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Linguagem, línguas orais, de sinais e libras

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Linguagem, Línguas Orais, de Sinais e
Libras
Os fortes preconceitos relacionados à surdez se sustentam na crença,
praticamente inabalável, desde o tempo de Aristóteles e reforçada por
diversos estudos ao longo do tempo, de que a linguagem falada é essencial
para o desenvolvimento do pensamento humano. Os estudos sobre
cognição e linguagem, entretanto, efetivados pelas teorias de aprendizagem
mais conhecidas, como o behaviorismo (do qual Frederic Skinner é um dos
mais importantes representantes), o construtivismo genético de Jean
Piaget e o sociointeracionismo (representado por Lev Vygotsky), dentre
outras, além da neurociência e de teorias marcadamente linguísticas, como
a abordagem gerativista (que tem Noam Chomsky como principal
representante), mostraram que o importante para o desenvolvimento do
pensamento é a comunicação e não a língua que se usa.
Além disso, outros estudos demonstram que crianças surdas, �lhas de pais
surdos, têm um desempenho escolar superior aos das crianças surdas �lhas
de ouvintes. Esse fato reforça a premissa anterior de que, para o
desenvolvimento cognitivo, o que importa é a comunicação, e não a
modalidade de língua utilizada.
Unidade 1
Introdução
Houve, portanto, um novo direcionamento nas pesquisas sobre a relação
entre o pensamento e a linguagem, com a realização de diversos estudos
referentes às línguas de sinais, os quais demonstraram que essas línguas
desempenham, no desenvolvimento cognitivo e afetivo dos surdos, o
mesmo papel das línguas orais para os ouvintes. Além disso, houve pressões
resultantes de movimentos de surdos, respaldados em pressupostos de
direitos humanos e, tudo isso, contribui para que as línguas de sinais
assumissem posição de destaque na educação e na inclusão social de
surdos.
Atualmente, as leis “da Acessibilidade” e “da Libras” garantem ao surdo o
direito de ser educado em sua primeira língua, de ter atendimento jurídico,
de saúde, en�m, de todos os serviços prestados pelo governo, em Libras,
além de ter o direito às traduções de programas televisivos, de serviços
bancários etc. En�m, como a Libras é uma língua o�cial brasileira, ela tem o
mesmo status da Língua Portuguesa.
Assim, nesta Unidade I, apresentamos as línguas de sinais em geral e a
Libras em particular. Para isso, organizamos cinco seções.
A primeira, intitulada “Pensamento e linguagem”, destaca que as línguas de
sinais são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo dos surdos. Na
segunda seção, abordamos a “História das línguas de sinais”, mas, além da
história dessas línguas, anunciada no título, há uma discussão acerca das
diferenças conceituais entre linguagem, língua e fala. Na terceira seção,
como o título indica, estabelecemos “Paralelos entre a Libras e a Língua
Portuguesa”, a �m de facilitar a compreensão da primeira. Na quarta seção,
“Línguas de sinais e Libras”, procuramos desconstruir crenças e mitos
relacionados às línguas de sinais e à Libras. Finalizamos com a seção mais
extensa e complexa desta Unidade I, que é o estudo dos “Aspectos
linguísticos da Libras”.
Lembre-se de que os surdos “escutam com os olhos e falam com as mãos”.
 Você entenderá essa fascinante forma de comunicação. Bons estudos.
Linguagem e Pensamento
A relação entre pensamento e linguagem é discutida desde os tempos mais
remotos e, desde então, existe uma forte crença de que a linguagem falada é
essencial para o desenvolvimento do pensamento humano. Esse fato é
reforçado por pesquisas mais recentes. No século XX, Piaget estabeleceu
que a linguagem é responsável pela qualidade do nosso pensamento, pois
permite sairmos do estágio das operações concretas e alcançarmos o
estágio lógico-formal. Entretanto, para esse estudioso, antes mesmo da
linguagem, existe uma inteligência prática, característica do sensório-motor.
Para Vygotsky (apud FARIA, 2011), por sua vez, a linguagem tem um papel
essencial na organização das funções superiores, pois exerce papel
fundamental no desenvolvimento cognitivo dos seres humanos.
No processo interacional verbal, o sujeito também utiliza o processo
cognitivo, pois, segundo Vygotsky, a palavra, por ser carregada de
sentido, exige que o sujeito realize operações mentais para
compreendê-la, assim como para compreender as motivações de uso
dela [...]. Por intermédio dessa forma de pensar, pode-se compreender
a a�rmação de que a comunicação verbal exerce papel central no
processo interacional (FARIA et al., 2011, p. 174).
Então, a comunicação verbal refere-se apenas à língua oral? A resposta é
não. Verbal vem de verbo, que signi�ca palavra, a qual pode ser reproduzida
tanto na língua oral como na de sinais. Essa constatação de que a
comunicação espaço-visual se constitui em comunicação verbal, assim
como a oroauditiva, é recente.
Durante muito tempo, acreditou-se que a linguagem oral era a única
responsável pelo funcionamento cognitivo humano e a di�culdade
encontrada pelos surdos para falar foi considerada como, praticamente,
impeditiva do desenvolvimento do pensamento. Além disso, como a língua
de sinais, por muitas décadas, foi confundida com mímica, era entendida
como dependente do mundo concreto, não permitindo a compreensão de
conceitos abstratos e, por conseguinte, não se acreditava em suas
potencialidades para o desenvolvimento cognitivo dos surdos.
A presença de surdos em instituições escolares inclusivas ou especiais,
sendo educados em sua língua natural, tem contribuído muito para
desconstruir a imagem de que a surdez compromete o desenvolvimento
cognitivo e linguístico do indivíduo, pois conforme expõe Gesser (2009),
o surdo pode e desenvolve suas habilidades cognitivas e linguísticas
(se não tiver outro impedimento) ao lhe ser assegurado o uso da
língua de sinais, em todos os âmbitos sociais em que transita. Não é a
surdez que compromete o desenvolvimento do surdo, e sim a falta de
acesso a uma língua (GESSER, 2009, p. 76).
Com o reconhecimento de que a língua de sinais desempenha, no
desenvolvimento cognitivo dos surdos, o mesmo papel que a língua oral
para os ouvintes, compreendeu-se que a surdez não torna a criança um ser
com menos possibilidades, mas com possibilidades diferentes.  O estudo
dos surdos mostra que as capacidades humanas de linguagem, pensamento,
comunicação e cultura não se desenvolvem de maneira automática, não se
compõem apenas de funções biológicas, mas têm origem social e histórica.
Como assevera Sacks (1998), essas capacidades são um presente – o mais
maravilhoso dos presentes – de uma geração para outra, o que reforça a
importância do grupo, da cultura surda para a construção da identidade e o
desenvolvimento cognitivo do surdo.
Assim, ter a di�culdade de ouvir não impede o ser humano de
adquirir uma língua e nem de desenvolver sua capacidade de
representação. Faz, porém, o surdo criar uma maneira própria de se
comunicar, utilizando uma língua de natureza visomotora. As línguas
de sinais, portanto, comprovam que a surdez não impede o surdo de
adquirir uma língua e nem de desenvolver sua capacidade de
representação, mas isso, provavelmente, envolve mecanismos
mentais diferentes dos da pessoa ouvinte.
As ações negativas quanto ao uso da língua de sinais estiveram e estão, em
grande medida, atreladas aos seguidores da �loso�a oralista. Muitos
pesquisadores têm abolido a visão exposta, ao a�rmarem justamente o
inverso: é o não uso da língua de sinais que atrapalha o desenvolvimento e a
aprendizagem de outras línguas pelo surdo. Considerando-se que a relação
do indivíduo surdo profundo com a língua oral é de outra ordem (dado que
não ouvem!), a incorporação da língua de sinais é imprescindível para
assegurar condições mais propícias nas relações intra e interpessoais que,
por sua vez, constituem o funcionamento das esferas cognitivas, afetivas e
sociais dos seres humanos (GESSER, 2009, p. 59).
Sendo a língua de sinais imprescindível para o desenvolvimento cognitivo e
social do surdo, “[...] é fundamental que a criança aprenda a língua de sinais
bem cedo, pois pesquisas têm mostrado que,quando a criança surda
adquire linguagem desde bem pequena, o seu desempenho escolar será
equivalente ao de crianças ouvintes” (REILY, 2004, p. 123). Portanto, é
indispensável que a família esteja completamente envolvida nesse processo
e que se disponha a fazer parte da comunidade surda.
Ora, mas as pesquisas apontam que cerca de 90% das crianças surdas são
�lhas de pais ouvintes que pouco ou nenhum conhecimento possuem
acerca da surdez e da língua de sinais e que, muitas vezes, ainda não
resgataram a serenidade emocional abalada pelo imprevisto da chegada de
uma criança surda. Nesse contexto, há o papel fundamental desempenhado
pelo professor, que, além de ser o pro�ssional mais próximo da família nesse
momento, tem a serenidade emocional que os pais, em especial, podem
demorar para adquirir.
Mas, enquanto a família se dá conta das di�culdades de adaptação ao novo
�lho que lhes foi imposto, algo deve ser feito e rapidamente. A criança
cresce e necessita da linguagem para poder se colocar no mundo, entender
e se fazer entendida. Entra aí o papel da escola (MOURA, 2013, p. 18).
Portanto, como o professor é, na maioria dos casos, o único
pro�ssional em contato com a família, ele passa a ser o responsável
pela orientação sobre a atuação da família em toda a vida do �lho
surdo. Por isso, esse pro�ssional deve conhecer muito bem as
implicações sociais da adoção do modelo bilíngue de educação dos
surdos.
História das Línguas de Sinais e da
Libras
“LIBRAS É LÍNGUA”. Foi este o título escolhido para a palestra
apresentada por uma linguista em um evento cujo público-alvo era o
estudante do curso de letras. Uma professora que trabalha na área da
surdez, mencionando o título, fez o seguinte comentário: “De novo?
Achei que essa questão já estivesse resolvida!” (GESSER, 2009, p. 9).
Embora mais de cinquenta anos já tenham se passado desde que a língua de
sinais foi mundialmente reconhecida, do ponto de vista linguístico, como
uma verdadeira língua, no Brasil, mesmo após a promulgação da Lei Federal
nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que reconhece a Libras como língua
o�cial brasileira, ainda é necessário a�rmar e rea�rmar essa legitimidade.
Assim, por que é preciso insistir tanto nessa questão de que a Libras é uma
língua? A�nal, o que isso signi�ca? Língua e linguagem são a mesma coisa? O
surdo “fala” em Libras?
Por linguagem, designamos o sistema abstrato, articulado, fenômeno
universal, independente da situação cultural, que diferencia o ser humano
das demais espécies. Denominamos língua o sistema abstrato, articulado,
utilizado por um grupo ou uma comunidade especí�ca, por exemplo, a
Língua Portuguesa. O modo particular e individualizado de exercitar a
língua é o que denominamos fala, a qual “é o exercício material da língua
levado a cabo por este ou aquele indivíduo pertencente a uma comunidade
linguística especí�ca” (BASTOS; CANDIOTTO, 2007, p. 15).
De acordo com Bastos e Candiotto (2007, p. 15), a linguagem é a capacidade
do ser humano de se comunicar com os semelhantes por meio de signos. É,
ao mesmo tempo, física, psicológica e social, e realizada sempre dentro do
âmbito de uma língua, “inseparável de um contexto cultural especí�co,
particular, de uma comunidade linguística”.
De acordo com essa perspectiva, é possível admitir que a Libras é uma
língua, porque permite que uma comunidade linguística particular, a
comunidade surda, exerça sua capacidade de comunicação. Ademais, se a
fala é o modo de um elemento de uma comunidade linguística exercitar sua
língua, o surdo fala em Libras.
Não foram considerações simplistas, como as feitas até aqui, que
permitiram a�rmar, em bases cientí�cas, que a Libras é uma língua. Esse
reconhecimento linguístico teve início com os estudos descritivos do
linguista americano William Stokoe, em 1960. Antes disso, as línguas de
sinais não eram vistas como uma língua verdadeira, com gramática própria.
No Brasil, conforme a�rmamos anteriormente, os primeiros estudos sobre a
Libras foram realizados na década de 1980, por Lucinda Ferreira Brito, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Tanya Mara Felipe, da
Universidade Federal de Pernambuco e da Federação Nacional de Escolas e
Instituições de Surdos (FENEIS), entidade máxima representativa dos
surdos brasileiros. Atualmente, no Brasil, há estudos sobre os aspectos
gramaticais e discursivos da Língua Brasileira de Sinais, produzidos,
principalmente, pela Universidade Federal de Santa Catarina, pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pelo Instituto Nacional de
Educação e Integração dos Surdos (INES).
Devemos salientar, todavia, que a comunicação com as mãos não teve início
com os surdos e nem é exclusividade deles. Existem estudos que indicam
que os homens pré-históricos se comunicavam por meio de gestos. Apenas
quando começaram a utilizar ferramentas, ocupando as mãos, começaram a
utilizar a comunicação oral. Portanto, antes de utilizarem a palavra, os seres
humanos utilizavam as mãos para interagir, demonstrando a naturalidade
da comunicação por sinais. Podemos, então, a�rmar que o processo inverso,
isto é, a passagem da língua oral para a manual, foi reinventado pelo homem,
sempre que necessário, e não somente no caso dos surdos.
Você sabia que existem várias linguagens manuais criadas em
diversos momentos da história da humanidade, para uso em
contextos variados, tendo em vista possibilitar a comunicação e a
interação em situações em que a fala era inviável, proibida ou
impossível? 
Mergulhadores, por exemplo, criaram um sistema de códigos gestuais
para se comunicar debaixo d’água, onde a fala não é possível.
Considerando os riscos de uma comunicação equivocada em
circunstâncias perigosas, �ca evidente o quanto essa comunicação
deve ser bem assimilada durante os cursos de mergulho para garantir
a segurança no meio líquido (REILY, 2004, p. 113).
No Brasil, Lucinda Ferreira Brito, em 1982, iniciou seus estudos linguísticos
acerca da língua de sinais dos índios Urubu-Kaapor da �oresta amazônica
brasileira, após um mês de convivência com eles, documentando em �lme
sua experiência. Brito constatou que essa língua se tratava de uma legítima
língua de sinais. O interessante de se observar, no caso dos Urubu-Kaapor, é
que os ouvintes da aldeia “falam” a língua de sinais e a língua oral,
evidentemente, enquanto os surdos se restringem à língua de sinais. Assim,
os ouvintes da aldeia se tornam bilíngues, enquanto os surdos se mantêm
monolíngues.
De acordo com Reily (2004), os indígenas do planalto americano também
desenvolveram uma língua de sinais para estabelecer uma comunicação
entre tribos distintas, que não falavam a mesma língua e precisavam de uma
forma convencional de comunicação. Assim, desenvolveram, ao longo do
tempo, um conjunto de sinais bastante e�ciente, com o qual conseguiam
realizar alianças e comércios.
Um sistema de sinais também foi desenvolvido no período medieval por
monges nos mosteiros europeus, que faziam o voto do silêncio, sendo que,
mesmo atualmente, algumas comunidades de monges comunicam-se por
gestos em suas atividades cotidianas no mosteiro. Também, concebia-se a
função do silêncio no período monástico, segundo regras registradas por
São Basílio Magno. Nesse contexto, a palavra só poderia ser utilizada em
caso de necessidade e estando as mãos ocupadas com algum trabalho, o que
permite inferir que a comunicação gestual que eles utilizavam era bastante
e�ciente. Observe a explicação a seguir.
É bom para os noviços também a prática do silêncio. Se dominam a
língua, darão simultaneamente boa prova de temperança. Com o
silêncio aprenderão junto dos que sabem usar da palavra, com
concisão e �rmeza, como convém perguntar e responder a cada um.
Há um tom de voz, uma palavra comedida, um tempo oportuno, uma
propriedade no falar, peculiares e adequados aos que praticam a
piedade. Não os aprende quem não tiver abandonado aquilo a que
estiver acostumado. O silêncio traz consigo o esquecimento da vida
anterior, em consequência da interrupção, e proporcionalazer para o
aprendizado do bem. Assim, a não ser por questão especial atinente
ao bem da própria alma, ou por inevitável necessidade de um
trabalho em mãos, ou por negócio urgente, guarde-se o silêncio,
excetuada, é claro, a salmodia (BASÍLIO MAGNO apud REILY, 2004,
p. 114).
No século XVI, o médico e �lósofo italiano Girolamo Cardano, utilizou a
língua de sinais e a escrita para ensinar seu �lho, que era surdo. No mesmo
século, Pedro Ponce de Leon estabeleceu um método para a educação de
surdos, em que combinava datilologia, escrita e oralização, entretanto,
como na época era comum se guardar segredo dos métodos, após a morte
de Ponce de Leon, seu método caiu no esquecimento.
Na interface dos séculos XVI e XVII, na Espanha, Juan Pablo Bonet educava
nobres surdos por intermédio de sinais, treinamento da fala e alfabeto
datilológico, alcançando enorme sucesso, tendo sido, em razão disso,
nomeado Marquês pelo Rei Henrique IV. Bonet publicou o primeiro livro
que se tem notícia sobre a educação de surdos, no qual está exposto seu
método que, apesar de ser oralista, defende o ensino do alfabeto manual
aos surdos, o mais precocemente possível.
A língua de sinais que conhecemos hoje no Brasil, utilizada pelos surdos,
teve origem na sistematização realizada por religiosos franceses,
desenvolvida a partir de 1760, particularmente pelo abade L’Épée, que foi o
primeiro a reconhecer a necessidade de usar sinais como ponto de partida
para o ensino. L’Épée se interessou pelos surdos quando deu
prosseguimento à educação religiosa de duas irmãs gêmeas surdas, que
estavam sendo educadas utilizando gravuras. Ele decidiu mudar a
metodologia utilizada anteriormente, porque acreditava que a
compreensão das meninas �caria restrita ao signi�cado físico da imagem,
sendo impossível transmitir por �guras o sentido mais profundo da fé.
Desse modo,
resolveu ensinar linguagem pelos olhos, em vez de pelos ouvidos,
apontando os objetos com uma mão e escrevendo o nome
correspondente numa lousa, com a outra. [...] logo as meninas
estavam lendo e escrevendo os nomes das coisas. No entanto, esse
sistema não permitia maiores avanços, porque não contemplava
nenhuma gramática, nem sentidos abstratos, essenciais para o ensino
religioso, restringindo-se à nomeação de objetos presentes, visíveis,
perceptíveis pelos sentidos. [...] porém, deu-se conta de que as
meninas já deveriam possuir um sistema gramatical, pois elas se
comunicavam entre si com muita �uência (REILY, 2004, p. 115).
L’Épée aprendeu os sinais com suas alunas surdas. Também, observou que
os surdos das ruas de Paris desenvolviam uma comunicação gestual
bastante satisfatória e os levou para residir no convento. Com esse
conjunto de sinais estabelecido, fez adaptações e acrescentou outros,
desenvolvendo um método para aproximar os sinais à Língua Francesa, o
qual �cou conhecido como Sinais Metódicos.
Em 1775, L’Epée fundou uma escola para surdos, a primeira desse tipo, com
aulas coletivas, nas quais os professores e os alunos usavam os chamados
sinais metódicos. A proposta educativa da escola era que os professores
deveriam aprender tais sinais para se comunicarem com os surdos. Assim,
eles aprendiam com os surdos e, com essa forma de comunicação,
ensinavam o francês falado e escrito.
Diferente de outros professores que escondiam seus métodos, L'Epée
divulgava seus trabalhos em reuniões periódicas e propunha-se a discutir
seus resultados. Em 1776, publicou um livro no qual divulgava suas
técnicas, intitulado “A verdadeira maneira de instruir surdos-mudos”, em
que divulgou seus sinais metódicos, as regras sintáticas e o alfabeto manual
criado por Bonet. Quando faleceu, em 1789, L’Epée havia fundado 21
escolas para surdos na Europa. O Abade Roch-Ambroise Sicard continuou o
trabalho de De L’Epée, inclusive, complementando seu livro.
Os alunos dessas escolas usavam bem a escrita e muitos deles tornaram-se,
mais tarde, professores de outros surdos. Nesse período, alguns surdos
puderam destacar-se e ocupar posições importantes na sociedade de seu
tempo, além de terem escrito vários livros, relatando suas di�culdades de
comunicação e os problemas causados pela surdez.
No século XIX, o americano Thomas Hopkins Gallaudet tomou
conhecimento do método de Sicard e levou um professor surdo para os
Estados Unidos, começando um trabalho educacional seguindo essa
metodologia. Em 1864, seu �lho Edward Gallaudet fundou a primeira
universidade para surdos, importante instituição, que resistiu ao banimento
das Línguas de Sinais pelo Congresso de Milão.
Em 2018, visitamos a Gallaudet University, em Washington D.C., e foi uma
experiência fascinante. São mais de 1.300 estudantes universitários surdos
oriundos de diferentes países do mundo e que moram na instituição. No
local, há uma estátua de Thomas Gallaudet ensinando a letra “a” para uma
menina surda. A estátua foi um presente da comunidade surda dos Estados
Unidos para comemorar o centenário de seu nascimento, em 1887. Em todo
o campus, os postes de luz têm um banner com a frase “There is no other
place like this in the world”, que signi�ca “Não existe outro lugar no mundo
como este”. De fato, essa é a única instituição que atende surdos desde a
mais tenra idade até o doutorado.
A escolarização do surdo brasileiro teve seu início ainda no período
imperial, em 1855, com a chegada do professor surdo francês E. Huet. Em
26 de setembro de 1857, foi fundado o Instituto Nacional de Surdos-
Mudos, atual Instituto Nacional de Educação do Surdo (INES), que adotava
a língua de sinais. Essa língua deu origem à Libras e, constitui-se,
naturalmente, pela interação da língua de sinais francesa (LSF), já
constituída em seus aspectos gramaticais, com o conjunto de sinais
utilizados pelos surdos brasileiros.
Assim, tanto a língua de sinais Americana (ASL), quanto a língua de sinais
brasileira (Libras) foram in�uenciadas pela língua de sinais Francesa. Com o
passar dos tempos, essas línguas adquiriram características culturais
próprias de seu país e acabaram se diferenciando.
Em 1870, Alexander Graham Bell iniciou uma “verdadeira cruzada” contra
as Línguas de Sinais, argumentando que elas não proporcionavam o
desenvolvimento intelectual dos surdos. Além disso, criticava as escolas
especializadas, sob a alegação de que promoviam o isolamento dos surdos.
Ele publicou vários artigos defendendo suas ideias e foi fundamental para a
proibição das Línguas de Sinais pelo Congresso de Milão, em 1880. No
Brasil, em 1957, o INES proibiu o�cialmente o uso das Línguas de Sinais nas
salas de aula, mas os alunos continuaram utilizando essa forma de
comunicação, escondido dos professores e funcionários.
Conta a história que a língua de sinais no Brasil sobreviveu
principalmente graças a esses surdos que estudavam no INES em
regime de internato. As conversas em Libras só eram possíveis longe
dos olhos de professores e vigilantes, à noite, à luz de velas, embaixo
das camas e das mesas, nos refeitórios, banheiros ou corredores
(FENEIS, 2011, p. 13).
Para encerrar essa breve apresentação histórica, a seguir, há um resumo da
história da Libras, realizado por Góes e Campos (2013, p. 71):
Percebe-se que a história sofreu mudanças e foi muitas vezes
in�uenciada por diferentes grupos em diversos momentos e
contextos. Partiu-se da descoberta da comunicação natural de
pessoas surdas, para tentativas de oralização com o intuito de
“normalizar” os surdos, até o reconhecimento da Libras como língua
de comunicação de pessoas surdas em nosso país. Houve a proibição
da língua de sinais, o que prejudicou a evolução da educação de
surdos e também o progresso de pesquisas e produções cientí�cas em
relação aos estudos linguísticos da língua de sinais. Mas com o
reconhecimento da Libras pela lei 10.436, emergiram possibilidades
para o livre uso da língua de sinais e a criação de novos cursos e de
novos e diferentes espaços de estudos linguísticos envolvendo a
língua de sinais.
Com base nesses estudos, podemos a�rmar que, além de proporcionara
comunicação efetiva entre os surdos, a língua de sinais possibilita a
expressão de sentimentos, a composição de poesias, a discussão �losó�ca,
pois se trata de um idioma completo. Porém, talvez, principalmente devido
as suas características icônicas (uma representação da realidade, por
ícones) e à forte in�uência da língua oral, tanto na estrutura gramatical
quanto lexical, há muitas interpretações equivocadas sobre as Línguas de
Sinais, em geral, e sobre a Libras, em particular.
Paralelos entre a Libras e a Língua
Portuguesa
Os estudos que se seguiram ao trabalho pioneiro de Stokoe revelaram que
as Línguas de Sinais eram verdadeiras línguas, preenchendo, em grande
parte, os requisitos da Linguística daquele período para as línguas orais,
como os níveis de articulação da linguagem: fonológico, semântico,
morfológico e sintático. Em outras palavras, para poderem chegar à
conclusão de que as Línguas de Sinais constituem-se como idioma, foram
feitos muitos estudos, sustentados quase sempre na parte da Linguística
que compara duas ou mais línguas, denominada Linguística Contrastiva, a
qual é uma parte da Linguística Geral que estuda as similaridades e as
diferenças estruturais entre duas línguas. Essa comparação é feita nos
níveis fonológico, morfológico, sintático e semântico. Observe as
explicações a seguir.
Fonológico: estuda os fonemas que são a menor unidade distintiva da
palavra. Por exemplo, na palavra fala, a letra f representa o fonema  /f/
 (fê), que se refere aos sons em uma língua oral.
Morfológico: estuda a forma das palavras, como elas são construídas.
Nesse caso, a unidade mínima é o morfema, unidade mínima signi�cativa.
Por exemplo, em estud/ei; estud/amos e estud/ante, a identidade de
signi�cado das três formas ocorre devido ao morfema estud, que é igual
nas três palavras.
Sintático: estuda como as palavras são organizadas em uma frase.
Sabemos que as palavras são combinadas, segundo regras determinadas,
para formar frases e orações. Por exemplo: eu estudei muito ontem.
Semântico: estuda o signi�cado ou o sentido das palavras dentro de uma
organização textual (e contextual).
A Libras também possui suas unidades mínimas distintivas, os quiremas,
que, combinados, produzem unidades signi�cativas, os sinais, os quais
obedecem a regras para constituírem frases, que, também combinadas,
produzem contextos. Utilizamos aqui, propositadamente, a palavra
“contextos”, porque a Libras é uma língua falada (cuja escrita se faz por meio
do sistema SingWrittig – Escrita de Sinais) e a palavra “texto” remete à
produção escrita. Assim, ao serem estabelecidas comparações entre a
Língua Portuguesa e a Libras, percebe-se uma série de diferenças, das quais
destacamos:
1. A língua de sinais é visual-espacial, e a Língua Portuguesa é oral-auditiva.
2. A língua de sinais é baseada nas experiências visuais das comunidades
surdas, mediante as interações culturais surdas, enquanto a Língua
Portuguesa constitui-se baseada nos sons.
3. A língua de sinais apresenta uma sintaxe espacial, incluindo os chamados
classi�cadores. A Língua Portuguesa usa uma sintaxe linear, utilizando a
descrição para captar o uso de classi�cadores.
4. A língua de sinais utiliza a estrutura tópico-comentário, em que o objeto
direto é posicionado à frente do sujeito. Por exemplo: “Você vai ao
cinema?” Em Libras �ca: “Cinema você ir?” Ou ainda, “Gato você tem?”
Isso também ocorre em sentenças a�rmativas e negativas, como “Carro
eu tenho”.
5. A língua de sinais utiliza a estrutura de foco, que signi�ca destacar a parte
mais importante da conversa, por meio de repetições sistemáticas. Esse
processo não é comum em Língua Portuguesa.
6. A língua de sinais utiliza as referências anafóricas, isto é, sobre quem se
está falando, mostrando ou indicando pontos especí�cos no espaço, o que
exclui as ambiguidades possíveis em Língua Portuguesa, ou seja, os
apontamentos utilizados na língua de sinais, para indicar um referente,
evitam ambiguidades.
7. A língua de sinais não tem marcação de gênero, isto é, não há sinais
diferentes para feminino e masculino. Em Língua Portuguesa, o gênero é
marcado a ponto de ser redundante, como na frase “A mulher é
professora”, na qual o feminino é utilizado duas vezes. Por essa razão, na
transcrição de um sinal para a Língua Portuguesa, adotamos o símbolo @.
Por exemplo, ao utilizarmos bonit@, estamos indicando tanto “bonito”
quanto “bonita” e, também, o plural.
8. A língua de sinais atribui um valor gramatical às expressões faciais, as
quais não são essenciais em Língua Portuguesa. Nesse caso, elas podem
ser substituídas pela prosódia, que signi�ca a pronúncia correta das
palavras, com acentuação ou intensidade adequadas.
9. Algumas coisas ditas em língua de sinais não precisam do mesmo tipo de
construção gramatical em Língua Portuguesa. Assim, às vezes, uma
grande frase em Língua Portuguesa é necessária para representar poucas
palavras em Libras e vice-versa.
10. A escrita da língua de sinais, denominada SignWriting, não é alfabética.
Além disso, há muitas semelhanças entre as línguas orais e as Línguas de
Sinais. Ao serem observadas as produções em línguas orais e de sinais, neste
caso particular, entre a Língua Portuguesa e a Libras, percebe-se uma série
de semelhanças, das quais destacamos:
1. Arbitrariedade: as línguas orais são, majoritariamente, arbitrárias, pois
não se depreende a palavra simplesmente por sua representatividade,
mas é necessário conhecer o seu signi�cado. A iconicidade encontra-se
presente nas Línguas de Sinais, mais do que nas orais, mas a sua
arbitrariedade continua a ser dominante. Embora, nas Línguas de Sinais,
alguns sinais sejam totalmente icônicos, é impossível, como nas línguas
orais, depreender o signi�cado da grande maioria dos sinais apenas pela
sua representação.
2. Comunidade: as línguas orais são adquiridas por uma comunidade, como
a língua materna, cujo desenvolvimento ocorre mediante uma
comunidade de origem, passando pela família, pela escola e pelas
associações. Todas as línguas orais têm variações linguísticas e todas as
Línguas de Sinais possuem essas mesmas características.
3. Sistema linguístico: as línguas orais são sistemas regidos por regras,
assim como acontece com as Línguas de Sinais.
4. Produtividade: as línguas orais possuem as características da
produtividade e da recursividade, sendo possível que os falantes nativos
produzam e compreendam um número in�nito de enunciados, mesmo
que nunca tenham sido produzidos antes. Isso também é possível com as
línguas de sinais, pois há a criatividade e a produtividade em Libras, por
exemplo, devido aos seus sinalizadores nativos, parecendo não haver
limite criativo.
5. Aspectos contrastivos: as línguas orais possuem aspectos contrastivos,
isto é, as unidades fonológicas do sistema de determinada língua se
estabelecem por oposições contrastivas, ou seja, há pares de palavras em
que a substituição de uma unidade fonológica (uma letra) por outra altera
o signi�cado da palavra (por exemplo: parra e barra). Isso também
acontece nas Línguas de Sinais, mas, em vez de uma unidade fonológica,
um pequeno aspecto do sinal é alterado.
6. Evolução e renovação: as línguas orais modi�cam-se, como no caso das
palavras que caem em desuso e de outras que são adquiridas, a �m de
aumentar o vocabulário e devido aos casos de mudança de signi�cado das
palavras. Esse fato também acontece nas Línguas de Sinais, a �m de
responder às necessidades que a evolução sociocultural impõe.
7. Aquisição: a aquisição de qualquer língua oral é natural, desde que haja
um ambiente propício desde nascença. Na língua de sinais, esse processo
ocorre da mesma forma. O surdo não tem que exercer esforço para
aprender uma língua de sinais ou a necessidade de qualquer preparação
especial.
8. Funções da linguagem: as línguas orais podem ser analisadas de acordo
com as suas  funções, o que também acontece com as Línguas de Sinais. As
funções são: referencial, emotiva, conotativa, fática, metalinguística e
poética.
9. Processamento: emborautilizem modalidades de produção e percepção
distintas, as línguas orais e de sinais são processadas na mesma zona do
cérebro.
Os estudos de Stokoe (1968) mostraram que os sinais não eram apenas
imagens, mas símbolos abstratos complexos, com uma complexa estrutura
interior. O estudioso estabeleceu que cada sinal era composto por três
parâmetros básicos: a con�guração das mãos (CM); o movimento das mãos
(M) e o ponto de articulação (PA) ou Locação (L), que é o lugar do espaço
onde as mãos se movem.
A partir da década de 1970, foram aprofundados os estudos fonológicos
sobre a língua de sinais Americana (ASL), que resultaram na descrição de
um quarto parâmetro: a orientação (O). Ademais, é preciso salientar que um
parâmetro básico ou primário compõe uma palavra (no caso das línguas
orais) ou um sinal que, se for alterado, modi�ca o signi�cado da palavra ou
do sinal.
Esse contraste de dois itens lexicais com base em um único componente
recebe, em linguística, o nome de “par mínimo”. Nas línguas orais, por
exemplo, pata e rata se diferenciam signi�cativamente pela alteração de um
único fonema: a substituição do /p/ por /r/. No nível lexical, temos em
LIBRAS pares mínimos como os sinais grátis e amarelo (que se opõem
quanto à CM), churrascaria e provocar (diferenciados pelo M), ter e
Alemanha (quanto à L) (GESSER, 2009, p. 15).
As unidades mínimas podem ser produzidas simultaneamente e a variação
de uma delas pode alterar o signi�cado do sinal. Além disso, elas não têm
signi�cado isoladamente e um sinal é constituído por mais de uma unidade
mínima. Por exemplo, o sinal de “televisão” envolve, de modo simultâneo,
con�guração de mão, ponto de articulação, movimento e orientação de
mão.
Televisão
A orientação das mãos (O)  é importantíssima e diferencia o signi�cado em
pares mínimos que possuem CM, M e PA iguais, como “ajudar” e “ser
ajudado”; “eu perguntar” e “me perguntar”, “eu responder” e “responder
para mim” etc. Além de ser utilizado na �exão de verbos, o parâmetro O é
usado em marcações negativas, como “querer” e “não querer”; “gostar” e
“não gostar” etc.
Ainda, alguns estudiosos consideram como parâmetros da língua de sinais
os aspectos não manuais, as expressões faciais e corporais que são muito
utilizadas pelos surdos para produzir informações linguísticas. No caso das
Línguas de Sinais, as expressões faciais (movimento de cabeça, olhos, boca,
sobrancelhas, bochechas) não servem apenas para complementar
informações, pois são elementos gramaticais que compõem a estrutura da
língua.
Quadros e Karnopp (2004) apresentam uma análise linguística da Língua
Brasileira de Sinais e, de acordo com esse estudo, alguns dos aspectos
fonológicos dessa língua estão expostos a seguir.
As Línguas de Sinais são visual-espaciais (ou espaço-visual), pois a
informação linguística é recebida pelos olhos e produzida pelas mãos.
Os elementos mínimos constituintes da língua de sinais são processados
simultaneamente, e não linearmente como ocorre na língua oral.
Os articuladores primários das Línguas de Sinais são as mãos, que se
movimentam no espaço em frente ao corpo e articulam sinais em
determinadas locações nesse espaço, mas os movimentos do corpo e da
face também desempenham funções.
Um sinal pode ser articulado com uma ou duas mãos. No caso de uma
mão, a articulação ocorre pela mão dominante.
Um mesmo sinal pode ser produzido pela mão esquerda ou direita.
Línguas de Sinais e Libras
Na seção 2 desta unidade, ao citarmos Gesser (2009), para retomar a
discussão sobre a Libras ser uma língua, nossa intenção foi salientar o
desconhecimento generalizado acerca dessa realidade linguística, tanto
daqueles que convivem de perto com a surdez quanto da sociedade ouvinte
em geral. Esse desconhecimento está expresso em textos de Gesser (2009),
Reily (2004) e Pereira et al. (2011), quando esses autores abordam mitos e
crenças sobre as línguas de sinais. Aqui, acrescentamos nossas re�exões,
sustentadas nesses autores, e discutimos tais crenças, mitos ou,
simplesmente, dúvidas que ainda pairam sobre a Libras.
          1. Os sinais são gestos?
Em função de suas características, os sinais podem parecer movimentos
aleatórios de mãos e corpo, acompanhados por expressões faciais variadas,
ou seja, seriam apenas “gestos”. De acordo com Pereira et al. (2001, p. 18),
essa descrição para sinais seria equivalente a descrever uma língua oral
como “ruídos” feitos com a boca. Além disso, os gestos são traços das
línguas orais, acompanham essas línguas e favorecem a comunicação. Os
sinais são produzidos combinando-se, simultaneamente, a con�guração de
mãos, o ponto de articulação ou localização, o movimento, a orientação das
palmas das mãos e os componentes não manuais, que são os parâmetros
constituintes da língua de sinais, conforme veremos na próxima unidade.
           2. A língua de sinais é icônica?
Grande parte dos sinais é icônica, isto é, os sinais são parecidos com o que
representam, e isso poderia signi�car que a língua de sinais não seria
arbitrária e resultante de convenção, como as línguas orais, nas quais não
existe uma relação de semelhança entre a palavra e o conceito que ela
representa. Apesar disso, não se pode a�rmar que a língua de sinais seja
icônica, pois, embora haja uma relação direta, quase transparente, entre um
sinal e o conceito que ele representa, as modi�cações sofridas por eles ao
longo do tempo e na combinação com outros sinais resultam em perda de
iconicidade. Portanto, há a arbitrariedade.
          3. A língua de sinais tem gramática?
Essa questão tem origem no fato de que, antes das pesquisas pioneiras de
Stokoe na década de 1960, corroboradas por Sacks (1990), a língua de
sinais não era vista, nem mesmo por seus usuários, como uma língua
verdadeira, com gramática própria. Com o reconhecimento linguístico
efetivado por Stokoe, �cou comprovado que a língua de sinais possui tem
gramática própria, um conjunto de regras partilhado por todos os seus
usuários e que permite a expressão de qualquer ideia. No entanto, como a
língua de sinais utiliza espaço e corpo, destacando as expressões faciais e,
muitas vezes, adotando sinais icônicos, muitos a consideram mímica.
Ademais, como a língua de sinais não apresenta preposições, artigos, �exões
e tem poucas conjunções, é considerada limitada, empobrecida, se
comparada à língua oral. Essa opinião revela um total desconhecimento,
porque, pelo uso do espaço, é possível expressar as mesmas relações que,
por exemplo, as preposições na língua oral, ou seja, a língua de sinais utiliza
recursos diferentes para expressar as mesmas ideias e também não tem
limites para expressar quaisquer conceitos. Assim, como exposto
anteriormente, a Libras tem gramática própria e se estrutura nos mesmos
níveis das línguas orais: fonológico, morfológico, sintático e semântico.
          4. A língua de sinais é mímica?
Para demonstrar que a língua de sinais não é mímica, foram realizadas
diversas pesquisas em que as pessoas usavam gestos para demonstrar
algumas palavras, sem que tivessem conhecimento da língua de sinais. A
principal constatação foi a utilização de mímicas muito mais detalhadas
(porque pretendiam representar o objeto) do que os sinais. Isso porque “a
pantomima quer fazer com que você veja ‘o objeto’, enquanto o sinal quer
fazer com que você veja o símbolo convencionado para esse objeto”
(GESSER, 2009, p. 21).
          5. A língua de sinais é o alfabeto digital?
Há outra constatação importante: a língua de sinais não é o alfabeto digital,
o qual é um recurso utilizado pelos surdos sinalizadores para soletrar,
manualmente, as palavras (soletração e datilologia). Assim, apesar de ter
uma importante função na interação entre sinalizadores, o alfabeto digital
não é uma língua, apenas um código para a representação manual das letras
alfabéticas. Outro detalhe importante é que a soletração só é possível entre
interlocutores alfabetizados. Ademais, o alfabeto digital da Libras não é o
mesmo utilizado pelos surdos-cegos, que precisam pegar na mão do
interlocutorpara, nela, produzir o sinal.
          6. A língua de sinais é arti�cial?
Outro aspecto que abordamos e, para isso, recorremos a Vygotsky, é o fato
de que a comunicação manual é inerente ao ser humano e já existia entre os
hominídeos pré-históricos, sendo, portanto, natural, como exposto
anteriormente. Dizemos que uma língua é arti�cial quando é construída por
um grupo de indivíduos, com um objetivo especí�co, como o caso do
Esperanto, língua criada pelo russo Ludwik Zamenhof, em 1887, com o
objetivo de estabelecer uma comunicação internacional fácil. De maneira
semelhante, foi criado o Gestuno, com a intenção de ser uma língua de
sinais universal, apresentado pela primeira vez em 1951 no Congresso
Mundial da Federação Mundial dos Surdos, mas que não conseguiu
aceitação plena entre os surdos por ser inventada. Logo, a língua de sinais
não é arti�cial.
          7. A língua de sinais é universal?
Com o histórico apresentado na segunda seção desta unidade, já
demonstramos que a língua de sinais não é universal, pois existe diferença
entre as Línguas de Sinais utilizadas em países diferentes. No caso do Brasil,
a Língua Brasileira de Sinais é denominada Libras e, portanto, é brasileira,
não podendo ser considerada uma língua estrangeira.
A Libras é uma língua nativa, de falantes nativos e brasileiros, utilizada em
todo território nacional ao lado da língua o�cial – o português – e ao lado de
outras línguas também praticadas no país, como as diferentes línguas das
comunidades indígenas. Assim, a Libras é a língua materna e constitutiva do
falante surdo, estruturante do seu inconsciente e fundamental para a
construção de suas subjetividade e identidade.
Estudos linguísticos desenvolvidos por pesquisadores brasileiros
con�rmam que a Libras é uma língua que, como qualquer outra, tem sintaxe,
semântica, morfologia e gramática próprias. Desse modo, não se trata,
absolutamente, de um conjunto de gestos, mímicas ou de português
sinalizado. Já comentamos, mas é importante frisar que as Línguas de Sinais,
por comprovação cientí�ca, cumprem todas as funções de uma língua
natural e, mesmo assim, ainda sofrem preconceito e são desvalorizadas
diante das línguas orais, visto que são consideradas uma derivação da
gestualidade espontânea, como uma mescla de pantomima e sinais icônicos.
Além das características icônicas, alguns preconceitos a respeito das
Línguas de Sinais fortalecem a ideia de uma língua de sinais única, ao
considerarem que a comunicação por gestos é intuitiva e espontânea e, por
conseguinte, a língua de sinais deveria ser igual para todos os surdos. Ora,
primeiro, já demonstramos que gestos e sinais são coisas diferentes. Os
gestos podem ser associados à mímica e, portanto, uma comunicação
intuitiva. Os sinais, por sua vez, são símbolos, logo, arbitrários, porém
convencionados pelos seus usuários.
Nesse sentido, existe uma diferença importante entre as Línguas de Sinais e
as orais. Quando surdos de diferentes nacionalidades se encontram, mesmo
um não conhecendo a língua de sinais do outro, são capazes de efetuar a
comunicação com mais facilidade do que os ouvintes. De acordo com Felipe
(2009, p. 20), isso se deve “à capacidade que as pessoas surdas têm em
desenvolver e aproveitar gestos e pantomimas para a comunicação e
estarem atentas às expressões faciais e corporais das pessoas”. Outra coisa
que facilita essa comunicação é o fato de essas línguas terem muitos sinais
que se assemelham às coisas representadas.
          8. As Línguas de Sinais são dependentes das línguas orais?
Os linguistas que estudaram as Línguas de Sinais de diferentes países
concluíram que, embora haja semelhanças entre as Línguas de Sinais e as
orais – os chamados “universais linguísticos” –, que permitem identi�cá-las
como línguas, e não linguagens, como as utilizadas pelos animais, elas
apresentam diferenças consideráveis entre si, as quais não dependem das
línguas orais utilizadas nesses países.
Por exemplo, Brasil e Portugal têm a mesma língua oral o�cial, o português,
mas as Línguas de Sinais desses países são muito diferentes, e isso também
acontece com os Estados Unidos e a Inglaterra. Desse modo, a língua de
sinais não é subordinada à língua oral majoritária do país, ou seja, as Línguas
de Sinais são, completamente, independentes das línguas orais dos países
em que são produzidas. É possível, porém, que países diferentes usem a
mesma língua de sinais, como é o caso dos Estados Unidos e do Canadá.
Da mesma forma que acontece com as línguas faladas oralmente, quando
algumas possuem as mesmas raízes (por exemplo, português, espanhol e
italiano), há correspondências entre as Línguas de Sinais de diferentes
países. A Libras e a ASL representam essa explicação, pois são derivadas da
LSF. Além disso, nelas, igualmente, existem variações, assim como há os
regionalismos e os dialetos em línguas orais. Essas variações se devem às
culturas diferentes e às in�uências diversas no sistema de ensino, por
exemplo.
Dessa forma, caro(a) aluno(a), você deve se conscientizar de que não é
possível falar em Libras e em português ao mesmo tempo, pois a Libras é
“falada de boca fechada”. As pessoas ouvintes, �uentes em Libras,
costumam misturar as duas línguas na comunicação com surdos e utilizam
os sinais, mas com a estrutura da Língua Portuguesa. Normalmente, o surdo
não compreende essa mistura de línguas, pois a construção de sentido
depende da estrutura e, portanto, da �delidade à gramática da língua de
sinais.
          9. As Línguas de Sinais são exclusividade dos surdos?
Como você já sabe, as Línguas de Sinais não são exclusividade dos surdos.
Como expõe Reily (2004), os ouvintes que apresentam distúrbios de fala
deveriam se apropriar da língua de sinais. A�nal, em diferentes situações,
sempre que existe necessidade, como no caso dos monges, dos
mergulhadores ou dos índios americanos, o homem cria saídas para permitir
a interação com o seu semelhante.
          10. O que é um tradutor intérprete de Libras e Língua Portuguesa?
É a pessoa que, sendo �uente em Língua Brasileira de Sinais e em Língua
Portuguesa, tem a capacidade de verter, em tempo real (interpretação
simultânea) ou com pequeno espaço de tempo (interpretação consecutiva),
a Libras para o português ou ele para Libras. A tradução envolve a
modalidade escrita de pelo menos uma das línguas envolvidas no processo.
A função de traduzir/interpretar é singular, haja vista que a atuação desse
pro�ssional leva-o a interagir com outros sujeitos e a manter relações
interpessoais e pro�ssionais, que envolvem pessoas com surdez e ouvintes,
sem que esteja efetivamente envolvido nelas, pois sua função é,
unicamente, mediar a comunicação. Assim, ao mediar a comunicação entre
usuários e não usuários da Libras, o tradutor/intérprete deve observar
preceitos éticos no desempenho de suas funções, entendendo que não pode
interferir na relação estabelecida entre a pessoa com surdez e a ouvinte,
por exemplo, a menos que seja solicitado.
Aspectos Linguísticos da Libras
A estrutura gramatical da Libras é organizada a partir de cinco parâmetros
que estruturam sua formação nos diferentes níveis linguísticos: a
con�guração da(s) mão(s) – CM, movimento – M, ponto de articulação – PA,
orientação das mãos – O, e componentes não manuais, que são as
expressões faciais e corporais.
A con�guração de mão (CM) tem sido coletada pelos pesquisadores em
comunidades de surdos das principais capitais brasileiras, e se trata do
ponto de partida da articulação do sinal, pois uma mesma CM possibilita a
produção de vários sinais. Por exemplo, a CM em “L” está presente nos sinais
de “televisão”, “trabalho”, “papel”, “educação”, dentre outros.
Ferreira-Brito (1995) propõe 46 con�gurações de mão. Atualmente, o
dicionário digital de Língua Brasileira de Sinais, organizado pela
Acessibilidade Brasil (disponível em: <www.acessobrasil.org.br/libras>.
Acesso em: 24 out. 2018) apresenta 73 con�gurações. A seguir, há as
con�gurações de mão mediante as cinco primeiras que compõem o alfabeto
digital.http://www.acessobrasil.org.br/libras
A Libras não se resume a escrever as palavras utilizando o alfabeto digital. A
escrita datilológica só é utilizada para nomes próprios ou para palavras que
ainda não têm um sinal ou que não podem ser facilmente representadas por
um classi�cador icônico. Essa escrita é feita em Libras, letra por letra, da
mesma forma que na Língua Portuguesa, mas soletrando, com a mão, o
nome Maria (escrita ou fala); M-a-r-i-a (soletração), por exemplo.
É importante soletrar devagar, formando as palavras com nitidez. Entre as
palavras soletradas, é melhor fazer uma pausa curta ou mover a mão direita
para o lado esquerdo, como se estivesse empurrando a palavra já soletrada
para o lado. Conforme a�rma Reily (2004),
os nomes podem ser transmitidos por datilologia, quando o surdo
está alfabetizado, mas a comunidade surda prefere a prática de
atribuir um sinal que identi�ca cada pessoa. Esse sinal adjetiva
características físicas da pessoa. Por isso, dois meninos chamados
Jonatas, por exemplo, podem ter sinais diferentes um do outro,
porque um tem uma covinha no queixo e o outro tem o cabelo
encaracolado, também pode acontecer de dois alunos de nomes
diferentes terem o sinal parecido (REILY, 2004, p. 132).
O movimento (M) é uma importante unidade mínima, pois, além de
participar ativamente da produção do sinal, atribui graça, beleza e
dinamismo a essa língua. Ao usarem a língua de sinais, as pessoas ouvintes,
normalmente, fazem os sinais de maneira mais estática, porque, embora o
movimento seja uma parte integrante dessa língua, ele é realizado com mais
propriedade pelos surdos, que são visuais, mais �uentes em relação aos
ouvintes e conhecem a língua profundamente.
Associar aspectos como o movimento e as expressões não manuais à
produção do sinal não é algo simples para os ouvintes. Essa habilidade exige
muita competência e �uência na língua, além de boa coordenação motora,
domínio do movimento e orientação no espaço. Desse modo, para os
ouvintes usuários da língua oral-auditiva, o domínio dessas habilidades é
algo bem complexo. Como exposto, por serem seres visuais, os surdos
adquirem essas habilidades com muito mais naturalidade e facilidade do
que os ouvintes.
Então, para que haja movimento, é preciso haver espaço, logo, o movimento
é indissociável do espaço. As variações do movimento servem para
diferenciar itens lexicais, como nome e verbo, para indicar a direcionalidade
do verbo. Por exemplo, o verbo “olhar” e “olhar para” indicam a variação em
relação ao tempo dos verbos: “olhe para”, “olhe �xo”, “observe”, “olhe por um
longo tempo”, “olhe várias vezes”. Assim, os movimentos se diferenciam pela
direcionalidade, pelo tipo, pela maneira (tensão e velocidade) e pela
frequência do sinal (movimentos simples ou repetidos).
Quanto à direcionalidade o movimento pode ser: unidirecional (proibir e
mandar); bidirecional (discutir, julgamento) e multidirecional (incomodar,
pesquisar).  Em relação ao tipo, os movimentos podem ser retilíneos
(encontrar, estudar); helicoidal (macarrão, azeite); circular (brincar,
preocupar), semicircular (surdo, coragem); sinuoso (Brasil, navio) e angular
(raio, difícil).
Em relação à maneira, tensão e velocidade, por exemplo, o verbo “olhar”,
pode ser sinalizado rapidamente, para dizer que a pessoa apenas avistou, ou
longamente, signi�cando que a pessoa olhou com atenção. No caso da
frequência do sinal (movimentos simples ou repetidos), isso pode ser
veri�cado na diferença entre o substantivo e o verbo, por exemplo, cadeira
e sentar. Ademais, um sinal pode ser realizado sem movimento. Observe os
exemplos.
Circular
Semicircular
Helicoidal
Unidirecional
Bidirecional
A orientação das mãos (OM) é a direção para a qual a palma da mão aponta
na produção do sinal. É possível identi�car seis tipos de orientações da
palma da mão em Libras: para cima, para baixo, para o corpo, para frente,
para a direita e para a esquerda. Também pode ocorrer a mudança de
orientação durante a execução de um sinal, por exemplo, no sinal para
montanha.
Além disso, a orientação das mãos é importantíssima e diferencia o
signi�cado em pares mínimos que possuem CM, M e PA iguais, como ajudar
e ser ajudado, eu perguntar e me perguntar, eu responder e responder
para mim etc. Assim, além de ser utilizado na �exão de verbos, o parâmetro
OM é empregado na marcação de negativas, como em querer e não querer,
gostar e não gostar etc.
a) Gostar:
b) Aprender:
c) Desculpar:
Em relação à expressão facial, como você já sabe, a Libras conta com uma
série de componentes não manuais, como a expressão facial e o movimento
do corpo, que, muitas vezes, podem de�nir ou diferenciar signi�cados entre
os sinais. Esses componentes envolvem movimento da face, dos olhos, da
cabeça e do tronco. A expressão facial e a corporal podem traduzir alegria,
tristeza, raiva, amor, encantamento etc., atribuindo mais sentido à Libras e,
em alguns casos, determinando o signi�cado de um sinal. Observe os
exemplos:
Os sinais são executados em Libras dentro de um espaço bem de�nido,
denominado espaço de sinalização, que abrange a área delimitada pelos
quadris e o topo da cabeça. É a manipulação dos sinais no espaço que
estabelecem as relações gramaticais em Libras. A informação gramatical se
apresenta simultaneamente ao sinal e é produzida por mecanismos
espaciais que envolvem dois aspectos: a incorporação, usada, por exemplo,
para expressar localização, número, pessoa, e o uso de sinais não manuais,
como movimentos do corpo e expressões faciais.  
Expressão Facial ou Modulação não Manuais em Libras
São as componentes não manuais, particularmente, as expressões faciais
que estabelecem a modulação em Libras, equivalente à entonação nas
línguas orais. A Libras também usa modulações de olhar e expressões faciais
e corporais para transmitir a intensidade do verbo apresentado e sua
signi�cação no contexto. Ainda, há as modulações de grau e de intensidade,
pelas expressões faciais, que podem ser consideradas gramaticais. Essas
marcações são denominadas “marcações não manuais”.
A sinalização é sempre acompanhada pela posição da cabeça, por
movimentos da cabeça, pela postura do corpo e, principalmente, pela
expressão facial. Esses componentes podem indicar alegria, tristeza, raiva,
amor, encantamento, dentre outros sentimentos, dando mais sentido à
Libras e, como você já sabe, determinando o signi�cado de um sinal.
Observe os exemplos.
O olhar também faz parte das expressões faciais, particularmente na
apontação. Por exemplo, aponta-se para o lado e o olho segue o dedo. Se a
apontação é para cima, os olhos também se direcionam para cima. Observe:
Por sua vez, o ponto de Articulação (PA) é a segunda principal unidade
mínima e refere-se ao lugar do corpo em que será realizado o sinal. Os sinais
podem ser produzidos em quatro pontos de articulação: tronco, cabeça,
mão e espaço neutro e subespaços (nariz, boca, olho etc.).
Muitos sinais envolvem um movimento indo de um ponto de articulação
para outro, mas, mesmo assim, cada sinal tem apenas um ponto de
articulação, mesmo que ocorra um movimento de direção. Se dois sinais têm
con�guração de mão e movimento iguais, mas pontos de articulação
diferentes, eles são diferentes. Por exemplo, os sinais de “amar”, “ouvir”,
“aprender” e “laranja” diferem-se entre si apenas pelo ponto de articulação.
Aspectos Morfológicos
A Morfologia se refere à maneira como as palavras são formadas em uma
língua. Nesse sentido, a Libras tem um léxico e recursos que permitem a
criação de novos sinais. Esses recursos são denominados derivação,
composição e incorporação.
Na derivação, um novo sinal é obtido pelo enriquecimento do radical (raiz)
com vários movimentos e contornos no espaço. A maneira mais comum de
criação de novos sinais em Libras é realizar mudanças no movimento, para
derivar verbos de substantivos e vice-versa.
Outra forma bastante usual de criar novos sinais é a composição, em que,
como o próprio nome indica, dois ou mais sinais se combinam para criarum
novo sinal. Observe os exemplos a seguir.
Da mesma forma que nas línguas orais, em que uma palavra é polissêmica,
isto é, admite diferentes signi�cados, existem sinais em Libras que também
admitem diferentes signi�cados. Portanto, o contexto em que esses sinais
são usados estabelece as diferenças. Observe os seguintes exemplos:
Apesar de a Libras ser independente da Língua Portuguesa, alguns sinais
são originários das iniciais da representação escrita de seus signi�cados,
demonstrando que, da mesma forma que nas línguas orais, em que uma
língua in�uencia a criação de novas palavras (exemplo: deletar), a Libras é
in�uenciada pela Língua Portuguesa.
Tipos de Frases em Libras
As sobrancelhas e o rosto são neutros.
A negativa pode ser feita de duas maneiras: com as sobrancelhas franzidas e
a cabeça sendo balançada para os lados, como na Figura 1, ou com a cabeça
parada, com as sobrancelhas franzidas e o dedo sendo balançado,
representando “não”, como na Figura 2.
As sobrancelhas levantadas e a boca um pouco aberta.
1. Sobrancelhas franzidas levemente, não como na frase imperativa, apenas
de maneira séria. Por exemplo, em uma reunião, uma audiência ou
entrevista, há algumas perguntas que combinam com essa face, por
exemplo, “Sabe escrever um livro?”; “Em qual banco você sacou
dinheiro?”; “Quer casar com minha �lha e vai cuidar bem dela?”; “Vai
trabalhar amanhã?”; “Vai vir comigo para casa agora?”; “Você assume a
responsabilidade de seu trabalho?”.
2. Cabeça levantada levemente, sobrancelhas arqueadas e boca um pouco
aberta, para expressar o pronome interrogativo “quem”: “Quem é?”;
“Quem vem?”; “Bolsa de quem?”; “Carro de quem?”.
3. Sobrancelhas franzidas e curvadas com a boca em forma “semicircular”,
para expressar a pergunta “cadê”: “Cadê a bola?”.
4. Boca em “U” e as sobrancelhas neutras expressam “o que”, referindo-se a
questões do tipo: “O que tem aí?”; “O que vai fazer?”; “O que tem dentro?”.
5. Sobrancelhas levantadas e boca fechada, para perguntar “quer?” e fazer
perguntas que questionam, por exemplo, o desejo de outra pessoa, e
podem ser utilizadas em conversas cotidianas. Por exemplo, “Gosta de
comer morango?”; “Vai viajar hoje?”; “Você é casad@?”; “Quer
refrigerante?”; “Quer bolacha?”; “Você sabe cozinhar?”; “Você consegue
dirigir um carro grande?”.
6. Sobrancelhas franzidas e boca fechada expressam perguntas referentes a
identidade pessoal, saudações cotidianas, locais, por meio de palavras
como “onde”, “por que”, “para que”, “nome”, “idade” e “sinal”. Por exemplo,
“Onde �ca o Correio?”. Também é possível uma combinação das
expressões em frases interrogativas e exclamativas, como em “Para que
muita roupa (risos)?”.
Assim, o importante é utilizar a expressão adequada a cada pergunta no
contexto das conversas cotidianas.
As sobrancelhas franzidas e o rosto representando “brava”.
Tipos de Negação
Há três tipos de negação: somente acrescentando um sinal para “não”;
incorporando a negação e utilizando sinais diferentes. Por exemplo, “não +
conhecer”: é preciso sinalizar “conhecer”, com a cabeça balançando, o que
demonstra “não”.
Nas fotos a seguir, observe que o sinal para a negação é diferente do sinal
a�rmativo, pois já está incorporando a negação. É válido, salientar, porém,
que são poucos os sinais em que a negação está incorporada.
Flexão de Gênero
A �exão de gênero, quando necessária, é marcada pelo sinal de masculino
ou feminino antecedendo o substantivo. Já explicamos sobre a morfologia e
os sinais compostos ou a composição de sinais, então, quando se faz a
transcrição da Libras para a Língua Portuguesa, o símbolo @ signi�ca que
não há marcação de gênero, por isso, precisamos acrescentar primeiro o
gênero, depois o sinal, por exemplo, “tio = homem^C na testa”. No caso de
animais, também é preciso acrescentar a �exão de gênero, por exemplo,
“égua = mulher^cavalo”.
Grau ou Advérbio de Intensidade
Tipo de Verbos
Em Libras, os verbos classi�cam-se em simples, ou sem concordância,
direcional, ou com concordância, e espacial.
Os verbos simples ou sem concordância não se �exionam em pessoa e
número e não incorporam a�xos locativos, mas alguns apresentam �exão de
aspecto. Todos os verbos ancorados no corpo são simples, porém há alguns
que são feitos no espaço neutro. Exemplos dessa categoria são “precisar”,
“pensar”, “conhecer”, “casar”, “aprender”, “saber”, “inventar” e “gostar” (UFSC,
2008, on-line).
Os verbos com concordância ou direcionais se �exionam em pessoa,
número e aspecto, mas não incorporam a�xos locativos. Exemplos dessa
categoria são “dar”, “enviar”, “responder”, “perguntar”, “dizer” e “provocar”,
que são subdivididos em concordância pura e reversa (backwards). Os
verbos com concordância apresentam direcionalidade e orientação. A
primeira está associada às relações semânticas (source/goal). A segunda, a
orientação da mão voltada para o objeto da sentença, está associada à
sintaxe (UFSC, 2008, on-line).
O verbo espacial tem as mesmas características que os verbos com
concordância. São sinais de movimentos direcionais, �exionam-se em
pessoa e, além dos objetos, incorporam advérbios de lugar como a�xos
(a�xos locativos). Veja os exemplos a seguir.
Classi�cadores
Ainda no que se refere às categorias ou estruturas gramaticais da Libras, há
os classi�cadores, os quais são auxiliares da língua de sinais, para
determinar as especi�cidades e “dar vida” a uma ideia ou a um conceito ou
signos visuais. Isso signi�ca que o classi�cador representa a forma e o
tamanho dos referentes, assim como características dos movimentos dos
seres em um evento, tendo, pois, a função de descrever o referente dos
nomes, adjetivos, advérbios de modo, verbos e locativos.
A denominação dos classi�cadores (CLs) como “auxiliares”,
importantíssimos para as Línguas de Sinais, foi atribuída pela comunidade
de linguistas, para fazer a comparação com as funções da língua falada ou
oral e suas estruturas gramaticais. Para os pesquisadores surdos, essa
estrutura gramatical da Libras ainda está à procura de uma de�nição
adequada para nomeá-la, de acordo com as perspectivas viso-espaciais.
Para as Línguas de Sinais, a descrição e a reprodução da forma, do
movimento e da relação espacial do que se quer enunciar são fundamentais,
pois tornam mais claro e compreensível o signi�cado do que está sendo
exposto. Essa é a principal função dos classi�cadores.
Em Libras, esses classi�cadores são formas representadas por
con�gurações de mão, que podem aparecer junto de verbos de movimento
e de localização, para classi�car o sujeito ou o objeto que está ligado à ação
do verbo. Além de, como já exposto, tornarem mais compreensível o
signi�cado do enunciado, os classi�cadores desempenham uma função
descritiva e  podem detalhar som, tamanho, textura, paladar, tato, cheiro,
formas em geral de objetos inanimados e seres animados etc.
Muitos classi�cadores são icônicos em seu signi�cado, devido à semelhança
entre a sua forma ou ao tamanho do objeto referido. Como os
classi�cadores obedecem a regras de construção e são representados
sempre por con�gurações de mãos especí�cas associadas a expressões
faciais, corporais e à localização, ou seja, aos parâmetros da Libras, apesar
de serem icônicos, não podem ser considerados mímica, como já exposto
anteriormente. A seguir, há mais alguns exemplos. Observe-os.
Logomarca:
Corpo:
Plural:
Instrumental:
Elemento:
Especí�co:
Descritivo:
Classi�cador de sintaxe: o classi�cador descreve uma ação e o verbo
“incorpora” o sujeito ou o objeto. Por exemplo, “gato X cachorro, morder”. O
sinal para o verbo é igual, mas é preciso sinalizar qual é o animal que está
mordendo. Isso também acontece com os verbos “andar” e “correr”.
Observe os exemplos a seguir.
No caso de “elefante andando e de porco andando”, por exemplo, por meio
dos sinais, é possível perceber que há diferença entre os dois animais.
Em relação ao verbo “beber”, é necessário incorporar o objeto utilizado,
como no exemplo a seguir.
No caso de  “andar”, incorpora-se a quantidade de pessoasque estão
andando.
Quanto a “escovar”, “pente”, “escova para roupa”, “escovar dentes”, os sinais
são diferentes. Observe os exemplos a seguir.
A seguir, a mais dois exemplos.
Comer:
Lavar:
Esses sinais são muito parecidos com o que estão representando, mas não
são mímicas, porque há con�guração de mãos, movimento, orientação,
ponto de articulação e expressões não manuais. Assim, o classi�cador é uma
representação da Libras que mostra detalhes especí�cos, permitindo a
descrição de pessoas, animais e objetos, bem como a movimentação ou a
localização. Os classi�cadores são muito importantes, pois ajudam a
construir a estrutura sintática da Libras.
Marcação de Tempo Verbal
Os tempos verbais em Libras se resumem em presente, passado e futuro.
Caso seja utilizado o tempo presente, ele pode ser enfatizado pelos sinais
de “agora” ou “já”, seguidos do sinal do verbo desejado. Caso seja o tempo
passado, utilizam-se os sinais de “ontem” ou “muito tempo atrás”, e o sinal do
verbo. Por �m, caso seja o tempo “futuro”, sinaliza-se “amanhã” ou um
“futuro mais distante”, em seguida, o sinal do verbo. A ordem pode ser
invertida em qualquer um dos casos, sinalizando-se, primeiro, o verbo e,
depois, o advérbio de tempo.
Além disso, a Língua Portuguesa possui derivações e a própria morfologia
para deixar claro o tempo verbal e o pronome pessoal que está sendo
utilizado. Em Libras, entretanto, precisamos de um sinal especí�co para o
tempo verbal, outro para o pronome pessoal e outro para o verbo. Por
exemplo:
Entender:
1- Eu
Entendi = passado.
Entendo = presente.
Entenderei = futuro.
2- Nós
Entendíamos = passado.
Entendemos = presente.
Entenderemos = futuro.
 
Em Libras �ca assim:
1- Nós
Nós entender já.
Nós entender sim.
Nós ir entender.
2- Eu
Eu entender antes.
Eu ainda entender.
Eu futuro entender.
 
Então, precisamos sinalizar duas palavras ou mais, pois é impossível
sinalizar apenas o verbo com a derivação, como em Língua Portuguesa.
Observe outros exemplos:
Mamãe comprar mercado já ontem.
Mamãe comprar mercado amanhã.
Mamãe comprar vivo mercado.
 
O sinal de “vivo”, ou “vida”, acompanhando o sinal de um verbo, indica o
gerúndio. Desse modo, “Mamãe comprar vivo mercado” signi�ca “Mamãe
está comprando no mercado”.
Sinais para passado:
Sinais do tempo presente:
Sinais para futuro:
Aspectos Sintáticos
A sintaxe da Libras não pode ser estudada tendo como base a da Língua
Portuguesa, porque tem gramática diferenciada, independente da língua
oral. A ordem dos sinais na construção de um enunciado obedece a regras
próprias, que re�etem a forma de o surdo processar suas ideias, com base
em sua percepção visual-espacial da realidade.
Em relação à ordem da frase em Libras, embora a construção SVO (sujeito –
verbo – objeto) seja predominante, de acordo com Quadros e Karnopp
(2004), a ordem “tópico comentário” ou OSV parece ser a mais comum,
principalmente entre os surdos menos oralizados. Também é possível
encontrar construções como SOV e OSV.
Os advérbios temporais e de frequência não podem interromper uma
relação entre o verbo e o objeto, sendo que os temporais podem aparecer
antes ou depois da oração. Por exemplo, “João comprar carro amanhã” ou
“Amanhã João comprar carro”. Os advérbios de frequência, por sua vez,
podem aparecer antes ou depois do complemento, como em “Eu bebo leite
algumas vezes” ou “Eu, algumas vezes, bebo leite”. Assim, encerramos nosso
estudo a respeito dos aspectos linguísticos da Libras.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para complementar seus estudos sobre o tema, indicamos livros
como “Que palavra que te falta? Linguística, educação e surdez”, de
Regina Maria de Souza, publicado em 1998, pela editora Martins
Fontes, de São Paulo. Embora não seja um livro sobre a história da
educação dos surdos, esse livro é imprescindível para a compreensão
do papel da língua de sinais na constituição do surdo como sujeito,
permitindo avaliar melhor a “tragédia” que signi�cou para os surdos a
proibição do uso dessa língua e o que signi�ca esse resgate que
vivenciamos atualmente. O livro apresenta, ainda, no Capítulo V, um
resgate histórico a respeito das pesquisas sobre Línguas de Sinais.
O segundo livro que podemos indicar é “Libras: conhecimento além
dos sinais”, de Maria Cristina da Cunha Pereira, Daniel Choi, Maria
Inês da S. Vieira,  Priscilla Roberta Gaspar e Ricardo Nakasato. Esse
material foi publicado pela editora Pearson, de São Paulo, em 2011.
Dentre esses autores, duas são ouvintes. Maria Cristina é
professora titular da PUC/SP, doutora em Linguística. Por sua vez,
Maria Inês é mestre em Educação, na área de distúrbios da
comunicação, e tradutora-intérprete de nível superior em LIBRAS,
certi�cada pelo PROLIBRAS. Os demais autores são surdos,
professores de Libras, com graduação em Letras/Libras pela UFSC. O
livro, composto por poucas páginas e com um texto �uente e
agradável, deveria ser leitura obrigatória para todos aqueles que
pretendem se aproximar do mundo dos surdos. Enfatizando aspectos
fonológicos, morfológicos e sintáticos da Libras, o livro apresenta,
ainda, a síntese histórica da educação de surdos e as discussões sobre
cultura e identidades surdas, além de tecer comentários sobre
legislação e proposta inclusiva.
Considerações Finais
O caminho que trilhamos nesta unidade começou com a contextualização
do tema. Desse modo, discutimos as relações entre pensamento e
linguagem, ressaltando que o importante para o ser humano não a língua
que se usa, mas ter uma língua. Esperamos que, com esta unidade,
tenhamos demonstrado a importância da língua de sinais, nesse caso, da
Libras, para o desenvolvimento cognitivo e social dos surdos, além de
possibilitado a desconstrução de crenças e preconceitos a respeito dos
surdos e da surdez.
Nesse sentido, como você já sabe, além de favorecer o desenvolvimento
cognitivo e social do aluno, como em sua produção escrita, a utilização da
Libras evidencia que é falsa a ideia de que fazer uso de sinais poderia ser um
fator complicador para a aprendizagem da língua oral. Assim, concordamos
com Gesser (2009, p. 59), quando o autor a�rma que muitas das barreiras
erguidas contra as Línguas de Sinais ainda são decorrentes da forte
in�uência da �loso�a oralista na educação de surdos.
Muitos pesquisadores, entretanto, “[...] têm abolido a visão exposta, ao
a�rmarem justamente o inverso: é o não uso da língua de sinais que
atrapalha o desenvolvimento e a aprendizagem de outras línguas pelo
surdo”. Essa visão dos pesquisadores preconiza o uso da Libras não apenas
como apoio no aprendizado da Língua Portuguesa, a�nal, é mais fácil se
aprender uma segunda língua apoiando-se em uma língua já adquirida, mas
e, no nosso entender, principalmente, em função de que a língua de sinais,
ao ser incorporada pelo surdo, favorece o desenvolvimento cognitivo desse
sujeito.
Gesser (2009, p. 59) vai mais além, ao considerar que “[...] a relação do
indivíduo surdo profundo com a língua oral é de outra ordem (dado que não
ouvem!), a incorporação da língua de sinais é imprescindível para assegurar
condições mais propícias nas relações intra e interpessoais” e, ainda
segundo a autora, na mesma página, seriam essas relações intra e
interpessoais que “[...] constituem o funcionamento das esferas cognitivas,
afetivas e sociais dos seres humanos”.
Esperamos, portanto, com esta unidade, termos convencido você, caro(a)
aluno(a), acerca da importância da Libras para a educação e para a vida do
surdo. Assim, �nalizando esta primeira unidade, destacamos alguns
aspectos das línguas de sinais, de maneira geral, e da Libras, em particular, a
seguir.
A língua de sinais é tão natural e tão complexa quanto as línguas orais,
dispondo de recursos expressivos su�cientes para permitir que seus
usuários se expressem sobre qualquer assunto, em qualquer situação,
domínio do conhecimento e esfera de atividade.
A Libras é uma língua adaptada à capacidade de expressão dos surdos
brasileiros, devendo, portanto, ser conhecida pelo menos em seusaspectos fundamentais pelos professores.
A Libras é uma língua com gramática própria e com condições de
proporcionar a comunicação efetiva entre os surdos, incluindo a
expressão de sentimentos, a composição de poesias, a discussão
�losó�ca, en�m, é um idioma completo.
As línguas de sinais não são iguais em todo o mundo.
As línguas de sinais, por comprovação cientí�ca, cumprem todas as
funções de uma língua natural, mas ainda sofrem preconceito e são
desvalorizadas diante das línguas orais, sendo consideradas uma
derivação da gestualidade espontânea, como uma mescla de pantomima e
sinais icônicos.
A língua de sinais não é subordinada à língua oral majoritária de um país,
pois é, completamente, independente das línguas orais dos países onde é
produzida.
Não é possível falar em Libras e em português ao mesmo tempo, pois a
Libras é “falada de boca fechada”.
Por �m, sugerimos que, sempre que possível, você tente falar em Libras com
seus colegas e estude em casa.
Atividade
A apontação em Libras faz parte da língua. Apontar é algo muito comum em Libras, diferente do português, no
qual o ato de apontar pode ser considerado falta de educação. Nesse sentido, analise as a�rmativas acerca da
função da apontação em Libras e assinale a alternativa correta.
I. Serve para indicar localização.
II. Serve para estabelecer pontos no espaço.
III. Serve para estabelecer os tipos de frases.
IV. Serve para indicar as pessoas do discurso.
As a�rmativas I e II estão corretas.
As a�rmativas II e III estão corretas.
As a�rmativas I, II e IV estão corretas.
As a�rmativas I, III e IV estão corretas.
Todas as a�rmativas estão corretas.
Atividade
Leia com atenção e assinale a alternativa correta. Um classi�cador (Cl) é uma forma que estabelece um tipo de
concordância em uma língua. Nas línguas orais, os classi�cadores são morfemas gramaticais que são a�xados aos
morfemas lexicais para especi�car aquilo a que a palavra se refere, como a classe a que pertence, o gênero, a
forma, o tamanho etc. Em Libras, a principal função dos classi�cadores é:
indicar o plural.
tornar mais claro e compreensível o que se quer falar.
proporcionar a �exão de gênero.
evidenciar que são os únicos sinais associados às expressões faciais.
indicar o tempo verbal.
Atividade
Leia as a�rmativas e assinale a alternativa correta.
I. A Libras é utilizada em todo o território nacional.
II. A Libras é universal.
III. A Libras é uma língua como qualquer outra.
IV. A Libras é uma língua visomotora.
As a�rmativas I e II estão corretas.
As a�rmativas II e III estão corretas.
As a�rmativas I, II e IV estão corretas.
As a�rmativas I, III e IV estão corretas.
Todas as a�rmativas estão corretas.

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