Prévia do material em texto
Normalmente, o “dono” da voz narrativa é, como se viu, o narrador. Entretanto, o narrador concede eventualmente aos personagens o poder de se expressar. Isso é feito de três maneiras principais. O discurso direto é a representação exata do discurso falado ou pensado pela personagem. Geralmente o narrador apresenta a personagem, antes de transcrever seu discurso, que geralmente vem entre aspas ou precedido de travessão. No discurso indireto, o narrador nos conta, de seu ponto de vista, o que a personagem teria falado ou pensado. O terceiro tipo, o discurso indireto livre, é um tanto ambíguo: a fala da personagem se funde à do narrador, sem o auxílio de um verbo dicendi (próprio do discurso indireto) nem de sinais gráficos como aspas e travessões (próprios do discurso direto). Temos aí a interferência da fala da personagem no plano do discurso do narrador. Exemplos: Discurso direto: “ (...) mas mesmo assim eu fui em frente “que tanto você insiste em me ensinar, hem jornalistinha de merda? que tanto você insiste em me ensinar se o pouco que você aprendeu da vida foi comigo, comigo” e eu batia no peito e já subia no grito, mas um “ó! honorável mestre!...” ela disse (...)” NASSAR, 1999, p.45 Discurso indireto: “Foi nesse sertão primitivo e rude que Arinos me contou ter sentido talvez a maior, a mais pura das sensações de arte.” CUNHA, 1981, p.451 Discurso indireto livre: “Não era a primeira vez que sucedia aquilo — o fiasco daquele engano. Amanhã, seriam os comentários na rodinha do sura antipático, sem rabo ainda, sem sem voz ainda, pescço pelado, e já metido a galo. Na do sura e na do garnisé branco — esse, então, um afeminado de marca, com aquela vozinha esganiçada e o passinho miúdo. João Fanhoso fechou os olhos, mal-humorado. A sola dos pés doía, doía. Calo miserável!” CUNHA, 1981, p.454 7 - TEMPO O tempo em uma narrativa pode ser considerado sob três perspectivas principais: o tempo da narrativa (ou tempo do 46