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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Epidemiologia .............................................................. 4 3. Etiologia ......................................................................... 6 4. Fisiopatologia .............................................................. 9 5. Quadro clínico ............................................................12 6. Diagnóstico ................................................................14 7. Tratamento .................................................................25 Referências Bibliográficas ........................................32 3PNEUMONIAS 1. INTRODUÇÃO A pneumonia ocorre quando uma in- fecção do parênquima pulmonar cau- sa sintomas respiratórios inferiores e quando se detecta um infiltrado pul- monar na radiografia de tórax. Logo, a pneumonia pode ser definida do pon- to de vista histológico como preenchi- mento do espaço alveolar por infiltrado necroinflamatório, assim como, do pon- to de vista clínico como infecção aguda do pulmão decorrente da infecção por algum microrganismo. As pneumonias são comumente classificadas como adquiridas na comunidade, associadas aos cuidados de saúde e nosocomiais. A pneumonia adquirida na comuni- dade (PAC) se refere à doença ad- quirida fora do ambiente hospitalar ou de unidades especiais de atenção à saúde ou, ainda, que se manifesta em até 48 h da admissão na unidade assistencial. As pneumonias associadas aos cui- dados de saúde (PACS) ocorrem em pacientes que se encontram institu- cionalizados, que estiveram hospita- lizados durante mais de 2 dias nos 90 dias precedentes, que têm con- tato frequente com instituições de saúde (p. ex. hemodiálise, tratamen- to de feridas, antibióticos intraveno- sos ou quimioterapia) ou que estão imunossuprimidos. A pneumonia nosocomial surge, pelo menos, 48 horas depois da admissão hospitalar ou desenvolve-se pouco tempo após a alta hospitalar. Essa ca- tegoria inclui tanto a pneumonia ad- quirida no hospital (PAH) que se trata da pneumonia adquirida ≥ 48 horas após a internação hospitalar, quan- to a pneumonia associada a venti- lação mecânica (PAVM) que se trata da pneumonia adquirida ≥ 48 horas após a intubação endotraqueal. SAIBA MAIS! De acordo com o artigo do Uptodate: Overview of community-acquired pneumonia in adults, o termo “pneumonia associada aos cuidados de saúde” foi usado para identificar pa- cientes em risco de infecção por patógenos multirresistentes. No entanto, essa categorização pode ter sido excessivamente sensível, levando a um aumento do uso inadequado de anti- bióticos e, portanto, foi aposentada. Em geral, os pacientes previamente classificados como portadores de pneumonia associada aos cuidados de saúde devem ser tratados de maneira semelhante aos pacientes com PAC. Já o livro-texto Murray & Nadel -Tratado de Medicina Respiratória, em sua 6ª edição, traz que as infecções associadas aos cuidados de saúde possuem uma epidemiologia única mais semelhante àquela observada nas infecções adquiridas no hospital, sendo reconhecida como uma entidade distinta pela American Thoracic Society (ATS) e pela Infectious Diseases So- ciety of America (IDSA). Comparada à PAC, pacientes com PACS manifestam doença mais grave, maior mortalidade e tempo de internação hospitalar mais prolongado, além de maior custo em cuidados da saúde. 4PNEUMONIAS 2. EPIDEMIOLOGIA A PAC constitui uma das principais causas de morte no mundo, com sig- nificativo impacto nas taxas de mor- bidade. No Brasil, como em outros países, houve uma redução signifi- cativa das taxas de mortalidade por infecções do trato respiratório, apesar dessa redução ter sido menor nas úl- timas décadas. Dentre as pneumo- nias, a PAC persiste como a de maior impacto e é a terceira causa de mor- talidade no meio médico. A incidência de pneumonia é alta en- tre lactentes e crianças, diminui consi- deravelmente durante a infância, per- manece relativamente incomum em adultos jovens, mas depois começa a aumentar após os 50 anos de ida- de e, em especial, após os 65 anos. A pneumonia bacteriana não é só mais prevalente entre os idosos como tam- bém é mais grave, com um risco de morte progressivamente crescente com o avançar da idade. MAPA MENTAL: CLASSIFICAÇÃO DAS PNEUMONIAS Classificação PAC: pneumonia adquirida fora do ambiente hospitalar ou que se manifesta em até 48 h da admissão PACS: pneumonia que ocorre em pacientes institucionalizados, que estiveram hospitalizados, que têm contato frequente com instituições de saúde ou imunossuprimidos Pneumonia nosocomial: pneumonia que surge ≥ 48 h após admissão hospitalar ou pouco tempo após alta hospitalar PAH: pneumonia adquirida ≥ 48 horas após a internação hospitalar PAV: pneumonia adquirida ≥ 48 horas após a intubação endotraqueal 5PNEUMONIAS Figura 1. A Incidência da pneumonia adquirida na comunidade eleva-se nos extremos da idade. Fonte: Goldman-Ce- cil Medicina, 2018 • Doença hepática ou renal: diminui a formação de anticorpos e a fun- ção dos leucócitos; • Diabetes melito: diminui a função e a mobilização dos leucócitos; • Deficiência de imunoglobulinas de qualquer causa. Diferentemente da pneumonia bacte- riana, a pneumonia viral ou por Myco- plasma ocorre quando esses organis- mos são transmitidos a hospedeiros imunologicamente naïves, ou seja, imunologicamente “imaturos”. A pre- sença ou ausência de uma imunida- de prévia e a competência do sistema imunológico parecem ser os princi- pais determinantes da ocorrência de infecção. A maioria dos adultos de qualquer idade que desenvolve uma pneumo- nia bacteriana apresenta frequen- temente uma ou mais condições predisponentes. A mais comum é a infecção respiratória viral prévia, que aumenta a adesão das bactérias às células epiteliais respiratórias e altera os mecanismos do clearance devido à interferência com a ação ciliar. Ou- tros fatores predisponentes incluem: • Desnutrição: fragiliza o sistema imunológico; • Consumo excessivo de álcool: di- minui o reflexo da tosse e afeta a migração dos leucócitos; • Tabagismo: aumenta as secreções pulmonares e altera a função ciliar; 6PNEUMONIAS SAIBA MAIS! Segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH), a pneumonia é uma das principais causas de internação no Brasil, perdendo apenas para parto/puerpério que não são considerados doenças. 3. ETIOLOGIA Pneumonia adquirida em comunidade (PAC) Streptococcus pneumoniae (pneu- mococo) e vírus respiratórios são os patógenos mais frequentemente de- tectados em pacientes com PAC. No entanto, em uma grande proporção de casos (até 62%), nenhum patóge- no é detectado, por conta da dificul- dade de se obter amostras fidedignas MAPA MENTAL: EPIDEMIOLOGIA Epidemiologia Terceira causa de morte Incidência alta entre idosos (incidência e gravidade aumentam com a idade) Incidência alta entre lactentes e crianças Adultos acometidos frequentemente apresentam condições predisponentes e respostas em tempo hábil, o que torna a coleta de exames específicos uma prática não habitual. As causas de PAC mais comumente identificadas podem ser agrupadas em três categorias: • Bactérias típicas ◊ S. pneumoniae (causa bacte- riana mais comum) ◊ Haemophilus influenzae 7PNEUMONIAS ◊ Moraxella catarrhalis ◊ Staphylococcus aureus ◊ Estreptococos do grupo A ◊ Bactérias gram-negativas ae- róbicas (ex: Enterobacteriace- ae como Klebsiella spp ou Es- cherichia coli) ◊ Bactérias microaerofílicas e anaeróbios (associadas à aspiração) • Bactérias atípicas (“atípica” refere- -se à resistência intrínseca desses organismos aos beta-lactâmicos e sua incapacidade de serem vi- sualizadas na coloração de Gram ou cultivadas usando técnicas tradicionais): ◊ Legionella spp ◊ Mycoplasma pneumoniae ◊ Chlamydia pneumoniae ◊ Chlamydia psittaci ◊ Coxiella burnetii • Vírus respiratórios ◊ Vírus influenza Ae B ◊ Rinovírus ◊ Vírus parainfluenza ◊ Adenovírus ◊ Vírus sincicial respiratório ◊ Metapneumovírus humano ◊ Coronavírus (ex: Síndrome respiratória no Oriente Médio) ◊ Bocavírus humanos A prevalência relativa desses patóge- nos varia com a geografia, taxas de vacinação contra pneumococos, fato- res de risco do hospedeiro (ex: taba- gismo), estação do ano e gravidade da pneumonia. Certas exposições epidemiológicas também aumentam a probabilidade de infecção por um patógeno espe- cífico. Como exemplos, a exposição à água contaminada é um fator de risco para a infecção por Legionella; a expo- sição à aves aumenta a possibilidade de infecção por C. psittaci; viagens ou residência no sudoeste dos Estados Unidos deve levantar suspeitas de coccidioidomicose; e falta de higiene dental pode predispor à pneumonia causada pela flora oral ou anaeróbios. Em pacientes imunocomprometidos, o espectro de possíveis patógenos também se amplia, incluindo fungos e parasitas, bem como patógenos bac- terianos e virais menos comuns. 8PNEUMONIAS Pneumonia adquirida no hospital (PAH) A pneumonia hospitalar surge após 48 horas de internação hospitalar e pode ser precoce, quando ocorre até o 4º dia de internação, ou tardia, quando ocorre após 5 ou mais dias de internação. A PAH de início precoce é frequen- temente ocasionada por microrga- nismos que são associados também à PAC, tais como S. pneumoniae, H. influenzae e anaeróbios. A PAH de início tardio é causada principalmen- te por Staphylococcus aureus resis- tentes à meticilina (MRSA); bacilos Gram-negativos entéricos; P. aerugi- nosa; não fermentadores, tais como Acinetobacter baumannii e S. mal- tophilia; e infecções polimicrobianas. Fatores que aumentam o risco de PAH incluem exposição à antibióti- cos, idade avançada, comorbidades MICRORGANISMO QUANDO PENSAR S. Pneumoniae Em todos os casos Haemophilus influenzae Pacientes com idade >65 anos e em casos de DPOC M. Catarrhalis Casos de DPOC K.pneumoniae Pacientes alcoólatras e diabéticos S. Aureus Pacientes usuários de drogas IV, com pneumopatia estrutura (fibro- se cística, bronquiectasia), pós-influenza e pneumatoceles S.Pyogenes Criança ou adulto jovem com faringoamigdalite supurativa Pseudomonas aeruginosas Pneumopatia estrutura e pacientes neutropênicos Bactérias anaeróbicas Pneumonia aspirativa (pacientes com redução do nível de consciên- cia e deglutição prejudicada) Tabela 1. Agentes etiológicos da pneumonia típica MICRORGANISMO QUANDO PENSAR Mycoplasma pneumoniae Crianças com idade superior a 5 anos ou adultos jovens com protótipo do quadro clínico atípico Chlamydia pneumoniae Pacientes com idade superior a 65 anos Legionella pneumophilla Quadros de pneumonia grave. Presença de diarreia, náuseas e vômitos, hipo- natremia <130mEq/L, febre superior a 40ºC e imunodepressão celular (Ex. pacientes transplantados) Chlamydia psittaci Pacientes que tiveram contato com pássaros nas últimas 1-2 semanas e na presença de hepatoesplenomegalia Coxiella burnetti Pacientes que tiveram contato recente com material placentário de gado Vírus respiratórios Crianças com quadro gripal associado a infiltrado intersticial difuso. SDRA a partir do terceiro dia. Tabela 2. Agentes etiológicos da pneumonia atípica 9PNEUMONIAS graves, imunossupressão de base, colonização da orofaringe por micror- ganismos virulentos, condições que promovem a aspiração pulmonar ou inibem a tosse como, por exemplo, cirurgia toracoabdominal, intubação traqueal, inserção do tubo nasogás- trico e posição supina, assim como, exposição à equipamentos respira- tórios contaminados. Um estudo re- cente sugere que os microrganismos multirresistentes são mais frequentes na PAH de início precoce do que ini- cialmente se imaginava, e que os fa- tores de risco para a pneumonia de início precoce devem ser reavaliados. Pneumonia associada aos cuidados de saúde (PACS) Essas infecções possuem uma epi- demiologia única mais semelhante àquela observada nas infecções ad- quiridas no hospital. S. aureus (tanto sensível à meticilina quanto resisten- te à meticilina) e P. aeruginosa são os microrganismos mais frequentemen- te associados. 4. FISIOPATOLOGIA Os microrganismos causadores da pneumonia podem atingir os alvéolos pulmonares de duas formas: através da microaspiração do material pro- veniente das vias aéreas superiores e, menos comumente, através da inalação de aerossol contaminado do ambiente ou por via hematogênica. Os microrganismos infectantes po- dem atingir os alvéolos e desenvol- ver pneumonia devido à aspiração de pequenas quantidades de secreções nasofaríngeas ou de conteúdos da boca, em especial durante o sono. Al- gum grau de aspiração ocorre normal- mente. Aspirações mais importantes, contudo, são mais frequentes em pessoas mais idosas, particularmente naquelas mais frágeis ou acamadas. A aspiração maciça ocorre, por exem- plo, em pessoas que apresentam con- vulsões, que se engasgam enquanto vomitam ou em indivíduos cujo refle- xo da tosse está marcadamente dimi- nuído pelo álcool, drogas ou doenças neurológicas. Em tais pacientes, a síndrome clínica de pneumonia aspi- rativa inclui os efeitos dos microrga- nismos e do material aspirado, assim como do ácido gástrico. A pneumonia também pode ser cau- sada por inalação direta de material em aerossóis para os pulmões. Esse processo é incomum para a maioria das pneumonias bacterianas, mas é característico do Mycobacterium tu- berculosis e do Bacillus anthracis. Esse mecanismo também explica a infecção por alguns vírus, como o da influenza ou sincicial respiratório. As bactérias também podem atin- gir os pulmões através da corrente 10PNEUMONIAS sanguínea, ser filtradas pelos me- canismos normais do clearance do hospedeiro, mas depois escapar e causar pneumonia. A pneumonia por S. aureus é comumente causada por disseminação hematogênica, em es- pecial se uma infecção endovascular como a endocardite estiver presen- te. A Escherichia coli e outros bacilos Gram-negativos podem, ainda, cau- sar pneumonias através de dissemi- nação hematogênica. Um conjunto de mecanismos de de- fesa do hospedeiro protege o trato respiratório inferior da entrada de or- ganismos infecciosos, como a confi- guração das vias aéreas, a produção de imunoglobulina A secretora (IgA), a ação ciliar das células epiteliais, en- tre outros. Quando os organismos in- fecciosos atingem os alvéolos, as de- fesas inatas e específicas entram em ação. Se esses mecanismos de defesa fa- lharem, as bactérias podem replicar- -se nos alvéolos onde estimulam a produção local de citocinas e causam extravasamento capilar e acúmulo de plasma e células inflamatórias. Essa sequência inicia um círculo vicioso, no qual células inflamatórias adicionais são atraídas e a liberação subsequen- te de mais citocinas é estimulada. Na pneumonia bacteriana, a resposta in- flamatória do hospedeiro é responsá- vel pela maioria das manifestações da doença. Esse exsudado inflama- tório progressivo, que é detectado na radiografia como uma pneumonia, causa um desequilíbrio da ventilação- -perfusão, gerando hipoxemia. Patogênese da PAC: • Passo 1: Chegada do patógeno no espaço alveolar. • Passo 2: Multiplicação descontro- lada do patógeno. • Passo 3: Produção local de citoci- tas principalmente por macrófagos alveolares. • Passo 4: Recrutamento de neutró- filos para o espaço alveolar e intro- dução de citocinas na circulação sistêmica. • Passo 5: Geração do exsudato alveolar. 11PNEUMONIAS Figura 2. Patogênese da pneumonia adquirida em comunidade. Fonte: Uptodate: Overview of community-acquired pneumonia in adults, 2020 respiratórias até a descamação de toda a camada epitelial. Essas altera- ções dispersas que originam o padrão intersticial difuso observado na radio- grafia de tórax também predispõem a invasão bacteriana secundária. Ao contrário da pneumonia bacte- riana, o vírus influenza invade dire- tamente as células doepitélio cilín- drico, originando assim alterações patológicas que vão desde a vacuo- lização de algumas células epiteliais 12PNEUMONIAS 5. QUADRO CLÍNICO A apresentação clínica da PAC varia amplamente, desde uma pneumonia leve, caracterizada por febre, tosse e falta de ar, até uma pneumonia grave, caracterizada por sepse e dificuldade respiratória. A gravidade dos sinto- mas está diretamente relacionada à intensidade da resposta imune local e sistêmica em cada paciente. O quadro clínico típico clássico da PAC é repre- sentado pela pneumonia pneumocó- cica. A doença se apresenta de forma hiperaguda, entre 2 e 3 dias, tendo como história principal calafrios, tre- mores, febre alta (39-40ºC), dor torá- cica pleurítica e tosse produtiva com expectoração purulenta esverdeada. O exame físico normalmente eviden- cia prostração, taquipneia, taquicardia e hipertermia. Os achados do exame do aparelho respiratório podem variar de simples estertores até a síndro- me de consolidação pulmonar e/ou a síndrome de derrame pleural. A sín- drome de consolidação pulmonar é caracterizada pela presença de som bronquial, aumento do frêmito tora- covocal, submacicez e broncofonia. Já a síndrome do derrame pleural é identificada pela abolição do murmú- rio vesicular e do frêmito toracovocal, submacicez e egofonia. De forma geral, os sinais e sintomas presentes na pneumonia estão lista- dos abaixo: MAPA MENTAL: FISIOPATOLOGIA Chegada do patógeno no espaço alveolar (aspiração de secreções, inalação de aerossóis, disseminação hematogênica) Multiplicação descontrolada do patógeno Produção local de citocitas, principalmente por macrófagos alveolares Recrutamento de neutrófilos para o espaço alveolar e introdução de citocinas na circulação sistêmica Geração do exsudato alveolar 13PNEUMONIAS • Sinais e sintomas pulmonares: ◊ Tosse (com ou sem produção de escarro); ◊ Dispneia; ◊ Dor no peito tipo pleurítica. ◊ Achados do exame físico in- cluem taquipneia, aumento do esforço respiratório e sons respiratórios adventícios, in- cluindo estertores e roncos. Frêmito toracovocal, egofonia e macicez à percussão tam- bém sugerem pneumonia. Esses sinais e sintomas resul- tam do acúmulo de leucócitos, fluidos e proteínas no espaço alveolar. A hipoxemia pode resultar do comprometimento subsequente das trocas gaso- sas alveolares. Na radiografia de tórax, o acúmulo de leucó- citos e líquido dentro dos alvé- olos aparece como opacida- des pulmonares. • Sinais e sintomas sistêmicos: A grande maioria dos pacientes com PAC apresenta febre. Outros sinto- mas sistêmicos, como calafrios, fa- diga, mal-estar e anorexia também são comuns. Taquicardia, leucoci- tose neutrofílica com desvio para a esquerda ou leucopenia também são achados ocasionados pela res- posta inflamatória sistêmica, sendo a leucopenia um sinal de mau prog- nóstico. Marcadores inflamatórios, como VHS, PCR e procalcitonina podem se elevar, embora este últi- mo seja altamente específico para infecções bacterianas. A bioquími- ca na maioria das vezes é normal, mas pode evidenciar hiponatremia em alguns casos. A pneumonia por Legionella pneumophila, por exemplo, costuma cursar com hi- ponatremia grave e elevação de enzimas hepáticas. A gasometria arterial tem como achados mais frequentes a hipoxemia e a alcalo- se respiratória. A PAC também é a principal causa de sepse; assim, a apresentação inicial pode ser ca- racterizada por hipotensão, estado mental alterado e outros sinais de disfunção orgânica, como disfun- ção renal, disfunção hepática e/ou trombocitopenia. Embora certos sinais e sintomas como febre, tosse, taquicardia e estertores sejam comuns entre pacientes com PAC, esses achados são inespecífi- cos e são compartilhados entre mui- tos distúrbios respiratórios. Nenhum sintoma individual ou constelação de sintomas é adequado para o diagnós- tico sem imagens do tórax. Sinais e sintomas de pneumonia também podem ser sutis em pacien- tes com idade avançada e/ou sis- tema imunológico comprometido, e um maior grau de suspeita pode ser necessário para o diagnóstico. Como exemplo, pacientes mais velhos 14PNEUMONIAS podem apresentar alterações no es- tado mental, sem apresentar febre ou leucocitose. Em pacientes imuno- comprometidos, os infiltrados pulmo- nares podem não ser detectáveis nas radiografias de tórax, mas podem ser visualizados com tomografia compu- tadorizada (TC) de tórax. SE LIGA! Todo paciente idoso debilita- do, ou qualquer paciente com doença de base que evolui com redução do ní- vel de consciência, piora do estado geral ou taquidispneia deve ter a pneumonia bacteriana como um dos seus diagnós- ticos diferencias, mesmo na ausência de febre, tosse produtiva e leucocitose. MAPA MENTAL: SINTOMAS Sintomas Anorexia Mal-estar Dor torácica Febre CalafriosFadiga DispneiaTosse 6. DIAGNÓSTICO Recomendação para a realização de métodos de imagem na PAC O diagnóstico de PAC geralmente re- quer a demonstração de um infiltrado na imagem do tórax em um pacien- te com uma síndrome clinicamente compatível, por exemplo, febre, disp- neia, tosse e produção de escarro. A radiografia de tórax, em associação com a anamnese e o exame físico, faz parte da tríade propedêutica clássica para PAC, sendo recomendada sua realização de rotina, quando dispo- nível, nas incidências posteroanterior (PA) e perfil. Além da contribuição ao diagnóstico, a radiografia de tórax permite ainda avaliar a extensão das lesões, detectar complicações e auxi- liar no diagnóstico diferencial. 15PNEUMONIAS Os achados radiográficos consisten- tes com o diagnóstico de PAC incluem: consolidações lobares, infiltrados in- tersticiais e/ou cavitações. Embora certas características radiográficas sugiram certas causas de pneumo- nia (por exemplo, consolidações loba- res quase sempre são causadas por pneumococo, embora possam even- tualmente surgir da evolução de uma pneumonia estafilocócica), a aparên- cia radiográfica sozinha não pode diferenciar de maneira confiável as etiologias. SE LIGA! O infiltrado alveolar do tipo broncopneumônico é o achado radio- lógico mais frequente na pneumonia bacteriana, independente do agente etiológico Figura 3. Pneumonia pneumocócica com consolida- ção lobar. Fonte: Murray & Nadel Tratado de Medicina Respiratória, 2017 Figura 4. Pneumonia pneumocócica do lobo inferior esquerdo em incidência posteroanterior (A) e de perfil (B). Fonte: Goldman-Cecil Medicina, 2018 16PNEUMONIAS Figura 5. Consolidação lobar den- sa com broncograma aéreo em um paciente com documentação de pneumonia por Legionella. Fonte: Goldman-Cecil Medicina, 2018 Figura 6. Infiltrados intersticiais bilaterais difusos com infecção por Mycoplasma pneumoniae. Fonte: Uptodate: Over- view of community-acquired pneumonia in adults, 2020 17PNEUMONIAS Figura 7. Radiografia de tórax em pacientes com pneumonia por Pneumocystis jirovecii, uma que mostra opacifica- ção em vidro fosco peri-hilar com consolidação precoce (A) e outra que mostra opacificação em vidro fosco do lado esquerdo e consolidação precoce do lado direito (B). Fonte: Uptodate: Overview of community-acquired pneumonia in adults, 2020 Figura 8. Imagens radiográficas das complicações da pneumonia pneumocócica. Esquerda: Abscesso pulmonar com nível líquido no pulmão direito. Direita: Radiografia de pneumonia necrosante no pulmão esquerdo. Fonte: Uptodate: Overview of community-acquired pneumonia in adults, 2020 18PNEUMONIAS são: consolidações, padrão intersticial focal, lesões subpleurais e anormali- dades na linha pleural. Adicionalmen- te, a UST apresenta alto rendimento na detecção de complicações como o derrame pleural, além de permitir a vi- sualização de loculações na cavidade. A tomografia de tórax é o método mais sensível na identificação de aco- metimento infeccioso do parênquima pulmonar, porém trata-se de um mé- todo de alto custo e alta exposição à radiação. Trata-se de um exameútil principalmente nos casos em que a acurácia da radiografia de tórax e da UST é baixa, como em pacientes obe- sos, imunossuprimidos e indivíduos com alterações radiológicas prévias. Além disso, a TC de tórax está indica- da na suspeita de infecções fúngicas e para auxiliar na exclusão de outros diagnósticos em casos selecionados. Em função da alta exposição radioló- gica pela TC, alguns autores têm su- gerido o uso da UST como teste au- xiliar intermediário antes do uso da TC no diagnóstico em casos difíceis. Ressalta-se ainda a importância da TC de tórax para a avaliação de com- plicações da PAC, como abscesso de pulmão e derrame pleural loculado, além da investigação da falta de res- posta clínica ao tratamento. Não há consenso nas recomenda- ções a respeito do manejo da PAC na atenção primária, especialmente no que tange à realização de exa- mes complementares, muitas vezes não disponíveis de imediato. Nesta instância, quando o clínico está se- guro do diagnóstico, a realização da radiografia de tórax não é necessá- ria para dar início ao tratamento, e os antimicrobianos podem ser prescritos adequadamente. Entretanto, menos de 40% dos médicos são capazes de diagnosticar pneumonias com base somente no exame físico. Dentro des- se contexto, a radiografia deveria ser obrigatória para pacientes com sus- peita de PAC. A radiografia de tórax está recomendada também quando há dúvida quanto ao diagnóstico ou necessidade de diagnóstico diferen- cial com câncer de pulmão, assim como quando, durante o seguimen- to do tratamento, a resposta clínica for insatisfatória. A realização da ra- diografia de tórax está recomendada para todos os pacientes admitidos ao hospital. A ultrassonografia de tórax (UST) apresenta maior sensibilidade e maior acurácia do que a radiografia de tórax na identificação de altera- ções parenquimatosas. Os principais achados ultrassonográficos na PAC 19PNEUMONIAS SAIBA MAIS! A atual pandemia global de COVID-19 está relacionada a uma doença respiratória aguda causada por um novo coronavírus (SARS-CoV-2), altamente contagioso e de evolução ainda pouco conhecida. Até o momento, a radiografia de tórax não tem sido recomendada como modalidade de triagem de primeira linha diante da suspeita de COVID-19, uma vez que apre- senta limitada sensibilidade na detecção de opacidades em vidro fosco e outros achados pulmonares incipientes da infecção. Por outro lado, estudos recentes têm demonstrado papel central da tomografia computadorizada (TC) na detecção e gerenciamento precoce das ma- nifestações pulmonares do COVID-19, com alta sensibilidade, porém especificidade ainda limitada. A maioria dos casos publicados até o momento apresenta achados tomográficos semelhantes aos da imagem abaixo, predominando alterações alveolares, como opacidades em vidro fosco, consolidações focais e opacidades mistas, geralmente com acometimento bilateral e multifocal, distribuição periférica e predomínio nos campos pulmonares médios, inferiores e posteriores. Figura 9. Imagens de TC de tórax (cortes axiais) de- monstrando opacidades em vidro fosco multifocais e bilaterais, com predomínio periférico e posterior, que são achados pulmonares típicos da infecção por CO- VID-19. Fonte: Jornal Brasileiro de Pneumologia, 2020. Volume 46. Avaliação da gravidade e definição do local de tratamento Os pacientes com diagnóstico de PAC devem ser sempre avaliados quanto à gravidade da doença, pois isso tem impacto direto na redução da mor- talidade. Os escores de prognóstico disponíveis dimensionam a gravida- de e ajudam a predizer o prognósti- co da PAC, guiando a decisão quanto ao local de tratamento — ambulato- rial, hospitalar ou UTI — quanto à ne- cessidade de investigação etiológica, quanto à escolha do antibiótico e sua via de administração. Os instrumentos validados incluem: • Pneumonia Severity Index (PSI): Tabelas 3 e 4. • Mental Confusion, Urea, Respira- tory rate, Blood pressure, and age ≥ 65 years (CURB-65): 20PNEUMONIAS ◊ Confusão mental (escore ≤ 8, segundo o abbreviated men- tal test score); ◊ Ureia > 50 mg/dl; ◊ Frequência Respiratória > 30 ciclos/min; ◊ Blood pressure: pressão ar- terial sistólica < 90 mmHg ou pressão arterial diastólica < 60 mmHg; ◊ Idade ≥ 65 anos. • CRB-65: forma simplificada sem a dosagem de ureia; • As diretrizes da American Tho- racic Society/Infectious Diseases Society of America (ATS/IDSA) de 2007: tabela 5; • Systolic blood pressure, Multilobar involvement, Albumin, Respiratory rate, Tachycardia, Confusion, Oxy- genation, and pH (SMART-COP); tabela 6 • Severe Community-Acquired Pneumonia (SCAP); tabela 7. Os três últimos instrumentos estão relacionados à pneu- monia grave e internação em UTI. Recomenda-se que o paciente com PAC seja avaliado objetivamente na sala de emergência quanto a gra- vidade inicial e identificação precoce do risco de evolução para desfechos graves, como necessidade de ad- missão à UTI, desenvolvimento de sepse grave, necessidade de suporte ventilatório invasivo ou não invasivo, de suporte inotrópico ou do risco de falência terapêutica (SCAP, SMART- -COP ou ATS/ISDA simplificado, em- bora necessitem ainda maior valida- ção externa). Na ausência de PAC grave, ou seja, sem indicações socioeconômicas de internação, sem doenças associadas descompensadas, hipoxemia, impos- sibilidade de ingestão oral de medi- camentos, sem presença de pelo me- nos 2 pontos no escore CURB-65, ou de pelo menos 1 no escore CRB-65, ou ainda mais que 70 pontos no PSI, o médico assistente deve considerar o tratamento ambulatorial para pa- cientes com PAC. 21PNEUMONIAS PNEUMONIA SEVERITY INDEX (PSI) Fatores demográficos Escore Achados laboratoriais e radiológicos Escore Idade, anos Homens Mulheres n n − 10 pH < 7,35 +30 Ureia > 65 mg/l +20 Sódio < 130 mEq/l +20 Procedência de asilos +10 Glicose > 250 mg/l +10 Hematócrito < 30% +10 PO2 < 60 mmHg +10 Derrame pleural +10 Comorbidades Exame físico Neoplasia +30 Alteração do estado mental +20 Doença hepática +20 FR > 30 ciclos/min +20 ICC +10 PAS < 90 mmHg +20 Doença cerebrovascular +10 Temperatura < 35° ou > 40°C +15 Doença renal +10 FC ≥ 125 bpm +10 Tabela 3. Escore de pontos utilizado no Pneumonia Severity Index (índice de gravidade da pneumonia). Fonte: Reco- mendações para o manejo da pneumonia adquirida na comunidade, 2018 PNEUMONIA SEVERITY INDEX (PSI) Classe Pontos Mortalidade, % Local sugerido de tratamento I - 0,1 Ambulatório II ≤ 70 0,6 Ambulatório III 71-90 2,8 Ambulatório ou internação breve IV 91-130 8,2 Internação V > 130 29,2 Internação Tabela 4. Estratificação de risco segundo o Pneumonia Severity Index (índice de gravidade da pneumonia). Fonte: Corrêa RA., et al. 22PNEUMONIAS Fonte: Recomendações para o manejo da pneumonia adquirida na comunidade, 2018 FLUXOGRAMA: ESCORE CURB-65 E SUGESTÃO DE LOCAL DE TRATAMENTO PARA PACIENTES COM PAC CURB-65 2 ≥30-1 Mortalidade intermediária 9,2% Mortalidade alta 22% Mortalidade baixa 1,5% Considerar tratamento hospitalar Tratamento hospitalar com PAC grave 4-5 avaliar UTI Candidato ao tratamento ambulatorial FLUXOGRAMA: ESCORE CRB-65 E SUGESTÃO DE LOCAL DE TRATAMENTO PARA PACIENTES COM PAC CRB-65 1-2 3-40 Mortalidade intermediária 8,15% Mortalidade alta 31% Mortalidade baixa 1,2% Avaliar tratamento hospitalar Hospitalização urgenteCandidato ao tratamento ambulatorial Fonte: Recomendações para o manejo da pneumonia adquirida na comunidade, 2018 23PNEUMONIAS DIRETRIZES DA ATS/IDSA 2007 UM CRITÉRIO MAIOR OU TRÊS MENORES INDI- CAM UTI Critérios maiores Choque séptico Necessidade de ven- tilação mecânica Critérios menores FR > 30 ciclos/min Confusão mental PaO2/FiO2 < 250 Ureia ≥ 50 mg/dl Infiltrados multilobares PAS < 90 mmHg Tabela 5. Estratificação de risco segundo consenso da American Thoracic Society/Infectious Diseases Society of America simplificado. Fonte: Recomendações para omanejo da pneumonia adquirida na comunidade, 2018 SYSTOLIC BLOOD PRESSURE, MULTILOBAR INVOLVEMENT, ALBUMIN, RESPIRATORY RATE, TACHYCARDIA, CONFUSION, OXYGENATION, AND PH (SMART-COP) PAS < 90 mmHg 2 pontos Envolvimento multilobar 1 ponto Albumina < 3,5 1 ponto FR ≥ 25 ciclos/min 1 ponto FC > 125 bpm 1 ponto Confusão mental 1 ponto SpO2 < 93% ou PaO2 < 70 mmHg 2 pontos pH < 7,30 2 pontos Pontuação > 3 pontos: identificou 92% dos pa- cientes que necessitaram de uso de ventilação mecânica invasiva ou de dro- gas vasoativas na evolução da PAC. Tabela 6. Systolic blood pressure, Multilobar involve- ment, Albumin, Respiratory rate, Tachycardia, Con- fusion, Oxygenation, and pH (SMART-COP). Fonte: Recomendações para o manejo da pneumonia adquiri- da na comunidade, 2018 SEVERE COMMUNITY-ACQUIRED PNEUMONIA (SCAP) CRITÉRIOS MAIORES pH < 7,30 13 pontos PAS < 90 mmHg 11 pontos Critérios menores FR > 30 ciclos/min 9 pontos PaO2/FiO2 < 250 6 pontos Ureia > 30 mg/dL 5 pontos Alteração do nível de consciência 5 pontos Idade ≥ 80 anos 5 pontos Presença de infiltrado radiológico multilobar ou bilateral 5 pontos Pontuação ≥ 10 pontos: maior risco de uso de ventilação mecânica e necessidade de uso de droga vasoativa Tabela 7. Severe Community-Acquired Pneumonia (SCAP). Fonte: Recomendações para o manejo da pneumonia adquirida na comunidade, 2018 Investigação etiológica na PAC Embora possa haver resposta ina- dequada a alguns tratamentos em- píricos, a realização de testes etioló- gicos não é necessária nos casos de pacientes com PAC não grave em tratamento ambulatorial. Assim, per- manecem as recomendações para a realização de exames que busquem a etiologia somente para pacientes com PAC grave ou não respondedora à terapia empírica inicial, bem como nos internados em UTI. Pacientes com PAC grave devem ser investigados etiologicamente com os exames básicos disponíveis: exa- me direto e cultura de escarro, bem como hemocultura, testes para de- tecção de antígenos urinários para S. 24PNEUMONIAS pneumoniae e Legionella sp., testes sorológicos e eventual cultura para germes atípicos. Em casos selecionados e em um con- texto clínico apropriado, culturas es- peciais e testes de galactomanana e 1-3-beta-glucana para fungos, assim como os mais recentes testes antigê- nicos ou de biologia molecular para vírus e germes atípicos, podem ser realizados, mas com pouca indicação no manejo habitual da PAC. Para pacientes em ventilação mecâ- nica, pacientes não respondedores à terapêutica empírica inicial ou aque- les com suspeita de agentes etiológi- cos menos comuns, assim como em casos que necessitem diagnóstico diferencial com doença pulmonar não infecciosa como, por exemplo, tumo- res, vasculites ou doença intersticial pulmonar, pode ser necessária cole- ta de amostras de forma invasiva via broncoscopia, aspiração endotraque- al, lavado broncoalveolar ou toraco- centese em casos com derrame pleu- ral do mesmo lado da lesão. Diagnóstico diferencial Várias doenças podem manifestar fe- bre e opacidades radiográficas no tó- rax e mimetizar a PAC; tais doenças devem ser suspeitadas quando a re- solução radiológica é raramente rápi- da ou quando há falta de resposta aos tratamentos iniciais ou subsequentes com antibióticos. Em pacientes com PAH e particularmente naqueles com PAV, os sinais e sintomas clássicos de pneumonia, incluindo novas altera- ções radiográficas, febre, leucocitose ou leucopenia e secreções purulen- tas, não são suficientemente sensí- veis nem específicos para confirmar a presença de uma infecção pulmo- nar. Atelectasia, hemorragia pulmo- nar, SDRA e embolia pulmonar, entre outras, são condições que podem mi- metizar a pneumonia. Em pacientes com suspeita de PAH ou PAV, a con- firmação microbiológica de pneumo- nia é importante no intuito de evitar tratamentos desnecessários e resis- tência aumentada aos antibióticos. MAPA MENTAL: DIAGNÓSTICO Anamnese + exame físico + radiografia de tórax PA e perfil Avaliação da gravidade Definição do local de tratamento 25PNEUMONIAS 7. TRATAMENTO Tratamento ambulatorial O tratamento antibiótico inicial é de- finido de forma empírica devido à im- possibilidade de se obter resultados microbiológicos logo após o diagnós- tico da PAC, o que permitiria escolher antibióticos dirigidos a agentes espe- cíficos. A escolha do antibiótico deve levar em consideração: 1) patógeno mais provável no local de aquisição da doença; 2) fatores de risco indivi- duais; 3) presença de doenças asso- ciadas; e 4) fatores epidemiológicos, como viagens recentes, alergias e re- lação custo-eficácia. A proposta da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) na publicação “Recomendações para o manejo da pneumonia adquirida na co- munidade” de 2018, é o uso de mono- terapia com ẞ-lactâmico ou macrolíde- os para os pacientes ambulatoriais, sem comorbidades, nenhum uso recente de antibióticos, sem fatores de risco para resistência e sem contraindicação ou história de alergia a essas drogas. Para esses casos, sugere-se evitar o uso das fluoroquinolonas devido ao recente alerta da agência norte-ame- ricana Food and Drug Administration sobre o potencial risco de efeitos co- laterais graves. Essas drogas devem ser reservadas para pacientes com fatores de risco, doença mais grave ou quando não houver outra opção de tratamento, situações essas em que os benefícios superariam os po- tenciais riscos. Quanto aos macrolí- deos, a azitromicina é mais efetiva in vitro contra a maioria das cepas de Haemophilus influenzae do que a claritromicina e, por isso, deveria ser preferida nos pacientes com DPOC. Os riscos de infecção por agentes pa- togênicos resistentes e de falência te- rapêutica são maiores quando há his- tória de uso de um antibiótico nos três meses anteriores; quando os pacientes vêm de regiões onde a taxa local de resistência aos macrolídeos é supe- rior a 25%, o que ocorre, por exemplo, nos EUA e em alguns outros países; e na presença de doenças associa- das (DPOC, doença hepática ou renal, câncer, diabetes, insuficiência cardíaca congestiva, alcoolismo ou imunossu- pressão). Para esses casos específicos, recomenda-se para o tratamento am- bulatorial da PAC associar macrolídeos a um ẞ-lactâmico ou realizar monote- rapia com uma fluoroquinolona respira- tória por pelo menos 5 dias. Tratamento de pacientes internados em enfermarias A recomendação atual da Socieda- de Brasileira de Pneumologia e Ti- siologia é o emprego de ẞ-lactâmico associado a um macrolídeo ou fluo- roquinolona respiratória isolada. Um ẞ-lactâmico isolado pode ser usado se houver exclusão confirmada de Legionella sp. 26PNEUMONIAS Tratamento de pacientes internados em UTI A terapia combinada deve ser reco- mendada por reduzir a mortalida- de. A administração dos antibióticos deve ser a mais precoce possível e deve incluir preferencialmente um macrolídeo e um ẞ-lactâmico, ambos por via endovenosa. Excetuando-se cenários clínicos que indiquem alta probabilidade de ger- mes específicos como agentes cau- sadores, as sugestões para a antibio- ticoterapia inicial na PAC grave são descritas nas tabelas a seguir. MAPA MENTAL: TRATAMENTO Tratamento de pacientes internados em enfermarias Tratamento de pacientes internados em UTI Tratamento de pacientes ambulatoriais β-lactâmico associado a um macrolídeo ou fluoroquinolona respiratória isolada Macrolídeo e um β-lactâmico, ambos por via endovenosa Monoterapia com β-lactâmico ou macrolídeos Duração da antibioticoterapia A duração ideal da antibioticoterapia no tratamento da PAC não está ainda definitivamente estabelecida. A an- tibioticoterapia de curta duração pa- rece ser a mais apropriada, uma vez que proporciona menor exposição do paciente à ação de antibióticos, re- duz a ocorrência de efeitos adversos, diminui o desenvolvimento de resis- tência por parte dos microrganismos, melhora a adesão dos pacientes epode minimizar o tempo de interna- ção e os custos financeiros. No en- tanto, o tratamento curto deve ser tão eficaz quanto os tratamentos mais longos no que diz respeito às taxas de mortalidade, complicações e re- corrência da doença. A duração do tratamento pode ser di- ferente conforme a gravidade da PAC. Recomenda-se que para a PAC de baixa gravidade e com tratamento am- bulatorial, esse seja feito com monote- rapia e por 5 dias. A PAC de moderada a alta gravidade deve ser tratada com os esquemas antibióticos discutidos abaixo, por períodos de 7 a 10 dias. O tratamento pode ser estendido até 14 dias a critério do médico assistente. Tratamento adjuvante O uso de corticoides na PAC gra- ve mostrou-se tanto seguro como 27PNEUMONIAS benéfico em diversos desfechos clíni- cos importantes. Entretanto, são ne- cessários novos estudos que confir- mem o impacto dessa terapia sobre a mortalidade relacionada à PAC, ape- sar das meta-análises sugerirem a re- dução dessa taxa, sobretudo no sub- grupo com apresentação mais grave. TRATAMENTO ANTIBIÓTICO EMPÍRICO PARA PAC Tratamento de pacientes ambulatoriais Duração (dias) Sem comorbidades, sem uso recente de antibióticos, sem fator de risco para resistência, sem contraindicação ou história de alergia a essas drogas Amoxicilina ou Amoxicilina + Ácido clavulânico OU 7 Azitromicina OU 3-5 Claritromicina 7 Com fatores de risco, doença mais grave, uso recente de antibióticos ẞ-lactâmico + Macrolídeo 5-7 Em caso de alergia a ẞ-lactâmicos/macrolídeos Moxifloxacino OU Levofloxacino OU Gemifloxacino 5-7 Tratamento de pacientes internados em enfermaria Duração (dias) Cefalosporinas de 3ª geração (ceftriaxona ou cefotaxima) ou Ampicilina/sulbactam + Macrolídeo (azitromicina ou claritromicina) OU 7-10 Cefalosporinas de 3ª geração (ceftriaxona ou cefotaxima) ou Amoxicilina + Ácido clavulânico OU 7-10 Moxifloxacino OU Levofloxacino OU Gemifloxacino em monoterapia 5-7 Tratamento de pacientes internados em UTI Duração (dias) Cefalosporinas de 3ª geração (ceftriaxona ou cefotaxima) ou Ampicilina/sulbactan + um macrolí- deo (azitromicina ou claritromicina) OU 7-14 Cefalosporinas de 3ª geração (ceftriaxona ou cefotaxima) + quinolona respiratória 7-14 Terapia alvo-específica Duração (dias) Pneumococo resistente à penicilina Não grave: ẞ-lactâmico em alta dose (Amoxicilina 3 g/dia ou Amoxicilina + Ácido clavulânico 4 g/dia; alternativas: ceftriaxona, cefotaxima, cefepima ou ceftarolina) + Macrolídeo ou Fluoroqui- nolona respiratória 5-7 Grave: Ceftriaxona OU Cefotaxima OU Cefepima OU Ceftarolina 7-10 Staphylococcus aureus resistente à meticilina: adquirida na comunidade Clindamicina OU Linezolida OU Vancomicina 7-21 S. aureus resistente a meticilina Linezolida OU Vancomicina 7-21 Enterobactérias produtoras de betalactamase de espectro estendido Ertapenem 7-14 Pseudomonas spp Fluoroquinolonas antipseudomonas, Piperacilina/tazobactan, Meropenem, Polimixina B (mono- terapia ou terapia combinada) 10-14 Pacientes com suspeita de pneumonia aspirativa 28PNEUMONIAS TRATAMENTO ANTIBIÓTICO EMPÍRICO PARA PAC Pneumonia aspirativa: Quinolonas OU Cefalosporina de 3ª geração 7-10 Aspiração de conteúdo gástrico, pneumonia necrosante, abscesso pulmonar ou doença perio- dontal grave: ẞ-lactâmico + Inibidor de betalactamase OU Piperacilina-tazobactam OU Clinda- micina OU Moxifloxacina 7-21 Tabela 8. Tratamento antibiótico empírico para PAC. Fonte: Recomendações para o manejo da pneumonia adquirida na comunidade, 2018 FÁRMACO VIA DOSE INTERVALO (H) Amoxicilina/ácido clavulânico Oral 875/125 mg 8 Amoxicilina/ácido clavulânico Oral 2.000/135 mg 12 Amoxicilina/ácido clavulânico Intravenosa 1.000-2.000/200 mg 8-12 Ampicilina/sulbactam Intravenosa 1,5/3,0 g 6-8 Azitromicina Oral-Intravenosa 500 mg 24 Cefepima Intravenosa 2 g 12 Cefotaxima Intravenosa 1-2 g 8 Ceftarolina Intravenosa 600 mg 12 Ceftriaxona Intravenosa 1 g 12 Ciprofloxacino Oral 500-750 mg 12 Ciprofloxacino Intravenosa 400 mg 8-12 Claritromicina Oral 500 mg 12 Claritromicina liberação prolongada Oral 1.000 mg 24 Claritromicina Intravenosa 500 mg 12 Clindamicina Oral 600 mg 12 Clindamicina Intravenosa 600 mg 8 Ertapenem Intravenosa 1 g 24 Imipenem Intravenosa 1 g 8 Levofloxacino Oral 500-750 mg 24 Levofloxacino Intravenosa 750 mg 24 Linezolida Oral-Intravenosa 600 mg 12 Meropenem Intravenosa 1 g 8 Moxifloxacino Oral 400 mg 24 Piperacilina-tazobactam Intravenosa 4 g/0,5 g 6-8 Vancomicina Intravenosa 500 mg/1.000 mg 6/12 Tabela 9. Posologia e vias de administração de antibióticos utilizáveis no tratamento da pneumonia adquirida na co- munidade. Fonte: Recomendações para o manejo da pneumonia adquirida na comunidade, 2018 29PNEUMONIAS SE LIGA! Em caso de infecção causada por um microrganismo com concentra- ção inibitória mínima > 0,5 mg/l, é con- veniente administrar o antimicrobiano a cada 8 h para evitar a seleção de cepas resistentes. Pneumonia Adquirida no Hospital e Pneumonia Associada à Ventilação A terapia empírica da PAV é neces- sariamente ampla, pois a variedade de patógenos potenciais é grande e a mortalidade é aumentada quando o patógeno responsável é resistente ao regime empírico inicial com anti- bióticos. Os regimes empíricos reco- mendados incluem agentes ẞ-lactâ- micos de amplo espectro, geralmente em combinação com aminoglicosí- deos e com cobertura para MRSA. O ẞ-lactâmico empírico deve ser base- ado nos padrões de sensibilidade aos antibióticos para patógenos Gram- -negativos comuns na instituição de relevância ou na unidade específica. Os antibióticos empíricos para a PAH são menos estudados. A PAH em pa- cientes não entubados é uma mistura de patógenos da PAC e patógenos encontrados na PAV, embora a frequ- ência dos últimos seja provavelmente menor, principalmente em casos que se apresentem precocemente após a admissão. O risco mais acentuado de patógenos MDR em pacientes não entubados com PAH é a terapia anti- biótica recente, e a monoterapia pro- vavelmente é adequada para a maior parte dos pacientes sem exposição recente aos antibióticos. Ticarcilina-clavulanato e piperacili- na-tazobactam são os ẞ-lactâmicos/ inibidores de ẞ1-lactamase preferi- dos para o tratamento de pneumonia nosocomial. Levofloxacina (IV ou VO), Gatifloxacina (IV ou VO), Moxifloxaci- na (IV ou VO) ou Gemifloxacina (VO) são preferidas para Streptococcus pneumoniae. A ciprofloxacina apre- senta a melhor atividade in vitro con- tra Pseudomonas aeruginosa. 30PNEUMONIAS CONDIÇÃO PRINCIPAIS PATÓGENOS ESCOLHA DOS ANTIMICROBIANOS 2 a 5 dias no hospital Pneumonia branda a moderada Enterobacteriaceae ẞ-lactâmico/Inibidor de ẞ-lactamase OU Ceftriaxona OU Fluoroquinolona Pneumonia grave de “baixo risco” Streptococcus pneumoniae Todos ± um aminoglicosídeo Haemophilus influenzae Staphylococcus aureus sensível à meticilina ≥ 5 dias no hospital Pneumonia branda a moderada Como anteriormente Como anteriormente PAH grave de “baixo risco” Pseudomonas aeruginosa Carbapenem OU ẞ-lactâmico/inibidor de ẞ1-lactamase OU Cefepima Enterobacter spp. Todos mais amicacina ou fluoroquinolona Acinetobacter spp. ≥ 2 dias no hospital PAH grave de “alto risco” Como anteriormente Como anteriormente Tabela 10. Diretrizes para o Tratamento Empírico de Pneumonia Nosocomial com Antibióticos. Fonte: Murray & Nadel Tratado de Medicina Respiratória, 2017 SE LIGA! A pneumonia nasocomial gra- ve, necessitando de cuidado em UTI, é caracterizada por progressão radiográ- fica, doença multilobar ou cavitação. Todos os outros casos de pneumonia nosocomial são considerados como formas brandas a moderadas. Critérios de alto risco incluem idade superior a 65 anos, pancreatite, doença pulmonar obstrutiva crônica, disfunção do siste- ma nervoso central (acidente vascular encefálico, overdose de drogas, coma, estado epiléptico), insuficiência cardíaca congestiva, desnutrição, diabetes melito, intubação traqueal, insuficiência renal,cirurgia toracoabdominal complicada e alcoolismo. Pneumonia Associada aos Cuidados de Saúde A abordagem ideal para a cobertura empírica da PACS permanece contro- versa em virtude das variações nos sistemas de cuidado em saúde e nas definições. Os pacientes PACS nega- tivos na cultura apresentam prognós- ticos equivalentes ou melhores quan- do tratados com antibióticos para PAC quando comparados com o tra- tamento de amplo espectro, mas são difíceis de identificar na admissão. Se iniciada com a terapia de amplo es- pectro, parece segura a diminuição para a terapia de PAC após os resul- tados da cultura serem negativos. 31PNEUMONIAS MAPA MENTAL: GERAL Terceira causa de morte CURB 65 TC de tórax Estratificação de risco CLASSIFICAÇÃO PRINCIPAIS ETIOLOGIAS DEFINIÇÃO QUADRO CLÍNICO TRATAMENTO Alta incidência nos extremos de idade Processo inflamatório agudo Pneumonia nosocomial Pneumonias associadas aos cuidados de saúde Pneumonia adquirida em comunidade Vírus respiratórios S.pneumoniae Macicez ou submacicez Febre Tosse Dispneia Dor torácica Internamento: β-lactâmico + Macrolídeo OU Fluoroquinolona isolada Ambulatorial: β-lactâmico OU Macrolídeo UTI: β-lactâmico IV + Macrolídeo IV DIAGNÓSTICOClínico Radiografia de tórax Sorologias Escarro Hemocultura 32PNEUMONIAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Goldman, Lee. Schafer, Andrew I. Goldman-Cecil Medicina, volume 2. 25. Ed. Rio de Janei- ro: Elsevier, 2018 Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Comissão de Infecções Respiratórias e Micoses. Diretrizes brasileiras para pneumonia adquirida na comunidade em adultos imunocompetentes. J Bras Pneumol. 2009;35(6):574-601 Ramirez JA. Overview of community-acquired pneumonia in adults. Post TW, ed. UpTo- Date. Waltham, MA: UpToDate Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 22 de março de 2020). Broaddus, Courtney V., et al. Murray & Nadel Tratado de Medicina Respiratória. 6. ed. Rio de Janeiro : Elsevier, 2017 Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Recomendações para o manejo da pneumonia adquirida na comunidade 2018. J Bras Pneumol. 2018;44(5):405-424 33PNEUMONIAS