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As drogas, para atingirem seu local de ação e produzirem o efeito desejado, necessitam atravessar determinadas barreiras que, na maioria das vezes, apresentam seletividade à passagem de algumas delas. O olho, um dos tecidos mais nobres do organismo, não foge a esta regra, apresentando vários obstáculos a passagem de xenobióticos, incluindo drogas. Estes obstáculos são representados pelo fluxo continuo da lagrima na superfície corneana e pelas barreiras epiteliais (epitélios conjuntival, corneano, ciliar e pigmentar da retina) e endoteliais (vasos da retina e da íris). Se por um lado estas barreiras impedem a entrada de substâncias tóxicas no olho, por outro dificultam a ação terapêutica de determinados fármacos. Por tudo isto, a potência farmacodinâmica e as propriedades farmacocinéticas de uma droga devem ser muito bem conhecidas antes de sua administração, para se evitar que a mesma, por não alcançar seu sitio de ação, não desempenhe seu papel terapêutico. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO Na escolha da via de administração, deve-se levar em conta a estrutura alvo, a existência de barreiras intactas ou não, disponibilidade de apresentações comerciais, comportamento do animal e cooperação do proprietário. Com relação a estrutura a ser atingida, normalmente usa a via tópica para conjuntiva e superfície corneana, via tópica e/ou sistêmica para camadas profundas da córnea, íris e corpo ciliar e via sistêmica para o segmento posterior e orbita. VIA TÓPICA Propriedades Requeridas CARACTERÍSTICAS FÍSI CO – QUÍMICAS DA DROGA: A córnea é um “sanduíche” trilaminar formado por (a) externamente, um epitélio pavimentoso estratificado de caráter lipofílico, com células unidas por firmes junções; (b) o estroma por fibras colágenas mergulhadas numa substancia intersticial rica em água e, portanto, hidrofílica e (c) um endotélio lipofílico. A droga ideal para atravessar a córnea deve ter uma solubilidade bifásica, ou seja, ser ao mesmo tempo lipo e hidrossolúvel; para que isso seja possível, a molécula deve apresentar uma porção polar e uma apolar, ter baixo peso molecular e estar num pH ideal. Após a aplicação sobre o olho, a porção não drenada de determinada droga pode penetrar na córnea ou ser absorvida pelos vasos conjuntivais, sobretudo se a conjuntiva estiver inflamada. Esta penetração pode ser aumenta através dos recursos: ALTERAÇÃO DA SUPERFÍCIE CORNEANA: O espaço intercelular pode ser transitoriamente expandido por agente quelantes (p. ex. o EDTA sódico) e a permeabilidade epitelial modificada por agentes tensoativos (p.ex. cloreto de benzalcônico), aumentando consideravelmente a absorção de certas drogas. No caso dos agentes tensoativos, deve-se lembrar que seu uso crônico pode determinar perda da camada epitelial superficial, retardamento da cicatrização de processos ulcerativos e “quebra” do filme pré-corneano (lágrima), com consequente ressecamento do globo ocular. VEÍCULO ADEQUADO: O uso de veículos mais viscosos aumenta o tempo de permanência da droga nos tecidos, favorecendo sua absorção. Também a utilização do cloreto de cetilpiridínio como veículo favorece a ação das drogas, pois o mesmo inibe a albumina pré-lacrimal que se liga a determinados fármacos, reduzindo sua biodisponibilidade. TONICIDADE : A tonicidade das soluções utilizadas deve, sempre que possível, ser similar à da lágrima que, no homem corresponde a 1,4% de NaCl (variações entre 0,5 e 20,0% são bem toleradas sem causar grande desconforto). Como a absorção das drogas pela córnea é dependente de um gradiente de concentração, seria de se esperar um melhor efeito de soluções mais concentradas; tal fato não ocorre, entretanto, devido a irritação e consequentemente maior lacrimejamento produzido por estas soluções, que faz com que as mesmas sejam rapidamente diluídas e drenadas. PH: Embora o olho suporte grandes variações de pH (entre 3,5 e 10), o ideal é que este seja o mais próximo possível da lagrima, que é 7,4. É importante também que seja mantido um pH no qual haja equilíbrio entre as formas ionizada e não-ionizada da droga, visando obter-se a melhor absorção possível. ESTABILIDADE: Temperatura e pH são os fatores que mais interferem na estabilidade das preparações para o uso oftalmológico. A maioria destes produtos é mais estável num pH entre 5,0 e 7,0 e a temperaturas mais baixas. Quando as condições ideais de armazenamento não são obedecidas, vários fármacos perdem rapidamente sua atividade. ESTERILIDADE: Sempre que possível, as preparações para uso oftalmológico deverão ser estéreis, sobretudo aquelas que penetrarão no globo ocular. De maneira geral, recomenda-se que os colírios e pomadas sejam usados para um único tratamento, desprezando-se eventuais sobras; esta pratica é, na maioria das vezes, forçada pelo reduzido tamanho das apresentações comerciais, que impedem uma segunda utilização. SOLUÇÕES Os colírios sob a forma de soluções são as mais utilizadas formulações em oftalmologia. São de fácil aplicação, interferem pouco nos processos cicatriciais corneanos e permitem maior controle e variação na dosagem. Em contrapartida, as soluções tem um efeito fugaz, sendo rapidamente eliminadas após diluídas nas lagrimas e, portanto, exigem aplicações mais frequentes. Quando se usam soluções, a dinâmica do fluxo de lagrimas tem grande importância no sucesso do tratamento. Assim, deve-se considerar os seguintes fatores: • Gotas instiladas na córnea são drenadas no máximo em 5 minutos. Quando em altas concentrações de determinada droga são requeridas, a mesma deverá ser aplicada a intervalos tão curtos quanto 30 minutos; • Quando se instila mais de uma gota, tem-se um aumento da concentração da droga, mas, em contrapartida, também um aumento do reflexo de lacrimejamento, fazendo com que a mesma seja mais rapidamente eliminada. Portanto, é preferível usar pequenas quantidades (1-2 gotas para pequenos animais e 4-6 para grandes) a intervalos menores; • A frequência normal de piscadas pode ser muito aumentada quando se faz a contenção de determinados animais, sobretudo se a mesma é feita de maneira brusca. No cão, o número de piscadas por minuto pode subir de 5 para 20, acelerando a eliminação da solução aplicada. • O uso de veículos mais viscosos (p. ex. polietilenoglicol, álcool polivínilico ou polivinilpirrolidona) retarda a eliminação das soluções. SUSPENSÕES E EMULSÕES As suspensões e emulsões tem um tempo de permanência no olho ligeiramente maior que as soluções. As partículas da fase solidam não devem ser muito grandes, sob pena de produzirem irritações nos tecidos oculares. SPRAYS Os sprays são terapeuticamente equivalentes às gotas, mas têm a vantagem de serem menos susceptíveis a contaminações, causarem menor irritação e serem mais fáceis de se aplicar. Atenção: No Brasil, os sprays veterinários para uso oftalmológico não devem ser utilizados, pois lançam jatos muito fortes de partículas grandes, absolutamente desaconselháveis para o olho. POMADAS Vantagem principal: maior permanência junto aos tecidos, por menor diluição de lagrimas, e consequentemente menor drenagem, além de constituírem um veículo mais estável para determinados fármacos. Desvantagens: Incluem interferência na cicatrização corneana por “encarceramento” da ulcera, interferência na visão, retenção de exudatos, dificuldade de aplicação, tendência a superdosagem, fácil contaminação dos bicos dos tubos e contra indicação expressa nas cirurgias intraoculares ou traumatismos perfurantes, onde seu veículo pode causar grande irritação as estruturas internas do olho. Por tudo isto, os colírios devem ser preferidos as pomadas. Alguns profissionaisutilizam uma combinação de duas apresentações, instilando colírio durante o dia e fazendo a última aplicação com pomada, visando assegurar níveis melhores a noite. VIA SUBCONJUNTIVAL Indicada quando se deseja que uma droga de baixa lipossolubilidade atinja estruturas anteriores do olho em níveis adequados, o que seria difícil para a maioria dos fármacos pela via tópica. Por esta via, a droga é rapidamente absorvida e eliminada pela circulação ciliar, persistindo apenas pequenas quantidades após 30 minutos. A via é indicada em 3 situações: • No tratamento de processos inflamatórios e/ou infecciosos do globo ocular, para a aplicação de corticosteroides ou antibióticos. RAPHAELA BARBOSA @VETRAPHASTUDIES Vias de Administração Via tópica Soluções Suspensões e Emulsões Sprays Pomadas Via subconjuntival