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DIREITO CONSTITUICIONAL

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Direito Constitucional I
Estrutura constitucional
Para José Afonso da Silva, as constituições possuem diversos elementos. Os da Constituição de 1988 são divididos da seguinte maneira:
(i) Elementos orgânicos: Regulam a estrutura do Estado e do poder. Normas que regulam a estrutura do Estado e do Poder; Organizam a estruturação do Estado. Exemplos: normas do Título III da CF/88 – Da Organização dos Poderes e do Sistema de Governo; Capítulos II e III do Título V (Das Forças Armadas e da Segurança Pública); Título VI (Da Tributação e do Orçamento);
(ii) Elementos limitativos: que representam os direitos e garantias fundamentais. Exemplos: Título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais) da Constituição de 1988, com exceção do Capítulo II (Dos Direitos Sociais);
Elementos da Constituição Federal
Direito Constitucional I
Estrutura constitucional
(iii) Elementos socioideológicos: que representam o compromisso da Constituição entre o Estado individualista e o Estado Social, intervencionista. Exemplos: Capítulo II do Título II (Dos Direitos Sociais); Título VII (Da Ordem Econômica e Financeira); e Título VIII (Da Ordem Social);
(iv) Elementos de estabilização constitucional: que asseguram a supremacia da Constituição. Exemplos: arts. 102 e 103 (controle de constitucionalidade); arts. 34-36 (intervenção nos Estados e Municípios); art. 60 (emendas constitucionais); Título V (Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas);
(v) Elementos formais de aplicabilidade: que estabelecem as regras de aplicação das normas constitucionais (exemplos: o preâmbulo e o art. 5º, § 1º – “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”).
Elementos da Constituição Federal
Direito Constitucional I
Estrutura constitucional
A constituição consiste em um sistema próprio de normas formado por regras e princípios constitucionais.
As regras são o tipo de normas formuladas com maior nível de detalhamento e em linguagem menos abstrata.
Já os princípios também são normas, pois igualmente expressam o que “deve ser” com a ajuda de disposições que se traduzem como mandamentos, permissões ou proibições (Robert Alexy). 
Princípio significa o início, fundamento ou essência de algum fenômeno. Também pode ser definido como a causa primária, o momento, o local ou trecho em que algo, uma ação ou um conhecimento tem origem.
A Constituição Federal como sistema normativo
Direito Constitucional I
Estrutura constitucional
As normas em geral (regras e/ou princípios) podem ser classificadas, quanto à forma de exteriorização, em: (a) explícitas (expressas) ou (b) implícitas (não expressas).
As normas explícitas são de fácil localização no Texto Constitucional. Exemplo: o princípio da dignidade da pessoa humana está claramente disposto no art. 1º, III. 
Já as normas implícitas, embora possuam a mesma hierarquia normativa que as explícitas, não estão previstas textualmente. Daí por que precisam ser identificadas a partir da interpretação do sistema constitucional. Exemplo: o princípio da supremacia constitucional é identificado a partir da maior rigidez exigida à modificação das normas constitucionais, quando comparadas às normas infraconstitucionais.
A Constituição Federal como sistema normativo
Direito Constitucional I
Estrutura constitucional
Sempre que promulgada uma nova Constituição, surge a questão de aproveitamento do ordenamento jurídico infraconstitucional vigente sob a anterior. A legislação infraconstitucional que estiver em conformidade com a nova ordem constitucional é por ela recepcionada, admitida como válida;
A legislação infraconstitucional que estiver em desacordo com a nova ordem constitucional é revogada, ou seja, não é recepcionada pela nova Constituição; 
Não teria sentido inutilizar toda a legislação ordinária construída ao longo dos séculos. É por essa razão que a segunda parte do Código Comercial de 1850 e a parte especial do Código Penal de 1940 continuam ainda em vigor. O que estiver em desacordo com a nova ordem constitucional é por ela revogado e, portanto, não recepcionado; 
Constituição Federal:
Recepção
Direito Constitucional I
Estrutura constitucional
A legislação infraconstitucional, ao ser recepcionada pela Constituição, recebe a natureza que a nova ordem constitucional reservou para a matéria.
Exemplo: a atual Carta exige que diversos dispositivos relativos à ordem tributária sejam regulamentados por lei complementar. Esses dispositivos, que constam atualmente do Código Tributário Nacional, elaborado como lei ordinária na vigência da Constituição anterior, foram recepcionados na nova ordem constitucional como legislação complementar.
Constituição Federal:
Recepção
Direito Constitucional I
Estrutura constitucional
Ocorre o fenômeno da repristinação quando uma lei volta a vigorar, pois revogada aquela que a revogara. A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), em seu art. 2º, § 3º, veda expressamente a repristinação: “Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência”. 
Também não se admite o fenômeno da repristinação no direito constitucional, salvo se houver expressa previsão no texto da nova Constituição. 
Importante mencionar que a legislação infraconstitucional revogada pela vigência de uma Constituição não se restaura pelo surgimento de uma nova Constituição.
Constituição Federal:
Repristinação
Direito Constitucional I
Estrutura constitucional
A desconstitucionalização seria a possibilidade de recepção pela nova ordem constitucional de dispositivos da Constituição anterior como legislação infraconstitucional.
A ordem constitucional brasileira não admite esse fenômeno. A edição de uma nova Constituição importa na revogação total da anterior, havendo a possibilidade somente de manutenção de dispositivos infraconstitucionais que sejam compatíveis com a nova ordem constitucional.
Constituição Federal:
Desconstitucionalização
Direito Constitucional I
Estrutura constitucional
É o período de tempo entre a publicação de uma nova Constituição e a sua entrada em vigor. Exemplo: a Constituição brasileira de 1967 foi publicada no dia 24 de janeiro de 1967 para entrar em vigor no dia 15 de março do mesmo ano. Nesse período, teve validade a Constituição anterior, de 1946.
Constituição Federal:
Vacatio Constitutionis
Direito Constitucional I
Estrutura constitucional
Via de regra, as normas surtem efeitos não retroativos, a partir da entrada em vigor. Se a norma atribui efeitos jurídicos em relação a fatos anteriores, diz-se retroativa. 
Normas retroativas, contudo, não costumam ser toleradas em razão do princípio constitucional da não retroatividade (CF, arts. 5º, XXXVI e XL, e 150, III, a), salvo exceções, como as normas penais mais benéficas (art. 5º, XL, da CF).
A doutrina majoritária sustenta que o princípio da não retroatividade é cláusula pétrea (art. 60, § 4º, IV, c/c art. 5º, XXXVI), o que implica a invalidade até de emendas constitucionais retroativas.
Constituição Federal:
Efeito das normas constitucionais no tempo
Direito Constitucional I
Estrutura constitucional
Norma Constitucional válida é a elaborada com observância dos requisitos formais (formalidade/formalmente) e materiais (materialidade/materialmente) prescritos pelo ordenamento jurídico.
(i) Formal: é a obediência aos requisitos expressos do processo de elaboração da norma constitucional. Exemplo: CF, art. 60.
(ii) Material ou Substancial: é a compatibilidade do conteúdo da norma com o ordenamento constitucional vigente. Por exemplo, é inconstitucional a eventual emenda constitucional que viole cláusula pétreas.
Constituição Federal:
Validade das normas constitucionais
Direito Constitucional I
Hermenêutica constitucional
Hermenêutica é o estudo dos processos interpretativos em geral. Nesse sentido, é a técnica de “atribuir” sentido às expressões contidas nas fontes de direito, sobretudo nas “leis”. 
Considera-se que as normas jurídicas não são só o alvo, mas o produto da interpretação. Ao analisar alguma norma (constituição,lei, decreto), o intérprete jurídico busca o significado das respectivas disposições normativas (artigos, parágrafos, incisos), para daí lhes atribuir conteúdos de sentido normativo específico (normas jurídicas).
Hermenêutica constitucional:
Conceitos gerais
Direito Constitucional I
Hermenêutica constitucional
Quando o intérprete jurídico retira normas de disposições normativas determinadas, trata-se de normas explícitas ou expressas. Exemplo: o princípio da legalidade é norma que decorre do inciso II do art. 5º da Constituição. 
Mas no sistema jurídico convivem ainda as normas implícitas ou não expressas, que são os sentidos normativos obtidos a partir de certos raciocínios lógico-jurídicos. 
Hermenêutica constitucional:
Conceitos gerais
Direito Constitucional I
Hermenêutica constitucional
Na definição de Canotilho, a interpretação constitucional “significa compreender, investigar e mediatizar o conteúdo semântico dos enunciados linguísticos que formam o texto constitucional” CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 1993). 
Hermenêutica constitucional:
Conceitos gerais
Direito Constitucional I
Hermenêutica constitucional
Inspirada na obra de Konrad Hesse, a doutrina brasileira majoritária incorpora os seguintes princípios interpretativos tipicamente constitucionais:
a) Princípio da unidade da constituição: a constituição deve ser interpretada de modo a evitar contradições entre as normas constitucionais. Todos os preceitos constitucionais formam um sistema interno unitário, sendo equivocado atribuir a algum deles uma hierarquia normativa superior em relação aos demais. 
O intérprete deve apreciar a Constituição como um todo, não desprezando nenhuma parte.
Como exemplo de aplicação do princípio em estudo, temos a questão dos destinatários dos direitos fundamentais. Embora o caput do art. 5º refira-se apenas a “brasileiros e estrangeiros residentes no país”, temos os estrangeiros em trânsito pelo território nacional como destinatários dos direitos e garantias fundamentais, mediante a aplicação do princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF) e da prevalência dos direitos humanos nas relações do Brasil com entes internacionais (art. 4º, II, da CF).
Hermenêutica constitucional:
Princípios tipicamente constitucionais
Direito Constitucional I
Hermenêutica constitucional
b) Princípio da concordância prática (ou da harmonização): o intérprete deve coordenar e combinar os bens jurídicos protegidos pelas normas constitucionais, mesmo quando entrarem em conflito entre si. 
Quando ocorrer o conflito entre normas constitucionais deve ser aplicado critérios ou técnicas de “ponderação” de normas, buscando-se a coexistência mútua, em vez do sacrifício total de um deles. Exemplo da aplicação deste princípio é a questão do acesso aos dados acobertados pelo sigilo bancário. Nesta situação temos uma espécie de direito à privacidade, que a Constituição protege (art. 5º, X), mas que deve ceder diante do interesse público, do interesse social e do interesse da Justiça.
Hermenêutica constitucional:
Princípios tipicamente constitucionais
Direito Constitucional I
Hermenêutica constitucional
c) Princípio da conformidade (ou exatidão) funcional: o resultado da interpretação não pode subverter o esquema funcional criado pelo constituinte, de maneira que os poderes constituídos não devem adotar interpretações que lhes permitam invadir funções ou competências atribuídas pela Constituição a outros órgãos ou autoridades.
Hermenêutica constitucional:
Princípios tipicamente constitucionais
Direito Constitucional I
Hermenêutica constitucional
d) Princípio do efeito integrador: a interpretação deve dar preferência aos pontos de vista que produzem “efeito criador e conservador”, ou seja, deve privilegiar critérios favorecedores da integração político e social.
e) Princípio da máxima eficácia: critério interpretativo relativo à “força normativa da Constituição”, visa a atribuir aos dispositivos constitucionais o sentido que mais lhe dê eficácia concreta.
Hermenêutica constitucional:
Princípios tipicamente constitucionais
Direito Constitucional I
Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais
Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais;
O autor José Afonso da Silva é um dos maiores representantes da teorização da aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais;
A partir desta referência, desenvolve a ideia de que não existe norma constitucional sem eficácia, pois elas possuem pelo menos dois efeitos:
1) Positivo: toda norma constitucional é portadora da condição de impedir a recepção de normas constitucionais anteriores à sua vigência que não sejam compatíveis com o seu conteúdo;
2) Negativo: toda norma constitucional é capaz de vedar a edição de normas que a contrariem, mesmo que implicitamente;
Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais
Direito Constitucional I
Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais
Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais;
José Afonso da Silva apresenta três classificações de normas constitucionais com relação a sua eficácia:
1) Plena: aplicabilidade direta e imediata;
2) Contida: aplicabilidade direta e imediata, mas sujeita a restrições;
3) Limitada: quanto a princípios institutivos ou declaratória de princípios programáticos, com aplicabilidade reduzida;
Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais
Direito Constitucional I
Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais
Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais;
1) Plena: As normas de eficácia plena podem ser consideradas “autoexecutáveis”, pois produzem todos os seus efeitos essenciais simplesmente com a entrada em vigor da Constituição, independentemente de qualquer regulamentação por lei.
Características:
1.1) Imediatas: produzem efeitos de imediato;
1.2) Diretas: não dependem de norma regulamentadora;
1.3) Integrais: produzem efeitos sem limitações ou restrições;
Normas de eficácia plena
Direito Constitucional I
Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais
Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais;
2) Contida: Também estão aptas a produzir seus efeitos plenos efeitos a partir da nova Constituição, mas podem vir a ser restringidas.
Características:
2.1) Imediatas: produzem efeitos de imediato;
2.2) Diretas: não dependem de norma regulamentadora;
2.3) Não-Integrais: sujeitas à imposição de restrições;
Normas de eficácia contida
Direito Constitucional I
Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais
Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais;
Restrições das normas de eficácia contida podem estar presentes:
A) Na lei: art. 5º, XIII, CF/88 e art. 5º LXVIII, CF/88;
B) Por outras normas constitucionais: art. 139, CF/88;
C) Por conceitos ético-jurídicos: art. 5º, XXV, CF/88;
Normas de eficácia contida
Direito Constitucional I
Direitos Fundamentais
Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais;
3) Limitada: são aquelas que só produzem os seus efeitos plenos depois da regulamentação exigida pelo próprio texto constitucional.
Características:
3.1) Mediatas: somente produzem seus efeitos essenciais a partir da regulamentação;
3.2) Indiretas: não asseguram o exercício do direito, dependendo da norma regulamentadora;
3.3) Reduzida: sua eficácia é meramente negativa até a regulamentação;
Normas de eficácia limitada
Direito Constitucional I
Direitos Fundamentais
Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais;
Normas de eficácia limitada definidoras de princípios institutivos:
Noção básica:
Esquemas gerais de estruturação e organização para regulamentação posterior:
Art. 33, CF/88;
Art. 88, CF/88;
Art. 91, § 2º, CF/88;
Art. 113, CF/88;
Normas de eficácia limitada
Direito Constitucional I
Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais
Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais;
Normas de eficácia limitada definidoras de princípios programáticos:
Noção básica:
Ao invés de promover a regulamentação direta e imediata de determinadasmatérias, a Constituição define princípios a serem cumpridos pelos seus órgãos:
Art. 196, CF/88;
Art. 205, CF/88;
Art. 216, § 2º, CF/88;
Art. 173, CF/88;
Normas de eficácia limitada
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