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Teoria e prática profi ssional do guia de atrativos Renato Gonzalez de Medeiros José Carlos de Souza Dantas Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 2 3 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos MINISTÉRIO DO TURISMO PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Luíz Inácio Lula da Silva SECRETÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO, SUSTENTABILIDADE E COMPETITIVIDADE NO TURISMO NO TURISMO COORDENADORA DE QUALIFICAÇÃO DE PRESTADORES DE SERVIÇOS TURÍSTICOS (COPRES) COORDENADORA DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DO TURISMO Jéssica de Oliveira Queiroga MINISTRA DE ESTADO DO TURISMO Daniela Mote de Souza Carneiro SECRETÁRIO-EXECUTIVO Wallace Nunes da Silva Marcelo Lima Costa DIRETOR DE QUALIDADE, SUSTENTABILIDADE E AÇÕES CLIMÁTICAS Leandro Luiz de Jesus Gomes COORDENADOR-GERAL DE QUALIDADE NO TURISMO Daniel Wills Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 4 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE REITOR Antonio Claudio Lucas da Nóbrega VICE-REITOR Fabio Barboza Passos DIRETORA DO CEAD/UFF Regina Célia Moreth Bragança DIRETOR DA FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA João Evangelista Dias Monteiro CHEFE DO DEPARTAMENTO DE TURISMO Fábia Trentin COORDENADORA DO PROJETO Fábia Trentin Vice-coordenador Carlos Lidizia Equipe LabPGTUR Beatriz Cardoso Lays Evangelista Maria Eduarda Teixeira Rafaellen Franklin Revisoras: Nathália de Ornelas N. de Lima Camila Louzada Coutinho Capa e Designer: Paulo Carvalho 5 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos Direitos desta edição reservados ao Laboratório de Políticas, Governança e Turismo (LabPGTUR) e a Coordenação de Educação a Distância (CEAD/UFF) Todo o conteúdo é de responsabilidade dos autores. É permitida a reprodução total ou parcial desta obra desde que citada a fonte. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Medeiros, Renato Gonzalez de Teoria e prática profissional do guia de atrativos [livro eletrônico] / Renato Gonzalez de Medeiros, José Carlos de Souza Dantas. -- Niterói, RJ : Laboratório de Políticas, Governança e Turismo (LabPGTUR) : Cead - Coordenação de Educação a Distância - UFF, 2023. PDF Bibliografia. ISBN 978-65-84620-18-6 1 1. Guias de turismo (Pessoas) 2. Turismo Aspectos econômicos 3. Turismo - Guias I. Dantas, José Carlos de Souza. II. Título. Índices para catálogo sis 23-167367 CDD-338.4791 Índices para catálogo sistemático: 1. Turismo : Economia 338.4791 Tábata Alves da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9253 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 6 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos Renato Gonzalez de Medeiros E-mail: renatomedeiros@id.uff.br José Carlos de Souza Dantas E-mail: jdantas@id.uff.br CEAD/UFF (LabPGTUR) 2023 7 Teoria e Prática Profi ssional do Guia de Atrativos Renato Gonzalez de Medeiros Professor da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense (UFF), desde 2006, é doutor em Sociologia e Direito pela UFF, mestre em Ciências da Comunicação pela USP, especialista em Turismo pela FGV e graduado em Administração de Empresas pela UFRJ. Atuou profi ssionalmente como guia de turismo, gerente de operações e na formação e aperfeiçoamento de guias de turismo, por mais de 30 anos. Também trabalhou como agente de viagens, consultor de planejamento turístico e de gestão de negócios. Contato: renatomedeiros@id.uff .br Lattes:http://lattes.cnpq.br/1944130523813923 José Carlos de Souza Dantas Professor da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense (UFF), Professsor da Universidade Veiga de Almeida, Mestre em Turismo pelo Centro Universitário Ibero Amerciano, Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Estácio de Sá, Graduado em Turismo pelo Centro Universitário Plínio Leite e Graduado em Formação de Professores pelas Faculdade Niteroiense de Formação de Professores. Experiência na área de turismo no setor do agenciamento de viagens. Atuou profi ssionalmente em consultoria em turismo, gestão de negócios e capacitação profi ssional para o turismo. Atua como gestor de agência de viagens. Contato: jdantas@id.uff .br Lattes: http://lattes.cnpq.br/4696734213649495 Turismo pela FGV e graduado em Administração de Empresas pela em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Estácio de Sá, Graduado em Turismo pelo Centro Universitário Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 8 9 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos Sumário: Introdução _______________________________________ 09 1. Transformando passeios em experiências inesquecíveis_____________________________________ 11 1.1. Turismo em transformação ________________________________ 12 1.2. Perfis de viajantes que todo guia deve conhecer ______________ 13 1.3. O coreógrafo das experiências personalizadas ________________ 19 2. O guia de turismo e sua relação com os turistas _____ 22 2.1. Papéis do guia de turismo e sua relação com os turistas _________ 22 3. Descobrindo um mundo de possibilidades _________ 32 3.1. As diferenças entre guias regionais e guias especializados ______ 33 3.2. As vantagens de uma experiência mais profunda e personalizada ____________________________________ 34 3.3. O problema das definições e o risco de aventura ______________ 36 3.4. Algumas formas de especialização do guia de atrativos naturais _________________________________________ 38 3.5. Algumas formas de especialização do guia de atrativos culturais __________________________________ 41 4. Informação é encantamento _____________________ 46 4.1. Interpretando cidades e paisagens __________________________ 47 4.2. Contando histórias ______________________________________ 57 4.3. Criando o tour com o turista _______________________________ 60 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 10 5. Planejamento do roteiro _________________________ 63 5.1. Roteiro da operadora x roteiro do próprio guia ________________ 64 5.2. Identificando os objetivos do tour __________________________ 66 5.3. Adaptando o roteiro original aos objetivos do tour _____________ 68 5.4. Revisando e ajustando o tema central e a abordagem __________ 70 5.5. Pontos críticos e plano de contingência ______________________ 71 5.6. Verificando a logística ____________________________________ 73 5.7. Fazendo as reservas, agendando as visitas e providenciando os equipamentos _____________________________________________ 76 5.8. A inspeção prévia do percurso _____________________________ 78 5.9. Atualizando as informações _______________________________ 79 5.10. Acompanhando a previsão do tempo ______________________ 79 5.11. A vestimenta adequada para os turistas ____________________ 80 5.12. Fazendo contato prévio com os turistas _____________________ 81 5.13. Imprimindo a documentação e separando o material _________ 82 6. Recepção e operação do tour _____________________ 84 6.1. A recepção do tour 87 6.2. A apresentação do tour ___________________________________ 91 6.3. Técnicas de condução de tours _____________________________ 93 6.4. Finalização do tour _____________________________________ 100 Considerações finais _____________________________ 100 Referências _____________________________________ 104 11 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos Introdução Olá, guia de turismo apaixonado pelo seu trabalho! Chegou a hora de aprimorar suas habilidades e mergulhar em uma jornada de aprimoramento profissional. Neste módulo, vamos explorar as técnicas e os processos necessários para proporcionar passeios turísticos personalizados, inesquecíveis e seguros, seja no turismo cultural ou nos atrativos naturais. Mas, calma, não estamos aqui para ensinar o que você já sabe tão bem! Nós reconhecemos e valorizamos sua experiência no dia a dia dessa profissão cheia de desafios e emoções. Nossoobjetivo é complementar seu conhecimento com uma nova perspectiva, sistematizando técnicas e abordagens utilizadas no Brasil e no exterior. Nós nos dedicamos a juntar o conhecimento prático que você já possui com uma leitura inovadora da profissão. Queremos expandir seus horizontes e abrir novas possibilidades para que você se torne um guia de turismo ainda mais completo e diferenciado. Este módulo foi cuidadosamente elaborado por uma dupla de profissionais especializados na formação de profissionais de turismo e que já atuaram como guias, supervisores de guias e gerentes de operações. Estamos aqui para apoiar você nessa jornada de aprendizado e crescimento e para compartilhar conhecimentos adquiridos ao longo de muitos anos de experiências e reflexões. Para entregar essa proposta, dividimos o tema em seis tópicos. Em “O Guia de Turismo e sua Relação com os Turistas” procuraremos falar sobre os diversos papéis que um guia de turismo executa em seu trabalho diário e provocar uma reflexão sobre como esse profissional pode usar de suas habilidades para proporcionar um tour especializado mais relevante para o turista e criar mais valor para o seu trabalho. No tópico “Transformando Passeios em Experiências Inesquecíveis” vamos discutir as mudanças que estão acontecendo na atividade turística e alguns tipos de turistas que estão surgindo em um mundo em transformação. Compreender esses perfis ajudará os guias de turismo a personalizar suas abordagens e oferecer experiências sob medida. “Descobrindo um Mundo de Possibilidades” é uma conversa sobre as diferenças entre o guia regional e o guia especializado em atrativos naturais e Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 12 culturais e como essa distinção pode representar para o turista a oportunidade de uma experiência mais profunda e personalizada e ser uma forma de o guia de turismo se destacar em um mercado cada vez mais competitivo. Em “Informação é Encantamento” vamos conversar sobre como usar as informações sobre história, geografia, cultura e natureza para transformar um tour em uma experiência encantadora para os turistas, por meio de técnicas de interpretação e contação de histórias. No tópico “Preparando a Operação do Roteiro” abordaremos a importância de um planejamento minucioso e as diversas etapas do processo da preparação prévia para a realização de um tour. Discutiremos, ainda, a diferença entre um programa fornecido por uma operadora e um roteiro personalizado desenvolvido pelo próprio guia, de acordo com a legislação vigente. Por fim, no tópico “Recepção e Operação do Tour”, vamos conversar sobre algumas técnicas de guiamento com o objetivo de fornecer conhecimentos essenciais, dicas práticas e insights valiosos para aprimorar suas habilidades como guia de turismo e valorizar a sua atuação profissional. Então, prepare-se para explorar novos caminhos e descobrir como elevar sua profissão a um novo patamar. Estamos ansiosos para acompanhá-lo nessa aventura, ajudando-o a se tornar um guia de turismo ainda mais capacitado, inspirador e preparado para encantar seus clientes. Vamos começar essa jornada juntos? 13 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 1. Transformando passeios em experiências inesquecíveis Olá, guia de turismo! Neste tópico, vamos mergulhar no fascinante tema dos novos turistas1, em face do crescente avanço de um mundo cada vez mais digital. No cenário turístico atual, é fundamental que os guias de turismo estejam preparados para atender aos diferentes perfis de viajantes que surgiram no século XXI. Com a evolução da sociedade e o avanço das tecnologias, novas formas de viajar e conhecer destinos têm surgido. Vamos explorar algumas mudanças e suas implicações para a prática profissional dos guias especializados em atrativos culturais ou naturais. Objetivo geral Fornecer uma visão abrangente sobre as transformações no setor do turismo, os perfis de viajantes mais comuns e o papel do guia de turismo como o coreógrafo das experiências turísticas personalizadas. Ao final deste tópico, esperamos que você esteja preparado para compreender as demandas do mercado atual, conhecer alguns dos perfis de viajantes que irá encontrar em seu trabalho e utilizar as técnicas de guiamento (tour guiding) adequadas para criar experiências inesquecíveis para os turistas. Objetivos específicos Ao final deste tópico, esperamos que você seja capaz de: • reconhecer as mudanças e tendências atuais no setor do turismo e se adaptar a essas transformações como guia de turismo; • identificar os impactos da tecnologia, sustentabilidade e diversificação dos destinos no contexto do turismo em transformação; • identificar e compreender os diferentes perfis de viajantes, como o turista consciente, o turista conectado e o turista de experiência; Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 14 • desenvolver estratégias para adaptar as técnicas de guiamento de acordo com cada perfil de viajante, visando proporcionar experiências enriquecedoras e satisfatórias; e • reconhecer o papel fundamental do guia de turismo como criador e coordenador das experiências turísticas personalizadas. 1.1 Turismo em transformação Antes de mais nada, é importante entender a conceituação da experiência turística e sua relação com a vida cotidiana. Para nos ajudar com esse percurso, vamos usar as ideias de Uriely (2005). Por muito tempo, acreditava-se que o turismo era uma forma de escapar da rotina, uma inversão temporária das atividades cotidianas em busca de novidades, estranheza e autenticidade. No entanto, a partir dos anos 90, uma nova perspectiva foi se estabelecendo. O autor argumenta que as experiências turísticas estão se entrelaçando cada vez mais com a vida diária por meio dos meios de comunicação e ambientes simulados. Pense em como as redes sociais e os blogs de viagem nos transportam para destinos distantes sem sair de casa. Ou mesmo como a realidade virtual nos permite explorar lugares incríveis sem sair do sofá. O turismo está se tornando parte integrante de nosso dia a dia, misturando-se com nossas atividades 15 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos rotineiras de maneiras inimagináveis. O turismo também está se infiltrando no ambiente de trabalho, uma vez que os turistas de negócios estão aproveitando suas viagens para combinar atividades turísticas. Há até um nome para isso: bleisure2. Antigamente, os viajantes a negócio focavam puramente as reuniões e os compromissos profissionais, mas, atualmente, eles exploram a cidade, visitando pontos turísticos e mergulhando na cultura local. Essa fusão de trabalho e turismo traz uma nova dimensão à experiência da viagem, transformando-a em algo mais enriquecedor e memorável. A diversidade de motivações e significados atribuídos às experiências turísticas também é um ponto importante a ser considerado. Cada pessoa tem suas próprias razões para viajar e suas próprias expectativas em relação a essa experiência. Alguns viajam em busca de aventura e adrenalina, enquanto outros procuram relaxamento e tranquilidade. Existem aqueles que buscam imersão cultural, desejando explorar a história e a arte de um destino. E há também os viajantes que buscam conexões sociais, desejando interagir com pessoas de diferentes origens e culturas. Por último, mas não menos importante, é crucial enfatizar o papel fundamental da subjetividade na experiência turística. Cada pessoa que se aventura como turista tem a capacidade singular de atribuir significados pessoais às suas vivências. Esses significados vão além das expectativas e objetos estabelecidos pelo mercado do turismo. Na verdade, a experiência de viajar é moldada tanto pela influência dos prestadores de serviços turísticos quanto pela prática individual e pela interpretação pessoal dos turistas. É por meio dessa interação subjetiva que a experiência turística se torna verdadeiramente única e significativa para cada indivíduo.Imagine visitar um museu e se deparar com uma obra de arte que te emociona profundamente. O significado dessa experiência não é apenas o que o mercado turístico definiu para você, mas sim a interpretação pessoal e emocional que você atribui àquela obra. É essa subjetividade que torna cada experiência turística única e especial. Portanto, as mudanças no turismo nos levam a repensar nossas perspectivas 2 Bleisure é um termo em inglês que mistura outros dois termos, o Business (negócios) e o Leisure (lazer). Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 16 e abordagens como guias de turismo. Precisamos estar atentos a essas transformações e entender como elas afetam a experiência dos nossos turistas. Devemos buscar constantemente formas inovadoras de proporcionar vivências autênticas, explorar a fusão entre trabalho e lazer e compreender as motivações individuais dos viajantes. Ao nos adaptarmos a essas mudanças, nos tornamos guias de turismo mais preparados e capazes de oferecer um serviço de qualidade. Vamos explorar juntos as técnicas de guiamento que nos ajudarão a proporcionar experiências incríveis em visitas e passeios voltados ao turismo cultural ou atrações naturais. Afinal, o turismo está em constante evolução, e nós, como profissionais, precisamos acompanhar essa jornada emocionante. 1.2 Alguns perfis de viajantes que todo guia de turismo deve conhecer A complexidade do mercado turístico é algo fascinante! São tantos segmentos e tipos de turismo, que às vezes fica até difícil acompanhar. O mercado turístico é extremamente diversificado, com uma infinidade de segmentos que atendem a diferentes interesses, preferências e necessidades dos viajantes. Cada tipo de turismo possui suas próprias características e propósitos, o que torna esse mercado tão complexo e atraente. Para capturar essa rica diversidade, foram propostas diferentes tipologias de turistas. Essas classificações nos ajudam a entender melhor as motivações e os comportamentos dos viajantes. Os motivos são disposições internas distintas que despertam, direcionam e integram o comportamento de uma pessoa. Eles são influenciados por características psicossociológicas como necessidades, valores ou atitudes (KAY, 2009). Cabe ressaltar que a sustentabilidade, pilar do turista contemporâneo, deve permear todo o trabalho do guia de turismo. Dessa forma, entender que o conceito da sustentabilidade é atender às necessidades da sociedade atual, sem comprometer às necessidades das gerações futuras (OMT, 2003), deve ser um compromisso constante desse profissional que proporciona experiências turísticas nos atrativos naturais e culturais. 17 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos Neste módulo do curso, esperamos capacitar você para se tornar um especialista em atrativos naturais e culturais. Por isso, vamos apresentar três tipos de turistas interessantes que você deve conhecer para adaptar e personalizar suas abordagens, de modo a atender às expectativas e necessidades específicas de cada grupo. É claro que nem todos os seus clientes vão se enquadrar nessas categorias, mas é uma forma de você compreender esses turistas um pouco melhor e adaptar seus conhecimentos a qualquer tipo de passageiro com o qual você irá trabalhar. Vamos conhecer um pouquinho desses viajantes? Turista consciente Esse tipo de turista é uma tendência crescente no setor do turismo, impulsionada pelo desejo de muitos viajantes por experiências conectadas com a contemporaneidade. O turista consciente está cada vez mais preocupado com questões éticas e sustentáveis em suas viagens (WAGNER, 2005). Diferentes segmentos têm surgido para atender a essa demanda. O ecoturismo, o geoturismo e o turismo rural são exemplos de nichos populares que buscam abordar essas preocupações éticas. O turista consciente quer saber qual hotel protege mais o meio ambiente ou qual oferece um melhor suporte para a comunidade local. Essas questões se tornam mais importantes para os viajantes do que a proximidade do hotel com a praia ou o tipo de brinde deixado no travesseiro. É importante destacar que a oferta de passagens aéreas de baixo custo tem aumentado a quantidade de viagens internacionais, resultando em mais poluição no ar e em outros custos ambientais que não são considerados no preço do turismo. No entanto, agora o viajante consciente tem a opção de escolher uma companhia aérea que compense suas emissões de carbono, adquirindo créditos correspondentes às milhas percorridas. Embora isso possa resultar em um custo adicional para o voo, o viajante tem a garantia de que o dinheiro extra é investido em tecnologias verdes, projetos de reflorestamento ou outras iniciativas para neutralizar as emissões produzidas pelo voo. No entanto, a busca por atrair os dólares éticos pode levar a práticas de marketing antiéticas, levantando o espectro do chamado greenwashing (ou “maquiagem verde”). Muitas empresas adotam nomes que sugerem responsabilidade ambiental, mas podem não corresponder verdadeiramente a isso. É importante estar atento a essas práticas e procurar por opções autenticamente responsáveis. Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 18 No contexto do turismo consciente, são utilizadas diferentes terminologias para descrever abordagens e práticas específicas. Algumas delas incluem (WAGNER, 2005): Ecoturismo. Diz respeito a viagens a locais onde o meio ambiente é preservado e o bem-estar das comunidades locais é promovido. Geoturismo. Sustenta ou realça as características geográficas de um lugar, incluindo seu ambiente, patrimônio e sua estética e cultura. Turismo baseado na natureza. Apoia-se na promoção do ambiente natural de uma região. Turismo responsável. Qualquer forma de turismo que maximize os benefícios para as comunidades locais e minimize os impactos negativos no meio ambiente e na cultura local. Turismo sustentável. Atende às necessidades dos viajantes atuais e dos países anfitriões, ao mesmo tempo que protege e aprimora as oportunidades para futuras experiências turísticas. Essas terminologias descrevem diferentes abordagens para garantir que o turismo seja benéfico para as comunidades locais, respeite o meio ambiente e preserve a cultura e o patrimônio. Os guias de turismo conscientes desempenham um papel fundamental na promoção dessas práticas éticas, fornecendo informações e orientações aos turistas para que eles possam tomar decisões responsáveis durante seus passeios. Turista conectado O termo se refere ao turista que está conectado digitalmente por meio do uso de tecnologias de informação e comunicação durante sua experiência de viagem. Essas tecnologias podem incluir o uso de dispositivos móveis, como smartphones e tablets, e o acesso a redes sociais, sites, aplicativos de viagem e outras plataformas online que facilitam a vida do viajante, desde a pesquisa e o planejamento da viagem até a experiência no destino. Wang e outros autores (2016) mostram que, com um telefone em mãos, os turistas podem buscar informações sobre os destinos, encontrar atrações turísticas, fazer reservas de hospedagem e transporte, interagir com outros viajantes em 19 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos comunidades virtuais, compartilhar fotos e experiências nas redes sociais e muito mais. Os smartphones se tornaram verdadeiros guias de bolso, permitindo que os turistas tenham acesso imediato a informações atualizadas e relevantes. Além de smartphones, outras tecnologias também estão ganhando destaque no turismo conectado. Temos os cartões inteligentes, que facilitam o acesso a serviços e atrações turísticas, oferecendo praticidade e agilidade aos visitantes. Também temos a realidade aumentada, que possibilita aos turistas terem experiências interativas e imersivas nos destinos, explorando informações e elementos virtuais sobre o ambiente real. O turista conectado busca por experiências personalizadas, flexíveis e convenientes.Ele valoriza o acesso rápido à informação, a facilidade de realizar reservas e transações online e a possibilidade de interagir com outros viajantes. Além disso, o turista conectado é mais exigente e crítico em relação aos serviços oferecidos e busca mais qualidade, valor pelo dinheiro investido e segurança. Para os guias de turismo, essa nova realidade traz desafios e oportunidades. É necessário compreender as necessidades e expectativas do turista conectado para poder adaptar as técnicas de guiamento e oferecer uma experiência enriquecedora e alinhada às demandas atuais. Os guias podem utilizar a tecnologia a seu favor, como aplicativos e recursos digitais, para complementar suas informações e proporcionar uma visita mais interativa e envolvente, além de oferecer seus serviços para compras online. No entanto, é importante lembrar que, mesmo com toda a tecnologia disponível, a presença humana e o contato pessoal ainda são fundamentais no turismo. Os guias de turismo têm o papel de criar conexões emocionais com os turistas, oferecendo informações adicionais, Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 20 histórias interessantes e uma abordagem acolhedora. A tecnologia pode ser uma aliada, mas o toque humano faz toda a diferença na experiência do turista. Turista de experiência Esse é um tipo de turista que busca vivenciar experiências únicas e autênticas durante suas viagens. Ele não está apenas interessado em visitar os pontos turísticos tradicionais, mas, sim, se conectar com a cultura, história e natureza do destino de uma maneira mais profunda. Segundo Zhang e Walsh (2020), quando falamos em experiência turística, estamos nos referindo ao conjunto de sentimentos e sensações que uma pessoa vivencia ao interagir com um evento ou lugar especial durante uma viagem. Essa experiência é diferente das vivências do dia a dia e envolve aspectos emocionais, físicos, espirituais e intelectuais. Além disso, é importante considerar tanto as experiências que acontecem no local visitado quanto as lembranças das viagens passadas que ficam na memória do turista. Os mesmos autores destacam que a experiência turística é algo subjetivo e pessoal, ou seja, cada indivíduo vivencia e interpreta suas experiências de forma única, levando em conta sua própria perspectiva e o ambiente específico em que está inserido. Além disso, a motivação do turista tem relação com sua satisfação e seu comportamento durante a viagem. O turista de experiência é motivado pela busca por momentos memoráveis, pela imersão na cultura local e pela oportunidade de aprender algo novo. Ele está em busca de interações autênticas com os habitantes locais, de experimentar a gastronomia típica, de participar de atividades culturais e artísticas, de explorar a natureza e de se envolver com as tradições e costumes do lugar que estão visitando. Diferentemente do turista tradicional, que pode se contentar em apenas observar os pontos turísticos de forma passiva, o turista de experiência deseja se envolver ativamente no destino. Ele quer participar de tours guiados por especialistas, que vão além da transmissão de informações básicas e proporcionam insights e histórias interessantes sobre o local. Ele valoriza a interatividade, a conexão emocional e a oportunidade de experimentar algo autêntico. As principais motivações do turista de experiência incluem3: 1. Aprendizado e enriquecimento cultural. O turista de experiência está 21 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos interessado em conhecer novas culturas, tradições e costumes. Ele quer aprender sobre o patrimônio, a arte, a história, a música, o entretenimento, a moda, o vestuário, os eventos culturais, a arquitetura e a culinária do destino para ampliar seus conhecimentos e perspectivas. 2. Envolvimento com a comunidade local. O turista de experiência deseja se sentir parte do destino, interagindo com os moradores locais, aprendendo com eles e trocando conhecimentos e experiências, participando de atividades e eventos locais e explorando os lugares menos turísticos e mais autênticos. 3. Autenticidade. O turista de experiência busca autenticidade e não quer apenas ver fachadas turísticas típicas, mas sim ter experiências reais e locais. A demanda por produtos tradicionais e locais também está relacionada a essa busca por autenticidade. Ele quer ir além das representações turísticas e das reproduções superficiais da localidade. Ele deseja ver o que não é visto comumente, ouvir o que não é ouvido normalmente e, por isso, procura oportunidades para mergulhar na realidade local. 4. Conexão emocional. O turista de experiência quer se sentir emocionalmente conectado ao destino. Ele busca vivências que despertem emoções e sentimentos positivos e que criem memórias duradouras. 5. Sustentabilidade e responsabilidade. O turista de experiência valoriza a sustentabilidade e a responsabilidade social. Ele é sensível às diferenças culturais e valoriza o respeito pela cultura local. Ele deseja vivenciar as tradições de forma respeitosa, evitando comportamentos ofensivos ou invasivos, e busca experiências que sejam respeitosas com o meio ambiente e que contribuam para o desenvolvimento sustentável do destino. 6. Autoconhecimento e crescimento pessoal. O turista de experiência vê as viagens como oportunidades de autoconhecimento e crescimento pessoal. Ele está aberto a novas experiências, desafios e aprendizados e busca expandir suas próprias fronteiras. 7. Serviços. Embora o turista de experiência busque novidade e Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 22 autenticidade, ele também deseja um certo grau de familiaridade, segurança e previsibilidade em suas experiências. A experiência geral do turismo pode ser prejudicada se esses aspectos de apoio não estiverem em um padrão adequado. A paz de espírito, como conforto físico, higiene e segurança, é uma dimensão importante da experiência turística. 8. Tecnologia. O turista de experiência faz uso da tecnologia para planejar suas viagens, buscar informações atualizadas e criar interações digitais durante as visitas. A tecnologia, portanto, desempenha um papel significativo na rotina desse tipo de turista. Para os guias de turismo, é fundamental compreender as motivações dos turistas de experiência e adaptar suas técnicas de guiamento para atender a essas expectativas. É importante oferecer roteiros e atividades que proporcionem uma imersão autêntica na cultura local, estimulem a interação com os habitantes locais, promovam a sustentabilidade e transmitam informações relevantes e enriquecedoras sobre o destino. 1.3 O Coreógrafo das experiências turísticas personalizadas O trabalho de um coreógrafo que concebe e concretiza ações que estão ligadas a uma construção cênica deve estar no radar de atuação do guia de turismo, pois, como vimos, os turistas desejam ter um papel mais ativo em suas visitas e passeios e buscam experiências interativas e personalizadas que ajudem a dar significado à viagem. Weiler e Black (2015) mostram que os estudos sobre o turismo costumam adotar uma abordagem centrada na experiência do turista, utilizando metáforas 23 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos dramatúrgicas para descrever como o turismo acontece por meio de encontros e representações. A experiência turística é composta por diferentes componentes, como estímulos sensoriais, reações afetivas, habilidades cognitivas, ações realizadas e relacionamentos relevantes. Diante desse contexto, as autoras sugerem a necessidade de repensar o papel do guia de turismo e sua comunicação com os turistas. A comunicação tradicional do guia para o turista, realizada em modo unidirecional, parece limitada em uma indústria do turismo centrada na experiência e no consumidor. A revisão sistemática de estudos sobre guias e condução de tours revelou a necessidade de uma mudança na comunicação do guia. Ele deixa de ser um meroapresentador e passa a ser visto como um mediador ou coreógrafo da experiência, enquanto os turistas são considerados participantes ativos. O conceito de cocriação do turista no produto turístico pode ser definido como a participação do turista no processo de criação e desenvolvimento de sua própria experiência turística (BEEVOR, 2021). Em vez de ser um mero receptor passivo dos serviços e atrações turísticas, o turista se envolve ativamente na criação e personalização da sua experiência de viagem. Esse conceito envolve uma mudança de perspectiva, na qual o turista é visto como um cocriador e colaborador no design da sua própria experiência. Isso significa que o turista não apenas consome os produtos e serviços turísticos oferecidos, mas também contribui com ideias, preferências e interesses pessoais para moldar a experiência de acordo com suas necessidades e desejos. Existem várias maneiras pelas quais a cocriação do turista pode ocorrer. Por exemplo, ele pode participar ativamente na elaboração do itinerário da viagem, selecionando os locais que deseja visitar e as atividades que deseja realizar. Ele também pode interagir com os moradores locais, obter recomendações personalizadas e participar de eventos culturais ou atividades tradicionais. Cabe destacar que a cocriação na elaboração do itinerário da viagem pode não se adequar aos roteiros pré-determinados para o turismo de massa. Além disso, a tecnologia desempenha um papel importante na cocriação do turista, fornecendo ferramentas e plataformas que permitem aos turistas Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 24 personalizar sua experiência, como a reserva de acomodações, a escolha de roteiros turísticos específicos, a interação com aplicativos de viagem e compartilhamento de experiências em mídias sociais. O processo de cocriação no produto turístico oferece benefícios tanto para os turistas quanto para os locais visitados. Os turistas têm a oportunidade de criar uma experiência mais significativa e personalizada, adaptada às suas preferências individuais. Ao mesmo tempo, os destinos turísticos podem se beneficiar pelo aumento na satisfação dos turistas, ganhar mais engajamento e fidelidade, além de contribuir para o desenvolvimento sustentável do turismo local. E como isso impacta o trabalho do guia de turismo? Como o guia especializado em atrativos vai conseguir entregar aprendizado cultural, imersão local, autenticidade, conexão emocional, sustentabilidade, responsabilidade, autoconhecimento e crescimento pessoal, proporcionar experiências enriquecedoras, facilitar a imersão local, promover interações com moradores, explorar locais autênticos e menos turísticos, permitindo que os turistas participem ativamente na definição dos roteiros, atividades e experiências, de acordo com seus interesses e desejos individuais? Calma! Mais à frente, no tópico 4, vamos ver como o guia de turismo especializado dispõe de ferramentas para agregar valor à experiência do turista, permitindo que o visitante participe de forma ativa da produção do seu próprio produto turístico. 25 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos Sugestões de atividades para reflexão O estudo individual é uma oportunidade valiosa para aprimorar suas habilidades profissionais e se destacar no mercado. As atividades propostas, ao final de cada tópico, têm como objetivos aprofundar seu conhecimento sobre teoria e prática no trabalho de guia de turismo, bem como estimular a reflexão e a aplicação dos conceitos apresentados no material. 1. Para oferecer experiências autênticas e personalizadas, é essencial compreender os diferentes perfis de turistas que surgiram no século XXI. Realize uma pesquisa, explorando fontes diversas, como sites especializados em turismo, blogs de viagem, revistas ou até mesmo vídeos de viagens. Busque exemplos sobre os perfis de turistas contemporâneos, levando em consideração fatores como idade, interesses, motivações e expectativas. Explore como esses perfis impactam as preferências e necessidades dos turistas durante as visitas e passeios. Com base nessa análise, identifique estratégias para adaptar seu serviço e atender às demandas específicas de cada perfil. 2. Elabore roteiros personalizados para cada um dos tipos de turistas apresentados, considerando as características e preferências de cada grupo ao criar os itinerários. Utilize destinos específicos da sua área de atuação para desenvolver roteiros que explorem os aspectos que mais interessam a cada tipo de turista. Por exemplo, para o turista consciente, o roteiro pode incluir visitas a locais de preservação ambiental, projetos sociais e atividades que promovam o turismo responsável. Para o turista conectado, o roteiro pode incluir paradas em pontos turísticos que permitam fotografias “instagramáveis”, com boa conectividade à internet e sugestões de aplicativos ou recursos digitais para complementar a experiência. Já para o turista de experiência, o roteiro pode destacar atividades que ofereçam imersão cultural, interações com a comunidade local e experiências autênticas. Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 26 2. O guia de turismo e sua relação com os turistas No tópico anterior, conversamos sobre novos tipos de turistas, suas motivações e como eles participam ativamente da criação do seu próprio produto turístico. Neste tópico, vamos discutir quais são os papéis tradicionalmente desempenhados pelos guias de turismo e como eles ainda dão conta de lidar com esses novos turistas. Objetivo geral Explorar os papéis desempenhados pelo guia de turismo, como os da liderança e mediação no turismo. Ao final deste tópico, esperamos que você esteja preparado para desempenhar efetivamente os diferentes papéis do guia de turismo e utilize as técnicas apresentadas para criar experiências turísticas significativas. Objetivos específicos Ao final deste tópico, esperamos que você seja capaz de: • identificar os diferentes papéis desempenhados pelo guia de turismo, como educador, animador, mediador cultural e líder; • compreender a importância de cada papel na criação de experiências turísticas de qualidade; • analisar os conceitos de liderança instrumental e social no contexto do turismo; • aplicar as habilidades de mediação interativa e comunicativa para lidar com diferentes situações e públicos durante as visitas e tours; e • aplicar as habilidades de liderança instrumental e social para enfrentar e conduzir seus passageiros durante passeios turísticos. 2.1 Papéis do guia de turismo e sua atuação profissional Para muitos autores, o guia de turismo é um profissional que desempenha inúmeros papéis (FINE e SPEER (1985); HOWARD; THWAITES e SMITH (2001); 27 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos REISINGER e STEINER (2006). De acordo com Ap e Wong (2001), a mediação e intermediação cultural são duas funções interpretativas do trabalho dos guias de turismo. Os guias fazem a mediação entre os turistas e os habitantes locais e o ambiente. A mediação vai além de dizer aos turistas como devem pensar e sentir as suas experiências. Ela deve levá-los às suas próprias conclusões e a aprender. Erik Cohen (1985) publicou um trabalho, considerado um clássico, para explicar os diferentes papéis desempenhados pelos guias de turismo. Todos os que pesquisam e escrevem sobre essa profissão usam seu trabalho como base para seus estudos. Ele dividiu os papéis do guia em duas esferas: a da liderança e a da mediação. Cada uma dessas esferas foi dividida em outros dois componentes, conforme vemos na figura 1, abaixo. Figura 1 − Representação esquemática dos principais componentes dos papéis do guia de turismo. Fonte: Cohen (1985). A seguir, você, guia de turismo, poderá identificar os principais componentes do papel do guia e as sugestões práticas para trabalhar com esse novo turista. A esfera da liderança instrumental abarca os elementos: a) Direção – Essafunção corresponde às origens do guia, que é mostrar o caminho aos turistas, orientando-os sobre como chegar aos locais desejados e indicando as possíveis alternativas para alcançarem os pontos de interesse. O guia é responsável por conduzir os turistas e garantir que eles se locomovam de forma eficiente e segura durante o passeio. Direcionado para fora do grupo Direcionado para dentro do grupo Esfera da Liderança Instrumental Social Esfera da Mediação Interação Comunicação Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 28 A liderança instrumental e sua componente de direção desempenham um papel fundamental ao atender aos “turistas conectados”, que utilizam a tecnologia como aliada em suas viagens. Esses turistas usam blogs e sites de viagens para planejar suas viagens, seja para preparar roteiros e visitas ou comprar os serviços que irá utilizar. Com o auxílio de GPS e aplicativos de orientação, eles podem até traçar o caminho a ser percorrido. Isso soa como uma ameaça ao trabalho do guia? Talvez! Com certeza uma parcela desses turistas irá prescindir do trabalho do guia, mas outra parcela pode se beneficiar grandemente da ajuda desse profissional. Guias de turismo, portanto, precisam estar atualizados sobre as ferramentas tecnológicas disponíveis e saber como integrá-las em suas práticas profissionais. Isso permite que os guias proporcionem uma experiência interativa, seja oferecendo seus serviços para compra online, seja oferendo informações sob medida, de acordo com o interesse dos turistas, a respeito dos pontos de visitação, ou mesmo propondo roteiros diferenciados com atividades e imagens compartilháveis nas redes sociais e que atendam às expectativas desses turistas. Nem sempre as rotas propostas pelos aplicativos aproveitam todos os aspectos que podem ser explorados durante um passeio. O olhar de um local e seu conhecimento especializado do cotidiano da localidade e de seus moradores podem ser muito mais proveitosos do que o caminho mais curto para se chegar a um atrativo. b) Acesso – Esse elemento refere-se à capacidade do guia de proporcionar aos seus clientes o acesso a locais que normalmente não estão abertos ao público em geral. Com a presença do guia, os turistas têm a oportunidade de visitar lugares exclusivos ou restritos, onde, sem a sua assistência, seria difícil ou mesmo impossível entrar. O componente “acesso”, da liderança instrumental, pode ser uma ferramenta inigualável para o guia especializado. Um “turista de experiência”, que deseja 29 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos autenticidade em sua visita, necessita de ajuda especializada para descobrir os atrativos escondidos do circuito turístico tradicional da localidade, descobrir os locais frequentados pelos moradores da cidade que ainda não foram “descobertos” pelas multidões de turistas. Muitas vezes também desejarão conhecer pessoalmente um artista local e precisarão de alguém que os apresente e seja capaz de agendar uma visita ou ainda precisarão de alguém que dê uma indicação para um restaurante de “portas fechadas”4. c) Controle – Esse aspecto está relacionado à responsabilidade do guia pelo conforto e segurança dos turistas durante o passeio. O guia tem a responsabilidade de garantir que os horários e a programação sejam cumpridos, para que os turistas possam aproveitar ao máximo a experiência. O componente “controle da liderança instrumental” muitas vezes separa os amadores dos profissionais. Nada impede de que os viajantes elaborem seus próprios roteiros de visitas, no entanto o desconhecimento das peculiaridades operacionais do destino costuma levar a erros no planejamento do tempo para deslocamentos e visitações, acarretando ser comum que o roteiro não seja cumprido na íntegra por falta de tempo ou que termine muito antes do previsto, gerando a necessidade de novos planos feitos às pressas. O guia de turismo especializado possui a experiência necessária, já testada e ajustada em inúmeros passeios anteriores, para realizar o roteiro adaptado às necessidades e ao ritmo de cada tipo de turista, entregando o que foi prometido no tempo correto. A esfera da liderança social envolve os elementos: a) Administração das tensões – Essa função refere-se à capacidade do guia em prevenir a existência de tensões entre os membros do grupo e suavizar os conflitos que possam surgir durante o passeio. O guia deve estar atento às dinâmicas sociais do grupo e intervir quando necessário para garantir um ambiente harmonioso e positivo. 4 Negócio de alimentação de caráter bem intimista, operado muitas vezes na própria residência do chef, que recebe poucos convidados a cada noite. Normalmente esses lugares não contam com muita divulgação, sendo conhecido por um restrito número de pessoas, necessitando de indicações para que novos clientes tenham acesso. Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 30 Grandes grupos, com mais diversidade entre os seus membros, costumam ter mais tensões internas. Mas, mesmo em pequenos grupos familiares ou de amigos, podem existir diferenças de interesses em cada visita. A componente “administração das tensões” foi descrita como um papel do guia para gerir os conflitos resultantes desses interesses divergentes ou de aspectos culturais diversos dentro dos grupos. Sejam quais forem os tipos de turistas presentes no passeio, cabe ao guia administrar essas tensões, seja na base da negociação, com foco nos objetivos comuns, seja ajustando o ritmo da programação ou da informação para contemplar todos os interesses. b) Integração – Esse elemento está relacionado à responsabilidade do guia em promover o entrosamento social dos participantes do passeio. O guia deve facilitar a interação entre os turistas e encorajar a comunicação, o compartilhamento de experiências e a formação de laços entre os membros do grupo, desempenhando um papel importante ao criar um senso de coesão e pertencimento durante a viagem. Uma das motivações dos “turistas de experiência” é o desejo de aprendizado e enriquecimento cultural, quando estamos visitando um lugar diferente, com modos de vida bem distantes do nosso. Sem dúvida, é uma ótima oportunidade para satisfazer esse desejo. Quando temos a chance de estar em um grupo de diferentes origens, os contrastes entre as diferentes culturas se tornam ainda maiores. O guia de turismo deve desempenhar o seu papel 31 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos de integração entre todos os turistas com o objetivo de tornar as trocas dos viajantes ainda mais ricas, pois as oportunidades de aprendizado não são apenas em relação à cultura do destino, mas também em relação aos demais participantes do grupo. c) Moral – Nessa função, o guia é responsável por manter o moral elevado e garantir o bom humor dos turistas ao longo do passeio. Ele deve ser capaz de criar um ambiente positivo e estimulante, proporcionando informações interessantes, histórias divertidas e experiências agradáveis. O guia desempenha um papel crucial de influenciar o estado de espírito dos turistas e de garantir que eles se divirtam e desfrutem da experiência. Mesmos “turistas conectados”, capazes de passar horas em sites e redes sociais, quando viajam desejam a presença humana e o contato pessoal. A componente de manutenção da moral do grupo, da liderança social, cria um ambiente positivo e estimulante, com informações interessantes, histórias divertidas e experiências agradáveis, permite que o tour seja agradável, divertido e culturalmente enriquecedor, o que faz do passeio um sucesso, como também é capaz de gerar imagens e comentários positivos nas redes sociais, não só gerando satisfação pessoal aos turistas conectados, como também uma divulgação maior do trabalho do guia. d) Animação – Esse elemento envolve a capacidade do guia de incentivar os passageiros a participarem de jogos, brincadeiras e atividades organizadas por eleou oferecidas pela estrutura turística. O guia pode propor jogos interativos, apresentar curiosidades, promover atividades de grupo e criar momentos de descontração e entretenimento. A animação do grupo pelo guia contribui para uma experiência mais dinâmica e envolvente para os turistas. “Turistas conscientes” estão preocupados com os impactos que sua viagem e o turismo como um todo podem causar no destino. Contudo, ainda que esses turistas sejam conscientes e procurem minimizar os problemas causados por sua visita, eles não deixam de aproveitar a viagem e se divertir. Quando o guia de turismo especializado em atrativos utiliza a animação para apresentar a localidade de maneira divertida, em atividades organizadas que promovem o conhecimento a respeito do ambiente cultural ou natural, de forma agradável e de mais fácil compreensão, ele está cumprindo com seu papel e satisfazendo às necessidades de seu cliente. Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 32 A esfera da mediação também é composta por duas partes: interação e comunicação. A componente “interação” é constituída pelos elementos: a) Representação – Nesse aspecto, o guia de turismo atua como um elemento de interposição entre o grupo de turistas e o ambiente em que estão inseridos. Ele desempenha um papel de representante, integrando o grupo ao ambiente visitado ou o isolando quando necessário, mas também representa o destino, os moradores, os prestadores de serviços e o ambiente perante o grupo. Ao agir como um elo entre o grupo e o ambiente cultural ou natural, o guia contribui para uma experiência mais enriquecedora e significativa. A componente “representação” coloca o guia como um elemento de interposição entre o grupo de turistas e o ambiente em que estão inseridos. Quando “turistas conscientes” ou “de experiências” dão importância para a sustentabilidade e responsabilidade, reforçam a importância do papel do guia como elemento para suavizar e harmonizar as relações entre o turista e a comunidade local ou o ambiente natural. O guia assume a função de mostrar como os turistas podem ser justos e responsáveis com a comunidade que os acolhe. b) Organização – Esse elemento diz respeito ao provimento de serviços e facilidades para o grupo durante os passeios ou viagens. O guia de turismo é responsável por garantir que o grupo tenha acesso aos serviços necessários, 33 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos como transporte, acomodação, alimentação e outras necessidades logísticas. Ele pode fazer a contratação direta dos serviços ou executar a programação prevista, assegurando que tudo esteja organizado e funcionando de acordo com o planejado. O guia desempenha um papel fundamental na logística da viagem, coordenando horários, atividades e recursos para garantir o conforto e a comodidade dos turistas. Já vimos que “turistas conectados” gostam de planejar suas viagens usando a tecnologia. Por sua vez, o guia de turismo cadastrado como MEI pode oferecer seus próprios roteiros especializados para pessoas e/ou empresas, inclusive para compras online. A função organização, que garante ao o grupo o acesso aos serviços necessários, como transporte, acomodação, alimentação e outras necessidades logísticas, faz parte da mediação entre “viajante” e “viajado”, negando a belíssima expressão cunhada por Krippendorf (1989), que dizia não haver um encontro verdadeiro entre eles. O conjunto do trabalho do guia coloca em xeque tal visão. O desejo dos turistas por serviços que garantam um certo grau de familiaridade, segurança e previsibilidade em suas experiências também pode ser atendido pelas escolhas que o guia fizer no seu papel de organizador, reforçando uma interação verdadeira entre eles. Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 34 A componente “comunicação”, considerada por Holloway (1981), outro clássico, a mais importante, é formada pelos elementos, ainda de acordo com Cohen (1985): a) Seleção – O guia desempenha um papel fundamental na seleção dos pontos de interesse a serem mostrados aos turistas. Ele utiliza seu conhecimento e expertise para identificar os locais mais relevantes e interessantes, levando em consideração os interesses e preferências do grupo. A seleção cuidadosa dos pontos de interesse contribui para uma experiência turística enriquecedora e satisfatória. Um dos desejos dos “turistas de experiências” é o envolvimento com a comunidade local e a exploração de lugares menos turísticos e mais autênticos. A componente “seleção”, da mediação comunicativa, atende a essa necessidade dos turistas, ao usar o conhecimento e a experiência do guia para perceber as preferências e os interesses do turista e escolher os atrativos e atividades que melhor atenderão a esses desejos. b) Informação – O guia de turismo é responsável por transmitir informações aos turistas sobre fatos históricos, artísticos, econômicos, sociais ou geográficos das localidades e atrativos visitados. Ele compartilha conhecimentos relevantes para que o grupo possa compreender e apreciar o contexto cultural e ambiental da localidade visitada. A informação fornecida pelo guia enriquece a experiência dos turistas, permitindo-lhes obter uma compreensão mais profunda e significativa do destino. Vimos anteriormente que “turistas de experiências” e “turistas conscientes” ambicionam aprendizado e enriquecimento cultural. É a componente informação, da mediação comunicativa, que oferecerá aos turistas os dados sobre os fatos históricos, artísticos, econômicos, sociais ou geográficos das localidades e atrativos visitados. c) Interpretação – Além de fornecer informações, o guia de turismo desempenha um papel de intérprete, tornando possível o entendimento da cultura do local visitado. Ele busca estabelecer conexões entre a cultura local e a vivência dos turistas, de modo que o exótico possa ser compreendido e apreciado de forma familiar. A interpretação realizada pelo guia ajuda a tornar a experiência turística mais significativa, promovendo a empatia e a compreensão mútua 35 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos entre os visitantes e o destino. Mas essas informações ganharão sentido no momento em que o guia apresentar seu papel de intérprete dessas informações, “traduzindo” os significados específicos daquela cultura ou daquele ambiente para a cultura dos turistas e estabelecendo as conexões entre a cultura local e a vivência que os visitantes estão experimentando. d) “Fabricação” – Desvio ético de alguns profissionais não aceito pela categoria, de um modo geral, que consiste na criação de falsos atrativos com o objetivo de enganar os turistas. Essa prática não condiz com os princípios e padrões éticos da profissão de guia de turismo, que se baseiam na transmissão de informações verídicas e na promoção de experiências autênticas e genuínas. A última motivação que iremos analisar, em face dos papéis do guia, é o desejo por autenticidade por parte dos “turistas conscientes” e dos “de experiências”. O desvio ético da fabricação de atrativos, relatado por Cohen (1985), é um ponto delicado e importante para a satisfação do turista. Não é necessário enfatizar que a descoberta de uma mentira a respeito de um ponto tão desejado pelo cliente se transformará em uma grande decepção e na sensação de que a viagem inteira foi uma fraude. Um péssimo negócio para um profissional que conta com o retorno do cliente e na divulgação boca a boca que ele pode fazer, ainda mais em tempos de redes sociais, para manter seu trabalho. Em casos assim, é sempre bom lembrar de Chico Buarque, que, na Ópera do Malandro, afirma “Se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem”. O quadro de Cohen com a análise teórica, complementado com as dimensões práticas, fornece ao guia de turismo o entendimento sobre a necessidade de se respeitar as comunidades de acolhimento, o ambiente e os destinos, e pode ajudar na compreensãodas ferramentas de que o guia especializado em atrativos dispõe para lidar com seus desafios. Destaca, ainda, o papel do guia de turismo na garantia de uma experiência ambiental, cultural e eticamente responsável por parte do visitante. Para finalizar este tópico, é bom lembrar que o guia de turismo, ao desempenhar corretamente os seus papéis e atender bem às motivações do turista, contribui para a construção de uma boa reputação, o aumento do número de clientes e a criação de experiências personalizadas e memoráveis, e para o estabelecimento de relações de confiança e empatia e da fidelização dos turistas, além da, não menos importante, satisfação pessoal por realizar bem o seu trabalho. Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 36 Sugestões de atividades pós-leitura 1. Leia atentamente o trecho que descreve os papéis do guia de turismo e suas esferas de liderança e mediação. Em seguida, reflita sobre a importância desses papéis e como eles se relacionam com as necessidades dos seus turistas e suas práticas profissionais. Faça uma lista de ações que você pode adaptar para enriquecer seu trabalho a partir dos conceitos estudados no tópico. 2. Busque exemplos reais de situações em que você teve que atuar como líder e mediador em visitas a atrativos naturais ou culturais. Você deve analisar os diferentes componentes dos papéis do guia descritos no texto (liderança instrumental, liderança social, interação e comunicação) e identificar como esses aspectos foram aplicados nos casos que você listou. Pense no que você poderia ter feito de diferente em cada exemplo, a partir do que viu no tópico acima. 37 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 3. Descobrindo um mundo de possibilidades No tópico anterior, apresentamos uma visão mais abrangente sobre as mudanças no setor do turismo e falamos da importância de os guias se adaptarem a essas novas demandas. Agora, neste tópico, vamos conversar sobre como os guias de turismo especializados podem oferecer uma experiência mais profunda e personalizada aos turistas nesse mundo em transformação. Prepare-se para descobrir um mundo de possibilidades e aprofundar sua carreira como guia de turismo especializado! Objetivo geral Mostrar as diferenças entre o trabalho dos guias especializados em atrativos e o dos guias regionais e apresentar algumas formas de especialização tanto em atrativos naturais quanto culturais. Ao final deste tópico, esperamos que você esteja familiarizado com diferentes áreas de especialização e tenha conhecimentos para buscar aprofundamento em uma área específica de seu interesse, ampliar sua atuação profissional e, assim, oferecer experiências mais enriquecedoras aos turistas. Objetivos específicos Ao final deste tópico, esperamos que você seja capaz de: • diferenciar as características e atribuições dos guias regionais e especializados; • apontar as vantagens e os desafios da especialização em atrativos turísticos; • explorar as possibilidades de especialização como guia de turismo em atrativos naturais e culturais; • reconhecer o desafio de definir claramente as atividades de turismo de aventura e seus riscos; • discutir as habilidades, os conhecimentos e as técnicas necessárias para atuar como guia especializado em atrativos culturais; e • explorar formas de transmitir informações históricas, culturais e artísticas aos turistas, tornando as visitas mais enriquecedoras e memoráveis. Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 38 3.1 As diferenças entre guias regionais e especializados De acordo com a legislação brasileira, as atividades do guia de turismo regional compreendem “a recepção, o traslado, o acompanhamento, a prestação de informações e assistência a turistas, em itinerários ou roteiros locais ou intermunicipais de uma determinada unidade da federação, para visita a seus atrativos turísticos”. Já as funções do guia especializado em atrativos turísticos abrangem “a prestação de informações técnico-especializadas sobre determinado tipo de atrativo natural ou cultural de interesse turístico, na unidade da federação para qual o profissional se submeteu à formação profissional específica” (BRASIL, 2021). Em uma primeira leitura, não parece haver muita diferença entre as duas categorias, visto que o campo de atuação do guia especializado em atrativos deve ser cadastrado na mesma unidade da federação para a qual está cadastrado como guia regional. Além disso, o guia regional pode prestar informações e assistência para visitas aos atrativos turísticos, sem que haja nenhuma qualificação desses atrativos, podendo, portanto, serem naturais ou culturais. A diferença está em uma expressão no meio da definição: “a prestação de informações técnico- especializadas sobre determinado tipo de atrativo” (BRASIL, 2021). Para entendermos melhor essa diferenciação, precisamos nos debruçar sobre o que é ser um especialista. Ser um especialista em determinado assunto significa ter um conhecimento profundo, amplo e detalhado sobre esse tema específico. Um especialista é alguém que adquiriu um nível avançado de conhecimento, habilidades e experiência em uma área específica e é reconhecido como autoridade nesse campo. Para se tornar um especialista, geralmente é necessário dedicar um tempo significativo ao estudo, à pesquisa e à prática em um determinado domínio. Isso envolve a obtenção de uma educação formal, como um diploma universitário ou por meio de cursos especializados. Esse conhecimento também pode vir de uma grande vivência prática sobre um determinado assunto. Além disso, um especialista é capaz de aplicar seu conhecimento em situações práticas, resolver problemas complexos relacionados ao seu campo de expertise, além de identificar sutilezas em um determinado ambiente, oferecendo insights valiosos e perspectivas únicas. Ele possui uma compreensão abrangente dos conceitos e das teorias e metodologias relevantes para o assunto em questão 39 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos e é capaz de analisar criticamente informações e tomar decisões embasadas em seu conhecimento especializado. Ser um especialista também implica acompanhar as últimas tendências, pesquisas e desenvolvimentos em sua área de atuação, para se manter atualizado e continuar aprofundando seu conhecimento. É importante ressaltar que tanto um guia regional quanto um guia especializado desempenham papéis valiosos no turismo. O guia regional oferece uma visão ampla da região, fornecendo informações gerais e orientando os visitantes de forma abrangente. Já o guia especializado complementa essa experiência, adicionando conhecimentos específicos e aprofundados sobre os atrativos naturais ou culturais, enriquecendo a visita e proporcionando uma experiência mais especializada e imersiva. 3.2 As Vantagens de uma experiência mais profunda e personalizada Um guia especializado em atrativos naturais ou culturais possui um conhecimento mais aprofundado e detalhado em alguma área específica, permitindo oferecer uma experiência mais especializada e enriquecedora aos visitantes. Aqui estão algumas maneiras pelas quais um guia especializado pode se diferenciar de um guia regional. Conhecimento especializado. Um guia especializado em atrativos naturais possui um conhecimento aprofundado sobre flora, fauna, geografia ou ecossistemas específicos de uma região. Ele pode compartilhar informações detalhadas sobre a biodiversidade local ou explicar processos geológicos, fornecendo informações relevantes sobre a conservação e preservação ambiental. Da mesma forma, um guia especializado em atrativos culturais tem um conhecimento aprofundado sobre história, arte, tradições ou manifestações Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 40 culturais da região, podendo fornecer aprofundar as informações, com mais detalhes e perspectivas específicas sobre algum desses aspectos. Abordagem aprofundada. Um guia especializadoé capaz de aprofundar os aspectos técnicos e detalhados dos atrativos naturais ou culturais. Ele pode explicar conceitos mais complexos, fornecer informações científicas ou históricas mais aprofundadas e responder a perguntas específicas com maior precisão. Essa abordagem aprofundada permite que os visitantes obtenham uma visão mais crítica dos aspectos envolvidos e uma compreensão mais rica dos atrativos que estão explorando. Narrativa especializada. Um guia especializado pode contar histórias e criar narrativas mais envolventes e detalhadas sobre os atrativos naturais ou culturais que estão sendo visitados. Ele pode compartilhar mitos e lendas relacionados à região, conectar eventos históricos específicos aos atrativos culturais ou destacar a importância de certas espécies ou fenômenos naturais na ecologia local. Essa narrativa especializada permite que os visitantes tenham uma compreensão mais profunda e significativa dos atrativos. Personalização da experiência. Um guia especializado em atrativos naturais ou culturais tem a capacidade de personalizar a experiência de acordo com os interesses e preferências dos visitantes. Ele pode adaptar o itinerário, as informações compartilhadas e as atividades propostas com base nos interesses específicos do grupo ou indivíduo. Isso cria uma experiência única e sob medida, atendendo às expectativas e desejos dos visitantes de forma mais precisa. Aprofundamento de experiências. Um guia especializado pode oferecer atividades e experiências mais específicas relacionadas aos atrativos naturais ou culturais. Por exemplo, um guia especializado em atrativos naturais pode conduzir trilhas temáticas, identificar espécies de flora e fauna e realizar explorações em áreas remotas e preservadas. Já um guia especializado em atrativos culturais pode organizar visitas a locais históricos menos conhecidos, facilitar encontros com 41 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos artistas locais, proporcionar aulas práticas sobre artesanato tradicional, culinária local ou promover interações com membros da comunidade que preservam tradições culturais únicas. Relacionamento com os visitantes. Um guia especializado em atrativos naturais ou culturais geralmente desenvolve um relacionamento mais próximo e envolvente com os visitantes. Ele tem a oportunidade de compartilhar seu entusiasmo e sua paixão pelo assunto, despertar um senso de admiração e curiosidade nos visitantes e criar um ambiente acolhedor e envolvente durante a visita. Esse relacionamento mais próximo contribui para uma experiência mais significativa e memorável para os visitantes. Atualização contínua. Um guia especializado tende a investir em constante atualização e no aprimoramento de conhecimentos em suas áreas de especialização. Ele acompanha as últimas pesquisas, tendências e desenvolvimentos em relação aos atrativos naturais ou culturais que explora. Isso lhe permite fornecer informações atualizadas e precisas aos visitantes, além de responder a perguntas mais específicas e complexas. No final, a escolha entre um guia regional e um guia especializado dependerá dos interesses e expectativas dos visitantes. Alguns podem preferir uma visão geral da região, enquanto outros desejam explorar os atrativos de forma mais aprofundada. Portanto, a presença de guias especializados oferece uma opção adicional e enriquecedora para os visitantes que desejam vivenciar uma experiência mais detalhada e especializada nos atrativos naturais ou culturais da região. Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 42 3.3 O Problema das definições e o risco no turismo de aventura Discutimos nos tópicos anteriores que não era tão simples diferenciar a área de atuação de um guia regional da de um guia especializado em determinados atrativos. Neste tópico vamos tratar de uma outra confusão conceitual, desta vez a que trata de segmentos que possuem várias interseções nas suas definições. Estamos nos referindo aos chamados ecoturismo, turismo cultural e turismo de aventura. Para não complicar ainda mais a discussão, vamos utilizar somente as definições propostas no Brasil, já que definições internacionais podem trazer grandes diferenças em relação àquelas usadas no país. Vejamos as três definições citadas pelo Ministério do Turismo. Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações (BRASIL, 2010, p.17). Turismo Cultural compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura (BRASIL, S/D, p. 13). Entende-se como atividades de turismo de aventura aquelas oferecidas comercialmente, usualmente adaptadas das atividades esportivas de aventura, que tenham ao mesmo tempo o caráter recreativo e envolvam riscos avaliados, controlados e assumidos. É importante ressaltar que as atividades de turismo de aventura podem ser conduzidas em ambientes naturais, rurais ou urbanos (BRASIL, 2009, p. 83). Ao apresentar uma relação de atividades que podem ser enquadradas na categoria de ecoturismo, o Ministério do Turismo afirma que existem muitas delas relacionadas com o turismo de aventura, e outras que, “embora possam caracterizar outros tipos de turismo, podem também ser ofertadas em produtos e roteiros desse segmento, como atividades turísticas de aventura, de pesca, náuticas, culturais e outras, desde que cumpram as premissas, comportamentos e atitudes estabelecidas no Ecoturismo” (BRASIL, 2010, p. 30). Já o turismo de aventura é regulamentado por uma série de normas técnicas produzidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A norma 43 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos que regulamenta o turismo de aventura define o segmento como: “Atividades oferecidas comercialmente, usualmente adaptadas das atividades de aventura, que tenham ao mesmo tempo o caráter recreativo e envolvam riscos avaliados, controlados e assumidos” (ABNT, 2014). Por essa razão, vamos considerar que o guia de turismo especializado em atrativos naturais ou culturais não deve conduzir pessoa em turismo de aventura, se não estiver devidamente capacitado para exercer esse tipo de turismo. É muito importante que ele entenda dos riscos que corre, ao organizar e acompanhar passeios que exigem o cumprimento de normas de capacitação específicas, se não estiver devidamente qualificado. Para se informar melhor, nossa sugestão é procurar a Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (ABETA) pelo site www.abeta.tur.br. Dentre as modalidades de turismo aventura que já são reguladas por normas técnicas (ABNT, 2023), podemos destacar aquelas em que há normas para competências de profissionais como: condutores de montanhismo e de escalada; condutores de caminhada de longo curso; condutores de turismo fora de estrada em veículos 4x4 ou buggy; turismo com veículos quadriciclos e triciclos; espeleoturismo de aventura e espeleoturismo vertical; canionismo e cachoeirismo; e turismo com atividade de caminhada. Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 44 Há outras atividades cujas normas dizem respeito aos requisitos para o produto, como: turismo fora de estrada em veículos 4x4 ou buggy; rafting; turismo em atividades aquáticas; espeleoturismo de aventura; turismo com atividade de caminhada; cicloturismo; turismo equestre; bungee jump5; e atividades de snorkeling6. É importante destacar que algumas atividades como cicloturismo, turismo com atividade de caminhada e turismo equestre também possuem normas para a classificação do grau de dificuldade dos roteiros. Neste tópico, discutimos as definições e interseções entreecoturismo, turismo cultural e turismo de aventura, mostrando como é importante que os guias especializados em atrativos naturais ou culturais evitem conduzir passeios de aventura sem a devida capacitação. Conhecer as normas e requisitos aplicáveis é fundamental para garantir a segurança de seus turistas e evitar riscos desnecessários. Seja profissional, seja responsável! 3.4 Algumas formas de especialização do guia de atrativos naturais Vamos conhecer agora algumas das especializações possíveis do guia no setor de turismo baseado em natureza. O objetivo é familiarizar você com a ampla diversidade de segmentos existentes e mostrar as possibilidades de nichos de atuação. Cada uma das especializações vai exigir do guia conhecimentos específicos e habilidades para proporcionar experiências enriquecedoras aos turistas, além de promover a conscientização sobre a conservação ambiental e a importância da sustentabilidade. Nem todas as especializações possuem uma definição específica e muitas delas se sobrepõem, mas apresentamos uma breve explicação de cada uma, sem o objetivo de conceituá-las legal ou academicamente. Guia de ecoturismo: especializado em conduzir turistas em ambiente natural ou cultural, incentivando sua conservação, por meio da interpretação daquele ambiente, promovendo práticas sustentáveis. Vimos que a definição geral enquadra todos os tipos de guias especializados. Guia de aventura: especializado em conduzir atividades de aventura ao ar livre, como escalada, trilhas, rafting, canoagem, entre outras. Lembre-se de que existe a necessidade de capacitação específica para as modalidades de turismo 45 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos de aventura. Guia de geoturismo: especializado em fornecer informações sobre geologia, formações rochosas, vulcões, terrenos e fenômenos geológicos para turistas interessados em explorar esses aspectos naturais. Guia de mergulho: especializado em conduzir mergulhadores em locais de mergulho, fornecendo informações sobre os recifes de coral, espécies marinhas e garantindo a segurança dos mergulhadores. Requer capacitação adicional. Guia de montanhismo: especializado em liderar expedições de montanhismo em áreas montanhosas, orientando os turistas sobre técnicas de escalada, segurança e conhecimento das montanhas. Requer capacitação adicional. Guia de observação de aves: especializado em identificar e localizar diferentes espécies de aves em ambientes naturais, proporcionando aos turistas uma experiência de observação de aves enriquecedora. Guia de safári: especializado em conduzir safáris em reservas naturais, fornecendo informações sobre a vida selvagem, comportamento animal e promovendo a conservação. Normalmente esses passeios têm por objetivos apenas a observação dos animais e da paisagem e a produção de fotografias, já que a caça esportiva não é legal no país. Guia de turismo de áreas costeiras: especializado em conduzir turistas em áreas costeiras, fornecendo informações sobre a vida marinha, ecossistemas costeiros e práticas de conservação. Guia de turismo de cachoeiras: especializado em conduzir turistas em cachoeiras, fornecendo informações sobre a hidrologia, formações rochosas, biodiversidade e experiências recreativas relacionadas. Guia de turismo de cânions: especializado em conduzir turistas por cânions, oferecendo informações sobre a formação geológica, ecossistemas únicos e trilhas panorâmicas. A prática de canionismo7 é uma modalidade diferente e requer uma capacitação adicional. Guia de turismo de canoagem / caiaques: especializado em conduzir turistas em atividades de canoagem ou caiaques em rios, lagos e áreas costeiras, 7 Canionismo é uma prática esportiva que consiste na exploração progressiva de um rio, transpondo os obstáculos verticais e/horizontais por meio do uso de diferentes técnicas e equipamentos. Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos 46 fornecendo informações sobre técnicas de remo, segurança e ecologia dos cursos d’água. Mais uma vez destacamos a necessidade de capacitação adicional. Guia de turismo de cavernas: especializado em conduzir turistas em cavernas, oferecendo informações sobre a formação geológica, estalactites, estalagmites, biodiversidade subterrânea e segurança. Observe que a prática do espeleoturismo requer uma capacitação adicional. Guia de turismo de fotografia de natureza: especializado em auxiliar fotógrafos amadores ou profissionais na captura de imagens da natureza, oferecendo conhecimentos sobre enquadramento, iluminação, composição e identificação de cenários fotográficos. Guia de turismo de geoparques: especializado em conduzir turistas em geoparques, que são áreas com um patrimônio geológico significativo, fornecendo informações sobre a história geológica, os pontos de interesse e as atividades relacionadas. Guia de turismo de jardins botânicos: especializado em conduzir visitantes em jardins botânicos, fornecendo informações sobre diferentes espécies de plantas, jardins temáticos e práticas de conservação. Guia de turismo de observação de baleias: especializado em conduzir turistas em passeios para observação de baleias, fornecendo informações sobre as diferentes espécies, seus ciclos migratórios e comportamentos. Guia de turismo de parques marinhos: especializado em conduzir turistas em parques marinhos, destacando a importância da conservação dos ecossistemas marítimos. Lembrando que o turismo em atividades aquáticas requer a observação de normas específicas. Guia de turismo de parques nacionais, estaduais, municipais ou reservas naturais: especializado em conduzir visitantes em parques e reservas naturais, explicando a importância da conservação, a diversidade biológica e os esforços de preservação. Não confundir com o condutor de visitantes. Guia de turismo de parques naturais urbanos: especializado em conduzir turistas em parques naturais dentro de áreas urbanas, destacando a importância desses espaços verdes, a biodiversidade local e as atividades recreativas disponíveis. 47 Teoria e Prática Profissional do Guia de Atrativos Guia de turismo de reservas de biosfera: especializado em conduzir turistas em reservas de biosfera, promovendo a compreensão da interação entre os seres humanos e o meio ambiente e destacando as práticas de sustentabilidade. Guia de turismo de trilhas naturais: especializado em conduzir turistas em trilhas naturais, oferecendo informações sobre a fauna, flora, geologia e pontos de interesse ao longo do percurso. Observe que há a necessidade de uma capacitação adicional. Guia de turismo rural: especializado em conduzir turistas em regiões rurais, apresentando a cultura local, as práticas agrícolas, a gastronomia tradicional e as atividades relacionadas à natureza. Guia de turismo subaquático: especializado em conduzir turistas em mergulhos e snorkeling em recifes de coral, naufrágios e outras formações subaquáticas, fornecendo informações sobre a vida marinha, segurança e preservação dos ecossistemas marinhos. Lembrando que para atividades subaquáticas é necessária capacitação adicional. Guia de turismo de vulcões: especializado em conduzir turistas em vulcões ativos ou inativos, explicando a geologia vulcânica, os tipos de erupção, os perigos e as medidas de segurança. Embora não haja vulcões em atividade no país, a região Sudeste apresenta muitas formações geológicas de origem vulcânica. Guia de turismo de vida selvagem: especializado em identificar e fornecer informações sobre a fauna e a flora local, incluindo mamíferos, répteis, anfíbios e plantas em áreas naturais. Essas são apenas algumas das especializações no setor de turismo baseado em natureza. Cada uma delas exige conhecimentos específicos aprofundados, habilidades técnicas e um profundo apreço pela natureza e pelo meio ambiente. É importante ressaltar que, além da especialização, os guias de turismo também devem exercitar suas habilidades em comunicação,
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