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d l Descrever os modelos atômicos de Thomson, Bohr e Schrödinger. Defi nir os números quânticos dos elétrons de um átomo. Determinar as confi gurações eletrônicas dos átomos neutros e de íons. 5AULA Metas da aulaM d ld lMetas da aula ob jet ivo s Estrutura eletrônica dos átomos Pré requisitoPré-requisito Você precisa dos conhecimentos da aula anterior sobre a estrutura do átomo para melhor compreender os conceitos desta aula. Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Comparar o tamanho das órbitas de Bohr em relação a átomos distintos. Determinar o número de orbitais atômicos em cada camada do átomo. Escrever a confi guração eletrônica de átomos e íons. Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos 62 C E D E R J INTRODUÇÃO Na aula anterior, você aprendeu que um átomo é formado por um núcleo denso e extremamente pequeno circundado pelos elétrons. Nesta aula, va- mos analisar a forma como os elétrons se distribuem em torno dos núcleos. Esta distribuição defi ne a estrutura eletrônica do átomo. Você vai aprender a caracterizar os elétrons presentes no átomo pelos seus números quânticos e a forma de arrumá-los de acordo com o princípio da estruturação. OS MODELOS ATÔMICOS DE THOMSON E DE RUTHERFORD-BOHR No começo do século XX, devido à descoberta das partículas subatômicas, houve muita especulação de como seria a estrutura do átomo. Sabia-se que era formado por partículas de carga positiva e de carga negativa (a existência do nêutron foi comprovada mais tarde), mas não se tinha idéia de como estas partículas se arrumavam para formar o arranjo estável característico do átomo. Um modelo simples, proposto por J.J. Thomson, sugeria ser o átomo uma esfera maciça, como no modelo de Dalton, porém com cargas positivas e negativas disseminadas em seu interior. Este modelo inicial fi cou conhecido como o “modelo do pudim de passas”. Na Figura 5.1, você pode ver como seria um átomo segundo essa formulação. A esfera maciça está cortada para que você visualize a disseminação de cargas positivas e negativas dentro da esfera. Figura 5.1: No modelo de Thomson, o átomo era como um “pudim de passas”. Elétrons Carga positiva C E D E R J 63 A U LA 5Experiências realizadas por Rutherford, por volta de 1909, mostraram que o modelo de Thomson era inconsistente. Naquelas experiências, lâminas fi nas de metais, como o ouro, eram bombardeadas por um feixe de partículas α, que já se sabia serem carregadas positivamente (veja a Tabela 4.2 da aula anterior). Observe o comportamento do feixe na Figura 5.2: Figura 5.2: Comportamento do feixe de partículas α ao incidir sobre uma fi na lâmina α de ouro. Rutherford verifi cou que este comportamento era incompatível com o modelo de Thomson. Fonte α Folha de ouro Detetor tículas Espalhadas S Rutherford verifi cou que a maioria das partículas atravessava a lâmina sem sofrer desvios, como se nada encontrasse em seu caminho; além disso, observou que uma pequena fração era desviada por ângulos muito maiores do que o previsto caso o átomo se comportasse segundo o modelo de Thomson. Para explicar as suas observações, Rutherford estabeleceu, em 1911, o modelo nuclear do átomo (que já foi apresentado na aula ante- rior). Neste modelo, o átomo contém um núcleo muito pequeno e massivo rodeado por elétrons, que se encontram bastante afastados dele. O modelo de Rutherford foi aprimorado por Niels Bohr, em 1913. Bohr postulou que: 1. Os elétrons de um átomo giram em torno do núcleo em órbitas circulares concêntricas, como planetas orbitando em torno do Sol (como você pode visualizar na Figura 5.3). 2. Apenas certas órbitas são permitidas para um dado elétron. Isto signifi ca que a distância entre um elétron e o núcleo do átomo não pode ter qualquer valor, mas somente certos valores permitidos. Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos 64 C E D E R J 3. Os valores permitidos para a distância do elétron ao núcleo são aqueles em que o módulo do MOMENTO ANGULAR ORBITAL (L) do elétron é um múltiplo da constante de Planck (h). Estas distâncias permitidas (rn) para um elétron em um átomo cujo núcleo tem número atômico Z, são dadas por rn = n2 a0 Z . Nesta expressão, n é um número inteiro que defi ne a órbita permitida, e a0 é uma reunião de constantes, cujo valor é 0,529 Å (conhecida como raio de Bohr). 4. Ao circular em uma órbita permitida, a energia do elétron é constante. A cada órbita corresponde um nível de energia (E) característico. Os valores de energia permitidos ao elétron dependem de um número inteiro positivo (n =1, 2, 3, 4,...), chamado número quântico. 5. O elétron pode pular de uma órbita para outra. Ao pular, ele emite ou absorve energia correspondente à diferença ? E entre o nível de energia inicial, Ei, e o fi nal, Ef: ∆E = Ef - Ef i Figura 5.3: Modelo de Bohr. Nesse modelo, os elétrons se movem no plano em órbitas defi nidas. r^ v ω MOMENTO ANGULAR ORBITAL Na Figura 5.4 você poderá visualizar as grandezas pertinentes ao movimento de uma partícula de massa (m) circulando a uma distância (r) de um ponto origem (O). A velocidade de deslocamento da partícula é v. O momento angular (L) da partícula, aponta perpendicularmente ao plano do movimento da partícula, e seu valor absoluto (módulo) é L = mvr. Segundo Bohr, o valor de L para um elétron em torno do núcleo de um átomo é um múl- tiplo da constante de Planck (L = nh/2π), em que n é um núme- ro inteiro e diferente de zero. Figura 5.4: Representação do momento angular orbital de uma partícula. C E D E R J 65 A U LA 5 1. Compare os tamanhos da primeira órbita de Bohr em relação aos átomos de hidrogênio (H), carbono (C) e cálcio (Ca): RESPOSTA COMENTADA A primeira órbita de Bohr é obtida fazendo-se n =1, na expressão geral rn = n2 a0 Z . Tudo que você precisa saber é o valor de Z do núcleo do átomo de interesse. Consultando a Tabela Periódica, você tt vai descobrir que ZHZ = 1, ZH CZZ = 6 e ZC CaZZ = 20. Então, o valor da primeira órbita de Bohr para o elétron em cada um desses átomos é dado pela seguinte tabela: ATIVIDADE O modelo de Bohr foi o primeiro a explicar o espectro do átomo de hidro- gênio, um desafi o para os físicos da época. Observe a Figura 5.5. Se a luz emitida por um gás contido em um tubo submetido a uma descarga elétrica for recolhida, passar por um prisma e impressionar uma chapa fotográfi ca, um conjunto de linhas pode ser observado na chapa: cada linha é luz de um comprimento de onda (λ) bem defi nido. Este conjunto de linhas forma o espectro do material contido no tubo. Pelo modelo de Bohr, esta linha é devida à emissão de energia, na forma de luz, quando o elétron passa de uma órbita de energia mais alta para outra de energia mais baixa. A freqüência (ν) dessa luz é dada por ∆E é a diferença entre os níveis de energia inicial e fi nal do elétron (∆E =E EfE – Ei), e (h) é a constante de Planck. Vale a pena lembrar que a freqüência se relaciona ao comprimento de onda da luz pela expressão ν = c λ , em que c é a velocidade da luz. v = ∆E h Chapa fotográfi ca colimadora F Figura 5.5: A luz emitida pelo gás contido no tubo provém da energia liberada pelos elétrons quando passam de um nível de energia mais alto para um mais baixo. Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos 66 C E D E R J O MODELO ATÔMICO DE SCHRÖDINGER Orbitais atômicos Cerca de dez anos após o modelo de Bohr, um grupo de cientistas – notadamente Erwin Schrödinger – desenvolveu um novo modelo paraexplicar a estrutura eletrônica do átomo. Este estava baseado nas leis da mecânica quântica e é obtido pela resolução de uma complicada equação matemática, a equação de Schrödinger, aplicada ao elétron no átomo. Átomo Z Expressão de rn Valor de rn em Å H 1 = a0 12 a0 1 0,529 C 6 = 12 a0 6 a0 6 0,088 Ca 20 = 12 a0 20 a0 20 0,0265 Observe que o tamanho da órbita diminui inversamente ao aumento do número atômico. Isto é consistente com o fato de que o aumento de Z implica um aumento da carga nuclear, que é positiva (pois aumenta o número de prótons). O elétron é atraído para o núcleo, o que faz encolher a órbita. Embora superado pelo modelo dos orbitais, que você vai estudar a seguir, o modelo de Bohr permite fazer várias previsões qualitativas que ainda permanecem válidas As leis da mecânica quântica, estabelecidas principalmente por Werner Heisenberg (1901-1976) e Erwin Schrödinger (1887-1961), são, muitas vezes, bastante distintas das leis da mecânica clássica, propostas por Issac Newton (1643-1727). Elas se aplicam a partículas de dimensões microscópicas, como os elétrons, átomos e moléculas. Segundo a mecânica quântica: As partículas possuem um caráter ondulatório. Esta característica fi ca tão mais evidenciada quanto mais leve for a partícula. Uma partícula microscópica pode ser tratada como uma “onda de matéria”. O comportamento desta partícula é obtido resolvendo-se uma equação de ondas, a equação de Schrödinger para a partícula. As soluções da equação de Schrödinger são funções matemáticas conhecidas C E D E R J 67 A U LA 5 como funções de onda, representadas por ψ (a letra grega psi maiúscula).ψ O valor desta função depende da posição da partícula. A equação também fornece, quando resolvida, as energias possíveis da partícula. Nem sempre uma partícula pode ter qualquer valor de energia. Se a equação de Schrödinger fornecer apenas certos valores de energia, dizemos que a energia é quantizada. Devido ao caráter ondulatório da partícula, não podemos determinar com total precisão a sua posição e sua velocidade em um dado instante (esta afi rmação é o princípio da incerteza, de Heisenberg). O quadrado da função de onda ? obtida da equação de Schrödinger, avaliado em um dado ponto do espaço, é proporcional à probabilidade de encontrar- mos a partícula em torno daquele ponto. As soluções da equação de Schrödinger para um elétron em um átomo são denominadas orbitais atômicos. Os orbitais atômicos são funções de onda que descrevem o comportamento do elétron no espaço. Segundo as leis da mecânica quântica, a probabilidade de encontrarmos um elétron em torno de um dado ponto do espaço depende do valor do orbital atômico naquele ponto. Assim, cada orbital descreve uma distri- buição específi ca de onde se encontra o elétron no espaço. Além disso, um elétron, em um dado orbital atômico, tem uma energia perfeitamente determinada, obtida pela solução da equação de Schrödinger. Números quânticos O modelo de Bohr introduziu um único número quântico (n) para descrever a órbita de um elétron, e este que defi ne as órbitas e a energia do elétron no átomo. Em contraste, os orbitais atômicos são caracterizados por três números quânticos (n, A e mA.). Estes são obtidos a partir da solução da equação de Schrödinger. A interpretação destes números só pode ser feita resolvendo-se esta equação, o que está fora dos objetivos deste curso. Vamos resumir a seguir o tipo de informação dado por eles: O número quântico principal (n) está ligado ao tamanho e à energia do orbital. Só pode ter valores inteiros e positivos (n = 1, 2, 3, 4, ...). À medida que n cresce, o orbital se torna maior, e a probabilidade de encontrar o elétron mais afastado do núcleo aumenta. A energia do elétron também aumenta com n. Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos 68 C E D E R J O número quântico azimutal (l A) mede o momento angular orbital do elétron em torno do núcleo e defi ne a forma do orbital. Só pode ter valores inteiros, que vão de 0 até n – 1 para cada valor de n. Os valores de A são representados por letras segundo o esquema a seguir: Lembre-se de que o elétron e o núcleo têm carga oposta. Quanto mais afas- tado o elétron, menor a atração entre ele e o núcleo; logo, maior a energia do elétron. O número quântico magnético (mA) mede o componente do momento angular orbital do elétron ao longo de um eixo z arbitrário. Só pode ter valores inteiros entre A e -A, incluindo zero. Valor de A 0 1 2 3 Letra usada s p d f Para melhor compreender o signifi cado dos números quânticos A e mA, você deve pensar no elétron girando em torno do núcleo. Já mencionamos que a grandeza pertinente a este movimento é o momento angular (L). Esta grandeza é caracterizada pelo seu valor numérico (módulo), direção e sentido, sendo melhor representada por um vetor orientado no espaço. Segundo a mecânica quântica, o valor numérico do momento angular (L) é dada por L h = +( )A A 1 2π , e a projeção do vetor ao longo do eixo z (Lz) é dada por L m h z = A . Logo, A e mA determinam o valor do momento angular e sua projeção no eixo z. Tente visualizar estas informações na Figura 5.6. Nela, um vetor de módulo L h = 1 2x , correspondendo a A = 1, orienta-se no espaço de forma que suas projeções no eixo (z) só podem assumir os valores correspondentes a mA = 0, +1 e -1. Ou seja, as projeções do momento angular (L) num eixo (z) (Lz) só podem assumir os valores 0= , +1= e -1= . B π π2 −π π2 A A = = 1 0m A A = = 1 1m Z A A = = − 1 1m ( )( )1 2 h 2π ( )( )1 2 h 2πFigura 5.6: O vetor correspondente a A = 1 se orienta no espaço somente de três maneiras, consistentes ao valor de mA = 0, +1 e -1. C E D E R J 69 A U LA 5Relações entre os números quânticos Em um átomo, o conjunto de orbitais com o mesmo valor de n defi ne uma camada eletrônica. É comum representar as camadas com letras maiúsculas, segundo o seguinte quadro: Valor de n 1 2 3 4 5 6 7 Símbolo da camada K L M N O P Q Os orbitais com mesmo valor de n e A pertencem à mesma sub- camada eletrônica. Cada subcamada é representada por um número (o valor de n) e uma letra (o valor de A). Os orbitais com n = 3 e A = 2, por exemplo, são orbitais 3d e estão na subcamada 3d. O número de orbitais dentro de uma subcamada é o número de valores de mA possíveis para o valor de A que caracteriza a subcamada. Existem, por exemplo, cinco orbitais na subcamada 3d, pois nesta A = 2, e os valores possíveis de mA são 2, 1, 0, -1 e -2. A Tabela 5.1 apresenta os valores possíveis de A e mA para as camadas correspondentes a n = 1, 2 e 3. Você deve acompanhar cuidadosamente os dados desta tabela. Tabela 5.1 Valores possíveis de A e mA para n = 1, 2 e 3 n Símbolo da camada Valores possíveis de A Símbolo da subca- mada Valores pos- síveis de mA Número de orbitais na subcamada Número total de orbitais na camada 1 K 0 1s 0 1 1 2 L 0 2s 0 1 4 1 2p 1, 0, -1 3 3 M 0 3s 0 1 9 1 3p 1, 0, -1 3 2 3d 2, 1, 0, -1, -2 5 Veja que na camada K (n = 1) existe somente uma subcamada, que contém um único orbital (o orbital 1s). A camada L (n = 2) tem quatro orbitais, distribuídos em duas subcamadas: na primeira subca- mada (2s), há um orbital 2s; e na segunda (2p), há três orbitais 2p. Os Obs.: Todos os orbitais com n = 3 pertencem à camada M, por exemplo. Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos 70 C E D E R J orbitais da subcamada 2p diferem pelo valor de mA. A camada M (n = 3) contém ao todo nove orbitais, distribuídos em três subcamadas: aprimeira contém um orbital 3s, a segunda contém três orbitais 3p e a terceira, cinco orbitais 3d. Generalizando as relações entre os possíveis valores dos números quânticos, podemos observar que: 1. Cada camada, caracterizada pelo número quântico n, contém exatamente n subcamadas. Cada subcamada corresponde a um dos valores permitidos de A, de 0 até n-1. 2. Cada subcamada contém 2A +1 orbitais, cada um correspondendo a um dos valores possíveis de mA, que vão de +A até -A. 3. O número total de orbitais em uma camada é n2. ! 2. a) Estenda a Tabela 5.1, acrescentando os dados correspondentes a n = 4. b) Determine o número de orbitais encontrados nas camadas O e P. RESPOSTA COMENTADA a) Inicialmente, você precisa caracterizar os números quânticos compatíveis ao valor de n dado. Sabemos que, para um dado valor de n, são permitidos n valores de A, que vão de 0 até n -1; paraAA cada valor de A, são permitidos 2AA A + 1 valores de mA, que vão deAA +A até -A de uma em uma unidade. Os valores de A permitidos para n = 4 são 0, 1, 2 e 3. De posse destes valores, a Tabela 5.1 pode ser estendida incluindo-se os seguintes dados: Observe que a camada N (n = 4) é formada por quatro subcamadas. Na subcamada 4s há apenas uma orbital; na subcamada 4p, existem três orbitais distintos, que diferem pelo valor de mA,;. Da mesmaAA ATIVIDADE n Símbo- lo da camada Valores possíveis de A Símbolo da subca- mada Valores possíveis de mA Número de orbitais na subcamada Número total de orbitais na camada 4 N 0 4s 0 1 16 1 4p 1, 0, -1 3 2 4d 2, 1, 0, -1, -2 5 3 4f 3, 2, 1, 0, -1, -2, -3 7 C E D E R J 71 A U LA 5 forma, os cinco orbitais da subcamada 4d e os sete orbitais da subcamada 4f diferem pelos valores de mA . b) Você deve lembrar que o número total de orbitais em uma camada é n2. Assim, teremos o seguinte resultado: Os orbitais da camada O ocupam as subcamadas 5s (um orbital), 5p (três orbitais), 5d (cinco orbitais), 5f (sete orbitais) e 5g (nove orbitais). Os da camada P ocupam as subcamadas 6s (um orbital), 6p (três orbitais), 6d (cinco orbitais), 6f (sete orbitais), 6g (nove orbitais) e 6h (onze orbitais). Cada orbital em uma subcamada difere dos demais pelo valor de mA . Camada O P Valor de n 5 6 Nº de orbitas 25 36 Forma e tamanho dos orbitais atômicos Figura 5.7: Contornos representativos dos orbitais 1s e 2s. Z Y 1s A determinação rigorosa da forma e do tamanho de um orbital só pode ser feita conhecendo-se a função matemática que o descreve, o que está fora dos objetivos deste curso. ! A forma de um orbital depende do valor de l, e seu tamanho, do valor de n. O tamanho de um orbital é normalmente defi nido por um contorno no espaço. Dentro deste contorno, há cerca de 90% de proba- bilidade do elétron ser encontrado. Orbitais s têm contornos esféricos. Na Figura 5.7, estão representados contornos dos orbitais 1s, 2s e 3s. À medida que n aumenta, o orbital torna-se maior e o elétron pode ser encontrado cada vez mais afastado do núcleo. Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos 72 C E D E R J Orbitais p têm contornos em forma de halteres. A Figura 5.8 mostra orbitais 2p que se orientam, cada um, ao longo dos eixos x, y, e z, respectivamente. Energia dos orbitais atômicos A energia de um elétron em um orbital atômico é obtida resolvendo- se a equação de Schrödinger. De um modo geral, esta energia depende dos valores dos números quânticos n e A do orbital onde o elétron se encontra (mas não dependem de ml). Observa-se que: Quanto maior o valor de n, maior é a energia do orbital. O orbital 1s, por exemplo, tem menor energia que o orbital 2s. Para orbitais com o mesmo valor de n, quanto maior o valor de A, maior é a energia do orbital. Os orbitais da camada n = 3, por exemplo, têm energia na seguinte ordem crescente: 3s < 3p < 3d. Em alguns casos, um orbital com menor valor de n tem energia maior que a de outro com n maior. Nestes casos, o valor de A do orbital mais energético (de menor n) é maior que o do orbital menos energético (de maior n). Um exemplo disso é o que ocorre entre os orbitais 3d e 4s. Embora o último tenha n maior, é menos energético que o primeiro. Estas observações levaram à construção de uma escala de energia dos orbitais atômicos. Nesta escala, os orbitais são dispostos em ordem crescente de energia. O ordenamento dos orbitais obedece à seqüência descrita a seguir: 1s < 2s < 2p < 3s < 3p < 4s < 3d < 4p < 5s < 4d < 5p < 6s < 4f < ... Figura 5.8: Contornos representativos dos orbitais 2px, 2py e 2pz. C E D E R J 73 A U LA 5 O diagrama de Pauling, mostrado na Figura 5.9, é um dispositivo mneumônico que permite obter o ordenamento sem ter de memorizá-lo. Use-o sempre que necessário. O spin do elétron Além da massa e da carga, o elétron possui uma outra proprie- dade intrínseca, chamada spin (S). A natureza desta propriedade é des- conhecida, mas a forma como ela atua foi descrita por Wolfgang Pauli, estabelecendo os seguintes postulados: O spin funciona como um momento angular intrínseco, cujo valor é único para cada partícula elementar. Para o elétron, está asso- ciado ao número quântico S = ½. Para o elétron, só existem duas projeções do spin, chamadas α e β. À projeção α corresponde o número quântico ms=+½, ou ↑; à projeção β, corresponde o número quântico ms = -½, ou ↓. Estes postulados permitem que se visualize o spin como um vetor com módulo único e característico do elétron. Além disso, aponta no espaço de forma que suas projeções em um eixo z arbitrário só podem ter dois valores possíveis, representados por ↑ e ↓. Imagine dois cones formados por um vetor que gira em torno do eixo z: um dos cones corresponde à projeção com ms = +½, e o outro à proteção ms = -½. Visualize o resultado na Figura 5.10. Figura 5.9: Diagrama de Pauling, indicando o ordenamento dos orbitais. A energia cresce no sentido das setas. Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos 74 C E D E R J CONFIGURAÇÕES ELETRÔNICAS DOS ÁTOMOS O princípio da estruturação Imagine que você tem um núcleo de número atômico Z. Se o átomo é neutro, você já sabe que ele tem Z elétrons. De acordo com o modelo quântico dos orbitais, os elétrons vão se distribuir no átomo segundo o princípio da estruturação. Figura 5.10: O vetor que representa o spin do elétron tem duas projeções, chamadas α (α ↑) e β(↓). A inclusão do spin faz com que, no átomo, cada elétron seja caracterizado por quatro números quânticos. Os três primeiros, n, A e ml, dizem respeito ao orbital em que o elétron se encontra; o último, ms, defi ne se o spin do elétron é ↑ ou ↓. ! O princípio da estruturação é concebido a partir de 4 regras. Elas indicam que: a) Os elétrons ocupam os orbitais em ordem crescente de energia (dada pelo diagrama de Pauling); b) Nenhum orbital pode conter mais do que dois elétrons; c) Se um orbital contiver dois elétrons, os seus spins serão distintos (diz-se que os elétrons estão emparelhados); d) Elétrons não se emparelham em um orbital se outro de mesma energia estiver disponível. Ou seja, os elétrons só se emparelham em um orbital quando todos os orbitais de mesma energia (na mesma subcamada) contiverem pelo menos um elétron. ! mI = + 1/2 (estado α) mI = - 1/2 (estado β) C E D E R J 75 A U LA 5Você já conhece a regra “a”. As regras “b” e “c” são conseqüências do princípio da exclusão de Pauli: Não há em um átomo dois elétrons com os quatro números quânticos iguais. A regra “d”, por sua vez, não pode ser explicada sem o apelo à mecânicaquântica. Ela é conhecida como regra da máxima multiplici- dade, e a explicação de sua origem está fora dos objetivos deste curso. Confi guração eletrônica A distribuição dos elétrons nos orbitais, segundo o princípio da estruturação, determina a confi guração eletrônica do átomo. Para facilitar a construção das confi gurações eletrônicas, utiliza- se o diagrama de orbitais. Caixinhas representando os orbitais são arrumadas em ordem seqüencial de energia. Os elétrons entram nas caixinhas segundo as regras do princípio da estruturação, gerando a confi guração eletrônica desejada. Exemplo 1: O átomo de berílio tem Z = 4 (portanto, quatro elétrons). A distribuição dos elétrons é feita no seguinte diagrama de orbitais. CONFIGURAÇÃO ELETRÔNICA é a ocupação dos elétrons nos orbitais segundo o princípio da estruturação. Os primeiros dois elétrons fi cam emparelhados no orbital 1s e os outros dois no orbital 2s. A confi guração eletrônica é assim representada: Be: 1s2 2s2. Exemplo 2: O átomo de carbono tem Z = 6 (portanto, seis elétrons). O diagrama de orbitais é: ↑↓ ↑↓ 1s 2s ↑↓ ↑↓ 1s 2s ↑ 2p ↑ Os quatro primeiros elétrons se distribuem como no átomo de Be. Os dois restantes vão entrar em orbitais da subcamada 2p. Pela regra (d) do princípio da estruturação, cada um vai entrar em um orbital 2p distinto, sem haver emparelhamento de elétrons. A confi guração eletrônica do átomo de carbono é C: 1s2 2s2 2p2 Exemplo 3: O átomo de oxigênio tem Z = 8. O diagrama de orbitais é ↑↓ ↑↓ 1s 2s ↑↓ 2p ↑ ↑ Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos 76 C E D E R J Vejam que o último elétron só se emparelha na subcamada 2p depois que todos os orbitais desta subcamada contiverem um elétron. A confi guração eletrônica do oxigênio é O: 1s2 2s2 2p4. Complicado? Pois é ... Se fosse simples não seria necessário estudar. Que tal você dar uma “paradinha” rápida antes da atividade que segue? Descanse 5 minutos e volte para a aula. 3. Forneça o diagrama de orbitais e a confi guração eletrônica dos seguintes átomos: a) Neônio (Ne) b) Sódio (Na) c) Cálcio (Ca) d) Ferro (Fe) ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Você precisa ter em mãos a tabela periódica para descobrir os números atômicos dos elementos dados no problema. Sabendo o valor de Z, você tem automaticamente o número de elétrons contidos no átomo. O próximo passo é conhecer o ordenamento dos orbitais atômicos em ordem crescente de energia. Para isso, você precisa utilizar o diagrama de Pauling. A última etapa é aplicar as regras do princípio da estruturação. a) Para o Ne, Z = 10. Logo, o átomo tem 10 elétrons. O diagrama de orbitais é: , e a confi guração eletrônica é 1s2 2s2 2p6. ATIVIDADE ↑↓ ↑↓ 1s 2s ↑↓ 2p ↑↓ ↑↓ C E D E R J 77 A U LA 5 Observe que, neste caso, todos os orbitais de todas as camadas ocupadas estão completamente preenchidos. Esta confi guração eletrônica é típica dos gases nobres, como será discutido na s próxima aula. b) Para o Na, Z = 11. Logo, o átomo de sódio tem 11 elétrons. O diagrama de orbitais é: , e a confi guração eletrônica é 1s2 2s2 2p63s.6 Observe que o átomo de sódio tem um único elétron na última camada. Este tipo de confi guração é comum ao lítio, rubídio e césio. Estes metais são denominados metais alcalinos, e suas propriedades ss serão também discutidas na próxima aula. c) Para o Ca, Z = 20. Logo, o átomo de cálcio tem 20 elétrons. O diagrama de orbitais é: e a confi guração eletrônica é Ca: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2. Neste caso, há dois elétrons na camada mais externa do átomo. Este tipo de confi guração é comum aos metais alcalino-terrosos: berílio, magnésio, cálcio, estrôncio e bário. d) Para o Fe, Z = 26. Logo, há 26 elétrons no átomo de ferro.? O diagrama de orbitais é: e a confi guração eletrônica é Fe: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d6dd . Diferentemente dos casos anteriores, a penúltima camada do átomo é que contém os elétrons de maior energia. Este é uma caso típico de confi guração eletrônica dos metais de transição, que ocupam boa parte da Tabela Periódica. ↑↓ ↑↓ 1s 2s ↑↓ 2p ↑↓ ↑↓ ↑ 3s ↑↓ ↑↓ 1s 2s ↑↓ 2p ↑↓ ↑↓ ↑↓ 3s ↑↓ 3p ↑↓ ↑↓ ↑↓ 4s ↑↓ ↑↓ 1s 2s ↑↓ 2p ↑↓ ↑↓ ↑↓ 3s ↑↓ 3p ↑↓ ↑↓ ↑↓ 4s ↑↓ 3d ↑ ↑ ↑ ↑ , Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos 78 C E D E R J Estados excitados e formação de íons No átomo normal, todos os elétrons são encontrados nos níveis de energia mais baixos possíveis. Dizemos que o átomo está no seu estado fundamental. Se o átomo absorver energia – seja na forma de luz ou por colisão com outros átomos – alguns elétrons podem passar para níveis de energia mais altos, ocupando orbitais mais energéticos. Dizemos que o átomo encontra-se em um estado excitado. Se a energia fornecida ao átomo for grande sufi ciente para arrancar um ou mais elétrons, o átomo terá mais prótons que elétrons, fi cando carregado positivamente. É possível, também, que um átomo receba um ou mais elétrons, fi cando com mais elétrons do que prótons. Em ambas as situações, a carga elétrica global do átomo não é mais nula. Os átomos carregados positiva ou negativamente são denominados íons. O sódio, por exemplo, quando perde seu elétron 3s (ver a Atividade 2), forma o cátion Na+. O cloro, quando ganha um elétron, forma o ânion Cl-. A confi guração eletrônica de um íon é obtida, a partir do átomo neutro, pela adição e retirada de elétrons. A confi guração do magnésio (Mg), por exemplo, é Mg: 1s2 2s2 2p63s2. O íon Mg2+, obtido retirando-se os dois elétrons 3s do átomo neutro, tem confi guração eletrônica Mg2+: 1s2 2s2 2p6. As espécies iônicas são muito importantes em Química e em Biologia. Muitos processos vitais são controlados por íons. Um exemplo importante é o equilíbrio entre os íons Na+ e K+ presentes nas células. A diferença de concentração entre estes é responsável por manter o volume celular, tornar células nervosas e musculares eletricamente excitáveis e acionar o transporte de aminoácidos, entre outras coisas. Um íon é uma espécie carregada que se forma quando um átomo perde ou ganha elétrons. Um cátion é um íon com carga positiva, e um ânion é um íon com carga negativa. ! C E D E R J 79 A U LA 5 4. a) A confi guração eletrônica de um certo átomo de magnésio (Z = 12) é dada pelo quadro a seguir: O átomo está em seu estado fundamental? Justifi que sua resposta. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________ b) Obtenha a confi guração eletrônica do íon sulfeto (S-). ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA O primeiro passo é escrever a confi guração eletrônica do Mg no estado fundamental. Sendo Z = 12 (você obtém esta informação da Tabela Periódica), temos 12 elétrons no átomo neutro. O diagrama de orbitais do Mg neutro é: , e a sua confi guração eletrônica é Mg: 1s2ss 2s2ss 2p6 3s2ss . Então o número de elétrons em cada camada é dado pelo quadro a seguir: ATIVIDADE Camada K L M N O Nº de elétrons 2 8 1 1 ↑↓ ↑↓ 1s 2s ↑↓ 2p ↑↓ ↑↓ ↑↓ 3s Camada K L M Nº de elétrons 2 8 2 Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos 80 C E D E R J Por comparação, vemos que a distribuição dada corresponde a um estado excitado do átomo, em que um elétron passou de um orbital da camada M para um orbital da camada N. b) O átomo de enxofre neutro tem Z = 16 e confi guração S: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p4. Esta confi guração é obtida do seguinte diagrama de orbitais: Observe os detalhes da distribuição: há dois elétrons desemparelha- dos na última subcamada ocupada (lembra do princípio da estrutu- ração?). A adição de dois elétrons leva ao diagrama a seguir: Também leva à configuração S2-: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6. Esta confi guração é idêntica à do gás nobre neônio (Ne), como você mesmo pode verifi car! ↑↓ ↑↓ 1s 2s ↑↓ 2p ↑↓ ↑↓ ↑↓ 3s ↑↓ 3p ↑ ↑ ↑↓ ↑↓ 1s 2s ↑↓ 2p ↑↓ ↑↓ ↑↓ 3s ↑↓ 3p ↑↓ ↑↓ CONCLUSÃO O modelo atômico de Schrödinger, ou modelo dos orbitais atômicos, é o mais adequado para descrever a complexa estrutura da eletrosfera do átomo. Embora baseado nas soluções de uma complexa equação matemática, permite caracterizar os elétrons do átomo a partir de quatro números quânticos e descrever como os elétrons se distribuem na eletrosfera. ATIVIDADE FINAL A confi guração eletrônica de um certo íon é dada por X+: 1s22s22p63s23p64p1 a) Calcule o tamanho da órbita do elétron mais externo se seguisse o modelo de Bohr. b) Identifi que a espécie química X. c) Indique se o íon está no seu estado fundamental ou em estado excitado. C E D E R J 81 A U LA 5RESPOSTA COMENTADA Para responder ao item “a”, você precisa apenas relembrar a fórmula proposta por Bohr para o tamanho das órbitas eletrônicas. Veja que, pelo modelo de Bohr, todos os elétrons pertencentes a uma mesma camada estariam na mesma órbita e à mesma distância do núcleo. O elétron mais externo do íon X+ está numa camada cujo n = 4. Uti- lizando este valor de n na expressão das órbitas permitidas por Bohr, obtemos r a Zn X = + 42 0 . Embora saibamos o valor de a0, não sabemos o número atômico da 00 espécie X+. Para descobrir, você precisa contar o número de elétrons do átomo e lembrar que a espécie dada é um cátion, obtido pela retirada de um elétron do átomo neutro X. Sendo o número de elétrons contidos em X+XX igual a 19, o átomo neutro (que tem o número de elétrons igual ao número atômico) contém 20 elétrons. Logo, Z = 20. Consultando a Tabela Periódica, você vai verifi car que este é o número atômico do cálcio (Ca), o que responde imediatamente ao item (b): a espécie química é o Ca+. Levando o valor de Z = 20 na expressão de rn, obtemos nn r a an = = = 16 20 0 75 0 3970 0, , A D Em seu estado fundamental, o Ca neutro tem a confi guração eletrônica (veja a Atividade 3) Ca: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2. O íon Ca+, em seu + estado fundamental, tem a confi guração Ca+: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s1. A confi guração fornecida indica que o elétron mais externo do íon foi promovido do orbital 4s para um orbital 4p; trata-se, portanto, de uma confi guração correspondente a um estado excitado do íon. INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula, você vai aprender a analisar detalhadamente a Tabela Periódica e descobrir como funciona a lei periódica dos elementos. A estrutura eletrônica dos átomos só pode ser compreendida à luz da mecânica quântica. O elétron em um átomo é descrito por quatro números quânticos; e não há, em um átomo, dois elétrons com os quatro números quânticos; iguais. A confi guração eletrônica é uma forma de identifi car a distribuição dos elétrons em torno do núcleo. R E S U M O