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PATRÍCIA LINDEMANN 1 Cetoacidose Diabética (CAD) É uma complicação da diabetes mellitus, que pode ocorrer em pacientes com diabetes mellitus não tratada, ou pacientes tratados, mas não bem controlados. Estatísticas mostram que quase 60% dos pacientes que chegam na clínica com CAD, ainda não haviam recebido o diagnóstico prévio de diabetes. Sinais Clínicos Os pacientes quando chegam no consultório normalmente se apresentam com importante desidratação, com hiperglicemia acompanhada de glicosúria, cetonemia acompanhada de cetonuria, acidose metabólica, hipotensão, distúrbios eletrolíticos e êmese. Os principais fatores para o desenvolvimento da cetoacidose diabética é ser diabético, fêmeas apresenta maior pré-disposição que machos, não há pré- disposição racial, e costuma acometer animais com mais de 8 anos de idade que apresentam alguma comorbidade. Para cães as principais comorbidades consideradas fatores de risco para a CAD, é pancreatite, infecção do trato urinário inferior, hiperadrenocorticismo é neoplasias mamárias. Já para gatos as principais comorbidades que são fatores de risco para desenvolvimento da CAD, são, lipidose, doença renal crônica, pancreatite, retroviroses, neoplasmas principalmente pancreáticos. Os principais critérios que podem levar ao óbito nesses pacientes são: ➔ pH arterial ou venoso < 7,35 ➔ Hipocalemia (K) ➔ Hipofosfatemia (P) ➔ Hipocalcemia (Ca) ➔ Leucocitose PATRÍCIA LINDEMANN 2 Um paciente diabético, normalmente entra me CAD, pois como o paciente diabético não está sendo tratado, ou não está controlado ainda, ele apresenta hiperglicemia (>200 mg/dL cão; >300 mg/dL gato), que desencadeia glicosúria e diurese osmótica, que provoca perde de ânions e íons muito importantes (Na, Cl, K, H2O, HCO3-. Ainda esse paciente faz poliuria e polidipsia, até aqui, se diz que o paciente está compensado, onde pode ser tratado em casa sem a necessidade de internação. Se o processo seguir, o paciente mesmo com polidipsia não consegue manter o ritmo, entrando em desidratação, hipotensão e azotemia. Paralelo ao processo de glicosúria e hiperglicemia, esses pacientes começam a fazer lipólise e catabolismo proteico pra se manterem vivos, e essas reações acabam liberando substâncias como Acetoacetato, B hidroxi-butirato e Cetona, que são corpos cetônicos que aumentam na circulação, o que favorece a diurese osmótica. Além disso, com a perda desses eletrólitos e HCO3-, o paciente começa a acumular ions H+ o que acarreta a acidose metabólica (Ph<7,35). Ao desenvolverem a acidose metabólica, já temos um processo emergencial, onde o paciente já se apresenta apático, em anorexia, com êmese, diarreia, taquipneia, podendo estar em coma. Diagnóstico Para um paciente estar em cetoacidose diabética, ele apresenta, hiperglicemia, acompanhada de glicosúria, acetonemia acompanhada de cetonuria, associado a acidose metabólica. No hemograma, esses pacientes normalmente apresentam uma leucocitose de estresse, que pode ser muito importante, pelo derrame de cortisol pelo estado catabólico constante. Nos exames bioquímicos séricos, pode se observar muitas alterações, como: ➔ Azotemia. ➔ Hiperlipidemia, pode ter aumento de colesterol pelo aumento dos desafios metabólicos que estão ocorrendo. PATRÍCIA LINDEMANN 3 ➔ Alanina aminotrasferase (ALT) aumentada. ➔ Fosfatase alcalina (FA) aumentada. ➔ Frutosamina elevada. ➔ Diminuição dos eletrólitos como Na, K, Cl, P, Mg, pela perda pelos vômitos que podem ocorrer, assim como pela urina. Na urinálise se observa normalmente a densidade urinária entre 1.020 e 1.035. Se o paciente estiver com glicosúria e densidade baixa (<1.020), esse paciente apresenta mais alguma comorbidade associada, como hiperadrenocorticismo, ou doença renal crônica. Ainda se observa na urinálise desses pacientes em cetoacidose diabética glicosúria, cetonuria na maioria das vezes, e pode-se ter indicativos de infecções bacterianas, como presença de leucócitos, sangue oculto, hemácias e bactérias, sendo necessário realizar uma cultura e antibiograma. Um exame muito importante para pacientes com cetoacidose diabética é a hemogasometria, entretanto ela é pouco utilizada na rotina, pela dificuldade em realizar no tempo adequado a análise. Essa análise é muito importante para se conseguir entender adequadamente a acidose metabólica. Abaixo há uma tabela dos principais parâmetros a se atentar nesses casos. pH 7,35 -7,4 HCO3- 18-24 mmol/L BE 1 a -7 mEq/L eletrólitos Na, Cl, iCa, K A aferição de corpos cetônicos também pode ser realizada na circulação, com aparelhos de aferir glicemia e corpos cetônicos. ➔ Para gatos se considera a cetonemia >2,3 mmol/L. ➔ Para cães se considera a cetonemia >3,8 mmol/L. Tratamento Tem como objetivo corrigir a desidratação e repor eletrólitos, corrigir a acidose metabólica além de reverter a cetonemia, além de restabelecer a glicemia gradativamente, monitorando as complicações identificando a causa base, respectivamente. PATRÍCIA LINDEMANN 4 Esse paciente deve ser tirado da crise em um período de 24 a 48h 1° Corrigir a desidratação + Reposição de eletrólitos A+B+C A= % (x10) x peso B= idade (40:adulto/ 50: 1-2 anos/ 60: < 1ano e idosos) x peso C= perda (40: êmese/ 50: diarreia/ 60: êmese e diarreia) x peso O principal fluido a ser usado nesses pacientes é o ringer com lactato, podendo se usar a solução salina, mas sendo mais indicado o anterior. O potássio deve ser reposto, quando o paciente estiver com K reduzido (3,9- 5,3mEq/L), pois a diminuição desse eletrólito, hipocalemia, pode acarretar em bradiarritmias importantes. Suplementação de Potássio – Guidelines Sérico K+(mEq/L) Suplementação deKCl (mEq/L) Faixa de infusão (mL/kg/h) 3.5 - 5 20 24 3 – 3,4 30 16 2,5 – 2,4 40 11 2 – 2,4 60 8 <2 80 6 A ampola contém 1mL kCl 19,1% = 2,56 mEq. Os antieméticos são muito indicados, pois esses pacientes tendem a fazer muitos vômitos: ➔ Metoclopramida 0,5 mg/kg SC, BID-TID. ➔ Ondansentrona 0,5 – 1mg/kg IV, SC, BID ➔ Maropitan 1mg/kg SC, SID, infusão contínua. 2° Corrigir a acidose metabólica Pode ser realizado com a suplementação de bicarbonato (18 – 26 mEq/L). mEq/L bicarbotato = peso(kg) x 0,3 x BE Ampola 1mL 8,4% = 1mEq PATRÍCIA LINDEMANN 5 Se não tiver como mensurar o BE, pode-se utilizar de forma empírica 1- 2 mEq/kg. A reposição de fósforo (2,6 - 6,2mg/dL) também entra nessa etapa. Se for iniciada a insulinoterapia ser se saber da hipofosfatemia, podemos agravar esse quadro. Esse raciocínio se repete também para o potássio e magnésio, pois esses são eletrólitos que respondem a ação da insulina. A hipofosfatemia está relacionada a maior tempo de hospitalização, e em felinos pode desenvolver anemia hemolítica. Para repor, podemos seguir o seguinte método )0,01 - 0,06 mmol/kg/hora em NaCl 0,9%). A reposição de magnésio (1,8 – 2,4 mg/dL) pode ocorrer utilizando (0,01 mEq/kg/hora). Sendo que a hipomagnesemia ocorre em 4 a cada 7 felinos em CAD, e acarreta em quadros de arritmias. O tratamento com insulina não deve ser iniciado antes dessas etapas anteriores. ➔ Mínimo de 1h de fluidoterapia. ➔ Reposição hídrica e eletrolítica em 24 -48h. ➔ K, P e Mg respondem a ação da insulina. Dessa forma, se tem uma média de 6 horas para que se inicie a insulinoterapia, para se conseguir aferir e passar por essas etapas anteriores. 3° Reverter cetomenia. 4° Gradativamente, restabelecer glicemia. Nesse momento iniciamos a insulinoterapia, com uma ação mais rápida, podendo se usar: ➔ Insulina de curta ação (Regular) ➔ Insulina de ação rápida (Insulinin Lispro I.P.) Se inicia com 0,2 UI/kg IM Após 1h se administra 0,1 UI/kg IM E se realiza o monitoramento da glicemia a cada 30-60min, antes da administração de insulina. A glicemia deve se manter até 250 mg/dL. PATRÍCIA LINDEMANN 6A administração de insulina continua apresenta resultados muito bons, podendo-se fazer: ➔ Cão: 2,2 UI/kg. ➔ Gato: 1,1 UI/kg. Em 250 mL de solução salina a 0,9% ou Ringer com lactato de sódio. Um dos objetivos que temos nesse momento é cessar a lipólise, oferecendo alimentos quando tiver se controlado a êmese. Para isso se vê necessário colocar a sonda nasoesofágica, e depois passar para uma sonda esofágica quando for permitida a sedação com menor risco para o paciente. A nutrição parenteral é realizada apensa se são tiver como se realizar uma sondagem. Antes de administrar o alimento pela sonda, sempre se deve oferecer o alimento para tentar estimular esse paciente a voltar a se alimentar sozinho, e quando ele voltar a comer por conta própria, se altera a insulinoterapia para o controle pós crise, com a insulina de ação intermediaria ou lenta. ➔ Cão: insulina NPA ou Caninsulin 0,25 -1,0 UI/kg, BID. ➔ Gato: insulina glargina 1U/gato BID (gato de sté 4kg); 1,5 – 2,0 U/kg BID (gato maior ou igual a 4kg). Investigar as comorbidades Se o paciente era diabético não tratado, agora vai melhorar pois vai ser tratado. Se ele já tinha tratamento, deve-se investigar o que causou esse desbalanço, pode ser vários motivos, tratamento inadequado, neoplasias.
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