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Alienação na Sociologia e Filosofia
Na Sociologia, o conceito de alienação está intimamente relacionado aos processos de alheamento do indivíduo que surge por diversos motivos na vida social. Isso leva ao alijamento da sociedade como um todo.
O estado de alienação interfere na capacidade dos indivíduos sociais de agirem e pensarem por si próprios. Ou seja, eles não têm consciência do papel que desempenham nos processos sociais.
Do latim, a palavra “alienação” (alienare) significa “tornar alguém alheio a alguém”. Atualmente, o termo é utilizado em diferentes áreas (direito, economia, psicologia, antropologia, comunicação, etc.) e contextos.
A alienação na sociologia foi essencialmente influenciada pelos estudos do revolucionário alemão Karl Marx (1818-1883), no âmbito do trabalho alienado e das relações de produção.
Em 1867, Marx escreveu sua obra mais emblemática, O Capital. Nele, o autor critica a sociedade industrial capitalista em seu modo de produção e sua tendência a criar uma forma de trabalho que acaba por desumanizar o indivíduo explorado.
O trabalho alienado surge a partir do momento em que o trabalhador perde a posse dos meios de produção e passa a ser compreendido como parte da linha de produção (assim como as máquinas e ferramentas). O trabalhador assume uma única função fundamental: gerar lucro.
O lucro tem como base a exploração do trabalhador e o processo de mais valia. O trabalhador tem parte do que produz apropriado de forma indevida pelo capitalista.
Trata-se, portanto, de uma alienação socioeconômica onde a fragmentação do trabalho industrial produz a fragmentação do saber humano. De tal modo, a alienação torna-se um problema de legitimidade do controle social.
A divisão social do trabalho, enfatizada pela sociedade capitalista, contribui para o processo de alienação do indivíduo. Os cidadãos que participam do processo de produção de bens e serviços, acabam por não usufruir deles.
Nas palavras do filósofo:
“Primeiramente, o trabalho alienado se apresenta como algo externo ao trabalhador, algo que não faz parte de sua personalidade. Assim, o trabalhador não se realiza em seu trabalho, mas nega-se a si mesmo. Permanece no local de trabalho com uma sensação de sofrimento em vez de bem-estar, com um sentimento de bloqueio de suas energias físicas e mentais que provoca cansaço físico e depressão. (...) Seu trabalho não é voluntário, mas imposto e forçado. (...) Afinal, o trabalho alienado é um trabalho de sacrifício, e mortificação. É um trabalho que não pertence ao trabalhador mas sim à outra pessoa que dirige a produção”.
Alienação na Filosofia
Hegel (1770-1830), um dos mais importantes filósofos alemães, foi o primeiro a utilizar o termo “alienação”. Segundo ele, a alienação do espírito humano está relacionada com as potencialidades dos indivíduos e dos objetos que ele cria.
Assim, é transferida a potencialidade dos indivíduos nos objetos produzidos, criando uma relação de identidade entre os indivíduos, como por exemplo, na cultura.
Na filosofia, desde então, o conceito de alienação está associado a uma espécie de vazio existencial. Relaciona-se, assim, com a falta de consciência própria, de modo que o sujeito perde sua identidade, seu valor, seus interesses e sua vitalidade.
Como consequência, o sujeito tende a objetificar-se, tornar-se coisa. Em outras palavras, ele torna-se uma pessoa alheia a si mesma.
Além do trabalho alienado, conceito bem fundamentado por Marx, na filosofia podemos ainda considerar o consumo alienado e o lazer alienado.
A ideia-chave no conceito de alienação é o fato do indivíduo perder o contato com a totalidade das estruturas. Sua visão parcial faz com que ele não compreenda as forças que atuam no contexto.
Isto acarreta uma mistificação da realidade. As coisas são entendidas como necessárias, a forma na qual a sociedade se encontra passa a ser entendida como o único modo possível de organização.
No consumo alienado, conceito muito explorado, sobretudo nas sociedades capitalistas atuais, os indivíduos são bombardeados por propagandas disseminadas pelos meios de comunicação. Sua liberdade passa a estar constrangida a determinados padrões de consumo.
Assim, o indivíduo alienado relaciona sua essência com um padrão de consumo. Os produtos passam a possuir uma aura capaz de atribuir características ao sujeito e suprir suas necessidades.
Da mesma forma, a alienação pelo lazer gera indivíduos frágeis, com dificuldade de compreender sua própria personalidade. Isto afeta diretamente sua autoestima, espontaneidade e processos criativos.
No lazer, a alienação pode ser gerada pelos produtos e objetos de consumo incentivados pela indústria cultural.
O que é Consumismo?
Escola de Frankfurt e a Atualidade mass media
O excesso de oferta gera a impressão de liberdade
Para o filósofo alemão Max Horkheimer (1885-1973), criador da expressão "Indústria Cultural”:
“Quanto mais intensa é a preocupação do indivíduo com o poder sobre as coisas, mais as coisas o dominarão, mais lhe faltarão os traços individuais genuínos”.
Para os pensadores da Escola de Frankfurt, a indústria cultural tem um papel fundamental dentro do processo de alienação.
A suposta possibilidade de escolha traz consigo uma aparência de liberdade e aumenta o grau de alienação do indivíduo. Assim, retira-lhe as ferramentas para o questionamento do modelo imposto pela classe dominante.
Tipos de Alienação
O conceito de alienação é bem amplo e, como foi dito acima, ele contempla diversas áreas do saber.
Assim, a alienação pode ser classificada em diversos tipos dos quais se destacam:
Alienação parental
A alienação parental acontece quando o pai ou a mãe de uma criança faz com que esta repudie, rejeite ou sinta ódio do outro cônjuge. Este termo foi utilizado pela primeira vez pelo psiquiatra Richard Gardner, em 1985, designando o conceito da Síndrome de Alienação Parental (SAP).
Neste caso, um dos pais (ou outra pessoa responsável) “treina” a criança a romper os laços afetivos com o outro genitor, desenvolvendo fortes sentimentos de ansiedade e medo em relação ao outro - pai ou mãe.
A alienação parental é vista como uma “lavagem cerebral”, é considerada uma interferência na formação psicológica da criança.
Todas as disposições acerca da alienação parental estão previstas na lei nº 12.318/10. Veja o conceito descrito na lei:
Art. 2º - Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
Alienação Social A alienação social é referente a um estado mental do ser humano e é estudada pela sociologia. Nesse estado mental, ele pode não compreender que também é o formador da sociedade e da política, e aceita tudo sem questionar.
A alienação social incapacita o pensamento independente do indivíduo e ele passa a aceitar tudo como algo natural, racional ou divino. Isso significa que ele não possui plena consciência de que também faz parte da sociedade, de seus processos e relacionamentos sociais.
Uma das consequências deste tipo de alienação é o isolamento social do indivíduo, que pode ser motivado por diversas razões.
Este tipo de alienação é considerado o oposto do pensamento crítico, por exemplo.
Alienação Cultural Cultura (do latim "colere", significa cultivar) é tudo o que se cultiva: conhecimentos, costumes, crenças, artes, moral, e tantos hábitos dos seres humanos presentes num grupo social. Não existe povo que não tenha cultura, todo povo é produtor e produto de culturas, de modo que nos afetamos e somos afetados nas relações que estabelecemos. Toda pessoa é produtora de modos de ser, agir, sentir e pensar.
Herdamos uma relação de poder historicamente constituída, onde fomos ensinados a consumir um tipo de cultura sem reconhecer que também a criamos. Estabelecemos uma relação passiva e inferiorizante, ondereproduzimos valores que nos trouxeram, desmerecendo os valores antes presentes. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, eles não reconheceram os índios como um povo com cultura, os índios eram tidos como selvagens e inferiores, e foram colonizados para aprender o que é cultura, partindo do referencial cultural dos colonizadores.
O termo “cultura” foi associado a eruditismo, a bons costumes, a etiqueta, entre tantos outros valores positivistas, que envolvem a ideia de uma suposta superioridade de uns sobre outros. Houve uma divisão, entre um povo que se julga superior e detentor do saber e outro povo que não se reconhece como produtor de cultura e aceita sua condição de inferior e submisso, legitimando o poder exercido do primeiro sobre este. Esse processo nos tornou alienados culturalmente, onde não nos reconhecemos no que criamos e reproduzimos, e valorizamos os costumes e crenças das quais fomos ensinados como corretas e verdadeiras por um pequeno grupo, por meio de uma relação injusta de poder.
Alienação Econômica A alienação econômica
Na qual os produtores não se reconhecem como produtores, nem se reconhecem nos objetos produzidos por seu trabalho. Em nossas sociedades modernas, a alienação econômica é dupla: em primeiro lugar, os trabalhadores, como classe social, vendem sua força de trabalho aos proprietários do capital (donos das terras, das indústrias, do comércio, dos bancos, das escolas, dos hospitais, das frotas de automóveis, de ônibus ou de aviões, etc.). Vendendo sua força de trabalho no mercado da compra e venda de trabalho, os trabalhadores são mercadorias e, como toda mercadoria, recebem um preço, isto é, o salário.
Porém, os trabalhadores não percebem que foram reduzidos à condição de coisas que produzem coisas; não percebem que foram desumanizados e coisificados. Em segundo lugar, os trabalhos produzem alimentos (pelo cultivo da terra e dos animais), objetos de consumo (pela indústria), instrumentos para a produção de outros trabalhos (máquinas), condições para a realização de outros trabalhos (transporte de matérias-primas, de produtos e de trabalhadores).
A “mercadoria trabalhador” produz mercadorias. Estas, ao deixarem as fazendas, as usinas, as fábricas, os escritórios e entrarem nas lojas, nas feiras, nos supermercados, nos shoppings centers parecem ali estar porque lá foram colocadas (não pensamos no trabalho humano que nelas está cristalizado e não pensamos no trabalho humano realizado para que chegassem até nós) e, como o trabalhador, elas também recebem um preço (CHAUÍ, 2000).
O trabalhador olha os preços e sabe que não poderá adquirir quase nada do que está exposto no comércio, mas não lhe passa pela cabeça que foi ele, não enquanto sujeito e sim como classe social, quem produziu tudo aquilo com seu trabalho e que não pode ter os produtos porque o preço deles é muito mais alto do que o preço dele, trabalhador, isto é, o seu salário (CHAUÍ, 2000).
Apesar disso, o trabalhador pode, cheio de orgulho, mostrar aos outros as coisas que ele fabrica, ou, se comerciário, que ele vende, aceitando não possuí-las, como se isso fosse muito justo e natural. As mercadorias deixam de ser percebidas como produtos do trabalho e passam a ser vistas como bens em si e por si mesmas (como a propaganda as mostra e oferece) (CHAUÍ, 2000).
Na primeira forma de alienação econômica, o trabalhador está separado de seu trabalho, este é alguma coisa que tem um preço; é um outro (alienus), que não o trabalhador. Na segunda forma da alienação econômica, as mercadorias não permitem que o trabalhador se reconheça nelas. Estão separadas dele, são exteriores a ele e podem mais do que ele. As mercadorias são igualmente um outro, que não o trabalhador (CHAUÍ, 2000).
A alienação intelectual
Resultante da separação social entre trabalho material (que produz mercadorias) e trabalho intelectual (que produz ideias). A divisão social entre as duas modalidades de trabalho leva a crer que o trabalho material é uma tarefa que não exige conhecimentos, mas apenas habilidades manuais, enquanto o trabalho intelectual é responsável exclusivo pelos conhecimentos.
A tríade da alienação
Vivendo numa sociedade alienada, os intelectuais também se alienam. Sua alienação é tripla:
– Primeiro, esquecem ou ignoram que suas ideias estão ligadas às opiniões e pontos de vista da classe a que pertencem, isto é, a classe dominante, e imaginam, ao contrário, que são ideias universais, válidas para todos, em todos os tempos e lugares.
– Segundo, esquecem ou ignoram que as ideias são produzidas por eles para explicar a realidade e passam a crer que elas se encontram gravadas na própria realidade e que eles apenas as descobrem e descrevem sob a forma de teorias gerais.
– Terceiro, esquecem ou ignoram a origem social das ideias e seu próprio trabalho para criá-las; acreditam que as ideias existem em si e por si mesmas, criam a realidade e a controlam, dirigem ou dominam.
Pouco a pouco, passam a acreditar que as ideias se produzem umas às outras, são causas e efeitos umas das outras e que somos apenas receptáculos delas ou instrumentos delas. As ideias se tornam separadas de seus autores, externas a eles, transcendentes a eles: tornam-se um outro (CHAUÍ, 2000).
As três grandes formas da alienação (social, econômica e intelectual) são a causa do surgimento, da implantação e do fortalecimento da ideologia (CHAUÍ, 2000).
Portanto, observa-se que a alienação se exprime numa “teoria” do conhecimento espontânea, formando o senso comum da sociedade. Por seu intermédio, são imaginadas explicações e justificativas para a realidade tal como é diretamente percebida e vivida. Um exemplo desse senso comum aparece no caso da “explicação” da pobreza, em que o pobre é pobre por sua própria culpa (preguiça, ignorância) ou por vontade divina ou por inferioridade natural.
Esse senso comum social, na verdade, é o resultado de uma elaboração intelectual sobre a realidade, feita pelos pensadores ou intelectuais da sociedade, como sacerdotes, filósofos, cientistas, professores, escritores, jornalistas, artistas, que descrevem e explicam o mundo a partir do ponto de vista da classe a que pertencem e que é a classe dominante de uma sociedade.
Na visão de Chauí (2000), essa elaboração intelectual incorporada pelo senso comum social é a ideologia. Por meio dela, o ponto de vista, as opiniões e as ideias de uma das classes sociais, a dominante e dirigente, tornam-se o ponto de vista e a opinião de todas as classes e de toda a sociedade
Alienação Política 
2ª parte: alienação política - o coronelismo
I - Estado político e alienação
De uma forma sumária, a análise clássica marxista do estado político(27) o coloca como aquele em que o poder essencialmente politico se destaca das demais formas de poder como entidade autônoma, realizando uma democracia formal. É uma categoria essencialmente ligada à sociedade burguesa.
Com efeito, o século contemporâneo é marcado pela ascensão das nassas populares ao nível das posições de poder, das quais estivera afastado durante toda a história das sociedades hierarquizadas, estamentais. Até o surgimento do estado liberal burguês, a sociedade se via como todo hierárquico em que os estamentos superiores eram considerados como naturalmente detentores do poder político, que se identificava com o poder econômico e social. É com a Revolução Francesa que, pela primeira vez, um setor da sociedade, o Terceiro Estado, recusa a se considerar como parte de um todo, para reivindicar os seus direitos como toda a sociedade(28) . É proclamada a igualdade universal.
O estado liberal não realiza, não obstante, a eliminação das distinções entre grupos dominantes e dominados, mas apenas elimina a regulamentação jurídica da dominação, deixando-a ao livre jogo dos interesses e forças particulares. O estado liberal realiza a eliminação política das diferenças estamentais, mas o faz em oposição à existência real destas diferenças, transformando-as em diferenças de classe, de caráter econômico-social(29). Ao declarar a igualdade detodos, desinteressando-se pelas diferenças de nascimento, estado social, cultura, ocupação, etc, consideradas não-políticas, o estado liberal deixa que estas diferenças atuem a seu modo, livres de qualquer regulamentação que não sejam as do livre jogo de interesses. Longe de acabar com as diferenças de fato, o estado político só existe sobre estas premissas, só se sente como tal e só faz valer sua generalidade em contraposição a estes seus elementos(30).
O estado politico realiza desta forma a divisão do homem em duas partes, enquanto indivíduo e enquanto cidadão. Se enquanto cidadão ele é chamado para as decisões relativas ao poder, votar e ser eleito - e então se comportaria como membro da coletividade, dentro das preocupações do bem comum -, enquanto indivíduo ele se interessa apenas pela sua vida na sociedade civil, como consciência privada, patrão ou operário, dentro de um campo que, conforme a ideologia do estado liberal, é estranho à órbita política, que nele só intervém para garantir os"direitos essenciais do homem", entre eles, principalmente, a propriedade privada. Com esta garantia o estado se coloca, com seus instrumentos de coação, como fiador das diferenças de fato.
Confrontada com o estado político, a vida política da sociedade feudal é vista como sendo diretamente a própria vida privada, a detenção do poder politico sendo simultânea à detenção do poder econômico e social. "Na Idade Média a vida do povo e a vida do Estado são idênticas. O homem é o principio real do Estado, mas o homem não-livre. É pois a democracia da não-liberdade. A oposição abstrata refletida não pertence senão ao mundo moderno"(31). Já o estado politico é a realização da liberdade, mas por abstração. A alienação política vai se configurar, assim, como "alienação-reflexo", busca de superação das contradições da situação humana, de realização genérica do homem, por via abstrata, por oposição a sua vida material, através de uma forma política que não participa do conteúdo efetivo da vida social.
No estado liberal a alienação política só deixa de existir, conseqüentemente, para os membros do poder governamental, para os quais o aparelho estatal surge como dotado de um conteúdo real, distinto pois da feição abstrata em que se constitui para a coletividade em geral. Os membros do poder governamental tendem desta maneira a se constituírem como burocracia, definida como "o formalismo do estado"(32), pela consideração da administração como um fim em si. A burocracia é desta maneira interessada na perpetuação da forma política que é seu conteúdo, valendo-se para isso da generalização imaginária de seu conteúdo concreto particular.
Apresentando-se o estado politico como eliminação ilusória das desigualdades, mas tendo como pressuposto a sociedade civil, a supressão da alienação política só é realizável pela supressão do estado, através da eliminação de sua base real, eu última análise a propriedade privada. Da luta "política" passa-se à luta de classes, cujo fim, no plano político, é a supressão do estado..
A possibilidade de uma abordagem sociológica da alienação política reside em considerar a supressão do estado politico não como um salto brusco e definitivo, mas como um processo de transição que toma sentido a partir da supressão total encarada como limite. Este processo, obviamente, assume uma infinidade de momentos que podem ser considerados relativamente alienados ou desalienantes, em função da perspectiva adotada. A idéia-limite transforma-se, metodologicamente, em "hipótese-guia", a da insustentabilidade do estado classista, e da validade das tendências de evolução que a ele se opõem(33) No processo de transição o poder político é instrumento de seu próprio desaparecimento, e isso permite-nos examinar, a cada momento histórico, a relação que se estabelece entre a vida quotidiana dos diversos grupos e classes e o estado, e esses momentos de transição constituirão exatamente o objeto da atenção sociológica(34). É desta maneira que podemos encarar, por exemplo, a fixação messiânica(35) como uma alienação política, em relação às possibilidades de utilização positiva do poder politico em cada fase, o que significaria a capacitação, da maioria do povo, em orientar em causa própria o seu destino político,
II - Alienação política: coronelismo.
A análise do fenômeno do "coronelismo", de fundamental importância para a perfeita compreensão da estrutura política brasileira, permite-nos verificar em que medida a categoria de alienação é ou não propicia a uma utilização sociológica fértil.
A tese de Victor Nunes Leal , O município e o regime representativo no Brasil(36), fornece-nos uma análise minuciosa e profunda do fenômeno do coronelismo, que logo de início é conceituado como "resultado da superposição de formas desenvolvidas de regime representativo a uma estrutura econômica e social inadequada". Assim, o coronelismo não é visto como uma simples forma de manifestação do poder privado, incompatível com o estabelecimento relativamente eficaz do sistema representativo, mas como uma "adaptação em virtude da qual resíduos de nosso antigo poder privado têm conseguido coexistir com um regime politico de extensa base representativa"(37).
Desde as Instituições Políticas Brasileiras(38) torna-se clássica a distinção que se estabelece entre a organização formal do Estado brasileiro e sua organização de fato, entre o "direito-lei", elaborado pelas elites, e o "direito-costume" do "povo-massa", conforme a terminologia peculiar de Oliveira Viana. A organização politica em moldes democráticos seria um apanágio exclusivo dos povos anglo-saxões, e sua adoção por outros povos, entre eles o brasileiro, decorreria de um espírito de imitação absolutamente incompatível com suas próprias realidades. Países como o Brasil jamais poderiam atingir uma forma de organização política que incluísse "o hábito anglo-saxão de acorrer às urnas, o exercício espontâneo do direito de sufrágio, a tradição das propagandas preparatórias às eleições, o interesse vivo e profundo por todas estas formalidades democráticas, e entusiasmo único com que os saxões animam e inflamam todo o eleitorado, a massa popular"(39).
Estes hábitos e costumes decorreriam de um sentimento-base, o sentimento nacional, que sendo traço exclusivo da raça e da cultura anglo-saxã, jamais poderia ser encontrado em povos dominados, culturalmente, pelo "regime de clã". E Oliveira Viana conclui: "Por um paradoxo realmente surpreendente, estes povos de clã assim carecentes de espírito público e de educação democrática vivem todos, por sua infelicidade, perdidamente enamorados pelos povos anglo-saxônicos, que possuem, de formação social, este espírito, e pela beleza dos regimes constitucionais e políticos que eles organizaram para si mesmo, para seu uso, assentando-os justamente sobre este "complexo de espírito público" que é a força motriz das suas instituições e a inspiração e a alma que as anima"(40).
Sem os prejuízos racistas e culturalistas de O. Viana, os estudos sobre a realidade política brasileira têm desenvolvido bastante a análise deste dualismo, buscando suas razões na própria estrutura econômico da sociedade brasileira.
Desde a época de sua descoberta, assinala Caio Prado Jr.(41) , a colonização portuguesa no Brasil "toma o aspecto de uma vasta empresa comercial, destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. É este o verdadeiro sentido da colonização tropical, de que o Brasil é uma das resultantes, e ele explicará os elementos fundamentais, tanto no social como no econômico, da formação e evolução histórica dos trópicos americanos. Decorre daí a estrutura dual da sociedade brasileira, que se manifesta em todos os setores. No plano econômico, particularmente em relação à unidade agrária, em que "a fazenda se relaciona com as outras unidades da economia nacional como se fosse uma empresa capitalista; mas no interior, entre o latifundiário e os agregados, essas relações são, em essência, relações de enfiteuse", impossibilitandoqualquer comparação contábil de preços internos e externos da unidade econômica. No plano das relações sociais, então, capitalistas externamente às unidades agrárias e semi-feudais internamente. No direito, com o direito privado opondo-se às formas novas de direito comercial(42). No plano político enfim, pela dualidade já assinalada da organização liberal do Estado superposta à existência, em diversos graus, de formas de poder patriarcal e local.
No Brasil colonial, ao predomínio do campo que se organiza localmente através das câmaras Municipais, corresponde um Estado praticamente inatuante, que só cresce em presença quando as perspectivas fiscais são promissoras, como no período do ouro em Minas Gerais.(43), Com a transladação da família real portuguesa para o Brasil se superpõe, de forma totalmente inadequada(44), a estrutura burocratizada do Estado português sobre a sociedade brasileira. O problema da independência política do Brasil se manifesta exatamente quando o poder real se vê diminuído pela burocracia e burguesia comercial portuguesa, que se valem da máquina administrativa para a obtenção e manutenção de privilégios, quer pela monopolização do comercio, quer pelo controle dos postos governamentais, com o que isto implica de posição social. O surgimento de uma classe rural que vive de rendas e se estabelece nas cidades possibilita a luta efetiva pelo governo central, que anteriormente não estava ao alcance das classes rurais(45). A independência consagra a supremacia do "partido brasileiro", que ainda durante o primeiro reinado enfrenta os portugueses através da luta contra o absolutismo de Pedro I. O Segundo Império estabiliza o domínio político dos grupos de base latifundiária, o que é expresso pela calmaria política do período. Á proclamação da República caracterizará a transferência do poder do antigo latifúndio escravocrata para a lavoura cafeeira ascendente, assim como o crescimento da importância do grupo burocrático-militar; mas permanecem as mesmas estruturas de dominação locais, que se organizam para a participação nos governos centrais através dos processos do Coronelismo.
III - O coronelismo e o poder
É dentro deste quadro geral que vai se inserir o fenômeno do coronelismo. Corresponde à fase em que o sistema de poder oligárquico de tipo patrimonialista entra em decadência, e é substituído por um sistema de compromisso que supõe, de um lado, a manutenção de poderes locais por grupos oligárquicos, mas por outro o crescimento da participação do governo central, ou estadual, na vida dos municípios(46) . Se o governo central necessita do apoio das situações estaduais, e estas dos chefes locais, estes dependem dos governos para uma série de benefícios, utilização em causa própria do funcionalismo, de erário público, polícia e demais instrumentos governamentais(47). Colocando-se ao lado des governos, os chefes locais se asseguram liberdade total de movimentos e instrumentos de coação contra opositores. O coronelismo é assim essencialmente governista(48), realizando a manipulação eleitoral das populações rurais em função de compromissos de governo, traduzindo siglas e programas políticos partidários em denominações locais ou individuais que expressam grupos oligárquicos locais em oposição.(49)
A estrutura de poder no Brasil, desde o Império até recentemente, tem se caracterizado pela centralização de poder e predomínio de grupos rurais. Na República Velha "a concentração de poder continua a processar-se na órbita estadual exatamente como sucedia na esfera provincial durante o Império" (50). E esta concentração de poder tem sempre a mesma base: após as perturbações do período regencial, "reestabelecida a ordem, que significava principalmente centralização política, e abafadas as pretensões das categorias inferiores da população, a paz interna vai assentar na solidez da estrutura agrária, fundada na escravidão, e as contendas política. passarão a travar-se no plano nacional e no seio da poderosa classe dos senhores rurais"(51). Variando o eixo político segundo o itinerário da riqueza agrícola, a mesma linha de centralização é mantida. "A concentração de poder em nosso país, tanto na ordem nacional como na provincial ou estadual, processou-se através do enfraquecimento do município. Não existe a menor contradição no processo".
A classe dos proprietários rurais como senhora indiscutível do poder político, nem por isso o sistema do coronelismo pode deixar de ser considerado como "uma relação de compromisso entre o poder privado decadente e o poder público fortalecido'; nem por isso a estrutura política brasileira deixa de apresentar o paradoxo aparente do amesquinhamento do poder municipal exatamente onde se manifesta a força dos "coronéis" ante o governo central, por eles mantido e apoiado.
Duas ordens de fatos explicam o paradoxo aparente, a primeira relativa às próprias classes rurais, a outra à composição do Estado brasileiro em relação a outros grupos sociais.
No que se refere às classes rurais, já assinalamos que o amesquinhamento formal da autonomia municipal é compensado pela ampla autonomia que lhe é concedida de fato, quando seu controle político é exercido pela facção situacionista, ou que a ela adere. " É justamente nessa autonomia extra-legal que consiste a carta-branca que o governo estadual outorga aos correligionários locais, em cumprimento de sua prestação no compromisso típico do 'coronelismo' "(52) . Além do mais, dentro da própria classe dos proprietários rurais existem diferenciações acentuadas que determinam que, enquanto umas participam diretamente do poder central, outras dependem do compromisso mútuo para a simples manutenção da hegemonia local; ao desenvolvimento da lavoura do café, que coloca seus representantes na execução direta da política financeira do governo, corresponde de outra parte uma decadência da lavoura açucareira, que passa, em muitas regiões, a consistir apenas em hegemonias locais. incapazes de subsistir sem apoio governamental, sem o compromisso do coronelismo.
Por outra parte, o Estado brasileiro não é composto exclusivamente dos representantes rurais, mas assume configuração peculiar: consolida-se como "estamento burocrático"(53) que, realizando a politica das classes latifundiárias e dos demais grupos de pressão que se lhe apresentam historicamente, adquire relativa autonomia e institucionalização. As origens da constituição estamental do Estado brasileiro se prendem a peculiaridades próprias do Estado português ao término do período colonial. E mesmo liberto da administração portuguesa, vai se configurando como "estado cartorial", cuja estrutura administrativa tem seu fim em si mesma, dentro de uma politica clientelistica que une o campo à cidade; as classes rurais, base do poder político, obtém o apoio das classes médias mantendo-as na administração.
Além destes fatos, a concentração do poder político se impõe, de início, corno indispensável à própria manutenção da estrutura rural: o surgimento das formas de trabalho livre, com o inicio do desenvolvimento urbano e industrial, colocava em cheque o estatuto da escravidão. "E como não seria possível a coexistência no mesmo país, de dois regimes de trabalho antagônicos, os escravocratas, que dominavam o cenário político nacional, não poderiam deixar de recorrer a centralização para resguardar, em todo o Império, a continuação da escravatura"(54).
Unindo-se esta necessidade da lavoura escravocrata com os interesses do setor burocrático, o processo de centralização tende a se desenvolver de forma irreversível. O grupo burocrático desenvolve-se grandemente com a estruturação do exército a partir da Guerra do Paraguai, com o crescimento progressivo do funcionalismo público, e inclusive com o desenvolvimento de uma elite política que, de origem rural, radica-se nas capitais valendo-se de suas origens como "bases" políticas, às quais satisfazem em reivindicações específicas, mas nas quais não voltam a submergir. O crescimento das funções do Estado, o desenvolvimento industrial e urbano,a necessidade de uma politica econômica complexa e integrada em relação ao café, e tantos outros fatos de dispensável enumeração, fazem com que a participação dos municípios e regiões rurais na vida politica seja cada vez mais através do processo de manipulação politica que é o coronelismo, em que apoiar o governo é a única forma de conservação de hegemonias locais; e em que este apoio é indispensável para o governo que, assim, jamais tocará na estrutura social do campo que dá ensejo ao coronelismo.
IV - Manipulação política do coronelismo.
Não nos deteremos, propriamente, no processo de manipulação política realizado pelo coronelismo, conhecido como o sistema de "votos de cabresto", pelo qual os chefes políticos locais dominam grande quantidade de eleitores. Primitivamente, este votos eram garantidos por uma série de procedimentos extra-legais ("atas falsas", "currais eleitorais", etc)(55) , mas baseados na real ascendência dos "coronéis", corno atesta a sobrevivência do sistema após o aperfeiçoamento da legislação eleitoral(56). E as razões desta ascendência não são difíceis de encontrar: "completamente analfabeto, ou quase, sem assistência médica, não lendo jornais nem revistas, nas quais se limitam a ver as figuras, o trabalhador rural, a não ser em casos esporádicos, tem o patrão na conta de benfeitor. É dele, na verdade, que recebe os únicos favores que sua obscura existência conhece. Eu tal situação, seria ilusório pretender que esse novo pária tivesse consciência do seu direito a uma vida melhor e lutasse por ele com independência cívica. O lógico é o que presenciamos: no plano político ele luta com o "coronel" e pelo "coronel". Aí estão os votos de cabresto, que resultam, em grande parte, de nossa organização econômica rural(57).
Alienação ReligiosaA alienação religiosa no pensamento de Karl Marx
admin 14 de outubro de 2011 29
Danilo dos Santos Gomes
Karl Marx define a religião pura e simplesmente como uma projeção de nossa realidade terrena para um plano superior metafísico. A religião consiste para ele em um mundo fantástico, criado pela mente humana que tenta dar a certos fenômenos naturais um ar sobrenatural, isto significa que religião com o seu Deus não passa de uma mera ilusão, algo a que não se deve dar crédito.
Para aqueles que estudam, estudaram ou têm pelo menos uma noção de história da filosofia, veremos que vários autores em sua antropologia não hesitaram em afirmar que o homem é um ser dotado de carência. Marx é um destes:
Ele define a natureza humana por suas carências ou necessidades e pela dialética da satisfação dessas necessidades, desdobrando-se seja na relação do homem com a natureza exterior pelo trabalho, seja em sua relação com os outros homens pela natureza (LIMA VAZ, 2000, p. 129).
O homem, segundo Marx, é aquele que produz, homo faber (NOGARE, 1990, p. 101). Ele está sempre a produzir algo para suprir suas necessidades para facilitar sua vida, gerando assim seu bem-estar. Sendo o homem, como vimos, frágil, isso significa que ele necessita de algo para preencher sua existência. A partir de suas dificuldades ele passou a criar não só elementos materiais, mas criou também um ente e um lugar metafísico, uma espécie de muleta para suportar o peso e as exigências de sua vida, visto que a matéria não consegue preencher ou responder certas questões que envolvem a vida humana tais como a morte e o sofrimento. Daí a criação de um Deus transcendente, que possa apoiar todas as suas dificuldades e esperar que este mesmo Deus possa acalentá-lo em seu desterro e recompensá-lo futuramente com bens celestiais e uma vida eterna. A religião, portanto, para Karl Marx, passa a uma ilusão, alienação, ou num dizer mais marxista “um ópio” para amenizar o sofrimento.
Uma teoria marxistas sustentam, como por exemplo, Engels, é que a religião surgiu através do espanto, medo. Ao observar a fúria de certos fenômenos naturais que ocorriam ao seu redor os homens primitivos começaram a atribuir tais forças a alguma entidade sobrenatural, e a partir desta descoberta ele passou a criar certos ritos e oferecer determinados sacrifícios para apaziguar a divindade ofendida. Passaram a acreditar também que certas dádivas, tais como chuva para os campos, boa colheita são sinais da benevolência divina (FADDEN, 1963).
O que deve ficar bem claro, nesta teoria, é que o medo criou a divindade. Deus nada mais é que o reflexo do próprio homem. Foi o homem quem criou a divindade e não o contrário. A religião com os seus ritos são apenas manifestações de um homem desesperado e indefeso diante da fúria da natureza. “A religião nasceu com o método supersticioso para mitigar os horrorosos efeitos das forças naturais” (FADDEM, 1963, p. 150).
Um fator que provavelmente influenciou o pensamento de Marx contra a religião foi a sua história de vida. Ele viveu em um ambiente em que os cidadãos não podiam exercer as profissões se não fossem cristãos. A família de Marx era de origem judaica, seu pai aceitou o batismo na igreja luterana, simplesmente para exercer sua profissão. “A imposição externa de um credo religioso certamente contribuiu para orientar religiosamente o espírito de Marx, que, com toda a probabilidade, foi ateu desde a mocidade” (ROVIGHI, 1990, p. 78).
Outra grande influência que marcou Karl Marx foi o pensamento filosófico de Feuerbach: “Consta que nos primeiros e mais decisivos anos de sua atividade filosófica, entre 1841, data da publicação da obra a Essência do cristianismo, e 1844 Marx foi um entusiasta feuerbachiano” (NOGARE,1990, p. 89).
Feuebarch, em Essência do cristianismo, afirma que a criatura inventou o criador e, portanto, é ela verdadeiramente o criador. Deus é um reflexo do próprio homem, uma projeção, uma inversão dos desejos humanos, um produto no qual o homem finito precário e dependente projeta seus desejos e possibilidades de perfeição, onipotência. A religião consiste no sentimento mais puro e absoluto do homem. O homem deseja para si o que nele mesmo não encontra, como por exemplo: o ideal de justiça, bondade e virtude. Deus é um homem genérico que idealizamos e que não conseguimos realizar por nós mesmos (NOGARE, I990).
Marx viu na ideologia de Feuerbach a resposta para destronar a grande farsa que é a religião. Talvez tenha encontrado em suas palavras o forte instrumento que tanto precisava para a libertação do homem de uma ideologia religiosa, alucinante, que ensinava que o homem deveria rejeitar o sensível tendo em vista o imaterial, abstrato, aceitar o sofrimento, a exclusão, deveria negar a si próprio, ou seja, perder a sua identidade visando o próximo. Ter uma atitude passiva diante de seus opressores tendo assim uma atitude de pseudo-humildade. Por fim, a religião alienava o povo fazendo-o acreditar que quanto mais lhe faltasse algo nesta vida mais teria na eternidade. A religião transformava os homens em marionetes fazendo-os cumprir sem reclamar ou blasfemar as leis que lhes foram impostas por Deus, pela moral e por uma sociedade decadente.
Marx certamente vibrou ao ler estas audaciosas palavras de Feuerbach:
Temos de colocar no lugar do amor de deus, o amor dos homens, como uma única, verdadeira religião, no lugar da fé em um deus, a fé no homem em si, em sua força, a fé em que o destino da humanidade não depende de um ser fora ou acima dela, mas dela própria, que o único diabo do homem é o próprio homem (NOGARE, 1990, p. 90).
Podemos nos perguntar: o que é alienação?
Etimologicamente, vem de alienar = tornar alheio; alienar-se = tornar-se alheio. Como se vê, o termo significa uma noção relativa e não pode, pois, entender-se exatamente sem a especificação do segundo termo da relação ao qual se opera a alienação (NOGARE, 1990, p. 93).
Alienação em Marx, como também em Feuerbach, é uma transferência de nossa consciência para uma realidade fora de nós. Daí a comparação da religião com o ópio. Por que Marx comparou a religião com o ópio? O ópio é um coquetel de plantas alucinógenas, possui um efeito sedativo. Ele acalma os nervos, intoxica a mente, fazendoseus usuários delirarem, criando assim um mundo imaginário onde eles vivem as suas fantasias. Karl Marx quer afirmar com essa comparação o seguinte: “A religião, por sua natureza e atividade, visa os sofrimentos físicos e mentais da vida, prometendo maior ventura num estado futuro da existência” (FADDEN, 1963, p. 151).
A religião é um anestésico na terrível e dolorosa existência do homem. Para Marx, a religião não passa de uma “quimera”, ilusão, e aqueles que aderem a tal alucinação, são fracos e incapazes de enfrentar suas dificuldades. “A religião é o ópio do povo, porque engana o homem, induzindo-o a pensar que deve aceitar com mansidão o seu presente estado de vida” (FADDEN, 1963, p. 154). Por isso, para Marx, somente quando a religião for destruída é que o homem recuperará a sua liberdade e dignidade.
Vivemos hoje em nossa sociedade uma busca pelo transcendente. O número de religiões e correntes espirituais tem crescido exacerbadamente. Hoje se promete tudo e ao mesmo tempo nada, as pessoas podem escolher o lugar em que elas se sentirem melhor sem comprometimento, a religião começa a ser vista como uma terapia. Muitos fazem dela um esconderijo, um abrigo, através do qual elas podem negar ou esconder suas misérias. Outros a fazem como instrumento de exploração, em que o dinheiro extorquido de uma classe necessitada constitui o crescimento e enriquecimento de outros.
Nesse aspecto, podemos dizer que Karl Marx estava correto ao afirmar que a religião é alienação, narcótico espiritual. O homem cria uma falsa ideia de Deus e passa a acreditar que de fato ele existe. Projeta na maioria das vezes sua própria consciência e cria uma ideologia escravizante, que tiraniza o homem em vez de libertá-lo. São exemplos disso os fanatismos e o fundamentalismo.
Ao mesmo tempo em que vivemos esta busca pelo transcendente, estamos em uma crise. Infelizmente as ditas religiões e correntes espirituais não libertam, mas aprisionam o homem em duras cadeias, apresentando ora um deus materialista, em que somente os que possuem bens são agraciados, ora espiritualista demais, em que a matéria e a vida terrena devem ser deixadas de lado, tendo em vista a eternidade. De fato a natureza divina varia de acordo com a necessidade daqueles que a adoram

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