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PLANEJAMENTO EM GESTÃO DE PESSOAS Caroline Capaverde Planejamento estratégico em gestão de pessoas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Relacionar informações sobre o planejamento estratégico em gestão de pessoas. Identificar recursos humanos e materiais para a implementação do planejamento estratégico em gestão de pessoas. Elencar métodos de avaliação do planejamento estratégico de um contexto organizacional. Introdução A gestão de pessoas é estratégica para um negócio na medida em que engloba um conjunto de políticas e práticas relacionadas a recursos materiais e capital humano. Além disso, se a gestão de pessoas se vincula aos objetivos do negócio, ou se torna também um objetivo organiza- cional, pode contribuir significativamente para o alcance dos resultados almejados pela empresa, que podem ser desdobrados em vantagem competitiva em um contexto de mercado globalizado e exigente em inovação e performance. Assim, o planejamento estratégico de políticas e práticas de gestão de pessoas influencia muito o desempenho organizacional, seja a sobrevi- vência da empresa em um contexto competitivo, seja o alcance de uma posição de destaque em dado segmento. Nessa linha, é importante que as empresas não apenas atentem ao planejamento, mas também somem esforços para implementar e acompanhar o alcance das políticas em curso. Elas devem considerar a influência do contexto, do mercado, dos colaboradores e da tecnologia, que interagem no campo prático, legiti- mando ou não a eficiência de determinado planejamento organizacional. Neste capítulo, você vai estudar o planejamento estratégico em gestão de pessoas. Você vai conhecer os recursos disponíveis para a implementa- ção de um planejamento que traduza as estratégias da gestão de pessoas para a consecução dos fins do negócio. Além disso, você vai ver como avaliar o planejamento implementado. 1 A importância do planejamento estratégico Com o crescimento exponencial da produção, do compartilhamento e do acesso ao conhecimento, a valorização das pessoas, que representam o capital intelectual das organizações, gera novas demandas. Tais demandas aglu- tinam a atenção e mobilizam esforços das empresas para se diferenciarem e sobreviverem no mercado, em um ambiente amplamente especializado e tecnologizado (SNELL; BOHLANDER, 2009). A seguir, você vai verifi car como o planejamento em gestão de pessoas tornou-se, ao longo do tempo, estratégico para as empresas alcançarem seus objetivos, na medida em “[...] que suas políticas e práticas devem criar capacidades organizacionais que levem à obtenção de melhores resultados” (DEMO; FOGACA; COSTA, 2018, documento on-line). Para começar, você vai acompanhar um breve panorama histórico da gestão de pessoas. Considerando o percurso trilhado pela área, pode-se identificar cinco fases evolutivas da gestão de pessoas, a partir de aproximadamente 1930 (FOLLMANN; SZIMINSKI; COLTRE, 2011). Fase contábil ou pré-histórica: o chamado “departamento de pessoal” estava centralizado em funções burocráticas, responsabilizando-se somente pelo cumprimento das exigências legais da empresa em relação aos seus colaboradores. Nessa primeira fase, a gestão de pessoas “esteve preocupada com os custos da organização”, com o estabelecimento de “[...] relação de compra de mão de obra” (FOLLMANN; SZIMINSKI; COLTRE, 2011, p. 253). Fase legal: ocorreu entre 1930 e 1950. Nesse período, surgiu a função de chefe de pessoal, profissional cuja preocupação era acompanhar e respeitar as leis trabalhistas. Planejamento estratégico em gestão de pessoas2 Fase tecnicista: essa terceira fase ocorreu no período de 1950 a 1965, quando os Recursos Humanos (RH) passaram a realizar tarefas como treinamento, recrutamento e seleção, considerando cargos e salários, segurança no trabalho, etc. Fase do estabelecimento de relações de trabalho: esse período com- preende aproximadamente os anos de 1965 a 1985, em que a “indústria” voltou-se para as relações humanas, “sindicatos e sociedade”. O gestor de pessoas era chamado de “gerente de RH”. Fase estratégica: de 1985 em diante, o planejamento a longo prazo assume papel importante para viabilizar o alcance das estratégias organizacionais. Como você viu, desde o final do século XX, as organizações precisam fazer frente à acirrada competição pelo protagonismo do mercado. Nesse contexto, emerge a necessidade de desenvolver ferramentas e subsídios para enfrentar os desafios impostos na chamada “era da hipercompetição”. Para tanto, é fundamental compor uma estratégia e elencar os caminhos a serem trilhados, de forma a garantir a manutenção do negócio e o sucesso da organização. Para Becker, Huselid e Ulrich (2001), a realidade atual impulsiona a gestão de pessoas a desenvolver funções mais estratégicas. Logo, surge o desafio de essa área atuar como parceira no desempenho organizacional. Abordagem estratégica na gestão de pessoas Na área de gestão de pessoas, a abordagem estratégica contempla estes ele- mentos: compreensão de que as pessoas constituem o recurso necessário para obter “[...] vantagem competitiva; uso de planejamento; coerência de políticas e práticas de emprego (alinhamento interno); integração de políticas e práticas de emprego com a estratégia de negócios (alinhamento externo); administração proativa em vez de reativa” (LACOMBE; CHU, 2008, documento on-line). Além disso, também estão em jogo as decisões relacionadas à relação de emprego, a serem defi nidas pelo alto nível hierárquico. Assim, a abordagem estratégica em gestão de pessoas parte da percepção de que a organização atua em um ambiente extremamente dinâmico, que recebe influências de forças externas e internas, em constante mudança, o que exige a adoção de novas estratégias para a empresa manter-se competitiva. Então, essa área não é mais somente responsável por lidar com contratações, treinamento e desenvolvimento, saúde e segurança no trabalho, desempenho comportamental e funcional. Ela também ajuda a lapidar o profissional de que 3Planejamento estratégico em gestão de pessoas as empresas atualmente necessitam, propiciando um ambiente de crescimento organizacional, profissional e pessoal, tendo como premissas e princípios a visão, a missão, os valores e os objetivos da organização, além de valores éticos, empreendedorismo, etc. Um exemplo prático e viável de estratégia que uma organização pode utilizar na gestão de pessoas, que muitas vezes sequer demanda investimentos monetários, é implantar a cultura do feedback — um dos objetivos do planejamento estratégico é a transparência com os stakeholders (LACOMBE; CHU, 2008). Na perspectiva da gestão estratégica de pessoas, as políticas e práticas envolvidas são aprimoradas com vistas a promover de forma mais efetiva o alcance dos objetivos organizacionais (DEMO; FOGACA; COSTA, 2018). Alguns autores diferenciam políticas e práticas na gestão de pessoas, como Demo, Fogaca e Costa (2018), que sugere que as políticas coordenam as práticas para que estas tenham coerência e persigam um mesmo caminho, enquanto as práticas de gestão de pessoas representam as ações de fato realizadas. Para Leite e Albuquerque (2011), a estratégia de gestão de pessoas traduz a orientação da organização no que diz respeito ao fator humano, em concor- dância com as práticas de gestão da organização como um todo. A base da gestão estratégica de pessoas está, assim, na aproximação com as estratégias organizacionais, para melhor entendê-las; mais do que isso, a gestão de pessoas deve colaborar diretamente para o alcance dos objetivos e metas propostos. Trata-se de ir além de um foco especificamente operacional, atuando de forma estratégica, como você pode ver no Quadro 1, a seguir. Planejamento estratégico em gestão de pessoas4 Fonte: Adaptado de Mello (2011). Variável Gestão de pessoas tradicional Gestão de pessoas estratégica Responsabilidade da gestão de pessoas Especialistas de staff (profissionais da área de gestão de pessoas). Gestores de linha e especialistas de staff. Foco Relações com os colaboradores. Parcerias com clientes internos e externos. Papel da gestão de pessoas Transacional, seguidor e respondente a mudanças. Transformacional, líder e iniciador de mudanças. Iniciativas Lentas, reativas e fragmentadas. Rápidas, proativas e integradas. Horizonte de tempo Curto prazo. Curto, médio e longo prazo (conforme necessário). Controle Burocrático (papéis, políticas e procedimentos). Orgânico (flexível, o que for necessário para ter sucesso). Design do trabalho Divisão do trabalho rígida, independência, especialização. Amplo, flexível, treinamento cruzado, trabalho em equipe. Principais investimentos Capital, produtos. Pessoas, conhecimento. Prestação de contas Centro de custos. Centro de investimentos. Vinculação com a estratégia da organização Resposta aos objetivos estratégicos via definição de estratégias funcionais. Integração com a estratégia corporativa e com as demais estratégias funcionais. Quadro 1. Características da gestão de pessoas nas versões tradicional e estratégica Na perspectiva estratégica apresentada no Quadro 1, fica claro que a gestão de pessoas pode encontrar espaço para demonstrar sua relevância na estraté- gia corporativa. Para alcançar esse propósito com excelência, Ulrich (2000) 5Planejamento estratégico em gestão de pessoas apresenta às organizações quatro formas de a gestão de pessoas contribuir com o sucesso da organização. Veja a seguir. Atuar como parceiro na execução da estratégia: isso é possível por meio da definição da estrutura organizacional de processos de traba- lho, cultura, competências, recompensas, direção e liderança. A partir dessa estrutura, a gestão de pessoas pode orientar a gerência sobre a necessidade de adequar, por exemplo, as competências dos supervi- sores às estratégias organizacionais. Além disso, pode verificar se as características da organização estão de acordo com as estratégias, assim como liderar e propor as mudanças necessárias. Atuar como especialista administrativo: a ideia é realizar os processos rotineiros referentes à área de gestão de pessoas de forma mais rápida, barata e eficiente. A otimização desses processos não se reflete apenas nos custos do empregador, mas principalmente no tempo despendido. Agilizando as tarefas rotineiras, o gestor de pessoas pode ocupar-se das tarefas estratégicas. Atuar como defensor dos funcionários: a gestão de pessoas deve representar os funcionários perante a alta gestão, oferecendo-lhes cres- cimento pessoal e profissional, além dos recursos necessários para que executem o seu trabalho. Os funcionários precisam se sentir represen- tados e ter confiança na gestão de pessoas para se comprometerem com a organização. Atuar como agente de mudanças: implica desenvolver a capacidade de adaptação da empresa frente às diferentes condições de mercado. Deve-se reduzir o tempo de ciclo para a inovação e fazer com que os funcionários percebam o seu papel na estratégia da empresa, para que se comprometam com a busca dos objetivos organizacionais. As mudanças normalmente causam desconforto e medo nas pessoas, que tendem a resistir e a não aceitar facilmente as novas práticas. O pro- cesso de mudança é árduo, e os profissionais de gestão de pessoas não o realizam sozinhos; eles precisam tanto do apoio da alta cúpula como da aceitação dos trabalhadores. Para isso, deve-se adotar um modelo de mudança claro para todos, a fim de obter a confiança dos membros da organização. Essas formas estratégicas de atuação na gestão de pessoas, segundo Ulrich (2000), sintetizam as principais ações que os profissionais dessa área devem realizar para construir uma gestão voltada à criação de valor. Para isso, se- Planejamento estratégico em gestão de pessoas6 gundo o autor, esses profissionais devem focar cada vez mais os resultados tangíveis de seus trabalhos. Ou seja, eles devem gerar valor para o negócio ao capacitar, estimular e motivar as pessoas em direção aos objetivos orga- nizacionais. Trata-se, assim, de articular seus papéis ao valor que agregam e aos resultados do negócio. 2 Recursos humanos e materiais O debate em torno do planejamento estratégico em gestão de pessoas suscita refl exões sobre o conceito de planejamento: planejar é uma das funções da administração, juntamente a controlar, organizar e liderar. A ação de plane- jar, assim, envolve a perspectiva de futuro e a orquestração de ações para administrar as variáveis (organizacionais e de pessoas) que infl uenciam a defi nição de onde a empresa pretende chegar. Sem o planejamento, apenas com o movimento intuitivo da prática pela prática, vários recursos organizacionais fi cam à deriva e sujeitos a resultados inesperados. Há dois tipos de planejamento: operacional — relaciona-se ao modo como o planejamento estratégico é colocado em prática; estratégico — elaborado pela alta gerência, contempla os procedimentos adota- dos pela organização para alcançar seus objetivos fundamentais (FISCHER, 1998). Da mesma forma que a organização desenvolve seu processo de plane- jamento estratégico global — desmembrando objetivos, estratégias e planos de ação —, a área de gestão de pessoas deve definir, com clareza, as suas atribuições no contexto global da organização. Assim, o processo de pla- nejamento estratégico de gestão de pessoas é constituído ao mesmo tempo que o planejamento estratégico global da organização, a partir de definições relativas a como a área pode e deve contribuir para o alcance dos objetivos empresariais (FISCHER, 1998). Nessa perspectiva, a estratégia de gestão de pessoas segue etapas sequen- ciais e se dá de forma estratégica, tática e operacional para atender às neces- 7Planejamento estratégico em gestão de pessoas sidades organizacionais. Ela busca identificar o que fazer, como fazer, quando agir estrategicamente ou que estratégia aplicar para alcançar os objetivos macro definidos para toda a organização. Assim, por exemplo, se a empresa quer ingressar em um novo mercado internacional, a gestão de pessoas vai se preocupar com o que é preciso fazer hoje com os colaboradores para que esse objetivo da organização se realize: Novas contratações? Treinamento e desenvolvimento? Práticas experimentais no contexto em curso? De acordo com Fischer (1998), o planejamento estratégico em gestão de pessoas refere-se à construção de um conjunto de políticas e práticas para a promoção e a organização de comportamentos, interações e comunicações humanas no ambiente de trabalho em prol da sustentabilidade e da missão da organização. As etapas do planejamento estratégico na gestão de pessoas são as mesmas do planejamento tradicional, como você pode observar a seguir. Análise da estratégia definida: identificar a estratégia global que a empresa definiu em relação à gestão de pessoas e em comparação ao mercado externo (políticas gerais, de benefícios, treinamentos, entre outras), de forma a verificar se as estratégias estão coerentes e o que será alcançado. Avaliação do ambiente: identificar cenários futuros (se haverá falta ou necessidade de algum tipo de profissional ou treinamento específico, por exemplo) e os objetivos que os profissionais esperam que a organização os ajude a alcançar. Definição de perfil estratégico de atuação: delinear objetivos e es- tratégias, o que implica que a gestão de pessoas considere os interesses da área e o contexto empresarial global. Quantificação dos objetivos: estimar o quanto será dispendido em valores referentes a salários, treinamento e desenvolvimento, benefícios e outros elementos, avaliando a viabilidade de implementar os objetivos propostos na etapa anterior. Finalização: elaborar um relatório do plano estratégico em conjunto com a alta administração. Tal relatório deve ser discutido com as diversas áreas da empresa. Divulgação: transmitir os planos estratégicos às pessoas que tenham um nível decisório na empresa e fazer uma divulgação mais ampla a todos os funcionários de gestão de pessoas, esclarecendo a importância das medidas e a sua interação com a avaliação de desempenho dos colaboradores. Planejamento estratégico em gestão de pessoas8 Integração com o plano tático: inserir a estratégia no plano tático, que envolve, por exemplo, a definição do orçamento. Deve-se verificar se os orçamentos iniciais foram mantidos no plano tático e os impactos de eventuais cortes ou alterações no orçamento sobre o planejamento estratégico de gestão de pessoas. Acompanhamento: controlar constantemente, atentando às formas de realização de tudo o que foi planejado. O processo que você acabou de ver pode ser adaptado, mas deve sempre incluir a análise do ambiente da empresa, os objetivos e metas condizentes com estruturas e planos desenhados e as ações propostas — estas últimas congruentes com a implementação estratégica. A seguir, veja algumas das vantagens da implementação do planejamento estratégico de gestão de pessoas. Atração e retenção de talentos: o cuidado em proporcionar ações diferenciadas e ambiente de trabalho estimulante, desafiador e gratifi- cante demonstra a preocupação da empresa com seus colaboradores. Tal cuidado também indica que a organização busca crescimento interno e externo, o que cria uma boa reputação no mercado. Rotatividade: a atenção aos elementos que compõem esse índice faz com que a empresa não precise arcar com tantos custos e prejuízos imateriais relacionados ao alto índice de rotatividade. Maior produtividade: o planejamento adequado e uma gestão de metas desafiadoras, atingíveis, com ações motivacionais adequadas, influenciam muito a produtividade da organização. Menos custos operacionais: com o planejamento adequado e as métricas de acompanhamento, evitam-se desperdícios e prejuízos. Comunicação corporativa: a comunicação empresarial interna fica mais efetiva se o planejamento exprime expectativas e alinha objetivos. A transparência, a objetividade e a facilidade para expor ideias geram comprometimento. Implementação do planejamento estratégico em gestão de pessoas Considerando os RH necessários para a implementação de um planejamento estratégico, pode-se destacar o papel do líder. Nesse contexto do planejamento estratégico em gestão de pessoas, o líder, que pode ser o gestor ou diretor da área de gestão de pessoas (mas que tem espaço na alta administração), não 9Planejamento estratégico em gestão de pessoas atua apenas no cargo de gerência da área. Ele deve apresentar as características esperadas do líder na contemporaneidade, tais como: responsabilidade; adap- tabilidade; capacidade de descentralizar a tomada de decisão, de mobilizar a participação coletiva de sua equipe, de estabelecer vínculos de confi ança, de promover comunicação horizontal e assertiva, de compartilhar informações, de direcionar atividades conforme os objetivos da empresa, de auxiliar no desenvolvimento individual de cada membro do seu time, de oferecer suporte social para o engajamento de sua equipe, etc. (TURANO; CAVAZOTTE, 2016). Se do líder são esperadas diversas competências, tanto técnicas quanto comportamentais, na condução de sua equipe, do colaborador e dos demais atores organizacionais espera-se participação, colaboração e compartilhamento de experiências e saberes na consecução das estratégias de gestão de pessoas e de negócios. Os RH, de forma geral, são importantes para a condução do planejamento e de políticas diversas em gestão de pessoas, umas engrenadas às outras, representando a estratégia do negócio em diferentes níveis. Assim, o capital humano de uma empresa (seja gestor, seja técnico) deve protagonizar as ações cotidianas em torno da execução das estratégias organizacionais. Complementarmente, a empresa necessita de diferentes recursos materiais para colocar em prática o que planejou para o conjunto de atividades realizadas, em busca de objetivos comuns. Para promover, por exemplo, o desenvolvimento da equipe (líderes e técnicos), é necessário investimento financeiro para custear cursos de pós-graduação, para a realização de provas de certificação, para cursos de idiomas, para cursos de atualização técnica, para participação em palestras, seminários e congressos de temas congruentes com o escopo da empresa, para acompanhamento em saúde mental no trabalho, para oficinas de criatividade, etc. Além disso, o acesso à tecnologia de ponta, a máquinas e ferramentas (de- pendendo do segmento da empresa), entre outros recursos, também é importante para o atendimento de demandas de gestão de pessoas que representem apoio ou consecução direta das metas estratégicas da empresa. Recursos materiais, por fim, também significam mecanismos de sedução aos colaboradores, na me- dida em que são compreendidos como recompensas simbólicas e/ou materiais para processos de gestão de pessoas. É o caso da política salarial, igualmente importante para a implementação do planejamento estratégico em gestão de pessoas (HOMEM; OLTRAMARI; BESSI, 2009). Planejamento estratégico em gestão de pessoas10 Na prática, há empresas que priorizam determinados programas e planejamentos em gestão de pessoas para orientar as ações do seu time em consonância com as metas e objetivos do negócio, mas sem atentar às competências dos colaboradores, às possibilidades e ao tempo disponível para treinamento e desenvolvimento, ou à necessidade de recrutar funcionários com novas competências específicas. É impor- tante, dessa forma, avaliar de que modo as pessoas da organização estão preparadas para agir em direção a determinada decisão do negócio e o que é preciso fazer, em gestão de pessoas, nesse sentido. Considere, por exemplo, que a organização X prioriza o reconhecimento no mercado (concorrência e parceiros) pela criatividade e pela inovação; entretanto, internamente, incentiva seus colaboradores nessa direção por meio de políticas remuneratórias incipientes. Por sua vez, a empresa Y está focada em fidelizar clientes e encantá-los, mas pouco investe para desenvolver os colaboradores que atendem os clientes em aspectos como engajamento e bem-estar no trabalho, atualização técnica, clima positivo, suporte e habilidade social. Nesse contexto, como falar de satisfação na entrega de um produto ou serviço se quem cria, produz e vende está descolado da perspectiva de atualização política e prática? 3 Avaliação do planejamento estratégico Nas organizações, estratégias de mensuração são importantes na medida em que auxiliam a empresa a acompanhar o curso (sucesso ou fracasso) da experiência (prática) de determinado planejamento, projeto. Assim, avaliar o planejamento estratégico em gestão de pessoas mais pormenorizadamente pode signifi car a mobilização de um conjunto de métodos e metodologias qualitativas (observação, roteiros semiestruturados abertos) e quantitativas (indicadores) para acompanhar o que está ou não acontecendo no cotidiano organizacional. Em outras palavras: tal planejamento é (foi ou está sendo) efetivo para os rumos do negócio? O que pode ser atualizado? O que deve ser suprimido por não alcançar resultados esperados ou por representar riscos à empresa? (BITENCOURT et al., 2010). De forma geral, a avaliação do planejamento estratégico das empresas pode ser realizada por meio de pesquisa qualitativa ou quantitativa (além de quanti- qualitativa), dependendo do que se deseja analisar. Nos manuais tradicionais de gestão de pessoas, aparece em destaque a ideia de controle (CHIAVENATO, 11Planejamento estratégico em gestão de pessoas 2003). O controle sobre os processos de gestão nas organizações destaca-se como uma ação eficaz para a orientação relativa aos procedimentos de plane- jamento, execução e avaliação das estratégias organizacionais, com vistas ao alcance dos objetivos planejados, para fazer frente às mudanças que impactam a administração das empresas. Para Chiavenato (2003), o controle contempla um processo que direciona a atividade exercida para um fim previamente definido; a essência do controle é verificar se a atividade controlada está ou não alcançando os resultados pretendidos. Segundo Horngren, Foster e Datar (2000), a efetividade dos sistemas de controle de uma organização está diretamente relacionada a alguns elementos fundamentais: relação com as estratégias e metas da organização; compa- tibilidade com a estrutura organizacional; competência para a tomada de decisão de gestores; promoção de motivação de diferentes atores no ambiente organizacional, com vistas ao cumprimento de metas e resultados. Portanto, nessa perspectiva da avaliação da gestão de pessoas, a implan- tação de controles sobre o planejamento estratégico na organização necessita ser orientada pelo estabelecimento de medidas de acompanhamento. Tais medidas devem também garantir possibilidades de avaliação, uma vez que possuem como objetivo primordial ajudar os gestores na execução dos objetivos propostos. Assim, controlar a estratégia significa, ao mesmo tempo, avaliar os seus resultados, pela comparação com o que foi efetivamente planejado, e, caso necessário, adotar medidas de atualização necessárias para atingir os objetivos. Além disso, trata-se ainda da oportunidade de identificar se todas as etapas anteriores concretizadas estão alinhadas à organização como um todo. Planejamento estratégico em gestão de pessoas12 Poncio (2016) apresenta critérios importantes para orientar a avaliação qualitativa ou quantitativa das empresas face à implementação das suas estratégias. Veja a seguir. Critérios qualitativos: utilizam-se dados avaliativos subjetivos, como os obtidos pelas respostas às questões listadas a seguir. ■ O posicionamento da empresa perante os concorrentes precisa ser melhorado? ■ Os produtos ou serviços da organização estão adequados aos seus clientes? ■ Os recursos destinados a investimentos estão adequados aos níveis tecnológi- cos, processos e produtos, de maneira a garantir um diferencial competitivo? ■ Foram identificadas novas oportunidades de negócios ainda não exploradas pelos concorrentes? Em caso positivo, a empresa tem como investir nisso? ■ Existe necessidade de implantar novos sistemas de controle administrativo? ■ As estratégias adotadas estão tendo impacto negativo na imagem da organização? ■ Os retornos esperados estão de acordo com o tempo planejado? ■ Ocorreram mudanças de cenários, adiando os retornos econômicos? ■ As estratégias têm oferecido riscos aos negócios da empresa? Critérios quantitativos: utilizam-se dados avaliativos quantitativos. Por exemplo: ■ número relativo à participação no mercado; ■ número relativo ao treinamento e ao desenvolvimento; ■ número relativo à eficiência do processo produtivo; ■ índice de satisfação dos clientes; ■ retorno sobre investimentos; ■ margem de lucro sobre vendas; ■ grau de liquidez. A empresa pode avaliar a extensão positiva dos seus projetos estratégicos para a gestão de pessoas comparando resultados anteriores e posteriores à implementação de determinada estratégia. Por exemplo, considerando o cenário multicultural de atuação das empresas na contemporaneidade, se a empresa optou por se inserir em um contexto geográfico em que a língua-mãe é o mandarim, após observar que o idioma é um obstáculo, pode criar ações em gestão de pessoas (JONES; GEORGE, 2012). Assim, pode ser importante que mais colaboradores na empresa, especialmente os que atuarão na interface com os novos clientes, dominem o idioma. Além disso, considerando o planejamento semestral em gestão de pessoas, a empresa pode avaliar, ao longo do semestre, quantos novos colaboradores selecionados também falam mandarim, quantos estão estudando mandarim, etc. Ao mesmo tempo, deve mensurar resultados (avaliação de números que 13Planejamento estratégico em gestão de pessoas indicam participação no mercado) que traduzam a expansão de mercado na China, avaliando a quantidade de novos clientes nessa região. Ainda na esteira dessa prática avaliativa, em outros termos, a área de gestão de pessoas pode realizar entrevistas semiestruturadas com os colaboradores envolvidos com ações de expansão no mercado chinês. Assim, pode coletar dados qualitativos acerca das tratativas em curso, identificando potenciais clientes a partir das informações já dispostas nas equipes. Pode também verificar, na entrevista, como a possível ampliação de recursos impacta a relação com o cliente, avaliando o domínio do idioma local como recurso para atingir mais players envolvidos na tomada de decisão em determinada potencial empresa cliente. A entrevista semiestruturada tem como característica central a utilização de um roteiro antecipadamente elaborado, com perguntas sobre o tema escolhido (MANZINI, 2003). Ela pode ser utilizada em pesquisas qualitativas, como a exemplificada. Por meio dela, o profissional de gestão de pessoas consegue coletar dados que podem ser triangulados com outros temas estratégicos analisados. A empresa também pode lançar mão de instrumentos de avaliação psi- cológica para o contexto organizacional e do trabalho (HUTZ et al., 2020). Tais instrumentos devem ser aplicados por psicólogos organizacionais, com o objetivo de avaliar, por exemplo, o desempenho de colaboradores face a novos desafios, o fortalecimento do suporte social, o bem-estar e o engajamento no trabalho, a resiliência, etc. Com a mensuração de aspectos psicológicos específicos no contexto organizacional, a equipe de gestão de pessoas pode acompanhar o desfecho de políticas de desenvolvimento coadunadas com o que foi planejado como ação estratégica. Dentro disso, mais pormenorizada- mente, pode-se utilizar a escala Vazquez-Hutz de avaliação de desempenho, instrumento construído de forma a apoiar a tomada de decisão nas empresas (VAZQUEZ; HUTZ, 2008). As dificuldades, então mensuradas em algum fator na escala, podem representar informações estratégicas para a criação e a avaliação de programas de treinamento com foco em diferentes habilidades, por exemplo. Enfim, em meio a diferentes técnicas e métodos de avaliação, na gestão de pessoas, para se obter sucesso nas estratégias, é necessário, além do pla- nejamento, um processo de controle, com averiguação e acompanhamento continuado. Assim, além de definir os pontos que deverão ser medidos, é necessário identificar os propósitos da área de gestão de pessoas, para que as medidas tomadas estejam de acordo com os resultados esperados. Depois, é importante desdobrar os objetivos em metas, para medir os indicadores da gestão de pessoas. Nessas atividades, deve-se ter o cuidado de coletar dados Planejamento estratégico em gestão de pessoas14 confiáveis para gerar uma medição efetiva. Como consequência da utilização dos indicadores e da frequência das aferições, a gestão de pessoas contará com informações para atualizar o percurso da empresa. Portanto, em todo o processo de controle e avaliação, são necessários o envolvimento dos colaboradores e a divulgação dos indicadores para o acom- panhamento do desempenho e do desenvolvimento de projetos, campanhas e ações. Assim, os envolvidos não perdem o foco e conseguem ter uma visão geral do impacto das mudanças causadas pelos indicadores, o que impulsiona a organização a trabalhar sempre para buscar melhores práticas relativas à gestão de pessoas. O balanced scorecard (BSC), traduzido como “indicadores balanceados de desempenho”, é uma das metodologias de medição e gestão de desempenho mais utilizadas. Para saber mais sobre o BSC, leia o artigo de Robert Kaplan “Balanced Scorecard: medições que impulsionam o desempenho”, disponível no link a seguir. https://qrgo.page.link/KseqG BECKER, B. E.; HUSELID, M. A.; ULRICH, D. Gestão estratégica de pessoas com “Scorecard”: interligando pessoas, estratégias e performance. Rio de Janeiro: Campus, 2001. BITENCOURT, C. et al. 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Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 17Planejamento estratégico em gestão de pessoas