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Virgínia Marcondes FILOSOFIA A origem da filosofia enquanto pensamento crítico no mundo antigo 1 Pode-se dizer que a filosofia nasceu em território grego, evoluiu em Atenas e depois passou pelo cristianismo que, por sua vez, surgiu na Palestina para se desenvolver no mundo helênico (formado desde a península grega, por Roma até vasta área do Mar Mediterrâneo até a Ásia Central). Aí foi apropriada pelo mundo latino e cristão, renovando-se com o pensamento árabe. O pensamento grego por volta do séc. VI a.C. se diferenciava dos demais povos, já que se considerava um pensamento pautado na ciência, portanto a fase inicial do pensamento pode ser denominado de filosófico-científico. Esse pensamento traduzia uma forma de se entender a realidade. O pensamento mítico é uma maneira do povo explicar os fenômenos naturais e até a origem do mundo. O mito é, na verdade, uma modalidade de discurso, seja imaginário ou não, cuja função é dar explicação. Sendo o mito o produto de uma tradição cultural, não pode ser atribuído a uma pessoa ou a um grupo de pessoas, mas ao legado do povo. Os mitos acabam, portanto, por caracterizar o povo, já que não são justificados, nem fundamentados, nem mesmo sujeitos à crítica ou correção. Os mitos procuram explicar a realidade apelando ao sobrenatural e ao mistério, ao sagrado, à magia. Para Aristóteles, Tales de Mileto, no séc VI a.C., iniciou o pensamento filosófico científico. Pensamento este que surgiu a partir da insatisfação com as explicações pautadas no pensamento mítico. Na verdade, o pensamento mítico se traduz, às vezes, como paradoxal, ou seja, se por um lado procura dar explicações da realidade e por outro, recorre ao mistério e ao sobrenatural, ou seja, exatamente ao que não se pode explicar por estar fora da compreensão humana. Todavia, o mito sobrevive ao aparecimento da nova maneira de pensamento e vai, gradativamente perdendo força até desaparecer por completo. A influência do mito permanece na cultura grega como forma de explicar a realidade. Assim, pode-se entender a permanência da referência dos deuses no pensamento filosófico grego já na época de Platão. Apresentou-se, então, uma nova ordem econômica e cultural e o pensamento mítico foi perdendo sua força e seu valor. Essa desvalorização do pensamento mítico abriu espaço para o pensamento de Tales de Mileto que, com um cenário de mudanças histórico sociais e econômicas venceu o pensamento pragmático sobre o mítico. Progressivamente, esse pensamento se expandiu e nasceu a Escola de Mileto, ganhou território e foi encontrado, também, nos filósofos pré- socráticos, pensadores dos séculos VI a V a.C. Aristóteles chamou os primeiros filósofos de physiólogos, ou seja, de pensadores ou teóricos da natureza (physis), portanto o objeto de estudo era o mundo natural, para o qual se buscavam as explicações a partir de causas puramente naturais, ou seja, localizadas na própria natureza. A CHAVE DA COMPREENSÃO DA REALIDADE NATURAL ESTÁ NA PRÓPRIA REALIDADE E NÃO FORA DELA. Tales de Mileto e seus sucessores, até os sofistas e Sócrates, se preocupavam com o que era essencial, em que a natureza não seria o que é. Para Tales, o princípio de todas as coisas é a água. A água é necessária à vida, às sementes e todos os alimentos de todos os seres são úmidos. Tales ainda era matemático, astrônomo e físico, além de se interessar por política. Tales faz discípulos: Anaximandro foi o principal. Anaximandro destacou-se por introduzir uma explicação nova para explicar a matéria. Anaxímenes tentava encontrar um novo elemento, o ar, para explicar que, como está em toda a parte e tem um caráter invisível, se trata de uma explicação abstrata da realidade física. Xenófanes escrevia em estilo poético, atacava o antropomorfismo. Defendeu a ideia de um único Deus que se identificava com a natureza e adotava a terra como elemento do qual se originam todas as coisas. Para Pitágoras o número é a essência das coisas, assim como do domínio moral. O número 1 representa a razão, a justiça é representada pelo 4 que é o resultado de 2 vezes ele mesmo, explicando o quadrado. Essa concepção do número como elemento primordial representa que os quatro números, se dispostos em forma triangular, representariam a relação perfeita. Heráclito, de Éfeso, defendia a ideia central do devir universal, ou seja, tudo passa, nada subsiste, nada existe, tudo se transforma. Valorizava a experiência sensível: não podemos banharmo-nos duas vezes no mesmo rio, porque o rio não é mais o mesmo. Isso representa a ideia de fluxo, de continuidade Parmênides representava uma visão da lei da identidade, ao afirmar: o ser é, o não ser não é. Ou seja, uma coisa ou é, ou não é. Empédocles admite elementos imutáveis: água, terra e fogo. Duas forças os movem: um poder de repulsa – ódio, os separa e um poder de atração – amor, os aproxima. Demócrito se contentava em notar os fatos e suas relações constantes, concebeu a filosofia do atomismo. O mundo é composto por elementos invisíveis e indivisíveis, imutáveis, eternos, os átomos. Sofistas Os sofistas eram considerados mestres da retórica e da oratória, acreditavam que a verdade é múltipla, relativa e mutável. Protágoras foi um dos mais importantes sofistas, tratava não do indivíduo, mas do homem em geral: “O homem é a medida de todas as coisas”. Seu pensamento, portanto pode ser considerado humanista e relativista. Sócrates foi influenciado por Anaxágoras. Seus primeiros estudos e pensamentos discorriam sobre a essência da natureza da alma humana. Sócrates demonstrava, em seus pensamentos, uma necessidade de levar o conhecimento para os cidadãos gregos. Seu método de transmissão de conhecimentos e sabedoria era o diálogo. Através da palavra, o filósofo tentava levar o conhecimento sobre as coisas do mundo e do ser humano. Sócrates não deixou nenhum escrito. Sua obra se tornou conhecida por Xenofonte e por Platão. Para Sócrates, a “Maiêtica” (que significa literalmente “dar à luz”), é um método de argumentação, indicado para desvendar o conhecimento humano. Foi dessa forma que se opôs aos mestres da oratória, os sofistas. Por exemplo, se estava procurando definir a coragem, pedia descrições de atos considerados corajosos. Em seguida, analisava esses casos com a finalidade de descobrir o que é comum a todos eles. Esse algo comum era a coragem, a essência dos atos heroicos, que existirá em qualquer ato corajoso, independente das circunstâncias que o cercarem. Platão (428 a.C.-347 a.C.) foi o fundador da Academia de Atenas. Discípulo de Sócrates e professor de Aristóteles, procurava transmitir uma profunda fé na razão e na verdade, adotando o lema de Sócrates "o sábio é o virtuoso". Escreveu diversos diálogos filosóficos, entre eles "A República", obra dividida em dez volumes. Na obra "República", Platão descreve uma sociedade ideal dividida em três classes, levando em conta a capacidade intelectual de cada indivíduo: a primeira camada, mais presa às necessidades do corpo, seria encarregada da produção e distribuição de gêneros para toda a comunidade: lavradores, artífices e comerciantes. A segunda classe, mais empreendedora se dedicava à defesa: os soldados. A classe superior, capacitada para servir-se da razão, seria a dos intelectuais, com poder político, assim os reis teriam de ser escolhidos entre os filósofos. No livro VII da República, Platão escreve em forma de diálogo o Mito da Caverna, no qual relata a vida de alguns homens que desde a infância se encontram aprisionados em uma caverna, com uma pequena abertura por onde penetra a luz. Os homens passam o tempo olhando para uma parede de fundo. Lá fora, nas costas dos cativos, brilha um fogo aceso sobre uma colina e entre ela e os presos, passam homens carregando pequenas estátuas. As sombras desses passantes são projetadas no fundo da caverna. As vozes ouvidas são atribuídas às próprias sombras, para eles a única realidade. Quando um dos cativos consegue evadir-se, percebe que tinha vivido num mundo irreal. Platão usa todas essa imagenspara dizer que o mundo que percebemos com nossos sentidos, é um mundo ilusório e confuso, é o mundo das sombras. Mas esta realidade sensível não é todo o universo. Há um reino mais elevado, espiritual, eterno, onde está o que existe de verdade, é o mundo das ideias, que só a razão pode conhecer e que apenas os filósofos podem perceber. Aristóteles foi um dos mais importantes filósofos gregos da antiguidade. Valorizava a inteligência humana, única forma de alcançar a verdade. Fez escola e seus pensamentos foram seguidos e propagados pelos discípulos. Aristóteles pensou e escreveu sobre diversas áreas do conhecimento: política, lógica, moral, ética, teologia, pedagogia, metafísica, didática, poética, retórica, física, antropologia, psicologia e biologia. Publicou muitas obras de cunho didático, principalmente para o público geral. Valorizava a educação e a considerava uma das formas de crescimento intelectual e humano. Muitas vezes fez objeções ao idealismo de seu mestre Platão, que dizia que “o mundo material existia objetivamente e a Natureza não dependia de ideia alguma". Aristóteles manifestou a opinião de que todos os objetos da Natureza estavam em constante movimento. Classificou, pela primeira vez, os tipos de movimento, reduzindo-os a três fundamentais: nascimento, destruição e transformação. Na metafísica, Aristóteles dedica-se ao estudo dos objetos imateriais em geral. Respondendo a muitos de seus contemporâneos e abrindo caminho para desenvolvimentos posteriores, tendo influenciado a filosofia da idade média e através desta fundado a disciplina metafísica. No campo da ética e moral, a obra Ética a Nicomâco, além de diversos tratados, foi um marco importante no estudo e desenvolvimento da ética como disciplina filosófica. Baseada em seu pai, Nicomâco, a obra traz uma abordagem prática das virtudes como o caminho para o pleno desenvolvimento humano, do ponto de vista ético, defendendo que o objetivo é ser bom, não apenas saber o que é bom. Ainda, segundo Aristóteles, um caráter virtuoso nos aproxima da felicidade. Como Platão, Aristóteles escreveu em um período de profunda crise na Democracia escravista. Preocupou-se com as formas de governo, considerando legítimas a Monarquia, a Aristocracia e a Democracia. Escreveu um longo tratado “A Política” no qual analisou os regimes políticos e as formas do Estado. A filosofia helenística surgiu após os três principais filósofos gregos: Sócrates, Platão e Aristóteles e continua a investigar os mesmos problemas de antes. Uma das grandes questões se referia a saber o que era a verdadeira felicidade e como atingi-la. O ceticismo caracterizou-se como uma corrente de pensamento que surgiu, primeiramente, com Pirro de Élis, contemporâneo de Alexandre. Denominada de pirronismo, é a primeira filosofia cética e é considerada a mais radical. Tem como característica principal o impedimento do dogmatismo, uma vez que é ideal ao filósofo abster-se de juízo, ou seja, manter um constante estado de dúvida para com verdades possíveis, impedindo-as de serem naturalizadas, ou até mesmo possíveis em sua existência e verdades possíveis, impedindo-as de serem estudadas, ou até mesmo possíveis em sua existência Escola peripatética foi um círculo filosófico da Grécia Antiga que seguia os ensinamentos de Aristóteles, o fundador. Foi fundada em 336 a.C., quando Aristóteles abriu a primeira escola filosófica no Liceu em Atenas e durou até o século IV. Peripatético em grego é a palavra grega para 'ambulante' ou 'itinerante'. Peripatéticos (ou 'os que passeiam') eram discípulos de Aristóteles, em razão do hábito do filósofo de ensinar ao ar livre, caminhando enquanto lia e dava preleções, por sob os portais cobertos do Liceu, conhecidos como peripatoi, ou sob as árvores que o cercavam. A escola sempre teve uma orientação empírica - em oposição à Academia Platônica, muito mais especulativa. Tal característica se acentuou quando Teofrasto assumiu a direção. O mais famoso membro da Escola peripatética depois de Aristóteles foi Estratão de Lampsaco, que incrementou os elementos naturais da filosofia de Aristóteles e adotou uma forma de ateísmo. A filosofia aristotélica é um sistema, ou seja, a relação e conexão entre as várias áreas pensadas pelo filósofo. Seus escritos versam sobre praticamente todos os ramos do conhecimento de sua época (menos as matemáticas). Neopitagorismo Baseado nas ideias de Pitágoras (pré-socrático), este pensamento buscava aproximar a teoria pitagórica do platonismo. Teve muita influência no desenvolvimento da matemática e da cosmologia. Destacava-se por ser uma doutrina espiritualista: alma, imortalidade, reencarnação. Iniciou-se com o filósofo Plotino, apesar de ele afirmar que recebeu os ensinamentos de Amônio Sacas, um estivador iletrado em Alexandria. O neoplatonismo é uma forma de monismo idealista. Plotino ensinou a existência de um Uno indescritível do qual emanou uma sequência de seres menores Estoicismo Doutrina filosófica fundada por Zenão de Cítio, que afirmava que todo o universo é corpóreo e governado por um Logos divino (noção que os estóicos tomam de Heráclito e desenvolvem). A alma está identificada com este princípio divino, como parte de um todo ao qual pertence. Este lógos (ou razão universal) ordena todas as coisas: tudo surge a partir dele e de acordo com ele, graças a ele o mundo é um cosmos (termo que em grego significa "harmonia"). Propunha viver de acordo com a lei racional da natureza e aconselhava a indiferença (apathea) em relação a tudo que é externo ao ser. O homem sábio obedece à lei natural reconhecendo-se como uma peça na grande ordem e propósito do universo, devendo assim manter a serenidade perante as tragédias e coisas boas. Epicurismo Sistema filosófico ensinado por Epicuro de Samos, filósofo ateniense do século I a.C., e seguido depois por outros filósofos, chamados epicuristas. Propunha uma vida de contínuo prazer como chave para a felicidade. Para Epicuro, a presença do prazer era sinônimo de ausência de dor, ou de qualquer tipo de aflição: a fome, a abstenção sexual, o aborrecimento, etc. Foi uma escola de pensamento muito proeminente por um período de sete séculos depois da morte do fundador. Posteriormente, quase relegou-se ao esquecimento devido ao início da Idade Média, período em que se perderam a maioria dos escritos deste filósofo grego. A ideia que Epicuro tinha era que para ser feliz o homem necessitava de três coisas: Liberdade, Amizade e Tempo para meditar. Na Grécia antiga existia uma cidade na qual, em um muro na frente de um mercado, tinha escrito toda a filosofia da felicidade de Epicuro, procurando conscientizar as pessoas que comprar não as tornaria mais felizes como elas acreditavam. Resumindo, nessa aula aprendemos sobre: A passagem do pensamento mítico-religioso para o pensamento filosófico científico; As características do novo pensamento filosófico; Tales de Mileto; Heráclito de Éfeso; Pitágoras e seus seguidores; A filosofia de Platão a partir de seu mestre Sócrates; Platão – a filosofia é uma forma de saber que tem caráter político e ético; Aristóteles, como discípulo de Platão e que rompe com o dualismo platônico, valorizando o saber empírico; Valorização das questões metodológicas. Número do slide 1 Número do slide 2 Número do slide 3 Número do slide 4 Número do slide 5 Número do slide 6 Número do slide 7 Número do slide 8 Número do slide 9 Número do slide 10 Número do slide 11 Número do slide 12 Número do slide 13 Número do slide 14 Número do slide 15 Número do slide 16 Número do slide 17 Número do slide 18 Número do slide 19