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FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO AULA 6 Prof. Rafael Luciano de Mello 2 CONVERSA INICIAL Após a compreensão teórica dos aspectos e dos conceitos fisiológicos, a aplicação prática da fisiologia ocorrerá pela avaliação e pela prescrição do exercício. É de suma importância compreender o metabolismo, o componente da aptidão física e o objetivo da prescrição dentro do público trabalhado para que os resultados sejam potencializados. Ao final desta aula, esperamos que você compreenda os mecanismos fisiológicos básicos da hipertrofia muscular e do emagrecimento, quais são os protocolos mais comuns e os procedimentos adotados para avaliar a resistência aeróbia e a força muscular, e, por fim, como elaborar e prescrever exercícios aeróbios e resistidos para diferentes populações. Os temas abordados nesta aula são: • aspectos fisiológicos do exercício sobre a hipertrofia muscular e o emagrecimento; • avaliação e controle da resistência aeróbia; • avaliação e controle da força muscular; • modelos de prescrição do treinamento aeróbio; • modelos de prescrição do treinamento de força. TEMA 1 – ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO EXERCÍCIO SOBRE A HIPERTROFIA MUSCULAR E O EMAGRECIMENTO As respostas fisiológicas aos exercícios dependem de uma série de fatores, alguns inerentes à sessão de treino e outros relacionados aos fatores externos (McArdle; Katch; Katch, 2016, p. 876). Dentre os propósitos da realização regular dos exercícios físicos estão a hipertrofia muscular e o emagrecimento, ambos de suma importância para a manutenção da saúde e a maximização da performance física (ACSM, 2018, p. 62). 1.1 Hipertrofia muscular Nesta seção, abordaremos o conceito de hipertrofia muscular e seus mecanismos fisiológicos fundamentais. A hipertrofia muscular é definida como o aumento da área de secção transversa do músculo (AST) (Egan; Zierath, 2013). 3 Na prática é o aumento da circunferência de um determinado músculo, ou seja, do volume muscular. A hipertrofia pode ser compreendida como um balanço proteico positivo em que a síntese proteica deve ser superior à de quebra. As proteínas também são utilizadas na geração energética, embora em menor proporção do que carboidratos e lipídios (Melzer, 2011). Na situação fisiológica saudável é esperado que a síntese proteica seja maior ou se mantenha em equilíbrio à perda. Esse equilíbrio é regulado por fatores hormonais, alimentares, agentes estressores, entre outros. O exercício físico é um dos estimulantes ao crescimento muscular, particularmente o treinamento resistido (Egan; Zierath, 2013; Schoenfeld, 2010). A hipertrofia é condicionada à inter-relação dos fatores a seguir: • tensão mecânica: é a tensão imposta às fibras musculares por meio da força produzida e do alongamento gerado, mexendo na integridade celular e ocasionando respostas fisiológicas nas miofibrilas e células satélites. Durante a contração muscular excêntrica, a tensão passiva de estruturas como o colágeno e a titina aumentam essa contratilidade, e por isso a fase excêntrica é comumente estimulada em busca da hipertrofia muscular, embora a tensão mecânica esteja presente em ambas as ações musculares. • estresse metabólico: o estresse metabólico é agente anabólico assim como os altos níveis de tensão mecânica. Os exercícios resistidos que priorizem a utilização do sistema glicolítico produzirão uma série de metabólitos, tais como lactato, prótons de hidrogênio (H+) e fosfato inorgânico, que, por sua vez, tornam o ambiente celular ácido e catabólico. Esse ambiente momentaneamente ácido estimulará a regeneração tecidual posterior, ou seja, o anabolismo. Os metabólitos acumulados induzirão uma maior hidratação celular por meio da variação osmótica nos meios intra e extracelular, estimulando as células satélites a acoplar mais núcleos nas fibras musculares, assim como ocorre na tensão mecânica descrita previamente. • dano muscular: com a tensão mecânica imposta às fibras musculares e a acidose metabólica gerada, as estruturas celulares serão deformadas e retiradas da homeostase. O sarcolema, a lâmina basal e os túbulos T são parcialmente rompidos, gerando um ambiente de inflamação celular. Essa 4 inflamação induzida pelo exercício estimula substâncias anti-inflamatórias a regenerarem o tecido danificado, inclusive em níveis acima dos anteriores. Essa relação de inflamação aguda e regeneração posterior dá origem à hipertrofia muscular. 1.2 Emagrecimento A manutenção do peso adequado é fundamental para a prevenção de doenças e a promoção da saúde. Além de peso corporal adequado é imprescindível a estabilização dos níveis satisfatórios de gordura corpórea. Portanto, perda de peso e redução de gordura não são sinônimos, embora estejam altamente relacionados (ACSM, 2018, p. 63). • Perda de peso: perda de peso faz referência à redução da massa corporal total do indivíduo (Kg), independentemente da composição corporal. É bastante aceito que indivíduos acima do peso estão em maiores riscos do acometimento de doenças, pelo comprometimento de órgãos importantes e do sistema vascular. Considerando a definição apresentada de perda de peso é possível concluir que o sucesso na perda de peso é resultado da subtração da ingesta calórica diária pelo gasto calórico diário (taxa metabólica basal (TMB), efeito térmico da alimentação e efeito térmico da atividade física). Dessa forma, se houver um déficit calórico, haverá redução na massa corporal total. Embora o exercício possa ser um catalizador do gasto calórico diário (~20% do total), o determinante da perda peso é a ingesta calórica, ou seja, a dieta (Verheggen et al., 2016). Exercícios mais efetivos nesse processo são aqueles que estimulam um alto gasto calórico e aumentam a razão AMP (adenosina monofosfato)/ATP (adenosina trifosfato), justamente pela alta demanda energética, promovendo adaptações mitocondriais e do sistema oxidativo (Egan; Zierath, 2013). • Composição corporal: no processo de emagrecimento, além da perda de peso (Kg), espera-se que a composição corporal seja otimizada, ou seja, que um percentual de massa livre de gordura seja adquirido simultaneamente à redução do percentual de gordura. Nesse processo, o exercício físico é mais relevante do que a perda de peso, apenas. O processo de desenvolvimento muscular aumenta a TMB, pois terá 5 proporcionalmente mais massa magra do que nas condições anteriores ao treinamento (Verheggen et al., 2016). Em síntese, o processo de emagrecimento deve considerar o peso do indivíduo em relação à sua altura (índice de massa corporal (IMC)) e a composição corporal (percentual de gordura/percentual de massa livre de gordura), sendo que o exercício é mais efetivo na redistribuição positiva da composição corporal, enquanto o déficit calórico, gerenciado principalmente pela dieta, é primordial para a perda de peso. TEMA 2 – AVALIAÇÃO E CONTROLE DA RESISTÊNCIA AERÓBIA A aptidão cardiorrespiratória é medida e avaliada por uma série de protocolos, podendo ser realizada em ambiente laboratorial altamente controlado, ou por testes de campo, que são geralmente mais acessíveis e simples (ACSM, 2018, p. 75). Como apresentado em aulas anteriores, a capacidade cardiorrespiratória é atribuída aos valores do consumo máximo de oxigênio (VO2max), ou seja, espera-se que ao final do teste seja identificado o VO2max de maneira direta (analisador de gases) ou indireta (demais protocolos de estimativa). O padrão ouro para a aquisição de VO2max é a ergoespirometria, um conjunto entre o teste de esforço e a análise dos gases, o qual afere continuamente o oxigênio consumido e o dióxido de carbono (CO2) exalado (Fletcher et al., 2013). Os protocolos clínicos mais comuns são os de carga incremental e rampa sem análise de gases, nomeados de ergométricos,podendo ser realizados em esteira, bicicleta e ergômetro de braço. Esses testes estimam, com base no estágio de esforço, o volume de oxigênio atingido. Durante o teste há controle da pressão arterial, da frequência cárdica (FC) e por eletrocardiograma, que geram dados relevantes do sistema cardiorrespiratório do avaliado. Os protocolos incrementais são iniciados a determinadas velocidade e inclinação na esteira, sendo aumentada a intensidade a cada estágio, os quais duram cerca de 2 a 3 minutos (tempo necessário para a obtenção do estado estável oxidativo). O teste de rampa segue uma velocidade constante, com incrementos na inclinação da esteira, no entanto, em estágios mais curtos (10 segundos a 60 segundos), não sendo possível completar um ciclo de estado estável. 6 Independentemente do protocolo, os testes possuem algumas características e recomendações em comum (Fletcher et al., 2013): • bicicleta versus esteira: o teste completado em bicicleta fornece um VO2max cerca de 10% menor do que o teste feito na esteira devido à massa muscular envolvida. Em ciclistas isso não se aplica. • duração: os testes devem durar de 6 a 12 minutos, sendo um tempo ideal para o alcance do VO2max. • apoio de mão: durante o teste é recomendado que o avaliado não segure no suporte de mão, pois superestimará a capacidade aeróbia máxima, exceto quando houver comprometimento da segurança. Os critérios de finalização do teste são os seguintes (ACSM, 2018, p. 126): • FC sem alteração: mesmo com o aumento da intensidade não haverá aumento na FC. • > 17 PSE: uma percepção subjetiva de esforço (PSE) superior a 17 (escala de 6-20) é indicativo de fadiga e esforço máximo. • lactato pós > 8mmol.L: este valor remete ao elevado trabalho anaeróbio, indicando que o metabolismo aeróbio chegou ao limite. • quociente respiratório (QR) (VCO2/VO2) ≥ 1.10: um QR VCO2/VO2 ≥ 1.10 indica predomínio do metabolismo anaeróbio e, consequentemente, um platô do aeróbio. Em repouso, possuímos QR VCO2/VO2 em torno de 0.70. 2.1 Testes máximos e submáximos da aptidão cardiorrespiratória Os protocolos descritos anteriormente são exemplos de testes de esforço máximo nos quais são esperadas algumas respostas padrão no decorrer do exercício, como aumento da pressão arterial sistólica (PAS), da FC, da diferença arteriovenosa; redução ou manutenção da pressão arterial diastólica (PAD); redução da resistência vascular periférica (RVP) no tecido ativo; aumento da RVP nos tecidos inativos; aumento de ~10 bpm da FC a cada 1 equivalente metabólico (MET) adicionado (Fletcher et al., 2013). Essas respostas são balizadores para a avaliação cardiorrespiratória e indicadores da resposta fisiológica ao teste. Como teste submáximo, podemos destacar a caminhada de 6 minutos, geralmente utilizado para avaliar a resistência aeróbia de idosos, cardiopatas e 7 pneumopatas. O teste consiste na realização de caminhada em um corredor de 20 metros por 6 minutos, sendo anotada a metragem total percorrida e comparada aos valores de referência (ACSM, 2018, p. 80). 2.2 Controle da resistência cardiorrespiratória A melhora da performance cardiorrespiratória está condicionada, entre outras variáveis, à carga e ao tipo de trabalho empregados. Dentre os programas de treinamento, os exercícios aeróbios são os mais efetivos no aprimoramento da capacidade cardiorrespiratória. Desse modo é necessário controlar os indicadores fisiológicos referentes ao componente aeróbio para traçar uma prescrição compatível ao objetivo e ao nível do praticante. A Tabela 1 apresenta os principais indicadores fisiológicos de controle cardiorrespiratório e a inter-relação entre estes e a intensidade do exercício. Tabela 1 – Indicadores de controle cardiorrespiratório Intensidade %FCres %VO2res %FCmax PSE (6-20) %VO2max Muito leve < 30 < 57 < 9 < 37 Leve 30-39 57-63 9-11 37-45 Moderado 40-59 64-76 12-13 46-63 Vigoroso 60-89 77-95 14-17 64-90 Máximo ≥ 90 ≥ 96 ≥ 18 ≥ 91 Fonte: adaptado de ACSM, 2018. TEMA 3 – AVALIAÇÃO E CONTROLE DA FORÇA MUSCULAR A força muscular, assim como os demais componentes da aptidão física, deve ser mensurada e avaliada periodicamente para saber se os resultados obtidos estão dentro do esperado, e se uma revisão no treinamento é necessária. Os protocolos de avaliação da força muscular são empregados conforme o púbico, o material disponível e o objetivo da avaliação. É possível avaliar a força por meio da dinamometria, método consideravelmente simples que mede a força estática de preensão manual, sendo comumente aplicada em idosos. 8 No âmbito clínico especializado e de alto rendimento, a força isocinética é quantificada. Esse método é bastante custoso, com um maquinário específico e necessidade de interpretação mais aguçada pelo avaliador. Nesse protocolo, a velocidade angular é mantida constante, e ele pode ser realizado em diferentes segmentos. Por fim, mais comumente na prática profissional, estão os testes de força dinâmica, também conhecidos como teste de 1 repetição máxima (RM) ou teste de RM. Esse método consiste na mensuração da força em um exercício resistido específico. Independentemente do método aplicado, é gerado um dado em quilogramas (Kg) ou Newtons (N), que indica a força aplicada naquele determinado protocolo. 3.1 Testes de repetições máximas (RM) Considerando que o teste de 1 RM é comum na prática profissional, serão destacados os seus procedimentos de realização (quadro 1). O objetivo do teste é identificar a maior carga mobilizada para apenas uma repetição (1RM) e, caso o avaliado execute mais de uma repetição, uma nova tentativa deverá ser fornecida. O procedimento é o mesmo para o teste de repetições máximas (RM), no entanto, a falha deverá ocorrer na repetição pré-estipulada (Ex.: 10 RM). Quadro 1 – Procedimentos para o teste de 1 RM e múltiplas RM • Familiarização: antes do teste, o avaliado deve ter sido familiarizado ao movimento em sessões prévias. • Aquecimento aeróbio e específico: é recomendado um aquecimento aeróbio entre 5 e 10 minutos para elevar a temperatura corporal, além da realização de movimentos específicos antes do início do teste. • Número de tentativas: o número máximo de tentativas para encontrar a carga máxima serão quatro. Caso não seja possível acertar a carga dentro dessas tentativas, um novo dia de teste deverá ser agendado. • Intervalo entre as tentativas: o intervalo fornecido entre as tentativas é de 3 a 5 minutos. • Carga inicial: uma carga relativa a 50-70% da carga máxima percebida. • Aumento da carga: caso o indivíduo consiga mobilizar o peso além do número de repetições estipuladas, deverá ser aumentado em 5-10% a 9 carga para os testes de membro superior e 10-20% para os de membro inferior, a cada tentativa que ultrapasse o número de repetições estabelecido. Fonte: adaptado de ACSM, 2018. 3.2 Controle da aptidão muscular O desenvolvimento da aptidão muscular é específico da valência física treinada, conforme demonstrado no início deste tema. Para cada valência há uma faixa de repetições e percentual de 1 RM adequados. Esse controle é feito tanto pelo objetivo proposto quanto pelo nível de treinabilidade do praticante. Essa relação é mais bem apresentada na Tabela 2. Tabela 2 – Controle da carga de treinamento conforme o nível de treinamento e a capacidade física (ACSM, 2009) Força RM (% 1RM) Hipertrofia RM (% 1RM) Potência RM (% 1RM) RML RM Destreinados 8 a 12 (60-70) 8 a 12 (70-85) ─ 10 a 15 Intermediários (6 meses) 8 a 12 (60-70) 8 a 12 (70-85) 3 a 6 (0-60) 10 a 15 Experientes (Anos) 1 a 12 (80-100) 1 a 12 (70-100) 3 a 6 (0-60) 10 a 25 TEMA 4 – MODELOS DE PRESCRIÇÃO DO TREINAMENTO AERÓBIO A prescrição do treinamento aeróbio deve priorizar exercícios ritmados, que envolvam grandes grupos muscularese enfatizem o gasto calórico (ACSM, 2018, p. 147). É importante também progredir em intensidade, frequência e/ou tempo periodicamente, e, por fim, ser específico a população alvo e objetivos. Exercícios aeróbios que visem à manutenção da saúde devem ser praticados por ≥ 150 minutos semanais em intensidade moderada (3-5.9 METs), e/ou ≥ 75 minutos em intensidade vigorosa (≥ 6 METS). Essa conta é baseada no número de METs.min.sem, ou seja, toda a atividade física semanal realizada e que no total proporcionará um valor ≥ 500-1000 METs.min.sem. O cumprimento dessas recomendações gera um gasto calórico de aproximadamente 1000 Kcal/sem. 10 Veja nos exemplos a seguir como utilizar os METs (Aisnworth et al., 2011) segundo a atividade, o peso corporal e o tempo. Exemplos de utilização do compêndio de atividade física 1. Homem, 80 Kg Corre 3xsem/60 minutos/velocidade 8 Km/h. METs é dado em: METs.Kg e METs.h Corrida 8 Km/h = 8 METs.h 80 (peso) x 1 (tempo) x 8 (valor da atividade em METs) = 640 METs.h Em um dia de treino, este homem gastará 640 Kcal. 2. Homem, 60 Kg Bike subindo a montanha (vigoroso)/2xsem/30 minutos. METs é dado em: METs.Kg e METs.h Bike montanha (vigoroso) = 14 METs.h 60 (peso) x 0,5 (tempo) x 14 (valor da atividade em METs)= 420 METs.h Em um dia de treino, este homem gastará 420 Kcal. 4.1 Treinamento intervalado de alta intensidade Um dos métodos de treinamento aeróbio que se popularizou nos últimos anos foi o treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT). Esse modelo consiste na realização de exercícios vigorosos por períodos relativamente curtos, espaçados por intervalos em intensidade leve. O HIIT visa obter resultados na capacidade aeróbia similares ou superiores ao treinamento aeróbio contínuo, mas com um tempo de comprometimento bem inferior (≤ 10 min atividade vigorosa/≤ 30 min total) 11 (Gillen; Gibala, 2014). Essa modalidade vem sendo aplicada em diversas populações, inclusive em condições patológicas, mas ainda não há uma recomendação clara sobre seu uso em indivíduos cardiopatas ou com alguma outra doença crônica não transmissível (DCNT). Devido à alta demanda energética da atividade, o metabolismo celular reduz a quantidade de adenosina trifosfato (ATP) disponível e, consequentemente, aumenta a adenosina monofosfato (AMP), relação mediada pela quinase ativada por adenosina monofosfato (AMPK). Esse cenário sinaliza ao organismo que a demanda energética está sendo superior à capacidade do metabolismo aeróbio em regenerar, induzindo um aumento no número e na densidade mitocondrial, além de otimizar o ciclo de Krebs (Egan; Zierath, 2013; MacInnis; Gibala, 2017) Esse é um dos principais mecanismos de como o HIIT pode aumentar a capacidade aeróbia substancialmente, mesmo com um tempo em atividade vigorosa tão baixo (~4 a 10 minutos). A Tabela 3 apresenta exemplos do método de treino HIIT. Tabela 3 – Protocolos de treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) HIIT – trabalho/descanso (2:1) Tabata (1996) 20 segundos de esforço máximo + 10 segundos de repouso ativo = 8 ciclos (4 minutos) HIIT – trabalho/descanso (1:1) Gillen; Gibala, (2014) 60 segundos ~85-90%FCmax + 60 segundos de repouso ativo = 10 ciclos (20 minutos) 4.2 Prescrição do exercício aeróbio Na seção anterior, observamos como o HIIT pode ser aplicado e qual é o principal mecanismo fisiológico envolvido. Como mencionado, embora eficaz e desenvolvido em diversas populações, a sua recomendação ainda é escassa na literatura. Confira a seguir um exemplo de prescrição do exercício aeróbio, segundo as recomendações atuais (ACSM, 2018, p. 151): • mulher, 40 anos, diabética tipo II; • objetivo: melhora da glicemia e condicionamento geral; 12 • realiza exercícios regulares há 1 ano; • realizará treinamento aeróbio 5xsemana. Frequência Intensidade Tempo Tipo 3-7 vezes/sem Moderada: 40-59% FCres Vigorosa: 60-89% FCres Moderada: 30-60 minutos Vigorosa: 20-60 minutos Grandes grupos musculares (caminhada, trote, bicicleta) TEMA 5 – MODELOS DE PRESCRIÇÃO DO TREINAMENTO DE FORÇA A aptidão muscular faz parte da aptidão física relacionada à saúde e, consequentemente, ao desempenho. Sendo assim é fundamental incorporar o treinamento resistido à rotina de treino, independentemente da idade ou da condição clínica. Para tal é necessário que o profissional envolvido saiba como elaborar um programa de exercícios resistidos que contemple a necessidade do público-alvo. De maneira geral, o treinamento resistido deve considerar o desempenho das atividades da vida diária, minimizar/prevenir doenças, progredir em carga, ativar um determinado grupamento muscular de 2 a 3 vezes por semana, treinar agonistas e antagonistas de maneira equalizada, priorizar grandes grupos musculares e exercícios multiarticulares (ACSM, 2018, p. 151). 5.1 Variáveis e respostas fisiológicas Os resultados obtidos com o treinamento resistido são oriundos de uma série de fatores, alguns externos ao treino, como sono adequado, alimentação saudável e hereditariedade, e outros relacionados diretamente com a sessão, o que chamamos de variáveis do treinamento (Fleck, S.J.; Kraemer, 2017, p. 178). Analisaremos a seguir cada uma das variáveis. Treino aeróbio Dia Tipo Intensidade Tempo Segunda-feira Esteira 40-59% FCres 30 minutos Terça-feira Bicicleta 60-89% FCres 20 minutos Quarta-feira Esteira 40-59% FCres 30 minutos Quinta-feira Bicicleta 60-89% FCres 20 minutos Sexta-feira Esteira 40-59% FCres 30 minutos 13 • Seleção dos exercícios: os exercícios podem ser classificados em primários, os quais trabalham predominantemente grandes grupos musculares (ex.: supino reto); os secundários, que trabalham músculos ativados de maneira conjunta aos primários (ex.: tríceps pulley); exercícios estruturais, os quais trabalham diversos músculos e articulações ao mesmo tempo (ex.: arranque). São subdividos também em multiarticulares, os quais envolvem mais de uma articulação (ex.: agachamento), ou monoarticulares, que trabalham uma articulação e um grupo muscular isoladamente (ex.: extensora). Exercícios multiarticulares que envolvam grandes grupos musculares devem ser priorizados devido à maior ativação das unidades motoras e gasto energético. • Ação muscular: faz referência ao tipo de contração, que pode ser concêntrica, excêntrica ou isométrica. Contrações excêntricas produzem mais força e menos gasto energético por unidade de força. Ações musculares isométricas sáo utilizadas para aumentar a aptidão muscular em um determinado ângulo, mas não é replicável à amplitude articular total. As ações concêntricas produzem respostas à força e gasto calórico de maneira inversa à fase excêntrica. É recomendado que ações musculares dinâmicas sejam realizadas para o desenvolvimento muscular completo. • Ordem do exercício: podem ser selecionados exercícios de um mesmo segmento e grupamento muscular em sequência ou do mesmo segmento com grupamentos distintos. Ainda, com alternância de segmento, como inferior ou superior. É recomendado que se inicie pelos exercícios multiarticulares e siga-se aos monoarticulares, se necessário. No início da sessão há menor fadiga do que no término, favorecendo a mobiliazação de mais cargas e, consequentemente, maior recrutamento de fibras nos exercícios principais e mais importantes. A especificidade deve ser considerada. • Número de séries: série é o nome dado ao conjunto de repetições. As séries são propostas para estabeler o volume total da sessão, juntamente com o número de repetições e carga mobilizada. O número de séries não necessita ser fixo, tão pouco síncrono entre os exercícios e grupamento muscular. Embora uma única série possa trazer benefícios, multiplas séries são necessárias para maximizar os ganhos de força, potência,14 hipertrofia e resistência muscular localizada (RML). Vale ressaltar que as séries devem ser compatíveis ao número de exercícios para um determinado grupo muscular. • Intervalo entre séries e exercícios: o intervalo deve ser compatível à capacidade muscular trabalhada. Por exemplo, durante exercícios que visem aumentar a força (poucas repetições e carga alta) é necessário um intervalo de 3 a 5 minutos para que o sistema fosfagênio seja regenerado. Por outro lado, na hipertrofia muscular, intervalos menores (60 segundos a 120 segundos) serão mais favoráveis por causar um desgaste metabólico maior. • Intensidade (carga): a manipulação da carga dentro das zonas de repetições máximas (RM) ou dos percentuais estipulados está relacionda ao maior recrutamento das unidades motoras. As cargas mobilizadas devem ser compatíveis ao momento do treinamento (periodização) para enfatizar os benefícios e evitar lesões. • Velocidade de execução: faz referência à velocidade na qual realizamos uma repetição, ou seja, quantos segundos na fase concêntrica e quantos na fase excêntrica. A velocidade tem relação inversa à força na fase concêntrica e na mesma direção durante a fase excentrica. Por exemplo, quando é imposta uma carga alta, é difícil de movê-la rapidamente na fase concêntrica; por outro lado, quanto mais rápido esse peso for mobilizado na fase excêntrica, mais força terá. Recomenda-se uma velocidade de 2 a 3 segundos em cada fase. Em exercícios que requerem potência a velocidade deve ser máxima, no entanto, será necessário reduzir a carga. • Frequência semanal: ganhos da hipertrofia são maiores quando o grupo muscular é treinado de duas a três vezes por semana, embora fisiculturistas treinem, em sua maioria, uma vez por semana. A frequência semanal parece ter menos influência sobre a força. Quando o volume semanal é equalizado essa diferença é minimizada ou desaparece. 5.2 Métodos de treinamento resistido A prescrição do treinamento resistido deve considerar não apenas os objetivos físicos e fisiológicos do praticante, mas também questões como tempo disponível para treinamento, motivação, equipamentos, entre outros. Seguindo essa lógica, o treinamento resistido possui sistemas ou métodos de treinos que 15 visam proporcionar os melhores resultados se adequando à rotina dos praticantes e treinadores (Fleck; Kraemer, 2017, p. 205). Na maioria das vezes, esses modelos são empregados em indivíduos já treinados, com um bom grau de desenvolvimento metabólico e neuromuscular, e adaptados à rotina de treinos. Alguns métodos comumente empregados são: • treinamento em circuito; • drop-set; • supersérie; • pirâmide; • oclusão vascular • rest pause. Cada método possui um princípio fisiológico, embora alguns apresentem pouca evidência cientifica, necessitando de pesquisas adicionais (Schoenfeld, 2011). 5.3 Prescrição do treinamento resistido Após compreender os fundamentos do treinamento de força, acompanhe a seguir um exemplo de prescrição do treinamento resistido: • homem, 35 anos, aparentemente saudável; • objetivo: condicionamento geral; • pratica treinamento resistido há 2 meses; • realizará treinamento resistido 2xsemana. Frequência Intensidade Séries Repetições Intervalo Tipo 2-3x sem/grupo muscular 60-70% 1RM 2-4 8 a 12 RM 2’-3’ 8-10 exercícios Treino A/Treino B Exercício Séries Repetições Intervalo Remada máquina 3 8 a 12 RM 1’30”-2’00” Supino máquina 3 8 a 12 RM 1’30”-2’00” Desenvolvimento sentado halteres 3 8 a 12 RM 1’30”-2’00” Leg press horizontal 3 8 a 12 RM 1’30”-2’00” Afundo halteres 3 8 a 12 RM 1’30”-2’00” 16 NA PRÁTICA Ao longo dos anos, envelhecemos, e os sistemas fisiológicos vão reduzindo a sua capacidade. Não é diferente com o sistema musculoesquelético. Com isso, os idosos apresentam maior dificuldade na locomoção e lentidão motora. Você, como profissional de educação física, está encarregado de prescrever o treino de um idoso inativo. O que não deve ser deixado de lado, além das recomendações básicas para adultos saudáveis? Além de atividades aeróbias, de flexibilidade e treinamento resistido comuns, é fundamental incorporar exercícios que estimulem a melhora do equilíbrio (propriocepção) e da potência muscular. FINALIZANDO Nesta aula foram abordados os principais mecanismos da hipertrofia muscular, da perda de peso e da redução do percentual de gordura. Foram apresentados os principais testes para avaliar a capacidade aeróbia e a força muscular, além de indicadores de controle da intensidade. Também vimos os tipos de treinamento aeróbio e de força comumente aplicados ao cotidiano profissional, além da exposição prática da prescrição do exercício para diferentes grupos populacionais. Panturrilha sentado 3 8 a 12 RM 1’30”-2’00” Abdominal supra solo 3 8 a 12 RM 1’30”-2’00” Banco lombar 3 8 a 12 RM 1’30”-2’00” 17 REFERÊNCIAS AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE (ACSM). ACSM’s guidelines for exercise testing and prescription. 10. ed. Philadelphia: Wolters Kluwer Health, 2018. _____. Progression models in resistance training for healthy adults. Medicine and Science in Sports and Exercise, v. 41, n. 3, p. 687-708, 2009. AINSWORTH, B. E. et al. 2011 compendium of physical activities: a second update of codes and MET values. Medicine & Science in Sports & Exercise, v. 43, n. 8, p. 1575-1581, 2011. EGAN, B.; ZIERATH, J. R. Exercise metabolism and the molecular regulation of skeletal muscle adaptation. Cell Metabolism, v. 17, n. 2, p. 162-184, 2013. Disponível em: <https://www.cell.com/cell-metabolism/fulltext/S1550- 4131(12)00503- 7?_returnURL=https%3A%2F%2Flinkinghub.elsevier.com%2Fretrieve%2Fpii% 2FS1550413112005037%3Fshowall%3Dtrue>. Acesso em: 10 abr. 2020. FLECK, S. 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