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Conteúdo do livro Pode-se dizer que a aprendizagem baseada em projetos é uma metodologia ativa complexa, entretanto, quando se conhece cada uma de suas etapas (definição dos objetivos de aprendizagem, tema do projeto, atividades que serão trabalhadas com os estudantes, respectivas entregas ou produtos e definição do processo de avaliação), pode-se visualizar uma sequência para sua aplicação. Ao aplicar essas etapas na íntegra, trabalha-se de maneira completa o PBL. No capítulo Aprendizagem baseada em projetos, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, saiba mais a respeito das etapas da metodologia e entenda que é possível desenhar um roteiro que possibilite a aplicação do PBL. Boa leitura. METODOLOGIAS ATIVAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Descrever a metodologia e sua respectiva aplicação. > Planejar um conjunto de aulas com a metodologia. > Identificar atividades dentro da metodologia com caráter interdisciplinar. Introdução O mundo em que vivemos é caracterizado pelos desafios do uso e do de- senvolvimento da tecnologia, que remetem à Revolução Industrial, e, por consequência, à necessidade de uma formação integral, não apenas focada nos conceitos teóricos, mas no desenvolvimento de competências e habilidades que formam o aluno do século XXI. O fenômeno da globalização influencia fortemente a estrutura e as práticas das organizações, bem como as percepções e o desempenho dos seus agentes. Neste sentido, o mercado de trabalho vai sofrendo igualmente mutações constantes, que atribuem a ele uma nova configuração, caracterizada por maior competitividade e instabilidade (LIMA; MESQUITA; PEREIRA, 2008). Surge a necessidade de termos um pensamento diferenciado na comuni- dade acadêmica para que possamos formar alunos/profissionais que sejam capazes de promover ações e realizar investigações, trabalhar em equipe, gerir problemas e apresentar soluções, pois estas são as novas exigências de formação para uma boa atuação no mercado de trabalho. Aprendizagem baseada em projetos Renata Perrenoud Assim, o conceito de integrar e conectar as mais diferentes áreas com o mundo tecnológico é de extrema importância. A realidade virtual permite que o ser humano consuma e interaja com as informações de maneiras distintas, por meio de robôs e software, impressoras 3D, integração de dados, comando e controle de voz, e uma interminável lista de outros exemplos. O impacto que a quarta Revolução Industrial poderá causar na sociedade e a direção que isto tomará ainda são desconhecidos para a humanidade. Nesse contexto, as instituições de ensino superior se deparam com o jovem da chamada “geração milênio”, que interage com as mais distintas tecnologias. O jovem atual dificilmente se comunica por meio de instrumento estático, e-mail, carta escrita, etc. Conectado permanentemente, ele se comunica em tempo real por meio de imagens, mensagens curtas, manifestações afetivas ou claras da sua posição em tempo real. Há pouco tempo o conhecimento estava nas enciclopédias, cujo status que a coleção de livros se propunha saber e conhecer era restrito a poucas pessoas e, mesmo assim, não eram todas as bibliotecas escolares que dis- punham do referido recurso para o acesso à informação pelo aluno. O atual volume de informações disponível com a democratização da internet permite ao aluno ser o protagonista do conhecimento que ele quer desenvolver. De fato, o termo internet das coisas (IoT) está associado a essa conexão–integração entre equipamentos nunca imaginada anteriormente. Hoje, as universidades, os museus, as bibliotecas têm atuado no sentido de disponibilizar e compar- tilhar o conhecimento que possuem, têm democratizado seus conteúdos de forma que se permita interação através de passeios (tours) virtuais em suas instalações, pesquisas e buscas em seus acervos, que nunca antes da década de 2000 se imaginou ser possível. Desta maneira, aprender tornou-se possível, tornou-se prático; explorar novas áreas de conhecimento tornou-se permeável e sem a necessidade de se ter um diploma de nível superior, de especialista ou de qualquer outra natureza. O project based learning, ou aprendizado baseado em projeto (PjBL) é a metodologia de aprendizagem ativa definida literalmente com “mão na massa”, na qual o estudante tem o seu aprendizado desenvolvido com tarefas práticas e desafios que visam a desenvolver um projeto ou produto aplicando conceitos que fundamentam o aprendizado. Assim, o aprendizado baseado em projeto promove um desenvolvimento integral e inclui a avaliação como um processo formativo de aprendizagem. Neste capítulo, você vai ter uma visão geral da aplicação da metodologia de aprendizagem baseada em projetos, suas etapas, um olhar para a avaliação e a interdisciplinaridade. Aprendizagem baseada em projetos2 Metodologia de aplicação A aprendizagem ativa é uma das metas mais importantes nos cenários eu- ropeus, as quais incluem um conceito de uma sociedade de aprendizagem. A característica mais importante dessa sociedade é desenvolver o próprio aprendizado e responsabilidades pelo seu progresso (NIEMI, 2002). O apoio do professor em uma sala de aula com condições climáticas saudáveis é absolutamente essencial para o desenvolvimento do aluno, e inclinações naturais destes para a aprendizagem podem ser facilmente interrompidas caso não haja suporte. Estudos mostram que a percepção positiva dos alunos na realização autônoma de sua tarefa, quando há suporte docente, podem levar a aumentos na motivação intrínseca, na autorregulação, na percepção de competência, no interesse, no engajamento e no desempenho acadêmico (STOLK et al., 2010). A motivação desenvolvida nos estudantes é um fator preponderante para o sucesso da aplicação da aprendizagem ativa dentro de uma disciplina, pois o aluno precisa entender os benefícios de trabalhar desenvolvendo conceitos e buscando mais informações para uma conceitualização. Se há motivação, o aluno tem um maior engajamento na disciplina; consequentemente, consegue melhorar seu desempenho. A utilização de métodos de aprendizagem ativa varia muito de acordo com sua implementação, incluindo abordagens diversas para diferentes grupos — como resolução de problemas, planilhas ou tutoriais concluídos durante a aula, utilização de sistemas de resposta pessoais com ou sem instrução por pares — em ambientes de sala de aula ou novos ambientes de aprendizagem (FREEMAN et al., 2014). As metodologias ativas podem ser trabalhadas na sua íntegra para for- talecer os conceitos de aprendizagem e desenvolverem competências e ha- bilidades. A aprendizagem baseada em projetos tem etapas que constituem a metodologia. Seu modelo de aplicação é dividido em trabalhos prévios e extraclasses, práticas e estudos conceituais presencias e apresentação de projetos e/ou produtos. Para fazer a distribuição das atividades no semestre, é necessário planejar com detalhes cada uma das aulas a ser ministrada, pois sugere-se que para um semestre com média de 15 a 17 semanas, sejam trabalhados três projetos, ou seja, em média, a cada 5 a 6 semanas, apresenta-se um projeto. É possível, entretanto, aplicar a metodologia em tempos variados, como em um mês, ou uma semana, ou em um conceito dentro de uma aula. Aprendizagem baseada em projetos 3 O projeto ou produto a ser desenvolvido deve ser trabalhado e apresen- tado continuamente em grupo para que se possa avaliar a participação dos componentes e o aprendizado comum da equipe. Aplicação Para um resultado efetivo de aprendizagem dessa metodologia, deve-se envolver os estudantes e garantir que eles tenham acesso prévio a material relacionado com o tema a ser estudado no projeto e na aula seguinte. O trabalho prévio consiste em atividades como leituras de texto, artigos científicos, vídeos de experimento, videoaulas, entre outros a serem enca- minhados aos estudantes com prazo mínimo de uma semana, para que eles tenham tempo de realizar a análise do material. O objetivodo material prévio é que ele seja trabalhado em atividades presenciais na aula, garantindo assim a obrigatoriedade de acesso e estudo prévio do estudante, para que possa realizar as atividades direcionadas. No período que antecede a apresentação de cada projeto, é interessante trabalhar os temas relacionados aos objetivos de projeto. As aulas presenciais devem passar pelas etapas descritas a seguir, divididas de maneira a melhor atender as necessidades dos alunos e do professor: 1. Metas de aprendizagem: são trabalhados os tópicos da ementa a ser desenvolvida. Aqui estão os conceitos principais que o aluno deve aprender e aplicar no projeto. Como meta de aprendizagem também podem ser colocadas habilidades e competências a serem desenvol- vidas no estudante, como capacidade de trabalhar em equipe, gestão de tempo, entre outras. 2. Atividades: para cada uma das aulas presenciais tem-se a necessidade de trabalhar atividades, sejam de leitura, debate, laboratório, cálculos, estudos de caso, mas que possibilitem a interação professor–aluno na sala de aula. Durante as etapas de desenvolvimento das atividades, 3. o professor direciona o aprendizado do assunto a ser trabalhado nesta aula. 4. Produto: para cada atividade trabalhada pelo professor é gerado um resultado, o que chamamos de produto, que o aluno entrega para ser avaliado ou para verificação de grau de retenção do conhecimento trabalhado nesta aula. 5. Avaliação: a avaliação deve ser pensada para todas as etapas do PjBL ou do semestre, sendo assim, deve-se pontuar inicialmente o percentual Aprendizagem baseada em projetos4 de avaliação individual e em grupo, e as atividades e projetos a serem entregues também devem ser avaliados em sua totalidade — com relatório entregue, apresentação e desenvolvimento. Cada produto entregue individualmente deve ser corrigido e um feedback deve ser dado ao aluno quanto ao seu aprendizado. Para complementar o trabalho, pode-se planejar etapas da avaliação formativa e utilizar metodologias como peer instruction e team based learning para suporte à avaliação. Para facilitar o desenvolvimento e a aplicação da metodologia, utiliza-se uma planilha na qual figuram as etapas de aprendizagem: metas de aprendizagem, avalições, atividades e produtos. Apresentação e avaliação de projetos É parte do planejamento o alinhamento da apresentação do projeto. Deixe claro e de preferência registrado no plano de ensino como será realizada esta etapa, os critérios de avaliação do projeto e o cronograma de entrega das etapas. Desenvolva um modelo de avaliação, elabore uma planilha que contenha os itens que serão avaliados. O modelo do relatório a ser entregue é definido pelo professor da disciplina e pode ser trabalhado na forma de um artigo científico, o que motiva e engaja o estudante em seu aprendizado. O Quadro 1 mostra um exemplo de critérios que podem ser criados para a avaliação de um projeto. Para avaliação dos projetos é necessário ainda sistematizar o modelo pelo qual os projetos serão avaliados e criar os critérios de avaliação. O exemplo do Quadro 1 indica todos os itens que serão avaliados, tanto com a apresentação projeto, o protótipo (produto a ser entregue) e o relatório. Aprendizagem baseada em projetos 5 Quadro 1. Planilha de autoavaliação Critérios Projeto 1 (0 a 10) Projeto 2 (0 a 10) Projeto 3 (0 a 10) Apresentação Comunicação Postura Participação dos membros Protótipo Qualidade e esmero na construção Criatividade Relevância Relatório Fundamentação teórica Dados e cálculos do protótipo Reflexão e análise crítica Formatação e organização da estrutura Adequação aos objetivos Na apresentação do projeto é importante a participação de todos os componentes do grupo. O enfoque no trabalho colaborativo sempre tem resultados e deve-se solicitar aos alunos que elaborem trabalhos criativos com a aplicação dos conceitos (CHAGAS, 2020). A Figura 1 exemplifica projetos realizados por estudantes de engenharia. Aprendizagem baseada em projetos6 Figura 1. Projetos realizados por estudantes de engenharia. Algo muito importante para complementar o processo de aprendizagem do estudante é a autoavaliação. O professor pode pensar um em tabela de rubrica que possibilite esse feedback do aluno. A autoavaliação pode ser feita sobre o desempenho do próprio estudante, do seu aprendizado ou ainda do trabalho em grupo e do projeto realizado. Ao se trabalhar a autoavaliação, o estudante sente-se empoderado e relata de uma maneira direta os pontos favoráveis que foram trabalhados no processo e problemas e dificuldades encontradas. Essa transparência possibilita ao professor indicar pontos de melhoria nas atividades propostas. O Quadro 2 mostra um exemplo de rubricas de autoavaliação trabalhadas em projeto. Aprendizagem baseada em projetos 7 Quadro 2. Rubricas de autoavaliação Como está a qualidade do nosso trabalho? (Aproveitem para “dar uma olhada” nos trabalhos das demais equipes) Como nos sentimos acerca do nosso envolvimento (engajamento) com o projeto Protótipo construído; como ficou? E sobre a nossa capacidade de planejamento e coordenação? Como foi o relacionamento do nosso grupo? Adquirimos conhecimentos? As práticas e a avaliação Na maioria das vezes, as práticas aplicadas em avaliação no ensino supe- rior diversificam-se quanto à escolha dos instrumentos a serem utilizados, mas normalmente o processo e as técnicas de avaliação não costumam variar muito, ou seja, a prática tradicional no ensino resume-se em transmitir o conteúdo, aplicar a validação que pode ser prova, trabalhos, pesquisa, seminários de apresentação de projetos, corrigir e entregar a nota, que mede o “aprendizado” do aluno em um determinado período ou relacionado a um determinado assunto. Isso não é um processo avaliativo, mas um processo de medição de resultado. Ao trabalharmos com aprendizagem ativa, entende-se que a avaliação deva acompanhar as aulas; para isso é necessário um trabalho prévio de preparação das aulas focando na metodologia a ser trabalhada e em qual será o melhor processo de avaliação para ser aplicado que acompanhe o nível de aprendizado do aluno. Uma avaliação contínua sugere um acompanhamento intenso do professor, pois neste modelo, busca-se verificar não somente o aprendizado do aluno quanto aos conceitos, mas também a necessidade de medir habilidades e competência (hard e soft skills) desenvolvidas. Aprendizagem baseada em projetos8 Essa é uma grande dificuldade encontrada. O que se percebe ao procu- rar um aprofundamento maior sobre o assunto em questão é que o ensino superior não está livre de problemas mais gerais constatados nesta área e que, quando se trata de aprendizado ativo, tanto na teoria quanto na prática, a avaliação precisa passar por um processo formativo. Sendo assim, é ne- cessário realizar um trabalho pedagógico na sala de aula e observar sua influência na condução do processo de ensino. Com as aplicações de diferentes metodologias ativas de aprendizagem no ensino superior, tem-se a necessidade de trabalhar a classificação de técnicas de avaliação, ou seja, deve haver um planejamento das diferentes técnicas e dos instrumentos avaliativos, devido à diversidade do que ofere- cemos atualmente. Algumas instituições de ensino trabalham apenas com a avaliação soma- tiva. Esse processo não entra em consonância com a aprendizagem baseada em projetos. Quando se trabalha com metodologia ativa é importante que a avaliação esteja alinhada com o que está sendo proposto. No processo de avaliação ativa, podemos trabalhar o processo avaliativo de forma contínua. A avaliação deve ser formativa e ser parte do processo de aprendizagem do aluno. Ao seguir as etapas desta metodologia, o professor contextualiza a apren- dizagem de maneira a colocar o aluno no processo ativo de aprendizagem. É evidente e deve ficar claro que o bom resultado ao se trabalhar com a aprendizagem baseadaem projetos está em aplicar a metodologia em sua íntegra, o que requer que o professor se sinta seguro. Cabe à instituição de ensino definir a estratégia, preparar a gestão pedagógica e capacitar docentes para a aplicação da metodologia. Referências CHAGAS, J. M. Aprendizagem ativa do estudante: aplicação do Project Based Learning nos cursos de engenharia. Orientador: Messias Borges Silva. Coorientadora: Renata Lucia Cavalca Perrenoud Chagas. 2020. 85 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção na área de Gestão de Operações) – Faculdade de Engenharia, Universidade Estatual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Guaratinguetá, 2020. Disponível em: https:// repositorio.unesp.br/handle/11449/192441. Acesso em: 5 mar. 2021. FREEMAN, S. et al. Active learning increases student performance in science, engi- neering, and mathematics. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, Washington, v. 111, n. 23, p. 8410–8415, June 2014. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4060654/. Acesso em: 5 mar. 2021. Aprendizagem baseada em projetos 9 LIMA, R. M.; MESQUITA, D.; PEREIRA, G. Engenharia e gestão industrial em Portugal: uma visão da procura profissional. In: CONGRESSO LUSO-MOÇAMBICANO DE ENGENHARIA, 5., 2008, Maputo. Anais [...]. Porto: Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial, 2008. p. 941–942. NIEMI, H. Active learning—a cultural change needed in teacher education and schools. Teaching and Teacher Education, [S. l.], v. 18, n. 7, p. 763–780, Oct. 2002. STOLK, J. et al. Engineering students’ definitions of and responses to self-directed lear- ning. The International Journal of Engineering, Dublin, v. 26, n. extra 4, p. 900–913, 2010. Leituras recomendadas AMARAL, J. A. A.; ARAÚJO, C. R. M.; HESS, A. (org.). Aprendizagem baseada em projetos: estudos de caso brasileiros. São Paulo: Scortecci, 2018. 120 p. BENDER, W. N. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o século XXI. Porto Alegre: Penso, 2014. 156 p. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito- res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Aprendizagem baseada em projetos10