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INTRODUÇÃO Aspectos peculiares da dermatofarmacologia incluem o fato de que o tecido alvo, a pele, também é a via de administração. A pele pode funcionar como reservatório de drogas e como local de metabolismo das mesmas. VEÍCULOS O veículo pode hidratar o extrato córneo, inibindo a perda transepidérmica de água. Quanto mais oclusivo o veículo (emulsões oleosas insolúveis em água, pomadas inertes e outros), maior hidratação e a permeabilidade. Uma alteração no veículo pode mudar o coeficiente de liberação da droga entre este e a barreira. Uma baixa solubilidade da droga no veículo limita sua dissociação, podendo reduzir sua taxa de absorção. A inflamação cutânea recente ou úmida pode responder bem a veículos aquosos (loções); Inflamação crônica de longa duração muitas vezes melhora com hidratação fornecida por veículos lipofílicos (creme e pomadas). Já os unguentos e as pastas por serem mais viscosos, formam uma camada espessa sobre a ferida, exigindo limpeza rigorosa antes de uma nova aplicação. Nas feridas úmidas, como as lesões dos espaços interdigitais, os pós (base e veículo inerte, como talco ou amido) funcionam adequadamente. PERMEABILIDADE DA PELE Inversamente proporcional à espessura do extrato córneo. Assim, porções de pele muito queratinizadas podem exigir a utilização de um emoliente para propiciar melhor atuação da base principal. INFLAMAÇÃO Alterações na “barreira” da pele por lesões ou inflamações tendem a aumentar a permeabilidade da mesma a diversas drogas. Como exemplo pode-se citar o aumento da absorção da hidrocortisona em animais jovens portadores de dermatite grave. MEDICAMENTOS DE USO TÓPICO EMOLIENTES: Gorduras ou óleos utilizados como hidratantes, protetores para amolecer a pele e como veículos para outras substâncias. Criam ainda uma camada oclusiva sobre a pele, isolando-a parcialmente do ambiente e evitando seu ressecamento. Os principais produtos utilizados são os óleos vegetais (oliva, algodão, milho e amendoim), gordura animais (lanolina), hidrocarbonetos (vaselina e parafina líquida) e cera de abelhas purificada. DEMULCENTES: Grupo de compostos de alto peso molecular, que formam soluções aquosas capazes de aliviar a irritação de mucosas e áreas descamadas. Quimicamente, classificam-se como gomas, mucilagens e amiláceos e, quando aplicados sobre a pele, revestem sua superfície e a protegem, de maneira mecânica, contra o contato do ar ou agente mecânicos. Neste grupo, estão incluídos a metilcelulose, glicerina, etilenoglicol e propilenoglicol. PROTETORES E ABSORVENTES: Embora as anteriores tenham também função protetora, o termo é reservado a substâncias insolúveis e inertes que formam uma capa aderente, continua e flexível quando aplicados sobre a pele. Função: evitar atrito, reduzir a irritação tecidual e absorver toxinas e detritos exudativos. Ex: Talco, óxido de zinco e magnésio, amido, ácido bórico, sais de bismuto e calamina (Caladryl, H). Calamina (Caladryl H) – indicada para queimadura superficiais. ADSTRINGENTES: Uso tópico que precipitam proteínas, atuando apenas na superfície das células. Deste modo, a permeabilidade das membranas é muito reduzida, mas a célula continua viável, embora possa haver lesões em células sadias se a concentração usada for muito alta. A ação final é uma redução da exsudação e uma certa remoção de tecidos inviáveis. Na medicina veterinária são utilizados principalmente, ácido tânico, acetato de alumínio (= solução de Burrow), nitrato de prata a 0,25%, permanganato de potássio 1:1.000-1:30.000 e ácido metacresolsufonico (Albocresil) bem diluído. CERATOLÍTICOS: Substâncias que removem a queratina, podendo ser utilizadas isoladamente ou como adjuvantes de drogas que atuam nas camadas mais profundas da pele. São eficientes para o tratamento de calos, verrugas e grandes cicatrizes, a fim de promover a remoção de queloides; podem também ser utilizados nas dermatofitoses. Ex: Resorcinol e os ácidos salicílico e benzoico. ANTI-SEBORREÍCOS: Podem ser ceratolíticos e/ou ceratoplásticos. Os agentes ceratolíticos removem a queratina, enquanto os ceratoplásticos atuam promovendo a normalização da cinética da epiderme e da queratinização, geralmente por efeito citostático na camada basal da epiderme. Usados na clínica dermatológica veterinária sob a forma de xampus e indicados para o tratamento de algumas dermatites seborreicas e dermatoses inespecíficas acompanhadas de secreção sebácea excessiva. Ex: Enxofre, Sulfureto de selênio (Selsun, H), ácido salicílico (Sastid, H) e peróxido de benzoíla (Peroxydex, H e V). ANTIPRURIGINOSOS: Agentes antipruriginosos tópicos determinam alívio temporário, mas quase nunca funcionam como drogas isoladas, pois possuem efeito fugaz. Podem ser benéficos se usados em pequenas áreas de prurido localizado. Apenas CORTICOSTERÓIDES, tópicos ou sistêmicos, funcionam bem, sobretudo em Carnívoros. HEMOSTÁTICOS: Indicados para ferimentos hemorrágicos da pele e mucosas. A causa primária deverá sempre ser removida, para que não haja o retorno do sangramento. São eficientes apenas para pequenas hemorragias. Ex: Esponjas de gelatina, espuma de fibrina, adrenalina e cloreto ferroso. DEBRIDANTES: Removem os tecidos inviáveis, possuindo ação semelhante aos adstringentes, mas com potência. TIPOS DE DEBRIDAMENTO MEDICAMENTOSO Debridamento enzimático Indicado naqueles casos onde o debridamento cirúrgico não é possível, tais como animais de alto risco anestésico, áreas onde haja possibilidade de danos a tecidos adjacentes e feridas ou queimaduras contaminadas. DESVANTAGENS: As principais do debridamento enzimático são o prolongado tempo de tratamento e o alto custo do mesmo. MECANISMO DE AÇÃO: As enzimas utilizadas têm diferentes mecanismos de ação, mas a maioria é proteilítica e/ou fibrinolítica APRESENTAÇÕES COMERCIAIS: Principais enzimas e apresentações são tripsina/quimiotripsina (Thiomucase creme), estreptoquinase/estreptodornase (Varidase), colagenase (Iruxol) e fibrolisina (Fibrase), todas de uso humano. DEBRIDAMENTO QUÍMICO: Os debridantes químicos retardam a cicatrização, pois tem baixa especificidade para o tecido inviável, podendo lesar também o sadio. As principais drogas são: Hipoclorito de sódio: Utilizado em baixas concentrações (0,5%), numa solução denominada Líquido de Dakin. Sulfonamidas + uréia: A uréia remove o excesso de água da ferida, determina um pH adequado para a atuação da sulfa e neutraliza certos antagonistas da mesma. Assim, tem-se uma associação das propriedades antibacterianas da sulfonamida com as debridantes da ureia. Não deve ser usada em feridas extensas, pois pode haver grandes perdas de fluidos, eletrólitos e proteínas. Apresentações comerciais (V): Sulfinpó. Polímero do ácido metacresolsulfônico: possui pH muito baixo (1-3), promovendo completa remoção do tecido desvitalizado sem interferir com o tecido são. Deve ser usado diluído de acordo com a extensão da lesão. Tem ainda propriedades adstringentes e hemostáticas. Apresentação Comercial (H): Albocresil. AGENTES DIVERSOS INSULINA O uso tópico de insulina é tido como promotor de debridamento e cicatrização de feridas. É indicada apenas nas feridas crônicas e contaminadas, não atuando em ferimentos “novos” como, por exemplo, os cirúrgicos. Durante as primeiras 24 horas, a insulina é um agente debridante e, a partir daí, estimula a deposição de gorduras, a síntese de proteínas (inclusive do colágeno) e restaura a glicólise das células desvitalizadas, acelerando o processo cicatricial. Usa-se uma associação de 10 UI de insulina NPH ou PZI por grama de Furacin Pomada (H e V); a mistura resultante deveser mantida sob refrigeração e aplicada 2vezes ao dia. Quando a área a ser tratada é muito extensa, a glicemia deve ser monitorada, pois como a insulina é bem absorvida pela pele lesada, podem ocorrer episódios de hipoglicemia. AÇÚCAR Uma pasta contendo açúcar cristal e uma pequena quantidade de glicerina pode ser usada em grandes úlceras necróticas ou isquêmicas. O açúcar atua como irritante, estimulando o tecido de granulação; seu pH ácido produz vasodilatação com consequente melhoria do aporte sanguíneo e a hiperosmolaridade por ele produzida inibe o crescimento bacteriano. Quando se usa açúcar, deve estar-se alerta para um aumento da natural tendência do animal em lamber a área da ferida. DIMETILSULFÓXIDO (DM SO) O DMSO possui alguma atividade antiinflamatoria, antibacteriana e antifúngica, mas seu principal efeito terapêutico é a grande penetração na pele após aplicação tópica, por provocar modificações na permeabilidade da mesma. Assim, o DMSO aumenta de 5 a 25 vezes a absorção percutânea de uma série de drogas, sendo indicado principalmente como veículo para outras substâncias. Seu uso prolongado (mais de 14 dias) pode causar alterações na lente do animal. TERAPÊUTICA ESPECÍFICA PARA ALGUMAS AFECÇÕES CUTÂNEAS FERIDAS: O principal ato no tratamento de uma ferida é sua limpeza através de lavagem. A lavagem remove debrís, separa partículas dos tecidos e remove, dilui ou reduz o número de bactérias presentes. O melhor método é usar uma solução antisséptica (p.ex. a base de iodopovidona), aplicada sob pressão com um irrigador ou, na ausência deste, com uma seringa grande acoplada a uma agulha calibrosa. Após completa limpeza da ferida, que deve ocorrer 2 vezes ao dia, a mesma deve ser seca e receber fina camada de pomada antimicrobiana. Recursos auxiliares incluem antibióticos sistêmicos, insulina, açúcar e outros. A aplicação de bandagens só deve ser feita se há interferência do animal ou de outros fatores externos (p. ex. moscas) sobre a ferida, pois sua oclusão retarda a cicatrização. Os repelentes de insetos podem ser usados, mas sempre ao redor da ferida e nunca sobre ela. PIODERMATITES: Incluem um conjunto de alterações cujo denominador comum é a presença de uma infecção cutânea piogênica. Cada tipo possui um tratamento particularizado, baseado na sintomatologia, mas algumas medidas podem ser empregadas em quase todos eles. • Corte dos pelos ao redor das lesões úmidas, visando uma melhor higienização e aeração da área, além de tornar mais fácil a aplicação tópica de medicamentos; •Limpeza diária da área lesada, preferivelmente com o uso de uma solução anti-séptica; • Prevenção de automutilação, com a coloração de colares protetores; • Utilização, nas dermatites “secas”, de ceratolíticos; • Utilização de antibioticoterapia, que deve, sempre que possível, ser precedida de antibiograma. Cefalosporinas de 2º geração e sulfametoxazol-trimetoprim são boas indicações.; ESCABIOSES: São tratadas com sucesso através da Ivermectina. Nas raças onde seu uso não é recomendado pode-se optar pelo amitraz. O uso de um corticosteroide nos primeiros dias de tratamento é indicado para reduzir mais rapidamente o prurido que aflige o animal. DEMODICOSES: A droga de escolha para o tratamento das demodicoses é o amitraz, aplicando-se um mínimo de 6 banhos semanais, até que se obtenha negativação dos raspados de pele. Animais que apresentem invasão bacteriana secundária devem receber antibioticoterapia, preferencialmente a base de uma cefalosporina. Nos processos localizados, pode ser usada uma solução mais concentrada de amitraz em propilenoglicol (1:30), aplicada diariamente. Como tratamento alternativo pode ser usada a Ivermectina oral (0,2 mg/kg7q 24h). DERMATOMICOSES: Devem ser tratadas a base de griseofulvina ou cetoconazol oral, por um período mínimo de 40 dias. O uso de antimicóticos tópicos geralmente não é efetivo, mas é a única opção para grandes animais principalmente devido ao custo do tratamento. DERMATOFILOSE: A droga de escolha é a estreptomicina, administrada em aplicação única de 70mg/kg/IM. Opcionalmente, pode-se usar antimicóticos a base de iodo ou soluções de sulfato de cobre, mas o tratamento se torna mais demorado, difícil de executar e menos eficiente. ECTOPARASITOS: O combate a ectoparasitos é complexo, pois envolve um fenômeno de resistência aos diversos produtos disponíveis, sendo impossível prever a sua eficácia. Como linhas gerais, temos: CARRAPATOS: Mais complicados de todos os ectoparasitos em termos de controle, tem uma sensibilidade muito variável aos ectoparasiticidas. O combate deve ser feito associando-se a aplicação de substâncias químicas a métodos preventivos, como rotação de pastagens e dedetização de ambientes domésticos, conforme o caso. Atualmente, as drogas mais efetivas são os piretróides, organofosforados, amitraz e lufenuron; PULGAS: A exemplo dos carrapatos, as pulgas também têm grande resistência aos ectoparasiticidas atuais. O controle no ambiente é de fundamental importância, pois as larvas e pulgas adultas podem permanecer por meses sem se alimentar. A escolha da droga deve recair sobre piretróides, organofosforados, lufenuron ou nitempiram. O controle a longo prazo deve incluir a administração mensal do fipronil. PIOLHOS: Os piolhos são pouco resistentes aos ectoparasiticidas, devendo a escolha recair sobre aqueles menos tóxicos. Ex: Piretróides ou carbamatos); MIÍASES: O tratamento das miíases baseia-se na limpeza inicial da ferida, com remoção do maior número de larvas possível, e na aplicação de um larvicida qualquer. Bons resultados têm sido obtidos pela aplicação de uma mistura de 6 ml de Neguvon injetável (V) em 94 ml de Furacin Solução (H ou V). A fórmula associa propriedades antibacterianas, larvicidas e repelentes e deve ser injetada, através de uma seringa sem agulha, no interior da ferida, na dose máxima diária de 1 ml por kg de peso vivo. BERNES: As larvas que aparecem em pequenos animais devem ser manualmente removidas, pois quando morrem no interior da ferida podem causar abcessos e granulomas. Para grandes animais, pode-se pincelar a área com uma solução de organofosforado ou piretróide em veículo oleoso. BICHO-DE-PÉ: Aplicar ivermectina ou imergir as áreas afetadas em solução de organofosforado ou piretróide. OTITES: Grande polêmica envolve o tratamento das otites, com métodos diversos sendo utilizados por cada profissional. Em linhas gerais, o tratamento consiste em: • Limpeza com soluções à base de clorexidina 0,5% em propilenoglicol e aplicação de antibioticoterapia tópica. Ex: Otospan, Otosynalar, Panolog, Nataleno ou similar; • Nos casos mais graves, associar antibioticoterapia sistêmica, preferencialmente precedida de antibiograma; • Nas otites causadas ou agravadas por Malasseia, limpeza e acidificação do pavilhão auditivo com solução de ácido lático (2,5%) e ácido salicílico (0,1%) em propilenoglicol, que cria um pH desfavorável a sobrevivência da levedura. Após esta limpeza, pingar Tolmicol (H); • Para as otites parasitárias, pode-se fazer aplicação otológica de fipronil (Frontline Spray, V). MANIFESTAÇÕES ALÉRGICAS As alergias cutâneas crônicas dos pequenos animais são bastante difíceis de serem combatidas, pois as mesmas possuem outros mediadores químicos além da histamina, fazendo com que os anti-histamínicos se mostrem pouco eficientes nas maiorias dos casos. O tratamento deve visar sempre a remoção da causa primaria e o controle da sintomatologia, que pode ser feito através da administração inicial de ácidos graxos, ômega 3 e ômega 6 (Allerdog, V) e, quando não eficientes, corticosteroides(preferir as drogas de ação intermediária, como prednisona e prednisolona). Já as reações de hipersensibilidade imediata, tais como aquelas produzidas por picadas de insetos, respondem bem ao uso de anti-histamínicos e nestes casos a droga de escolha é a prometazina (Fenergan, H), que pode ser associada a corticoides. SEBORRÉIAS As síndromes seborreicas devem ter sua causa primaria removida e o animal banhado regularmente com xampus a base de sulfureto de selênio (Selsun, H) ou um produto ceratolítico (Peroxydex ou Sastid, H). RAPHAELA BARBOSA @VETRAPHASTUDIES Introdução Veículos Permeabilidade da Pele Inflamação Medicamentos de Uso tópico Tipos de debridamento medicamentoso Debridamento enzimático Agentes Diversos Insulina Açúcar Dimetilsulfóxido (DMSO) Terapêutica específica para algumas afecções cutâneas Manifestações alérgicas Seborréias
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