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O Pensamento Econômico de Celso Furtado (continuação) Algumas considerações sobre as contribuições de Celso Furtado a Teoria do Desenvolvimento Econômico As contribuições de Celso Furtado: entre a história e a teoria Livros sobre a História Econômica do Brasil e América Latina: Formação Econômica do Brasil (1959) Análise do Modelo Brasileiro (1972) O Brasil Pós - “Milagre” (1981) A Economias da América Latina (1976) Estes livros contemplam: a formulação de uma síntese acerca dos processos de formação econômica - Brasil e América Latina: contribuições para a História; “método de interpretação das estruturas econômicas latino-americana” => a análise do fluxo de renda gerada nos setores dinâmicos e sua distribuição entre os vários grupos da sociedade. As contribuições de Celso Furtado: entre a história e a teoria Livros destinadas à elaboração de uma Teoria do Desenvolvimento Econômico Desenvolvimento e Subdesenvolvimento (1961) => primeiros esforço teórico. Teoria Política do Desenvolvimento Econômico (1967) => análise do desenvolvimento econômico nas diversas escolas do pensamento econômico. Prefácio a Nova Economia Política (1976) => sugestões para a elaboração de disciplina destinada ao desenvolvimento econômico. Pequena Introdução ao Desenvolvimento Econômico: enfoque interdisciplinar (1980) => a importância da Ciência Política e da Sociologia (além da História e do Direito) na formulação de um plano de desenvolvimento econômico. Celso Furtado: entre a história e a teoria econômica (Para entender Celso Furtado) Algumas influências encontradas no método estruturalista concebido por Celso Furtado: Raul Prebisch => o método estruturalista e as recomendações de política econômica (defesa da industrialização, dentre outras) => aula passada. Karl Marx => o método histórico adotado pelo autor => o desenvolvimento econômico é uma construção histórica => aula futura. John Maynard Keynes => o Estado como coordenador das decisões econômicas no mundo capitalista. Outros: François Perroux , Joan Robinson, Nicholas Kaldor, Ragnar Nurkse, Gunnar Myrdal, somente para citar alguns. A “militância” de Celso Furtado Como economista, Celso Furtado buscou: i) compreender as estruturas econômicas subdesenvolvidas como resultado de um processo histórico; ii) desenvolver uma teoria do desenvolvimento econômico aplicado à América Latina (o Brasil faz parte da América Latina); iii) demonstrar o caráter interdisciplinar da análise do desenvolvimento econômico, principalmente nas relações entre a Economia, a História, a Sociologia e a Ciência Política; iv) contribuir para a formulação de técnicas de planejamento econômico destinados à pesquisadores e técnicos latino-americanos; v) “entender” o Brasil. Celso Furtado: o desenvolvimento econômico e a estrutura social “A concepção de desenvolvimento de uma sociedade não é alheia a sua estrutura social” (Furtado, Celso. Pequena Introdução ao Desenvolvimento Econômico: enfoque interdisciplinar. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1980). Alguns aspectos do pensamento de Celso Furtado (aula de hoje) I – O desenvolvimento econômico é um fenômeno que não pode ser explicado pelos modelos neoclássicos de equilíbrio estático. II – O Princípio das vantagens comparativas não é adequado para explicar o fenômeno do desenvolvimento econômico. III – O desenvolvimento econômico é uma construção histórica. IV – Considera a ideia da CEPAL de que o Brasil encontra-se na periferia do sistema de relações econômicas internacionais (modelo centro-periferia). O pensamento econômico de Celso Furtado I – O desenvolvimento econômico é um fenômeno que não pode ser e Explicado pelos modelos neoclássicos de equilíbrio estático. Observações: i) Sob o ponto de vista microeconômico, os modelos de equilíbrio estático são instrumentos utilizados pela economia neoclássica para demonstrar que o equilíbrio de mercado é a melhor situação possível para a Economia. ii) Sob o ponto de vista macroeconômico, mostra que o equilíbrio no mercado de trabalho resulta no pleno emprego (capítulo 2 da Teoria Geral de Keynes). O que significa ser keynesiano? O pensamento econômico de Celso Furtado II – O Princípio das vantagens comparativas não é adequado para explicar o fenômeno do desenvolvimento econômico. O Principio das vantagens comparativas Foi originalmente apresentado por David Ricardo, em seus Princípios de Economia e Tributação (1817) Ainda hoje é utilizada como referência para as discussões em torno das políticas comerciais adotada pelos países membros da Organização Mundial do Comércio. O princípio das vantagens comparativas: um exemplo numérico Suponha: Uma economia hipotética que possua apenas 100 trabalhadores para produzir soja e computadores. Cada trabalhador produz 20 sacos de soja ou 5 computadores por período. O país necessita de 250 computadores. Logo, o país pode destinar 50 trabalhadores para a produção de computadores e os outros 50 na produção de sacos de soja. Produção total: 250 computadores 1000 sacos de soja Observação: neste exemplo temos 3 conceitos: custo de oportunidade: produção de soja x produção de computadores; disponibilidade relativa de fatores de produção: neste exemplo a mão de obra mas os modelos mais modernos consideram os demais fatores de produção. Fatores de produção: mão de obra, capital físico, capital financeiro, terra e capacidade empresarial. Importa considerar a escassez ou abundância relativa; produtividade dos fatores de produção: de uma forma mais geral, representa a tecnologia de produção. A produtividade da economia: cada trabalhador produz 20 sacos de soja ou 5 computadores por período Alocação dos fatores numa economia fechada 50 trabalhadores produziriam os 250 computadores e os outros 50 estariam disponíveis para produzir 1000 sacos de soja. Neste caso, a produção total seria: 250 computadores 1000 sacos de soja Alocação dos fatores numa economia aberta Hipótese: no mercado internacional, cada saco de soja pode ser trocado por um computador. Neste caso, a melhor alocação seria: Alocar todos os trabalhadores na produção de soja: 2000 sacos de soja; Trocar 250 sacos de soja por 250 computadores. Neste caso, a disponibilidade total interna seria: 250 computadores 1750 sacos de soja Conclusão: O comércio internacional e a especialização é a melhor situação para o país, não importando se: o país produz bens com baixo valor agregado; o país se especializa na produção primária; se o país somente exporta bens primários. Sob o ponto de vista do desenvolvimento econômico, o livre comércio é a melhor estratégia. Não há mal nenhum na especialização primária. O pensamento econômico de Celso Furtado Para Furtado, o princípio das vantagens comparativas explica apenas uma “situação” ou “equilíbrio” estático. Para o autor, o desenvolvimento econômico implica em mudanças nas estruturas econômicas, possíveis apenas com as ações coordenadoras do Estado => o Estado deve ser “desenvolvimentista”. O que significa ser desenvolvimentista? O pensamento econômico de Celso Furtado III – O desenvolvimento econômico é uma construção histórica. No Formação Econômica do Brasil é possível encontrar: A comparação de dois processos históricos distintos: EUA e Brasil como “periferia do capitalismo europeu”. Analisa os “obstáculos” à expansão da renda, à formação de um mercado interno e à diversificação produtiva ao longo dos diversos períodos da histórica brasileira => análise de inclinação keynesiana. O pensamento econômico de Celso Furtado IV – Considera a ideia da CEPAL de que o Brasil encontra-se na periferia do sistema de relações econômicas internacionais (modelo centro-periferia). As contribuições de Celso Furtado: entre a história e a teoria Livros sobre a História Econômica do Brasil e América Latina: Formação Econômica do Brasil (1959) Análise do Modelo Brasileiro (1972) O Brasil Pós - “Milagre” (1981) A Economias da América Latina (1976) Estes livros contemplam: a formulação de uma síntese acerca dos processos deformação econômica do Brasil e da América Latina: contribuições para a História “método de interpretação das estruturas econômicas latino-americana” => a análise do fluxo de renda gerada nos setores dinâmicos e sua distribuição entre os vários grupos da sociedade. As contribuições de Celso Furtado: entre a história e a teoria Para Furtado, a formação econômica do Brasil resultou em uma estrutura econômica subdesenvolvida caracterizada pela existência de um setor dinâmico capitalista voltado para o mercado internacional e um setor pré-capitalista voltado para um incipiente mercado interno. Neste quadro, o setor dinâmico não consegue “exportar” seus benefícios para os outros setores da economia. Esta situação pode ser caracterizada pelo denominado modelo “centro-periferia”. O modelo centro-periferia O Centro: Europa (e depois os EUA, no séc. xx) Para Furtado, nos países do centro, o fluxo de renda gerado pela produção industrial se traduzia na diversificação da produção voltada para o mercado interno, fazendo com que aquele fluxo fosse totalmente funcional ao desenvolvimento econômico. A Periferia: América Latina Na periferia, a renda gerada pelo setor dinâmico não fluía com a mesma intensidade para os demais setores da economia. O resultado seria o estabelecimento de uma estrutura dual pouco funcional ao desenvolvimento econômico, marcada por essa convivência entre um setor dinâmico e outro atrasado. O modelo centro-periferia O resultado seria o estabelecimento de uma estrutura dual pouco funcional ao desenvolvimento econômico, marcada por essa convivência entre um setor dinâmico e outro atrasado. Além disso, as estruturas primárias não favoreciam o surgimento de organizações sociais que permitissem uma luta política por melhor distribuição da renda, como os sindicatos nos países industrializados centrais. A superação do subdesenvolvimento viria apenas como uma ruptura com o modelo primário exportador, possível apenas com a industrialização substitutiva de importações. Próxima aula: continuação... Bibliografia: Além da bibliografia básica (o Pensamento Econômico Brasileiro, de Ricardo Bielschowsky), ver capítulo 2 do livro 50 anos de Formação Econômica do Brasil: ensaios sobre a obra clássica de Celso Furtado. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=5614