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INTRODUÇÃO A fluidoterapia é considerada um tratamento de suporte, tendo como principais objetivos expandir a volemia, corrigir desequilíbrios hídricos e eletrolíticos, suplementar calorias e nutrientes, auxiliar no tratamento da doença primária. Entretanto é importante que a doença primária seja diagnosticada e tratada adequadamente. ÁGUA CORPORAL A água é a substância mais abundante nos seres vivos, todas as reações químicas do organismo são realizadas em meio aquoso. A água corporal total representa de 60 a 70% do peso corporal, porém considera-se uma porcentagem menor em animais idosos e obesos, e uma porcentagem maior em animais jovens. 70% do peso de um homem. 55 a 80% do peso do cão e do gato. 70% do peso de um bovino magro e 40% do peso de um bovino gordo. Animais recém-nascidos têm 92% do seu peso em água. LÍQUIDO INTRACELULAR corresponde a 50% do peso corporal. LÍQUIDO EXTRACELULAR corresponde a 20% do peso corporal, distribuídos pelos espaços intersticiais e plasmáticos. EQUILÍBRIO HÍDRICO O equilíbrio hídrico é constante, a água entra e sai o tempo todo do corpo, mantendo o equilíbrio/homeostase. Quase 100% da água vêm por ingestão e parte de metabolismo celular que gera um pouco de água. A perda vai ser ocasionada pela urina, fezes, leite e alguns animais que sofrem sudorese intensa. Regulação do volume de água O hipotálamo faz a regulação do centro da sede induzindo o animal a beber mais ou menos água. A partir do momento que tiver um desequilíbrio na água vou ter um paciente desidratado, que falta água/líquido na sua circulação. DESIDRATAÇÃO Alterações do equilíbrio hidroeletrolítico corporal em que a perda de água é maior que a sua absorção. Então o indivíduo mesmo bebendo água pode ficar desidratado. EXEMPLO: Idosos, têm um consumo maior para manter suas funções vitais e tem uma perda acentuada como frequências de defecação maior, episódios maiores de poliúria, então mesmo bebendo água estão desidratados. São DUAS as causas principais de desidratação: 1. FALHA NA INGESTÃO DE ÁGUA Privação (não suprimento, incapacidade de chegar à fonte de água); O tutor pode sair de casa, encher o pote de água do cachorro e o animal pode derrubar e passar o dia todo sem água. Ou animal com alguma paralisia ou distúrbio ortopédico que o impede de chegar à água. Ausência de sede (endotoxemia, pós-anestesia). Animais com alguma condição que leve a endotoxemia como infecção, inflamação, distúrbios metabólicos. No pós-anestésico ocorre um bloqueio hipotalâmico temporário que faz com que o animal tenha pouca sede. Por isso o animal recebe fluidoterapia durante a anestesia para ir bem hidratado para casa, sabendo que ele pode não sentir sede depois. Impossibilidade de beber água (obstrução esofágica, fratura mandibular, neoplasia de faringe/laringe, lesões em sistema nervoso central). Portanto quando chega um paciente desidratado que não sabemos o que está acontecendo com ele temos que pensar em todas essas hipóteses. 2. PERDA EXCESSIVA DE LÍQUIDO O animal está perdendo muito mais do que a sua capacidade de repor. Principais causas: VÔMITO E DIARREIA. Doenças renais, cardíacas e hepáticas; Grandes lesões cutâneas (queimadura é uma causa importante de desidratação); Sudorese; Sialorréia; Pancreatite. Obstruções agudas do trato gastrointestinal (ocorre um sequestro de líquido muito grande para aquela região para tentar resolver o processo). Peritonite difusa OBSERVAÇÃO: Na nossa rotina como clínico vemos mais o segundo caso, perda excessiva de líquido por algum motivo. EXEMPLOS ACIDOSE RUMINAL mucosa gástrica do animal fica toda tomada por úlceras gástricas difusas, causando importante diarreia. ANIMAL TIMPÂNICO tem um problema gastrointestinal que pode culminar em endotoxemia ou diarreia levando a desidratação. Em animais de companhia o vômito e diarreia são as causas mais comuns de desidratação. CLASSIFICAÇÃO DA DESIDRATAÇÃO Classificada de acordo com a variação de sódio no líquido extracelular, ou seja, o plasma. Posso simplesmente coletar o sangue e dosar o sódio do paciente. 1. HIPERTÔNICA A mais simples. Animal que teve uma privação de água simples. EXEMPLO: o animal que passou o dia todo sem beber água. Não há perda de sódio (Na+) Discretas manifestações clínicas Desidratação muito discreta menor que 5%. Se isso persistir, e o animal ficar mais dias sem beber água, isso vai evoluir! 2. ISOTÔNICA Caracterizada pela perda de água e uma perda discreta de sódio (Na+). Pode acontecer por: SUDORESE EXCESSIVA animal que foi estimulado um exercício um pouco mais intenso. NEFROSE (nefropatia caracterizada por alterações, lesão primitiva nos túbulos renais). Não é causada por bactérias ou alguma coisa tóxica, muitas vezes é uma lesão degenerativa do túbulo renal e o animal acaba perdendo um pouco dessas substâncias. ENTERITE SIMPLES diarréia discreta, animal que comeu algo que não deveria ou por troca de ração. Há sinais de desidratação leves e se formos avaliar o sódio vamos ver que a hiponatremia, começa a diminuir sódio na circulação. 3. HIPOTÔNICA Observada nas perdas graves de fluídos e de sódio (Na+). Pode acontecer por: DIARRÉIA DE BEZERROS (bezerros com E. coli), muitas vezes fatal e de surto na propriedade. SALMONELOSE EM EQUINOS; GASTROENTERITES VIRÓTICAS; Há sinais de desidratação severa e hiponatremia acentuada, o sódio está muito mais baixo do que deveria estar. Qual a importância de classificar a desidratação do paciente? Para saber como tratar o animal, ajuda a definir qual fluído usar e darmos o prognóstico do paciente. SINAIS CLÍNICOS A sintomatologia varia de acordo com o modo que ocorreu a perda de líquidos e eletrólitos É importante estabelecer se o quadro é agudo ou crônico. Durante a anamnese saber o que leva o indivíduo a desidratação vai nos ajudar, a saber, se é agudo ou crônico. Os sintomas mais importantes são o RESSECAMENTO (focinho) e ENRUGAMENTO DA PELE, que tem uma aparência retraída, principalmente em região facial, e há uma ENOFTALMIA (olho afundado). Ocorre uma notável DIMINUIÇÃO DA ELASTICIDADE DA PELE sobre a escápula, dorso e pálpebras superiores. Quando o animal está desidratado acaba sequestrando líquido da Periferia como pele e mucosas para direcionar para órgãos mais importantes e sem água a pele perde elasticidade. Portanto, é só puxar a pele nessas regiões e observar o tempo que demora a voltar ao normal. Em condições normais o tempo de persistência do pregueamento é de até 2 segundos. O que aumenta de acordo com o grau de desidratação e em casos extremos chega a 45 segundos. OBSERVAÇÃO: Não puxar a pele do pescoço, pois normalmente os animais tem muita pele neste local, não significa que está desidratado se a pele não voltar (principalmente em gatos). No cavalo fazemos esse movimento no pescoço. TPC (TEMPO DE PREENCHIMENTO CAPILAR) Consiste em colocar o dedo na mucosa do animal (região da gengiva, em cima do canino ou dos incisivos), o sangue tem que voltar a fluir rapidamente, não pode ficar branca. As mucosas podem estar ressecadas e pegajosas. O TPC que normalmente está entre 1 a 3 segundos, prolonga-se à medida que se intensifica a desidratação. OBSERVAÇÃO - A perda de massa muscular e consequentemente a perda de peso são proporcionais à intensidade de desidratação. ↪ O músculo vai ser quebrado para extrair água para o indivíduo. SÓDIO E POTÁSSIO São fundamentais na homeostase, manutenção da saúde do animal. Portanto é importante sempre avaliar esses dois eletrólitos, que vão nos dar informações importantespara corrigir o que está acontecendo com o paciente. HIPONATREMIA fraqueza muscular, depressão mental, hipotermia e hipotensão. HIPOPOTASSEMIA (HIPOCALEMIA) fraqueza, decúbito, tremores musculares, arritmia cardíaca e coma. HIPERNATREMIA sede intensa, depressão, fasciculações musculares, convulsão e coma. HIPERPOTASSEMIA (HIPERCALEMIA) bradicardia, arritmia, parada cardíaca. EXEMPLO HIPOCALEMIA/HIPOPOTASSEMIA EM GATOS O gato faz VENTROFLEXÃO CERVICAL, o pescoço fica ventralmente flexionado (fica olhando para baixo), significa que existe uma fragilidade muscular por conta do ligamento nucal. Acontece quando o gato tem um POTÁSSIO BAIXO. CAUSAS MAIS COMUM DE DESIDRATAÇÃO EM ANIMAIS ACIDOSE OU ALCALOSE METABÓLICA! 1. ACIDOSE METABÓLICA Tem como causa excessiva perda de base (bicarbonato), ou acúmulo de ácidos, ou a combinação dos processos. OBSERVAÇÃO: Animal com diarreia intensa é provável que ele tenha acidose por isso é importante dar fluidos TAMPONANTES para ele para alcalinizar o sangue. ACIDOSE EM PEQUENOS ANIMAIS Diarreia intensa; Insuficiência renal; Cetoacidose diabética; Acidose tubular renal; Acidose lática (parada cardíaca, choque, hipoxemia); Administração de drogas ácidas ou medicamentos (ácidos, cloreto de amônio); Substâncias tóxicas (etilenoglicol, metanol)... ACIDOSE EM GRANDES ANIMAIS Diarreias agudas de neonatos; Enterite aguda de bovinos e equinos adultos; Ingestão excessiva de carboidratos (acidose ruminal); Cetoacidose; Doença renal; Asfixia neonatal dos bovinos; Obstrução intestinal (cólicas). OBSERVAÇÃO: O Ph sanguíneo é fundamental para que tudo fique bem. Por isso sempre pensar no ph do sangue. Para manter o animal numa normalidade. Podemos usar o ph da urina também para avaliar. 2. ALCALOSE METABÓLICA Tem como causa excessiva absorção de base ou excessiva perda de ácidos. ALCALOSE EM PEQUENOS ANIMAIS Vômito persistente; Hiperadrenocorticismo; Uso de diuréticos que diminuem os cloretos; Administração excessiva de substâncias alcalinas (bicarbonato ou lactato). ALCALOSE EM GRANDES ANIMAIS Dilatação e deslocamento com torção de abomaso; Indigestões vagais; Síndrome de refluxo. Em equinos com obstrução proximal do intestino observa-se inicialmente um quadro de alcalose metabólica OBSERVAÇÃO: se o animal apresenta vômito pensar em alcalose. COMO MENSURAR O PERCENTUAL DE DESIDRATAÇÃO A desidratação vai de 5 a 15. 5 MUITO SUAVE. Histórico pode ser animal que teve menor gestão de água (desidratação hipertônica). Não é detectável no exame do animal, praticamente assintomático. 5 - 6 DESIDRATAÇÃO SUAVE, com discreta perda de turgor cutâneo ou elasticidade cutânea animal apresenta Episódio esporádico de vômito e diarreia. 6 - 8 MODERADA. O animal está inapetente, apresenta mais vômito e mais diarreia. 10 - 12 SEVERA. Ocorre ressecamento de mucosa, globo ocular retrai, puxa a pele e ela não volta. 12 - 15 CHOQUE. O animal já chega a estado de choque e pode ter uma morte iminente. Ex: animal pode chegar com hemorragias ou queimaduras. AVALIAÇÃO LABORATORIAL HEMATÓCRITO (VG%) VG (volume globular) identifica a hemoconcentração através do aumento do seu valor. ↪ VG muito aumentado pode indicar hemoconcentração, muito mais células do que líquido e isso pode indicar desidratação. OBSERVAÇÃO: Tomar cuidado com animais anêmicos, pois o VG já vai estar baixo e a hemoconcentração às vezes nem acontece. PROTEÍNAS TOTAIS apresenta aumento em animais desidratados. OBSERVAÇÃO: Tomar cuidado com doenças que cursam com hipoproteinemia e o animal pode estar desidratado e com a proteína baixa por causa de, por exemplo, uma doença no fígado ou intestinal. DENSIDADE URINÁRIA apresenta aumento em animais desidratados. A não ser que o animal seja doente renal, pois neste caso a densidade pode até diminuir. ATENÇÃO: O monitoramento da densidade urinária durante a fluidoterapia é interessante, pois a medida que ela vai caindo indica que o animal está se hidratando. GLICOSÚRIA pode indicar acidose diabética. CETONÚRIA frequente em desidratação, privação de carboidratos, jejum prolongado, toxemia gravídica de ovinos e caprinos e diabetes. PH URINÁRIO pode auxiliar com segurança a presença de alcalose ou acidose sistêmica desde que o animal não tenha doença renal/urinária. Exemplo: Animal com urolitíase de urina alcalina. UREIA E CREATININA caracterizando azotemia e diminuição da taxa de filtração glomerular. Permitem ainda a avaliação da eficácia da fluidoterapia na melhoria da perfusão renal. Ureia e creatinina podem estar altas em animais desidratados e muitos clínicos confundem com insuficiência renal. OBSERVAÇÃO: animal azotêmico nem sempre tem insuficiência renal. Pode ser só desidratação. EXEMPLO Animal chega à clínica com ureia e creatinina alta, hematócrito alto, proteínas totais altas. É doença renal? O que fazer? ↪ Os exames indicam desidratação. Deixar o animal internado 24 horas na fluidoterapia, quando o TPC e turgor cutâneo estiverem normais, avaliar a ureia e creatinina novamente. Se não normalizarem ele provavelmente é doente renal mesmo! Portanto se chegar um animal desidratado não fazer o exame de ureia e creatinina, pois elas vão dar elevadas. Fazer a fluidoterapia no paciente primeiro e depois fazer os exames. Se tiver a necessidade de saber rápido se o animal tem doença renal ou não, faça a urinálise. DOSAGEM SÉRICA DA ALBUMINA é útil em caso de hipoproteinemia. ↪ para ver se é a Albumina que está baixa ou se são outras frações da proteína. TESTES DE FUNÇÃO HEPÁTICA (ALT, AST, FA, GGT). Para ver se o fígado está envolvido no processo ou não. GLICEMIA útil para descartar paciente diabético e permitir o uso de soluções glicosadas para pacientes hipoglicemicos. OBSERVAÇÃO: Não fazemos glicose no animal sem saber se ele está hiperglicemica ou não. Se possível fazer a determinação sérica de sódio, potássio e cloretos. HEMOGASOMETRIA é essencial na avaliação do equilíbrio ácido-básico e no monitoramento da terapia estabelecida. Utiliza-se amostra de sangue arterial que vai nos mostrar: Analisa o PH sanguíneo; pCO2 ( pressão parcial de dióxido de carbono); HCO-3 (Bicarbonato); TCO2 (dióxido de carbono total); BE (bases totais, excesso de base). A hemogasometria mostra exatamente o PH do sangue, o quanto de bicarbonato, cálcio, cloreto, potássio, magnésio estão no sangue… Dá para saber exatamente o quanto vamos precisar repor. Para emergência é indispensável. OBSERVAÇÃO: É um exame excelente, porém muito caro! (tutor não paga). Não é um exame que dá para mandar para laboratório, pois é feito com sangue arterial, portanto tem que ser avaliado no máximo em meia hora, pois senão tudo começa a se degradar. PRINCÍPIOS DA FLUIDOTERAPIA A finalidade da fluidoterapia consiste em corrigir a desidratação e o desequilíbrio eletrolítico; Pode ser indicada ainda para corrigir quadro de acidose ou alcalose; Tratar um animal em choque (hipovolêmico); Terapia nutricional parenteral; Estímulo de funções orgânicas (exemplos doenças renais). ↪ O fluido força o rim a trabalhar. PARA FAZER A FLUIDOTERAPIA É NECESSÁRIO: Examinar cuidadosamente paciente; Tentar chegar a uma causa determinada para a desidratação; ↪ Se encontrarmos a causa e tirá-la podemos ter um animal que não vai mais se desidratar. Investigar o status nutricional do paciente; Solicitar exames complementares e interpretá-los muito bem; Descartar doenças interferentes; Escolher a solução a utilizar (calcular, administrar e acompanhar clinicamente e porexames laboratoriais). AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DA FLUIDOTERAPIA EXAME CLÍNICO Observar melhora das mucosas e pregueamento cutâneo; Diminui o TPC; Regularização de arritmias e bradicardias; Retorno da função renal dentro de 30 a 60 minutos. ↪ em animais que estamos fazendo fluidoterapia, precisa estar com uma sonda para acompanharmos a densidade urinária. Testes laboratoriais para acompanharmos PPT, VG, hemogasometria. QUAIS SOLUÇÕES UTILIZAR? 1. RINGER COM LACTATO DE SÓDIO É uma solução isotônica, com composição semelhante ao líquido extracelular (LEC), com ph em torno de 6,5 utilizado para reposição. ALCALINIZANTE (lactato-bicarbonato). Lactato vai ser convertido no fígado em bicarbonato. Indicado para acidose metabólica. Se o animal tem diarreia, administrar ringer com lactato, pois a diarreia cursa com acidose metabólica. CONTRAINDICAÇÕES: HEPATOPATIAS GRAVES, TERMINAIS pois o fígado não vai estar apto para converter o lactato em bicarbonato. HIPERCALCEMIA pois contém cálcio na sua composição, contém também potássio, cloreto de sódio e lactato. Não deve ser administrado com HEMODERIVADOS (plaquetas, hemácias) Pois pode causar uma precipitação no equipo de administração venosa. Portanto, não fazer lactato no mesmo equipo que está fazendo sangue. 2. RINGER SIMPLES É uma solução isotônica (lembra o plasma), porém não contém lactato. Indicado para reposição. Contém mais cloreto e mais cálcio que outras soluções tornando-a levemente ACIDIFICANTE (pH 5,5) Indicado para Alcaloses metabólicas OBSERVAÇÃO: Para animais hepatopatas podemos administrar bicarbonato no ringer simples (vai ter uma solução TAMPONANTE novamente). 3. SOLUÇÃO NACL A 0 9% (FISIOLÓGICA) É uma solução cristaloide, isotônica, utilizada para reposição. Não é uma solução balanceada (não tem íons, cálcio, potássio...) só tem água e sal. É uma solução ACIDIFICADORA (tende mais a neutralidade), portanto é indicada para pacientes com alcalose. Sendo indicada para pacientes com alcalose, hipoadrenocorticismo (por aumentar reposição de sódio), insuficiência renal oligúrica ou anúrica (tomar cuidado, pois não sabemos a causa dessa anuria) e hipercalcemia (vai aumentar a excreção de cálcio). Indicado por via parenteral, tópica, oral... OBSERVAÇÃO: Na dúvida pode usar o fisiológico, mas determinar o problema do animal para fazer a correção. 4. SOLUÇÃO DE GLICOSE A 5% EM NACL 9% Também é chamado de solução glicofisiológica (glicose com soro fisiológico). Utilizada para reposição (repor a quantidade de água que o animal perdeu) e manutenção para manter o animal hidratado. A glicose vai ser interessante para oferecer uma fonte imediata de energia para aquele animal. Só vou fazer essa solução quando eu monitorei a Glicemia do paciente e estiver normal. PH 4, 0 ACIDIFICADOR 5. SOLUÇÃO SALINA HIPERTÔNICA (7,5 - 10 OU 20% DE SÓDIO) É uma solução utilizada para reanimação cardiovascular (resgata a PA, pois o excesso de sódio prende mais líquido no vaso) e reposição. Vai colocar volume de sangue no animal de forma rápida. EXEMPLO: Animal que teve acidente e rompeu o baço, está perdendo muito sangue e a pressão está baixa, essa solução vai repor um volume rápido e vai ficar mais tempo dentro do vaso. É preciso monitorar o paciente em relação à frequência cardíaca, PA… se não podemos causar uma hipertensão grave e piorar o quadro hemorrágico. É indicado em caso de hemorragia, queimaduras, hipovolemia e choque. 6. SOLUÇÕES COLOIDAIS/GELATINAS Contém substâncias de alto peso molecular restritas ao compartimento plasmático. Ela se expande dentro dos vasos causando uma melhora da pressão arterial. INDICAÇÃO: Pacientes que possuem proteína plasmática Total (PPT) menor que 3,5 g/dl (normal 6-8); Albumina menor que 1,5 g/dl (normal acima de 2,5); Em caso de choque hipovolêmico. Animais que estão fazendo derrames corporais secundários a hipoproteinemia ou hipovolemia (ascite crônica ou hemorragia grave que precisa ter um volume circulante por mais tempo). Vão aprisionar o líquido no vaso. OBSERVAÇÃO: Mais utilizado em terapias intensivas do que na clínica diariamente. 7. HEMOCOMPONENTES Não utilizamos muito por desconhecimento e por dificuldade de adquiri-lo. Existem poucos bancos de sangue no Brasil. SANGUE TOTAL FRESCO (sangue que acabamos de coletar de um animal e ele se mantém até 24 horas parar de administrarmos em outros animais) - rico em hemácias, leucócitos, plaquetas fatores de coagulação... SANGUE TOTAL REFRIGERADO (pode ficar até 45 dias na geladeira, vai manter a integridade das hemácias, mas plaquetas não ficam boas). Sempre que vamos mandar para o cliente uma bolsa de sangue Total refrigerado é preciso fazer uma punção nessa bolsa, avaliar a morfologia das células volume globular da bolsa que tende a cair um pouquinho. PLASMA FRESCO E PLASMA CONGELADO (rico em fator de coagulação e proteína, por isso é interessante para animais que só precisam de proteínas (hemoparasitose) ou animais com tendência a hemorragias. CONCENTRADO DE HEMÁCIAS E CONCENTRADO DE PLAQUETAS Concentrado de hemácias é interessante para animais com mycoplasma (doença hemolítica), pois perdem só hemácias. PRINCIPAIS INDICAÇÕES CLÍNICAS DA FLUIDOTERAPIA 1. VÔMITO Há importante perda de potássio; Hipocloremia; Hiponatremia; O animal tende a fazer ALCALOSE METABÓLICA. QUAIS AS OPÇÕES PARA TRATAR ESSE PACIENTE? Ringer simples (repõe sódio, cloro e potássio). NaCl 0,9% (repõe sódio e cloro) e é acidificante. ↪Se fizer a solução fisiológica é necessário fazer a reposição de potássio Reposição de potássio (0,5 mEq (miliequivalente) KCL/kg/h). ↪ KCL 10% - 3 ml em 500 ml de NaCl. OBSERVAÇÃO: não repor potássio sem fazer a mensuração do potássio, A não ser que seja aquele gato que chega desse tratado e com ventroflexão, neste pode fazer tranquilamente! O excesso de potássio vai levar a uma despolarização excessiva do miocárdio que vai parar de funcionar! 2. DIARREIA Há importante perda de potássio; O animal pode ter hipo ou hipernatremia; Na maioria dos casos ocorre acidose. QUAIS AS OPÇÕES PARA TRATAR ESSE PACIENTE? Utilizar ringer com lactato (sódio, cloro potássio e substâncias alcalinizantes). Nacl ou ringer simples podem ser utilizados desde que ocorre adição de outros elementos (K, HCO-3 - Bicarbonato). QUANDO FAZER ESSA SUBSTITUIÇÃO? ↪ em animais com hepatopatias graves que não podem receber direto ringer com lactato, pois o fígado não está apto a converter lactato em bicarbonato. 3. NEFROPATIAS Há sério desequilíbrio hidroeletrolítico OBSERVAÇÃO: Sempre se lembrar da sigla ÍRIS (associação de estudiosos em interesse à saúde renal). Ela classifica estadia os cães e gatos com nefropatia, portanto é preciso classificar a ÍRIS, avaliar os exames como um todo, não olhar só ureia e creatinina, para avaliarmos em qual situação o animal está no estágio da doença renal crônica (avaliado de 1 a 4) e tomar uma precaução através disso. INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA (IRA) Acidose metabólica é frequente, portanto preconiza-se o uso de ringer com lactato. Se a acidose for intensa, pode ainda ser administrado o bicarbonato (0,5 a 1 mEq/kg). OBSERVAÇÃO: Adicionar bicarbonato somente em soluções livre de cálcio, ou seja, não acrescentar bicarbonato em ringer simples ou com lactato, pois o bicarbonato pode precipitar no cálcio. Só posso acrescentar bicarbonato no NaCl 0,9% ↪ só que em volume menor. Não vou calcular para poder repor o que o animal perdeu, vou calcular ela para administrar o que o animal perdeu nas próximas 2 ou 3 horas. Exemplo:Calculei para um animal em 24 horas 3 litros de NaCl, vou diluir o bicarbonato em um de 250 de fisiológico e deixar gotejando por 30 - 60 minutos. OBSERVAÇÃO: se precisar adicionar bicarbonato, mas o animal estiver fazendo uso de ringer simples ou com lactato, fazer em outro acesso (outro braço). INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA (IRC) O organismo do indivíduo vai tentar compensar as perdas de alguma forma. Verificar o PH urinário para selecionar a melhor solução. Para esses casos prefere-se a VIA SUBCUTÂNEA quando permitida, pois vai ter uma absorção lenta. Quando eu faço intravenoso eu vou hidratar o animal, mas vai ser eliminado pelos rins mais rápido. COMO FAZER? Preconiza-se o uso de RINGER COM LACTATO em casos de acidose para fazer a reposição intravenosa. Depois NaCl por via subcutânea indicada na manutenção. Os gatos IRC devem receber potássio por via oral, pois perdem muito potássio. OBSERVAÇÃO: Ringer com lactato por via subcutânea pode-se fazer? Existem alguns casos que a pessoa fala que dói e pode causar algumas reações (necrose cutânea), por causa do potássio, cálcio... PORTANTO O IDEAL PARA SC NACL VOLUME A UTILIZAR O cálculo da quantidade de fluido a ser utilizada para o tratamento deve prever a reposição de perdas atuais, ou seja, ser suficiente para reidratar o animal... Deve-se considerar: 1. REPOSIÇÃO DO DÉFICIT INICIAL REPOR AQUILO QUE O ANIMAL PERDEU! Administração de fluidos de reposição. ↪ escolher o fluido de acordo com o problema que o animal está apresentando. Devem ser considerados aspectos clínicos e o grau (%) de desidratação. ↪ Através do TPC e pele. FÓRMULA Litros ➡ para animais grandes Reposição de volume (L) = peso corpóreo (kg) x (%) de desidratação/100 ML ➡ para cães pequenos e gatos. Reposição de volume (ml) = peso corpóreo (kg) x (%) de desidratação x 10 Exercício: Cavalo QM com 12% de desidratação e pesando 620 kg. ↪ Calcular em litros - 620x12/100 = 74,4 litros. Cão com 9% de desidratação e pesando 25 kg. ↪ Calcular em ml ➡ 25x9x10 = 2.250 ml (2 litros e 250 ml). 2. MANUTENÇÃO CONSIDERAR O QUE O ANIMAL AINDA CONTINUA PERDENDO. A fluidoterapia de manutenção se faz necessária quando o paciente não ingere voluntariamente, água ou alimento suficiente para repor as perdas normais. QUANTO USAR? 40-65 ml/kg/24horas para animais ADULTOS. 130 ml/kg/24 horas para animais FILHOTES Qual volume escolher? ↪ De acordo com o grau de desidratação do animal. OBSERVAÇÃO: O filhote tem mais líquido extracorpóreo do que o adulto por isso precisa de um volume maior. Quando vamos fazer apenas a manutenção? ↪ em animais com insuficiência renal crônica que só vai à clínica para manutenção, pois bebe água em casa, mas não é o suficiente para manter hidratado. FÓRMULA Volume (40-65 ml) x peso do animal (kg) Exemplo: Exercício: 40 ml x 15 kg = 600 ml Cão adulto pesando 25 kg. ↪25x40 = 1000 ml Equino adulto pesando 620 kg. ↪620 x 65 = 40.300 litros ATENÇÃO: Refazer o teste de hidratação e fazer mais fluido (perdas contínuas) se o animal ainda estiver desidratado. 3. PERDAS CONTÍNUAS QUANDO O ANIMAL CONTINUA A PERDER ÁGUA DURANTE O PERÍODO DE TRATAMENTO, (EXEMPLO VÔMITO, DIARREIA, POLIÚRIA...) Essa perda deve ser calculada baseando-se no volume usado para corrigir o déficit inicial (primeira conta). Litros ➡ para animais grandes Reposição de volume (L) = peso corpóreo (kg) x (%) de desidratação/100 ML ➡ para cães pequenos e gatos. Reposição de volume (ml) = peso corpóreo (kg) x (%) de desidratação x 10 Exemplos: Cavalo adulto QM com 8% de desidratação e pesando 620 kg. ↪Calcular em litros - 620x8/100 = 49,6 litros Cão adulto com 7% de desidratação e pesando 25 kg. ↪ Calcular em ml ➡ 25x7x10 = 1,750 ml (1 litro e 750 ml). OBSERVAÇÃO: Todos esses cálculos são para 1 dia de hidratação do animal. OBSERVAÇÃO: Não posso fazer o volume final dos 3 cálculos de uma vez (tem que fazer em 24 horas), por isso considerar a taxa de administração. TAXAS DE ADMINISTRAÇÃO Volume que posso colocar por hora no paciente para não exceder principalmente a capacidade renal do animal. ↪ se exceder pode dar edema pulmonar no animal Deve ser paralela a gravidade da desidratação ou do distúrbio eletrolítico ou ácido-básico. Os fluidos devem ser administrados rapidamente no início e em seguida diminuindo as taxas até que a condição seja corrigida. QUE TAXA CONSIDERAR? DESIDRATAÇÃO LEVE A MODERADA 15 - 30 ml/kg/hora. DESIDRATAÇÃO GRAVE 50 ml/kg/hora. FÓRMULA Taxa por grau de desidratação x peso (kg) Exemplo: 25 kg x 50 ml (desidratação grave) = 1.250 litro/hora Exemplo (seguindo os anteriores) Reposição inicial: 25x9x10 = 2.250 ml (2 litros e 250 ml). Manutenção: 25x40 = 1000 ml Perda continua: 25x7x10 = 1,750 ml (1 litro e 750 ml). Somar tudo ➡ 3,252 ➡ dar 1,250 litros/hora. Considerar a viabilidade da função renal. EXEMPLO: a fluidoterapia deve ser acompanhada da presença de conteúdo urinário. Após 4 horas de administração de fluido, sem fluxo urinário, a taxa de administração deve ser reduzida para 2 ml/kg/hora. ↪ Se o animal não elimina o fluido na urina, pode ter uma falência renal, pode estar fazendo oligúria ou anúria. Todos os animais em fluidoterapia, se possível, devem ser submetidos à cateterização da bexiga. OBSERVAÇÃO: para AVALIAR SE A FLUIDOTERAPIA ESTÁ SENDO EFICAZ, mensurar a quantidade urinária do paciente (passar sonda em pequenos animais). Para grandes não é tão simples passar uma sonda uretral, portanto podemos avaliar o volume globular, proteína plasmática Total, turgor cutâneo, TPC, olho... PARA FIXAR Considere um cão de 10 kg, 5 anos com parvovirose, com grande volume de diarreia aquosa/mucosa de 3 - 6 vezes ao dia e episódios de vômito. Desidratação estimada em 10% Taxa de administração de 30 ml/kg/hora. 1° FAZER A REPOSIÇÃO 10 kg x 10 x 10 = 1 Litro para reposição. 2° FAZER A MANUTENÇÃO ↪ animal está perdendo muito líquido, portanto escolher o volume maior. 10 kg x 65 ml/kg/dia = 650ml/dia manutenção. O animal vai continuar perdendo líquido por 2 ou 3 dias, mesmo que esteja tratando pois é parvovirose. 3° PERDAS CONTÍNUAS ↪ mesma dose que foi dada para a reposição = 1 Litro. Somando tudo ➡ 2,650 ml/24 horas. 4° TAXA A SER ADMINISTRADA (POR HORA). ↪ Considerando 30 ml/kg/hora. 10 x 30 = 300 ml O animal pode receber até 300 ml/hora. ↪ mais ou menos 8 horas (2,650 ÷ 300) Preciso fazer 300 ml por hora necessariamente? ↪Se o animal puder ficar 24 horas na clínica podemos fazer o valor total dividido nas 24 horas através da bomba de infusão. Usar bomba de infusão ↪Essa bomba envolve um mecanismo de peristalse contínuo que libera fluído continuamente, em uma taxa constante de acordo com o que marcamos nelas. Quando não temos a bomba de infusão? ↪Bomba de infusão por comodato, que precisa comprar só o equipo (mangueirinha) pela empresa. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO A ESCOLHA DA VIDA DEPENDE DE ALGUNS FATORES COMO: Tipo de doença a ser tratada Estado clínico e das funções orgânicas do paciente Grau de desidratação e desequilíbrio eletrolítico Duração e evolução da doença Tempo e equipamentos disponíveis. 1. VIA ORAL Mais fácil, econômica e fisiológica. É a mais segura! Porém é indicada apenas em DESIDRATAÇÕES LEVES até 5% de desidratação Pode ser utilizada na manutenção e suplementação nutricional. ↪ Exemplo: vaca pariu, manda muito líquido para fora, está produzindo uma quantidade de leite muito grande, no momento do parto está super desidratada. Fazemos a reposição, mas depois ela levanta e começa a beber água, então nãoprecisa mais de manutenção injetável ou reposição contínua, ela se deu bem apenas com a via oral. Contra indicado em desidratação grave vômitos e obstruções. FORMA DE ADMINISTRAR Vai ser administrado espontaneamente com o auxílio de uma seringa se o animal não quiser beber ou passar uma sonda nasogástrica ou com sonda inserida diretamente no esôfago. 2. VIA RETAL (INTRARETAL) Prática e eficiente Deve ser considerada especialmente PARA ANIMAIS JOVENS E OCASIONALMENTE FELINOS. ↪ em grandes animais a área de absorção é muito pequena, por isso não é utilizada. Indicada para aves. 3. VIA INTRAÓSSEA Aplicada na tuberosidade da tíbia ou do úmero. O fluido vai direto à medula óssea e tem efeito extremamente rápido! Utilizado em pequenos animais; Indicação para FILHOTES (em animais adultos temos dificuldade de fazer a técnica). DESIDRATAÇÃO SEVERA Quando houver IMPOSSIBILIDADE DE UTILIZAR OUTRA VIA. 4. VIA INTRAVENOSA É a via de eleição para graus moderados e severos de desidratação. Grandes volumes podem ser administrados desde que respeitemos a taxa de administração Atenção para assepsia (cateteres de permanência) Cuidado com rápida infusão e edema pulmonar. Veias: Jugular, safena, femural... 5. VIA SUBCUTÂNEA: Indicada para animais de pequeno porte Administração de quantidades moderadas (grandes volumes geralmente não são administrados). Tem absorção mais lenta, porém continua. Recomendada na manutenção de fluido em doenças crônicas. ↪ Animais com IRC, faz por via SC e fica 2 ou 3 dias hidratado pois a absorção é bem lenta. Normal aplicar no dorso e descer para a barriga (barriga fica caída). Atenção para o tipo de fluido a ser administrado por esta via. ↪ Exemplo glicose (vai causar necrose subcutânea). Implantação de dispositivos para pacientes com doenças crônicas. ↪ botãozinho colocado através de pequena perfuração e fica um cateter debaixo da pele do animal para não ficar perfurando ele sempre. Troca 1 vez por mês. 6. VIA INTRAPERITONEAL É mais rápido que a via subcutânea. Riscos de peritonite (precisa de rigorosa assepsia). Absorve plasma e concentrado de hemácias. ↪ Se não tem uma veia e precisa fazer transfusão de hemácias ou concentrado, pode ser feito via intraperitoneal. Em grandes animais podem ser administrados grandes volumes.