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Fases do desenvolvimento: a vida adulta e o adulto tardio Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • refletir sobre a vida adulta e o envelhecimento; • compreender as mudanças ocorridas nesta fase da vida; • conhecer os processos envolvidos nos relacionamentos de amor, amizade, luto e morte. Olá. Nesta aula, iremos estudar sobre as fases: a vida adulta e adulto tardio (terceira idade), neste sentido, vamos compreender o processo maturacional nessa fase, as mudanças ocorridas, além de conhecer os processos de relacionamento. Bons estudos! 4ºAula 38Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 1- A vida adulta 2- Personalidade e vida adulta 3- Afinidades e relacionamentos 4- O envelhecimento 5- O sentido da doença na idade avançada 6- O luto e a morte 1- A vida adulta Para muitos jovens em sociedades tecnologicamente avançadas, a entrada na vida adulta não é claramente demarcada. Ela leva mais tempo e segue caminhos mais variados do que no passado. Alguns cientistas do desenvolvimento sugerem que o final da adolescência até meados de 20 anos é um período de transição denominada início da vida adulta. Cabe ressaltar que a questão cronológica, que divide cada fase na vida, parece estar ligada à época em que a sociedade vivencia historicamente até à atualidade, ou seja, as divisões de faixa etária podem ser distribuídas de acordo com o contexto social em que a pessoa estiver inserida. Em diferentes épocas da vida, seres humanos apresentam características diferentes. As várias etapas são marcadas por conflitos que lhe são próprios. Assim, como a passagem da infância para a vida adulta é marcada pelos conflitos da adolescência, a passagem da adolescência também se caracteriza por novas tarefas a serem realizadas. A cada passagem, há perdas, mas há ganhos. Para algumas pessoas predominam os sentimentos de perda e para outros predominam os sentimentos de ganho a cada etapa. Porém, o certo é que a passagem por cada etapa significa expectativas diferentes com relação à própria vida. Segundo a lei, é adulta aquela pessoa a partir dos 18 anos de vida. A vida adulta, contudo, não é uma única fase. Ela passa por várias etapas distintas. A vida adulta pode ser dividida em três fases: • por volta dos 40 anos - adulto jovem; • dos 40 aos 60 anos há o adulto maduro e esse período é conhecido por meia idade; • dos 60 anos em diante inicia a velhice. Para Mosquera (1987): • a idade adulta jovem subdivide-se em fase inicial denominada idade adulta jovem inicial, com idade aproximada entre 20 e 25 anos; • em seguida, a idade adulta jovem plena, que compreende dos 25 a 35 anos; • e a idade adulta jovem final, abrangendo dos 35 aos 40 anos de idade. O início da vida adulta é frequentemente um tempo de experimentação antes de assumir papéis e responsabilidades adultos. Tarefas tradicionais do desenvolvimento, como encontrar um emprego estável e desenvolver relacionamentos amorosos de longo prazo, podem ser adiados até os 30 anos Seções de estudo ou até mais tarde. Os caminhos para a vida adulta podem ser influenciados por fatores como: • gênero; • capacidade acadêmica; • atitudes em relação à educação; • expectativas no final da adolescência; • classe social; • desenvolvimento do eu. • 2- Personalidade e vida adulta Existem 4 perspectivas teóricas sobre o desenvolvimento da personalidade adulta, são eles: Modelo do Estágio Normativo Defendem que a mudança social e emocional associada a idade emerge em períodos sucessivos ás vezes marcados por crise. Modelo do Momento dos Eventos Defendido por Neugarten, propõe que o desenvolvimento adulto é influenciado pela ocorrência e pelo momento de eventos de vidas normativos. Ou seja pelos eventos do dia a dia. Modelo dos traços Organizado em torno de 5 grupos de traços relacionados: Neuroticismo, extroversão, abertura para o novo, conscienciosidade e amabilidade. Estudos apontam que esses traços mudam na vida adulta. Modelos tipológicos Identificou tipos de personalidade que diferem em termos de: Resiliência e controle do ego. Esses tipos parecem persistir da infância a vida adulta. 3- Afinidades e relacionamentos As bases dos relacionamentos: AMOR e AMIZADE. Examinaremos duas expressões de intimidade: FIGURA 1 – EXPRESSÕES DE INTIMIDADE Disponível em: www.google.com. Acesso em: 12 mar. 2012. Durante a vida adulta, as variações na regulação do afeto e competência social, numa pessoa pode possuir um dos quatro estilos de vinculação. Os quatro estilos de vinculação (Cormier; Cormier, 1997) citados por Mosquera: Adulto Seguro: Modelo positivo do self e dos outros; 39 pode empenhar-se em uma construtiva resolução de problemas com outros durante períodos de estresse e instabilidade. Adulto Preocupado: Cognição ou modelo negativo do self, mas modelo positivo dos outros; os processos de tomada de consciência e de avaliação são menos balanceados, com mais energia direcionada para os outros, resultando em uma menor regulação do afeto e autoconsciência objetiva. Adulto Rejeitante: Esquema cognitivo ou modelo interno positivo do self e modelo negativo dos outros; processos de tomada de consciência e de avaliação são direcionados para o próprio, com a consciência minimizada das necessidades relacionadas com a vinculação. Adulto Receoso: Modelos cognitivos ou de trabalho são negativos tanto para o self como para os outros; apresentação receosa do self contribui para sentimentos de vulnerabilidade e inadequação, bem como a visão negativa dos outros encoraja o desligar interpessoal e limita a consciência dos outros. A Teoria Triangular do Amor estudada por Sternberg (1986) caracteriza esse sentimento com base em três componentes: FIGURA 2 – TEORIA TRIANGULAR DO AMOR Disponível em: www.google.com. Acesso em: 12 mar. 2012. FIGURA 3 – TRIÂNGULO ESQUEMÁTICO DA TEORIA TRIANGULAR DO AMOR Disponível em: https://blogdoculau.wordpress.com/2016/08/16/psicologia- do-amor-parte-i/. Acesso em: 12 mar. 2012. Intimidade, paixão e decisão/compromisso, que formam os vértices de um triângulo. Sternberg (1997) define intimidade como a presença de felicidade, respeito, entendimento mútuo, capacidade de entregar-se, apoio emocional, comunicação e valorização. Interações baseadas isoladamente nesse componente caracterizam relações semelhantes à amizade A paixão diz respeito à atração física e sexual, à vontade de estar junto e ao romance, indicando uma união com grande excitação. Decisão/compromisso, por sua vez, está relacionado à decisão de amar e à vontade de que a relação se mantenha em longo prazo. Quando isolado, revela um relacionamento que tende a durar, mas principalmente pela influência de fatores externos, pois a paixão e a intimidade não estão presentes. Esse tipo de união também é chamado de amor vazio (Sternberg, 1997). A presença dos três componentes estabelece o amor pleno, enquanto a junção de dois deles indica outras formas de amar. A combinação entre intimidade e paixão, chamado de amor romântico, significa que mesmo próximo e desejando estar junto, o casal não tem a certeza de que isso será possível. Intimidade e decisão/compromisso (companheirismo) fazem com que os parceiros permaneçam unidos mesmo após o término do desejo sexual. Por fim, a paixão com decisão/ compromisso (amor factual) é como o amor à primeira vista, no qual existe a atração física e a vontade de permanecer juntos mas o casal ainda não desenvolveu intimidade (Sternberg, 1986, 1997). Para que você conheça melhor algumas definições de amizade e amor estudadas por Sternberg (1986): Amizade: Elas podem ser menos estáveis. Tendem a centrar-se nas atividades de trabalho e na troca de confidencias e conselhos, as amizades verdadeiras e profundas na qual uma pessoa sente-se muito bem, próxima e intensa a outra, mas sem paixão intensa ou comprometimento a longo prazo. Geralmente as mulheres adultas tem amizades mais profundasdo que os homens. Desamor: Os três componentes do amor, intimidade, paixão e compromisso estão ausentes. Isso descreve a maioria das relações interpessoais que são simplesmente interações casuais. Paixão: é conhecido como o “amor à primeira vista”, algo intenso, mágico, que parece único. O grande problema é que sem os componentes de intimidade e de compromisso do amor, a paixão pode desaparecer de repente, tão rápido quanto apareceu ou durar um longo tempo. Amor Vazio: Compromisso é o único componente presente que pode ser encontrado em casamentos arranjados, por exemplo, nos quais os relacionamentos começam normalmente com o amor vazio, ou seja, não há paixão, nem intimidade.. Mas também podem ocorrer casos duradouros em que um amor muito forte se deteriora, mantendo o compromisso, mas perdendo a intimidade e a paixão. Amor Romântico: Intimidade e amor estão presentes nesse caso, os amantes estão atraídos fisicamente e estão emocionalmente ligados. Entretanto não estão comprometidos. Amor Companheiro: Intimidade e compromisso estão presentes. É o sentimento puro que existe em relações 40Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem familiares, em amizades profundas ou nos relacionamentos duradouros sem interesse sexual. Mas esse tipo de amor pode aparecer também em uniões onde a paixão acabou, não há mais desejo sexual, mas há um desejo de continuar juntos. Amor Instintivo: Paixão e compromisso, mas sem intimidade. Namoro relâmpago, o casal assume compromisso baseado na paixão sem se permitir o tempo necessário para intimidade. Amor Verdadeiro: Os três componentes estão presentes neste amor completo, pelo qual muitas pessoas se esforçam. Essa é a base do relacionamento ideal, mas poucas são capazes de encontrar. O autor da teoria adverte que no amor verdadeiro é mais difícil a manutenção do que o encontro propriamente dito. É mais fácil atingi-lo do que mantê-lo. Um outro autor que pode também nos ajudar a trabalhar as fases da vida adulta é Erik Erikson (1902 –1990). Trabalhou, a partir de 1933, em Harvard, com as disciplinas de Psiquiatria e Desenvolvimento Humano. A Teoria Psicossocial de Erikson: Os estágios supracitados são chamados Estágios Psicossociais e correspondem às oito crises do ego que servem para fortificá-lo ou fragilizá-lo, dependendo do desfecho. Os termos - forte e frágil - utilizados por Rabello (2007) são usados no sentido freudiano. Pressupostos básicos do desenvolvimento humano segundo Erikson: 1) o desenvolvimento da personalidade ocorre de acordo com etapas pré-determinadas em que raio social torna-se cada vez mais amplo; 2) a sociedade tende a satisfazer e a provocar a sucessão de potencialidades. As crises dão nome aos estágios psicossociais que, segundo Rabello (2007), são: • Confiança básica X Desconfiança básica Esta fase é análoga à fase oral da Teoria de Freud. Nela o bebê mantém seu primeiro contato social com seus provedores que, geralmente é a mãe. Para ele, a mãe é um ser supremo, mágico, aquele que fornece tudo o que ele necessita para estar bem. • Autonomia X Vergonha e Dúvida Há coisas que a criança não deve fazer. Então, os pais se utilizam de meios para ensinar a criança a respeitar certas regras sociais. Esta crise culminará na estruturação da autonomia e pode ser comparada à fase anal freudiana. • Iniciativa X Culpa Comparada à fase fálica freudiana, neste período é somada à confiança e à autonomia, adquiridas nas etapas anteriores, a iniciativa. Esta se manifesta quando a criança deseja alcançar uma meta e, planejando sua ação, utiliza-se de suas habilidades motoras e intelectuais para tal. • Diligência X Inferioridade Puberdade e adolescência: identidade x confusão de papéis Transformações fisiológicas importantes: reajustamento entre o ser e o parecer. - Conquista da identidade: tarefa para toda a vida, mas na adolescência se discutem todas as uniformidades e continuidades que marcam a personalidade. Atenção, aqui começa a vida adulta!!! Idade adulta jovem: intimidade x isolamento • depois da definição da identidade: condições de estabelecer intimidade com o outro e fundir sua identidade na identidade do companheiro. Quando isso não ocorre o sentimento de isolamento e privação; • intimidade não se restringe ao comportamento sexual, mas poder fazer ligações (pessoais e profissionais). Poder “amar e trabalhar”; • dificuldades: medo de perder o próprio eu; • excesso de competitividade. Idade adulta: generatividade x estagnação • preocupação com cuidado dos filhos e educação: transmitir a eles o legado da cultura; • generatividade: preocupação relativa a firmar e guiar a nova geração. Abrange também a ideia de produtividade e criatividade (não ter filhos, mas realizar a capacidade de gerar através de sua criatividade na produção artística, literária ou científica); • quando falha essa capacidade: sentimento de estagnação e de infecundidade pessoal; • período mais longo da vida. Velhice: integridade do ego x desesperança • integridade = fruto das sete etapas anteriores o indivíduo revê experiências anteriores. Balanço da vida e aceitação. Consegue ver as pessoas como são, com seus defeitos e virtudes (amor maduro, sem as fantasias da juventude). Sentimento de responsabilidade pelos próprios atos. Sabedoria; • dificuldades na integração: instala-se a desesperança frente ao curto espaço de tempo para recomeçar. Desprezo pelos outros (desdém por si mesmo). Medo da morte (como o medo da vida em outras etapas); • integridade do idoso e confiança infantil: próximos (“as crianças sadias não temerão a vida se seus antepassados tiveram integridade bastante para não temer a morte”). Velhice avançada: uma nova visão • etapa pensada a partir do avanço da longevidade humana; • peso maior do elemento distônico do conflito: desespero. Vida do ancião reduzida ao cotidiano, uma vez que suas capacidades sensoriais estão reduzidas; • se os anciãos chegarem a um acordo com os elementos 41 distônicos da vida, chegarão à gerotranscendência: passagem de uma perspectiva racional e materialista da vida para uma mais cósmica e transcendente satisfação e paz de espírito. Retraimento e reflexão. 4- O envelhecimento FIGURA 4 – ENVELHECIMENTO Disponível em: https://agencia.fiocruz.br/estudo-defende-bio%C3%A9tica- de-prote%C3%A7%C3%A3o-do-paciente-idoso. Acesso em: 12 mar. 2012. Segundo Caixeta (2005), os estudos demográficos atestam um importante aumento da população idosa. O envelhecimento em si não é uma doença neste período da vida, porém as manifestações patológicas são muito frequentes. Em relação ao limite entre o processo fisiológico do envelhecimento (senescência) e o envelhecimento patológico (senilidades), a idade cronológica não parece ter valor absoluto, a não ser para contribuir com números estatísticos em relação às populações, pois, do ponto de vista científico, o juízo clinico decorre de um simples bom senso. Caixeta (2005) nos cita como exemplo que é comum encontrarmos com um velho de 40 anos ou com um octogenário de espírito jovial. Conforme Caixeta (2005), as repercussões somáticas e psicológicas do envelhecimento são aspectos inseparáveis, pois esses fatores são complexos devido às particularidades de uma trajetória existencial única (biológica, psicológica, cultural e espiritual). Sendo assim, há o consenso em reconhecer que, para a compreensão e o tratamento do envelhecimento, é necessário o trabalho em equipe multidisciplinar, com a interação de vários profissionais da saúde no seio das instituições geriátricas. Caixeta (2005) cita, ainda, que a geriatria corresponde a uma tentativa de abranger o homem idoso e doente na sua totalidade. Não tendo a intenção de prolongar artificialmente uma vida já longa e de lutar contra a morte, mas trata-se de oferecer a um determinado paciente o poder de continuardurante a sua velhice, a gozar a vida, a viver bem, com qualidade de vida. O envelhecimento psicológico O envelhecimento psicológico está completamente relacionado com as raízes biológicas e dos seus prolongamentos socioculturais. O peso do passado individual desempenha um papel determinante. É a isso que o autor Ajuriaguerra se refere quando escreve “Envelhecemos como vivemos”. Nota-se que, com estas palavras, o processo de envelhecimento torna- se mais claro. Segundo Caixeta (2005), uma das funções principais do psiquismo, cujo desenvolvimento se situa na infância, é ligar o mundo interior ao mundo exterior e assegurar um equilíbrio homeostático entre as necessidades psíquicas individuais e a exigência do meio ambiente. Esta capacidade de adaptação desempenha um papel fundamental em cada etapa da vida (escolaridade, puberdade, escolha da profissão, casamento, nascimento dos filhos, menopausa, aposentadoria). Esta adaptação permite uma redistribuição dos elementos conscientes e inconscientes das tendências psicológicas individuais. Dessa forma a velhice representa uma etapa da vida que exige um esforço de adaptação face a alterações múltiplas. Assim, quais são essas alterações? As modificações físicas (aspecto exterior, perturbações sensoriais, fraqueza, lentidão no andar, fadiga) provocam um sentimento de diminuição em relação à imagem do passado que o interessado poderá ter de si próprio. Nesse período, todo esforço físico é acompanhado de um consumo energético excessivo. Uma das possíveis consequências deste fenômeno pode ser a tendência para passividade ou, pelo contrário, para hiperatividade compensatória. As modificações intelectuais são muito menos fatais a diminuição da acuidade sensorial desempenha certamente um papel importante em relação às dificuldades de concentração e de atenção. O ritmo das aquisições novas torna-se mais lento, devido à diminuição fisiológica da memória de fixação. Estudos psicométricos mostraram uma melhor performance da inteligência verbal do que da inteligência prática. O perigo dos deficits intelectuais reside no fato de poderem provocar uma diminuição da curiosidade e do interesse. A informação, cada vez menos precisa, e a avaliação, cada vez menos exata do mundo, pode fazer com que a pessoa idosa se feche num mundo egocêntrico, gerador de sofrimentos psicológicos e de possível fuga na doença. As modificações afetivas podem ser numerosas, tanto do quadro da vida durante a velhice como da coerência do procedimento anterior. O estreitamento do espaço vital provocado pela aposentadoria, o afastamento e a independência dos filhos, o luto por amigos da mesma idade, por vezes, a perda do cônjuge, concorrem para criar um sentimento de abandono e de solidão. Todos esses componentes contribuem para o comportamento de fuga e isolamento. Caixeta (2005) ainda relata que a perspectiva da morte e a consciência de estar vivendo o fim pioram a situação emocional na velhice. O aborrecimento dos dias compridos, a resistência muitas vezes as atividades de lazer propostas, as relações familiares muitas vezes conturbadas, a falta de opção de passeios, são fatores difíceis de administrar na velhice. Neste contexto psicológico depressiogênico que constitui um estado de frustração e sentimento de rejeição, não é de se espantar um sentimento de revolta profunda em muitas pessoas idosas. Além disso, o desejo de manter o sentimento de vitalidade e de satisfação interior pode levar a um exagero de apego aos símbolos de poder: força, saber, autoridade, posse e dinheiro, esses sentimentos são acompanhados de uma rigidez e de um conservantismo a toda prova, sendo que na altura da aposentadoria podem surgir dificuldades financeiras 42Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem que obrigam o idoso a mudar hábitos, de residência e de modo de vida, o que aumenta o sentimento de insegurança e desvalorização social. Em relação à atividade sexual, esta é, muitas vezes, modificada durante a senilidade. A perda da função reprodutora da sexualidade na mulher pode levar tanto a recusa como o aumento do interesse sexual. Já o receio da diminuição do desempenho sexual no homem que confirma subjetivamente um estado de inferioridade, liga-se ao sentimento de orgulho viril e de auto-apreço, sem que o interesse sexual propriamente dito sofra uma modificação real. Conforme Caixeta (2005), por outro lado, os inquéritos sexológicos verificam que as atividades sexuais são mantidas e prolongadas ao longo da velhice na vida do casal, e enquanto os viúvos e os que não se casaram sentem uma inibição muito maior em procurar um novo companheiro. Caixeta (2005) ainda observa que as principais alterações que surgem no decurso da senilidade constituem uma série de modificações, tanto física, como intelectuais e afetivas. Contudo, o envelhecimento psicológico propriamente dito reside essencialmente na diminuição da capacidade de adaptação a essas alterações. À medida que o idoso consiga encontrar um meio de compensação que lhe permita reencontrar um equilíbrio subjetivo entre os seus prazeres, o envelhecimento não se reveste de um caráter ameaçador. Quer se trate de um hobby qualquer, de um interesse social, cultural, espiritual até de uma curiosidade científica de longa data, ou ainda da educação dos netos ou de uma vocação artística tardia, estas atividades de “substituição” (Minkovisk) representam uma modalidade importante de adaptação. 5- O sentido da doença na idade avançada FIGURA 5 – A DOENÇA NA VELHICE Disponível em: https://helomnunes.com/2015/12/30/a-protecao-do-idoso- a-lei-n-13-2282015-e-o-constitucionalismo-fraternal/. Acesso em: 12 mar. 2012. Do ponto de vista psicológico, o aparecimento de um sintoma qualquer durante a senilidade tem uma repercussão psicológica importante. Evoca-se uma questão angustiante para o idoso: será o começo do meu fim? Existe um desejo profundo de negar esta perspectiva, revelada por certas pessoas que aguentam uma doença, por vezes muito adiantada, sem que consultem um médico. Em outros idosos acontece o contrário, a angústia leva-os a consultar rapidamente o médico. Caixeta (2005) cita que a maior parte dos doentes idosos raramente explicita a sua angústia sobre a morte, preferem falar do receio de sofrer. A finalidade inconsciente é um pedido de auxílio, de amparo contra a angústia invasora. Isto não quer dizer que estes indivíduos não estejam realmente doentes. A patogênese de suas afecções aproxima-se neste caso, da dos modelos psicossomáticos tradicionais. Os idosos apresentam um desejo que está subjacente à apelos e apresentação de queixas incessantes, e sobretudo ao comportamento frequentemente regressivo, é afinal a esperança de haver quem tome conta, necessidade de ser protegido e de não se ver abandonado à sua morte. Assim, podemos, portanto, resumir o sentido psicológico de uma doença na idade avançada afirmando que cada afecção é vivida com uma profunda ambivalência. Caixeta (2005) enfatiza que a ação terapêutica do médico comporta vários planos: biológico, psicológico e social. É evidente, no doente idoso, o impacto psicológico em cada uma destas medidas terapêuticas, mesmo que essa não seja a intenção inicial, qualquer receita representa certo estresse para o paciente. Ora, como acabamos de ver, alterações mínimas podem exigir do idoso um esforço significativo de adaptação que necessita de um apoio ativo por parte do médico. A reação psicológica varia de paciente para paciente, o ambiente caloroso da relação médico-paciente, família/ paciente, bem como boa informação, representa a base de apoio em face dos receios experimentados. Existem duas situações particularmente penosas para o idoso, uma diz respeito a necessidade de hospitalização, e a outra à de internação em instituições para idosos. Enfim, compreender o envelhecimento é um fator fundamental para o educador, afinal algumas pesquisascitam que de 101 milhões de idosos na atualidade, esse numero chegará a 168 milhões no ano de 2025, ou seja, é uma população que tende a crescer a cada dia nas próximas décadas. 6- O luto e a morte Kaplan (1997) define tanatologia como o estudo do fenômeno da morte e dos processos emocionais envolvidos na reação à morte, tanto nos moribundos quanto nos enlutados. É uma área que envolve os profissionais que atendem o paciente diante da morte, e do luto em seu trabalho. A reação depende em parte do contexto, pois a morte pode ser experenciada como oportuna ou inoportuna. A morte oportuna é quando o tempo esperado de vida e o período vivido são aproximadamente iguais, nesse caso a morte é previsível e aqueles que devem suportar o luto não se surpreendem com a morte. Já a morte inoportuna refere- se à: morte prematura, morte súbita, morte inesperada e catastrófica associada com um acidente ou violência, vista como algo totalmente absurdo. Conforme Kaplan (1997), a morte também tem sido descrita como intencional na forma de suicídio e subintencional sendo apressada pelo uso de substâncias, como: alcoolismo ou hábito do fumo. E a morte pode até assumir o poder de 43 uma metáfora, por exemplo, algumas pessoas veem a morte como um castigo merecido pelo que consideram como estilos de vida imorais e pecaminosos. Reações à morte iminente Vários tanatologistas identificaram estágios de morte ou do morrer, porém, é importante destacar que um paciente moribundo raramente segue um padrão regular de respostas ou mesmo uma sequência de estágios, mas é muito comum identificarmos os estágios da morte em todos os pacientes moribundos ou mesmo pacientes com doenças terminais como o câncer. 1º estágio - Choque e negação O paciente recusa-se acreditar no diagnóstico ou nega que algo esteja errado. O grau até onde a negação é adaptativa ou mal adaptada, parece envolver o fato de o paciente obter tratamento ou não. Dessa forma o médico deve comunicar ao paciente e a sua família, de um modo respeitoso e direto, informações sobre a doença, seu prognóstico e as opções de tratamento. 2º estágio – Raiva Os pacientes podem mostrar frustração, irritação ou raiva pelo fato de estarem enfermos. Uma resposta comum é: Porque eu? Eles podem enfurecer-se contra Deus, o destino, um amigo ou um membro da família. Os pacientes neste estágio são difíceis de tratar, pois muitas vezes descarregam a raiva sobre o pessoal do hospital ou sobre o médico, que recebe a culpa pela doença. O médico ou profissionais da saúde que tem dificuldade em lidar com pacientes à beira da morte podem afastar-se deles ou transferi- los aos cuidados de um colega. 3º estágio – Barganha O paciente pode tentar negociar com médicos, amigos ou até mesmo com Deus em troca de uma saúde, como exemplo: doar bens ou ir frequentemente à igreja, já outros pacientes acreditam que por serem bons, obedientes, alegres, o médico fará com que melhorem. 4º estágio – Depressão Neste estágio, o paciente mostra sinais clínicos de depressão, retraimento, retardo psicomotor, desesperança e perturbação do sono e até mesmo ideação suicida. 5º estágio – Aceitação O sujeito percebe que a morte é inevitável, processo natural da existência humana, sendo assim a morte é aceita. Seus sentimentos podem ir desde um humor neutro até o humor disfórico. Tristeza, lamentação e luto Segundo Kaplan (1997), o luto pode ocorrer como resultado de várias perdas, além daquela de uma pessoa amada, incluem a perda de status, perda de uma figura nacional, perda da proteção. A expressão de tristeza pela perda envolve uma ampla faixa de emoções. A duração do luto varia entre os indivíduos, e há vários sinais, sintomas e fases do luto. Tradicionalmente a tristeza do luto estende-se por um ou dois anos. Entretanto, Kaplan (1997) relata que a maioria das pessoas enlutadas são capazes de comer, dormir e voltar ao funcionamento adequado em um ou dois meses, passado este período, o profissional da saúde deve estar atento, pois existe um grande risco do paciente estar doente emocionalmente, inclusive com depressão. Luto patológico (anormal) Ainda conforme Kaplan (1997), para algumas pessoas enlutadas, o curso da lamentação e do luto é anormal, e assim, o luto pode assumir uma conotação patológica, indo desde uma tristeza ausente até uma tristeza excessivamente interna. As pessoas que apresentam maior risco de terem uma reação de luto anormal, são as que sofrem uma perda súbita, as que têm uma história de perdas traumáticas e aquelas com um relacionamento ambivalente ou dependente com o falecido. Luto inibido, adiado ou negado O luto inibido, adiado ou negado refere-se à ausência da expressão e tristeza, a época de perda. Em alguns casos a tristeza é apenas adiada, até que não possa mais ser evitada. Na maioria dos casos de luto inibido, ocorre o Mecanismo de Negação (ver aula sobre a psicanálise de Freud) da morte, porém, esse sentimento de tristeza e perda tem uma tendência imensa de se manifestar futuramente em forma de patologia. As influências culturais e familiares afetam o modo pelo qual o enlutado comporta-se publicamente. O “durão” admirado pelo grupo, contrasta dramaticamente com a pessoa chorosa, frágil. Assim, é difícil avaliar o nível de tristeza de uma pessoa pelas aparências externas. A menos que se conheçam seus antecedentes. A criança e a morte Caixeta (2005) descreve sobre um importante trabalho de psicologia médica que ocorreu no hospital Necker, em Paris. Este estudo avaliou o comportamento de crianças moribundas e crianças que perderam seus pais. Veremos, a seguir, alguns esclarecimentos sobre a pesquisa. Podemos destacar no texto algumas reações comportamentais nas crianças enlutadas que Caixeta (2005) enumera: 1. reaparecimento do autoerotismo que é um dos sintomas do desinvestimento do mundo exterior. Ou seja, não existe interesse em brinquedos, em outras crianças, nada prende a atenção, a criança apenas se concentra em si mesma; 2. o apetite cede lugar à anorexia ou à bulimia; 3. o aparecimento de sono difícil com presença de pesadelos; 4. pode ocorrer distúrbios de fala, da atenção, ansiedade, sintomas psicossomáticos desde um resfriado até dores gastrintestinais, mentira, furto, fuga, delinquência; 5. e, por último, a criança pensa que é culpada pela morte do outro e quer punir-se ou juntar-se ao morto. 44Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem Assim, quando um dos pais morre e não está mais presente, o outro cônjuge pode continuar evocar de maneira positiva diante da criança o cônjuge morto, pois a criança tem necessidade de conservar uma imagem boa, generosa, amável, e isto, fará muito bem a ela. Para a criança, o luto geralmente necessita de certo tempo e passa por uma fase mais ou menos longa de idealização do ente perdido. Ainda conforme Caixeta (2005), o luto uma vez realizado, permite a introjeção do objeto perdido sob a forma de lembranças, palavras, atos, modos de ser comuns ao morto. Por outro lado, ocorre o investimento afetivo a um novo objeto, o desenvolvimento de um novo amor. Ainda conforme o autor citado, outra forma de perpetuar o vínculo com o morto é de evitar perdê- lo, assim a criança pode transformar seus sentimentos para com o morto no seu contrário, como exemplo, uma relação de amor converte- se em uma relação de ódio, uma relação agressiva pode converter-se em uma relação de amor. A anulação do vínculo ou a transposição em seu contrário dos sentimentos com o morto economizam o trabalho de luto, que deste modo não pode acontecer. No meio caminho entre o luto e a repressão situa-se a tentativa repetida e sempre vã de efetuar esse trabalho. O sujeito é apanhado numa compulsão de repetição. Porque não foi capaz no devido tempo, de aceitar a perda do objeto de amor, repete com outras pessoas a mesma situação, a mesma relação, o mesmo tipo de investimento. Ainda segundoCaixeta (2005), a criança pode negar totalmente a morte de modo “psicótico” ou pode viver psicoticamente como se ela estivesse ao seu lado. Esta identificação com o morto pode chegar ao ponto de dizer “Eu também vou morrer” ou possa sentir os mesmos sintomas do falecido. Pode também tornar-se passiva, temerosa, dependente e, diante disso, a finalização do luto pode se dar de várias maneiras. Uma delas é pelo sonho, de encontrar-se com o morto. O autor ainda cita que o transtorno gerado pelo luto, pela ausência é tanto maior quanto dura à demora para que um substituto assuma lugar no psiquismo da criança, pois deste modo a criança saíra do luto de maneira saudável. Encerramos nossa última aula. Espero que tenham gostado e entendido o nosso conteúdo e que aproveitem estes ensinamentos na vida profissional de vocês. Parece que estamos indo bem. Então, para encerrar esse tópico, vamos recordar: Retomando a aula 1 - A vida adulta Fase adulta: consideramos que a fase adulta se inicia aos vinte e um anos de idade. Aqui, as mudanças que ocorrem na adolescência já se estabilizaram, e a responsabilidade aumenta bastante. Em muitos casos, a pessoa já se apresenta independente financeiramente, de forma completa ou parcial; por meio do trabalho. É, geralmente, nessa fase que as pessoas costumam ter filhos. 2 - Personalidade e vida adulta Na fase adulta, é normal que a personalidade se altere, ou seja, uma pessoa enquanto mais jovem e irrequieta que quer aproveitar a vida ao máximo torna-se mais pacata e sossegada. Na fase adulta, há um desenvolvimento da personalidade ou não. Muitas pessoas, como disse anteriormente, alteram a sua personalidade e maneira de ser pelas experiências vividas, deixando de ser tão eufóricas e de levar a vida ao limite, passando a ser pessoas mais conscientes, com responsabilidades, mais pacatas. Por outro lado, é possível encontrar pessoas que pelo visto a idade não passou para elas. Continuam a aproveitar a vida como se não houvesse amanha, mostrando não só na forma de ser, mas também na forma de vestir. Por isso, dizemos que as pessoas que alteram a sua personalidade ao longo da idade têm um desenvolvimento da personalidade em mudança, enquanto que as pessoas que continuam a aproveitar a vida, não ocorre o desenvolvimento da personalidade esperado ou habitual, ou seja, a sua personalidade mantêm-se continua em relação aquilo que já existia. 3 - Afinidades e relacionamentos As relações românticas e de amizade possuem um forte impacto no nosso cotidiano. Todavia, a compreensão do motivo pelo qual alguns relacionamentos românticos duram mais do que outros se torna mais consistente integrando perspectivas biológicas e sociais. As formas iniciais de interação seriam importantes, portanto, no direcionamento que o indivíduo vai estabelecendo no que se referem às suas interações amorosas na vida adulta. As relações iniciais de apego, vistas também como uma consequência dos ambientes nos quais os indivíduos estão inseridos, são utilizadas como referenciais no momento de interagir com parceiros amorosos posteriormente Tendo isso em mente, podemos investigar o motivo pelo qual alguns indivíduos envolvem- se emocionalmente mais do que outros, bem como algumas relações românticas duram mais do que outras. 4- O envelhecimento Segundo Caixeta (2005), os estudos demográficos atestam um importante aumento da população idosa. O envelhecimento em si não é uma doença neste período da vida, porém as manifestações patológicas são muito frequentes.O envelhecimento psicológico está completamente relacionado com as raízes biológicas e dos seus prolongamentos socioculturais. O peso do passado individual desempenha um papel determinante. As modificações afetivas podem ser numerosas, tanto do quadro da vida durante a velhice como da coerência do procedimento anterior. O estreitamento do espaço vital provocado pela aposentadoria, o afastamento e a independência dos filhos, o luto por amigos da mesma idade, por vezes a perda do cônjuge, concorrem para criar um sentimento de abandono e de solidão. Todos esses componentes contribuem 45 para o comportamento de fuga e isolamento. Caixeta (2005) ainda relata que a perspectiva da morte e a consciência de estar vivendo o fim pioram a situação emocional na velhice. O aborrecimento dos dias compridos, a resistência muitas vezes as atividades de lazer propostas, as relações familiares muitas vezes conturbadas, a falta de opção de passeios, são fatores difíceis de administrar na velhice. 5 - O sentido da doença na idade avançada Do ponto de vista psicológico o aparecimento de um sintoma qualquer durante a senilidade tem uma repercussão psicológica importante. Evoca-se uma questão angustiante para o idoso: será o começo do meu fim? Existe um desejo profundo de negar esta perspectiva, revelada por certas pessoas que aguentam uma doença, por vezes muito adiantada, sem que consultem um médico. Em outros idosos acontece o contrário, a angústia leva-os a consultar rapidamente o médico. A reação psicológica varia de paciente para paciente, o ambiente caloroso da relação médico-paciente, paciente/ família, bem como boa informação, representam a base de apoio em face dos receios experimentados. Existem duas situações particularmente penosas para o idoso, uma diz respeito a necessidade de hospitalização, e a outra à de internação em instituições para idosos. Enfim, compreender o envelhecimento é um fator fundamental para o educador, afinal algumas pesquisas citam que de 101 milhões de idosos na atualidade, esse número chegará a 168 milhões no ano de 2025, ou seja, é uma população que tende a crescer a cada dia nas próximas décadas. 6- O luto e a morte Kaplan (1997) define tanatologia: como o estudo do fenômeno da morte e dos processos emocionais envolvidos na reação à morte, tanto nos moribundos quanto nos enlutados. Vários tanatologistas identificaram estágios de morte ou do morrer, sendo estes estágios: Choque e negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Segundo Kaplan (1997), o luto pode ocorrer como resultado de várias perdas, além daquela de uma pessoa amada, incluem a perda de status, perda de uma figura nacional, perda da proteção. A expressão de tristeza pela perda envolve uma ampla faixa de emoções. O luto pode ser tanto normal como patológico. AKAMATSU, Ceci. Para que o amor aconteça. Verus Editora, 2011. FILHO, H. de Andrade José. Saúde na terceira idade. São Paulo: Nova Era, 2006 Vale a pena ler Vale a pena Filme Com Mérito (1994). Vale a pena assistir Minhas anotações