Prévia do material em texto
LIBRAS MÁRCIA VALÉRIA DE SOUZA DUARTE NATACHA PERAZZOLO SUMÁRIO Esta é uma obra coletiva organizada por iniciativa e direção do CENTRO SU- PERIOR DE TECNOLOGIA TECBRASIL LTDA – Faculdades Ftec que, na for- ma do art. 5º, VIII, h, da Lei nº 9.610/98, a publica sob sua marca e detém os direitos de exploração comercial e todos os demais previstos em contrato. É proibida a reprodução parcial ou integral sem autorização expressa e escrita. CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFTEC Rua Gustavo Ramos Sehbe n.º 107. Caxias do Sul/ RS REITOR Claudino José Meneguzzi Júnior PRÓ-REITORA ACADÊMICA Débora Frizzo PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO Altair Ruzzarin DIRETORA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EAD) Rafael Giovanella Desenvolvido pela equipe de Criações para o ensino a distância (CREAD) Coordenadora e Designer Instrucional Sabrina Maciel Diagramação, Ilustração e Alteração de Imagem Igor Zattera, Jaqueline Boeira, Júlia Oliveira, Leonardo Ribeiro Revisora Luana dos Reis LEGISLAÇÃO 4 ACESSIBILIDADE 5 LIBRAS 5 INCLUSÃO E OS DIREITOS DA PESSOA SURDA 5 SÍNTESE 6 ALFABETO MANUAL DATILOLOGIA 8 SÍNTESE 20 EDUCAÇÃO DO SURDO NO BRASIL E NO MUNDO 22 SÍNTESE 28 CULTURA E COMUNIDADES SURDAS 30 SÍNTESE 32 LINGUÍSTICA DA LIBRAS 34 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE 35 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS 37 FONOLOGIA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 37 MORFOLOGIA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 38 SINTESE 43 TRANSCRIÇÃO PARA A LIBRAS 45 PRODUÇÃO TEXTUAL DO SURDO E INTERFERÊNCIAS DO PROFESSOR NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA 53 SÍNTESE 55 PAPEL DO INTÉRPRETE NO USO DE LIBRAS E SUA FORMAÇÃO 57 NASCIMENTO DA LIBRAS 58 DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 59 TILS- TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS 59 SÍNTESE 62 3LIBRAS APRESENTAÇÃO Este material foi elaborado por uma professora surda, líder ativa da comunidade de surdos e por uma Tils-Tradutora Interprete de Libras/Português, que atua na área e convive com surdos a mais de quinze anos. O intuito dessa produção é apresentar para nossos alunos de forma breve, as principais lutas dos sur- dos para garantirem seus direitos como cidadãos ao longo da história, a oficialização da Libras como se- gunda língua oficial do país, o trabalho realizado pelos intérpretes de língua de sinais e sua importância em sala de aula, como pode ser a comunicação entre ouvintes e surdos. Traremos estudos com conceitos dos surdos na visão educacional e clínica, informações sobre a Iden- tidade Surda, cultura e a comunidade surda, legislação: acessibilidade, reconhecimento à libras, inclusão e dos direitos da pessoa surda, educação do surdo no Brasil e no mundo, Linguística de Libras, transcrição à Libras, produção textual do surdo e interferência do professor no ensino da Língua Portuguesa, papel do intérprete de Libras e sua formação e vocabulário básico. Ao final dessa disciplina, o aluno terá sido exposto aos sinais para uma comunicação básica, para que o medo desse universo complexo e desconhecido possa ser amenizado, e as pessoas trazidas mais para per- to umas das outras, diminuindo as dificuldades na comunicação de surdos e ouvintes. Seja bem-vindo querido aluno, a esse universo bilingue fascinante! 4 LEGISLAÇÃO “A língua de sinais é para os olhos, o que as palavras são para os ouvidos”. 5LIBRAS SUMÁRIO ACESSIBILIDADE Acessibilidade se refere à possibilidade e condição de alcance para utilização, com segu- rança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros servi- ços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida. A Lei nº 10.098 foi criada para estabelecer normas e critérios básicos para a promoção da acessibilidade para deficientes e pessoas com mobilidade reduzida. LIBRAS Libras é a sigla de Língua Brasileira de Sinais, é uma língua natural dos surdos brasilei- ros, reconhecida no Brasil pela Lei 10.436, de 24 de abril de 2002 e pelo Decreto nº 5626/2005. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da Lín- gua portuguesa. Algumas pessoas pensam que a comunicação dos surdos se dá por meio de mímica ou gestos, o que é na verdade um grande equívoco, pois a Língua de Sinais possui uma estrutura gramatical linguística de modalidade espaço-visual, completa assim como as outras línguas. A língua de sinais é a língua natural dos deficientes auditivos e cada país apresenta a sua, bem como, alguns sinais diferem de região para região. A LIBRAS teve por base a Língua de Sinais Francesa. A Libras é diferente da Língua Portuguesa e a tradução não deve ser literal. O que dife- rencia as línguas de sinais das demais línguas orais é sua modalidade visual-espacial, pois se organiza no cérebro da mesma maneira que as línguas faladas. Para conversar em Libras, não basta apenas conhecer os sinais de forma isolada, é necessário conhecer a sua estrutura gra- matical combinando as frases. Seu vocabulário se enriquece através de novos sinais introduzi- dos pela comunidade surda em resposta às mudanças culturais e aos modos de uso, que sofrem mudanças com o passar dos tempos. Os seus usuários podem discutir filosofia, literatura, po- lítica, esportes, trabalho, etc. A Língua de Sinais propicia ao surdo a ampliação de sua rede de comunicação e garante a inclusão social do surdo. INCLUSÃO E OS DIREITOS DA PESSOA SURDA Inclusão social é o conjunto de meios e ações que combatem a exclusão e facilitam aos deficientes o acesso aos benefícios da vida em sociedade. Minimizando o afastamento provo- cado pelas diferenças de classe social, educação, idade, deficiência, gênero, preconceito social ou racial. A inclusão social visa proporcionar oportunidades iguais de acesso a bens e servi- ços a todos. Nessa mesma linha de pensamento, a Inclusão Escolar garante para a pessoa com deficiência o direito de acesso, de modo igualitário, ao sistema de ensino. O principal foco da inclusão escolar são as crianças e jovens com deficiência. A Lei nº 13.146, (popularmente co- 6LIBRAS SUMÁRIO nhecida como Lei da Inclusão) aprovada em 06 de julho de 2015, denominada como Estatuto da Pessoa com Deficiência, entrou em vigor no dia 02 de janeiro de 2016, o principal objetivo deste Estatuto é abordado no seu art. 1º que é “assegurar e promover em condições de igual- dade o exercício dos direitos e liberdades fundamentais das pessoas com deficiência, visando à inclusão social e a cidadania”. Para que realmente aconteça a inclusão escolar do surdo, é necessário a presença de um intérprete de Língua de Sinais, por sala de aula, ou professor bilíngue, materiais adaptados, professor surdo, e a equipe gestora deve ter conhecimento sobre a cultura surda e a comuni- dade surda, já que, essa deficiência não pode ser equiparada as outras, pois possui língua pró- pria-Libras e conforme a Lei, utiliza o português como forma escrita. A escola Bilíngue é o único espaço que possibilita ao surdo acesso à informação através da sua língua natural, é o lugar onde ele pode ressignificar as situações do dia a dia que lhe são apresentadas e que não tem entendimento. É na escola que sua identidade se constitui, com seus pares, com professores, com líderes surdos, que através da ação pedagógica o incenti- vam a novas descobertas e desafios. Ter acesso a Língua de Sinais, o mais cedo possível, é de fundamental importância para o sucesso deste sujeito, tanto na vida acadêmica quanto na sua vivência em sociedade. SÍNTESE Neste capítulo vimos que a Lei nº 10.098 foi criada para estabelecer normas e critérios básicos para a promoção da acessibilidade para deficientes e pessoas com mobilidade reduzi- da, garantindo o direito de todo o cidadão de utilização, com segurança e autonomia, de espa- ços, mobiliários, equipamentosurbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural. Vimos também que Libras é a sigla de Língua Brasileira de Sinais, a língua natural dos surdos brasileiros, reconhecida no Brasil pela Lei 10.436, de 24 de abril de 2002 e pelo Decre- to nº 5626/2005; possui uma estrutura gramatical linguística de modalidade espaço-visual completa, assim como as outras línguas. É a língua natural dos deficientes auditivos e cada país apresenta a sua, bem como, alguns sinais diferem de região para região. A inclusão social visa proporcionar oportunidades iguais de acesso a bens e serviços a todos e a Inclusão Escolar garante à pessoa com deficiência o direito de acesso, de modo igua- litário, ao sistema de ensino. O principal foco da inclusão escolar são as crianças e jovens com deficiência, de acordo com a Lei nº 13.146, de 06 de julho de 2015. 7LIBRAS EXERCÍCIOS SUMÁRIO 1. O que significa Libras? 2. A Libras é universal? Explique. 3. Relacione as colunas: a. Lei da Inclusão b. Lei da Libras c. Lei da acessibilidade ( ) Lei nº 10.098 ( ) Lei nº 10.436 ( ) Lei nº 13.146 8 ALFABETO MANUAL DATILOLOGIA É usado pela comunidade surda para representar palavras ou nomes próprios que não tenham sinais específicos. 9LIBRAS SUMÁRIO Alfabeto manual ou Datilologia é um sistema de representação, quer simbólica, quer icó- nica, das letras dos alfabetos das línguas orais escritas, por meio das mãos. É utilizado pela comunidade surda, faz parte da sua cultura e surgiu devido à necessidade de contato com os cidadãos ouvintes. Ele é usado pela comunidade surda para representar palavras ou nomes próprios que não tenham sinais específicos. Pode também ser utilizado pelos ouvintes, a fim de perguntar um sinal para os surdos. O alfabeto manual brasileiro é o mesmo em todo o país. Quando comparado a outros al- fabetos manuais percebemos que existem semelhanças. O Alfabeto manual pode ser classificado em dois tipos, bimanual, mais usado no Reino Unido, Austrália, África do Sul, Nova Zelândia e em algumas zonas do Canadá, e o Unimanual, usado nos Estados Unidos, Japão e na língua de sinais internacional Gestuno. 10LIBRAS SUMÁRIO 11LIBRAS SUMÁRIO 12LIBRAS SUMÁRIO 13LIBRAS SUMÁRIO 14LIBRAS SUMÁRIO 15LIBRAS SUMÁRIO 16LIBRAS SUMÁRIO 17LIBRAS SUMÁRIO 18LIBRAS SUMÁRIO 19LIBRAS SUMÁRIO 1 + 0 20LIBRAS SUMÁRIO SÍNTESE Alfabeto manual ou Datilologia é um sistema de representação, quer simbólica, quer icónica, das letras dos alfabetos das línguas orais escritas, por meio das mãos. É utilizado pela comunidade surda, faz parte da sua cultura e surgiu devido à necessidade de contato com os cidadãos ouvintes. Ele é usado pela comunidade surda para representar palavras ou nomes próprios que não tenham sinais específicos. Pode também ser utilizado pelos ouvintes, a fim de perguntar um sinal para os surdos. 21LIBRAS EXERCÍCIOS SUMÁRIO 1. Identifique as letras representadas na datilologia a seguir: a. Libras b. comida c. alfabeto 2. O que significa datilologia e quando podemos utilizar? 3. O alfabeto manual é igual em todo o mundo? 4. Ouvintes podem utilizar o alfabeto manual, por quê? 22 EDUCAÇÃO DO SURDO NO BRASIL E NO MUNDO No Brasil, até no final do século XV, os surdos eram considerados ineducáveis. 23LIBRAS SUMÁRIO A chegada do francês de Ernest Huet, professor surdo, com mestrado em Paris, foi apoia- da pelo Imperador Dom Pedro II, pois o mesmo tinha a intenção de abrir uma escola para ini- ciar o trabalho de educação de pessoas surdas. No Brasil, até no final do século XV, os surdos eram considerados ineducáveis, porém, surgem as novas doutrinas sobre a educação dos surdos vindas da Europa. Fundou-se no Rio de Janeiro a primeira escola para surdos no Brasil, O Instituto de Edu- cação dos Surdos (INES) em 26 de setembro de 1857, devido a isso, o dia do surdo é comemo- rado nesta data. O alfabeto manual, de origem francesa, foi difundido pelos próprios alunos do INES. Na- quela época, os pais traziam os alunos surdos para o Rio de Janeiro, vindos de todas as partes do Brasil. Em 1861, Huet foi embora do Brasil devido a problemas pessoais, para lecionar aos surdos no México. Foi contratado para o cargo de diretor do INES, Rio de Janeiro, o Dr. Manoel Maga- lhães Couto, que não tinha experiência na educação com os surdos. Em 1868, após a inspeção governamental, o INES foi considerado um asilo de surdos. O Dr. Tobias Leite assume a direção. Flausino José da Gama, um ex-aluno do INES, publicou o primeiro dicionário de Língua de Sinais no Brasil. O escultor surdo, Antônio Pitanga, Pernambuco, formando pela Escola de Belas Artes, foi vencedor dos prêmios: Medalha de prata (Escultura Menino Sorrindo), Medalha de ouro (Es- cultura Ícaro) e o prêmio viagem à Europa (com a Escultura Paraguassu). O surdo, Vicente de Paulo Penido Burnier, foi ordenado como padre no dia 22 de setembro de 1951. Ele esperou durante três anos uma liberação do Papa da Lei direito Canônico, que na época proibiam os surdos se tornarem padres. O surdo brasileiro, Jorge Sérgio L. Guimarães, publicou no Rio de Janeiro o livro “Até onde vai o surdo” (1961), no qual narra as suas experiências em forma de crônicas. A Confederação Brasileira de Desporto dos Surdos – CBDS, foi fundada no dia 17 de no- vembro de 1984, e o primeiro presidente surdo foi Mário Júlio de Mattos Pimentel. A Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos – FENEIS, foi fundada no dia 08 de janeiro de 1993, Rio de Janeiro – Brasil, sendo uma reestruturação da antiga ex-FENEI- DA, criada por um grupo de profissionais ouvintes, sendo a organização que implantou seus ideais de reabilitação dos deficientes auditivos. Por isso, o nome da Instituição era Federação Nacional de Educação e Integração dos Deficientes Auditivos. 24LIBRAS SUMÁRIO A história dos surdos no mundo registra seus acontecimentos históricos como grupo, que possui uma língua, uma identidade e uma cultura. Ao longo das eras, os surdos travaram grandes batalhas pela afirmação da sua identidade, da comunidade surda, da sua língua e da sua cultura, até alcançarem o reconhecimento que têm hoje, na era moderna. Entre a Idade Antiga até a Idade Média, os chineses lançavam os surdos ao mar, os gau- leses os sacrificavam ao Deus Teutates, em Esparta eram lançados do alto dos rochedos. Na Grécia, os surdos eram encarados como seres incompetentes. Aristóteles, ensinava que os que nasciam surdos, por não possuírem linguagem, não eram capazes de raciocinar. Essa crença, comum na época, fazia com que, na Grécia, os surdos não recebessem educação secular, que não tivessem direitos, que fossem marginalizados (juntamente com os deficientes mentais e os doentes) e que muitas vezes fossem condenados à morte. No entanto, em 360 a.C., Sócrates, declarou que era aceitável que os surdos se comunicassem com as mãos e o corpo. Os romanos, influenciados pelo povo grego, tinham ideias semelhantes acerca dos surdos, vendo-os como seres imperfeitos, sem direito a pertencer à sociedade, de acordo com Lucrécio e Plínio. Era comum lançarem as crianças surdas (especialmente as pobres) ao rio Tibre, para serem cuidadas pelas Ninfas. O imperador Justiniano, em 529 a.C., criou uma lei que impossi- bilitava os surdos de celebrar contratos, elaborar testamentos e até de possuir propriedades ou reclamar heranças (com excepção dos surdos que falavam). Em Constantinopla, as regras para os surdos eram basicamente as mesmas. No entanto, lá os Surdos realizavam algumas tarefas, tais como o serviço de corte, como pajens das mulheres ou como bobos, de entretenimento do sultão. Mais tarde, Santo Agostinho defendeu a ideia deque os pais de filhos surdos estavam a pagar por algum pecado que haviam cometido. Acreditava que os surdos podiam se comunicar por meio de gestos, em equivalência à fala, e dessa forma poderiam obter a salvação da alma. Os cristãos, até à Idade Média, criaram que os surdos, diferente dos ouvintes, não possuíam uma alma imortal, uma vez que eram incapazes de proferir os sacramentos. John Beverley, em 700 d.C., ensinou um surdo a falar, pela primeira vez (em que há re- gisto). Por essa razão, ele foi considerado por muitos como o primeiro educador de surdos. Foi só no fim da Idade Média e início do Renascimento, que saímos da perspectiva religiosa para a perspectiva da razão, em que a deficiência passa a ser analisada sob a óptica médica e científica. Entre a Idade Média e Idade Moderna, Pedro Ponce de León, um monge católico da or- dem dos beneditinos, inicia, mundialmente, a história dos surdos, tal como a conhecemos hoje em dia. Para além de fundar uma escola para surdos, em Madrid, ele dedicou grande parte da sua vida a ensinar os filhos surdos, de pessoas nobres, que de bom grado lhe encarregavam os filhos, para que pudessem ter privilégios perante a lei (assim, a preocupação geral em educar os surdos, na época, era tão somente econômica). León desenvolveu um alfabeto manual, que ajudava os surdos a soletrar as palavras (há quem defenda a ideia de que esse alfabeto manual foi baseado nos gestos criados por monges, que se comunicavam entre si desta maneira, pelo fato de terem feito voto de silêncio). Nesta época, era costume que as crianças que recebiam este tipo de educação e trata- mento fossem filhas de pessoas que tinham uma situação econômica boa. As demais eram co- 25LIBRAS SUMÁRIO locadas em asilos com pessoas das mais diversas origens e problemas, pois não se acreditava que pudessem se desenvolver em função da sua “anormalidade”. O Abade Charles-Michel de L’Épée, fundador da primeira escola para surdos, nascido em 1712, ensinava, numa primeira fase, os surdos, por motivos religiosos. Muitos o consideravam criador da língua gestual, embora saibamos que a mesma já existia antes dele, L’Épée reco- nheceu que essa língua realmente existia e que se desenvolvia (embora não considerasse uma língua com gramática). Os seus principais contributos foram: • Criação do Instituto Nacional de Surdos-Mudos em Paris (primeira escola de Surdos do mundo). • Reconhecimento do surdo como ser humano, por reconhecer a sua língua. • Adoção do método de educação coletiva. • Reconhecimento de que ensinar o surdo a falar seria perda de tempo, antes que se devia ensinar-lhe a língua gestual. Em 1880, nasce Hellen Adams Keller, nos Estados Unidos. Hellen ficou cega e surda aos 18 meses de idade por causa de uma doença. Aos 7 anos, Hellen havia criado cerca de 60 gestos (br: sinais) para se comunicar com os familiares. Anne Sulivan, a professora de Hellen, isolou- -a do resto da família, conseguindo disciplinar e ensinar Hellen. Sullivan ensinou a Hellen o método de Tadona, que consiste em tocar os lábios e a garganta da pessoa que fala, sendo isso combinado com datilologia na palma da mão. Hellen aprendeu a ler inglês, francês, alemão, grego e latim, através do braile. Aos 24 anos, formou-se em Radcliffe. Foi sufragista, pacifista e apoiante do planeamento familiar. Fundou o Hellen Keller International, uma organização para prevenir a cegueira. Publicou muitos livros e foi galardoada por Lydon B. Johnson, com a Presidential Medal od Freedoms. CONGRESSO DE MILÃO Para Perlin e Strobel (2006) o fato mais marcante na história da Educação de Surdos foi o Congresso de Milão ocorrido no ano de 1880, no qual, através de uma votação, com o público predominante de professores ouvintes, ficou decidido que a Língua de Sinais seria abolida da educação de surdos, prevalecendo o uso da língua oral. Segundo as autoras, essa decisão teve um impacto arrasador na educação dos surdos, que foram proibidos de utilizarem sua língua e tiveram que abandonar sua cultura por um período de aproximadamente cem anos. Esse foi um momento obscuro na história dos surdos, até o momento em que um grupo de ouvintes tomou a decisão de excluir a língua gestual do ensino de surdos, substituindo-a pelo oralismo (o comitê do congresso era unicamente constituído por ouvintes). Em consequ- 26LIBRAS SUMÁRIO ência disso, o oralismo foi a técnica preferida na educação dos surdos durante fins do século XIX e grande parte do século XX. O Congresso durou 3 dias, nos quais foram votadas 8 resoluções, sendo que apenas uma (a terceira) foi aprovada por unanimidade. As resoluções são: • o uso da língua falada no ensino e educação dos surdos, deve preferir-se à língua gestual; • o uso da língua gestual em simultâneo com a língua oral, no ensino de surdos, afetar a fala, a leitura labial e a clareza dos conceitos, pelo que a língua articulada pura deve ser preferida; • os governos devem tomar medidas para que todos os surdos recebam educação; • o método mais oportuno para os surdos se apropriarem da fala é o método intuitivo (pri- meiro a fala depois a escrita); a gramática deve ser ensinada através de exemplos práti- cos, com a maior clareza possível; devem ser facultados aos surdos livros com palavras e formas de linguagem conhecidas pelo surdo; • os educadores de surdos, do método oralista, devem aplicar-se na elaboração de obras específicas desta matéria; • os surdos, depois de terminado o seu ensino oralista, não esqueceram o conhecimento adquirido, devendo, por isso, usar a língua oral na conversação com pessoas falantes, já que a fala se desenvolve com a prática; • a idade mais favorável para admitir uma criança surda na escola é entre os 8-10 anos, sendo que a criança deve permanecer na escola um mínimo de 7-8 anos; nenhum edu- cador de surdos deve ter mais de 10 alunos em simultâneo; • com o objetivo de se implementar, com urgência, o método oralista, deviam ser reunidas as crianças surdas recém admitidas nas escolas, onde deveriam ser instruídas através da fala; essas mesmas crianças deveriam estar separadas das crianças mais avançadas, que já haviam recebido educação gestual, a fim de que não fossem contaminadas; os alunos antigos também deveriam ser ensinados segundo este novo sistema oral. • uma década depois do Congresso de Milão, acreditava-se que o ensino da língua gestual quase tinha desaparecido das escolas em toda a Europa, e o oralismo espalhavase para outros continentes. Nesta breve abordagem sobre a história da educação de surdos, é importante destacar os métodos utilizados pelos professores envolvidos no processo de ensino e comunicação de surdos, sendo eles: 27LIBRAS SUMÁRIO Como abordado pelas autoras Perlin e Strobel (2006), com a proibição da Língua de Si- nais no ano de 1880, o método de comunicação passou a ser apenas a oralização ou método oralista, baseado na concepção de que o surdo deveria se expressar através do treino da fala e utilizar-se da leitura labial – (leitura dos lábios de quem está falando). O segundo método utilizado na educação de surdos, na verdade, é resultado da junção da Língua Oral com a Língua de Sinais, sendo chamado de método da comunicação total. Lem- brando que a Língua de Sinais tem características gestuais/visuais, diferenciando-se da língua oral. Esse método, na verdade, pouco contribuiu, podendo até mesmo ter levado ao uso ina- dequado da Língua de Sinais, pois deu origem ao que denominamos, atualmente, de português sinalizado; utilizado por quem não conhece verdadeiramente a Língua de Sinais em sua estru- tura e características próprias. O terceiro método denomina-se bilinguismo, sendo baseado no aprendizado da Língua de Sinais como primeira Língua do Surdo. Segundo essa proposta, a criança surda deve iniciar precocemente o contato com adultos surdos, que a ensinem a Língua de Sinais, sua Língua natural e,somente a partir desse momento, terá condições de iniciar o aprendizado da Língua Oral como segunda Língua. FILOSOFIAS EDUCACIONAIS PARA SURDOS: ORALISMO O oralismo tem como característica principal, a ideia de que o surdo necessita aprender a língua oral de seu país e não pode usar a Língua de Sinais. FILOSOFIAS EDUCACIONAIS PARA SURDOS: COMUNICAÇÃO TOTAL A Comunicação Total, em oposição ao Oralismo, acredita que somente o aprendizado da língua oral não assegura pleno desenvolvimento da criança. A Comunicação Total valoriza a comunicação e a interação, e não apenas a língua; seu objetivo não se restringe ao aprendiza- do de uma língua. Outro aspecto bem interessante nesta filosofia é que a família é respeitada e valorizada, além de mostrar o papel da família na hora de compartilhar valores e significados. A Comunicação Total defende a utilização de qualquer recurso linguístico, seja a língua de sinais, ou a língua oral para facilitar a comunicação com as pessoas. FILOSOFIAS EDUCACIONAIS PARA SURDOS: BILINGUISMO O bilinguismo tem como pressuposto básico, a necessidade do surdo ser bilíngue, ou seja, deve adquirir a Língua de Sinais, que é considerada a língua natural dos surdos, como língua materna e como segunda língua, a língua oral utilizada em seu país. Estas duas não devem ser utilizadas simultaneamente para que suas estruturas sejam preservadas. 28LIBRAS SUMÁRIO SÍNTESE O Congresso de Milão, em 1880, foi um momento obscuro na história dos surdos, quando um grupo de ouvintes tomou a decisão de excluir a língua gestual do ensino de surdos, substituindo-a pelo oralismo (o comitê do congresso era unicamente constituído por ouvintes). Em consequência disso, o oralismo foi a técnica preferida na educação dos surdos durante fins do século XIX e grande parte do século XX. Essa decisão teve um impacto arrasador na Educação dos surdos, que foram proibidos de utilizarem sua língua e tiveram que abandonar sua cultura por um período de aproximadamente cem anos. Houveram retrocessos e variadas formas de tentar ensinar os surdos, entre eles: oralismo, comuni- cação total e por fim o bilinguismo. Já em 1856, com a chegada do conde francês Ernest Huet ao Brasil, trazido pelo Imperador Dom Pe- dro II, fundou-se no Rio de Janeiro a primeira escola para surdos no Brasil, O Instituto de Educação dos Surdos (INES) em 26 de setembro de 1857, devido a isso, o dia do surdo é comemorado nesta data. 29LIBRAS EXERCÍCIOS SUMÁRIO 1. Qual é o dia do surdo no Brasil e por quê? 2. Faça uma breve síntese do que aconteceu no Congresso de Milão e fale sobre as consequências, explicitando sobre oralismo, comunicação total e bilinguismo. 3. Assista ao filme “O Milagre de Anne Sulivan” e deixe seus comentários. https://www.youtube.com/watch?v=uvtaTbdcxsE https://www.youtube.com/watch?v=uvtaTbdcxsE 30 CULTURA E COMUNIDADES SURDAS Existe a cultura surda? Por que muitos sujeitos dizem que não existe cultura surda? O povo Surdo, de fato, produz uma cultura? (STROBEL, p.15 - 2008). 31LIBRAS SUMÁRIO Na teoria moderna, a cultura se torna sabedoria grandiosa ou arma ideológica, uma forma isola- da de crítica social. Esta teoria possui a ideia de uma cultura única e perfeita, a alteridade e a diferença são vistas como mancha para a sociedade, fazendo com que tenham a necessidade de transformação do outro, isto é, como já ilustrado anteriormente, moldando os sujeitos para serem iguais a eles. Cultura surda é o jeito do sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo, a fim de tor- ná-lo acessível e habitável ajustando-os com as suas percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das almas das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os hábitos de povo surdo (STROBEL, p.24 – 2008). As comunidades surdas no Brasil têm uma longa história. O povo surdo brasileiro dei- xou muitas tradições e histórias em suas organizações. Essas organizações – as associações de surdos, federações de surdos, igrejas e outros – também tiveram e têm o papel importante que é a transmissão cultural, esportiva, política, religiosa e fraternal pelos povos surdos. Vejamos alguns artefatos mais importantes: a. Artefato cultural: experiência visual É a experiência visual em que os sujeitos surdos percebem o mundo de maneira diferente, a qual provoca as reflexões de suas subjetividades. Os sujeitos surdos, com a sua ausência de audição e do som, percebem o mundo através de seus olhos. b. Artefato cultural: linguístico A Língua de Sinais é um aspecto fundamental de cultura surda, os gestos denominados “sinais emergentes” ou “sinais caseiros” dos sujeitos surdos de zonas rurais ou sujeitos isola- dos de comunidades surdas que procuram entender o mundo através dos experimentos visuais se procuram comunicar apontados e criam sinais, pois não tem conhecimentos de sons e de palavras. c. Artefato cultural: familiar O nascimento de uma criança surda é um acontecimento alegre na existência para a maio- ria das famílias surdas. Acontece que em famílias ouvintes, com filhos surdos, acarreta com muita frequência, o aconselhamento dos médicos e profissionais da área, para que os pais não usufruam da Língua de Sinais, desmotivando os filhos para que não usem também, alegan- do que isto provocaria atraso na aquisição da Língua Portuguesa. Na verdade, não prejudicam nada atraso de aquisição de L2 (Língua Portuguesa) e desenvolvimento com a Língua de Sinais compartilhada L2. É importante que a família conheça a cultura e comunidade surda para ajudar no cresci- mento e desenvolvimento da linguagem. d. Artefato cultural: literatura surda A Literatura se multiplica em diferentes gêneros: poesia, história de surdos, piadas, lite- ratura infantil, clássicos, fábulas, contos, romances, lendas e outras manifestações culturais. 32LIBRAS SUMÁRIO Em Língua de sinais, têm sido gravados em CD-ROM, vídeos e DVD, servindo como fon- tes para as várias pesquisas realizadas pelos sujeitos surdos e ouvintes na universidade. A literatura surda também envolve as piadas surdas que exploram a expressão facial e corporal, o domínio da língua de sinais e a maneira de contar piadas naturalmente. e. Artefato cultural: vida social e esportivo São acontecimentos culturais, tais como casamentos entre os surdos, festas, lazeres e atividades nas associações de surdos, eventos esportivos e outros. Houve a necessidade de criar as organizações que promovem intercâmbio dos diversos eventos esportivos dos surdos. No Brasil, a CBDS – Confederação Brasileira de Desportos de Surdo, ICSD – International Committee of sports for the deaf, PANAMDES – Panamericano de Desportos de sordos, CONSUDES – Confederación Sudamericana Desportiva de Sordos, que buscam adaptações culturais para surdos nas práticas esportivas. f. Artefato cultural: artes visuais Os povos surdos fazem muitas criações artísticas que sintetizam suas emoções, suas his- tórias, suas subjetividades e a sua cultura. g. Artefato cultural: política A comunidade surda é a política que consiste em diversos movimentos e lutas do povo surdo pelos seus direitos. Enfim, há grande dificuldade da sociedade em entender a existência da cultura surda, porque a maioria das pessoas baseia-se num “universalismo”. SÍNTESE Cultura surda é o jeito do sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim de se torná-lo acessível e habitável ajustando-os com as suas percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das almas das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os hábitos de povo surdo (STROBEL, p.24 – 2008). As comunidades surdas no Brasil têm uma longa história. O povo surdo brasileiro deixou muitas tradições e histórias em suas organizações. Essas organizações – as associações de surdos, federações desurdos, igrejas e outros – também tiveram e têm o papel importante que é a transmissão cultural, esportiva, política, religiosa e fraternal pelos povos surdos. 33LIBRAS EXERCÍCIOS SUMÁRIO 1. Explique o que é cultura: 2. O que é cultura surda? 3. O que você entende por comunidade surda? 4. Assista o vídeo do link, para você ter uma compreensão mais clara sobre “Piadas Surdas”. https://www.youtube.com/watch?v=9iL1cA0ggN0 https://www.youtube.com/watch?v=9iL1cA0ggN0 34 LINGUÍSTICA DA LIBRAS A língua de sinais é considerada como língua natural. 35LIBRAS SUMÁRIO Prezado, aluno! Quero começar esse capítulo esclarendo alguns equívocos recorrentes. 1º Libras é uma Língua, não uma linguagem. 2º As línguas de sinais não dependem e nem descendem das línguas orais. A língua de sinais é considerada como língua natural, pois surgiu através da interação espontânea entre os indivíduos. Possui gramática própria, níveis linguísticos, sintático, se- mântico, morfológico, fonológico e pragmático, sendo assim, confere aos usuários a possibi- lidade de expressarem os mais variados enunciados (BRITO, 1998). Sendo a língua de sinais gestual-visual, seu canal de comunicação é o espaço, onde são articulados e produzidos os discursos, sinais e textos. Também é considerada a língua mater- na dos surdos, já que, a mesma está ligada a um canal que não é o oral-auditivo. Essa língua gestual-visual garante ao surdo uma percepção e articulação coerentes e confortáveis, e ainda contribui para seu desenvolvimento cognitivo, linguístico e social. ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE Muitas vezes, as línguas de sinais são consideradas puramente icônicas, devido a sua modalidade, existe a crença de que os sinais são criados a partir da representação do referente, óbvio que isso pode acontecer, mas não é via de regra obrigatório. Pelo contrário, a maioria dos sinais em Libras são arbitrários, já que não seguem uma relação de similitude com o referente (STROBEL & FERNANDES, 1998). Sinais icônicos: trazem semelhança com seu referente. Exemplo: o sinal de casa é icôni- co, pois remete a uma: casa carro árvore 36LIBRAS SUMÁRIO Sinais arbitrarios: não tem relação de semelhança com seu referente. Exemplo: azar desculpe fazer 37LIBRAS SUMÁRIO VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS A língua está em constante evolução, é dinâmica, um produto social em permanente in- conclusão, “(...) é intrinsecamente heterogênea, múltipla, variável, instável e está sempre em des- construção e em reconstrução” (BAGNO, 2007, p.35). Esse fenômeno linguístico denominado variação, também é percebido na Libras, depen- dendo da região, da classe social, da faixa etária, do grau de escolarização, sexo, redes de con- vívio social e área de atuação profissional. FONOLOGIA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS Apesar da língua de sinais ser de modalidade gestual-visual, sendo percebida pelos olhos e expressa pelas mãos, o termo fonologia está presente nos estudos sobre a sua linguística. Quadros (2004, p.47) define a fonologia das línguas de sinais da seguinte forma: Fonologia das línguas de sinais é o ramo da linguística que objetiva identificar a estru- tura e a organização dos constituintes fonológicos, propondo modelos descritivos e explanatórios. A primeira tarefa da fonologia para língua de sinais é determinar quais são as unidades mínimas que formam os sinais. A segunda tarefa é estabelecer quais são os padrões possíveis de combinação entre essas unidades e as variações possíveis no ambiente fonológico. Quadros (2004) propôs a decomposição dos sinais em três parâmetros: a. Configuração de Mão, (CM), “é definida como a forma assumida pela mão durante a arti- culação de um sinal” (STROBEL & FERNANDES, 1998). b. Locação da mão ou ponto de articulação “é o lugar do corpo onde o sinal será realizado” (STROBEL & FERNANDES, 1998). c. Movimento da mão, “demonstra o deslocamento da mão durante a execução do sinal, possuindo diferentes formas e direções, os sinais podem ter ou não movimento” (STRO- BEL & FERNANDES, 1998). Acrescentando posteriormente outros parâmetros a sua pesquisa da fonologia de sinais: d. Orientação da mão, é “a direção que a palma da mão indica na realização do sinal” (QUA- DROS, 2004). e. Expressões faciais e corporais, “distinguem significados entre sinais. Além disso, podem traduzir tristeza, alegria, medo, raiva, mágoa, amor, encantamento e outros sentimentos. Podem indicar afirmação, negação, interrogação e exclamação” (QUADROS, 2004). 38LIBRAS SUMÁRIO MORFOLOGIA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS A morfologia se aplica ao estudo da estrutura interna, como as palavras ou os sinais se formam e a forma de classificação. Podemos entender com isso, que as formações de sinais se originam a partir de parâmetros relacionados às configurações de mão, ponto de articulação, expressão facial, corporal e movimento. Lembrando que os morfemas são as unidades míni- mas com significado. A partir desse conceito, pode-se afirmar que as formações dos sinais se originam da com- binação dos parâmetros configuração de mão, ponto de articulação, movimento, expressão facial e corporal, agora considerados morfemas, ou seja, unidades mínimas com significado, como explica Felipe (2006, p. 202): Estes cinco parâmetros podem expressar morfemas através de algumas configurações de mão, de alguns movimentos direcionados, de algumas alterações na frequência do movimento, de alguns pontos de articulação na estrutura morfológica e de alguma expressão facial ou movimento de cabeça concomitante ao sinal, que, através de alte- rações em suas combinações, formam os itens lexicais das línguas de sinais. 39LIBRAS SUMÁRIO Quanto à classe de palavras e categorias lexicais temos: a. Para diferenciar o gênero, seja em humanos ou animais, usa-se o sinal de homem ou mulher e o do tipo de “animal”. Exemplo: cachorra tio vovó 40LIBRAS SUMÁRIO b. Adjetivos, para expressá-los usa-se expressão facial e intensificação do sinal. Exemplo: lindo feio 41LIBRAS SUMÁRIO c. Os pronomes se valem da organização espacial, dependendo da pessoa que se quer re- presentar. Exemplo: eu ele tu 42LIBRAS SUMÁRIO d. Segundo Brito (1997), a questão temporal utiliza itens lexicais ou sinais adverbiais como: passado futuro presente 43LIBRAS SUMÁRIO SINTESE Libras é uma Língua, não uma linguagem. As línguas de sinais não dependem e nem descendem das línguas orais. A língua de sinais é considerada uma língua natural, pois surgiu através de interação espontânea en- tre os indivíduos. Possui gramática própria, níveis linguísticos, sintático, semântico, morfológico, fono- lógico e pragmático, sendo assim, confere aos usuários a possibilidade de expressarem os mais variados enunciados (BRITO, 1998). Sendo a língua de sinais gestual-visual, seu canal de comunicação é o espaço, onde são articulados e produzidos os discursos, sinais e textos. Também é considerada a língua materna dos surdos, já que a mesma está ligada a um canal que não é o oral-auditivo. Essa língua gestual-visual, garante ao surdo uma percepção e articulação coerentes e confortáveis, e ainda contribui para seu desenvolvimento cognitivo, linguístico e social. 44LIBRAS EXERCÍCIOS SUMÁRIO 1. Assinale V para verdadeiro e F para falso: ( ) A linguagem de sinais é natural para os surdos e surgiu espontaneamente. ( ) Como Libras não usa a fala, não tem som, é impossível ter fonologia. ( ) Devido a Libras ser uma língua gestual-visual, sua estruturação gramatical fica im- possibilitada de estudo. 2. Como podemos demarcar questões de tempo durante o discurso em língua de sinais? 3. Sobre questões de gênero, como é possível demarcá-los no discurso em língua de sinais? 4. O que é iconicidade, dê exemplos. 5. O que é arbitrariedade, dê exemplos. 45 TRANSCRIÇÃO À LIBRAS Você conhece o sistema de transcrição à Libras? 46LIBRAS SUMÁRIOÉ necessário esclarecer que a Transcrição para a Libras, não é o mesmo que a Escrita da Libras (SignWriting). O Sistema de transcrição para língua de sinais, tem sido utilizado por pes- quisadores em várias partes do mundo e no Brasil em outros países utiliza-se a língua escrita e sinalizada própria de cada país. Vejamos: Exemplo A: no Brasil, os sinais da Libras são representados por itens lexi- cais da Língua Portuguesa em letra maiúscula: ÁRVORE CERTO CARRO 47LIBRAS SUMÁRIO Exemplo B: um único sinal da Libras, correspondente a duas palavras na Língua Portu- guesa, deve ser escrito com hífen: GUARDA-CHUVA CORTAR-COM-TESOURA 48LIBRAS SUMÁRIO Exemplo C: para dois ou mais sinais da Libras, correspondentes a uma única palavra em Português, deve-se unir as palavras com o acento circunflexo entre elas e o sinal de igualdade, mostrando seu resultado. Observe: CAVALO^LISTRA = ZEBRA 49LIBRAS SUMÁRIO Exemplo D: quando se tratar de Datilologia, cada letra deve ser apresentada separada por hífen. Exemplo F: quando houver empréstimo de uma língua para a outra (Português →Libras) a palavra deverá ser escrita em itálico: D-A-N-I-E-L NUNCA NUNCA 50LIBRAS SUMÁRIO Exemplo G: em Libras, não ocorre desinência de gênero e/ou número, para tal represen- tação utiliza-se o carácter @: ME@ (minha/ meu) EL@ (ele/ ela) EL@ (ele/ ela) 51LIBRAS SUMÁRIO Os sinais da Língua Portuguesa podem ser empregados livremente, contando que se ob- serve a forma correta de uso. A forma de Transcrição da Libras é de fácil compreensão, como percebemos, basta aten- ção e cuidado para passar a mensagem de forma clara ao interlocutor. SÍNTESE A Transcrição da Libras é usada principalmente por pesquisadores, para que possam ex- pressar de forma escrita algumas palavras, tendo essa convenção, fica mais fácil a compreen- são do que se pretende transmitir ao interlocutor. Essa forma de transcrição também é usada em outras partes do mundo, em outras línguas de sinais, geralmente com os mesmos fins. 52LIBRAS EXERCÍCIOS SUMÁRIO 1. Considerando que você queira escrever alguns sinais utilizando a Língua Portuguesa escrita como base, qual a forma correta de fazê-lo? 2. Como represento um sinal que dependa de duas ou mais palavras da Língua Portuguesa? 3. Como represento uma palavra da Língua Portuguesa que dependa de dois ou mais sinais da Libras? 4. Em relação a desinência de gênero, qual a forma adequada de representação? 53 PRODUÇÃO TEXTUAL DO SURDO E INTERFERÊNCIAS DO PROFESSOR NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA Você conhece as dificuldades que a comunidade surda enfrenta? 54LIBRAS SUMÁRIO A história nos relata as dificuldades enfrentadas pelos surdos para a aquisição da apren- dizagem da língua escrita e da leitura, sendo que, estas sempre foram atribuídas à surdez. Entretanto, graças a estudos recentes, tem-se observado que, na verdade, o fato de não haver consideração com as especificidades linguísticas dos surdos na hora do ensino, é o que se interpõe entre o surdo e o aprendizado adequado. A maioria dos surdos adultos e jovens, não teve um ensino escolar que respeitasse suas especificidades linguísticas, ou seja, baseada na língua de sinais (FERNANDES, 2006; KARNOPP e PEREIRA, 2012). “Assim como o ouvinte que entra em contato com um idioma diferente de sua língua materna, o surdo toma como base os elementos da língua que mais domina para o entendimento da outra, aproximando-as e confrontando-as, para a construção do sig- nificado” (ALMEIDA, SANTOS E LACERDA, 2015). Para que o surdo possa aprender o português como segunda língua L², é necessário usar como base uma língua que ele compreenda- a língua de sinais L¹, que deverá ser o seu Norte para a construção do conhecimento (LODI, 2004). Ensinar o português para um surdo, em sala de aula, onde a maioria é ouvinte, com cer- teza é uma péssima estratégia, fadada ao fracasso, pois o professor conduzirá a aula de forma a atender a maioria ouvinte, da qual o português é a língua materna, contrário do surdo, que a língua materna é a de sinais (ALMEIDA, SANTOS E LACERDA, 2015). O que traz à discussão mais uma questão importante: e o surdo privado da companhia de seus iguais, que não domina a língua de sinais? Que base ele terá na hora da aprendizagem? A falta de convívio com pares iguais, usuários de língua de sinais, adicionada a toda a discrimi- nação feita por ouvintes referente a oralização, e ainda, levando em conta o fato que a maioria das famílias é compostas por ouvintes, nas quais frequentemente os ouvintes são em numero maior e não conhecem/usam a língua de sinais, pergunto, que oportunidade esse sujeito surdo terá de desenvolver a linguagem de forma adequada? Tendo em vista os inúmeros fracassos em trabalhos acadêmicos dos surdos que foram incluídos na rede regular de ensino, é iminente a necessidade de uma mudança no modo de ensino que vem ocorrendo. Um número demasiadamente grande de surdos egressos da educa- ção básica, não teve a oportunidade de serem alfabetizados (ALMEIDA, SANTOS E LACERDA, 2015). Em algumas vivências mencionadas por intérpretes, foram raras às vezes que os surdos compreenderam o que estavam lendo de forma satisfatória. Como uma pessoa que não sabe o que significam as palavras que lê ou escreve terá opor- tunidades iguais aos outros? Num concurso, por exemplo, muitas pessoas surdas têm a enorme vontade de crescer na vida, de passar num concurso público e ter tranquilidade na vida profis- sional, no entanto, as provas são digitadas em português, com inúmeras pegadinhas próprias da língua. 55LIBRAS SUMÁRIO Peço que reflita conosco, de forma empática: você chega a um país que não fala sua lín- gua, os profissionais da educação não estão preparados para ensinar a você uma forma ade- quada de aprendizado dessa língua escrita, mas você precisa estar ali, é sua casa agora, você precisa trabalhar, mesmo que no seu ambiente de trabalho ninguém saiba como se comunicar com você, alguns até tentam por gestos, mímica, mas uma conversa profunda, uma piada, um desabafo...isso não tem como acontecer, ninguém entende o que você quer, o que você precisa... no restaurante, no mercado, na farmácia, no médico...Consegue se colocar de fato nesse papel? É desesperador, desolador. SÍNTESE Para que o surdo possa aprender o português como segunda língua L², é necessário usar como base uma língua que ele compreenda - a língua de sinais L¹, que deverá ser o seu Norte para a construção do conhecimento (LODI, 2004). Ensinar o português para um surdo, em sala de aula onde a maioria é ouvinte, com cer- teza é uma péssima estratégia, fadada ao fracasso, pois o professor conduzirá a aula de forma a atender a maioria ouvinte, da qual o português é a língua materna, contrário do surdo, que a língua materna é a de sinais (ALMEIDA, SANTOS E LACERDA, 2015). 56LIBRAS EXERCÍCIOS SUMÁRIO 1. Coloque V para verdadeiro e F para falso ( ) Para ensinar o surdo a ler e escrever basta o professor conhecer profundamente a Língua Portuguesa. ( ) Numa sala de aula, onde a maioria de pessoas é ouvinte, o professor priorizará a maioria. ( ) É impossível ensinar um surdo a ler e escrever sem respeitar suas especificidades linguísticas. ( ) No Brasil, a língua materna dos ouvintes é o Português, que para estes é conhecida como L¹, para os surdos a língua materna é Li- bras, e para estes também é a L¹. ( ) Quando um ouvinte adquire a proficiência em Libras, ela passa a ser sua segunda língua, nesse caso a L². Da mesma forma acontece com o surdo quando aprende a ler e escrever em Português, essa passa a ser sua segunda língua L². Para mais informações a respeito do assunto, sugiro a leitura do artigo “O ensino do Português como segunda língua para surdos: estratégias didáticas”. Disponível na revista online através do link: http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=470http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=470 57 PAPEL DO INTÉRPRETE NO USO DE LIBRAS E SUA FORMAÇÃO “Até hoje mais de um sinal utilizado em nosso país tem sua explicação em algum costume francês”. 58LIBRAS SUMÁRIO NASCIMENTO DA LIBRAS Caro, aluno! Como aprendemos no capítulo 3, foi com a chegada do conde francês, Ernest Huet, ao Brasil, em 1856, que a Língua Brasileira de Sinais teve sua origem. O material trazido pelo conde, que era surdo, foi a base da Libras (Menezes, 2006, p. 92), inclusive, até hoje, mais de um sinal utilizado em nosso país tem sua explicação em algum costume francês, podemos citar como exemplo o sinal de sexta feira: • Configuração de mão: “X” • Ponto de articulação: queixo • Movimento: raspa-se o dedo indicador do lado do lábio inferior. Esse sinal na França significava peixe, os religiosos no Brasil costuma- vam comer peixe na sexta feira, sendo assim, incorporou-se o sinal em nossa língua, mas com outro significado. 59LIBRAS SUMÁRIO Como vimos, primeira instituição no Brasil a desenvolver trabalhos com surdos surgiu em 1857, nomeada “Instituto dos Surdos-Mudos do Rio de Janeiro”, hoje registrada como “Ins- tituto Nacional de Educação de Surdos (INES)”, sede dos principais divulgadores da Libras. A criação dos símbolos, chamada de iconografia dos sinais, só foi divulgada em 1873, por Flausi- no José da Gama, aluno surdo. Um misto da Língua de Sinais Francesa com a Língua de Sinais Brasileira antiga (MENEZES, 2006). DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS O início (muito singelo) da consciência sobre a discriminação, teve sua origem em 1948, com a aprovação da Declaração dos Direitos Humanos, pela Assembleia Geral das Nações Uni- das, que pregava o direito de toda pessoa à Educação. O Brasil apresentou encaminhamentos buscando assegurar a todos esses direitos. Nossas constituições de 1967 e 1969 consideraram os princípios da declaração (Reily, 2004, p. 114): Artigo 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de acesso e permanência na escola” como um dos princípios para o ensino e aponta como dever do Estado a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de en- sino (Art. 208). TILS - TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS O Tils existe há séculos, pessoas da família, religiosos, simpatizantes que se dispunham a auxiliar os surdos. A profissão foi regulamentada e reconhecida por lei, recentemente: Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010, regulamentando a profissão de tradutor e intér- prete da Libras. Atendendo aos Arts. 2° e 4° (Brasil, 2010, p. 1), o tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das duas línguas de maneira simultânea ou consecutiva e profici- ência em tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa. Para que o aluno surdo tenha acesso à educação, seus direitos devem ser respeitados e o Tils é imprescindível, pois esse profissional bilíngue deve estar presente em todos os ambien- tes que possam circular pessoas surdas. O papel do Tils “educacional” é mediar a comunicação entre o aluno, professor, colegas e funcionários da instituição. 60LIBRAS SUMÁRIO Aluno surdo Aluno surdo Tils Tils Tils Tils Professor Colegas Alunos Pessoas em geral Professor surdo Aluno/professor surdo 61LIBRAS SUMÁRIO Para tanto, o profissional deve ser proficiente em Libras e Português, tendo certificação apropriada e reconhecida pelo MEC em curso de Capacitação em Tradução e Interpretação e o certificado de Proficiência em Libras/Português- PROLIBRAS, ou graduação em Letras/Libras. Esses cursos preparam o profissional para fazer a tradução (se escrita), ou a interpreta- ção (se simultânea) da L¹ (língua fonte), para a L² (língua alvo) e vice-versa, desenvolvendo competências linguísticas e tradutórias, técnicas de expressão facial e corporal (parte inte- grante da Língua de sinais), ensinam a utilizar o espaço reservado ao seu trabalho, apresentam ao profissional as normas éticas que regem a profissão, entre muitas outras coisas essenciais para um trabalho profissional e de qualidade irrepreensível. Toda tradução/interpretação deve ser cultural. O trabalho do intérprete não pode ser visto apenas como um trabalho linguístico; tam- bém é necessário considerar a esfera cultural e social na qual o discurso está sendo anunciado, sendo fundamental conhecer o funcionamento e os diversos usos da linguagem (LACERDA, 2011, p. 21). O profissional não segue o que chamamos de “português sinalizado” (nesse caso para cada palavra em português, utiliza-se um sinal), o que muitas vezes causa confusão nos es- pectadores ouvintes com conhecimento “básico” da Libras, pois para que a tradução/inter- pretação seja apropriada e fiel ao enunciado nem sempre os “sinais” utilizados correspondem ao que está sendo falado em português. Essa mediação entre culturas exige muita capacidade tradutória e conhecimento prévio das duas línguas, bem como, das culturas em questão, cos- tumes e expressões - chamamos isso de “escolhas tradutórias” e são subjetivas, baseadas nas idiossincrasias do profissional. Isso não significa dizer que o Tils mudará o foco ou sentido do enunciado, ao contrário, esse jogo entre as culturas é o que garante que o real sentido do discurso seja respeitado. Em sala de aula, o Tils é desafiado a todo o momento, pois deverá receber o enunciado, ou seja, o conteúdo apresentado pelo professor da disciplina (que talvez ele não domine e nem tem essa obrigação), compreender, organizar mentalmente as informações recebidas em uma língua e cultura e entregá-las ao sujeito para quem está interpretando em outra língua e cul- tura, todo esse processo tradutório exige elevada atenção e capacidade cognitiva. Por isso, é recomendado que a cada duas horas, no máximo, o profissional faça uma pausa, evitando as- sim, LER- Lesão por Esforço Repetitivo e/ou diminuição da capacidade cognitiva e tradutória decorrente da exaustão mental e física. A presença do Tils em sala de aula é de suma importância, pois sem ele se torna impossí- vel para o aluno surdo participar do processo de ensino aprendizagem. Professor e Tils devem trabalhar juntos, dialogar dentro e fora da sala de aula, sobre formas assertivas de apresentar o conteúdo para o aluno, lembrando que o Tils nem sempre domina o conteúdo a ser exposto e também precisa de explicações e auxílio para compreendê-lo, de outra forma será impossível interpretar coerentemente. Lacerda et al. (2011, p.18) afirmam que: 62LIBRAS SUMÁRIO é necessário que haja uma mudança de postura por parte do professor, que também tem o dever, como educador, de auxiliar o intérprete da Língua de Sinais em suas prá- ticas. Se o professor não assumir práticas que favoreçam a atuação do intérprete da Língua de Sinais, consequentemente, a compreensão do aluno surdo ficará compro- metida. Lacerda et al. (2011, p. 5) mencionam: “o objetivo principal não é apenas traduzir, mas buscar, juntamente com o professor, meios diferenciados de ensino para que o aluno surdo possa ser favorecido por uma aprendizagem especificamente elaborada e pensada, e, conse- quentemente, eficiente.” Tanto professor como Tils devem reconhecer seus papéis no pro- cesso educacional, cada qual com sua função, o Tils jamais deve substituir o professor na sua ausência (LACERDA, 2002; QUADROS, 2004). A função do professor(a) não é tão somente ensinar, mas a do intérprete é apenas inter- pretar (ALMEIDA & CÓRDULA, 2019). SÍNTESE Para que de fato os direitos das pessoas surdas sejam respeitados, é imprescindível a presença de um Tils- Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais. Antes da contratação de um Tils, devem ser observados alguns quesitos: formação ade- quada, certificação reconhecida pelo MEC e proficiência comprovada em Libras/Português. O trabalho do Tils deve ser respeitado, bemcomo, os intervalos necessários para garantir sua saúde física, capacidade tradutória e cognitiva. O Tils educacional não tem obrigação de ensinar o surdo, essa função é do professor, seu papel é mediar a comunicação entre os personagens envolvidos no ensino e na aprendizagem. Professor e Tils devem trabalhar em conjunto, lembrando que nem sempre o Tils domina o assunto, e para fazer uma interpretação adequada, depende do auxílio prévio do professor responsável pela disciplina. 63LIBRAS EXERCÍCIOS SUMÁRIO 1. Você compreende o que significa a Sigla Tils? 2. Qual a diferença entre tradução e interpretação? 3. Faça um exercício mental: “imagine-se em um auditório lotado, você em cima do palco ao lado do palestrante, com câmeras apontadas para você transmitindo sua imagem num telão e na plateia, além de ouvintes, surdos, também algumas pessoas com enten- dimento básico da Libras, a palestra dura 3 horas ininterruptas e você está em pé”. a. Pesquise quantos segundos de “delay”, em média, ocorrem numa interpretação simultânea. b. Pesquise e a partir do exercício mental e empático que você fez, fale sobre trocas de Tils durante o evento e de quanto em quanto tempo essas trocas são recomendadas. c. Ligue a tv ou o rádio e por mais ou menos cinco minutos ininterruptos repita tudo que o locutor disser, tenha o cuidado de manter o objetivo principal do enunciado, mas mude todas as palavras por sinônimos, se possível grave sua fala. Relate como foi sua ex- periencia: 4. Assinale V para verdadeiro e A para absurdo. ( ) Na ausência do professor em sala de aula, o Tils deve assumir o controle da turma e apresentar o conteúdo referente ao dia. ( ) Se não houver Tils na instituição, o recomendado é que o professor peça ao aluno surdo que se sente com algum colega e copie dele suas anotações. ( ) Sempre que um aluno surdo se matricular numa disciplina, o professor deve ser infor- mado com antecedência, para que possa estudar e preparar-se da melhor maneira para aten- der esse aluno, afinal o ensino do conteúdo é de responsabilidade do professor, não do Tils. ( ) Após o término de uma disciplina de Libras, o aluno pode dizer que é Tils e aceitar tra- balhos na área. ( ) A fluência em Libras só é possível após um longo processo de aprendizagem e imersão nessa cultura, assim como, para obter fluência em qualquer outra língua, a Libras exige anos de estudo e formação adequada para a obtenção do certificado de proficiência. ( ) Qualquer pessoa fluente em Libras/Português pode atuar como Tils. 5. Reflita e enumere lugares onde você acredita que a presença de um Tils deve ser impres- cindível, explique suas afirmações. 64LIBRAS REFERÊNCIAS SUMÁRIO ALMEIDA, S. M.S. & CÓRDULA, E. B. L. O papel do intérprete de Libras no processo de ensino-aprendizagem do(a) aluno(a) surdo(a). Revista Educação Pública. Rio de Janeiro. 2019. B3 em ensi- no - Qualis, Capes. Acesso em 23/01/2019 às 21:11 https://educacaopublica.cederj.edu.br/artigos/17/14/o-papel-do-intrprete-de-libras-noprocesso-de-ensino-aprendizagem-do-a-aluno-a- -surdo-a . ALMEIDA, D. L.; SANTOS, G. F. D.; LACERDA, C. B. F. O ensino do português como segunda língua para surdos: estratégias didáticas. Revista Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v.23, n.3, p.30-57. 2015. http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=470 acesso em 31/01/2019 às 11:44. BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. BRITO, L. F. et. al. Língua Brasileira de Sinais-Libras. In:________. (Org.) BRASIL, Secretaria de Educação especial. Brasília: SEESP, 1998. C. B.; MÉLO, A. D. B. de ; FERNADES, E (Orgs.). Letramento, bilinguismo e educação de surdos .Porto Alegre: Mediação, 2012. FERNANDES, S. Letramento na educação bilíngue para surdos. In: BERBERIAN, A. P.; ANGELIS, C. C.M. de; MASSI, G. (orgs.). Letramento: referências sem saúde e educação. São Paulo: Plexus, 2006. GUARINELLO, A. C. Letramento e linguagem nas práticas com sujeitos surdos. In: BERBERIAN,A. P.; ANGELIS, C. C.M. de; MASSI, G.(orgs.) .Letramento: referência em saúde e educação. São Paulo: Plexus, 2006. p. 348-367. GÓES, M. C. R.; TARTUCI, D.. Alunos surdos e experiências de letramento. In: LODI, A. 65LIBRAS REFERÊNCIAS SUMÁRIO KARNOPP, L.B., PEREIRA, M. C. C. Condições de leitura e de escrita na educação de surdos. In: LODI, A. C. B.; MÉLO, A. D. B. de; FERNANDES, E (Orgs.). Letramento, bilinguismo e educação de surdos. Porto Alegre: Mediação, 2012. LACERDA, C. B. F. O intérprete educacional de língua no ensino fundamental: refletindo sobre limites e possibilidades. In: LODI, A. C. B. et al. (org.). Letramento e minorias. Porto Alegre: Media- ção, 2002. LACERDA, C. B. F. A inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem professores e intérpretes sobre essa experiência. Caderno Cedes, Unicamp, Campinas, v. 26, nº 69, p. 163-184, maio/ago. 2006. LACERDA, C. B. F.; SANTOS, L. F. dos; CAETANO, J. F. Estratégias metodológicas para o ensino de alunos surdos. In: Coleção UAB – UFSCar. Língua de Sinais Brasileira: uma introdução. São Car- los: Departamento de Produção Gráfica da USFCar, 2011. Lei nº 12.319, de 1° de setembro de 2010. Regulamenta a profissão de tradutor e intérprete da Língua Brasileira de Sinais - Libras. Brasília: Diário Oficial da União, 2010. LODI, A.C.B. A leitura como espaço discursivo de construção de sentidos: Oficinas com surdos. 2004, 282f. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem), Pontifícia Univer- sidade Católica de São Paulo, São Paulo. MENEZES, E. T.; SANTOS, T. H. Libras (Língua Brasileira de Sinais). Dicionário Interativo da Educação Brasileira. Educa Brasil. São Paulo: Midiamix, 2006. 66LIBRAS REFERÊNCIAS SUMÁRIO QUADROS, R. M. O tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais e língua portuguesa. Brasília: MEC/SEESP, 2004. QUADROS, R. M; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. REYLY, L. Escola inclusiva: linguagem e mediação. Campinas: Papirus, 2004. SALLES. Heloísa Maria Moreira Lima. Ensino de Língua Portuguesa para Surdos: caminhos para a prática pedagógica. Brasília. 2° volume. MEC, SEESP. 2004. SOUSA, D. Um olhar sobre os aspectos linguísticos da Língua Brasileira de Sinais. Littera Online. São Luís, nº 2, v. 1, p.88-100. 2010. Acesso em 31/01/2019 às 14:59. http://www.porsinal.pt/index. php?ps=artigos&idt=artc&cat=9&idart=129 . STROBEL, K. L; FERNANDES, S. Aspectos linguísticos da Língua Brasileira de Sinais. Curitiba: SEED/SUED/DEE, 1998. STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Editora da UFSC – Florianópolis - 2008 LEGISLAÇÃO Acessibilidade Libras Inclusão e os Direitos da Pessoa Surda Síntese ALFABETO MANUAL DATILOLOGIA Síntese EDUCAÇÃO DO SURDO NO BRASIL E NO MUNDO Síntese CULTURA E COMUNIDADES SURDAS Síntese LINGUÍSTICA DA LIBRAS Iconicidade e Arbitrariedade Variações linguísticas Fonologia da Língua Brasileira de Sinais Morfologia da Língua Brasileira de Sinais Sintese TRANSCRIÇÃO PARA A LIBRAS PRODUÇÃO TEXTUAL DO SURDO E INTERFERÊNCIAS DO PROFESSOR NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA Síntese PAPEL DO INTÉRPRETE NO USO DE LIBRAS E SUA FORMAÇÃO Nascimento da Libras Declaração dos Direitos Humanos Tils- Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais Síntese