Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Luíza Barreto – Medicina 2021.2 Principais Arritmias na Infância - cardioped • As arritmias são os distúrbios do ritmo cardíaco ou da frequência cardíaca. • Ocorrem por alterações no sistema de condução ou devido a lesões do próprio tecido cardíaco. As arritmias são frequentes no pós-operatório de cirurgia cardíaca e não são apenas decorrentes do ato cirúrgico. Podem ser causadas por distúrbios do potássio, hipoxia, acidose, hipercapnia ou disfunção ventricular. Quando decorrentes do ato cirúrgico, são causadas por manipulação do sistema de condução, presença de cateteres intracardíacos e processos inflamatórios do pericárdio. FATORES DE RISCO: HISTÓRIA: → Sintomas em recém-nascidos e lactentes: Irritabilidade, ICC, sudorese, sonolência, cansaço ao mamar (são as principais queixas que fazem os pais levarem os bebês para investigar). → Sintomas em crianças maiores: Principalmente nas taquicardias vai ter palpitações, precordialgia, cefaleia, até sintomas de pré-síncope, sendo que as bradicardias levam mais à síncope, fadiga e sonolência. EXAME FÍSICO: • Fora da crise: Exame normal ou sopro da cardiopatia congênita, ou alguma coisa da doença de base • Durante a crise: Pulsos rápidos ou lentos, a depender da arritmia. • Sempre checar possíveis sinais de instabilidade hemodinâmica. EXAMES COMPLEMENTARES: - O padrão ouro vai ser o eletrocardiograma, que deve ser realizado em todas as crianças com sintomas descritos. É um exame simples e acessível, e que pode chegar só com uma taquicardia sinusal mesmo, devendo checar a causa base. - Além do ECG, depois de controlar a arritmia, pode lançar mão do ecocardiograma para ver se tem cardiopatia estrutural associada, se tem miocardite. Pode fazer também o teste ergométrico, a depender especialmente nas bradiarritmias (para ver como esse paciente se comporta no esforço). O holter de 24 horas, quando é um paciente de consultório, eletivo (porque o paciente ambulatorial pode ter uma queixa, com exame físico normal, ECG normal, mas quando faz o holter vê que faz uma arritmia eventualmente. - Pede exame de laboratório para investigar intoxicações, perfil tireoidiano (tireoidites são uma importante causa de taquicardias, especialmente nos adolescentes). ELETROCARDIOGRAMA: - O nó sinusal vai despolarizar os átrios, e essa despolarização vai chegar até o nó atrioventricular, e esse estimulo elétrico vai despolarizar os ventrículos através dos feixes de His até as paredes laterais. - O eletrocardiograma normal apresenta onda P, complexo QRS e onda T. É importante identificar a presença deles, pois a ausência deles vai fazer pensar em arritmias. - A frequência cardíaca vai ser 1500 dividido pelo número de quadradinhos entre duas ondas R. - A duração do intervalo PR é de 0,12 a 0,20 segundos e do complexo QRS é de 0,06 a 0,10 segundos. (Só para informação, não precisa decorar) Luíza Barreto – Medicina 2021.2 Obs: Em V1, geralmente a onda P apresenta plus minus, que é quando tem uma fase negativa e outra positiva. - Exemplo de ECG com ritmo sinusal, com onda P positiva em DI, DII e aVF, com morfologia arredondada, com plus minus em V1(uma porção positiva e uma negativa da onda P) e positiva em V5 e V6. CLASSIFICAÇÃO: • Taquicardias (pulso rápido) • Bradicardias (pulso lento) • Ritmos de colapso (sem pulso – PCR): FC < 60 bpm e sinais de má perfusão periférica (ritmo com comprometimento hemodinâmico) → Geralmente palpa o pulso menor que 60, porque as vezes tem um batimento tão rápido que faz uma FC rápida, mas não consegue gerar pulso (de tão rápida que é a frequência) → as vezes no ECG dá 200 bpm, e na palpação de pulso dá menor que 60. - As taquicardias podem ser a taquicardia sinusal ou a taquiarritmia. - De forma geral, frequências cardíacas maiores que 200 são taquiarritmias. → Mas em RN, principalmente pré- termo, pode acontecer de ter uma frequência de 200, 210 bpm ainda em ritmo sinusal (desidratam muito rápido, tudo deles é muito lábil) - Em crianças maiores uma frequência maior que 180 já levanta suspeita de taquiarritmias. - Na taquicardia sinusal, geralmente tem uma frequência cardíaca até 200 bpm, e dá pra ver todos os componentes do eletrocardiograma (ondas P, QRS e T) em ritmo sinusal, todos eles com morfologia preservada. Geralmente o QRS é mais estreito (> 0,08 segundos). - O tratamento da taquicardia sinusal é tratar a causa de base (febre, desidratação, anemia, infecções, distúrbios psicogênicos, dor, choque, hipertireoidismo). A taquicardia sinusal pode ser decorrente de dor, ansiedade, febre, hipovolemia, insuficiência cardíaca e uso de inotrópicos e geralmente se reverte com o controle destes fatores. Em alguns casos excepcionais há indicação e controle com digital. - As taquiarritmias podem ser ventriculares ou supraventriculares, mas a mais comum é a taquicardia supraventricular, porque a gente tem dentro das taquicardias de origem atrial, tem o flutter atrial, fibrilação atrial, taquicardia atrial, mas não são comuns na pediatria (não vai abordar). A manifestação clínica da taquiarritmia em crianças depende da faixa etária, da duração e do tipo de arritmia. A taquicardia na população pediátrica pode apresentar- se sob a forma assintomática, com sintomas leves, moderados, ou gerar comprometimento significativo do débito cardíaco com sinais de insuficiência cardíaca. E frequente a taquicardia supraventricular acometer um recém-nascido, atingir frequência cardíaca acima de 250 bpm e o bebê apresentar-se assintomático. Nesse caso, o diagnóstico é feito pelos pais ou pelo pediatra, observando-se aumento anormal da FC, que pode ser esporádico ou persistente. Por outro lado, arritmias paroxísticas com frequência cardíaca muito elevada podem ocasionar sintomas agudos de baixo débi to cardíaco com palidez intensa, tontura, escurecimento visual e síncope. Esse quadro deve ser identificado com precisão, por estar relacionado com arritmia potencialmente fatal. Os pacientes portadores de cardiopatia apresentam maior comprometimento do débito cardíaco perante uma taquiarritmia, quando comparados a uma criança com coração normal e, desta forma, manifestam os sinais e sintomas com maior intensidade. A síndrome de WPW e a TRN habitualmente são arritmias de comportamento paroxístico com sintomas agudos. Algumas taquicardias como flutter atrial, fibrilação atrial, taquicardia atrial ectópica e caótica podem apresentar comportamento paroxístico ou incessante. Na faixa etária de recém-nascido a dois anos, a criança pode suportar uma FC muito elevada, próxima de 300 bpm, sem comprometimento hemodinâmico significativo. Na maioria das vezes, o paciente apresenta-se assintomático e o diagnóstico é feito pela ausculta Luíza Barreto – Medicina 2021.2 cardíaca. Deve-se valorizar a existência de FC persistente acima dos limites da normalidade. Quando o paciente se apresenta sintomático, é importante avaliar sinais como sudorese, cansaço, interrupção das mamadas, recusa alimentar e irritabilidade. Baixo débito cardíaco é infrequente nessa idade, mas, quando ocorre, deve-se estar alerta quanto à presença de disfunção ventricular. Os sinais encontrados são palidez cutânea, cianose, extremidades frias, taquidispneia, sonolência, hepatomegalia e pulsos diminuídos. Na taquicardia supraventricular (TSV) de crianças entre dois e seis anos, os sintomas são referidos principalmente como dor no peito, inquietação e choro, mais raramente como palpitação ou taquicardia. Alguns sintomas associados devem ser valorizados, como palidez cutânea, fadiga, tontura e angústia. Em casos de baixo débito cardíaco determinado pela taquicardia, os sinais e sintomas serão semelhantes aos encontrados na criança menor, citados anteriormente. Acimade seis anos de idade, a manifestação clínica é semelhante à do adulto, com relato de palpitação, início e término súbitos, duração variável e os sintomas associados são semelhantes aos citados anteriormente. Habitualmente, não há relação com esforços. A taquicardia ventricular na infância pode se manifestar de forma paroxística ou incessante. Os sintomas serão mais proeminentes nas crianças com cardiopatia associada. Estudo realizado em taquicardia ventricular idiopática em crianças observou que 36% dos pacientes apresentaram sintomas. Em um terço dos casos, os sintomas foram considerados graves, com síncope e insuficiência cardíaca congestiva. No restante, a manifestação foi leve, com palpitações, tontura e intolerância aos exercícios. Em relação à faixa etária dos pacientes, os sintomas foram mais frequentes nas crianças maiores de um ano. - A taquicardia supraventricular é a taquiarritmia mais frequente na criança (na dúvida, pensa em taquisupra). A frequência cardíaca geralmente é mais alta, giram em torno de 250-280 bpm (sempre acima de 220 bpm). - O que caracteriza no diagnóstico é que geralmente vão ter um QRS estreito (<0,08 s) e uma difícil definição de onda P e onda T (quando a gente consegue ver uma onda P, ela geralmente não tem uma morfologia normal → geralmente não é positiva em DI, DII e aVF e nem arredondada). Obs: O QRS largo, que é a taquicardia supraventricular com QRS aberrante, é raríssima na pediatria. Obs: No ECG do exemplo, é difícil identificar uma onda P e uma onda T adequada, o que dá pra ver é uma FC elevada (1500:5), sem ondas P e T definidas de forma fácil, e um QRS estreito. A taquicardia atrial paroxística ou supraventricular ocorre em cirurgias que envolvam manipulação dos átrios. O tratamento consiste em manobras vagais, administração de adenosina na dose de 0,1 a 0,2 mg/kg, via endovenosa, em bolus, em infusão rápida, cuja dose pode ser repetida. Como opções terapêuticas, ainda podem ser administradas amiodarona, 5 a 10 mg/kg, via endovenosa, infundida em 1 h, ou digital, 10 µg/kg/dia, via oral, em duas doses. Nos casos de baixo débito cardíaco ou má perfusão periférica, está indicada a cardioversão elétrica sincronizada com carga de 0,5 a 1 J/kg, podendo ser repetida com carga de 2 J/kg, sob sedação. - No tratamento da taquicardia supraventricular, se o paciente tiver estável, pode considerar a manobra vagal com bolsa de gelo ou canudo entupido (pega o canudo, pede pro paciente soprar e pega a extremidade distal e oclui). De medicamento, se tiver disponível usa a adenosina (faz reiniciar o coração, faz uma pausa para que o coração possa se reorganizar e voltar a bater em ritmo sinusal). A amiodarona também é feita em casos de pacientes estáveis. Se não houver resposta com nenhuma dessas medidas, pode considerar a cardioversão elétrica em pacientes estáveis após sedação (não dar choque sem sedar). - Exemplo de manobra vagal usando bolsa de gelo em um lactente. A manobra vagai e alguns medicamentos, como a adenosina, são específicos para bloquear ou tomar lento o nó atrioventricular (AV). As arritmias que dependem do nó AV para manter o circuito, como a síndrome de WPW e a TRN, beneficiam-se dessa terapêutica, interrompendo a taquicardia. Entretanto, arritmias confinadas ao átrio, que não dependem do nó AV, como atrial ectópica, flutter e fibrilação atrial, transitoriamente apresentam diminuição da resposta ventricular e, após passar o efeito da manobra ou da medicação, há o retomo do ritmo ao padrão anterior, sem efetivamente tratar a arritmia. A manobra vagai pode ser realizada na criança com a colocação de compressa com gelo na face, durante 5 a 10 s ou com imersão em água e gelo em apneia inspiratória por 5 a 10 s. Em recém-nascidos, a tomada da temperatura retal pode ser uma manobra vagai efetiva. Manobras como compressão do globo ocular, massagem Luíza Barreto – Medicina 2021.2 do seio carotídeo e reflexo do vômito devem ser evitadas na população pediátrica. Para reversão aguda da arritmia, a primeira escolha medicamentosa, normalmente, é a adenosina. O verapamil é contraindicado para crianças abaixo de um ano de idade pelo risco de desencadear colapso cardiovascular. O uso da digoxina em pacientes com pré- excitação ventricular deve ser descartado. Essa medicação pode encurtar o período refratário anterógrado da via acessória e, nos casos de fibrilação atrial, o estímulo pode ser conduzido rapidamente para os ventrículos e degenerar em fibrilação ventricular, com risco de morte súbita. Em casos de taquiarritmias com baixo débito cardíaco, a cardioversão elétrica pode ser realizada. O procedimento deve ser feito com segurança. E necessário que o paciente tenha acesso venoso adequado, uso de sedação (diazepam, midazolam, barbitúricos), analgésico (fentanila, morfina, meperidina), monitoramento da pressão arterial e disponibilidade de marca-passo externo. Obs: As taquicardias de duração fugaz ou assintomáticas normalmente não requerem tratamento. Aos pacientes com crises infrequentes, prolongadas e bem toleradas, pode-se orientar uma medicação de rápida ação, administrada por via oral pelo próprio paciente, chamada de pill-in-the-pocket. As arritmias de difícil término, duração prolongada, crises frequentes ou que ocorram relacionadas com a atividade física devem receber terapêutica medicamentosa, assim como orientação quanto à ablação por radiofrequência. A primeira linha de tratamento crônico de TSV é com medicação que modifica a condução pelo nó atrioventricular, como betabloqueador, digoxina e bloqueador de canal de cálcio. Exceto na síndrome de WPW, em que a digoxina e o bloqueador de canal de cálcio devem ser evitados. Essa abordagem proporciona diminuição das crises, tanto em número quanto em duração; entretanto, a supressão completa da arritmia é rara. - No paciente instável, com repercussão hemodinâmica, a gente vai direto para a cardioversão elétrica, e vai sedar se possível. A adenosina pode ser usada, mas se é um paciente chocado, provavelmente não vai ter acesso venoso no momento para administrar a medicação. A amiodarona vai ser utilizada para manutenção desse paciente até a avaliação com o especialista (acompanhar em conjunto com o arritmologista). Obs: A adenosina tem uma forma peculiar de ser aplicada por ter um tempo de meia vida muito curto. Por isso, precisa de um acesso seguro (de preferência central ou o mais próximo possível do coração), e a droga vai ser minimamente diluída ou pura, dependendo da idade do paciente e da dose. Deve ter também uma seringa com água destilada ou soro fisiológico, e assim que for injetado rapidamente a adenosina, tem que ser feito um bolus (flush) com o soro, para empurrar a droga por conta da meia vida muito curta. Se faz de forma lenta, acaba perdendo a dose. - A taquicardia ventricular a gente também vai querer abordar com pulso, porque tudo o que tiver sem pulso vira PCR, vira tratamento de parada. - Geralmente as FR são mais baixas, giram em torno de 180 a 200 bpm, e também vai ter uma definição difícil de onda P e onda T, mas o que chama mais atenção é um QRS mais largo, maior que 0,08 segundos. A parte positiva do QRS é maior que a negativa (se contar a quantidade de quadradinhos das partes positivas, tem mais do que se contar da negativa). - Alguns autores consideram que a onda T, quando é vista, ela tem uma polaridade inversa ao QRS (se tem uma polaridade maior positiva, a onda T vai ser negativa) → Dá pra ver no exemplo, que tem uma área positiva maior e uma onda T negativa. Mas de uma forma geral, não dá pra diferenciar uma onda P de uma onda T. - Para diferenciar um do outro, geralmente não tem uma boa resposta com a adenosina, e pela própria frequência cardíaca mais baixa, pelaprópria incidência na pediatria, se tiver um traçado daquele (com as características citadas e QRS largo), vai pensar primeiramente em uma taquicardia ventricular, e não em uma taquissupra com condução aberrante (já foi dito que é raríssimo na pediatria). A taquicardia ventricular é uma arritmia caracterizada por uma sequência de mais de três batimentos consecutivos originados nos ventrículos, com frequência maior que 120 bpm. Os critérios usados para o diagnóstico de são: • O complexo QRS deve ser diferente do observado em ritmo sinusal, ou semelhante à extrassístole ventricular documentada em ECG prévio. Em Luíza Barreto – Medicina 2021.2 adultos, o complexo QRS é alargado, mas em crianças, em especial com menos de um ano de idade, a taquicardia ventricular pode apresentar QRS estreito. Em bebês, o complexo QRS durante a taquicardia ventricular pode variar de O ,06 a O ,11 ms e em crianças de maior idade é superior a 0,09 ms. • A frequência cardíaca é um dado difícil de avaliar. Em recém-nascidos, observa-se variação da FC de 160 a 400 bpm. A avaliação da frequência sinusal é importante na definição de taquicardia ventricular: frequência ventricular menor que 20% da sinusal é considerada como ritmo ventricular acelerado e somente acima disso como taquicardia ventricular. • A dissociação atrioventricular é um critério importante no diagnóstico de taquicardia ventricular. Entretanto, algumas vezes, a taquicardia ventricular apresenta condução retrógrada 1:1 e a onda P é dificilmente visualizada ou ocorre após o complexo QRS. • Batimento de fusão ou de captura sinusal - O tratamento de eleição para o paciente com taquicardia ventricular com pulso que está estável é a cardioversão elétrica após fazer a sedação, ou a amiodarona. Sempre deve corrigir distúrbios metabólicos presentes, principalmente magnésio, que tem uma relação grande com uma taquicardia ventricular chamada de Torsades de Pointes (a diferença dela para a taquicardia citada é porque na taquicardia ventricular o QRS é regular, enquanto no Torsades de Pointes o QRS é irregular, tem diferentes amplitudes, com aspecto de elipse). A taquicardia ventricular é mais rara no pós-operatório, entretanto, muito grave. A indicação terapêutica é a lidocaína na dose de 1 a 2 mg/kg, via endovenosa, em bolus, seguida de 20 a 50 µg/kg/min, via endovenosa, quando a resposta for favorável. Nos casos refratários ou com má perfusão, está indicada a cardioversão elétrica sincronizada com carga de 0,5 a 1 J/kg, a qual pode ser repetida. Quando associada a baixo débito cardíaco, pode se comportar como fibrilação ventricular e, neste caso, a indicação é a desfibrilação ou a cardioversão assincronizada com carga de 2 J/kg, podendo ser aumentada até 4 J/kg, se não houver reversão. CONDUTA: - A atualização do PALS de 2020 tem um fluxograma para conduzir o paciente pediátrico na emergência com taquicardia. Primeiro faz o suporte inicial, e sempre com um ECG de 12 derivações se possível (se não, parte para o monitor mesmo). Se tiver ondas P presentes e normais, intervalo R-R variável e frequência aumentada, vai suspeitar de uma taquicardia sinusal, devendo investigar a tratar a causa. - Se não é uma taquicardia sinusal, vai avaliar se tem comprometimento cardiopulmonar (avaliando estado mental, sinais de choque e sinais de hipotensão). Se não tiver esse comprometimento cardiopulmonar, a gente vai avaliar a duração do QRS: Se o QRS for largo, é uma possível taquicardia ventricular, e o ritmo for regular com QRS monomórfico, posso considerar adenosina para ver se o paciente responde ou não. Se ele não responder, a recomendação é consultar o especialista, mas em outros algoritmos (que é o que é feito na prática) indica fazer amiodarona, cardioversão elétrica com sedação. Após isso, em qualquer um dos casos, vai solicitar acompanhamento com um especialista. - Se o QRS for estreito sem sinais de choque, vai pensar em uma taquicardia supraventricular (ondas P ausentes ou anormais, intervalo R-R não variável, em bebês tem FC > 220 e em crianças tem FC > 180, com um histórico de alterações abruptas na frequência) → Considerar manobras vagais, e se tiver acesso venoso disponível pode fazer adenosina, amiodarona, ou ainda cardioversão sincronizada se não responder. - Se o paciente tem comprometimento cardiopulmonar, vai olhar a duração do QRS. Se tiver um QRS largo, até que prove o contrário é uma taquicardia ventricular (cursam mais com instabilidade hemodinâmica do que as taquissupra) → Vai fazer uma cardioversão sincronizada e manter com amiodarona, mas é sempre recomendado nos casos de taquicardia ventricular consultar o especialista sempre antes de colocar a medicação (mas de uma forma geral, a gente não tem esse tempo dentro do sistema de saúde, mesmo privado). - Se o QRS for estreito, tem uma provável taquicardia supraventricular, e aí se houver acesso venoso, administra adenosina (eles não consideram amiodarona como parte do tratamento), e se o acesso não tiver disponível, faz a cardioversão sincronizada. Luíza Barreto – Medicina 2021.2 - Outra proposta é que se tem pulso rápido, faz um ECG e avalia. Se for taquicardia sinusal, vai tratar a causa de base. Se não identificar a onda P, vai avaliar o QRS. Se o QRS for estreito com paciente estável, faz manobra vagal; se não respondeu, faz adenosina e/ou amiodarona, se mesmo assim não responder, faz cardioversão elétrica com a sedação prévia. Se o paciente tiver instável, vai primeiro pra cardioversão elétrica, e na sequência pode fazer adenosina, amiodarona (geralmente vai reverter com a cardioversão e usar amiodarona para manutenção). - Se a taquicardia sem onda P tem QRS largo com pulso e o paciente está estável, vai fazer uma cardioversão elétrica com sedação, e na sequência faz amiodarona. Se o paciente tiver instável, faz a cardioversão elétrica com sedação (se possível), e na sequência faz amiodarona com sulfato de magnésio a depender de como tenha sido o eletro inicial. BRADICARDIAS: • Bradicardia sinusal • Bloqueios atrioventriculares - Nos fetos, uma frequência cardíaca abaixo de 100 bpm já configura uma bradicardia. - O diagnóstico de uma bradicardia sinusal é quando tem uma FC abaixo do esperado para a faixa etária, uma onda P positiva em DI, DII, DIII e aVF e uma duração normal do PR. → Respeitando os mesmos critérios de um eletro normal, mas com uma frequência cardíaca abaixo do esperado. - No paciente assintomático não atleta é uma condição benigna, então a gente não faz nada. No assintomático atleta, precisa encaminhar ao especialista para avaliar como ele se comporta no esforço (avaliar teste de esforço, PA, condução cardíaca). Se tiver história de síncope ou pré síncope também precisa avaliar, porque pode ser patológico. - Deve pesquisar hipoxemia, hipotermia e intoxicação exógenas, e caso apresente, tratar as causas. Nas bradiarritmias, após suspensão de digital e betabloqueadores, a indicação é atropina, 0,02 mg/kg/dose, via endovenosa, ou isoproterenol, 0,1 a 1 µg/kg/min, via endovenosa, em infusão contínua. Em situações de baixo débito cardíaco (caso dos bloqueios atrioventriculares totais), está indicado o uso de marca- passo, conectado aos eletrodos epicárdicos colocados no intraoperatório pelo cirurgião, até a reversão do quadro. Se não houver resposta, pode-se recorrer ao marca-passo transesofágico ou ao marca-passo definitivo, em casos de irreversibilidade persistente. - Já o bloqueio atrioventricular total, é quando tem uma FC abaixo do esperado para a faixa etária, mas tem uma ausência da relação entre onda P e o QRS, com diversas ondas P para um único QRS (no exemplo, é possível visualizar principalmente no DII longo). O BAVT congênito foi considerado,até recentemente, uma afecção benigna. As incidências de morte súbita, de sintomas de baixo fluxo cerebral e de insuficiência cardíaca eram consideradas baixas na evolução dos pacientes. Acreditava-se que, pela frequente localização intranodal da lesão do sistema de condução que provoca o bloqueio congênito, essa anomalia somente mereceria o cuidado do implante de marca-passo em situações especiais. Por ser dotado de cronotropismo, o nó AV geralmente confere à criança boa adaptação de FC aos esforços físicos e estados hiper dinâmicos. A despeito da existência do bloqueio da condução do estímulo cardíaco, a incidência de períodos de assistolia ventricular é considerada baixa. A indicação da estimulação cardíaca artificial permanente em crianças com BAVT congênito tem sido Luíza Barreto – Medicina 2021.2 estabelecida nos pacientes que se apresentam com sintomas de baixo fluxo cerebral, como síncopes, pré- síncopes, ou tonturas, de insuficiência cardíaca, de intolerância aos esforços físicos, ou com baixo desenvolvimento ponderai. Nos pacientes assintomáticos, o implante de marca-passo tem sido indicado apenas quando outras condições patológicas estão associadas ao bloqueio, tais como defeitos cardíacos, arritmias ventriculares espontâneas ou provocadas pelo esforço, presença de complexo QRS maior que 0,12s, intervalo QT longo, ausência de resposta cronotrópica aos esforços, FC considerada inadequada para a idade e má adaptação do miocárdio à FC lenta, verificada pelo aumento da área cardíaca ao estudo radiológico ou ecocardiográfico. - No tratamento, a grande maioria dos casos são congênitos ou em pós-operatório de cirurgia cardíaca. Quando é no pós-operatório de cirurgia cardíaca, é marca-passo em 100% dos casos. - Quando em bloqueio atrioventricular total congênito, vai avaliar o paciente. A grande maioria dos pacientes a longo prazo evolui para uma miocardiopatia dilatada. Se preconiza atualmente que se tiver crianças estáveis sem cardiopatia congênita, pode tolerar frequências cardíacas de até 50 – 55 bpm, e não vai colocar marca- passo (se não tiver sinais de insuficiência cardíaca, de baixo débito, se não tiver cardiopatia congênita estrutural e se não apresentar sintomas → só observa o paciente e espera algum sinal de baixo débito para implantar o marca-passo). - No entanto, na vigência de cardiopatia congênita, só tolera essa FC em torno de 65-70 bpm (em alguns casos até 75, dependendo da doença). - No paciente instável pode lançar mão de drogas cronotrópicas (como a atropina) ou ainda a adrenalina, mas a gente sabe que se tratando de um BAVT (especialmente BAVT congênito), vai ter uma baixa resposta a esses medicamentos, de forma que o tratamento de escolha vai ser o marcapasso mesmo. - A gente vai avaliar o paciente com bradicardia e ver se tem comprometimento cardiopulmonar. Não tendo comprometimento, vai manter a sequência de ABC, considerar oxigênio, fazer ECG, ver se é BAVT ou bradicardia sinusal e identificar e tratar as causas de base. - Havendo comprometimento cardiopulmonar, instabilidade, vai fazer a avaliação de suporte com vias aéreas, respiração, monitor cardíaco para identificar o ritmo, monitorar pulso, PA, oximetria e iniciar a RCP se a FC for menor que 60, apesar da oxigenação e ventilação, isso se for ritmo sinusal. Se for um BAVT, vai seguir a conduta para BAVT (já falado). - Se a bradicardia não persistir com RCP, a gente vai manter a sequência de ABC, considerar oxigênio, identificar as causas e tratar. Se a bradicardia persistir, vai continuar a RCP, garantir acesso venoso e fazer epinefrina, atropina, considerar estimulação transtorácica ou marca- passo transvenoso, identificar e tratar as causas subjacentes. - Deve verificar pulso a cada 2 minutos. Havendo pulso, volta pra bradicardia, e se não houver pulso, aí inicia o algoritmo de parada em pediatria.
Compartilhar