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Responsabilidade Civil do Estado - morte do ator Domingos Montagner

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O presente trabalho é sobre a morte do ator Domingos Montagner que morreu na tarde do dia 15 de setembro após desaparecer nas águas do Rio São Francisco, onde foi arrastado pela correnteza. 
 É objetivo deste trabalho investigar de quem foi a culpa pela morte do ator Domingos Montagner, o afogamento do ator foi culpa, do município, Estado ou culpa exclusiva da vítima?
 Logo o desenvolvimento deste trabalho está organizado em 3 tópicos: 1. “Por que não o Estado?” 2-” Porque não a vítima?” E 3- “por que o município?”
 A metodologia utilizada foi através de legislação pertinente, doutrina e jurisprudência.
1. Por que não o estado? 
Conforme leciona Celso Antonio Bandeira de Mello (MELLO, 2002, p.838):
"um dos pilares do moderno Direito Constitucional é, exatamente, a sujeição de todas as pessoas, públicas ou privadas, ao quadro da ordem jurídica, de tal sorte que a lesão aos bens jurídicos de terceiros engendra para o autor do dano a obrigação de repará-lo" 
Nesse sentido, a Constituição Federal prevê a responsabilidade civil do estado em seu art. 17, § 6º:
Art. 17, § 6º: As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
Dessa forma, há o fundamento de que o Estado de Sergipe poderia ser responsável civilmente, uma vez que o ator Domingos Montagner não possuía conhecimentos técnicos para julgar o perigo eminente daquela área do Rio São Francisco, bem como não havia sinalização de ser um local inapropriado para banho. Identifica-se que houve omissão da administração pública em não sinalizar o perigo da região. 
Nessa perspectiva, o Governo do estado deveria ser apontado como responsável em decorrência da construção da Obra e Esgotamento Sanitário da Prainha de Canindé feita por ele, meses antes da tragédia na mesma região, na qual houve a retirada da sinalização para a realização da reforma. 
No entanto, conforme denota-se da nota do SeCom (Agência Sergipe de Notícias), o Governo do estado esclarece que a responsabilidade da Orla de Prainha foi passada para o município mediante termo, na inauguração da reforma ocorrida em julho, dois meses antes da tragédia:
 A Secretaria de estado do Turismo e do Esporte – Setesp realizou intervenção – construção da Obra e Esgotamento Sanitário da Prainha de Canindé – concluída e inaugurada no dia 30 de julho de 2016. No dia 19 de agosto de 2016, a referida obra, foi entregue à administração do município, conforme termo de recebimento que determina que, a partir da entrega, “a responsabilidade pela gestão, zelo e manutenção da referida orla e do sistema de esgotamento sanitário passará para a Prefeitura de Canindé de São Francisco. Cabe reafirmar que ao edificar um equipamento de grande valor estruturante para um município, no caso Canindé de São Francisco, o Governo do estado, antes da assinatura da Ordem de Serviço, elaborou e construiu antecipadamente um plano de gestão, no qual estão previstas as responsabilidades da prefeitura. No referido documento estão determinadas que as questões de segurança, manutenção e guardas vidas permanentes devem ser geridas pelo poder municipal.
Por esse motivo, nesse caso, é afastada a responsabilidade civil do Governo do Estado de Sergipe, em decorrência da finalização da obra da Prainha de Canindé anteriormente à data da tragédia da morte do ator Domingos Montagner, dando ao município a possibilidade de ter tomado as devidas providências em sinalizar o local como inapropriado para banho.
2. Por que não a vítima? 
Para que a vítima seja responsabilizada pelo dano é preciso que haja uma conduta humana, negativa ou positiva, que leve a ocorrência do evento danoso. Quanto a conduta humana característica Pablo Stolze ensina:
O núcleo fundamental, portanto, da noção de conduta humana é a voluntariedade, que resulta exatamente da liberdade de escolha do agente imputável, com discernimento necessário para ter consciência daquilo que faz.
Dessa forma, considerando o caso em questão não há que se falar em responsabilidade da vítima – seja concorrente ou exclusiva – sobre o evento. Isso porque, o ator não estudou, e nem estudava na época do afogamento, os rios e não possuía o repertório necessário para avaliar o quão perigoso seria nadar lá.
Além disso, vale ressaltar que ainda que a população da região soubesse do perigo de nadar naquele trecho a vítima não era de Canindé do São Francisco e não foi avisado pelos moradores tampouco pelo município, que deixou de prestar a segurança devida por não sinalizar o perigo da área para banhistas. 
O entendimento jurisprudencial segue nesse sentido:
APELAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. MORTE POR AFOGAMENTO EM CAMPING MUNICIPAL. DANO MORAL, MATERIAL E PENSÃO. RESPONSABILIDADE DO MUNICÍPIO. 1. Cuida-se de ação indenizatória decorrente de morte por afogamento nas águas do rio que banha as margens do Camping Municipal de Iraí. 2. Não é o caso de reconhecimento de culpa concorrente, porquanto restou incontroverso que no local, pertencente ao município, muito embora haja um rio que banha as margens do Camping, não há salva-vidas e nem sequer havia placas sinalizando sobre os perigos do local, profundidade do rio e etc. O filho do de cujus, que se afogava e foi salvo por este, tinha 15 anos de idade quando dos fatos. Já era um adolescente que, acaso tivesse placas de advertência no local, seria capaz de ler e ter ciência dos perigos. Contudo, ausente qualquer advertência e ocorrida a tragédia, não se pode culpar a vítima pela falha no dever de vigilância do filho. Diante do afogamento do filho e não havendo salva-vidas no local, não havia outra alternativa para este pai senão se jogar no rio e tentar salvar o filho, o que conseguiu fazer, mas sacrificando a própria vida, lamentavelmente.Tal circunstância, contudo, não pode ser considerada como uma opção deliberada da vítima de se jogar no rio, a caracterizar culpa concorrente para o evento danoso. 3. O dano moral sofrido resta evidenciado e é presumido, uma vez que não se questiona a dor e o sofrimento daqueles que perdem o esposo e pai de forma trágica, vítima de afogamento ao salvar um dos filhos, em um passeio familiar. 4. Quantum indenizatório que comporta majoração para R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais) para cada autor. 5. É devido o pagamento integral do valor de R$ 3.870,00, referente às despesas com funeral do de cujus. 6. Pensionamento fixado em 2/6 do salário mínimo, vigente à época do pagamento, a ser dividido per capita entre os autores, sendo que aos filhos é devido até completarem 18 anos de idade ou, se estiverem cursando curso superior, até os 24 anos de idade, e à esposa é devido até a data em que a vítima completaria 73 anos de idade, ou o falecimento da beneficiária, o que ocorrer antes.RECURSO PROVIDO.
(TJ-RS - AC: 70080594872 RS, Relator: Eduardo Kraemer, Data de Julgamento: 12/06/2019, Nona Câmara Cível, Data de Publicação: 27/06/2019) (grifos nossos)
3. Por que o município? 
Inicialmente, vale relembrar o supracitado art. 37, §6º da Constituição Federal, que menciona outros entes públicos, dentre os quais o município. Dessa forma, pode o município responder da mesma forma que o estado, ainda que de forma objetiva ou subjetiva. 
Comumente, atribui-se responsabilidade objetiva ao Estado, contudo, de acordo com os ensinamentos de Mello (2014, p. 1033), há que se falar em responsabilidade subjetiva quando esta é baseada em culpa ou dolo, dessa forma:
É mister acentuar que a responsabilidade por "falta de serviço", falha do serviço ou culpa do serviço (jaute du service, seja qual for a tradução que se lhe dê) não é, de modo algum, modalidade de responsabilidade objetiva, ao contrário do que entre nós e alhures, às vezes, tem-se inadvertidamente suposto. É responsabilidade subjetiva porque baseada na culpa (ou dolo), como sempre advertiu o Prof. Oswaldo Aranha Bandeira de Mello. Com efeito,para sua deflagração não basta a mera objetividade de um dano relacionado com um serviço estatal. Cumpre que exista algo mais, ou seja, culpa (ou dolo), elemento tipificador da responsabilidade subjetiva.
O entendimento jurisprudencial segue nesse sentido:
2. A responsabilidade dos entes da administração pública, em regra, é objetiva, independente de culpa, bastando a comprovação do prejuízo e do nexo de causalidade entre a ação (comissiva ou omissiva) e o dano. Inteligência do art. 37, § 6°, da CF. No entanto, tratando-se de danos causados por omissão, é imperioso distinguir a omissão específica da omissão genérica. A omissão é específica quando o Estado, diante de um fato lesivo, tinha a obrigação de evitar o dano, sendo objetiva a responsabilidade. É genérica quando o Estado tinha o dever legal de agir, mas, por falta do serviço, não impede eventual dano ao seu administrado, razão pela qual, a responsabilidade é subjetiva, havendo necessidade de prova da culpa. (Apelação Cível nº 201900816948 nº único0033419-45.2017.8.25.0001 - 2ª CÂMARA CÍVEL, Tribunal de Justiça de Sergipe - Relator(a): Alberto Romeu Gouveia Leite - Julgado em 26/06/2020). (grifos nossos)
No presente caso, diante do que foi previamente exposto, constata-se que realmente houve obra realizada pelo estado e que as sinalizações foram retiradas por esse motivo. Contudo, conforme retromencionada nota da SeCom, foi assinada Ordem de Serviço, após inauguração da obra e elaboração de plano de gestão pelo estado, de forma a atribuir à prefeitura a responsabilidade de arcar com questões de segurança. 
Dessa forma, observa-se que houve omissão por parte do município, quando tinha o dever de agir, ao não efetuar as medidas de segurança atinentes à situação, como instalar placas de sinalização, boias de delimitação da área segura ou o remanejamento de agentes salva-vidas no local.
Nesse sentido, pode-se afirmar que o município preencheu os requisitos para a reparação civil, quais sejam: omissão e negligência (art. 186, Código Civil[footnoteRef:2]), bem como nexo de causalidade e dano. [2: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.] 
Conclusão 
Ante o exposto, é possível concluir que afastadas as possibilidades de responsabilização civil pelo Governo do Estado de Sergipe, ou de responsabilização exclusiva e quiçá concorrente da vítima, Domingos Montagner, depreende-se a mais justa e coerente forma, da seara civil, de se intentar a retomada do status quo que outrora fora atingido, qual seja: a da responsabilização exclusiva do munícipio de canindé do São Francisco. 
Assim, perante a leitura de legislação pertinente, doutrina e jurisprudência atualizadas, foi possível constatar, ademais, que o ente em questão sofrerá de responsabilização subjetiva, visto que, diante de um dever legal de agir, não o fez por omissão e negligência, expressados pela falha na disponibilização de meios e aparatos essenciais à tutela da segurança e do bem estar de todos os nativos ou turistas que frequentemente visitavam a localidade, no período do incidente, e que porventura desconheciam os reais perigos que o ambiente poderia vir a proporcionar. 
Portanto, o presente trabalho acadêmico, ao objetivar elencar os fundamentais elementos para um sentenciamento primoroso e concreto da presente questão levantada, demonstrou irretorquivelmente o preenchimento de todos os requisitos necessários para uma reparação civil pelo ente municipal, tornando, destarte, cumprido os preceitos para o desfecho do nefasto caso do ator Domingos Montagner.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MELLO, Celso Antonio Bandeira de. "Curso de direito administrativo". 12. Ed. São Paulo: Malheiros, 2000.
MELLO, Celso Antonio Bandeira de. "Curso de direito administrativo". 32. Ed. São Paulo: Malheiros, 2014.
BRASIL. 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Sergipe. Apelação cível nº 201900816948 nº único 0033419 -PE (201900816948). Apelante: Empresa Municipal de Obras e Urbanização EMURB. Apelada: Maria de Conceição Santos e Município de Aracaju. Relator: lberto Romeu Gouveia Leite. Sergipe, 26 de junho de 2020. Disponível em: < https://www.tjse.jus.br/tjnet/jurisprudencia/relatorio.wsp?tmp_numprocesso=201900816948&tmp_numacordao=202013996&tmp.expressao=responsabilidade%20subjetiva%20estado>. Acesso em: 19 mai. 2021.

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