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IMITADORES_DE_CRISTO_Servos_dignos_de_serem_imitados_PRONTO


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Organização 
Semeando Ideias Reformadas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Alber Pacavira | C. R. Bernardo 
 Giovanni Casimiro | Luís Mendonça | Kennedy 
Bunga 
IMITADORES DE CRISTO 
 
Servos dignos de serem seguidos 
 
3 
 
IMITADORES DE CRISTO 
Servos dignos de serem seguidos 
 
Semeando Ideias Reformadas (Org.). 
Imitadores de Cristo: servos dignos de serem seguidos 
/Semeando Ideias Reformadas (Org.). SP: Editora JUZ, 
2022. 
 
 
 
Imitadores De Cristo 
Servos dignos de serem seguidos 
 
Publicado pelo Semeando Ideias Reformadas, 2022. 
 
Você está autorizado e incentivado a reproduzir e/ou 
distribuir total ou parcialmente este eBook em qualquer 
formato, desde que não altere o seu conteúdo e nem o 
utilize para quaisquer fins comerciais. Em caso de breves 
citações, indicar a fonte. 
 
Seja tu mesmo fiel: 
“Não furtarás.” Êxodo 20:15
1 
 
 
 
Sumário 
PREFÁCIO ............................................................................................... 2 
CONTRIBUIDORES ................................................................................. 4 
AGRADECIMENTO ................................................................................. 6 
CAPÍTULO 1 ............................................................................................. 7 
WILLIAM TYNDALE: UM CORAÇÃO DESEJOSO POR TORNAR 
DEUS CONHECIDO ................................................................................ 7 
CAPÍTULO 2 ........................................................................................... 20 
O ZELO EVANGELÍSTICO DE JOÃO CALVINO ............................. 20 
CAPÍTULO 3 ........................................................................................... 34 
JOHN KNOX: O PURITANO DESTEMIDO ....................................... 34 
CAPÍTULO 4 ........................................................................................... 48 
GEORGE WHITEFIELD: UMA PAIXÃO PELO EVANGELISMO .. 48 
CAPÍTULO 5 ........................................................................................... 63 
DR. MARTIN LLOYD-JONES: UM HOMEM COMPROMETIDO 
COM A EXPOSIÇÃO DE TODO O CONSELHO DE DEUS ............ 63 
SUGESTÕES DE LEITURA: ................................................................ 75 
 
 
 
2 
 
PREFÁCIO 
 
Ao lermos sobre a história da igreja, podemos ver o 
retrato de homens piedosos, desde os apóstolos, os pais 
da igreja, os valdenses, os pré-reformadores, os 
reformadores, os puritanos, até homens dos dias actuais. 
Deus tem intervindo graciosamente por meio destes 
homens piedosos, que ele usou poderosamente em 
momentos críticos no decurso da história da igreja. “Cada 
um destes homens possuía uma fé inabalável no Senhor 
Jesus Cristo. E mais pode ser dito a respeito destes 
homens extraordinários. Cada um deles tinha profundas 
convicções sobre as verdades que exaltam a Deus, 
conhecidas como doutrinas da graça. Embora tivessem 
diferenças secundárias em questões de teologia, 
andavam ombro a ombro na defesa dos ensinamentos 
bíblicos que engrandecem a soberana graça de Deus na 
salvação”.1 Estes homens tinham os pés bem assente no 
 
1 BOND, Douglas. A poderosa fraqueza de John Knox. Trad.: 
Elizabeth Gomes. SP: Fiel, 2011, p. 11. 
3 
 
evangelho, possuíam uma fé inabalável, eram 
comprometidos com a sã doutrina. 
Este Ebook é um conjunto de artigos biográficos de 
alguns destes homens imitadores de Cristo, que 
pensamos serem pessoas dignas de serem seguidas. 
Cada capítulo deste pequeno livro foi dedicado a retratar 
uma pequena faceta da vida de William Tyndele, João 
Calvino, John Knox, Geoge Whitefield, e Martin Lloyd-
Jones. 
Este Ebook o conduzirá a uma jornada biográfica, 
onde poderás conhecer mais sobre cada um deles e 
aprender com seus legados. 
 
C. R. Bernardo 
Presbítero na comunidade cristã do Golfe 1 
Luanda, 7 de setembro de 2022 
 
 
 
4 
 
CONTRIBUIDORES 
 
Alber Pacavira - Membro e aspirante ao ministério da 
Igreja Presbiteriana de Angola (IP Nova Aliança); técnico 
médio em ciências Econômicas e Jurídicas; bachalerando 
em Teologia pelo Seminário e Faculdade Teológica da Fé 
Reformada (FATEFÉ). 
C. R. Bernardo - Presbítero na Comunidade Cristã do 
Golf 1. Técnico médio em Educação, na especialidade de 
Língua Inglesa, na Escola de Formação de Professores – 
Garcia Neto (Luanda); Licenciatura em ensino de Língua 
Inglesa pelo Instituto Superior de Ciências da Educação 
(ISCED de Luanda); bachalerando em Teologia na 
International Reformed Theological college (FITREF); 
Casado com Suzete Bernardo. 
Giovanni Casimiro - Bacharel em teologia pelo 
Seminário Emanuel do Dondi e em Direito, ramo jurídico-
público pela Universidade Metodista de Angola. Pastor na 
Igreja Evangélica Congregacional em Angola – IECA. 
Casado com Áurea da Costa. 
5 
 
Kennedy Bunga - Membro e aspirante ao ministério da 
Igreja Presbiteriana de Angola (IP da Betânia); técnico 
médio em Educação, na especialidade de Matemática e 
Física, na Escola de Formação de Professores – 
Kimamuenho (Bengo); técnico médio em Teologia pelo 
Seminário Teológico Rev. Neves Mussaqui (2017); 
bacharelando em Teologia pelo Seminário Teológico 
Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição (Brasil, 
São Paulo). 
Luís Mendonça – Bacharel em teologia pela Faculdade 
Teológica Sul Brasileira São Paulo; Pós-graduando em 
Revitalização e multiplicação de Igreja, no centro de pós-
graduação Andrew Jumper; Mestrando em Filosofia pela 
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); é aspirante 
ao ministério pastoral, auxiliando a liderança Jovem da 
IPB- Mairinque (Igreja Presbiteriana do Brasil). Casado 
com Prisca Lessa Mendonça, e pai do Asaph. 
 
 
 
6 
 
AGRADECIMENTO 
 
No momento em que este e-book segue para a 
publicação, desejamos externar nossa gratidão a todos os 
colaboradores que em meios as suas correrias dedicaram 
tempo para a produção da série Imitadores de Cristo. 
Todos são membros do Semeando Ideias Reformadas, 
um projeto que visa trabalhar conteúdos reformados para 
uma Fé Reformada. Especial gratidão ao Rev. Giovanni 
Casimiro pelo engenhoso trabalho de revisão deste e-
book. 
Também queremos externar nossa gratidão a 
editora JUZ, na pessoa do querido irmão e amigo Baptista 
José, que tão gentilmente aceitou o nosso pedido de 
publicarmos este e-book por meio da editora JUZ. 
Acima de tudo, queremos agradecer a Deus pelo 
zelo que tem semeado no coração de cada membro do 
Semeando Ideias Reformadas no desejo de ver as ideias 
reformadas germinarem na igreja angolana. 
 
7 
 
CAPÍTULO 1 
 
WILLIAM TYNDALE: UM CORAÇÃO DESEJOSO 
POR TORNAR DEUS CONHECIDO 
Luís Mendonça 
 
“Se Deus me poupar a vida, farei com que, antes 
de se passarem muitos anos, o rapaz que 
maneja o arado saiba mais sobre as Escrituras 
do que tu.”2 – William Tyndale 
 
William Tyndale é uma figura proeminente na 
história da igreja e, um daqueles que seguiu o caminho da 
cruz com o Mestre Jesus.3 Uma história linda para uma 
morte sofrida. Mas, cá entre nós, todos sabemos: é assim 
 
2 Apud LAWSON, Steven. A difícil Missão de William Tyndale. Trad.: 
Francisco Wellington Ferreira. SP: Fiel 2015, p.25. 
3 “E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si 
mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque, qualquer que 
quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de 
mim, perder a sua vida, a salvará. Porque, que aproveita ao homem 
granjear o mundo todo, perdendo-se ou prejudicando-se a si 
mesmo?” (Lc 9: 23-25) 
8 
 
que termina nossa jornada nesse mundo antagônico a 
Deus e sua Palavra. Não pode esperar um belo nessa 
terra para os que amam a verdade de Deus e procuram 
torná-la conhecida. Pois, numa época em que só oseruditos e instruídos poderiam ter acesso às Escrituras, 
Tyndale entendia que Deus não seria glorificado da 
melhor maneira enquanto o povo que nada sabia de latim, 
lhe fosse apresentado uma missa em latim. Na mente de 
Tyndale, os ingleses deveriam ler a Bíblia no seu próprio 
idioma, caso quisessem conhecer o Deus que se revelou 
na pessoa de Cristo. Todavia, isso não seria uma tarefa 
fácil para Tyndale. 
NASCIMENTO E ACADEMIA 
É de quase todos os posteriores a William Tyndale 
desconhecida a data de nascimento desse piedoso 
homem, mas biógrafos que o estudam datam entre 1484 
e 1496, provavelmente numa das aldeias vizinhas de 
Dursley, na Inglaterra. 
Aos 12 anos, em 1506, Tyndale foi matriculado na 
Magdalen College School, ligado à Universidade de 
Oxford, onde passou dez anos estudando, isto é, 1506 a 
9 
 
1516, no qual gastou os dois primeiros anos na escola de 
gramática, aritmética, geometria, astronomia, teoria 
musical, retórica, lógica e filosofia. Sobre o ensino dos 
eruditos clássicos, Tyndale demonstrou grande aptidão e 
crescimento em idiomas. E ainda em Oxford, foi 
ordenando ao sacerdócio. Foi somente em sua última 
etapa de formação que lhe foi permitido estudar teologia, 
todavia, “era uma teologia especulativa, cuja prioridade 
não estava na Bíblia, mas em Aristóteles e outros filósofos 
gregos”4; facto esse que entristeceu o jovem por ter sido 
privado de conhecer mais a Bíblia, conforme se lê: 
“Nas universidades, eles têm ordenado que nenhum 
homem olhe para Escritura enquanto não for nutrido 
de aprendizado pagão por oito ou nove anos e 
armado de princípios falsos com os quais ele fica 
totalmente excluído do entendimento da Escritura. A 
Escritura é lacrada com....falsas exposições e com 
princípios falsos da filosofia natural”.5 
 
4 LAWSON, Steven. A difícil Missão de William Tyndale, p. 22 
5 LAWSON, Steve, Ibid. p. 23 
10 
 
Crescer, sobretudo no conhecimento das 
Escrituras, era a principal paixão de Tyndale e, disso ele 
se dedicava com muito afinco. Sua ortodoxia6 encontrava 
um casamento com ortopraxia7, tornando-se conhecido 
por “homem virtuoso e ilibado”. 
A DIFÍCIL MISSÃO 
 
6 Palavra grega "orthodoxia" (de orthos “certo”, “correto”, e doxa 
"opinião"), o que significa crença correta, em contraste com a heresia 
ou a heterodoxia. O termo não é bíblico. No entanto, a ideia da 
ortodoxia veio a ser importante na igreja a partir do século II por 
causa de conflitos, primeiramente com o gnosticismo e depois com 
outros erros a respeito da trindade e da pessoa de Cristo. A aceitação 
rigorosa da "regra de fé”. Disponível em: 
https://www.estudosgospel.com.br/artigo-evangelico-reflexao-poesia-
gospel-curiosidade/o-que-e-ortodoxia.html. Visto dia /09/09/2022. 
7 Ortopraxia (do grego, ὀρθοπραξία: orthopraxia, "ação correta") é a 
ênfase na conduta, tanto ética quanto litúrgica, em oposição à fé ou a 
graça. Disponível em: 
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ortopraxia#:~:text=Ortopraxia%20(do%
20grego%2C%20%E1%BD%80%CF%81%CE%B8%CE%BF%CF%8
0%CF%81%CE%B1%CE%BE%CE%AF%CE%B1%3A,%C3%A0%2
0f%C3%A9%20ou%20a%20gra%C3%A7a. Visto dia /09/09/2022. 
https://www.estudosgospel.com.br/artigo-evangelico-reflexao-poesia-gospel-curiosidade/o-que-e-ortodoxia.html
https://www.estudosgospel.com.br/artigo-evangelico-reflexao-poesia-gospel-curiosidade/o-que-e-ortodoxia.html
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ortopraxia#:~:text=Ortopraxia%20(do%20grego%2C%20%E1%BD%80%CF%81%CE%B8%CE%BF%CF%80%CF%81%CE%B1%CE%BE%CE%AF%CE%B1%3A,%C3%A0%20f%C3%A9%20ou%20a%20gra%C3%A7a
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ortopraxia#:~:text=Ortopraxia%20(do%20grego%2C%20%E1%BD%80%CF%81%CE%B8%CE%BF%CF%80%CF%81%CE%B1%CE%BE%CE%AF%CE%B1%3A,%C3%A0%20f%C3%A9%20ou%20a%20gra%C3%A7a
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ortopraxia#:~:text=Ortopraxia%20(do%20grego%2C%20%E1%BD%80%CF%81%CE%B8%CE%BF%CF%80%CF%81%CE%B1%CE%BE%CE%AF%CE%B1%3A,%C3%A0%20f%C3%A9%20ou%20a%20gra%C3%A7a
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ortopraxia#:~:text=Ortopraxia%20(do%20grego%2C%20%E1%BD%80%CF%81%CE%B8%CE%BF%CF%80%CF%81%CE%B1%CE%BE%CE%AF%CE%B1%3A,%C3%A0%20f%C3%A9%20ou%20a%20gra%C3%A7a
11 
 
Depois do longo período de formação, em 1521, o 
jovem querendo estudar e digerir melhor o Novo 
Testamento grego decidiu aplicar-se mais ainda nas 
questões da Reforma, afastou-se da academia e a partir 
desse período assumiu um trabalho no Condado de 
Gloucester, aproximadamente 20 km da cidade de 
nascimento, tornando-se o principal tutor de crianças. 
Serviu à família rica de Sir John Walsh, sendo seu 
secretário pessoal e ao mesmo tempo o capelão da 
família. Nesses dias, Tyndale começou a pregar 
regularmente para uma pequena congregação da cidade 
vizinha de St. Adeline. Período esse que teve a solene 
compreensão que a morte espiritual que apoquentava a 
Inglaterra não permitiria uma evangelização eficaz por 
meio da Bíblia em latim. 
William Tyndale concluiu que não seria possível 
estabelecer o povo leigo em qualquer verdade, excepto se 
a Escritura fosse colocada diante dos olhos em sua língua 
12 
 
materna.8 Conforme Steve Lawson, “as convicções de 
Tyndale foram se tornando tão fortes que ele se viu em 
disputas com oficiais da igreja Católica Romana quanto à 
natureza da verdade evangélica”. Numa das conversas 
com um “sacerdote” católico, afirmou o sacerdote: é 
melhor ficarmos sem a lei de Deus do que ficarmos sem a 
lei do papa9, “ao que Tyndale o responde corajosamente: 
“Eu desprezo o Papa e todas as suas leis”. Acrescentou 
“se Deus lhe poupasse a vida, em alguns anos ele faria 
um rapaz que toca o arado saber mais da Escritura do 
que ele sabia”.10 
Desse período em diante, começa a árdua e 
espinhosa missão de William Tyndale: traduzir a Bíblia 
para o Inglês. Ele viaja para Londres em 1523 à procura 
de autorização oficial para tradução e publicação 
aprovada da Bíblia em Inglês, o que não se efetivou. Em 
 
8 Banner of Truth, William Tyndale, The Preface of Master William 
Tyndale, That he made befeore, Baner of Truth, 2010, p 394), in 
LOWSON, Steve, A difícil missão de William Tyndale, p. 22. 
9 FOXE, John, Foxe’s books of Martys Nashville, tenn: Thomas 
Nelson, 2000, p.77 
10 LAWSON, Steve, A difícil Missão de William Tyndale, p.25. 
13 
 
1524, quando tinha 30 anos de idade, navegou a Europa, 
para iniciar seu projeto de tradução e publicação sem o 
consentimento do rei da Inglaterra. Deslocou-se para 
Witemberg, onde terá encontrado o Martinho Lutero, e 
mais tarde viajou à Colônia da Alemanha em Agosto de 
1525, ao encontro de Peter Quentell, que concordou em 
imprimir a tradução do Novo Testamento. Contudo, “a 
impressão foi interrompida quando um dos empregados 
da gráfica, embriagado pelo vinho, falou abertamente o 
segredo da impressão”.11 Entretanto, embora o grande 
opositor da Reforma, John Cochlaeus, tenha ouvido e 
feito tudo para impedir, não teve êxitos, visto que na 
calada da noite Tyndale recolheu seus manuscritos com 
algumas impressões e sumiu antes que os inimigos 
aparecessem. 
O trabalho de tradução desempenhado por este 
piedoso servo, do grego para o inglês, produziu a primeira 
Bíblia no idioma inglês, despachando as primeiras 
impressões na Inglaterra em 1525, mas ainda continuava 
sendo um projeto que escondiam em fardos de algodão 
 
11 LAWSON, Steve, Ibid. 28 
14 
 
para o despacho.12 Os luteranos que comercializavam 
tecidos alemães recebiam as Bíblias na Inglaterra e 
distribuíam nas mais diversas regiões. 
UM CORAÇÃO SUBMISSO AO DEUS DA PALAVRA 
Tyndale é apresentado como o reformador “em 
todo o sentido da palavra”, pois para ele a corrupção é 
radical, redenção é particular, a chamada é irresistível, a 
graça é perseverante. Para ele, não existeconstrangimentos externos para Deus. 
Para William Tyndale, o homem está morto em 
seus delitos e pecados, a ponto de não encontrar uma 
força em si mesmo que lhe redirecione a Deus. Para ele, 
o Senhor é todo poderoso e, é livre para fazer conforme 
lhe apraz soberanamente. 
UM DESEJO QUE ENFURECE OS PSEUDOCRISTÃOS 
Tyndale despertou a fúria dos inimigos da cruz e, 
no verão de 1526, os oficiais da igreja na Inglaterra 
descobrindo a circulação secreta dos textos, o arcebispo 
de Canterubury e o bispo de Londres, confiscaram todas 
 
12 LAWSON, Steve, A difícil Missão de William Tyndale, p.29. 
15 
 
as Bíblias que puderam, declarando crime a compra e 
venda, com punição severa. Mas não puderam pará-lo 
mesmo por meio de outras tramas, pois havia um motivo 
maior: tornar Deus conhecido. E, portanto, ele não abriria 
a mão de sua ambiciosa tarefa até que Deus o chamasse. 
Pelo que publicou muitas outras obras, ao refutar e 
rebater os ritos e doutrinas católicas, por meio disso, foi 
achado traidor da Inglaterra e herege. Tyndale virou 
fugitivo por quase 12 anos, mas nesse tempo não deixou 
a tradução do Novo Testamento, e a produção de outros 
livros. 
Dentre outros crimes que leva Tyndale a 
julgamento, constava conforme o pastor Steve Lowson, 
“sua afirmativa de que a justificação é somente pela fé, 
que as tradições humanas não poderiam reger a 
consciência, que a vontade humana estava presa no 
pecado, que não existia purgatório e, que, nem Maria nem 
os santos ofereceriam orações por nós”.13 Eis o irmão que 
 
13 LAWSON, Steve, Ibid. p. 38. 
16 
 
foi julgado simplesmente porque creu em tudo que Bíblia 
dizia! 
Depois de ser fugitivo por muito tempo, Tyndale foi 
capturado pela denúncia de alguém, e assim, foi preso. E 
enquanto esperava sua sentença numa masmorra frienta, 
ele escreveu o tratado A Fé Sozinha Justifica Diante de 
Deus.14 Pelo que, defendeu a verdade bíblica até o fim de 
seus dias. 
No dia 6 de Outubro de 1536, Tyndale saia do 
castelo-prisão, e desfilou até ao local onde estava sua 
estaca de execução. Uma grande multidão estava no 
local, duas grandes traves foram erguidas na forma de 
cruz, palha, galhos e troncos foram empilhados em sua 
base. Lá estava ele sendo levado pelos guardas para 
mais próximo da execução. Tyndale caminhou até a sua 
cruz, os guardas prenderam seus pés a base da cruz, 
uma corrente prende seu pescoço, pelo que clamou: 
 
14 Opcit., p. 37. 
17 
 
“Senhor, abre os olhos do rei da Inglaterra”.15 Após o sinal 
do procurador geral, o carrasco atrás da cruz puxa 
corrente, estrangulando Tyndale. Depois se acendeu a 
fogueira que tornou o corpo do piedoso homem em 
cinzas, morrendo assim aproximadamente aos 42 anos de 
idade. 
UM APRENDIZADO COM WILLIAM TYNDALE 
Mais do que qualquer aprendizado com Tyndale, 
ele nos ensina que todo ser humano, e para ser mais 
específico, todo cristão, deve viver com o alvo principal 
conhecer a Deus e torná-lo conhecido. O Cristo refletido 
na vida de Tyndale nos chama a rompermos com o 
politicamente correto se quisermos viver para o louvor da 
glória daquele que é Senhor sobre tudo e todos. 
O pai da Bíblia inglesa também nos ensina que 
conhecer a Deus implica doar-se a ele 
independentemente dos perigos de nossa peregrinação. 
 
15 FOXE, John, Foxe’s books of Martys Nashville, tenn: Thomas 
Nelson, 2000, p. 83. 
 
18 
 
Em Tyndale encontramos o eco das Palavras Paulina, “já 
não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20). 
Finalmente, William Tyndale nos chama a 
refletirmos sobre nossa submissão às autoridades tanto 
governamental quanto eclesiásticas, pois só por meio de 
uma reflexão à luz do espelho bíblico nos mostrará se a 
mesma não é oriunda dos medos de meros homens 
mortais. Que cada um de nós tema somente “aquele que 
pode destruir no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt 
10:28). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
Recomendação de Leitura: 
DAVID, Daniel. William Tyndale: A Biography. New 
Haven, Conn.: Yale University Press, 1994. 
FERRERA, Franklin. Servos de Deus: 
Espiritualidade e Teologia na história da Igreja. SP: Fiel 
2015. 
FOXE, John. Foxe’s books of Martys. Nashville, 
tenn: Thomas Nelson, 2000. 
LAWSON, Steven. A difícil Missão de William 
Tyndale. Trad.: Francisco Wellington Ferreira. SP: Fiel 
2015. 
TYNDALE, William The Practice of Prelates, Thw 
Works of william Tyndale (1849-1859); Repr. Edinburg, 
Escotland: Baner of Trhuf, 2010).|” 
BANER OF TRHUF. The Preface of Master William 
Tyndale, That he made befeore de Five Books of Moses, 
colled by Genesis. Edinburg, Escotland: Baner of Trhuf, 
2010. 
 
 
20 
 
CAPÍTULO 2 
 
O ZELO EVANGELÍSTICO DE JOÃO CALVINO 
Kennedy Bunga 
 
“Quando considero quão importante este canto 
[do mundo, i. é, Genebra] é para a propagação 
do reino de Cristo, tenho boas razões para 
ansiar que ele seja cuidadosamente 
supervisionado.”16 – João Calvino 
 
Ouvimos muito sobre o trabalho de João Calvino 
como pregador17, exegeta18 e reformador19. Seu trabalho 
 
16 Apud BEEKE, Joel. Vivendo para Glória de Deus: uma introdução à 
fé reformada. Trad.: Francisco Wellington Ferreira. SP: Fiel, 2016, p. 
300. 
17 “Calvino não tinha a personalidade afetuosa de Lutero. Não 
encontramos nele a elegância da oratória de Gregório de Nazianzo, 
nem a vívida imaginação de Origines. Dificilmente ele seria um orador 
notório e comovente como João Crisóstomo, nem possuía a 
fascinante personalidade de Bernardo de Claraval. Gregório "o 
Grande" era um líder nato, assim como o era Ambrósio de Milão, mas 
este não era um dom que Calvino possuía. Contudo, poucos 
pregadores realizaram uma mudança tão tremenda na vida de sua 
21 
 
em todas estas áreas ficou marcado na história, e seus 
impactos continuam visíveis ainda hoje.20 No entanto, 
 
congregação quanto o reformador de Genebra” (Hughes Oliphant 
Old, Apud LAWSON, Steven. A Arte Expositiva de João Calvino. 
Trad.: Ana Paula Eusébio Pereira. SP: Fiel, 2008, p. 81). 
18 “Ele foi o habilidoso exegeta entre os reformadores, e seus 
comentários estão entre os melhores do passado e do presente” 
(Philip Schaff, Apud MAIA, Hermisten. A Reforma e a Escritura: 
Calvino como leitor, intérprete e pregador. GO: Editora Cruz, 2017, 
p.7). 
19 “Calvino, de fato, não é nem um moralista, nem um jurista, nem um 
sociólogo, nem um economista; é ele um teólogo e homem da Igreja, 
cônscio de todas as implicações humanas do Evangelho, persuadido 
de que o Conselho de Deus, de Quem ele é ministro, não pode deixar 
de lado nenhum problema humano" (BIÉLER, André. O Pensamento 
Econômico e Social de Calvino. Trad.: Valdyr Crvalho Luz. 2ª ed. SP: 
Cultura Cristã, 2012, p. 257). 
20 “O impacto de Calvino e do Calvinismo sobre a moderna cultura 
ocidental está bem documentado. Reconhece-se que essa influência 
foi grande. Calvino e o Calvinismo ocuparam seu lugar entre as 
maiores forças que moldaram nossa moderna sociedade ocidental” 
(Robert D. Knudsen, Apud REID, W. Stanford (Org.). Calvino e sua 
influência no mundo ocidental. Trad.: Júlia Pereira Lalli et all. 2ª ed. SP: 
Cultura Cristã, 2014, p.11). 
22 
 
pouco se fala do zelo evangelístico de João Calvino. 
Razão pelo qual, quando os arminianos querem depreciar 
o calvinismo e o próprio João Calvino, apelam para a 
suposta ausência de paixão pelas almas perdidas. Os 
arminianos dizem que a nossa doutrina da soberania de 
Deus afrouxa o nosso zelo pela evangelização. 
Este pequeno artigo dasérie Imitadores de Cristo 
visa refutar tal pensamento dos arminianos, confrontar a 
ideia hipercalvinista, bem como encorajar os 
calvinistas/reformados de que a soberania de Deus e a 
evangelização não são duas coisas incompatíveis. Tudo 
isto com base no zelo evangelístico de João Calvino, o 
homem do qual o calvinismo leva o nome.21 
A FALSA REPUTAÇÃO ANTIMISSIONAL DE CALVINO 
 
21 Embora eu não tenha nenhum problema com o termo, boa é a 
observação feita por Hermisten Maia quando diz que o designativo 
“reformado” é preferível ao calvinista, uma vez que a teologia 
reformada não provém estritamente de João Calvino (Cf. MAIA, 
Hermisten. Fundamentos da Teologia Reformada. SP: Mundo 
Cristão, 2007, p.9. Na nota 13). 
23 
 
Não são poucos os que acusam o reformador João 
Calvino, e seus seguidores, de falta de interesse 
evangelístico. Rotulam Calvino como um teólogo sem 
amor pelos perdidos, cujo ensino e vida não fomentam 
paixão pela evangelização e missões. No seio evangélico 
é muito comum se ouvir: “o calvinismo é o inimigo da 
evangelização mundial”. 
Tais inimigos do calvinismo, têm apontado para a 
incompatibilidade entre o calvinismo e o evangelismo. 
Dentre os vários mitos que cercam Calvino e o calvinismo 
está a ideia de que ele é antimissional. Michael Haykin e 
Jeffrey Roinson colocam tais mitos nas seguintes 
palavras, geralmente ditas pelos inimigos de Calvino e do 
calvinismo: 
Calvino, seus companheiros reformadores e 
sua teologia não foram, não são e nem 
podem ser lógica ou teologicamente pró-
missões ou pró-evangelização. [...] Os 
reformadores do século 16 não possuíam 
uma missiologia bem desenvolvida; missões 
internacionais era um assunto sobre o qual 
não pensava, e não se dava atenção; a 
24 
 
teologia calvinista, que prega um Deus 
absolutamente soberano e seletivo, tem muito 
pouco a dizer aos perdidos, e é antimissional 
e oposta à evangelização.22 
Porém, uma pesquisa histórica, mostrará que essa 
acusação não passa de uma falácia. O zelo evangelístico 
de João Calvino é revelado em seus Comentários, 
Sermões e Cartas, bem como nas suas Institutas da 
Religião Cristã. Pelo que vemos que a apresentação do 
zelo evangelístico de Calvino, tanto teológica como 
historicamente, como figura essencial às missões 
mundiais há tempo se fazia necessária: 
João Calvino é uma figura histórica que 
necessita desesperadamente de profissionais 
para melhorar sua imagem. De todos os 
reformadores da igreja do século 16, nenhum 
tem sido tão sistematicamente difamado, nem 
tão impiedosamente castigado, tanto em sua 
doutrina quanto em sua personalidade, desde 
sua época até o presente. Para boa parte dos 
evangélicos de nossos dias, Calvino é um 
 
22 HAYKIN, Michael; ROBINSON, Jeffrey. O Legado Missional de 
Calvino. SP: Cultura Cristã, 2017, p.17-18. 
25 
 
perfeito megalomaníaco; uma figura sombria, 
uma espécie de bedel da teologia, aficionado 
por um Deus irado, cuja vida e doutrina se 
opuseram firmemente às missões e à 
evangelização.23 
Stephen Nichols, em tons de lamento diz: “por toda a 
atenção dispensada a João Calvino, é inquietante que 
algo tão essencial a ele tenha permanecido tão 
despercebido e pouco apreciado”24. Portanto, em um 
meio de difamação calvinista, bem como de um dos 
principais homens do movimento, é necessário 
apresentarmos os fatos históricos e teológicos do zelo 
missionário e evangelístico de João Calvino para, por um 
lado, nos defendermos da falsa acusação de não termos 
zelo evangelístico, bem como, por outro lado, 
combatermos o erro dos hipercalvinistas que superelevam 
 
23 HAYKIN, Michael; ROBINSON, Jeffrey, O Legado Missional de 
Calvino, p.18. 
24 HAYKIN, Michael; ROBINSON, Jeffrey, Ibid. Retirada do Endosso. 
26 
 
a soberania de Deus na salvação (eleição) em detrimento 
da responsabilidade humana na evangelização.25 
GENEBRA: UMA BASE MISSIONÁRIA 
Embora Calvino manteve Genebra como sua base de 
trabalho para o reino, ele manifestava uma preocupação 
com os perdidos de outros lugares. Isso é visto nos 
esforços de envio de missionários, que ele mesmo 
treinara na Academia de Genebra, por toda Europa e no 
Brasil para a proclamação do evangelho e organização de 
igrejas reformadas. De acordo com o Registro de 
Companhia de Pastores de Genebra, estima-se que entre 
1555 e 1562 Calvino enviara ao mundo mais de 142 
missionários26. 
 
25 Cf. CRAMPTON, Gary; TALBOT, Kenneth. Calvinismo, 
hipercalvinismo e arminianismo: um guia teológico. DF: Monergismo, 
2020, p. 78-79 
26 Scott J. Simmons, João Calvino e as missões. Disponível em: 
<http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/calvino_missoes_scott.ht
m>. 
http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/calvino_missoes_scott.htm
http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/calvino_missoes_scott.htm
27 
 
Escrevendo sobre a importância da Academia de 
Genebra na capacitação e envio de missionários aos 
outros lugares, Philip Hughes escreve: 
A Genebra de Calvino era muito mais do que 
um paraíso e uma escola. Não era um lugar 
de isolamento teológico que vivia para si 
mesmo e por si mesmo, alheio à sua 
responsabilidade evangélica em relação às 
necessidades dos outros. Os vãos humanos 
foram preparados e equipados neste 
paraíso... para que se lançassem ao oceano 
das necessidades do mundo, encarando 
bravamente cada tempestade e perigo que os 
aguardava, a fim de levarem a luz do 
evangelho de Cristo àqueles que estavam na 
ignorância e nas trevas das quais eles 
mesmos tinham vindo. Eles foram ensinados 
nesta escola para que, em retorno, 
ensinassem aos outros a verdade que os 
liberta.27 
A preocupação de Calvino com a salvação dos povos 
era tanta que chegou a escrever a Heinrich Bullinger, 
 
27 Apud Joel Beeke, Vivendo para Glória de Deus, p. 301. 
28 
 
externando a importância de Genebra como centro 
missionário do mundo: “Quando considero quão 
importante este canto [do mundo, i. é, Genebra] é para a 
propagação do reino de Cristo, tenho boas razões para 
ansiar que ele seja cuidadosamente supervisionado”28. 
Ele também procurava nutrir tal zelo missionário aos 
membros de sua igreja. Em um sermão sobre 1 Timóteo 
3.14, Calvino disse a sua igreja: “Que atentemos ao que 
Deus nos incumbiu, que nos agrademos em mostrar sua 
graça não somente a uma cidade ou um pequeno grupo 
de pessoas, mas que ele reine em todo mundo; que todos 
o sirvam e o adorem em verdade”.29 
Esses dados históricos revelam o zelo evangelístico 
de João Calvino. Eles provam que a atitude antimissional 
aplicado a Calvino não passa de uma acusação falsa. 
Verdadeiramente, temos de admitir, aqueles que falam 
mal desse grande homem de Deus são os que nada 
sabem, ou pelo menos ignoram factos históricos sobre 
ele. E nisto eles pecam, quebrando o nono mandamento 
 
28 Apud Joel Beeke, Vivendo para Glória de Deus, p. 300. 
29 Apud Joel Beeke, Vivendo para Glória de Deus, p. 300. 
29 
 
(Êx 20.16). Quem de perto segue a Calvino, isto é, lendo 
sobre sua vida e obras, terá de concordar com a 
declaração do amigo e biógrafo dele, Theodoro Beza, que 
disse: 
Por ter sido um espetador de sua conduta 
durante dezesseis anos, tenho dado fieis 
informações sobre sua vida e morte, e posso 
declarar que nele todos os homens podem 
ver o mais belo exemplo de carácter cristão, 
um exemplo que é tão fácil de caluniar quanto 
difícil de imitar.30 
O FUNDAMENTO MISSIONÁRIO DE CALVINO 
O Zelo evangelístico de Calvino achava-se 
fundamentada em sua boa teologia. Calvino não achava 
incompatível a soberania deDeus e a evangelização. 
Para Calvino, a questão a ser feita não era: “se Deus é 
soberano por que evangelizar?” A questão correta a se 
fazer é: “Se Deus é soberano por que não evangelizar?”. 
Para Calvino, a soberania de Deus não anula a 
evangelização. Seu zelo evangelístico era fomentado pela 
 
30 Apud Steven Lawson, A Arte Expositiva de João Calvino, p. 29. 
30 
 
sua noção da soberania de Deus. Ele entendia que Deus 
“usa nossas obras e nos convoca a ser seus instrumentos 
em cultivar o seu campo”.31 Calvino afirmava ser a 
evangelização uma obra de Deus, e não nossa, mas que 
Deus nos usa como seus instrumentos. Comentando em 
Romanos 10.15 ele diz que “o evangelho não cai das 
nuvens como a chuva, acidentalmente, senão que é 
levado pelas mãos dos homens aonde quer que Deus os 
envie lá do alto”.32 
Calvino entendia e ensinava que a evangelização é o 
método comum de “reunir uma igreja, pois, embora Deus 
possa trazer a si mesmo cada pessoa por meio de uma 
influência secreta, ele emprega a ação de homens, para 
que desperte neles uma ansiedade pela salvação uns dos 
outros”.33 As palavras de Calvino, “nada retarda tanto o 
progresso do reino de Cristo como a escassez de 
 
31 João Calvino, Comentário em Mateus 13.24-30. 
32 João Calvino, Romanos. Trad.: Valter Graciano Martins. SP: FIEL, 
2013, p.429. 
33 João Calvino Comentário de Isaias 2.3. 
https://ref.ly/logosres/jocalcommrom?ref=Bible.Ro10.15&off=541&ctx=at%C3%A9ria+neste+ponto.+~%C3%89+bastante+termos+em
31 
 
ministros”34, revelam seu entendimento da necessidade 
de homens que preguem o evangelho. 
UM APRENDIZADO COM JOÃO CALVINO 
A partir da vida de Calvino, podemos perceber que é 
falsa a acusação arminiana de que a nossa doutrina da 
soberania de Deus anula o zelo missionário. A paixão de 
Calvino por evangelização era tanta que em seus escritos 
ele apelava pela salvação dos pecadores: “Deve-se 
almejar que aconteça cada dia que de todos os rincões do 
mundo Deus junte a si suas igrejas, as propague e as 
faça aumentar em número, as sature de suas dádivas, 
estabeleça nelas ordem legítima”.35 
Por outro lado, é necessário dizer também que é falso 
o conceito de que Deus não precisa de nós para trazer o 
eleito a salvação, ensino esse sustentado pelos 
hipercalvinistas. É verdade que Deus tem os seus eleitos, 
mas ele mesmo colocou a evangelização como o meio 
 
34 Apud Joel Beeke, Vivendo para Glória de Deus, p.295, 
35 João Calvino, As Institutas. Trad:. Waldyr Carvalho Luz. Edição 
Clássica, vol. 3. SP: Cultura Cristã, 2006, p.369. 
https://ref.ly/logosres/nstttssdclssc?ref=InstitutesOfTheChristianReligion.Institutes+III%2c+xx%2c+42&off=1995&ctx=+indom%C3%A1vel+orgulho.+~Deve-se+almejar+que+
32 
 
ordinário para a salvação dos eleitos (2 Tm 2.10/ Rm 
10.13-17). Para Calvino, todo ministro deve estar disposto 
a “sair para anunciar a doutrina da salvação em cada 
parte do mundo”36. Seu zelo evangelístico era tanto que 
alguns o chamam de pai teológico do movimento 
missionário reformado, pois ele foi, em grande escala, 
responsável por reacender a tocha da evangelização 
bíblica durante a reforma. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 João Calvino Comentário de Mateus 24.19. 
33 
 
Recomendação de Leitura: 
BEEKE, Joel. Calvino e a evangelização, capítulo 
20 de Vivendo para Glória de Deus. SP: Fiel, 2010. 
HAYKIN, Michael; ROBINSON, Jeffrey. O Legado 
Missional de Calvino. SP: Cultura Cristã, 2017. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
CAPÍTULO 3 
 
JOHN KNOX: O PURITANO DESTEMIDO 
C. R. Bernardo 
 
“Não posso, em boa consciência, deixar de 
pregar amanhã, a não ser que a violência 
me detenha.”37 – John Knox 
Uma época de densas trevas de avareza e 
corrupção marcavam a Escócia dos dias de Knox. Seu 
país estava mergulhado em uma profunda corrupção 
tanto a nível social como espiritual. A igreja estava 
dominada por um clero avarento e um poder civil corrupto. 
Sua terra naquela época era, na verdade, um 
mundo conturbado, o catolicismo romano havia 
corrompido a forma correta de cultuar a Deus, as pessoas 
se curvavam a objetos de esculturas, adoravam inúmeros 
objetos pagãos reprovados pela Palavra de Deus; os 
mártires, os apóstolos e a virgem Maria eram venerados. 
 
37 BOND, Douglas, A poderosa fraqueza de John Knox, p. 37. 
 
35 
 
A igreja possuía um modelo de governo que não era 
bíblico. A igreja na Escócia estava imersa em um caos e 
precisava urgentemente de uma reforma que traria de 
volta a forma correta de culto a Deus, bem como o 
governo da igreja. 
Foi nesta época, que Deus interferiu graciosamente 
neste caos, levantando um destemido puritano conhecido 
até aos nossos dias como John Knox. Sendo assim, 
questionamos quem foi John Knox? Como se deu então o 
estabelecimento da Fé Reformada na Escócia? 
NASCIMENTO E EDUCAÇÃO 
Knox nasceu e foi criado em uma família pobre 
humilde. Pouco se sabe sobre a data precisa de seu 
nascimento, bem como a cidade exata de seu 
nascimento. Todavia, os historiadores são de comum 
acordo que nasceu em algum dia durante o ano 1505 e 
1514 em Haddington, uma área próxima de Edimburgo, 
não mais de 27 km a leste de Edimburgo, Escócia. Seus 
pais eram pobres, mas Knox recebeu uma boa educação. 
Ele recebeu seu primeiro treinamento em Haddington, e 
36 
 
foi então enviado para a Universidade de Glasgow. Na 
universidade ele obteve o seu Mestrado em Artes. 
Segundo Douglas Bond: 
Os próximos anos foram silenciosos; 
depois desses, ele surge portando 
uma espada de folha larga, de dois 
gumes, como guarda-costas do 
intrépido pregador George Wishart. 
Quanto à sua conversão, só podemos 
especular. Alguns defendem que ele 
se converteu pela pregação do frade 
Thomas Guilliame em 1543.38 
Um texto bíblico que influenciou sua conversão, 
que ainda no leito da morte pediu a sua amada esposa 
que lesse o mesmo é João 17.3: “E a vida eterna é esta: 
que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus 
Cristo, a quem enviaste”. 
 
INFLUÊNCIA DE GEORGE WISHART 
 
38 BOND, Douglas. A poderosa fraqueza de John Knox, p. 22. 
37 
 
George Wishart foi um ávido pregador protestante 
dos dias de Knox, a quem John Knox tinha como mentor 
antes de estar em Genebra com João Calvino. Wishart 
teve uma influência significativa no começo de ministério 
de Knox, sendo ainda Knox seu guarda-costas. Enquanto 
o inquisidor tirano Beaton, perseguia e matava aqueles 
que deixavam as práticas do catolicismo Romano, 
“Wishart viajava longe, pregando pelas terras baixas da 
Escócia. Jovens como Knox começaram a segui-lo, 
maravilhados pela mensagem do Evangelho”.39 
Infelizmente, Wishart foi morto pelo inquisidor 
Beaton em 1546, queimado vivo até a morte. Depois da 
morte de Wishart, os nobres protestantes daquela cidade 
revoltaram-se e invadiram o castelo do Cardeal Beaton e 
o mataram. Os mesmos fixaram residência lá, não 
deixaram de convidar Knox, tanto é que Knox viveu 
naquele castelo até que em 1547 o castelo foi capturado 
pela marinha francesa, os moradores do mesmo, bem 
como Knox, foram feitos prisioneiros, condenados na 
França. Knox foi sentenciado pelos galés como escravo. 
 
39 Douglas Bond, Ibid., p. 23. 
38 
 
Como escravo, Knox e seus companheiros foram tratados 
com toda indignidade e intensa crueldade. Knox ficou 
preso durante um ano e sete meses em uma deplorável 
condição. Essa prisão deixou marcas terríveis em sua 
saúde para o resto de toda sua vida. Bound disse que 
“como João Calvino, Knoxsofreria até o fim com cálculos 
renais, insônia e outros males diversos”40. 
O MINISTÉRIO NA INGLATERRA 
Depois da morte de Henriques VIII em 1547, subiu 
ao trono seu único filho Eduardo VI. Sobre a tutela de 
homens piedosos, mais tarde os conselheiros 
protestantes da corte de Eduardo conseguiram a 
libertação de Knox. De volta a Inglaterra, foi para o norte 
onde passou a dedicar-se à pregação do evangelho. Knox 
defendia com unhas e dentes o Sola Scripturas (Somente 
as Escrituras): 
Ó Deus Eterno! Não tens colocado 
nenhum outro fardo sobre nossas 
costas que o que Jesus Cristo 
 
40 BOND, Douglas, Ibid., p. 29. 
39 
 
estabeleceu por sua Palavra? Então, 
quem nos sobrecarregou com todas 
essas cerimônias, prescrevendo 
jejuns, forçando a castidade, votos 
ilegítimos, invocação dos santos, com 
a idolatria da missa? O Diabo, o diabo 
meus irmãos, inventou todos esses 
fardos para deprimir homens 
imprudentes para a perdição.41 
EXÍLIO EM GENEBRA 
Entretanto, após a morte de Eduardo VI, um rei 
piedoso que o povo ímpio de Inglaterra não era digno de 
tê-lo, as coisas não ficaram fáceis para Knox. A rainha 
que ascendera ao trono era para Knox a Jezabel idólatra, 
Maria, a malvada e cruel. Esta era perseguidora do povo 
de Deus. 
Knox teve que refugiar-se em Genebra. “Calvino, o 
Reformador francês, havia tido notícias do pregador 
escocês refugiado e o recebeu com afecto para a obra em 
 
41 Douglas Bond, Ibid., p. 32. 
40 
 
Genebra, na Suíça”.42 Ao convite de Calvino, Knox 
assume em Genebra os deveres pastorais, de uma 
congregação de refugiados de língua inglesa naquela 
cidade. Knox servia ao lado de Calvino e teve também a 
grande oportunidade naqueles dias de aprender mais 
sobre Solus Christus (Somente Cristo), a verdade que a 
salvação é somente através de Cristo, e como pastorear e 
pregar com a humildade de Cristo. Muito provavelmente, 
além do ministério de pregação, Knox ainda naquela 
época contribuiu para a tradução e notas de estudo da 
Bíblia de Genebra. 
A INFLUÊNCIA DE CALVINO 
John Knox tinha Calvino como um pai espiritual, 
por quem tinha em grande estima durante a sua jornada e 
consultava-o com muita frequência. A influência de 
Wishart na vida de Knox não sobrepôs a influência de 
Calvino, ainda no leito de morte pediu a sua amada 
esposa que lesse para ele os sermões de Calvino. O 
tempo passado em Genebra foi para Knox de formação 
 
42 Douglas Bond, Ibid., p. 33. 
41 
 
para sua vida. Escreveu ele: “É a escola mais perfeita de 
Cristo sobre a terra desde os dias dos apóstolos”43. 
O ESTABELECIMENTO DA FÉ REFORMADA NA 
ESCÓCIA 
Em 1559, Knox volta à Escócia, sua terra natal, 
onde a rainha o detestava. Knox deixou seu mentor e 
estava disposto a levar a mensagem do Evangelho ao seu 
povo. O amor de Knox pela Escócia, fez com que 
retornasse à sua terra natal: “Sinto um soluço e um 
gemido, desejoso que Cristo Jesus seja pregado 
abertamente em minha terra nativa, ainda que para isso 
seja necessário perder minha miserável vida”.44 
Knox estava, ainda assim, decidido a pregar a 
Cristo. “Não posso, em boa consciência, deixar de pregar 
amanhã, a não ser que a violência me detenha”, 
escreveu. “E quanto ao temor por minha pessoa… minha 
vida está nas mãos daquele cuja glória eu busco, e sendo 
assim, não temo as suas ameaças. Não desejo mão ou 
 
43 Douglas Bond, Ibid., p. 35 
44 Douglas Bond, Ibid., p. 35 
42 
 
arma de homem algum para me defender”. Depois dos 
sermões de Knox, homens e mulheres se convertiam à 
viva fé em Cristo pelo poder do evangelho, e as estátuas 
dos santos e de Maria foram derrubadas”.45 
Em julho de 1560, depois da morte da rainha Mary 
Guise, os nobres da congregação e membros do 
parlamento escocês abraçaram a fé reformada e 
comissionaram John Knox que formulasse uma confissão 
de fé “cujo resumo de doutrina eles manteriam, desejosos 
que o presente Parlamento estabeleça como saudável, 
verdadeiro, único e necessário para se crer e receber 
dentro do reino”.46 No entanto, formou um comité de cinco 
teólogos e juntos em quatro dias escreveram a confissão 
Escocesa. Esta foi lida primeiramente no grandioso salão 
nobre do castelo de Edimburgo perante o parlamento. 
Sendo assim, em 17 de agosto de 1560 o parlamento 
aprovou a confissão Protestante, deixando o Catolicismo 
Romano. 
 
45 Douglas Bond, Ibid., p. 37. 
46 Douglas Bond, Ibid., p. 38. 
43 
 
ALGUNS DOS EVENTOS MARCARAM O 
ESTABELECIMENTO DA FÉ REFORMADA NA 
ESCÓCIA 
“Os protestantes começaram a ser chamados de 
“congregação” e os líderes, “os senhores da 
congregação”.47 “Um sistema presbiteriano de governo de 
igreja foi instituído, um que Knox aprendeu em Genebra, e 
que era significativamente diferente do da Inglaterra”.48 
“Como o protestantismo avançou, especialmente 
em algumas áreas ao Sul e ao leste da Escócia, 
particularmente em Perth, ocorreram tumultos, durante o 
qual imagens, adornos litúrgicos papistas, Monastério e 
altares foram destruídos e queimados por multidões que 
fugiam daqueles que tinham vindo ver a idolatria de 
Roma”49. 
 
47 HANKO, Herman. Retrato de Santos Fies. p. 273. 
48 HANKO, Herman. Retrato de Santos Fies. p. 273. Disponível 
gratuitamente em: <https://materiasdeteologia.com/wp-
content/uploads/2019/05/Ebook-retratos-de-santos-fieis.pdf>. 
49 Ibidem Pág. 273. 
https://materiasdeteologia.com/wp-content/uploads/2019/05/Ebook-retratos-de-santos-fieis.pdf
https://materiasdeteologia.com/wp-content/uploads/2019/05/Ebook-retratos-de-santos-fieis.pdf
44 
 
“Em agosto de 1560, foi estabelecida oficial a fé 
reformada adotando uma confissão – A Confissão de Fé 
Escocesa, que serviu como a confissão da igreja, até que 
foi substituída pela Confissão de Westminster -, um livro 
de disciplina – A ordem da igreja -, e um livro de ordem 
comum – um guia para os ministros em seu trabalho e 
vocação”.50 
UM APRENDIZADO COM JONH KNOX 
John Knox instiga-nos a sermos corajosos e 
destemidos pregadores do Evangelho. A intervenção 
graciosa de Deus, trouxe naqueles dias um fiel pregador 
da Palavra corajoso, que enfrentou o clero corrupto e uma 
rainha com elevada aversão contra ele. Knox, de forma 
intrépida pregava publicamente a fé reformada, 
declarando assim guerra contra a idolatria católica. Neste 
contexto, convida-nos de forma contiínua 
testemunharmos as verdades do evangelho. Não obstante 
as ameaças contra si, Knox continuava bradando como 
um piedoso e verdadeiro profeta de Deus, comprometido 
 
50 Ibid., Pág. 273 
45 
 
com a sua Palavra e não com os Homens. No final de 
tudo como resultado, colheu então um grande avivamento 
na Escócia em 1559. 
Em seus confrontos com a rainha, Knox 
permaneceu firme, conservando a sã doutrina e expondo 
o verdadeiro Evangelho. Pregando o Cristo crucificado e 
salvação por meio da fé somente em Cristo. Um fiel 
pregador em Saint Giles, Edimburgo. Knox distribuía 
incansavelmente “o pão da vida conforme recebi de Jesus 
Cristo”51. Um homem fraco fisicamente, mas com vigor na 
alma para expor a verdade de Deus. Knox pregou seu 
último sermão em fraqueza, no dia 9 de novembro de 
1572. Estava demasiadamente fraco, foi carregado até ao 
púlpito e depois levado para seu leito, e no dia 24 de 
novembro do mesmo ano, após ouvir sua esposa lendo o 
capítulo 17 de João e sermões de Calvino em Efésio, 
depois deste dia, Knox partiu para eternidade. 
Com Knox aprendemos que devemos ser 
guardiões da sã doutrina, corajosamente devemos nos51 Knox, citado em Murray, John Knox, 22. 
46 
 
manter fies à verdade, independentemente das 
circunstâncias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
47 
 
Sugestões de leitura: 
BOND, Douglas. A poderosa fraqueza de John 
Knox. Trad.: Elizabeth Gomes. SP: Fiel, 2011. 
HANKO, Herman. Retrato de Santos Fies. 
Reformed Free Publishing Associatio, 1999. Disponível 
gratuitamente em: <https://materiasdeteologia.com/wp-
content/uploads/2019/05/Ebook-retratos-de-santos-
fieis.pdf>. 
John Knox, The Reformation in Scotland (A 
Reforma na Escócia) , Edinburgh: Banner of Truth Trust, 
1982. 
BAIRD, Charles. The Presbyterian Liturgies (As 
Liturgias Presbiterianas), Grand Rapids: Baker Book 
House, 1957 
BORGE, João. Reforma e reformadores. Editora 
Cristã Evangélica, 2018. 
 
 
https://materiasdeteologia.com/wp-content/uploads/2019/05/Ebook-retratos-de-santos-fieis.pdf
https://materiasdeteologia.com/wp-content/uploads/2019/05/Ebook-retratos-de-santos-fieis.pdf
https://materiasdeteologia.com/wp-content/uploads/2019/05/Ebook-retratos-de-santos-fieis.pdf
48 
 
CAPÍTULO 4 
 
GEORGE WHITEFIELD: UMA PAIXÃO PELO 
EVANGELISMO 
Alber Pacavira 
 
“Que eu morra 
pregando”52 - 
George Whitefield 
 
Se existisse uma prateleira onde estão colocados 
os nomes de servos de Deus que heroicamente deixaram 
o seu testemunho na terra por amor a Cristo, viveram 
visando somente a glória de Deus, certamente o nome de 
Whitefield seria encontrado dentre o nome dos gigantes. 
Nesse pequeno texto, convido-o a ler um pouco 
sobre a história deste servo de Deus, que mesmo tendo 
vivido muito tempo atrás, sua história continua sendo 
inspiradora e, claro, com muitas lições para servos dos 
tempos actuais. 
 
52 Apud LAWSON, Steven J. O Zelo Evangelístico de George 
Whitefield. Tard.: Marcia Gomes. SP: Fiel , 2014, p. 88. 
49 
 
NASCIMENTO 
Nascido em 16 de dezembro de 1714, em 
Gloucester, Inglaterra, filho caçula, o sexto de Thomas e 
Elizabeth Whitefield, proprietários da hospedaria Bell Inn. 
Seu pai faleceu quando George tinha apenas dois anos 
de idade, ele foi criado por sua mãe que se casou 
novamente quando ele tinha oito anos. 
Sobre sua infância e vida antes da ida a Oxford, ele 
mesmo diz: 
Posso dizer sinceramente que eu era 
desobediente desde o ventre da minha mãe 
[...]. Eu estava habituado à mentira, à 
conversa torpe e a brincadeiras tolas [...]. Às 
vezes eu praguejava, quando não blasfemava 
[...]. Roubar de minha mãe eu achava que 
não era roubar [...]. Muitas vezes eu quebrei o 
santo repouso semanal, e geralmente me 
portava com muita irreverência no santuário 
de Deus. Gastei muito dinheiro em jogos [...]. 
Baralho e leitura de romances eram o deleite 
50 
 
do meu coração. Muitas vezes me juntei a 
outros em velhacarias.53 
Sua paixão era a representação no teatro. 
Whitefield era um orador e ator nato, entretinha os 
hóspedes da hospedeira com sua habilidade de 
representar. Nisso desenvolveu a capacidade de orador e 
elocução que mais tarde seriam usados em seu futuro 
ministério. 
Aos dezesseis anos começou a ler o Novo 
Testamento grego e também obteve proficiência no latim. 
Aos dezoito anos, Whitefield entrou em Pembroke 
College, da Universidade de Oxford. Para subsidiar o 
custo de seus estudos, trabalhava como servidor, 
atendendo às necessidades dos estudantes mais ricos, 
limpando seus quartos, lavando suas roupas e 
preparando suas refeições. 
Em 14 de novembro de 1741, casou-se com 
Elizabeth James, tiveram um filho de nome John, que 
 
53 Apud DALLIMORE, Arnold A. George Whitefield: Evangelista do 
Avivamento do Século 18. Trad.: Trad.: Odayr Olivetti. SP: PES, 
2005, p. 13, 14. 
51 
 
viera a morrer aos quatro meses de vida. Elizabeth, sua 
esposa, faleceu em 1768. Ele mesmo pregou o sermão 
funerário, no texto de Romanos 8.28, permanecendo firme 
na sua crença na soberania de Deus. 
CONVERSÃO E CHAMADO 
Whitefield lutava por uma aceitação de Deus, orava 
três vezes ao dia e jejuava, mas não encontrava paz para 
sua alma. Perto do final do primeiro ano em Oxford, 
Charles Wesley (1707-1788) apresentou-o a um pequeno 
grupo de estudantes conhecidos como “Clube Santo de 
Oxford”, nesse grupo estava também o irmão de Charles, 
John Wesley (1703-1791), e mais outros integrantes que 
se reunião para uma vida religiosamente moral. Eram 
conhecidos por sua rígida disciplina na leitura e estudo 
bíblico, oração, jejuns e serviços cristãos. Apesar de todo 
o esforço, Whitefield não era convertido ainda e seguia 
sua luta por aceitação de Deus. 
Ainda em busca de ser aceite por Deus, na 
primavera de 1735, Whitefield recebeu um livro do seu 
amigo Charles Wesley. O livro era sobre novo 
52 
 
nascimento, cujo título era: A Vida de Deus na Alma 
Humana, escrito por Henry Scougal. Nele, aprendeu que 
a salvação não era por suas próprias obras, mas somente 
pela regeneração divina. Contristado, em agonia e 
convicção reconheceu que precisava nascer de novo. 
Então, aos vinte anos de idade foi regenerado pelo 
Espírito Santo, e depositou sua fé em Cristo. 
Convertido, Whitefield estava tomado pelo desejo 
de conhecer a Cristo mais intimamente. Passou a ler a 
bíblia de joelhos e devorava a exposição do Antigo e do 
Novo Testamento de Matthew Henry.54 Quando os irmãos 
Wesley foram para a colônia americana da Geórgia, 
deixaram Whitefield como o líder do Clube Santo. Ele 
evangelizava seus colegas e colocava novos crentes em 
pequenos grupos de estudos. 
COMISSIONADO A PREGAR 
Depois de formar-se pela universidade de Oxford 
em 1736, retornou a Gloucester, onde foi ordenado 
 
54 Cf. LAWSON, Steven J. O Zelo Evangelístico de George Whitefield, 
p. 25. 
53 
 
diácono da Igreja da Inglaterra, na Catedral de 
Gloucester, em 20 de junho de 1736. Uma semana mais 
tarde apresentou o seu primeiro sermão na Igreja Saint 
Mary of the Crypt, Gloucester, igreja onde tinha sido 
batizado. Whitefield sentiu o chamado soberano de Deus 
para pregar, passou a preencher púlpitos em Londres. 
Seus dons homiléticos, de oratória e elocução foram 
imediatamente reconhecidos; Whitefield se tornou um 
fenômeno da pregação, as igrejas ficavam cheias de 
pessoas para ouvirem o jovem pregador. 
Enquanto pregava em Londres, chegou para 
Whitefield uma carta dos irmãos Wesley, da Geórgia, 
pedindo a Whitefield para ajudá-los em sua obra 
missionária. Disse ele: “ao ler isto, meu coração saltou em 
mim, como se exultasse ao chamado”.55 Essa viagem foi 
adiada, pois seu navio fora detido. Enquanto isso, o jovem 
pregador aceitava convites para pregar em Gloucester, 
Bristol, Bath e Londres. Onde quer que fosse, as notícias 
sobre ele se espalhavam, as igrejas ficavam superlotadas, 
corações eram comovidos, e as almas eram convertidas. 
 
55 LAWSON, Steven J., Ibid., p. 26. 
54 
 
Em 28 de dezembro de 1737, finalmente, o 
Whittaker (navio) estava pronto para navegar, e Whitefield 
pode finalmente ir para a colônia americana. Em 07 de 
maio de 1738 chegou a Savannah, Geórgia, onde 
descobriu que John Wesley deixara a colônia sob 
acusação formal por um supremo tribunal. Com a missão 
comprometida, viu o grande número de órfãos, sentiu-se 
compungido a construir um orfanato. Em 28 de Agosto, 
Whitefield voltou para Inglaterra para levantar recursos 
para a construção do orfanato, chegando a Inglaterra em 
30 de novembro. 
Na Inglaterra, tanto Whitefild quanto os irmãos 
Wesley, enfatizavam em suas pregações a necessidade 
do novo nascimento. Insistiam em dizer que muitos 
ministros da Igreja da Inglaterra não eram convertidos. 
Isso gerou grandes problemas. Essa afirmação levou 
muitos líderes a resistirem aoseu trabalho. Panfletos 
maldosos foram circulados em oposição, e rumores 
espalhados, manchando o nome de Whitefield. Portas das 
igrejas foram fechadas contra ele, forçando uma ousada 
55 
 
estratégia. Ele evitaria completamente os edifícios de 
igrejas e pregaria ao ar livre56: 
Em 17 de fevereiro de 1739, 
Whitefield pregou pela primeira vez 
ao ar livre em Kingswood, um campo 
nos arredores de Bristol. Ficou em pé 
sobre um pequeno outeiro no campo, 
pregando para um ajuntamento 
relativamente pequeno de mineiros 
de carvão e suas famílias, cerca de 
duzentas pessoas. Whitefield 
declarou a graça salvadora de Jesus 
Cristo, e os que assistiram ficaram 
comovidos pelo poder do 
evangelho...” 57 
Depois disto, Whitefield não parou mais, e passou 
a pregar ao ar livre, pregava em todo lugar que pudesse 
reunir pessoas. “Estima-se que Whitefield tenha 
alcançado cerca de 650.000 pessoas por mês durante o 
 
56 Cf. LAWSON, Steven J., Ibid., p. 28. 
57 LAWSON, Steven J., Ibid. p. 28. 
56 
 
ano de 1739, que é igual a cerca de vinte e duas mil 
pessoas por dia”.58 
Numa época em que as viagens marinhas eram 
difíceis, Whitefield visitou a América sete vezes, sendo 
uns dos grandes personagens do Grande Despertamento. 
Mas seu trabalho no velho continente (Europa) também 
era bem sucedido, pregando em várias cidades da 
Inglaterra e nos países vizinhos, Gales, Irlanda e Escócia. 
Em certa ocasião, na Escócia, pregou a 100.000 ouvintes, 
e 10.000 responderam a fé. 
De agosto de 1739 à janeiro de 1741, o jovem 
pregador fez uma turnê nas colônias americanas, tendo 
passado por Filadélfia cinco vezes, Geórgia mais de duas 
vezes, Nova York três vezes, Boston e Nova Inglaterra 
(Connecticut, Maine, Massachusetts, New 
Hampshire, Rhode Island e Vermont). Por todo lugar que 
fosse para pregar, multidões corriam para ouvi-lo pregar, 
desde eruditos à leigos, o comércio parava, lavradores 
deixavam os arados e até juízes adiavam suas 
audiências. 
 
58 LAWSON, Steven J., Ibid. p. 28. 
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Esc%C3%B3cia
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Connecticut
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Maine
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Massachusetts
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/New_Hampshire
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/New_Hampshire
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Rhode_Island
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Vermont
57 
 
Em 1749, renunciou à sua liderança na Sociedade 
Metodista Calvinista, para se dedicar mais ao 
evangelismo. Whitefield continuou a pregar 
extensivamente nas colônias americanas e nas ilhas 
britânicas. Crê-se que pregou mais de 18.000 sermões: 
Whitefield pregou seu último sermão 
em Exeter, New Hampshire, em 29 de 
setembro de 1770. Foi uma 
exposição de duas horas, que 
examinava a alma, intitulada 
“Examine a si mesmo“, de 2Coríntios 
13.5. Ao dar um passo para pregar, 
Whitefield fez uma oração silenciosa: 
“Se eu ainda não tiver acabado meu 
curso, permita que eu vá e fale por ti 
mais uma vez nos campos, sele a tua 
verdade, volte para casa e morra.59 
Whitefield morreu na América, no dia 30 de 
setembro de 1770, da forma que desejara: no meio de 
uma série de pregações. John Wesley no culto memorial 
de Whitefield em Londres o homenageou como um 
grande homem de Deus. 
 
59 LAWSON, Steven J., Ibid. p. 40 
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/John_Wesley
58 
 
TEOLOGIA 
Whitefield cria na soberania de Deus na salvação 
do homem, era firme defensor das Doutrinas da Graça ou 
os Cinco Pontos do Calvinismo como são mais 
conhecidos. Isto causou um rompimento com John 
Wesley, que defendia o arminianismo, facto este que 
se deu em 1741 quando regressou à Inglaterra depois da 
sua turnê na América, mas continuaram amigos. 
 
Sua crença nas Doutrinas da Graça o impulsionou 
a pregar o evangelho a todos, ele sabia que todo ser 
humano por natureza era merecedor da ira de Deus, mas 
Deus graciosamente, através de seu Filho, chama e salva 
pecadores para si, para ser seu povo escolhido. 
 
CARACTERÍSTICAS DA PREGAÇÃO 
Diferente de muitos pregadores e pregações da sua 
época, que eram secos e muitas vezes apenas leituras de 
sermões já prontos. Whitefield irrompeu no cenário da 
época com uma pregação viva, sua capacidade oratória 
de representação e eloquência que desenvolvera na sua 
59 
 
adolescência foi usada agora não para entreter, mas para 
o serviço do reino dos céus. Nas suas pregações, 
Whitefield: 
 Expunha o pecado: ele falava aos seus ouvintes da 
depravação total, das devastadoras consequências 
do pecado e da necessidade de salvação. 
 Apontava a cruz: apresentava a morte de Cristo, e 
seu sangue expiatório como único meio para a 
salvação. 
 Necessidade de regeneração: é necessário nascer 
de novo todo aquele que deseja a salvação. Esse 
era um ponto fundamental na pregação de 
Whitefield desde o início do seu ministério. 
 Apontava para a eternidade: “Pregava como se o 
juízo final, céu e inferno estivessem assomando o 
horizonte imediato”.60 
 Tinha grande zelo: pregava com grande paixão, 
zelo e fervor. 
 Era humilde: reconhecia que até mesmo como 
pregador era indigno, salvo pela graça. 
 
60 LAWSON, Steven J., Ibid. p. 93. 
60 
 
Suas pregações não eram vazias, seu sucesso devia a 
sua vida piedosa, a sua profunda comunhão com Deus, 
era dedicado no estudo das Escrituras, na oração, lutava 
por santidade, desde sua conversão era focado em 
conhecer mais a Cristo. 
UM APRENDIZADO COM GEORGE WHITEFIELD 
Movido por seu amor a Deus e a Cristo, e por 
grande compaixão pelos pecadores perdidos, Whitefield, 
mesmo encontrado dificuldades, resistências e 
oposições, sentia a grande vontade de pregar o 
evangelho às pessoas, no navio em alto mar ou ancorado 
no porto, nos mercados abarrotados de gente, nos 
campos ou onde quer que encontrasse pessoas, pregava 
o evangelho, expunha a natureza pecadora do homem, 
falava da necessidade e urgência da salvação, apontava 
para Cristo como o único meio de salvação. 
A semelhança de vários servos de Deus que 
deixaram seus legados na história da igreja e da 
sociedade, George Whitefield é aquele imitador de Cristo 
que em vida buscou servir ao seu Senhor e fez com 
61 
 
grande zelo, fervor, humildade e paixão. Oremos a Deus 
por mais trabalhadores na ceara, por mais homens como 
George Whitefield, dedicados na obra do SENHOR. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
62 
 
Recomendação de Leitura: 
DALLIMORE, Arnold A. George Whitefield: Evangelista 
do Avivamento do Século 18. Trad.: Odayr Olivetti. SP: PES, 
2005. 
LAWSON, Steven J. O Zelo Evangelístico de George 
Whitefield. Tard.: Marcia Gomes. SP: Fiel , 2014. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
63 
 
 CAPÍTULO 5 
 
DR. MARTIN LLOYD-JONES: UM HOMEM 
COMPROMETIDO COM A EXPOSIÇÃO DE TODO 
O CONSELHO DE DEUS 
Giovanni Casimiro 
 
“A obra da pregação é a mais 
elevada, a maior e a mais 
gloriosa vocação para a qual 
alguém pode ser chamado. Se 
alguém quer conhecer outra 
razão, eu diria, sem hesitação, 
que a mais urgente 
necessidade da igreja cristã, na 
atualidade, é a pregação 
autêntica.”61 – Dr. Martin Lloyd-
Jones 
 
61 JONES, D. Martyn Lloyd. Pregação e Pregadores. Trad.: João 
Bentes Marques. 2ª ed. SP: Fiel, 2008, p. 15. 
https://ref.ly/logosres/prgprgdrs?ref=Page.p+15&off=575&ctx=a+minha+raz%C3%A3o+%C3%A9+que+~a+obra+da+prega%C3%A7%C3%A3o+%C3%A9
64 
 
Se você já assistiu algum filme de acção, sabe que 
normalmente as histórias giram em torno de um 
personagem que tem que lidar com algum perigo, ou de 
lutar para salvar alguém. Às vezes, ele surgeno último 
minuto, quando não há mais esperança, então ele vem no 
horizonte, vencendo as forças do mal. 
Acho que em alguma medida, nosso Deus é o tipo 
de escritor que no seu enredo coloca sempre um 
personagem para mudar o estado das coisas, quando 
tudo parece estar indo de mal a pior. Não me refiro a 
Cristo, mas a pessoas comuns que por meio de suas 
vidas mudaram páginas completas da história. 
 
 Quando olhamos para a história bíblica, da igreja 
ou do mundo, percebemos no irromper da aurora pessoas 
que tiveram um impacto espantoso. Foi assim com Paulo, 
Lutero, com os missionários que deram sua vida para a 
propagação do evangelho aqui no nosso país; e com este 
leque de imitadores de Cristo do qual este ebook tem 
procurado retratar. Nesta série, estarei focado em falar do 
valoroso homem conhecido por Martin Lloyd-Jones 
(doravante ML-J). 
65 
 
O CONTEXTO 
 O século 20, foi um dos mais desafiantes da 
história. O mundo científico vivia dias gloriosos com suas 
descobertas. O contexto político viu o despontar de duas 
grandes guerras que desimaram milhões de pessoas e 
deu lugar há um dos maiores massacres da história: o 
holocausto dos Judeus. Na saúde, houve o grande 
desafio com o aparecimento de doenças como a gripe 
espanhola e a pólio. O mundo económico foi abalado com 
a grande depressão de 1929. A sociedade estava em 
constante mudança, a revolução sexual da década de 50 
e 60 eclodiu de tal forma que os padrões da moralidade 
foram todos negados. 
 No mundo religioso, a igreja estava a pagar o 
grande preço por ter abraçado o liberalismo teólogico dos 
finais do século 19. Uma luta que começou a ser travada 
anos antes, pelo príncipe dos pregadores Charles 
Spurgeon. A influência de Spurgeon no século 19 foi tão 
grande, que quase não se esperava que surgiria alguém 
que se aproximasse de sua dimensão. Contudo, anos 
mais tarde, quando as coisas pareciam ir de mal a pior, 
Deus soberanamente age na história e traz no meio dela 
66 
 
Martyn Lloyd-Jones, que providencialmente nasceu sete 
anos depois da morte de Spurgeon. 
 ML-J não apenas viveu, mas pastoreou em uma 
época desafiante. Seu registo de vida serve como meio 
para inspirar todo cristão a viver de forma centrada em 
Deus. 
Neste breve artigo, quero levá-lo a imergir na vida 
deste guerreiro do Senhor, focaremos nossa atenção no 
seu compromisso árduo com a Palavra de Deus. A sua 
firmeza de carácter e compromisso com a Escritura, fez 
com que não cedesse diante dos ventos de mudança que 
assolaram a igreja de seu tempo. 
 
O CHAMADO 
Martin Lloyd-Jones vem de uma família com educação 
cristã. Nasceu em 20 de dezembro de 1899 em Caddiff, 
no país de Gales, Grá-Bretanha. Sua família frequentou 
uma igreja Metodista, que tinha uma inclinação mais 
reformada. ML-J reconheceu que crescer neste ambiente 
foi bom para ele, embora sua verdadeira conversão 
aconteceu muito tempo depois. 
67 
 
 ML-J desde pequeno foi dotado com uma 
inteligência acurada. Em razão disso, formou-se com 
distinção em medicina aos 21 anos, sendo chamado para 
ser auxiliar de Sir Thomas horder, famoso médico da casa 
real em Londres. 
Em algum momento de sua vida, ML-J percebeu que o 
maior problema de seus doentes, não era a doença física, 
mas sim, a da profundidade da alma, na qual ele quis 
ajudar a curar pela proclamação do Evangelho. Foi assim, 
que ele decidiu largar a carreira brilhante que tinha pela 
frente na medicina, para prosseguir no pastorado. A 
atitude de ML-J, reflecte bem as palavras de John Jowett 
que certa vez disse, “vocação pastoral é quando todas as 
outras portas estão abertas, mas você só anseia entrar 
pela porta do ministério”.62 ML-J não era um fracassado, 
tão pouco um mercenário religioso. Pelo contrário, ele 
considerou tudo como perda, diante do grande ganho que 
seria o de servir ao seu Senhor. 
 
62 John Jowett, Apud LOPES, Hernandes Dias. De Pastor a Pastor: 
Princípios para ser um pastor segundo o coração de Deus. SP: 
Hagnos, 2008, p. 35 
68 
 
Conta-se que “houve muita crítica na imprensa sobre a 
loucura de um jovem médico que tinha abandonado um 
alto salário, e uma carreira promissora, de fama e glória 
profissional, para se tornar um pastor pobre”.63 Para ML-J, 
não havia honra maior do que a de servir ao Senhor dos 
senhores. Ele mesmo reconheceu que no final das contas 
não renunciou a coisa alguma; tinha recebido tudo. 
Para nossa surpresa, ML-J não fez a formação em 
nenhum seminário, uma vez que ele entendia que em seu 
contexto a maioria dos seminários estavam infestados das 
ervas daninhas do liberalismo teológico, isso não signfica 
que ele desencorajava a necessidade de estudo para um 
melhor serviço ministerial, simplesmente em seu contexto, 
as escolas de teologia estavam com fortes influências 
negativas, fazendo com que ele optasse pelo 
autodidatismo. 
O COMPROMISSO 
 
63 FERREIRA, Franklin. D. Martyn Lloyd-Jones: Pregador da palavra. 
SP: PES, p. 3. 
69 
 
Das muitas características possíveis de serem 
abordadas sobre este arauto do século passado, uma 
sem sombra de dúvidas que em muito sobressai é o seu 
compromisso com a Escritura como pregador. ML-J foi 
um homem do púlpito. Acredita-se que durante os seus 30 
anos de ministério tenha pregado pelo menos só na 
catedral de Westminster (a segunda igreja a pastorear) 
mais de 4000 sermões64: 
A obra da pregação é a mais elevada, a maior 
e a mais gloriosa vocação para a qual alguém 
pode ser chamado. Se alguém quer conhecer 
outra razão, eu diria, sem hesitação, que a 
mais urgente necessidade da igreja cristã, na 
atualidade, é a pregação autêntica.65 
Ao nutrir esta forte convicção sobre a pregação, ML-J 
solidificou o seu compromisso em pregar a Bíblia, pura e 
simplesmente. Em um contexto que as inovações para 
atrair as multidões iam surgindo, ele permaneceu firme e 
convicto de que o meio de atrair as pessoas deve ser pela 
 
64 LAWSON, Steven. A pregação apaixonada de Martyn Lloyd- Jones. 
Trad.: Elizabeth Gomes. SP: Fiel, 2016, p. 54. 
65 JONES, D. Martyn Lloyd, Pregação e Pregadores, p. 15. 
https://ref.ly/logosres/prgprgdrs?ref=Page.p+15&off=575&ctx=a+minha+raz%C3%A3o+%C3%A9+que+~a+obra+da+prega%C3%A7%C3%A3o+%C3%A9
70 
 
Palavra e não por entretenimento, que segundo ML-J 
contribuiu bastante para a depreciação da pregação: 
Pior ainda tem sido o aumento do 
entretenimento no culto público — o uso de 
filmes e a introdução de mais e mais cânticos. 
A leitura da Palavra e a oração foram 
drasticamente abreviadas; mais e mais 
tempo, consagrado aos cânticos. Já existe 
um “líder de louvor” como se fora um novo 
tipo de oficial da igreja; conduz os cânticos, e 
supostamente compete-lhe produzir a 
atmosfera propícia. Porém, ele gasta tanto 
tempo para produzir a atmosfera propícia que 
não resta tempo para a pregação nesse 
ambiente! Tudo isso faz parte da depreciação 
da mensagem.66 
ML-J não sucumbiu à pressão de seu tempo, de 
procurar novas formas de atrair multidões. Parece que 
estas palavras foram escritas em pleno ano de 2022, mas 
pasmem, ML-J proferiu-as em 1968. Essa é com certeza 
uma mensagem para a igreja de nosso tempo, que se 
perdeu no emarenhado mundo de possibilidades 
 
66 JONES, D. Martyn Lloyd, Ibid., p. 21. 
71 
 
mundanas para atrair as pessoas à igreja, deixando de 
confiar na plena eficácia da Palavra de Deus. 
 ML-J, foi um exímio pregador da lectio continua, ou 
seja, pregação sequencial. Pelo seu compromisso de 
pregar todo desígnio de Deus, ML-J desafiou-se a pregar 
livros completos da Escritura. Foi desta forma, que 
durante o seu ministério, entre 1950-1952, pregou o 
sermão do Monte em 60sermões. Entre 1954-1962 
pregou a carta aos Efésios, e entre 1955 a 1968, durante 
13 anos, pregou a carta aos Romanos. 
Engana-se quem pensa que tais pregações eram 
cansativas e enfadonhas. ML-J pregava três vezes na 
semana e sabia diversificar a dieta alimentar da igreja. Ele 
dizia que cada pregador: 
[...] deveria ser, por assim dizer, três tipos ou 
categorias de pregador. Há a pregação que é 
primariamente evangelística. Essa deveria 
ocorrer pelo menos uma vez por semana. Há 
a pregação didática, mas que se especializa 
no que é experimental. Geralmente faço isso 
aos domingos pela manhã. Há também 
aquele tipo de pregação mais puramente 
72 
 
doutrinária, que eu mesmo faço em uma noite 
durante a semana.67 
 UM APRENDIZADO COM DR. MARTYN LLOYD-JONES 
ML-J foi um homem para além de seu tempo. Em 1968 
depois de uma doença repentina, teve que abandonar o 
pastorado, e em 1981, o doutor acabou por deixar este 
mundo. Mais de 40 anos se passaram, mas ele ainda 
continua a falar a novas gerações. Não conseguimos 
medir a dimensão de seu impacto, mas podemos elencar 
alguns aspectos de sua vida que podem inspirar-nos cada 
vez mais não apenas para sermos melhores pregadores, 
mas acima de tudo melhores cristãos: 
 ML-J considerava-se um pregador expositivo. No 
começo de seu chamado, não estava tão 
preocupado sobre se saberia pregar, mas com o 
conteúdo de sua mensagem. Esse compromisso 
mental é necessário se queremos agradar à Deus. 
A pregação expositiva não é tanto um método, mas 
uma filosofia de ministério, tem mais a ver com 
 
67 JONES, D. Martyn Lloyd, Ibid., p. 62 
73 
 
qual será a nossa atitude ao lidar com o texto 
bíblico; é o compromisso de se submeter 
unicamente à Escritura. 
 ML-J resistiu às pressões de seu tempo, para 
encontrar coisas mais atrativas para dar à sua 
igreja. Hoje em muitas igrejas, existe a mentalidade 
de que se programas atrativos não forem 
implementados, então as pessoas não terão 
interesse pela igreja. Pelo contrário, ML-J 
acreditava que a coisa mais atraente que podemos 
dar à igreja é o evangelho puro, pregado de forma 
simples e clara. 
 ML-J não teve receio de ser taxado como 
fundamentalista, e extremista por outros, ainda que 
isso custasse boas relações, se a verdade bílica 
estivesse em jogo. 
 ML-J confirma que um dos maiores movimentos 
que surgiu no mundo foram os puritanos com seu 
zelo pela verdade e santidade. Ele disse certa vez 
que os puritanos serviram de grande influência em 
seu ministério, por isso se prontificou em estudá-
los cada vez mais. 
74 
 
 
ML-J é uma voz que se calou, mas que ainda fala por 
meio de seus escritos. Sua vida foi o exemplo de alguém 
digno de ser estudado e admirado. Sua vida mostra que 
só precisamos de um compromisso sólido com Deus, que 
ele fará o resto. 
 O valor de ler uma biografia é que podemos 
vislumbrar a forma como Deus usa seus barros para 
impactar o mundo. Eu penso que Deus ainda continua 
levantando em cada geração pessoas com 
compromisso e fidelidade a Ele. Por isso, cada cristão 
precisa submeter-se à vontade de Deus e vislumbrar a 
obra que o oleiro poderá fazer por meio daquele que 
obedece à sua voz, assim como ML-J. 
 
 
 
 
 
 
 
 
75 
 
SUGESTÕES DE LEITURA: 
 
FERREIRA, Franklin. D. Martyn Lloyd-Jones: Pregador da 
palavra. SP, PES, s/d. 
LAWSON, Steven. A pregação apaixonada de Martyn 
Lloyd- Jones. Trad.: Elizabeth Gomes. SP:Fiel, 2016. 
JONES, D. Martyn Lloyd. Pregação e Pregadores. Trad.: 
João Bentes Marques. 2a ed. SP: FIEL, 2008. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://ref.ly/logosres/prgprgdrs?ref=Page.p+15&off=575&ctx=a+minha+raz%C3%A3o+%C3%A9+que+~a+obra+da+prega%C3%A7%C3%A3o+%C3%A9
76 
 
SOBRE O PROJETO 
Semeando Ideias Reformadas é um projeto angolano 
que visa apresentar conteúdos reformados para uma fé 
reformada. O projeto foi idealizada aos 12 de feverreiro 
de 2020. Temos trabalhado com a criação de conteúdo na 
internet (facebook, Instagram, Youtube e site do projeto). 
Atualmente o projeto é composto pelos seguintes 
membros68: 
1. Kennedy Bunga (cordenador) 
2. José Júnior (Brasileiro; vice coordenador) 
3. Alber Pacvira (1º secretário) 
4. C.R. Bernardo (2º secretário) 
5. Edvaldo Neto (tesoreiro) 
6. Mário Panda (marketing) 
7. Rev. Mateus Pimpão (conselheiro) 
8. Rev. Giovanni Casimiro 
9. Luís Mendoça 
10. Josemar Frederick 
 
 
68 Os cargos listas aqui são temporários. Eles mudam ao final de 
cada mandato. 
77 
 
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