em um tempo em que as dúvidas não
vão nos manter acordados e que a dor não nos abaterá. É seguro acreditar
em sepulturas abertas, dias sem fim e glória genuína.
Uma vez que pudermos aceitar a história da ressurreição, será seguro
aceitar o resto da história.
Por conta da ressurreição, tudo muda.
A morte muda. Costumava ser o fim; agora é só o começo.
O cemitério muda. As pessoas iam lá para dizer adeus; agora elas vão
para dizer “vamos voltar a ficar juntos”.
Até o caixão muda. Não é mais uma caixa em que escondemos nosso
corpo, mas uma espécie de casulo no qual o corpo é mantido até que Deus o
liberte para voar.
E, algum dia, de acordo com Cristo, ele nos libertará. Ele voltará.
“Voltarei e os levarei para mim” (João 14:3). E para provar que ele falava
sério, a rocha foi afastada e seu corpo se ergueu.
Porque ele sabe que algum dia este mundo vai voltar a estremecer. Em
um piscar de olhos, tão rápido quanto os raios que caem do leste para o
oeste, ele voltará. E todo mundo o verá — você o verá, eu o verei. Os
corpos irão afastar a Terra para o lado e romper a superfície do mar. A Terra
estremecerá, o céu rugirá, e os que não o conhecem irão tremer. Mas nessa
hora você não terá medo, porque você o conhece.
Pois você, assim como o menino da Armênia, ouviu a promessa feita
pelo seu Pai. Você sabe que ele moveu a rocha — não a rocha do terremoto
armênio, mas a rocha da sepultura de Arimateia. E, no momento em que ele
removeu a rocha, também removeu todas as razões para ter dúvida. E nós,
assim como o garoto, podemos acreditar nas palavras de nosso Pai:
“Voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver”
(João 14:3).
Capítulo 4
Nos braços cálidos de Deus
Um dia de reencontros felizes
O próprio Senhor descerá do céu. Aqueles que morreram
crendo em Cristo ressuscitarão primeiro. Então nós, os que
estivermos vivos, seremos levados nas nuvens, junto com eles,
para nos encontrarmos com o Senhor no ar. E assim ficaremos
para sempre com o Senhor. Portanto, animem uns aos outros
com essas palavras.
— 1 TESSALONICENSES 4:16-18
Se você precisa ser lembrado de quão frágil é a humanidade, eis aqui uma
cena para que você testemunhe. Na próxima vez que você pensar que as
pessoas se tornaram demasiadamente estoicas e autossuficientes, eu tenho
um lugar para você visitar. Quando você estiver preocupado achando que os
corações se tornaram duros e as lágrimas secaram, deixe-me levá-lo a um
lugar onde os joelhos dos homens tremem e as lágrimas das mulheres
escorrem. Deixe-me levá-lo a uma escola, e vamos observar os pais quando
deixam seus filhos pela primeira vez.
É uma ocasião traumática. O sino já soou, e as aulas já começaram, mas
os adultos continuam no pátio, oferecendo palavras de consolo e formando
grupos de apoio. Os pais sabem que a escola é boa, que a educação é a coisa
certa a se fazer, e que verão seus pequenos em poucas horas, mas, mesmo
assim, não querem dizer adeus.
Não gostamos de dizer adeus àqueles que amamos.
Mas a experiência que enfrentamos na volta às aulas é um piquenique se
comparada ao que se passa no cemitério quando uma morte acontece. Uma
coisa é deixar os que amamos em um ambiente que nos é familiar. Outra
coisa, totalmente diferente, é deixá-los partir para um mundo que não
conhecemos e que não podemos descrever.
Não gostamos de dizer adeus àqueles que amamos.
Mas temos de fazê-lo. Não há como evitar, por mais relutantes que
estejamos em discutir o assunto — a morte é uma parte muito real da vida.
Cada um de nós tem de soltar as mãos daqueles que amamos para que eles
segurem as mãos de quem não conhecemos.
Você conseguiria lembrar a primeira vez que a morte o forçou a dizer
adeus? A maioria de nós consegue. Um dia, quando eu estava na antiga
quarta série do Ensino Fundamental, cheguei da escola e me surpreendi ao
encontrar a caminhonete do meu pai na entrada da garagem. Eu o encontrei
no banheiro, barbeando-se. “Seu tio Buck morreu hoje”, disse. Essa notícia
me entristeceu. Gostava do meu tio. Não o conhecia bem, mas gostava dele.
A novidade também me deixou curioso.
No funeral, escutei palavras como “partiu e nos deixou”, “foi para um
lugar melhor”, “seguiu à frente”. Eram expressões que eu desconhecia.
Perguntei-me: “Partiu para onde?”, “Que lugar melhor é esse?”, “Está à
frente da gente?”
Logicamente, desde então aprendi que não sou o único com dúvidas a
respeito da morte. Participe de qualquer conversa a respeito da volta de
Cristo, e alguém irá perguntar: “Mas o que acontecerá com aquelesque já
morreram? O que acontece com os cristãos entre a morte e a volta de
Jesus?”
Aparentemente, a igreja em Tessalônica fez a mesma pergunta. Ouça o
que disse a eles Paulo: “Irmãos, queremos que vocês saibam a verdade a
respeito dos que já morreram, para que não fiquem tristes como ficam
aqueles que não têm esperança.” (1 Tessalonicenses 4:13, NTLH).
A igreja havia enterrado sua cota de entes queridos. E Paulo quer que os
membros que restaram fiquem em paz em relação àqueles que partiram na
frente. Muitos de vocês também já enterraram seus amados. E, assim como
Deus falou a eles, é com vocês que ele está falando.
Se você for passar seu aniversário de casamento sozinho este ano, ele
está falando com você.
Se seu filho chegou ao céu antes de chegar à Pré-escola, ele está falando
com você.
Se você perdeu um ente querido para a violência, se você aprendeu mais
do que gostaria sobre doenças, se seus sonhos foram enterrados junto com o
caixão de alguém querido, ele está falando com você.
Ele está falando com todos entre nós que já pisaram a terra macia ao
lado de uma sepultura recém-aberta. E para nós ele dá estas palavras de
confiança: “Irmãos, queremos que vocês saibam a verdade a respeito dos
que já morreram, para que não fiquem tristes como ficam aqueles que não
têm esperança. Nós cremos que Jesus morreu e ressuscitou; e assim cremos
também que, depois que Jesus vier, Deus o levará de volta e, junto com ele,
levará os que morreram crendo nele” (1 Tessalonicenses 4:13,14, NTLH).
Deus transforma nossa tristeza vazia de esperanças em tristeza repleta de
esperanças. Como ele faz isso? Ao nos contar que veremos nossos amados
mais uma vez.
Bob Russel é um amigo que faz pregações no estado do Kentucky. Seu
pai faleceu recentemente. O funeral aconteceu em um dia frio, nublado e
tristonho. As estradas cobertas de neve impediam o cortejo fúnebre, então o
diretor disse a Bob: “Deixa que eu levo o corpo de seu pai para a
sepultura.” Bob não poderia suportar a ideia de faltar ao enterro do próprio
pai, então ele, seu irmão e seus filhos entupiram um veículo com tração nas
quatro rodas, e seguiram o carro da funerária. Eis como ele descreveu o
evento:
Tivemos de cortar uns vinte centímetros de neve para chegar ao
cemitério, conseguimos chegar a uns cinquenta metros da
sepultura de papai, com o vento soprando a uns quarenta
quilômetros por hora, e nós seis carregamos o caixão para a
cova… Ficamos olhando o corpo ir descendo na cova e nos
voltamos para partir. Senti que alguma coisa faltava, então disse:
“Gostaria de fazer uma oração.” Nós seis nos agrupamos e eu
orei: “Senhor, este é um lugar tão frio e solitário…” Então
engasguei e não pude continuar. Continuei batalhando para
manter a compostura, e por fim sussurrei apenas: “Mas eu lhe
agradeço, pois sei que estar ausente do corpo é estar a salvo em
seus braços cálidos.”1
Não é nisso que queremos acreditar? Assim como cada pai ou mãe
precisa saber que seu filho está a salvo na escola, ansiamos saber se nossos
entes queridos estão a salvo na morte. Desejamos o reconforto de que a
alma estará imediatamente ao lado de Deus. Mas como ousamos acreditar
nisso? Podemos acreditar nisso? Segundo a Bíblia, sim, nós podemos.
As Escrituras são surpreendentemente pouco eloquentes sobre essa fase
de nossa vida. Quando fala sobre o período entre a morte e a ressurreição do
corpo, a Bíblia não berra, ela apenas sussurra. Mas, na confluência desses
sussurros, uma voz firme é ouvida. Essa voz tem a autoridade de nos
garantir que, na morte, o cristão entra imediatamente na presença de Deus e
desfruta a companhia consciente do Pai e daqueles que já haviam partido.
De onde eu tiro essas ideias? Ouça alguns desses sussurros:
Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Caso
continue vivendo no corpo, terei fruto do meu trabalho. E já não
sei o que escolher! Estou pressionado dos dois lados: desejo partir
e estar com Cristo, o que é muito melhor (Filipenses 1:21-23).
O que está escrito sugere uma partida imediata da alma após a morte. Os
detalhes da gramática são um pouco tediosos, mas levaram um estudioso a
sugerir: “O que Paulo está dizendo aqui é que o momento em que ele partir
ou morrer, será o momento em que ele estará com Cristo.”2
Outra pista vem da carta que Paulo escreveu para os coríntios. Talvez
você já tenha escutado a frase “estar ausente do corpo é habitar com o
Senhor”. Paulo a disse primeiro: “Temos, pois, confiança e preferimos estar
ausentes do corpo e habitar com o Senhor” (2 Coríntios 5:8).
Na segunda vinda de Cristo, nossos corpos serão ressuscitados. Mas,
obviamente, Paulo não está falando sobre isso nesse versículo. Se estivesse,
não teria empregado a frase “ausentes do corpo”. Paulo está descrevendo
uma fase após nossa morte e anterior à ressurreição de nosso corpo. Durante
esse tempo, estaremos “habitando com o Senhor”.
Não é essa a promessa que Jesus fez ao ladrão na cruz? Antes disso, o
ladrão havia negado Jesus. Agora ele se arrepende e pede misericórdia.
“Lembra-te de mim quando entrares no teu Reino” (Lucas 23:42).
Provavelmente, o ladrão estava orando para ser lembrado em algum ponto
distante do futuro, quando viesse o Reino. Ele não esperava uma resposta
imediata. Mas recebeu uma: “Eu lhe garanto: hoje você estará comigo no
paraíso” (v. 43). A primeira mensagem nesse trecho trata da graça divina,
ilimitada e surpreendente. Mas uma segunda mensagem é o imediato
transporte dos que são salvos à presença de Deus. A alma do que crê faz a
jornada para casa, enquanto o corpo do que crê aguarda a ressurreição.
Quando Estêvão era martirizado, ele enxergou “o céu aberto e o Filho do
homem de pé, à direita de Deus” (Atos 7:56). Ao aproximar-se a morte, ele
orou: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (v. 59). É seguro supor que é
justamente isso o que Jesus fez. Ainda que o corpo de Estêvão estivesse
morto, seu espírito estava livre. Ainda que seu corpo estivesse enterrado,
seu espírito estava na presença do próprio Jesus.
Há quem não concorde com essa ideia. Eles propõem um período
intermediário de purgação, uma “quarentena”, em que seremos punidos por
nossos pecados. Esse “purgatório” é o lugar em que, por um período
indeterminado, recebemos o que merecemos por conta de nossos pecados,
para que possamos ter direito ao que Deus preparou para nós.
Mas há duas coisas que me incomodam a respeito dessa doutrina. Para
começo de conversa, nenhum de nós pode suportar o que merecemos por
conta dos nossos pecados. E isso Jesus já suportou. A Bíblia ensina que a
paga do pecado é a morte, não o purgatório (veja Romanos 6:23). A Bíblia
também ensina que Jesus se tornou nosso purgatório e tomou para si nossa
punição: “Depois de ter realizado a purificação dos pecados, ele se assentou
à direita da Majestade nas alturas” (Hebreus 1:3). Não existe purgatório
porque o purgatório ocorreu no Calvário.
Outros entendem que, enquanto o corpo estiver enterrado, a alma estará
dormindo. Eles chegam a essa conclusão de maneira honesta. Em sete
ocasiões diferentes, em duas epístolas diferentes, Paulo emprega o termo
dormir para se referir à morte (veja 1 Coríntios 11:30; 15:6; 18:20; 1
Tessalonicenses 4:13-15). Poderíamos certamente deduzir que o tempo
entre a morte e a volta de Cristo é passado dormindo. (E, se fosse mesmo
assim, quem estaria reclamando? Bem que um descanso viria a calhar!)
Mas há um problema. A Bíblia se refere a alguns que já teriam morrido,
e eles certamente não estão dormindo. Seus corpos estão dormindo, mas sua
alma está bem desperta. Apocalipse 6:9-11 refere-se às almas dos mártires
que clamam por justiça na Terra. Mateus 17:3 fala de Moisés e Elias, que
apareceram no Monte da Transfiguração com Jesus. Até mesmo Samuel,
que voltou da sepultura, foi descrito como usando um manto e tendo a
aparência de um deus (1 Samuel 28:13, 14). E o que dizer a respeito da
nuvem de testemunhas que nos rodeiam (Hebreus 12:1)? Não poderiam
esses serem os heróis de nossa fé e os entes queridos de nossa vida que
partiram antes de nós?
Eu achoque sim. Acho que a oração de Bob foi precisa. Quando faz frio
na Terra, podemos nos reconfortar sabendo que nossos entes queridos estão
nos braços cálidos de Deus.
Não gostamos de dizer adeus àqueles que amamos. Seja na escola ou no
cemitério, a separação é difícil. É nosso direito chorar, mas não há
necessidade de se desesperar. Aqui, eles conheceram a dor. Lá, eles não têm
dor. Aqui, eles travaram batalhas. Lá, não há batalhas a travar. Você e eu
podemos nos perguntar por que Deus os levou para habitar com ele. Mas
eles não perguntam. Eles compreendem. Eles estão, neste exato momento,
em paz na presença de Deus.
Eu estava cumprindo meu ministério na cidade de San Antonio fazia
pouco menos de um ano quando um de nossos membros pediu-me que
orasse no funeral de sua mãe. Seu nome era Ida Glossbrenner, mas seus
amigos a chamavam de Polly.
Enquanto seu filho e eu preparávamos a cerimônia, ele me contou uma
história fascinante a respeito das últimas palavras que sua mãe havia dito. A
Sra. Glossbrenner não respondia a nada nas últimas horas de sua vida. Não
falava palavra alguma. Mas, logo antes de sua morte, ela abriu os olhos e
declarou, em alto e bom som: “Meu nome é Ida Glossbrenner, mas meus
amigos me chamam de Polly.”
Seriam palavras sem sentido em meio a uma alucinação? Talvez. Ou,
talvez algo mais. Talvez Ida estivesse, digamos, nos “portões da escola” do
céu. Seu corpo atrás dela. Sua alma na presença de Deus. E talvez ela
estivesse se apresentando.
Não sei. Sei apenas uma coisa. Quando faz frio na Terra, podemos nos
reconfortar em saber que nossos entes queridos estão nos braços cálidos de
Deus. E quando Cristo voltar, ele os tomará nos braços também.
Capítulo 5
Você novinho em folha
Um dia de rejuvenescimento
Cada um será ressuscitado na sua vez: Cristo, o primeiro de
todos; depois os que são de Cristo, quando ele vier.
— 1 CORÍNTIOS 15:23, NTLH
Vamos supor que você estivesse passando por minha fazenda um dia, e me
visse no campo, chorando. (Não tenho fazenda alguma nem costumo sentar
pelos campos, mas vamos fazer de conta.) Lá estou eu, sentado,
desconsolado, à frente de uma linha de plantação. Preocupado, você se
aproxima e me pergunta o que há de errado. Eu olho para você, por baixo
do meu boné, e estendo a palma da mão, repleta de sementes, em sua
direção. “Estas sementes fazem partir meu coração.” Eu choro. “Estas
sementes fazem partir meu coração.”
“O quê?!”
Entre soluços, explico, “as sementes vão ser depositadas no solo e vão
ser cobertas de terra. Vão se deteriorar, e nunca mais as verei”.
Você está assombrado com meu choro. Você olha para os lados
imaginando que eu sou um idiota. Por fim, você me explica um princípio
básico da agricultura: é da deterioração das sementes que a planta irá
nascer.
Você aponta para meu rosto e, gentilmente, me recorda: “Não se lamente
pelo enterro da semente. Por acaso não sabe que em pouco tempo
testemunhará um poderoso milagre de Deus? Se você cuidar dela, com o
tempo, seus pequeninos ramos irão partir a prisão do solo e desabrochar em
uma planta além de seus sonhos.”
Bem, talvez você não fosse assim tão dramático, mas era nisso que você
estava pensando. Qualquer fazendeiro que se entristeça com o enterro de
uma semente precisa ser lembrado disto: o tempo de plantar não é o tempo
de lamentar. Qualquer pessoa que se agonie diante do enterro de um corpo
precisa ser lembrado da mesma coisa. Podemos precisar do lembrete que
Paulo deu aos Coríntios. “Cada um será ressuscitado na sua vez: Cristo, o
primeiro de todos; depois os que são de Cristo, quando ele vier” (1
Coríntios 15:23, NTLH).
No último capítulo, observamos o que acontece a um cristão entre a
morte de seu corpo e a volta de nosso Salvador. Nessa fase, as Escrituras
garantem que nossa alma viverá, mas nosso corpo estará enterrado. Esse é
um período intermediário no qual iremos “deixar de viver neste corpo para
irmos viver com o Senhor” (2 Coríntios 5:8).
Quando morrermos, nossa alma irá partir imediatamente para a presença
de Deus, enquanto aguardamos a ressurreição de nosso corpo. E quando
ocorrerá essa ressurreição? Você adivinhou. Quando Cristo voltar. “Porém,
cada um será ressuscitado na sua vez: Cristo, o primeiro de todos; depois os
que são de Cristo, quando ele vier; e então virá o fim” (1 Coríntios 15:23,
24, NTLH).
Esse tipo de versículo suscita uma porção de questões: o que Paulo quis
dizer com “os que lhe pertencem serão vivificados”? O que será vivificado?
Meu corpo? Se é assim, por que justamente este corpo? Eu não gosto do
meu corpo. Por que não recomeçamos do zero, com um modelo novo?
Volte comigo para a fazenda, e vamos procurar algumas respostas.
Se você ficou impressionado com minha alegoria da semente, preciso
confessar: eu a roubei do apóstolo Paulo. O capítulo 15 de sua carta aos
Coríntios é o ensaio definitivo sobre a ressurreição. Não vamos aqui estudar
o capítulo inteiro, mas vamos isolar alguns versículos e fazer algumas
reflexões.
Ele escreve: “Mas alguém pode perguntar: ‘Como ressuscitam os
mortos? Com que espécie de corpo virão?’ Insensato! O que você semeia
não nasce a não ser que morra. Quando você semeia, não semeia o corpo
que virá a ser, mas apenas uma simples semente, como de trigo ou de
alguma outra coisa. Mas Deus lhe dá um corpo, como determinou, e a cada
espécie de semente dá seu corpo apropriado” (1 Coríntios 15:35-38).
Em outras palavras, você não consegue um novo corpo sem a morte do
antigo corpo.1 Ou, como diz Paulo: “O que você semeia não nasce a não ser
que morra” (v. 36).
Um amigo contou-me que o paralelo que Paulo traça entre as sementes e
os corpos enterrados o fazem lembrar de uma observação feita por seu filho
mais novo. Ele estava no segundo ano, e sua turma estava estudando as
plantas à mesma época em que a família teve de participar do funeral de um
ente querido. Certo dia, ao passar pelo cemitério, os dois eventos fundiram-
se em um só pensamento. “Ei, mamãe”, ele notou, apontando para o campo
santo. “É aqui que eles plantam as pessoas.”
O apóstolo Paulo teria gostado disso. De fato, Paulo gostaria que nós
mudássemos a forma como pensamos a respeito do processo de enterro. A
sepultura não é um buraco no chão, mas um campo fértil. O cemitério não é
o lugar de descanso, mas o lugar de transformação.
A maior parte das pessoas supõe que a morte não tem um propósito. Ela
é, para essas pessoas, o que os buracos negros são para o espaço — uma
força misteriosa, inexplicável e revoltante. Evite-a a todo custo. E assim
fazemos! Fazemos todo o possível para continuar vivendo e não morrer.
Deus, no entanto, diz-nos que é preciso morrer para podermos viver.
Quando você planta uma semente, ela deve morrer no chão antes de poder
crescer (v. 35). O que encaramos como a tragédia definitiva, ele vê como o
triunfo definitivo.
E quando o cristão morre, não é hora de se desesperar, mas hora de
confiar. Assim como a semente é enterrada e o material que a envolve se
decompõe, assim nosso corpo de carne será enterrado e irá se decompor.
Mas, da mesma forma que da semente enterrada brota uma nova vida, assim
nosso corpo irá brotar em novo corpo. Como disse Jesus, “se um grão de
trigo não for jogado na terra e não morrer, ele continuará a ser apenas um
grão. Mas, se morrer, dará muito trigo” (João 12:24, NTLH).
Se você me permite uma mudança súbita de metáforas, deixe-me pular
de plantas e fazendas para jantar e sobremesa. Não amamos ser mimados
com deliciosas sobremesas? Não amamos quando o cozinheiro diz: “Assim
que vocês terminarem com o jantar, eu tenho uma surpresa para vocês.”
Deus nos diz algo parecido, a respeito de nosso corpo. “Assim que seu
corpo acabar, eu tenho uma surpresa para você.”
Qual é a surpresa? O que é esse novo corpo que irei receber? De novo,
nossa analogia de sementes será útil. Paulo escreveu: “Quando você semeia,
não semeia o corpo que virá a ser” (1 Coríntios 15:37). Querendo dizer:
você não pode imaginar o novo corpo somente olhando para o corpo antigo.
Acho que você gostará do modo que Eugene Petersonparafraseou esse
texto:
Não há diagramas para esse tipo de coisa. Temos um paralelo na
experiência de jardinagem. Você planta uma semente “morta”, e
logo há uma planta florescendo. Não há semelhanças visuais entre
a semente e a planta. Você jamais poderia adivinhar como um
tomate se pareceria somente olhando para a semente de tomate. O
que plantamos no solo não se parece em nada com o que
cultivamos. O corpo morto que enterramos no solo e o corpo da
ressurreição vindoura serão drasticamente diferentes (1 Coríntios
15:37).
O argumento de Paulo é bem claro. Você não pode visualizar a glória da
planta simplesmente por olhar a semente. Tampouco poderá vislumbrar seu
corpo futuro simplesmente estudando o corpo atual. Tudo o que sabemos é
que o corpo será modificado.
“Puxa, Paulo. Dá uma dica. Uma pista. Não pode nos falar um pouco
mais sobre esses novos corpos?”
Parece que ele sabia que nós iríamos perguntar isso, porque o apóstolo
se debruça sobre o assunto por mais alguns parágrafos e fornece um
argumento final: você não poderá visualizá-lo, mas esteja certo de que irá
amar o tal novo corpo.
Paulo destaca três modos pelos quais Deus irá transformar nosso corpo.
Ele será transformado de:
1. Corrupção para não corrupção — “Semeia-se [o corpo] em corrupção,
ressuscitará em incorrupção” (v. 42, ARC).
2. Ignomínia em glória — “Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em
glória” (v. 43, ARC).
3. Fraqueza em vigor — “Semeia-se em fraqueza, ressuscitará com vigor”
(v. 43, ARC).
Corrupção. Ignomínia. Fraqueza. Três palavras nada honrosas para
descrever nosso corpo. Mas quem poderia discordar?
Julius Schniewind não discordou. Ele era um estudioso bíblico europeu
muito respeitado. Nas últimas semanas de vida, ele lutou contra uma
dolorosa doença nos rins. Seu biógrafo nos conta como, certa noite, após ter
conduzido um estudo bíblico, ele vestia seu casaco para ir para casa. Ao
fazê-lo, uma dor lancinante no seu flanco o fez gemer e proferir a frase
grega “Soma tapeinõseõs, soma tapeinõseõs”. O estudante das Escrituras
estava citando as palavras de Paulo, “mas a nossa cidade está nos céus, de
onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que
transformará o nosso corpo abatido [soma tapeinõseõs]” (Filipenses 3:20,
21, ARC, comentário do autor).2
Nem você nem eu saímos por aí murmurando frases em grego, mas
sabemos o que é viver em um corpo abatido. Na verdade, alguns de vocês
saberão muito bem o que é isso. Por simples curiosidade, fiz uma lista das
notícias que recebi nas últimas 24 horas a respeito de problemas de saúde.
Isto foi o que chegou até mim:
— Um professor foi diagnosticado com a doença de Parkinson.
— Um homem de meia-idade está preocupado com o resultado de seus
testes. Amanhã saberá se tem câncer.
— Um amigo de meu pai marcou uma cirurgia oftalmológica.
— Outro amigo sofreu um derrame.
— Um ministro morreu após quatro décadas de pregação.
Você se identifica? Provavelmente sim. Na verdade, me pergunto se
Deus quer usar as próximas linhas para falar a você diretamente. Seu corpo
está tão cansado, tão desgastado. Suas juntas doem e os músculos estão
fatigados. Você compreende porque Paulo descreveu o corpo como uma
tenda. “Gememos”, ele escreveu (2 Coríntios 5:2). Sua tenda costuma ser
robusta e vigorosa, mas as estações passaram e as tempestades caíram, e
essa velha lona já está esburacada. Gelada pelo frio, soprada pelo vento, sua
tenda já não é tão forte quanto costuma ser.
Ou, talvez, sua “tenda”, seu corpo, nunca tenha sido tão forte. Sua visão
nunca foi assim tão nítida, sua audição jamais foi assim tão cristalina. Seu
modo de caminhar nunca foi tão ríspido, seu coração nunca tenha sido
assim tão estável. Você já observou gente se achando mais saudável do que
você jamais foi. Cadeiras de rodas, visitas de médicos, quartos de hospital,
agulhas, estetoscópios — se você nunca mais voltar a ver um desses pelo
resto de sua vida você será feliz. Você daria qualquer coisa, sim, qualquer
coisa, por um dia inteiro em um corpo saudável e vigoroso.
Se isso o descreve, deixe Deus falar diretamente ao seu coração por um
momento. O propósito deste livro é usar a volta de Cristo para encorajar o
coração. Poucas pessoas precisam mais de encorajamentos do que os
fisicamente debilitados. E poucos versículos são mais encorajadores que
Filipenses 3:20, 21. Já lemos o versículo 20 há alguns parágrafos; você se
encantará com o versículo 21: “Ele transformará os nossos corpos
humilhados, para serem semelhantes ao seu corpo glorioso” (Filipenses
3:21).
Vamos exemplificar com duas versões desse versículo:
“Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu
corpo glorioso” (ARC).
“Ele transformará o nosso corpo fraco e mortal e fará com que
fique igual ao seu próprio corpo glorioso” (NTLH).
Não importa a escolha de palavras, a promessa é a mesma. Seu corpo
será modificado. Você não irá receber um novo corpo, irá receber um corpo
renovado. Assim como Deus pode fazer um carvalho a partir de uma bolota
ou uma tulipa a partir de um bulbo, ele faz um “novo” corpo a partir de seu
antigo corpo. Um corpo sem corrupção. Um corpo sem fraqueza. Um corpo
sem ignomínia. Um corpo idêntico ao corpo de Jesus.
Minha amiga Joni Eareckson Tada fez a mesma observação. Ela ficou
tetraplégica depois de sofrer um acidente automobilístico na adolescência, e
passou as duas últimas décadas em desconforto. Ela, mais do que ninguém,
conhece o significado de viver em um corpo abatido. Ao mesmo tempo, ela,
mais que ninguém, conhece a esperança por um corpo ressurreto. Veja o
que ela nos diz:
Em algum lugar, em meu corpo partido, paralisado, está a
semente do que hei de tornar-me. A paralisia faz com que eu vá
me tornar mais grandiosa quando comparamos as pernas inúteis e
atrofiadas que tenho com as esplêndidas pernas ressurretas. Estou
convencida de que, se houver espelhos no céu (e por que não
haveria?), a imagem que irei ver será inequivocamente “Joni”,
ainda que seja uma Joni bem melhor, mais luminosa. Tanto que
não vale a pena comparar… Serei semelhante a Jesus, o homem
do céu.3
Você gostaria de dar uma espiada no que será seu novo corpo? Basta
olhar o corpo ressurreto de nosso Senhor. Após sua ressurreição, Jesus
passou quarenta dias na presença das pessoas. O Cristo ressurreto não
estava em um estado desencarnado, puramente espiritual. Ao contrário, ele
tinha um corpo — que se podia tocar, que se podia ver.
Basta perguntar a Tomé. Tomé disse que não acreditaria na ressurreição,
“se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo
onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado” (João 20:25).
A resposta de Cristo? Apareceu a Tomé e disse: “Coloque o seu dedo aqui;
veja as minhas mãos. Estenda a mão e coloque-a no meu lado. Pare de
duvidar e creia” (v. 27).
Jesus não se tornou uma fumaça, ou um vento ou um espectro
fantasmagórico. Ele veio como um corpo. Um corpo que mantinha conexão
substancial com o corpo que tinha originalmente. Um corpo que tinha carne
e ossos. Pois não foi isto que ele disse a seus seguidores, “um espírito não
tem carne nem ossos, como vocês estão vendo que eu tenho” (Lucas
24:39)?
O corpo ressurreto de Jesus, então, era um corpo de verdade, real o
suficiente para caminhar na estrada para Emaús, real o suficiente para
aparecer na forma de um jardineiro, real o suficiente para comer o desjejum
com os discípulos na Galileia. Jesus tinha um corpo real.4
Ao mesmo tempo, esse corpo não era o clone de seu corpo terreno.
Marcos nos conta que Jesus “apareceu em outra forma” (Marcos 16:12).
Era o mesmo, mas era diferente. Tão diferente que Maria Madalena, seus
discípulos no mar e seus discípulos no caminho de Emaús não o
reconheceram. Ainda que ele tenha convidado Tomé a tocar seu corpo, ele
passou por uma porta fechada para estar na presença dele.5
Então o que sabemos sobre o corpo ressurreto de Jesus? Sabemos que
não era como nenhum outro que o mundo jamais vira.
O que sabemos sobre nosso corpo ressurreto? Que será diferente de
qualquer coisaque imaginemos.
Será que pareceremos tão diferentes que não seremos instantaneamente
reconhecidos? Talvez. (Talvez precisemos de crachás.) Será que iremos
atravessar paredes? É provável que estaremos fazendo muito mais do que
isso.
Será que ainda portaremos as cicatrizes das dores da vida? As marcas de
guerra. As desfigurações por conta de doenças. As escaras da violência.
Será que isso permanecerá em nosso corpo? Essa é uma ótima pergunta.
Jesus, ao menos por quarenta dias, manteve as suas marcas. Será que
manteremos as nossas? A respeito dessa questão, temos apenas nossas
opiniões, mas minha opinião é que não manteremos. Pedro nos conta que
“por suas feridas vocês foram curados” (1 Pedro 2:24). Na contabilidade do
céu, somente uma ferida deve ser lembrada. E essa é a ferida de Jesus.
Outras feridas não precisarão existir.
Deus irá renovar nosso corpo e nos fazer como o dele. Que diferença
isso deve fazer na sua maneira de viver?
Seu corpo, de alguma forma, irá durar para sempre. Respeite isso.
Você irá viver eternamente neste corpo. Ele será diferente, note bem. O
que é hoje imperfeito se tornará perfeito. O que agora é defeito será refeito.
Seu corpo será diferente, mas você não terá um corpo diferente. Você terá
este corpo. Será que isso muda a maneira como você vive? Espero que sim.
Deus tem muita consideração por seu corpo. Você também deveria ter.
Respeite-o. Não estou dizendo para louvá-lo. Eu disse: respeite-o. Ele é,
afinal, o templo de Deus (veja 1 Coríntios 6:19). Cuide de alimentá-lo, usá-
lo e mantê-lo bem. Você não gostaria que ninguém jogasse lixo em sua
casa. Deus não quer ninguém jogando lixo na casa dele. Ao fim das contas,
é a casa dele, não? Um pouco de exercício ou cuidado na alimentação, pela
glória de Deus, não vai nos custar muito. Nosso corpo, de alguma forma, irá
viver para sempre. Respeite-o.
Tenho um pensamento final.
Sua dor NÃO irá durar para sempre. Acredite.
Você tem artrite nas juntas? Você não a terá no céu.
Seu coração é fraco? Ele será forte no céu.
O câncer corrompeu seu sistema? Não há câncer no céu.
Os seus pensamentos estão desconjuntados? Sua memória anda
falhando? Seu corpo novo terá uma nova mente.
Seu corpo parece mais próximo da morte do que nunca? Deveria
parecer. E está. E, a não ser que Cristo chegue primeiro, seu corpo será
enterrado. Como uma semente que é depositada no solo, assim seu corpo
será depositado no túmulo. E, por um período, sua alma estará no céu
enquanto seu corpo estiver na sepultura. Mas a semente enterrada no
túmulo brotará no céu. Sua alma e seu corpo se reunirão, e você será como
Jesus.
Capítulo 6
Um novo guarda-roupa
Um dia de redenção
Continuem unidos com Cristo, para que possamos estar cheios
de
coragem no dia em que ele vier. Assim não precisaremos ficar
com
vergonha e nos esconder dele naquele dia.
— 1 JOÃO 2:28, NTLH
Eu não saio por aí dizendo que jogo golfe muito bem, mas confesso
prontamente que sou um viciado em golfe. Se você conhece um programa
de “desintoxicação” para fãs de golfe, pode me inscrever. “Oi, meu nome é
Max. Eu sou um golfólatra.” Eu amo jogar golfe, assistir ao golfe e, em
noites boas, eu até sonho com golfe.
Saber disso fará com que você aprecie a extrema felicidade que tive
quando fui convidado a assistir ao Torneio Masters de Golfe. Um convite
para o Masters é o Santo Graal dos golfistas. Os bilhetes são tão difíceis de
se conseguir quanto os birdies (jogadas em que a bola chega ao buraco com
apenas uma tacada). Assim, eu estava encantado. O convite veio por
intermédio do jogador profissional Scott Simpson. Cada um dos
concorrentes recebe determinado número de convites, e Scott ofereceu dois
convites a Denalyn e a mim. (Se algum dia houve dúvida a respeito do lugar
de Scott no paraíso, já não resta mais.)
Partimos então para o Country Club de Augusta, no estado da Georgia,
onde os grandes feitos do golfe ocorreram, e onde as lendas jogaram, todos
meus heróis: Nicklaus, Mize, Saranson… Eu era como um menino em uma
loja de doces. E, assim como esse menino, eu nunca me satisfazia. Não
bastava para mim caminhar no gramado célebre, eu queria visitar os
vestiários. Era lá que os tacos de Hogan e Azinger eram exibidos. Era lá
que os jogadores ficavam conversando. E era lá que eu queria estar.
Mas eles não me deixaram entrar. Um guarda me impediu. Mostrei meu
passe para ele, mas ele balançou a cabeça negativamente. Disse a ele que
era amigo de Scott, mas isso não importava nada para ele. Prometi pagar a
faculdade do filho dele, mas ele nem aí. “Somente os caddies
(carregadores) e os jogadores”, explicou. Bem, eu sabia que não era um
jogador profissional. Sabia também que eu não era um caddie. No Máster,
os caddies têm de vestir sobretudos brancos. Minha roupa me entregou.
Então eu fui embora, achando que nunca visitaria a clubhouse. Eu tinha
chegado até a porta, mas tinham me proibido de entrar. Eu tinha sido
barrado.
Muitas e muitas pessoas temem que a mesma coisa aconteça a elas. Não
lá em Augusta, mas no céu. Temem que sejam mandadas embora ao
chegarem ao portão. Barradas. É um medo legítimo, você não acha?
Estamos falando de um momento crucial. Ser mandado embora sem poder
ver a história do golfe é uma coisa, mas ser negada a admissão no céu é
outra coisa bem diferente.
É por isso que algumas pessoas não querem discutir a volta de Cristo.
Isso as deixa nervosas. Elas podem ser tementes a Deus e frequentadoras de
igrejas, mas mesmo assim ficam nervosas. Haverá uma solução para esse
medo? Será que você vai ter de passar o resto da vida se perguntando se vão
mandá-lo embora quando estiver às portas? Sim, existe uma solução e, não,
você não tem de se preocupar. De acordo com a Bíblia, é possível “saber
sem sombra de dúvida” (1 João 5:13, MSG). Como? Como é que se pode
ter certeza?
Curiosamente, tem tudo a ver com o que vestimos.
Jesus explicou o problema em uma de suas parábolas. Ela conta a
história de um rei que planeja uma festa de casamento para seu filho. Os
convites são expedidos, mas as pessoas “recusaram-se a vir” (Mateus 22:3).
O rei é paciente e manda um segundo convite. Dessa vez, os enviados do rei
são maltratados e mortos. O rei ficou furioso. Os assassinos são punidos e a
cidade é destruída e o convite é refeito, dessa vez, para todo mundo.
Não é complicado entender onde se aplica essa parábola. Deus convidou
Israel, seus escolhidos, para serem seus filhos. Mas eles recusaram. Não
somente recusaram, mas mataram seus servos e crucificaram seu filho. A
consequência foi o julgamento de Deus. Jerusalém foi queimada e as
pessoas se espalharam.
A parábola segue com o rei oferecendo ainda outro convite. Dessa vez o
casamento seria aberto a todas as pessoas — “as boas e as más”, ou judeus
e não judeus. Esse é o ponto em que os não-judeus aparecem na parábola.
Somos os beneficiários de um convite amplo. E, algum dia, quando Cristo
chegar, estaremos na entrada do castelo do rei. Mas a história não termina
aqui. Ficar na entrada do castelo não é suficiente. Certo tipo de vestimenta
faz-se necessário. A parábola termina com um parágrafo arrepiante.
Vamos retomar a história no fim do versículo 10:
A sala do banquete de casamento ficou cheia de convidados. Mas
quando o rei entrou para ver os convidados, notou ali um homem
que não estava usando veste nupcial.
E lhe perguntou: “Amigo, como você entrou aqui sem veste
nupcial?” O homem emudeceu. Então o rei disse aos que serviam:
“Amarrem-lhe as mãos e os pés, e lancem-no para fora, nas
trevas; ali haverá choro e ranger de dentes” (Mateus 22:10-13).
Jesus amava os finais surpreendentes, e esse surpreende… e assusta. Eis
um homem que estava no lugar certo, cercado das pessoas certas, mas
vestido com a roupa errada. E, por vestir a roupa errada, ele foi expulso da
presença do rei.
“Roupas erradas? Max, você está me dizendo que Jesus se importa com
a roupa que usamos?”
É o que parece ser. De fato, a Bíblia nos diz exatamente que tipo de
vestuário Deus deseja.
“Revistam-se do Senhor Jesus Cristo, e não fiquem premeditando como