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A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 1 A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica Professora Mestre Eliana Lousada A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 2 Sumário Síndrome Metabólica 4 Diagnóstico 4 História clínica 4 Exame físico 4 Níveis de pressão arterial 5 Exames laboratoriais 5 Síndrome Metabólica e Obesidade 5 Síndrome Metabólica e Adipocitocinas 6 Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono 7 Epidemiologia 7 Etiologia 7 Sintomas 7 Tratamento na Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono 7 Síndrome de Cusching 8 Sintomas 8 Manifestações Clínicas 8 Síndrome do Ovário Policístico 9 Etiologia 9 Fisiopatologia 10 Sintomas 11 Diagnóstico 11 Anamnese 11 Exame Físico 11 Ultra-sonografia 11 Dosagem hormonal 11 Tratamento 12 Acanthosis Nigricans 12 Etiologia 13 Fisiopatologia 13 Tratamento 13 Hipertensão Arterial 13 Diagnóstico 13 Sintomas 14 Tratamento 14 Mecanismo Hipotensor do Exercício Físico 14 Investigar a presença de Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono 14 Objetivo do tratamento farmacológico 15 Alguns exemplos de medicamentos 15 Diuréticos 15 Inibidores adrenérgicos 15 Betabloqueadores 15 Antagonista dos canais de cálcio 15 A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 3 Inibidores da ECA – Enzima Conversora de Angiotensina 16 Antagonista do Receptor da Angiotensina II 16 Avaliação inicial de rotina para o paciente hipertenso 16 Proteína C Reativa – PC-R 16 Diabetes Mellitus 16 Recomendações da Associação Americana de Diabetes, 2003 para prevenir ou retardar o surgimento do Diabetes Mellitus 17 Glicemia de Jejum 17 Teste de tolerância à glicose oral 18 Hemoglobina Glicada 18 HOMA - Homeostasis Model Assesment 18 HOMA – para avaliar a Resistência à Insulina 19 HOMA – para avaliar a função das Células ß 19 Dislipidemias 19 Investigação 20 Classificação das Dislipidemias 20 Avaliação Laboratorial das Dislipidemias 20 Interferência nos resultados do colesterol e frações 21 Variação biológica 21 Postura da coleta 21 Duração do torniquete 21 Metas lipídicas na Síndrome Metabólica 21 Etiologia 21 Interferência dos medicamentos nas dosagens das frações do Colesterol e frações21 Considerações terapêuticas na Síndrome metabólica 22 FUMO 22 Exames Laboratoriais – complementares na investigação da Síndrome Metabólica 22 Microalbuminúria 22 Associada com outros fatores de risco: 23 Albumina Sérica 23 Homocisteína 23 Aminotransferases 23Aspartato Aminotransferase AST, TGO 23 Alanina Aminotransferase ALT,TGP -figado 24 Relação AST/ALT 24 Gama Glutamil Transferase 24 Referências 24 A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 4 Síndrome Metabólica A Síndrome Metabólica é determinada por um conjunto de fatores de risco cardiovascular, incluindo obesidade abdominal, hiperglicemia, dislipidemias e hipertensão arterial, que têm sido associados à resistência a insulina. A Síndrome Metabólica tem grande relevância, uma vez que identifica grupos de pessoas com maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares e Diabetes Mellitus tipo 2, com o objetivo de prevenir tais doenças através de mudanças no estilo de vida. I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 84(supl. 1): 1-28, 2005 A Síndrome Metabólica é um transtorno complexo representado por um conjunto de fatores de risco cardiovascular, usualmente relacionados à deposição central de gordura e à resistência a insulina, devendo ser destacada a sua importância do ponto de vista epidemiológico, responsável pelo aumento da mortalidade cardiovascular estimada em 2,5 vezes. Lakka HM, Laaksonen DE, Lakka TA, Niskanem LK, Kumpusalo E, Tuomilehto J et al. The metabolic syndrome and total and cardiovascular disease mortality in middle-aged men. JAMA, v. 288, p. 2709–2716, 2002. Girman CJ, Rhodes T, Mercuri M, Pyörälä K, Kjekshus J, Pedersen TR et al. for the 4S Group and the AFCAPS/TexCAPS Research Group. The metabolic syndrome and risk of major coronary events in the Scandinavian Simvastatin Survival Study (4S) and the Air Force/Texas Coronary Atherosclerosis Prevention Study (AFCAPS/ TexCAPS). Am J Cardiol, v. 93, p. 136–141, 2004. O termo Síndrome Metabólica tornou-se um dos mais utilizados na Medicina, também conhecido como: • Síndrome X • Síndrome de Resistência Insulínica • Síndrome Plurimetabólica • Síndrome Obesidade-Dislipidemia Roberts, C. K. et al. Reversibility of Chronic Experimental Syndrome X by Diet Modification. American Heart Association, v. 37, n.5, p. 1323- 1328, 2001. Martinez, T. L. R. Síndrome Metabólica: Um desafio clínico de muitas arestas e soluções terapêuticas complexas. Atheros, v. 13, n. 2, p. 37-38, 2002. Diagnóstico Os objetivos da investigação clínica e laboratorial na Síndrome Metabólica, conforme Tabela 1 são: • A confirmação do diagnóstico da síndrome metabólica de acordo com os critérios do NCEP- ATP III • A identificação dos fatores de risco cardiovascular História clínica • Idade, tabagismo, prática de exercício físico, história pregressa de hipertensão arterial, Diabetes Mellitus, Diabetes Mellitus Gestacional, doença arterial coronariana, acidente vascular encefálico, doença hepática gordurosa não-alcoólica, hiperuricemia, dislipidemias • História familiar de hipertensão arterial, Diabetes Mellitus e doença cardiovascular, • Uso de medicamentos hipoglicemiantes • Presença de Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono • Síndrome dos Ovários Policísticos• Síndrome de Cushing • Acanthosis Nigricans Exame físico Medida da circunferência abdominal • A medida da circunferência abdominal é feita na metade da distância entre a crista ilíaca e o rebordo costal inferior A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 5 • Peso, estatura • IMC: Índice de Massa Corporal – peso/altura2 Níveis de pressão arterial A aferição da pressão arterial deve ser feita no mínimo duas medidas por consulta, na posição sentada, após cinco minutos de repouso. Exames laboratoriais • Glicemia de jejum • HDL • TG Tabela 1. Avaliação Clínica e Laboratorial da Síndrome Metabólica Fonte: Expert Panel on Detection, Evaluation and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults. Executive summary of the Third Report of the National Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection, Evaluation and Treatment of High Cholesterol. JAMA, v. 285, p. 2486–2497, 2001. A presença de Diabetes Mellitus não exclui o diagnós- tico de Síndrome metabólica. A presença de LDL elevado não faz parte dos critérios no diagnóstico, porém frequen- temente, os pacientes portadores de resistência à insuli- na e síndrome metabólica apresentam aumento da fração LDL colesterol. Tchernof A, Lamarche B, Prud’Homme D, Na- deau A, Moorjani S, Labrie F et al. The dense LDL phenotype: associations with plasma lipoprotein levels, visceral obesity and hyperinsulinemia in men. Diabetes Care, v. 19, p. 629–637, 1996. Síndrome Metabólica e Obesidade A obesidade é um dos componentes na investigação para o diagnóstico da Síndrome Metabólica, conforme com os indicadores na Tabela 1. A obesidade é o resultado de diversas interações, nas quais chamam a atenção os aspectos genéticos, ambientais e comportamentais. Assim, filhos com ambos os pais obesos apresentam alto risco de desenvolver a obesidade, bem como determinadas mudanças sociais estimulam o aumento de peso em todo um grupo de pessoas. Quanto ao tipo de distribuição da gordura corporal a obesidade pode classificar-se em: 1. Obesidade Androide, visceral, abdominal visceral, cen- trípeta ou omental, também denominada obesidade masculina. A obesidade visceral está associada a complicações metabólicas, como a Diabetes Melli- tus tipo 2, dislipidemia, a doenças cardiovasculares, como a hipertensão arterial, a doença coronária e a doença vascular cerebral, bem como à Síndrome do Ovário Policístico e à disfunção endotelial (ou seja deterioração do revestimento interior dos vasos san- guíneos). A associação da obesidade a estas doenças está dependente da gordura intra-abdominal e não da gordura total do corpo. 2. Obesidade Ginecoide, também denominada obesida- de feminina, quando a gordura se distribui, princi- palmente, na metade inferior associada a um risco maior de artrose, varizes e dificuldade em locomo-ção. A obesidade andróide é a mais preocupante, e a cir- cunferência da cintura é um instrumento que consegue A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 6 demonstrar o nível de risco cardiovascular, por essa razão o aumento da circunferência da cintura é um indicador de risco no surgimento da Síndrome Metabólica. A circunferência da cintura é utilizada em estudos po- pulacionais devido ao baixo custo, praticidade e facilidade de utilização. A gordura omental se localiza no saco omental, tam- bém denominado peritônio. O peritônio tem como finalida- de evitar o atrito entre as vísceras na cavidade abdominal, bem como um reservatório de energia através do acúmulo de gordura, Figura 1 e 2. Figura 1. Peritônio, saco omental onde é depositada a gordura omental Os adipócitos omentais são mais sensíveis aos estímulos ß-adrenérgicos, apresentam capacidade aumentada de lipólise, comparando com a gordura do glúteo-femural e gordura subcutânea abdominal. Figura 2. Omento recobrindo o colo transverso. Fonte: http://www.poderdasmaos.com Síndrome Metabólica e Adipocitocinas O tecido adiposo apresenta a capacidade de secreção de uma variedade de peptídeos bioativos, conhecidos como adipocitocinas, que agem tanto in loco (ação autócrina ou parácrina) como sistemicamente (ação endócrina), essas substâncias estão envolvidas com fenômenos inflamatórios na obesidade. Pratley RE, Lee YH. The evolving role of inflammation in obesity and the metabolic syndrome. Curr Diab Rep. 2005; 5: 70-5. A obesidade é uma doença sem cura, apenas tratada, apresenta um estado inflamatório que em parte caracteriza uma ligação entre a obesidade, resistência à insulina, hipertensão arterial sistêmica e doença cardiovascular. Existem várias adipocitocinas com ação pró-inflamatória, as mais estudadas são: o fator de necrose tumoral alfa e a interleucina 6. Ambas as adipocitocinas agem inibindo a comunicação da insulina com o GLUT.4, dificultando a captação da glicose no tecido muscular e hepático, levando a uma liberação aumentada de insulina que a longo prazo leva a resistência à insulina, e posteriormente a Diabetes Mellitus tipo 2, conforme exposto na Figura 3. A hiperinsulinemia afeta a homeostase da pressão arterial, levando a diminuição ou inibição da atividade vasodilatadora do óxido nítrico, tornando o endotélio rijo, predispondo a hipertensão arterial. A hiperinsulinemia apresenta uma ação importante no aumento do colesterol no fígado, uma vez que ela aumenta a atividade da enzima HMG-CoA redutase que catalisa a transformação de ácido mevalônico em colesterol. A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 7 Figura 3. Adipocitocinas e Resitência à insulina1) Adipocitocinas provenientes do tecido adiposo, 2) inibem a comunicação da insulina com o GLUT.4, 3) o Glut.4 não capta a glicose sanguínea, 4) de maneira crônica leva à Resistência a insulina. Fernández-Real JM, Ricart W. Insulin resistance and chronic cardiovascular inflammatory syndrome. Endocr Rev. 2003; 24 (3): 278-301. Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono A síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono é caracterizada por episódios repetitivos de cessação da respiração durante o sono, devido à obstrução total ou parcial das vias aéreas superiores, durante a inspiração, associados à hipoxemia intermitente, sonolência durante o dia e fadiga. Epidemiologia A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono afeta 2-4% dos adultos caucasianos, principalmente homens obesos de meia idade, aproximadamente 70% dos pacientes são obesos. A circunferência da cintura se correlaciona com a Sín- drome de Apneia Obstrutiva do Sono, mais frequentemen- te que o IMC. Em indivíduos não obesos o aumento da circunferên- cia da cintura prediz a Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono. A cada aumento de 13-15 cm na circunferência da cin- tura eleva-se o risco dessa síndrome em 4 vezes. A Figura 4. mostra o aumento da úvula que encontra-se relaxada e obstruindo a entrada de oxigênio. Etiologia A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono pode surgir devido a alterações anatômicas; macroglossia (aumento da língua), hipertrofia das amígdalas, aumento das adenóides, aumento da úlvula e mais frequentemente aumento da gordura na região cervical. A circunferência cervical é utilizada para avaliar o risco cardiovascular quando os valores estão acima de 43 cm. Sintomas Os sintomas mais comuns são: cefaleia matinal, irrita- bilidade e instabilidadeemocional, roncos e pausas res- piratória durante a noite, azia e queimação no estôma- go, hiperfagia, dificuldade de concentração, boca seca ao acordar. Em crianças os sintomas costumam ser: • Tempo de sono maior que o normal para idade • Ronco (nem toda criança que ronca tem apneia do sono) • Esforço grande para respirar • Alteração do comportamento sem causa aparente • Dificuldade de segurar a urina à noite • Cefaleia matinal • Baixo ganho de peso e estatura Figura 4. Obstrução das vias aéreas superiores pela úvula aumentada Fonte: http://www.institutodentofacial.com.br/si/site/000201 Tratamento na Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono O tratamento é indicado de acordo com a situação que levou a síndrome, em indivíduos que apresentam depo- sição de gordura cervical, o tratamento visa o emagre- cimento, podendo ser utilizado o CPAP (pressão positiva em via aérea superior), uma máscara colocada no nariz do indivíduo que auxilia a entrada do oxigênio, desblo- queando a laringe e faringe, propiciando ao indivíduo uma respiração adequada durante o sono, conforme Figura 5. Quando a etiologia é devido à hipertrofia das amídalas, é indicada a amigdalectomia, da mesma maneira, em pre- sença da macroglossia a cirurgia para diminuição da língua A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 8 deverá ser uma opção.A cirurgia para a retirada da ade- nóide aumentada também é outra opção no tratamento da Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono. A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono está pre- sente na avaliação da Síndrome Metabólica, uma vez que as recorrentes interrupções na inspiração durante o sono levam a um estímulo do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, com o intuito de liberar adrenalina para que o indivíduo consiga inspirar adequadamente. A constante liberação de adrenalina durante á noite de sono aumenta a pressão arterial, levando a um estado de hipertensão aguda duran- te o sono. Em indivíduos hipertensos que não respondem adequadamente ao tratamento medicamentoso, deve-se investigar o sono, uma vez que uma das causas da hiper- tensão refratária é a falta de diagnóstico e tratamento da Síndrome da Apneia Obstrutiva do sono. A azia em indivíduos com apneia do sono ocorre devido à ativação simpática, que estimula as secreções gástricas durante o sono noturno. Esses indivíduos referem à ne- cessidade de ingerir algum alimento durante a noite, para aliviar os sintomas. Geralmente, quando a endoscopia é feita não há sinais de alteração na mucosa gástrica. Figura 5. CPAP – Pressão positiva das vias aéreas superiores Síndrome de Cusching A Síndrome de Cusching é um distúrbio hormonal causado pela exposição prolongada a elevados níveis do cortisol endógeno - também chamada de hipercortisolismo. Pode resultar de um tumor das glândulas suprarrenais de uma forma que não é controlada pelos mecanismos fisiológicos normais, e o aumento da gordura visceral é outro fator predisponente para o aumento dos níveis de sanguíneos de cortisol.O aumento da atividade glicocorti- cóide na gordura abdominal visceral ocorre devido a maior atividade local da enzima 11 bHSD.1 11b-hydroxysteroid dehydrogenase type 1 que catalisa a interconversão de cortisona em cortisol. Em geral, os glicocorticoides atenu- am a acuidade dos sentidos; olfativo, gustativo, auditivo e visual. Em excesso, o cortisol pode provocar insônia e elevar ou deprimir, marcadamente, o humor. Sintomas Um dos sintomas mais comuns é a compulsão por carboi- dratos e doces, que dificulta ainda mais o tratamento da Síndro- me Metabólica. A fraqueza entre as refeições aparece em forma de tremores e sintoma de hipoglicemia. A fase que o stress engorda, ocorre quando a supra-renal está esgotada, o corpo pede a ingestão de carboidratos para manter o nível glicêmico, ainda em depressões graves com per- da de controle de impulsos, às vezes desencadeados por uma situação de stress muito violento, a vivência de um trauma. O hipercortisolismo de maneira crônica tem como uma das ações o aumento da pressão arterial, sendo um importante fator na resistência a diminuição dos níveis pressóricos, bem como um fator predisponente a osteoporose, e a dificuldade de cicatriza- ção, por isso deve ser investigado na Síndrome Metabólica. Manifestações Clínicas As manifestações clínicas na Síndrome de Cusching, conforme Figura 6, compreende em: • Face arredondada e de coloração avermelhada, • Obesidade central, • Aumento de tecido adiposo atrás e logo abaixo do pescoço, • Cansaço e fraqueza muscular • Elevação da pressão arterial • Pernas e braços finos O cortisol está fisiologicamente aumentado em situa- ções, tais como: estresse, alcoolismo, anorexia nervosa, gravidez, exercício físico intenso e obesidade. A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 9 Figura 6. Sinais e manifestações na Síndrome de Cushing Síndrome do Ovário Policístico A Síndrome do Ovário Policístico é caracterizada por um desequilíbrio hormonal, produção excessiva de testosterona, ou diminuição das transportadoras de hormônios sexuais, que promovem o surgimento de vários pequenos cistos no ovário Figura 7. porém, nem todos os ovários policísticos trazem problemas para a saúde da mulher, apresenta um conjunto heterogêneo de sinais e sintomas cuja manifesta- ção tem início logo após a puberdade, através de um quadro de anovulação e hiperandrogenismo (acne, hirsutismo e alo- pecia androgênica). Figura 7. Ovário policístico Fonte: http://www.ipgo.com.br/sop-sindrome- dos-ovarios-policisticos/ Etiologia A etiologia da Síndrome dos Ovários Policísticos apresenta a existência de um estado de hiperatividade do eixo hipotálamo-hipofisária primária, a qual determinaria aumento dos níveis do hormônio luteinizante sobre o hormônio folículo estimulante, anormalidade da maturação folicular, anovulia e hiperandrogenismo. A Síndrome dos Ovários Policísticos é uma condição crônica que apresenta manifestações clínicas em todas as idades e não apenas nas mulheres em idade fértil. A forma clássica caracteriza-se por altos níveis de andrógenos, estrógenos, insulina e hormônio luteinizante. A síndrome metabólica nas mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos, em especial na pré-menopausa, caracteriza- se por obesidade, resistência à insulina e dislipidemia. O hirsutismo é a característica clínica mais frequente do hiperandrogenismo na pele e, além disso, pode causar transtornos psíquicos na mulher. Spinedi E, Mariani V, Bulfon M, Colomba- ni-Vidal M, Scaglia H. Analysis of the hypotha- lamic-pituitary-ovary axis in the neonatally-an- drogenized female rat. J Endocrinol Invest. 1990;13:481-8. American Association of Clinical Endocrinolo- gists. Medical guidelines for clinical practice for the diagnosis and treatment of hyperandrogenic disorders. Endocr Practice. 2001;7:121-34. Perez Gutierrez JF. The physiology of the hypothalamo-hypophyseal axis. An R Acad Nac Med. 1994;111:333-61. A Síndrome dos Ovários Policísticos foi associada à hiperplasia adrenal e, posteriormente à hiperinsulinemia. Os pesquisadores observaram que o estado alterado nos níveis de insulina era devido a um defeito no receptor de insulina e essa alteração estava presente tanto em mulheres obesas quanto magras. Desde então as pesquisas estão direcionadas a busca de alterações no metabolismo da glicose e insulina. Por esta alteração no metabolismo da insulina quese faz necessária a investigação da Síndrome dos Ovários Policísticos em mulheres com diagnóstico de Síndrome Metabólica. A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 10 Pinheiro AS, Clapauch R. Importância da do- sagem da 17OH-Progesterona na síndrome dos ovários policísticos. Arq Bras Endocrinol Metab. 2001;45:361-8. Burghen GA, Givens JR, Kitabchi AE. Correla- tion of hyperandrogenism with hyperinsulinism in polycystic ovarian disease. J Clin Endocrinol Metab. 1980;50:113-6. Yildiz BO, Yarali H, Oguz H, Bayraktar M. Glu- cose intolerance, insulin resistance, and hyper- androgenemia in first degree relatives of women with polycystic ovary syndrome. J Clin Endocrinol Metab. 2003;88:2031-6 Fisiopatologia A heterogeneidade da Síndrome dos Ovários Policísticos reflete a participação de múltiplos mecanismos fisiopatológicos. Entretanto, o quanto cada um contribui para gerar esta síndrome ainda permanece desconhecido. A insulina pode apresentar alguns mecanismos envolvidos nessa síndrome: 1. Atuar por meio dos receptores de insulina, que estão amplamente distribuídos nos ovários, 2. Pelos receptores do IGF-I (insulin like peptide 1) ou 3. Por receptores híbridos, que contêm combinação das subunidades α e dos receptores de insulina e IGF-I. A genética hereditária de mãe para filha, e entre irmãs, pois há muitas mulheres obesas e com resistência à insulina que não desenvolvem a Síndrome dos Ovários Policísticos. O receptor de insulina pertence à família de receptores tirosina-quinase, que IGF-I, fator de crescimento epidérmico, fator de crescimento dos fibroblastos, fator de crescimento derivado das plaquetas e fator de crescimento estimulante da colônia-I, e os vários receptores de citocinas. O fator que induz a fosforilação da serina no receptor de insulina e no citocromo P450-c17 parece ser uma proteína-quinase que causa a resistência à insulina e hiperandrogenismo, respectivamente. O fator responsável pela fosforilação da serina é geneticamente determinado. Assim, o defeito genético na fosforilação da serina, poderia explicar a associação de Síndrome do Ovário Policístico e a resistência à insulina. A hiperinsulinemia aumenta a produção de andrógenos nos ovários e dos fatores de crescimento insulínico no fígado. O efeito direto da insulina e do IGF-I é o aumento de atividade da 17-hidroxilase nos ovários, causando hiperprodução androgênica, principalmente da A e da T e de seu precursor, a 17-hidroxiprogesterona (17-OHP). O IGF-I inibe a enzima aromatase, impedindo, assim, a conversão da T em estrógenos. Indiretamente, a insulina parece potencializar a ação do hormônio luteinizante nos ovários. Outro efeito da hiperinsulinemia, assim como a obesidade, é o de diminuir a produção hepática de globulina transportadora de hormônios sexuais sexual, e da proteína que transporta IGF-I ou proteína ligante de IGF-I, contribuindo para ação mais ampla de testosterona livre e IGF-I conforme Figura 8. A resistência periférica à insulina determina hiperinsulinemia compensatória, a qual estimula o estroma ovário quanto às células da teça a produzirem androgênios e também o espessamento da camada epidérmica. A resistência à insulina é definida como uma resposta biológica subnormal, resultando em elevadas concentrações de insulina circulante, o que levaria as ações deletérias em diversos segmentos do organismo, incluindo alteração da função ovariana, diminuição do número e/ou afinidade dos receptores; presença de autoanticorpo e antireceptor de insulina, o defeito está localizado após a ligação da insulina ao seu receptor, receptores para IGF-I estão presentes nas células intersticiais e teçais do ovário humano. As células da teça e do estroma ovariano respondem com a produção de androgênios, principalmente ao estímulo do LH (hormônio luteinizante). Essa ação é modulada pelos fatores de crescimento, dentre eles, o IGF-I que apresenta extrema similaridade estrutural com a insulina, apesar de ter funções completamente distintas. A insulina potencializa a ação do hormônio luteinizante por ativação dos receptores de IGF-I na função de aumentar a produção androgênica nas células tecais. Há supressão da secreção da globulina de ligação dos hormônios esteróides (SHBG) por células humanas de hepatoma na presença da insulina. Com a supressão das transportadoras de hormônios sexuais, ocorre maior concentração sanguínea de testosterona, levando a um aumento no número de cistos no ovário. A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 11 Figura 8. Hiperinsulinemia na gênese da Síndrome dos Ovários Policísticos Sintomas • Menstruação irregular • A ausência de ovulação • Excessivo sangramento durante a menstruação • Aumento de peso • Pele oleosa • Em 30 a 60% dos casos, em especial nas pacientes obesas, a resistência insulínica e hiperinsulinemia Diagnóstico Conforme o último consenso, a Síndrome dos Ovários Policísticos pode ser diagnosticada após a exclusão de outras doenças que causam ciclos menstruais irregulares e excesso de andrógenos, pela identificação de pelo menos dois dos seguintes critérios: • Anovulação, que se manifesta, em geral, com oligomenorreia ou amenorréia, • Níveis elevados de andrógenos no sangue (hiperandrogenemia) ou • Manifestações clínicas de excesso de andrógenos hiperandrogenismo e • Cistos de ovários definidos pela ultra-sonografia - 10 ou mais cistos entre 2 e 8mm. A importância do estabelecimento do diagnóstico precoce da Síndrome dos Ovários Policísticos é devido a sua associação com a alta morbidade reprodutiva e o aumento de risco para o câncer hormônio-dependente, justificando, assim, o tratamento preventivo. O Diabete Mellitus tipo II, a dislipidemia, o câncer de endométrio, a hipertensão arterial, a doença cardiovascular e o câncer de ovário constituem os fatores de risco á longo prazo. The Rotterdam ESHRE/ASRM-sponsored PCOS consensus workshop group. Revised 2003 consensus on diagnostic criteria and long term health risks related to polycystic ovary syndrome (PCOS) Human Reprod. 2004;19:41-47. Anamnese História de recém-nato pequeno para a idade gesta- cional, de pubarca e puberdade precoces; irregularidade menstrual e infertilidade, história de Diabetes Mellitus e doença cardiovascular. Exame Físico Sinais de hiperandrogenismo (hirsutismo, acne e alopécia, em ordem de frequência no nosso ambulatório); peso, IMC, Acantose Nigricans, pressão arterial, outros sinais de virilização e hipercortisolismo; avaliação das mamas - galactorreia. American Association of Clinical Endocrinologists. Medical guidelines for clinical practice for the diagnosis and treatment of hyperandrogenic disorders. Endocr Practice. 2001;7:121-34. Ultra-sonografia Deve ser solicitada entre o 25º dia do atual ciclo mens- trual e o terceiro do próximo. A ultra-sonografia transvaginal é melhor do que a ab- dominal, por permitir melhor visualização. Dosagem hormonal O sangue deve ser coletado em jejum às 8h, primeira semana do ciclo menstrual regular. • Relação LH /FSH > 2 - baixa especificidade pode estar alterada em outras causas de hiperandrogenismo. A A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 12 relação normal não afasta a Síndrome dos Ovários Policísticos • Dosagem sérica dos andrógenos - 17 – 0HP, S-DHEA, Testosterona livre, Androstenediona • Resistência Insulínica - Relação Glicose/Insulina basal <4,5: indicada nas obesas • Curva glicêmica com dosagem de insulina: indicada nas magras • Teste de tolerância à glicose de 2 horas com 75mg de glicose, • Insulinemia de jejum – RI (resistência a insulina) com insulinemia > a 17.3 UI/l nas mulheres, • Índice de HOMA-células ß, • Perfil Lipídico consiste na dosagem de CT, HDL – c, TG, como a dosagem do LDL – c é cara, o calculamos pela fórmula de Friedwald: Cálculo do LDL – c = CT – (HDL-c + TG / 5 ), se TG < 400mg /dl Cálculo do não –HDL –c =CT – HDL – c, se TG > 400mg / dl Níveis desejáveis: prevenção primária - < 160mg / dl; prevenção secundária - < 130mg /dl. Tratamento Depende da faixa etária, não há cura da síndrome, e sim, tratamento dos sintomas. Em adolescente de 15/16 anos, obesa, com pêlos e acne e perturbações menstrual, primeiro objetivo é redução ponderal. Em adolescente não obesa, torna-se necessário diminuir a produção dos hormônios masculinos e uma das maneiras mais simples de fazê-lo é por meio da pílula anticoncepcional. Exercícios físicos regulares são fundamentais para a redução do peso, bem como para estabilizar os níveis alterados de glicemia. A utilização de pílula anticoncepcional específica para Síndrome dos Ovários Policísticos, que atua também nos problemas de acne e hirsutismo, além de regular o excesso de testosterona. O uso de hipoglicemiantes orais para estabilizar a glicemia pós-prandial. O uso de estimulantes da menstruação. Assim, o intuito do tratamento da Síndrome dos Ovários Policísticos e a normalização dos níveis de insulina, bem como da glicemia, favorecendo o tratamento da Síndrome Metabólica. Os agentes sensibilizantes da insulina, tais como: metformina, tiazolidinediona, aumentam a sensibilidade dos tecidos à ação da insulina. Sharpless JL. Polycystic ovary syndrome and the metabolic syndrome. Clin Diabets. 2003;21:154-61. Acanthosis Nigricans Condição dermatológica caracterizada por espessa- mento, hiperpigmentação e acentuação das linhas da pele, gerando aspecto grosseiro e aveludado no local afetado. Dermatose referida como síndrome paraneoplásica ou ma- nifestação de insulinorresistência . Embora possa ocorrer em qualquer local da superfí- cie corpórea, a área mais atingida é a região posterior do pescoço, seguida pelas axilas, face, lateral do pescoço, su- perfícies flexoras dos membros, região periumbilical, infra- mamária, mucosa oral ou mesmo em casos raros palmas da mão e plantas do pé. Visualize as Figura 9. Figura 9. Superfícies flexoras, dedos, cotovelos, joelhos A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 13 Etiologia A etiologia da Acanthosis Nigrians frequentemente esta associada ao: hiperinsulinismo, Diabetes Mellitus, resistên- cia à insulina, Doença de Cushing, Síndrome dos Ovários Policísticos, tireoideopatias, hirsutismo, acromegalia. Fisiopatologia Devido à alteração nos níveis da insulina é indicada a avaliação desta dermatose na Síndrome Metabólica. Em situações que ocorra a hiperinsulenemia, poderá ocorrer a ligação cruzada da insulina com os receptores de IGF.1 com a insulina, levando um estado anormal de hiperqueratose. Isso ocorre porque a insulina e IGF.1 apre- sentam, grande homologia estrutural. Essa ligação cruzada também promove a excessiva es- timulação dos queratinócitos e fibroblastos cutâneos atra- vés da ativação dos receptores de IGF.1. Outro mecanismo que leva à Acanthosis Nigricans, é a hiperinsulinemia que diminui a produção das transportadoras de IGF.1, deixan- do mais IGF.1 livre para atuar nos queratinócitos e fibro- blastos. Tratamento O tratamento da Acanthosis Nigricans visa estabilizar os distúrbios associados a esta dermatose, como por exemplo: • Quanto às manchas que se instalam na pele, bem como o aspecto grosseiro, pode se tentar suavizar, porém não há como excluir completamente. • Outro aspecto no tratamento é o controle da glicemia e insulina, e normalizar esses níveis para que a dermatose seja estagnada evitando assim que progrida a hiperqueratose. • No tratamento da Síndrome Metabólica a busca pelo diagnóstico da Acanthosis Nigricans se faz necessário devido a alterações no metabolismo da insulina. • O emagrecimento e normalização dos níveis san- guíneos da glicemia, bem como da insulina são fundamentais para o tratamento tanto da Acantho- sis Nigricans como da Síndrome Metabólica. Hipertensão Arterial A hipertensão arterial é uma doença crônica não trans- missível, de natureza multifatorial, assintomática na gran- de maioria dos casos, que compromete fundamentalmente o equilíbrio dos sistemas vasodilatadores e vasoconstrito- res, levando a um aumento da tensão sanguínea nos va- sos, capaz de comprometer a irrigação tecidual e provocar danos aos órgãos por eles irrigados. A hipertensão arterial é caracterizada pelo aumento da pressão arterial, aferida com esfigmomanômetro, tendo como causas a hereditariedade, obesidade, sedentarismo, alcoolismo, estresse e fumo, e outras causas. Pessoas ne- gras possuem maior risco de serem hipertensas. A sua in- cidência aumenta com a idade, mas também pode ocorrer na juventude. Considera-se hipertenso o indivíduo que mantém uma pressão arterial acima de 140 por 90 mmHg, seguidos exa- mes, de acordo com o protocolo médico. Ou seja, uma única aferição da pressão arterial não é suficiente para determinar a patologia. Diagnóstico • Realizar a medida da pressão arterial em toda ava- liação clínica. • Utilizar aparelhos calibrados e técnica adequada. • Realizar no mínimo duas medidas com intervalos de dois minutos entre elas. • Na primeira avaliação verificar nos dois membros superiores. • Nos idosos, diabéticos e pacientes em uso de medi- cação anti-hipertensiva verificar a pressão arterial também na posição ortostática. Conforme a IV Diretrizes Brasileira de Hipertensão Ar- terial da Sociedade Brasileira de Cardiologia, compreende em estágios descritos na Tabela 2. A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 14 Tabela 2. Valores da pressão arterial Fonte: Mancia G et.al. “2007 Guidelines for the Management of Arterial Hypertension - The Task Force for the Management of Arterial Hypertension of the European Society of Hypertension (ESH) and of the European Society of Cardiology.” Eur Heart J, 2007 28 (12): 1462–1536. Sociedade Brasileira de Cardiologia. V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol 2006 Fev: 1-48. Malta DC, Moura L, Souza FM, Rocha FM, Fernandes FM. Doenças crônicas não- transmissíveis: mortalidade e fatores de risco no Brasil, 1990 a 2006 in Saúde Brasil 2008. Ministério da Saúde, Brasília. 2009, 337-362. Qualquer indivíduo pode apresentar pressão arterial acima de 140x90mmHg sem que seja considerado hiper- tenso. Apenas a manutenção de níveis permanentemente elevados, em múltiplas aferições, em diferentes horários e posições e condições - repouso, sentado ou deitado carac- teriza a hipertensão arterial. A hipertensão arterial tem uma ligação importante com estados alterados dos níveis de insulina. Em situações nas quais a insulina apresenta os níveis na normalidade, ela estimula a liberação adequada do óxido nítrico – impor- tante vasodilatador endógeno. Por outro lado, quando o indivíduo apresenta hiperinsulinemia, ocorre a inibição da ação vasodilatadora do óxido nítrico, propciando um endó- telio rijo, favorecendo o aumento da pressão arterial. Sintomas A hipertensão arterial é considerada uma doença silenciosa,pois na maioria dos casos não são observados quaisquer sintomas. Quando existe a presença de sintomas eles são vagos e comuns a outras doenças, tais como dor de cabeça, tonturas, cansaço, enjôos, falta de ar e sangramentos nasais. Esta falta de sintomas pode fazer com que o paciente esqueça de tomar o seu medicamento ou até mesmo questione a sua necessidade, o que leva a grande número de complicações. Tratamento O tratamento da hipertensão arterial visa em uma pri- meira fase a redução ponderal quando o individuo estiver acima do peso ideal, redução na ingestão de sódio devido a presença de edema e com isso aumento da pressão ar- terial, maior ingestão de alimentos ricos em potássio para que ocorra o equilíbrio entre o sódio, redução no consumo de bebidas alcoólicas, a pratica de exercício físicos, dimi- nuir a ingestão de colesterol alimentar e gorduras satura- das. O fumo é um agente hipertensivo, ou seja, as subs- tâncias que ele libera no organismo, como por exemplo; a nicotina atua no endotélio inibindo e reduzindo a ação do potente vasodilatadora do óxido nítrico. Mecanismo Hipotensor do Exercício Físico O exercício físico praticado de maneira regular no mínimo 2-3 vezes por semana, apresenta um efeito hipotensor por diminuir a atividade nervosa simpática, aumentar a excreção urinária de sódio, diminui a atividade da renina plasmática - converte angiotensina I em II que tem efeito hipertensivo, diminui a insulina plasmática (insulina em altas quantidades inibe as enzimas conversoras de óxido nítrico ativo, que é um potente vasodilatador). Investigar a presença de Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono A pesquisa por diagnóstico correto nos distúrbios do sono é fundamental para o sucesso do tratamento con- vencional ou medicamentoso da hipertensão, pois como já abordado, em situações da apneia obstrutiva do sono, o indivíduo apresenta dificuldade em diminuir os níveis pres- sóricos mesmo com a utilização de medicamentos. Muitos indivíduos que apresentam edema devem fazer uso de diuréticos, uma vez que o estado edemaciado con- tribui para o aumento dos níveis pressóricos. O tratamento medicamentoso da hipertensão arterial na Síndrome Metabólica tem como objetivo reduzir a mor- A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 15 bidade e a mortalidade cardiovascular e renal, além de prevenir o agravamento metabólico. Esses benefícios po- dem ser alcançados em pacientes tratados com diuréticos, inibidores adrenérgicos inibidores da enzima conversora da angiotensina, antagonistas do receptor AT1 da angioten- sina II, antagonistas de canais de cálcio e vasodilatadores diretos. Entretanto, ao término de grande parte dos estu- dos que avaliaram o controle da pressão arterial, a maioria dos pacientes utilizou associação dos hipotensores. Sendo Síndrome Metabólica constituída de inúmeros fatores de risco cardiovascular, deve-se considerar o trata- mento farmacológico da hipertensão arterial nela presente a partir de 140/90mmHg ou 130/85mmHg na presença de Diabetes Mellitus. A redução da pressão arterial para cifras inferiores a 130 mmHg/85mmHg pode ser útil em pacientes com ele- vado risco cardiovascular. Nos pacientes diabéticos, reco- menda-se reduções da pressão arterial para níveis inferio- res a 130/80mmHg, e para os pacientes com proteínuria maior que 1g/24h, cifras inferiores a 120/75mmHg. Objetivo do tratamento farmacológico A escolha do medicamento deve ter como objetivo: • Eficácia por via oral • Apresentar boa tolerância pelo paciente • Permitir a administração do menor número possível de tomadas diárias, com preferência para aqueles com posologia de dose única diária • Iniciar o tratamento com as menores doses efetivas preconizadas para cada situação clínica, podendo ser aumentadas gradativamente (considerar que quanto maior a dose, maiores são as probabilidades de surgirem efeitos indesejáveis) • Considerar o uso combinado de medicamentos anti-hipertensivos • Respeitar um período mínimo de 4 semanas, salvo em situações especiais, para proceder ao aumento da dose, à substituição da monoterapia ou à mudança da associação de fármacos • Instruir o paciente sobre a doença, sobre a necessidade do tratamento continuado, sobre os efeitos colaterais dos medicamentos utilizados e sobre a planificação e os objetivos terapêuticos • Considerar as condições socioeconômicas do paciente Alguns exemplos de medicamentos Os medicamentos para diminuir a pressão arterial apresentam vários mecanismos: • Aumento da diurese, • Inibição da ação adrenérgica, • Ação betabloqueadora, • Antagonista dos canais de cálcio, • Inibição da enzima conversora de angiotensina. Diuréticos Os diuréticos diminuem o edema, uma das causas da hipertensão refratária é a ausência do uso de diuréticos em indivíduos hipertensos. Efeitos Indesejáveis: aumento dos triglicerídeos, intolerância a glicose, disfunção sexual, hiperuricemia, hipopatassemia. Inibidores adrenérgicos O mecanismo de ação dos inibidores adrenérgicos é central, atua nos receptores pré-sinápticos no sistema nervoso central, reduzindo a descarga simpática. Efeitos Indesejáveis: sedação, boca seca, fadiga, sonolência, hipotensão ortostática, impotência, disfunção hepática, anemia hemolítica e hipertensão rebote. Betabloqueadores Age diminuindo a ação das catecolaminas, reduz a secreção de renina – responsável pela conversão de an- giotensina I em II, que apresenta um efeito hipertensivo, diminui a resistência vascular periférica. Efeitos Indesejáveis: broncoespasmo, bradicardia, pesadelos, disfunção sexual, depressão miocárdica, de- pressão psíquica. A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 16 Antagonista dos canais de cálcio O antagonista dos canais de cálcio age na redução da resistência vascular periférica por diminuir a concentração de cálcio nas células musculares lisas vasculares. Efeitos Indesejáveis: cefaléia, tontura, rubor facial, edema periférico, hipertrofia gengival. Inibidores da ECA – Enzima Conversora de Angiotensina A enzima conversora de angiotensina, bloqueando a transformação de angiotensina I em II, conforme descrito na Figura 10. Efeitos Indesejáveis: tosse seca, alterações do pala- dar, edema angioneurótico. Figura 10: mecanismo do aumento da pressão arterial via conversão de angiotensina I em II, o medicamento inibe a ECA para bloquear o aumento da pressão arterial em indivíduos hipertensos Antagonista do Receptor da Angiotensina II O Antagonista do Receptor da Angiotensina II, antagoniza a ação da angiotensina II, bloqueando especificamente os seus receptores. Efeitos Indesejáveis: tontura, reação cutânea- “rash” – erupção. Avaliação inicial de rotina para o paciente hipertenso • Análise de urina • Potássio plasmático • Creatinina plasmática • Glicemia de jejum • Colesterol total, HDL, triglicérides plasmáticos • Ácido úrico plasmático • Eletrocardiograma convencional Proteína C Reativa – PC-R A dosagem da Proteína C Reativa é uma forma importante de avaliar o risco para doenças cardiovascular, bem como acompanhar a evolução da doença. É Secretada pelo fígado, principalmente em resposta à elevação dos níveis plasmáticos de IL.6, ela indica risco cardiovascular devido à ação de potencializar o efeito vasoconstritor da angiotensina, e atenuar a produção e ação vasodilatadora do óxido nítrico. Aplicação e utilização: • Quando os valores forem muito superiores ao má- ximo deve-se fazer uma nova coletade sangue se- parada por duas semanas • Para a avaliação do risco cardiovascular deve-se descartar qualquer inflamação ou infecção aguda ou crônica Valores • PC-R < 0,1 mg/dL - baixo risco para doença cardio- vascular • PC-R de 0,1 a 0,3 mg/dL - risco intermediário para doença cardiovascular • PC-R > 0,3 mg/dL - alto risco para doença cardio- vascular Morrow, D. A.; Ridker, P. M. – C-reac- tive protein, inflammation, coronary risk. Med Clin North Am, 84:149-161, 2000. 10 Diabetes Mellitus Na atualidade a incidência do Diabetes Mellitus tipo 2 atinge proporções epidêmicas, demandando um alto custo tanto econômico quanto social. Nesse sentido, a atenção tem sido dispensada aos diferentes níveis preventivos da doença. A prevenção terciária, em que complicações já ocorreram, e, ainda hoje, a que consome a maior parte dos investimentos. A prevenção secundaria tem merecido discussões desde os resultados dos grandes ensaios, mostrando a importância do tratamento adequado do diabético sem complicações. A pre- A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 17 venção primaria, de interesse mais recente e enfoque dessas diretrizes, tem como finalidade impedir o aparecimento da doença. A Organização Mundial da Saúde cita ainda um últi- mo nível de prevenção, o primordial, o qual objetiva evitar o surgimento de fatores de risco para Diabete Mellitus 2. O fator de risco significa maior chance de desenvolver a doença. Em relação aos fatores de risco modificáveis no Diabetes Mellitus tipo 2, particularmente sobrepeso e sedentarismo, o aumento do índice de massa corporal aumenta a incidência ou o risco de se desenvolver diabe- tes. Outro dado obtido desse ensaio evidencia que quanto maior o ganho de peso na vida adulta, maior o risco de se desenvolver o Diabetes Mellitus. A gordura omental tam- bém assume um papel importante na gênese do diabetes. Gimeno SG, Ferreira SR, Franco LJ, Hirai AT, Matsumura L, Moises RS. Prevalence and 7-year incidence of Type II diabetes mellitus in a Ja- panese-Brazilian population: an alarming public health problem. Diabetologia. 2002 Dec; 45(12): 1635-8. Recomendações da Associação Americana de Diabetes, 2003 para prevenir ou retardar o sur- gimento do Diabetes Mellitus • Indivíduos com alto risco para desenvolver diabe- tes precisam se tornar conscientes dos benefícios da redução ponderal • Pratica de exercício físico, ele aumenta a captação de glicose pelo GLUT.4, sem a participação da in- sulina • Rastreamento para diabetes: homens e mulheres ≥ 45 anos de idade, particularmente aqueles com IMC ≥ 25 kg/m2, são candidatos a detecção de pré- -diabetes, glicemia de jejum alterada, teste de to- lerância a glicose. • Em indivíduos normoglicêmicos indica-se rastrea- mento a cada três anos • Rastreamento deve ser realizado apenas como par- te de uma consulta médica. Tanto a glicemia de jejum como o teste de duas horas pós-sobrecarga com 75 g de glicose são apropriados, sendo que o resultado positivo em jejum deve ser confirmado em outro dia • A monitoração para o desenvolvimento de diabetes deve ser realizada a cada um ou dois anos • Atenção especial e tratamento adequado devem ser dados aos fatores de risco para doenças car- diovasculares, como tabagismo, hipertensão e dis- lipidemia O tratamento farmacológico para a prevenção do Dia- betes Mellitus não deve ser feito rotineiramente até que surjam novas informações sobre seu custo-efetividade. Reaven GM. Role of insulin resistance in hu- man disease. Diabetes. 1998; 37: 1595-1607. O tratamento medicamentoso específico para resistên- cia a insulina inclui agentes (metformina, tiazolidinedionas, inibidores do sistema renina-angiotensina-aldosterona) que apresentam um perfil para a prevenção de Diabetes Mellitus e doença cardiovascular uma vez que provocam: • Melhora da sensibilidade a insulina em diferentes tecidos-alvo • Modificações na função renal, reduzindo a micro- albuminúria • Melhora da função endotelial • Reversão de respostas arteriais anormais Quanto ao controle glicêmico, importante atingir valo- res os mais próximos do normal. Como muitas vezes não é possível, aceitam-se, nesses casos, valores de glicose plasmática em jejum ate 126 mg/dl e pós-prandial (duas horas) até 160 mg/dl, e níveis de hemoglobina glicada até um ponto percentual acima do limite superior do método utilizado. Acima desses valores, é necessário realizar inter- venção para melhorar o controle metabólico. The Seventh Report of the Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation and Treatment of High Blood Pressure (JNC7). JAMA 2003; 289: 2560-72. A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 18 Glicemia de Jejum A glicemia de jejum deve ser o primeiro exame laboratorial na investigação da Síndrome Metabólica, e os valores devem seguir conforme Tabela 3. • Coleta de sangue no período matutino • Dieta habitual no dia anterior • Susto interfere no resultado da glicemia - cortisol e adrenalina • Jejum ideal de 8 horas • Sem pratica de exercício físico • Valores devem ser abaixo 100 mg/dL • Glicemia pós-prandial: após 2 h do almoço • Pode ser em jejum e 2 h após a começar a comer Tabela 3. Glicose plasmática Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes. Atualização Brasileira sobre Diabetes. Versão atualizada, 2006. Teste de tolerância à glicose oral Indicações Para o diagnóstico de Diabetes Mellitus (quando a glicemia de jejum encontra-se entre 100 e 125 mg/dL) e de tolerância diminuída à glicose, conforme Tabela 4. Protocolo Preparo do paciente: • Jejum de oito a doze horas • Teste não recomendado para pacientes hospitali- zados • Nos três dias que antecedem o teste, a dieta deve conter no mínimo 150 g de carboidratos • Suspender drogas que interfiram na tolerância aos carboidratos, não ingerir bebidas alcoólicas e não realizar atividade física fora do habitual nas 24 ho- ras que precedem o teste • Punção venosa com cateter • Manter repouso relativo • Proibido fumo, chá, café ou alimentação durante o teste • Administrar 75 g de glicose para adultos e 1,75 g/ kg para crianças (máximo de 75 g) colher amostras nos tempos 0 e 120 minutos Tabela 4. Teste de Tolerância à Glicose oral Fonte: Expert Committee on the Diagnosis and Classification of Diabetes Mellitus: Report of the Expert Committee on the Diag- nosis and Classification of Diabetes Mellitus. 2001 Diabetes Care; Suppl 1:S5-S20. Hemoglobina Glicada Teste para avaliar o acompanhamento do Diabetes Mellitus, a hemoglobina glicada é produzida quando a hemoglobina reage com altas concentrações de glicose sérica, reflete o consumo inadequado de carboidratos durante um período retroativo até 120 dias, a Figura 8 mostra a formação da hemoglobina glicada. Os valores de referência podem ser aplicados de acordo com o método utilizado, caracterizando resultado alterado quando o valor for 1% acima do limite máximo conforme Tabela 3. • Normal: 5 a 8% • Valores referência: 3,6 a 5,3% • Qualquer hora do dia, não precisa ser em jejum • Aumenta com a exposição continua de glicose • Avaliação á longo prazo: 60 a 120 dias Figura 8. Formação da Hemoglobina Glicada A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 19 HOMA - Homeostasis Model Assesment Este exame avalia a resistência à insulina e a capacidade de liberação de insulina pelas células ß no pâncreas,a coleta do sangue deve ser em jejum de 8 horas. HOMA – para avaliar a Resistência à Insulina Glicemia (mMol) x insulina (uUl/mL) ¸ 22,5 Valores Insulina: 2,6 a 24,9 UI/mL Considerado como Resistência Insulínica: • HOMA-IR > 4,65 ou • HOMA-IR >3,60 e IMC > 27,5 kg/m2 • Normal: até 3,0 HOMA – para avaliar a função das Células ß 20 x Insulina ¸ (Glicemia – 3,5) Valores 2,6 a 24,9 µUI/mL Matthews D, Hosker JP, Rudenski AS, Naylor BA, Trecher DF, Turner RC. Homeostasis model assessment: Insulin resistance and β-cell func- tion from fasting plasma glucose and insulin con- centration in man. Diabetologia 1985; 28:412-9. Dislipidemias Na síndrome metabólica, a dislipidemia caracteriza-se pela presença de níveis baixos de HDL e níveis elevados de triglicérides. Embora a elevação do LDL não seja considerada como um dos critérios diagnósticos da Síndrome Metabóli- ca, os portadores desta síndrome apresentam alteração da densidade e do tamanho das partículas dessa lipoproteína, predominando o padrão tipo B (LDL pequena e densa). Esta associação é denominada de dislipidemia aterogênica. Grundy SM, Hansen B, Smith Jr S, Cleeman JI, Kahn RA. Clinical management of metabolic syn- drome. Report of the American Heart Association/ National Heart, Lung and Blood Institute/American Diabetes Association Conference on Scientific Is- sues Related to Management. Circulation, v. 109, p. 551–556, 2004. Austin MA, Breslow JL, Hennekens CH, Buring JE, Willett WC, Krauss RM. Lowdensity lipoprotein subclass patterns and risk of myocardial infarction. JAMA, v. 260, p. 1917–1921, 1988. A aterosclerose é uma doença inflamatória crônica de ori- gem multifatorial que ocorre em resposta à agressão endote- lial, acometendo principalmente a camada íntima de artérias de médio e grande calibre. A formação da placa ateroscleró- tica inicia-se com a agressão ao endotélio vascular devida a diversos fatores de risco como elevação de lipoproteínas ate- rogênicas (LDL, IDL, VLDL, remanescentes de quilomícrons), hipertensão arterial ou tabagismo. Como conseqüência, a disfunção endotelial aumenta a permeabilidade da íntima às lipoproteínas plasmáticas favo- recendo a retenção das mesmas no espaço subendotelial. Retidas, as partículas de LDL sofrem oxidação, causando a exposição de diversos neo-epítopos, tornando-as imunogêni- cas. O depósito de lipoproteínas na parede arterial, no início da aterogênese, ocorre de maneira proporcional à concen- tração dessas lipoproteínas no plasma. Além do aumento da permeabilidade às lipoproteínas, outra manifestação da disfunção endotelial é o surgimento de moléculas de ade- são leucocitária na superfície endotelial, processo estimulado pela presença de LDL oxidada. As moléculas de adesão são responsáveis pela atração de monócitos e linfócitos para a parede arterial. Induzidos por proteínas quimiotáticas os monócitos migram para o espaço subendotelial onde se di- ferenciam em macrófagos, que por sua vez captam as LDL oxidadas. Os macrófagos repletos de lipídios são chamados células espumosas e são o principal componente das estrias gordurosas, lesões macroscópicas iniciais da aterosclerose. Investigação A investigação de antecedentes familiares: • Pais / avós com doença cardiovascular antes de 55 anos; A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 20 • Pais com colesterol total > 240 mg/dL; • História familiar desconhecida da presença de colesterol acima dos valores adequados • Presença de outros fatores de risco para doença cardiovascular: obesidade, diabetes, hipertensão, tabagismo • Sinais clínicos de dislipidemias e aterosclerose Classificação das Dislipidemias As dislipidemias primárias ou sem causa aparente podem ser classificadas genotipicamente ou fenotipicamente através de análises bioquímicas. Na classificação genotípica, as dislipidemias se dividem em monogênicas, causadas por mutações em um só gene, e poligênicas, causadas por associações de múltiplas mutações que isoladamente não seriam de grande repercussão. A classificação fenotípica ou bioquímica considera os valores do CT, LDL-C, TG e HDL-C. Compreende quatro tipos principais de dislipidemias, conforme Tabela 5. Tabela 5. Classificação das Dislipidemias Fonte: IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia Arquivos Brasileiros de Cardiologia - Volume 88, Suplemento I, Abril 2007 Avaliação Laboratorial das Dislipidemias O perfil lipídico é definido pelas determinações bioquímicas do colesterol total, HDL, LDL após jejum de 12 a 14 horas, evitar a ingestão de álcool, e a pratica de exercício físico 72 e 24h antes da coleta de sangue. O LDL pode ser calculado pela equação de Friedewald LDL-C = CT - HDL-C - TG/5 Fonte: FRIEDEWALD, Willian T.; LEVY, Robert I.; FREDRICKSON, Donald S. Estimation of the Concentration of Low-Density Lipoprotein Cholesterol in Plasma, without Use of the Preparative Ultracentrifuge. Clinical Chemistry, v. 18, n. 6, 1972. Onde TG/5 representa o colesterol ligado à VLDL, ou dire- tamente mensurado no plasma. Em pacientes com hipertrigli- ceridemia (TG>400mg/dL), hepatopatia colestática crônica, Diabetes Mellitus ou síndrome nefrótica, a equação é imprecisa. Nestes casos, o valor do LDL-C pode ser obtido por dosagem direta. Como o uso da fórmula de Friedewald é adequado à maioria dos pacientes e tem custo muito menor, seu uso foi considerado como padrão por essa Diretriz. Além das dosagens bioquímicas, fez-se costumeiramente por algum tempo a ele- troforese de lipoproteínas. Atualmente, esse exame só é neces- sário em casos especiais, como na constatação de ausência de lipoproteínas. A determinação do perfil lipídico deve ser feita em indivíduos com dieta habitual, estado metabólico e peso estável por pelo menos duas semanas antes da realização do exame. Além dis- so, deve-se evitar a ingestão de álcool e atividade física vigorosa nas 72 e 24 horas que antecedem a coleta de sangue, respec- tivamente. Pacientes com alterações no perfil lipídico devem ter seus exames confirmados pela repetição de nova amostra. A nova dosagem deverá ser realizada com o intervalo mínimo de uma semana e máximo de dois meses após a coleta da primeira amostra. Esse procedimento visa reduzir a variabilidade entre os ensaios e aumentar a precisão diagnóstica. A variação entre duas dosagens no mesmo indivíduo, ou intra-individual, resul- ta, portanto, da combinação entre as variações pré-analíticas e analíticas. Entre duas dosagens sucessivas, é aceita como ade- quada variação intra-individual igual ou inferior à disposta na Tabela III. Por exemplo, as concentrações de triglicérides po- dem ser superestimadas pelo aumento do glicerol livre, como no exercício recente, doença hepática aguda, Diabete Mellitus descompensado, nutrição parenteral ou medicação intraveno- sa contendo glicerol. Nesses casos, é recomendada reavalia- ção em momento clinicamente mais oportuno. Interferência nos resultados do colesterol e frações Variação biológica Os componentes do perfil lipídico sofrem flutuações ao longo do tempo, caracterizando a variabilidade biológica intra- -individual. As variações médias em indivíduos saudáveis, em termos de Coeficiente de Variação, podem ser resumidas em: CT, HDL-C e LDL-C cerca de 10% e para os TG, cerca de 25%. A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 21 Postura da coleta É recomendável que a punção venosa seja realizadano paciente sentado pelo menos por 10 a 15 minutos para evitar variações ortostáticas da volemia e garantir a consistência en- tre as dosagens. Duração do torniquete Após 1 minuto de torniquete pode haver hemoconcen- tração e, com relação ao perfil lipídico, ocorrer aumento de cerca de 5% no colesterol total. Este efeito pode chegar a 10 a 15% com durações superiores á 5 minutos. Visando minimizar o “efeito torniquete”, este deverá ser desfeito tão logo a agulha penetre na veia. Metas lipídicas na Síndrome Metabólica As metas lipídicas a serem atingidas com o tratamento do paciente portador da Síndrome Metabólica estão apre- sentadas na Tabela 6. Tabela 6. Metas lipídicas na Síndrome Metabólica Fonte: Expert Panel on Detection, Evaluation and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults. Executive summary of the Third Report of the National Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection, Evaluation and Treatment of High Cholesterol. JAMA, v. 285, p. 2486– 2497, 2001. Etiologia A alteração nos níveis sanguíneos do colesterol total e frações apresentam diversas causas: icterícia obstructiva , aterosclerose, hipotiroidismo, Síndrome Nefrótico, Diabe- tes Mellitus, hereditária, familiar (diferentes tipos), obesi- dade, excesso de consumo de álcool. Interferência dos medicamentos nas dosagens das frações do Colesterol e frações Alguns medicamentos interferem nos resultados da co- leta de sangue para análise do colesterol e frações, para tanto é necessário a indicação do preparo adequado no momento da coleta do sangue. A utilização de medica- mentos de uso crônico deve ser ingerido apenas após a coleta do sangue. Os diferentes medicamentos agem tan- to aumentando quanto diminuindo o colesterol e frações conforme Tabelas 7, 8, 9,10. Tabela 7. Influencias nos níveis sanguíneos do Colesterol total Tabela 8. Influencias nos níveis sanguíneos de LDL Tabela 9. Influencia nos níveis sanguíneos de HDL Tabela 1 0 . Influencias nos níveis de sanguíneos Triglicerídeos A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 22 Considerações terapêuticas na Síndrome metabólica As principais orientações terapêuticas para a Síndrome Metabólica: • Remoção e tratamento dos fatores de risco: fumo, obesidade, hipertensão arterial, dislipidemia, into- lerância a glicose, estados pro-trombótico e pro- -inflamatório; • Tratamento da resistência a insulina. A grande maioria das anormalidades da Síndrome Me- tabólica responde positivamente as modificações no estilo de vida, como redução do peso, dieta saudável, exercício físico regular e cessação do fumo. Indica-se a redução de 7% a 10% do peso em seis a 12 meses, acompanhada da pratica de exercício físico -150 minutos por semana, caminhadas de 10-12 km por se- mana. Na escolha do esquema anti-hipertensivo, deve-se considerar o potencial papel deletério de certos agentes sobre o metabolismo da glicose e dos lipídios, embora se deva ressaltar que o mais importante é a diminuição efe- tiva dos níveis pressóricos, independente do medicamento disponível. Na busca do controle glicêmico, em pacientes com diag- nóstico de diabetes é indicado a opção por medicamentos sensibilizadores da insulina (metformina e tiazolidinedio- nas), embora todos os outros possam ser opções terapêu- ticas para o Diabetes Mellitus tipo 2, quando presente em indivíduos com diagnóstico de Síndrome Metabólica. Outras medidas terapêuticas incluem estatinas e/ou fi- bratos, antiagregantes plaquetários (ácido acetilsalicílico) e medicamentos antiobesidade. Acredita-se que os benefícios da estatina em pacientes com diagnóstico de Síndrome Metabólica não decorram apenas da otimização das lipoproteínas séricas, mas tam- bém de atividades pleiotrópicas - capacidade de ser um único gene responsável, no fenótipo de um organismo, por múltiplos efeitos que, aparentemente, não se relacionam, em especial os efeitos antiinflamatórios. FUMO Efeitos agudos do tabagismo • Indução do estado de hipercoagulabilidade, com o aumento da viscosidade do sangue, aumenta-se as chances de agregação plaquetária, • Aumento do trabalho cardíaco devido à liberação de catecolaminas nas terminações nervosas • Redução da capacidade sanguínea de transportar oxigênio mediado pelo monóxido de carbono, • Vasoconstrição coronária devido a ativação das substâncias vasopressoras como, por exemplo; a vasopressina, • Efeitos adversos sobre os lipídios, oxidação das LDL que ao liberarem radicais livres levam a um quadro de agregação plaquetária • Disfunção endotelial, o endotélio perde a capacidade de vasodilatar, propiciando assim um aumento na pressão arterial • Ativação dos neutrófilos. Aumento da contagem de neutrófilos que declina com a cessação do fumo, O aumento dos neutrófilos circulantes parece contribuir para a instalação de eventos coronários agudos, por meio da liberação de radicais livres de oxigênio, proteases e leucotrienos que promovem agregação e ativação plaquetária. Exames Laboratoriais – complementares na investigação da Síndrome Metabólica Microalbuminúria Entende-se por microalbuminúria a excreção urinária de albumina em quantidades acima de 30 mg/24h, porém, in- feriores àquelas detectadas pelos métodos bioquímicos de rotina, em geral, 300 mg/24h. Tem sido utilizada no acompanhamento, sobretudo, de pacientes diabéticos e sua presença indica comprometimento renal incipiente. A deterioração das funções renais é uma das complica- ções mais frequentes em diabéticos, afetam a grande maio- ria dos diabéticos insulino-dependentes e também os não insulino-dependentes. A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 23 A medição da microalbuminúria, que define como a pre- sença de albumina na urina em quantidades maiores que o normal, porém com níveis abaixo do considerada como pro- teinúria. Associada com outros fatores de risco: • Hiperglicemia em pacientes diabéticos e • Não diabéticos, hipertensão, disfunção renal, dis- lipidemias, hiperhomocisteinemia, dieta proteíca, tabagismo • Indica um aumento da permeabilidade endotelial renal e pode facilmente ser usado como marcador de disfunção endotelial difusa Microalbuminuria and a Peripheral Arterial Dise- ase Are Independent Predictors of Cardiovascular and All-Cause Mortality, Especially Among Hyper- tensive Subjetcts. Aterioscler Thromb Biol. 1999; 19:617-624. Microalbuminuria im Type-1 Diabetes Mellitus. European Society of Hypertension Scientific News- letter. 2003; 4:n 16. Albumina Sérica A albumina é sintetizada no fígado, níveis normais con- tribuem em parte com a pressão oncótica no plasma san- guíneo. A redução dos níveis circulantes resulta em uma inver- são do fluído do espaço intravascular para o extra-vascular. Função: • Transportar íons metálicos, aminoácidos, hormônios, ácidos graxos, bilirrubina, enzimas, drogas, metabó- litos • Preserva e distribui água nos três compartimentos cor- porais • Tende a se perder na urina quando ocorrem danos nos glomérulos, devido ao seu pequeno peso molecular Alterada: • Distúrbios nutritivos, hepatopatias, nefrose, ma- croglobulinemia, infecções crônicas. Homocisteína The European Cardiology Society classifica a homocistei-na como um fator qualificador de risco condicional inde- pendente de outros fatores. A Organização Mundial da Saúde considera o excesso de homocisteína no sangue como fator de risco para doenças cardiovascular.A homocisteinemia pode provocar danos aos vasos sanguíneos aumentando o risco de obstrução resultando em infartos ou derrames. A homocisteina em excesso age através da toxidade ao endotélio, estresse oxidativo, disfunção endotelial. Pode determinar aterosclerose e trombose, em artéria que não possua placas de gorduras A redução dos níveis de homocisteína está diretamente relacionado com: a deficiência na ingestão de completo B, folato, B6, B12. Figura Molécula de homocisteína lesionando o endotélio Fonte: http:// www.moodle.ufba.br/file.php/10137/Atividades Aminotransferases A queda nas concentrações das proteínas totais pode depender de diminuição da síntese hepática não apenas por carência nutricional, mas também pelo catabolismo, infecções, alterações da permeabilidade vascular. A Etiologia da Síndrome Metabólica e Manifestações Clinicas da Síndrome Metabólica 24 Aspartato Aminotransferase AST, TGO Encontrada em altas concentrações no citoplasma e nas mitocôndrias do fígado, músculo esquelético e cardíaco, rins, pâncreas e eritrócitos; quando qualquer um desses tecidos é danificado, a AST é liberada no sangue. Como não há um método laboratorial para saber qual a origem da AST encontrada no sangue, o diagnóstico da causa do seu aumento deve levar em consideração a possibilidade de lesão em qualquer um dos órgãos onde é encontrada. Valores normais: até 31U/L mulheres, até 37U/L homens Aproximadamente 6 a 8 horas após o infarto do miocárdio a AST começa a elevar-se atingindo o máximo entre 18 e 24h, retornando aos valores de referência no 5º. Dia Alanina Aminotransferase ALT, TGP – fígado Encontrada em altas concentrações apenas no citoplasma do fígado, o que torna o seu aumento específico de lesão hepática; no entanto, pode estar aumentada em conjunto com a AST em miopatias severas. Valores normais: até 31 U/L mulheres, até 41 U/L homens. Relação AST/ALT A relação entre AST E ALT aumenta e diminui na mesma proporção em doenças hepáticas, conforme Tabela 11. Elevações pequenas de ambas, ou apenas de ALTfígado são encontradas na hepatite crônica Nas hepatites agudas virais ou por drogas elevações de ambas. Tabela 11. Relação nos valores de AST/ ALT Gama Glutamil Transferase Encontrada rins, cérebro, pâncreas e fígado (quase a totalidade da gama GT corpórea está presente nos hepatócitos). No fígado, esta enzima está localizada nos canalículos das células hepáticas e particularmente nas células epiteliais dos ductos biliares. Devido a esta localização característica, a enzima aparece elevada em quase todas as desordens hepatobiliares, sendo um dos testes mais sensíveis no diagnóstico destas condições. Diagnóstico: doenças obstrutivas hepáticas Marcador: auxiliar de alcoolismo crônico. Devido aos efeitos do consumo de álcool nos níveis de gama GT, aceita- se este como um marcador sensível de alcoolismo crônico (embora não seja um marcador específico), especialmente quando seus aumentos não são acompanhados de aumentos similares de outras enzimas hepáticas. Portanto, sua determinação parece mais efetiva no monitoramento do tratamento de indivíduos já diagnosticados. Os níveis de Gama GT usualmente retornam ao normal após 15-20 dias da cessação da ingestão alcoólica, podendo elevar-se em curto prazo se a ingestão alcoólica é retomada. Valores normais: homens - 15,0 a 85,0 U/L, mulheres - 5,0 a 55,0 U/L Referências Almeida, N; Gomes, D; Gonçalves, C; Gregório, C; Bri- to, D; Campos, C; Gouveia, H; Freitas, D. 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