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APOCALIPSE E ESCATOLOGIA AULA 2 Prof. Antônio Carlos da Silva 2 DISPENSAÇÕES CONVERSA INICIAL Uma das maneiras de estudar Escatologia incluindo o livro do Apocalipse é procurar conhecer a doutrina do dispensacionalismo. Trata-se de uma doutrina teológica e escatológica cristã que afirma que a segunda vinda de Jesus Cristo será um acontecimento no mundo físico, envolvendo o arrebatamento e um período de sete anos de tribulação, após o qual ocorrerá a batalha do Armagedom e o estabelecimento do reino de Deus na Terra. Essa doutrina permite, a partir da Bíblia, considerar que a humanidade tem vivido épocas diferentes sendo definidas por eventos específicos. O termo dispensação é interpretado pelo autor da Bíblia Scofield como "um período de tempo em que um indivíduo é experimentado quanto à sua obediência a alguma revelação especial da vontade de Deus" (Scofield, 2009, p. 3). Lembrando que essa é uma maneira de pensar sobre a história da humanidade que prevê um desfecho que colocará tudo em ordem novamente, já que o "pecado original" — desobediência de Adão e Eva, que causou a expulsão dos dois do jardim do Éden e a perda da vida eterna que lhes estava proposta (Bíblia. Gênesis, 3: 6-7) — deu início a uma grande “desordem”, tanto interior, do ser humano consigo mesmo, como exterior, na sua relação com o seu semelhante. Nesta primeira parte, veremos as dispensações da inocência, da consciência, do governo humano, patriarcal e da Lei (Torah). Em cada um desses períodos, ocorrem eventos que marcam o início e o fim de uma dispensação. Há estudiosos que concordam e há aqueles que discordam. Por isso, vale lembrar que, entre os defensores dessa doutrina, não há consenso quanto ao número e à extensão das dispensações e que o ideal é averiguar e procurar conhecer um pouco mais dessa doutrina, a começar pela dispensação da inocência. TEMA 1 – DISPENSAÇÃO DA INOCÊNCIA A palavra equivalente a dispensação, a partir da língua grega, é oikonomia, que deu origem à palavra “economia” na língua portuguesa. Na linguagem teológica, uma dispensação seria a maneira como Deus trata o ser 3 humano durante determinado período, no qual ele é submetido a provas até que se complete o tempo previsto para se passar por elas. A dispensação da inocência inicia-se na criação do homem e estende-se até a expulsão do Éden. Em relação a esse período, podemos destacar cinco aspectos que consideramos fundamentais. 1.1 Comunhão plena Conforme o relato bíblico, Deus “[...] andava no jardim na viração do dia [...]” (Bíblia. Gênesis, 3: 8) com o intuito de se comunicar com o homem e a mulher. Quando Deus cria os animais, leva-os até o homem para que este desse nome a eles (2: 19). Tanto homem como mulher estavam nus e não se envergonhavam (2: 25), havia pureza na intimidade para com Deus e entre eles. Essa comunhão plena foi planejada e sempre foi desejada por Deus em relação à humanidade. 1.2 Pecado Quando Deus cria o homem, ele está envolto pela ação graciosa de Deus que lhe prepara um jardim e lhe ordena que não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que comesse dela certamente morreria (Bíblia. Gênesis, 2: 17). Depois dessa ordem, Deus faz o homem cair em sono profundo (2: 21) e, de sua costela, forma a mulher (2: 22). Mas a serpente, com sua astúcia, leva a mulher a cometer o erro de comer do fruto da árvore, dando do fruto ao homem (3: 8). Esse é o relato do pecado que atraiu consequências sobre o homem, a mulher e a serpente. Nesse episódio, o ser humano perde a sua inocência. 1.3 Sentenças Como sempre acontecia, quando Deus procura pelo homem no jardim, este o responde que está escondido, pois está sentindo medo e não tem coragem para ir ao encontro de Deus. Como não havia mais inocência, o homem, a mulher e a serpente ouvirão sentenças que os acompanharia por toda a sua existência a partir dali. Eles seriam punidos. 1.4 Promessa escatológica 4 Quando o autor do Gênesis apresenta as sentenças, ele também menciona a promessa que é conhecida como o anúncio de um protoevangelho, na linguagem que se usa na prática missionária. Essa promessa também é conhecida como escatológica e profere que “[...] o descendente da mulher ferirá a cabeça da serpente [...]” (Bíblia. Gênesis, 3: 15). Esse texto aponta para o momento da crucificação e da ressurreição de Cristo e, posteriormente, em uma ocasião apocalíptica, para a destruição final de Satanás (Bíblia. Apocalipse, 20: 10). 1.5 Juízo (morte espiritual e expulsão) Como o homem e a mulher falharam e perderam a inocência, eles são sentenciados e punidos: cada um com uma punição física peculiar e uma punição espiritual comum, eles perdem o direito de manter comunicação plena e contínua com Deus por terem se tornado impuros. São expulsos do jardim e, para não ficarem nus, ganham uma vestimenta especial para darem início a sua vida pós-pecado, tendo agora que agir conforme sua consciência lhes orientar. TEMA 2 – DISPENSAÇÃO DA CONSCIÊNCIA Da expulsão do Éden até o dilúvio se passam 1.656 anos. Depois de pecarem, homem e mulher perdem a condição de inocentes e se tornam conscientes, tendo agora que decidir entre fazer o bem ou o mal. 2.1 Consciência do bem e do mal Fora do Éden, conscientemente, o ser humano passa a tomar decisões e a sofrer as consequências delas. A comunhão íntima e contínua do ser humano com Deus se rompeu, ainda haverá algum tipo de contato e diálogo, mas não conforme era no Éden. O relato do capítulo 4 de Gênesis narra o nascimento e as ações na idade adulta dos dois primeiros filhos de Adão e Eva, Caim e Abel. Ambos apresentaram ofertas a Deus: Abel ofertou o que era agradável, mas a oferta de Caim não agradou a Deus. Caim se enraivece e Deus lhe indaga: se fizeres bem, não é certo que serás aceito? O relato segue e Caim decide matar Abel. Esse é um texto que remete à ação do ser humano de escolher entre fazer o bem ou o mal. 5 6 2.2 Corrupção generalizada Séculos se passaram até que surgisse a geração de Noé. A repetição em escolher fazer o que era mau ganhou proporções alarmantes e o autor do Gênesis registrou da seguinte forma: “Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra, e que era continuamente mau todo o desígnio do coração humano” (Bíblia. Gênesis, 6: 5). Em virtude dessa constatação, Noé, que procurava fazer o bem, foi desafiado por Deus a construir uma arca (6: 14). 2.3 A arca de Noé Embora existam divergências quanto às dimensões da arca, Ryrie (1994) nos fornece as seguintes medidas: 137 metros de comprimento, 23 metros de largura e 14 metros de altura com um deslocamento de 20 mil toneladas e uma tonelagem bruta de 14 toneladas. O elemento arca se transformou em um símbolo escatológico. Jesus, em conversa com os discípulos, alertou quanto ao que ocorrerá nos dias que antecederão a sua segunda vinda: “E, como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem” (Bíblia. Mateus, 24: 37). 2.4 Dilúvio (juízo) Uma vez terminada a arca, “por causa das águas do dilúvio, entrou Noé na arca, ele com seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos” (Bíblia. Gênesis, 7: 7). E, dessa forma, o dilúvio pôs fim à dispensação da consciência. Raul Esperante, professor do Geoscience Research Institute, liderou em 2018 uma expedição de arqueólogos para verificar a posição da arca nas chamadas montanhas de Ararate (8: 4), em Agri, na Turquia. Da mesma fonte (Ciberia, 2018), temos: “Oktay Belli, professor e arqueólogo da Universidade de Istambul e membro do Instituto Turco de História Antiga, concorda com Esperante e está convencido de que ‘a Arca de Noé e o Dilúvio não são um mito, mas sim um evento real, mencionado em diferentes livros sagrados’”. 7 TEMA 3 – DISPENSAÇÃODO GOVERNO HUMANO Essa dispensação apresenta um período de duração bem menor que o da consciência, e vai do dilúvio à aliança com Abrão (427 anos). Na narrativa bíblica, ela acontece do capítulo 8 ao 12 do Gênesis. 3.1 Instituição de governos Após o dilúvio e do tempo de espera na arca, Noé sai com toda a sua família, e de seus três filhos surgem muitos descendentes. Assim, há um repovoamento da terra e a humanidade passa a se organizar em sociedade, dando início à formação das primeiras nações-estados, como Babel e Assur (atual Iraque), Mizraim (atual Egito) etc. Conforme o relato de Gênesis, 11: 9, houve uma dispersão da sociedade organizada que vivia em Babel, que se espalhou em todas as direções. 3.2 Torre de Babel Essa torre muito alta pode ser entendida como os zigurates, que existiram na Babilônia e têm sido descobertos por arqueólogos, os quais tinham a forma de pirâmide com vários patamares e eram monumentos religiosos ou templos pagãos. Os antigos babilônicos concebiam o mundo como uma alta montanha e achavam que os deuses habitavam nos cumes dos montes; então, colocavam no último patamar das torres a morada dos deuses da cidade. Na Babilônia, a torre mais famosa era a do deus Marduque, chamada de “casa do fundamento do céu e da terra”. O zigurate (torre de Babel) era uma espécie de torre-templo usada para prestar culto ao deus Marduque Esagila. Esse conjunto arquitetônico era coroado por um templo onde se julgava que a divindade descia para ter contato com a humanidade (Davidson, 1995). Ali, Deus desce, espalha os moradores e se inicia uma divisão na ocupação das terras em todas as direções. O elemento teológico desse texto que pode ser vinculado aos eventos escatológicos é o fato de o Senhor descer e não permitir que a adoração fosse realizada a deuses que não eram verdadeiros (Bíblia. Gênesis, 11: 5-8). Tal ação pode apontar para o futuro das doutrinas que defendem a segunda vinda de Cristo, visível a toda a humanidade, quando haverá uma pluralidade religiosa 8 generalizada em busca de práticas ecumênicas ao mesmo tempo em que crescerá a intolerância religiosa. Quando Deus desce e dispersa os moradores daquela cidade, o autor do Gênesis introduz na narrativa uma genealogia dos descendentes de Sem, filho de Noé, até identificar Terá, o pai de Abrão. Algumas frases do texto são contundentes, mas a ordem “[...] Sai da tua terra e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei" (Bíblia. Gênesis, 12:1) aponta para uma insatisfação de Deus em relação àquele lugar. Segundo o capítulo 24, versículo 2, de Josué, Terá servia a outros deuses. Talvez essa seja uma das razões de Abrão precisar sair daquele lugar e ter um novo momento em sua vida, pois, no futuro, a partir dele se originaria o povo hebreu. 3.3 Promessa a Abrão Após a morte de Harã e os “casamentos” de Abrão e Naor, Terá sai com seus filhos de Ur dos caldeus para ir a Canaã. No cenário de Ur, a vida é desenvolvida em comunidade sob normas, princípios e tradições. Ryrie (1994) comenta que, em Ur, se achava um grande zigurate, que Abraão teria conhecido. Em meio a esse contexto politeísta, Terá morre, e Abrão recebe a ordem de sair. O modo dispensacionalista de pensar identifica esse momento como o evento principal para pôr fim à dispensação do governo humano e dar início à dispensação patriarcal. TEMA 4 – DISPENSAÇÃO PATRIARCAL Essa dispensação começa aproximadamente em 1960 a.C. e perdura até cerca de 1530 a.C. Da aliança feita por Deus com Abrão até o momento em que Moisés recebe a Lei no Sinai são cerca de 430 anos. Há discussões em torno dessas datas, mas o fato principal dessa dispensação é que, por meio de Abrão, surgem duas nações que no futuro se tornaram inimigas. A inimizade entre Sara, a esposa, e Agar, a concubina, estendeu-se a Isaque, o filho da esposa, e a Ismael, o filho da concubina. Isaque gera Jacó, pelo qual surge o povo de Israel. Por meio de Ismael, surge o povo árabe. Esse é um elemento escatológico importante, pois essa inimizade se mantém até o presente momento, em pleno século XXI. 9 4.1 Destaques Em relação à dispensação patriarcal, podemos dizer que os cinco personagens principais são Abraão, Isaque, Jacó, José e Moisés, embora existam outros importantes. Há que se destacar a promessa do surgimento de uma grande nação, as sentenças de benção e maldição, os períodos de escassez (incluindo fome) que Abrão, Isaque, Jacó e José experimentaram, e a formação das tribos do povo de Israel. Essa formação é objeto de estudo e discussão, pois a Arqueologia vem fornecendo elementos que têm alterado a concepção do modo como essas tribos se formaram. Também merece destaque o período de escravidão ocorrido no Egito (cerca de 430 anos), do qual Moisés participou, tendo se tornado o libertador do povo hebreu do Faraó. Em todos esses destaques, é possível encontrar ligação histórica entre o que acontece no período em que Cristo veio à Terra e alguns eventos ocorridos com o povo de Israel ao longo da história da humanidade. Há quem entenda que, quando o povo hebreu deixou o Egito, ele ainda teria Javé ou Jeová como Deus único. Seria somente após a ocorrência das dez pragas relatadas no texto bíblico (Bíblia. Êxodo, 7: 14-11: 10) e em meio à peregrinação no deserto, que o povo de Israel passa a adorar e obedecer a um Deus específico (12: 37-19: 24; 20: 1- 40: 38). A libertação do Egito e a peregrinação pelo deserto por cerca de 40 anos teria o objetivo de promover uma concepção teológica desligada da realidade egípcia. A prestação de culto a apenas um Deus se torna o grande desafio do povo, que passará por um processo de estruturação do seu convívio para com a divindade e da sua vida em comunidade. Além disso, era importante saber como se daria seu relacionamento com os estrangeiros que viriam a encontrar. O estabelecimento de normas para o convívio social ganha forma impressa, não seria uma tradição mantida apenas por comunicação oral. As tábuas da Lei (Torah) recebidas por Moisés e apresentadas ao povo seriam a ratificação e confirmação disso. 4.2 Vínculos escatológicos com Jesus Alguns elementos dessa história e da peregrinação são mencionados por Jesus na ocasião em que desenvolve sua missão junto ao povo de Israel. Em 10 termos escatológicos, em Jesus se cumprem algumas narrativas profetizadas pelo autor do Êxodo. Por exemplo, no Evangelho de João, duas menções têm sido usadas. Uma, no capítulo 5, versículo 46, quando Jesus comenta: “Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque ele escreveu a meu respeito”. A referência mencionada aqui por Jesus seria o texto de Deuteronômio, capítulo 18, versículo 18: “Eis lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmãos, como tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar”. Outra seria a fala de Filipe em João, capítulo 1, versículo 45: “Filipe achou Natanael, e disse-lhe: Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José”. A dispensação patriarcal desenvolve a função de comunicar a fidelidade ao Deus Javé (Jeová) por meio de Abraão, Isaque, Jacó e seus descendentes. Em termos históricos, quem abençoa os descendentes de Abraão é abençoado, tanto os que se encontram no território do Israel atual como aqueles que estão espalhados por todo o mundo. E quem os amaldiçoa é amaldiçoado. Esse pensamento coloca o povo de Israel como centro e os demais povos em segundo plano, algo que atualmente é aceito por uma parcela da humanidade e é desprezado por outra. Esse é um elemento que pode ser visto como escatológico. Há, historicamente, nações aliadas e fiéis a Israel e há nações inimigas. Se no futuro houver algum tipo de embate contra os judeus, os que os defenderem serão protegidos pelo Messias, os que forem contráriossofrerão o juízo. O cenário para esse evento acontecer tem sido encontrado por muitos estudiosos no capítulo 16, versículo 16, do Apocalipse, na ocasião do Armagedom. Assim, a dispensação da Lei surgiu para mostrar aos hebreus as diferenças que deveriam haver entre a forma de vida do povo de Israel em relação à dos demais povos. A Lei (Torah), também conhecida como Lei Mosaica, requer exclusividade de adoração a um Deus único e obediência aos ensinamentos e preceitos. A Lei deverá ser praticada com toda reverência, devoção e respeito para com o Deus que libertou um povo escolhido do regime egípcio de escravidão. 11 TEMA 5 – DISPENSAÇÃO DA LEI Quando a Lei Mosaica é instaurada, ela prevê um regime teocrático de governo. Ordenanças e estatutos são prescritos para serem obedecidos em relação a Deus e ao convívio comunitário. O período de peregrinação pelo deserto, cerca de 40 anos, tem sido visto como uma referência escatológica para a peregrinação do povo de Deus atual enquanto aguarda pela segunda vinda de Cristo/Messias. Sob a direção de Moisés e do exercício sacerdotal de Arão, o povo de Israel passou por uma estruturação que abrangia aspectos morais, religiosos, éticos, sociais e até higiênicos. A coluna de fogo e a nuvem que acompanhava a peregrinação simbolizavam a presença de Deus em meio ao povo (Bíblia. Êxodo, 13: 21). Talvez esse seja o elemento principal nesse período conhecido como dispensação da Lei, a presença de Deus. Foram cerca de 1.430 anos entre a instituição da Lei e o sacrifício no Calvário (a crucificação de Cristo). 5.1 Os regimes teocrático e monárquico O regime teocrático teve alguns representantes que transmitiram ao povo as mensagens de Deus. Começando por Moisés, Arão e Josué e chegando aos juízes. Mas esse regime foi questionado pelo povo de Israel e veio a monarquia. Três reis governaram um país unificado, e diversos reis o fizeram após a divisão do reino. Em meio ao regime monárquico, os profetas atuaram, tanto sob o governo único como após sua divisão, com o objetivo de comunicar aos reis e ao povo a vontade de Deus em muitas ocasiões apontando para o primeiro advento do Messias. O fracasso do sistema monárquico levou o povo de Israel a passar por provações, entre elas a expulsão de sua própria terra para um exílio de 70 anos aproximadamente. Essa realidade fez crescer ainda mais a expectativa em relação ao surgimento de um salvador, alguém que governaria com sabedoria e ajudaria o povo de Israel a não ser constantemente vencido por povos inimigos. O profeta Isaías (9: 2) faz uma promessa dizendo que “O povo que andava em trevas viu grande luz [...]”. Para alguns estudiosos, esse texto aponta para o cumprimento na figura do rei Josias, outros, porém, identificam aqui uma profecia messiânica. 12 5.2 A reverência à Lei A reverência à Lei Mosaica é estabelecida, obedecida, depois esquecida e, por fim, resgatada. O lugar para se aprender sobre a Lei era o templo e este era um dos símbolos mais importantes do povo de Israel. Aliás, tanto o tabernáculo, templo móvel construído por Moisés, como o templo fixo, construído por Salomão, simbolizavam um lugar em que se buscava a presença de Deus, mas ambos se perderam na história. Em meio às profecias do exílio babilônico, surge uma profecia sobre a construção de um templo, que em princípio não seria o mesmo que Esdras ajudou a construir, ele seria o templo descrito por Ezequiel nos capítulos 40 a 48. Esse templo ainda é esperado por parte de alguns judeus, ainda há expectativa de sua construção. Trata-se de um elemento escatológico que ao menos uma parte do povo judeu espera pelo cumprimento para que novamente a Lei possa ser estudada e reverenciada. 5.3 A Lei e Jesus Quando o povo de Israel retorna do exílio babilônico, havia a expectativa de Israel ressurgir como nação, mas os frequentes embates com povos inimigos e as derrotas sofridas para os fortes impérios grego e romano fizeram os judeus manterem a esperança do surgimento do Messias. Após um período de silêncio (cerca de 400 anos), cumpre-se a profecia do nascimento do Messias “[...] Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel” (Bíblia. Isaías, 7: 14). O Emanuel também é confirmado pelo Evangelho de Mateus, capítulo 1, versículo 23. Jesus cumpriu a Lei, aprofundou e completou as prescrições éticas da Lei (Bíblia. Mateus, 5: 17-20). A proclamação dele não rompeu com os princípios do Antigo Testamento, mas o perfil do padrão requerido por Jesus aos poucos foi sendo estabelecido. Talvez o momento mais contundente tenha sido o momento em que ele repreende os judeus que transformaram a “casa do Pai” em um lugar de comércio (21: 13), em uma repreensão que talvez seja válida para um contexto pré-apocalíptico. Em vez de se cumprir o que a Lei ensina, o ensino dela é negligenciado. 13 NA PRÁTICA A doutrina do dispensacionalismo nos possibilita observar a história da humanidade e vislumbrar o que está profetizado para acontecer no futuro. Ela pode ser vista como um recurso para compreender melhor o propósito divino para a humanidade. Vale ressaltar que, entre os próprios dispensacionalistas, não há consenso quanto ao número e à extensão das dispensações. Dessa forma, o que estudamos aqui é um roteiro que procura favorecer uma melhor compreensão da doutrina. FINALIZANDO Até agora conhecemos cinco dispensações. A dispensação da inocência, que tem início na criação do homem e segue até a expulsão de Adão e Eva do jardim do Éden. Nesse momento, abordamos a comunhão plena do ser humano com Deus, o pecado original, as sentenças pronunciadas para o homem, a mulher e a serpente, a promessa escatológica também conhecida como protoevangelho e juízo vindo sobre Adão e Eva, isto é, a morte espiritual e a expulsão do jardim. A dispensação da consciência dura da queda do primeiro casal até o dilúvio. Estudamos a consciência do bem e do mal, a corrupção generalizada do ser humano, a construção da arca de Noé e o evento do dilúvio como juízo sobre toda a humanidade. A dispensação do governo humano perdurou do dilúvio até a chamada de Abrão, envolvendo cerca de 427 anos. Abordamos a instituição de governos, alguns aspectos sobre a Torre de Babel e a promessa feita a Abrão. A dispensação patriarcal, desde a aliança feita com Abrão, durando cerca de 430 anos, findou com o recebimento da Lei no monte Sinai (Bíblia. Êxodo, 19: 8). Nesse estudo, vimos alguns destaques e vínculos escatológicos com Jesus. Por fim, a dispensação da Lei se prolonga dessa ocasião até a crucificação de Cristo no Calvário. Estudamos os períodos teocrático e monárquico, a reverência à Lei e a relação de Jesus com a Lei. Ainda há as duas últimas dispensações, a da graça e a do Reino milenar, além das alianças Edênica, Adâmica, Noélica, Abraâmica, Mosaica, Palestiniana, Davídica e a Nova Aliança. 14 REFERÊNCIAS AQUINO, F. A Torre de Babel: qual é a sua mensagem? Cleofas. 2018. Disponível em: <https://cleofas.com.br/a-torre-de-babel-qual-e-a-sua- mensagem/>. Acesso em: 14 abr. 2019. BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Disponível em: <http://biblia.com.br/joaoferreiraalmeidarevistaatualizada/daniel/dn-capitulo- 12/>. Acesso em: 14 abr. 2019. BLUNT, D. O papado é o anticristo. Recife: Projeto Os Puritanos, 2013. Disponível em: <https://livros.gospelmais.com.br/files/livro-ebook-o-papado-e-o- anticristo.pdf>. Acesso em: 14 abr. 2019. BROWN, C.; COENEN, L. Dicionário internacional de Teologia do Novo Testamento. 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