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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO – UFES CENTRO UNIVERSITÁRIO NORTE DO ESPÍRITO SANTO - CEUNES DEPARTAMENTO DE ENGENHARIAS E TECNOLOGIA - DETEC PRÁTICA EXPERIMENTAL Nº1: ÂNGULO DE REPOUSO DO MILHO SÃO MATEUS 2021 Introdução Em operações unitárias é extremamente necessário conhecer propriedades dos diversos sólidos, tendo em vista operações como fluidização, separação mecânica entre outros (GOMIDE, 1983). O atrito é uma das mais importantes propriedades a se levar em consideração para operações como por exemplo armazenamento. O atrito pode ser descrito como uma força contraria ao movimento que surge por forças de adesão presentes nos objetos que se estuda e que se está em contato. O atrito pode ser dividido em dois tipos: externo e interno. O atrito externo é a resistência do objeto em estudo com relação a objetos externos, como por exemplo o um grão e a parede de um silo, já o atrito interno refere-se à resistência do conjunto objeto-objeto, como por exemplo o atrito grão contra grão. O atrito interno é uma propriedade intrínseca de cada produto, podendo variar de acordo com cada superfície e ainda podendo variar com propriedades externas como umidade, compressão etc. Partículas sólidas podem formar montes ou pilhas de acordo com seus respectivos atritos internos. O ângulo de repouso () é formado na pilha a medida em que a força de atrito deixa de ser vencida e o material entra em equilíbrio estático. O ângulo de repouso é uma propriedade importante pois nos ajuda em diversas áreas da engenharia, como projetos de equipamentos, armazenamento etc. O ângulo de repouso pode ser encontrado por meio de diversas formas de experimentos, neste trabalho utilizaremos a metodologia de despejamento na superfície lisa. Objetivo Determinar e avaliar o ângulo de repouso () do material milho de pipoca da marca Yoki premium. Comparamos ainda o resultado obtido com o disponível na literatura. Materiais Os materiais utilizados no decorrer do experimento para a determinação do ângulo de repouso das partículas sólidas foram: Régua de 30 cm; Folha de papel A4. Funil de papel; Milho de pipoca Yoki premium Metodologia Experimental O procedimento experimental foi baseado em um funil de papel de diâmetro da base maior igual a 14,5cm e da base menor igual a 1,5cm, acoplado ao sistema de suporte, estando a base do funil à 6cm de altura em relação a bancada (superfície lisa), adotada como referência para altura igual a zero. Em seguida, o milho foi depositado no funil. O funil estava vedado e por isso não havia escoamento, em sequência a obstrução foi removida e o material iniciou o escoamento a uma altura de 6cm. O material se depositou na superfície da bancada que foi posicionada abaixo do funil. Esse procedimento foi repetido por 60 vezes, sendo 15 repetições realizadas individualmente por cada integrante do grupo. Testes foram feitos pelo grupo para definir o bom andamento do experimento. Um fator que foi observado foi a velocidade constante que formou com a plataforma um amontoado suficiente para determinar o ângulo de repouso. Finalmente, a altura e o diâmetro da base da estrutura cônica formada pelo produto foram medidos por uma régua. Com base nessas informações, foi possível estimar o ângulo de repouso (𝛼𝛼) (Figura 1), a partir da equação 1: 𝛼𝛼 = 𝛼𝛼𝛼𝛼−1 Sendo: ℎ � 𝛼 𝛼 � = 𝛼𝛼𝛼𝛼−1 ℎ � 𝛼𝛼/ 2 � (1) 𝛼𝛼 – Ângulo de repouso; ℎ - Altura (escala vertical); 𝛼𝛼 – Diâmetro da base (escala horizontal); 𝛼𝛼 – Raio da base (escala horizontal). Figura 1 – Metodologia que foi utilizada para medir o ângulo de repouso: despejamento na superfície lisa. Fonte: modificada pelos autores de Campos (2012). Resultados e discussões Abaixo seguem os resultados obtidos no experimento, bem como os cálculos realizados e a interpretação das respostas obtidas. O funil, já citado, construído com papel, foi posicionado à altura de 6cm com auxílio da régua em relação à superfície livre e plana, de forma a simular as condições industriais de descarga de partículas sólidas, tais como cerais, leite em pó, farinha, sais, açúcares, entre outras, semelhante ao que ocorre nos silos de armazenamento industriais. Após a liberação do milho, foi estimada então a altura da pilha formada (h), assim como seu diâmetro (D). Para determinação dessas propriedades, eram necessárias repetições acima de 30, por isso, foram realizadas individualmente por cada integrante 15 repetições, sendo no total, 60 medições. Os resultados para as dimensões das pilhas obtidas estão dispostos na tabela 1: Tabela 1: Dimensões das pilhas das partículas obtidas experimentalmente. Medida Altura Pirâmide Diâmetro Pirâmide Medida Altura Pirâmide Diâmetro Pirâmide 1 3,7 17,5 31 4,9 16 2 4,6 17,3 32 4,5 16,4 3 4,3 17,6 33 4,8 17,5 4 4,2 16,5 34 4,2 17,5 5 4,7 17 35 4,4 16,3 6 4,4 17,1 36 4,4 17 7 4,6 17,5 37 4,8 16,4 8 4,6 17,4 38 4,8 17,2 9 4,6 16,9 39 4,4 16,9 10 4,3 17,6 40 4,8 17,2 11 4,4 17,6 41 4,8 16,9 12 4,2 17,6 42 4,1 16,1 13 4,5 17,1 43 4,8 16,6 14 4,4 17 44 4,6 17,1 15 4,4 17,5 45 4,1 17,1 16 4,6 17 46 3,5 14 17 4,8 17,4 47 3,1 13,5 18 4,2 17,2 48 3,2 13 19 4,2 17,3 49 3,7 13,6 20 4,3 17,5 50 3,6 13,9 21 4,4 17,2 51 3,9 13,4 22 4,4 17,2 52 3,7 13,4 23 4,1 17 53 3,6 13,3 24 4 17,6 54 3,7 13,6 25 4,2 17,2 55 3,5 13,4 26 4,2 17,3 56 3,6 13,3 27 4,2 17,3 57 3,6 13,3 28 4,5 16,9 58 3,6 12,8 29 4,6 17 59 3,5 14 30 4,6 17 60 3,7 13 Fonte: Elaborada pelos autores. Para a análise estatística amostral dos dados experimentais, foram realizados alguns cálculos, sendo o primeiro deles a média aritmética, que representa a tendência central dos valores obtidos: 𝛼𝛼 = 1 ∑𝛼𝛼 𝛼𝛼 (2) 𝛼𝛼 𝛼𝛼=1 𝛼𝛼 Foi então calculado o desvio padrão amostral, que é uma medida de dispersão em torno da média: 𝛼𝛼𝛼𝛼 = � ∑(𝛼𝛼𝛼𝛼−𝛼𝛼 )2 𝛼𝛼−1 (3) Coeficiente de variância: 𝛼𝛼𝛼𝛼 (%) = 100 ∗ 𝛼𝛼𝛼𝛼 𝛼𝛼 (4) Amplitude de variância: 𝛼𝛼𝛼𝛼 = 𝛼𝛼𝛼𝛼á𝛼𝛼 − 𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼 (5) Tabela 2: Tratamento estatístico a partir dos dados dispostos na Tabela 1. Altura [h] Diâmetro da Base [D] média (𝛼𝛼 ) 4,3cm 17 cm desvio padrão (DP) 0,449cm 1,648 cm coeficiente de variância (CV) 10,442 % 9,694% amplitude de variância (AV) 1,8 cm 4,8 cm Intervalo de confiança (4,3 ± 0,114) (17 ± 0,417) Fonte: Elaborada pelos autores. Uma vez que se obtiveram as dimensões dos montes formados, foi possível calcular o ângulo de repouso (𝛼𝛼) levando em consideração seu formato triangular ao partir de uma observação frontal, conforme a Figura 1: Figura 2 – Representação da pilha de milho formada e indicação do ângulo de repouso (𝛼𝛼) Fonte: Roteiro para a prática do ângulo de repouso, fornecida pelo professor. Uma vez que a altura do triângulo retângulo corresponde à altura da pilha (h) e a base do triângulo ao raio da pilha (R), então o ângulo de repouso (𝛼𝛼) é determinado pela equação 1, apresentada acima na metodologia experimental: 𝛼𝛼 = 𝛼𝛼𝛼𝛼−1 � ℎ � = 𝛼𝛼𝛼𝛼−1 � ℎ � (6) 𝛼𝛼 𝛼𝛼/2 Tabela 3: Ângulos de repouso obtidos pelo cálculo do arco tangente. Medida Ângulo de repouso [α] (°) Medida Ângulo de repouso [α] (°) 1 22,921 31 31,487 2 28,004 32 28,757 3 26,042 33 28,748 4 26,980 34 25,641 5 28,940 35 28,364 6 27,231 36 27,368 7 27,732 37 30,343 8 27,867 38 29,168 9 28,563 39 27,506 10 26,042 40 29,168 11 26,565 41 29,599 12 25,514 42 26,991 13 27,759 43 30,041 14 27,368 44 28,281 15 26,696 45 25,619 16 28,421 46 26,565 17 28,887 47 24,667 18 26,030 48 26,211 19 25,899 49 28,551 2026,171 50 27,384 21 27,096 51 30,203 22 27,096 52 28,909 23 25,750 53 28,429 24 24,444 54 28,551 25 26,030 55 27,582 26 25,899 56 28,429 27 25,899 57 28,429 28 28,037 58 29,358 29 28,421 59 26,565 30 28,421 60 29,650 Fonte: Elaborada pelos autores. De forma análoga ao que foi feito com as dimensões do monte, realizou-se uma análise estatística dos valores encontrados para o ângulo de repouso: Tabela 4: Tratamento estatístico a partir dos valores dispostos na Tabela 3. Ângulo de repouso [α] média (𝛼𝛼 ) 26,286° desvio padrão (DP) 1,603° coeficiente de variância (CV) 6,099% amplitude de variância (AV) 8,566° Intervalo de confiança (26,286 ± 0,406) ° Fonte: Elaborada pelos autores. Afim de avaliar a escoabilidade de partículas sólidas, é possível realizar uma classificação qualitativa baseada na observação do movimento das partículas no descarregamento de um silo de armazenamento de partículas sólidas. Já dentre os critérios quantitativos normalmente utilizados está o ângulo de repouso. O Quadro 1 apresenta a classificação da escoabilidade de acordo com esse critério: Quadro 1: Classificação da escoabilidade segundo o ângulo de repouso. Ângulo de repouso [α] (°) Escoamento <30 Muito livre 30-38 Livre 38-45 Médio 45-55 Coesivo >55 Muito coesivo Fonte: Woodcock e Mason (1987). De acordo com o que se pode observar, para maiores valores de ângulo de repouso, mais difícil é o escoamento, isso porque materiais menos coesivos tendem a deslizar mais, fazendo que o ângulo formado entre a pilha do material e a horizontal seja menor. Segundo a revista ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, um periódico de caráter trimestral, publicado pelo Centro Científico Conhecer, direcionado à divulgação de pesquisas e estudos que possam contribuir para o conhecimento acadêmico, o ângulo de repouso do milho em grão varia de 18° a 21°. Como o valor obtido experimentalmente foi de 26,286°, podemos calcular o erro relativo a partir da equação 7: 𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼 Assim, o erro relativo foi de 25,17%. |𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼−𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼| %𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼𝛼 = ∙ 100 (7) Conclusão O valor médio de ângulo de repouso foi (26,286° ± 0,406°) para o milho analisado. E como esse valor esteve abaixo de 30°, há indicação de fluidez para as partículas estudadas. Dentre as fontes de erros destacam-se os aglomerados de grãos que podem ter formado bases irregulares, a dificuldade em medir a altura das pilhas com a régua, a dificuldade de contenção dos grãos durante a saída do mesmo pelo funil de papel, que deve apresentar velocidade constante para realização das medições, dificuldade de padronização do experimento devido a diferentes superfícies livres disponível por cada integrante do grupo, além de diferentes marcas de materiais, tendo as réguas como exemplo, diferentes temperaturas e umidades relativas do ar pelo fato de os integrantes se encontrarem em locais diferentes, e todas as situações que envolvem a falta da prática em conjunto e fora do ambiente universitário. Apesar dos erros, os valores encontrados se mostram próximos aos da literatura. A partir disso, pode-se concluir que a prática experimental apresentou resultados satisfatórios, com valores calculados numa faixa de erro relativamente aceitável, levando em consideração as condições em que foi realizada. E assim, foi possível realizar análises semelhantes às da indústria no que diz respeito a caracterização e compreender a necessidade de se determinar as propriedades das partículas sólidas. Referências Bibliográficas PEREIRA, Marcel Thomas Job ; CANEPPELE, Carlos; SILVA, Samara Loraine Soares da; NUNES, João Angelo Silva; ORMOND, Antonio Tassio Santana. PROPRIEDADES FÍSICAS DE MARCAS COMERCIAIS DE MILHO PIPOCA: GRÃO E ESTOURADA. Centro Científico Conhecer,2014 GOMIDE, Reinaldo. Operações unitárias - 1o volume: operações com sistemas sólidos granulares. São Paulo: Câmara Brasileira do Livro p. 298, 1983. Objetivo Materiais
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