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Sistema cardiovascular • O músculo cardíaco contrai de maneira rítmica levando a um fluxo sanguíneo em direção a vasos de grande calibre, com a finalidade de suprir as necessidades dos órgãos e tecidos por meio de oxigênio e nutrientes. • Essas contrações são disparadas por um impulso elétrico gerado por células marcapasso. Essas são células que apresentam uma propriedade denominada automatismo, logo, possuem a capacidade de dar início a um PA sem a presença de um estímulo externo. São elas: • Nodo sino atrial (NSA) • Nodo atrioventricular (NAV) • Feixes de His • Fibras de Purkinje • O estímulo elétrico é iniciado nodo sinoatrial e parte em direção oo átrio direito e, pelos feixes de Bachmann, ao átrio esquerdo. Esse sinal converge para o nodo atrioventricular, devido a presença do esqueleto fibroso, que não apresenta condutividade. • O sinal segue, então, para no feixe de His, que se bifurca em lado esquerdo e direito a partir do septo interventricular. Posteriormente, segue para as células de Purkinje, que distribuem o sinal para as células ventriculares. conceitos básicos • Potencial de Ação (PA) corresponde a mudança de voltagem estereotipada em função do tempo. • Despolarizar significa tornar o potencial mais positivo. É caracterizado por uma corrente de influxo, ou seja, entrada de cargas positivas (Na+ e Ca2+) e saída de cargas negativas (Cl-). • Hiperpolarizar significa tornar o potencial mais negativo. É caracterizado por uma corrente de efluxo, ou seja, saída de cargas positivas (K+) e entrada de cargas negativas (Cl-). fase 0 do potencial cardíaco • A fase 0 é determinada pelo influxo de Na+ no miócito., através de canais de Na+ dependentes de voltagem. • A partir de uma despolarização súbita de -90 Vm para o limiar de -65 Vm, a membrana da célula sofre alterações. 0 1 2 3 4 • Essas alterações são sentidas pelos canais de Na+ dependentes de voltagem, que são α-hélices transmembranas com 6 domínios. Dentre eles, o segmento S4 apresenta carga positiva, uma vez que é formado por aminoácidos de arginina e, por isso, atua como um sensor de voltagem percebendo alterações no potencial de membrana da célula. • Os canais de Na+ apresentam 3 conformações: • Repouso: quando o segmento S4 fechado e H aberto. • Ativo: quando o segmento S4 é movimentando, liberando o canal e permitindo a entrada de Na+. • Inativo: quando o segmento S4 se mantém aberto, no entanto segmento H está fechado. • Mediante a despolarização, os canais de Na+ se abrem rapidamente, levando a entrada de Na+. No entanto, logo se inativam e a concentração de Na+ no interior do miócito diminui. Os canais de Na+ se mantém nesse estado inativado até o momento de repolarização, quando assumem o estado de repouso. E se mantém assim até que haja outra despolarização. • Tendo em vista a inativação do canal, ele não pode ser reaberto e também não há possibilidade de haver outro PA. A esse momento é dado o nome de período refratário. • O período refratário ocorre impedindo uma contração contínua, o que levaria a um estado de tetania do músculo cardíaco, que retarda o relaxamento ventricular e impede seu enchimento, interferindo no bombeamento cardíaco. • O período refratário pode ser absoluto ou relativo. No período refratário absoluto (PRA) o estímulo não é capaz de promover um segundo potencial de ação. Esse período tem início na fase 0 e se mantém até metade da fase 3. Após a repolarização da membrana, os canais de Na+ retomam ao estado fechado e, assim, a célula pode sofrer um novo estímulo. • Já no período refratário relativo (PRR) a partir de um estímulo de grande intensidade, é possível gerar um segundo PA. O PRR ocorre quando há uma repolarização parcial da membrana, ou seja, quando alguns canais de Na+ já chegaram ao estado de repouso, o que ocorre do final do PRA até o final da fase 3. fase 1 do potencial cardíaco • A fase 1 é um momento de repolarização parcial da célula, que dura um curto período de tempo. Isso ocorre devido à uma corrente transiente de efluxo, causada pela ativação de It0 e a consequente saída de K+ da célula. • It0 é ativado por despolarização e sua inativação é dependente de voltagem e do tempo. • A partir da ativação dos canais de K+, há um rápido efluxo deste íon do interior da célula, tendo em vista que o meio interior está carregado positivamente e que a concentração extracelular de K+ é menor que no interior da célula. fase 2 do potencial cardíaco • A fase 2 é marcada pela formação de um platô decorrente do balanço entre as correntes despolarizantes e repolarizantes. • Durante a fase 2, o Ca2+ entra nas células do miocárdio através de canais de cálcio que sofrem ativação e inativação de maneira mais lenta que os canais de Na+ de resposta rápida. • No entanto, esse influxo de Ca2+ é contrabalanceado pelo efluxo de K+. • O Ca2+ entra na célula por canais do tipo ICaT e ICaL (maior contribuição na fase de platô), que são ativados quando a Vm se torna progressivamente menos negativa, ou seja, durante a despolarização. A concentração intracelular de Ca2+ é muito menor que sua concentração extracelular. Assim, um aumento da condutância e corrente de Ca2+ durante a despolarização, decorrente da abertura dos canais, promove o influxo de Ca2+ durante todo o platô. • Os canais do tipo L são mais lentamente inativados, permitindo uma corrente de Ca2+ de longa duração, além estarem majoritariamente no coração e sendo ativados quando a Vm atinge cerca de -20 Vm. • Além disso, durante a fase 2, os canais de potássio do tipo Ik1 estão fechados, auxiliando na manutenção da despolarização. • No final da fase 2, os canais de K+ de retificação retardada Ikr e Iks são ativados, levando ao efluxo de K+, apresentando papel significativo na repolarização durante a fase 3. • Os canais do tipo Ik1, apresentam corrente de K+ elevada quando a Vm está em valores negativos, como na fase 4. No entanto, como a Vm no platô é positiva ou próxima de 0, a saída de K+ não ocorre de forma abrupta, mas sim lenta, tendo em vista sua condutância e corrente reduzida. • Resumidamente, os canais de Ca2+ se abrem na fase 0 do potencial de ação cardíaco e têm sua atividade máxima na fase 2. No entanto, mediante a despolarização longa, os canais de Ca2+ se inativam. Tendo em vista que os canais Ik estão ativos nesse momento, o efluxo de K+ se mantém. Assim, o platô é desfeito e a célula é repolarizada. fase 3 do potencial cardíaco • A fase 3 consiste na fase de repolarização que ocorre quando a saída de K+ intracelular supera a entrada de Ca2+ na célula. Essa repolarização ocorre por meio dos canais retificadores retardados Ik, que foram lentamente ativados pela despolarização ocorrida na fase 0. Ou seja, apresentam cinética mais lenta. • Os canais Ik compreendem o canal Iks (canal de ativação mais lenta), que aumenta seus níveis gradualmente durante a fase 2 e permanece ativada durante toda a fase 3 de repolarização, como resultado de sua desativação lenta e Ikr (canal de ativação mais rápida), que apresenta condutância baixa durante o platô e maior durante a fase 3. • Ademais, ainda no final da fase 3, é iniciada a abertura dos canais do tipo Ik1, auxiliando na repolarização. Isso ocorre quando os valores de Vm estão significativamente negativos, tendo em vista que quanto mais negativa a Vm, maior a condutância dos canais que conduzem a corrente Ik1. fase 4 do potencial cardíaco • Os canais do tipo Ik1 são ativados por hiperpolarização e são dependentes também da concentração extracelular de potássio, ou seja, em estado de hipocalemia estão fechados. Na fase 4, esses canais dependentes de voltagem mantém o potencial de repouso e ficam abertos nesse momento. PA cardíaco do tipo lento • O potencial de ação lento é característicodas células NSA e NAV. Nestes casos, a fase 0 é demarcada pelo influxo de Ca2+ decorrente da abertura dos canais do tipo ICaL – despolarização lenta. Assim que o pico é atingido, o potencial de ação entra na fase de repolarização, a fase 3, demarcada pelo efluxo de K+. • A fase 4 do potencial de ação lento, também chamado de despolarização diastólica lenta é marcada pelas correntes do tipo If, ativada por hiperpolarização (limiar a partir de -40 a -50 Vm) e ICaL ativada por despolarização. • A fase 4 das células NSA e NAV não apresentam canais Ik1, portanto, o potencial de repouso é mais positivo que nas células ventriculares. • As correntes do tipo If, também chamadas de corrente marcapasso têm a capacidade de se autodespolarizarem. • O If é um canal seletivo a íons monovalentes, que permite o influxo de Na+ e efluxo de K+. Embora esse canal catiônico seja mais permeável ao K+, a corrente resultante é a de entrada de Na+, tendo em vista que o Na+ encontra-se mais distante do seu potencial de equilíbrio, o que leva a despolarização da membrana durante a fase 4. • Quando a despolarização chega ao potencial de -50 Vm, os canais ICaL são ativados, levando ao influxo de Ca2+, levando ao fim da despolarização diastólica lenta. células marcapasso • As células NSA são consideradas como marcapasso primordial. Elas apresentam fase 4 mais inclinada e frequência cardíaca entra 60 e 80 bpm. • As células NAV apresentam um potencial de padrão semelhante ao das células NSA, mas com uma taxa de despolarização mais lenda • As fibras de His-Purkinje apresentam frequência de 20 bpm. controle autonômico: ativação simpática e parassimpática • Como já dito, os impulsos elétricos desencadeados pelo NSA não dependem de ativação neural. Todavia, a atividade do NSA é modulada pelo sistema nervoso autônomo, através das fibras nervosas simpáticas que inervam átrios e ventrículos. • Por meio das descargas de norepinefrina e da liberação de epinefrina pela medula adrenal, os receptores β1-adrenérgicos do coração são estimulados. Através disso, as proteínas G excitatórias ativam a adenilato ciclase, que produz AMPc. O aumento dos níveis de AMPc leva a ativação de PKA, que fosforila canais iônicos, como If e ICaL, aumentando suas correntes, acelerando a velocidade de despolarização diastólica do potencial marcapasso e também a velocidade de despolarização da fase 0, o que resulta em um aumento da FC. A esse aumento da frequência cardíaca pela estimulação β-adrenérgica, dá-se o nome de efeito cronotrópico positivo. • Além disso, a estimulação β-adrenérgica também aumenta a corrente IKs, acelerando a repolarização (fase 3) e diminuindo o período refratário do potencial de ação sinusal. • A estimulação β-adrenérgica também leva ao impulsionamento na corrente de ICaL, aumentando a velocidade de despolarização da fase 0 do potencial de ação das células do NAV e a velocidade de condução do impulso elétrico dos átrios para os ventrículos. Esse fenômeno recebe o nome de efeito dromotrópico positivo. • Outro efeito resultante da estimulação simpática de receptores β1-adrenérgicos é o inotrópico positivo, que ocorre quando há um aumento na contratilidade dos miocárdios atrial e ventricular. Mediante ativação da PKA ocorre (1) fosforilação de canais ICaL, aumentando o influxo de Ca2+ durante a fase 2 do potencial de ação das células miocárdicas, o que sensibiliza os receptores de rianodina (RyR2) do retículo sarcoplasmático e leva ao aumento na liberação de Ca2+ presente no retículo; (2) a fosforilação da RyR2 promove uma elevação dos níveis de Ca2+ liberados pelo retículo sarcoplasmático. O aumento do Ca2+ citoplasmático propicia maior interação entre as proteínas contráteis, aumentando a força de contração. • (3) fosforilação da fosfolambam, uma proteína que modula atividade da bomba de Ca2+ do RS (SERCA2). Normalmente, a fosfolambam inibe a atividade de SERCA2 reduzindo o bombeamento de Ca2+ para o retículo. No entanto, quando sofre fosforilação a partir da PKA, a fosfolambam diminui sua interação com a SERCA2 e deixa de inibi-la, levando ao aumento da velocidade de captação e maior armazenamento de Ca2+ pelo retículo. Além disso, a (4) fosforilação da troponina I, reduz a afinidade da troponina C pelo Ca2+. Juntos, esses dois eventos levam ao aumento na velocidade de relaxamento dos cardiomiócitos, o que corresponde ao efeito lusitrópico positivo. • As fibras nervosas parassimpáticas dos nervos vagos inervam o NSA, NAV e o miocárdio atrial. A estimulação vagal libera acetilcolina, que ativa receptores muscarínicos (M2), presentes na membrana dos cardiomiócitos. Esses receptores estão acoplados a proteína G inibitória (Gi), que inibe a síntese de AMPc e reduz a atividade das proteínas reguladas pela PKA. No NSA, isso causa a diminuição de If, ICaL, IKs, reduzindo a velocidade da despolarização diastólica do potencial marcapasso, a velocidade de despolarização da fase 0 e aumenta a duração do potencial de ação, além de ativar canais para K+ sensíveis à acetilcolina (IKAch), gerando uma corrente de efluxo de K+ que hiperpolariza a membrana, aumentando o potencial de repouso e diminuindo a inclinação do potencial diastólico lento (fase 4), culminando com o aumento do limiar de ativação do potencial de ação sinusal. Assim, a FC é reduzida pela ação da acetilcolina, o que consiste no efeito cronotrópico negativo. • A estimulação vagal também reduz a velocidade de condução do NAV, mediante diminuição de ICaL e ativação de IKAch (efeito dromotrópico negativo). Ademais, diminui também a contratilidade do miocárdio atrial, mediante diminuição do influxo de Ca2+ pela inibição do ICaL e ativação do IKAch (efeito inotrópico negativo). A diminuição na velocidade de relaxamento (efeito lusitrópico negativo) dá-se pela desfosforilação da fosfolambam e da troponina I.