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ECA_Aula 3_Direito à liberdade e dignidade

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AULA 3
DIREITO À LIBERDADE, À DIGNIDADE E AO RESPEITO
Antes de se iniciar o estudo destes direitos, torna-se necessário ressaltar alguns aspectos importantes para não ensejar interpretações equivocadas, como, por exemplo: a criança pode ficar pelas ruas; não é permitido aos pais o uso da força para impor-lhe limites; ela tem o direito de fazer o que bem entender com a sua vida.
O legislador estatutário, de forma elogiável, tratou do direito à liberdade, à dignidade e ao respeito de forma acoplada, definindo-os num único capítulo, pelo fato de eles se complementarem, pois não podemos pensar em liberdade sem respeito e dignidade.
Ciente também de que, no mundo dos adultos, os direitos das pessoas têm, como limites, as outras pessoas e de que esta regra não deve ser aplicada de forma ilimitada às crianças e aos adolescentes, por se encontrarem em processo de desenvolvimento, esse mesmo legislador estatutário, de forma sutil, antes de defini-los, limitou-os à própria criança ou adolescente. Em outras palavras, O LIMITE DA LIBERDADE, DA DIGNIDADE E DO RESPEITO DA CRIANÇA ESTÁ NA PRÓPRIA CRIANÇA OU ADOLESCENTE. Logo, uma criança ou um adolescente pode brincar, passear ou se divertir, desde que esta liberdade não a/o prejudique.
Como a liberdade pode ser analisada sob vários ângulos, o legislador limitou-a a 7 aspectos:
Diz a lei:
Art. 16, I - O direito de liberdade consiste no direito de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários ressalvadas as restrições legais.
Por interpretação errônea desta norma e sem levar em conta o disposto no art. 16, começou-se a admitir que as crianças poderiam ficar nas ruas.
Esta interpretação incorreta decorre de uma interpretação literal do disposto na lei. O legislador se utilizou do verbo "estar", na frase "estar nos logradouros públicos", no sentido de trânsito, e não no de permanência. Se o verbo utilizado fosse o verbo "ficar", aí sim caberia tal entendimento.
Não tem sentido este tipo de permissão, se levar em conta a doutrina da proteção integral. A intenção do legislador foi garantir o direito de ir e vir dos menores, não no sentido de ficar nas ruas, mas no de ir e vir para estudar, passear, andar, brincar, namorar etc.
Art. 16, II – Compreende o direito de opinião e expressão.
Este dispositivo é de grande valia para as situações que deságuam na Vara de Família, principalmente quando o futuro do menor está em jogo, independentemente da idade.
O fato de a criança ou adolescente ser vulnerável e, como tal passível de influências inadequadas, não impede que sejam ouvidos na Vara de Família, até porque a fala do menor deverá ser avaliada dentro do conjunto de provas e ainda sob a orientação de uma equipe especializada. Logo, não cabe mais aquela velha indagação "a partir de que idade, o meu filho poderá ser ouvido em juízo?".
Art. 16, III - Crença e culto religioso.
Aqui o legislador seguiu a orientação constitucional. Contudo, esta liberdade tem como freio o próprio menor. Conseqüentemente, não é permitido ao menor marcar o corpo, dormir com o santo e fazer retiro sem autorização de seus pais ou responsáveis.
Art. 16, IV - Brincar, praticar esporte e divertir-se.
São atividades permitidas, desde que sejam praticadas dentro das regras de segurança e de forma a não colocar em risco o desenvolvimento do menor. 
Art. 16, V– Participar da vida familiar sem discriminação.
Este dispositivo é muito importante para aquelas famílias que se formam com pessoas oriundas de diferentes origens. Por exemplo, o caso da mulher que vai conviver com um homem e leva seus filhos e estes passam a conviver com os do seu companheiro. Assim, independentemente da filiação, todos têm direito ao mesmo tipo de atenção, porque este direito está contido. 
Art. 16, VI - Participar da vida política.
Este direito pode ser exercido somente a partir dos 16 anos de idade, segundo o disposto no art. 14, § 1º, II, c, da CF.
Art. 16, VII – Buscar refúgio, auxílio e orientação.
Sempre que um menor procurar um adulto como fonte de apoio, terá de ser ouvido por quem quer que seja.
O disposto no art. 17 do ECA, à primeira vista, leva a uma interpretação equivocada, principalmente no que diz respeito à inviolabilidade da integridade física, na medida em que muitos começaram a defender a tese de que hoje não é permitido aos pais bater em seus filhos para educar.
Este dispositivo, como os demais, deve ser interpretado à luz do art. 6º e, como tal, será respeitado desde que o direito por ele previsto não venha a prejudicar a formação dos menores. Ainda em favor desse entendimento, temos de considerar que O NASCIMENTO DE UM FILHO GERA PARA OS PAIS O PODER FAMILIAR, poder este que se resume muito mais num FEIXE DE OBRIGAÇÕES do que de poder, e, dentre essas obrigações, está a de EDUCAR E IMPOR LIMITES. 
Ainda em relação à formação do menor, o Código Penal, em seu art. 136, dispõe que os pais respondem por EXCESSO EM CASO DE MAUS TRATOS, o que nos leva a concluir ser permitido o uso da força moderada na educação dos filhos somente aos pais e a mais ninguém.
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 anos. 
Tal raciocínio deve ser feito também em relação à privacidade e à imagem do filho, mas, se o filho começa a apresentar sinais de que alguma coisa está errada, nada impede o pai de segui-lo ou mexer em seus pertences para entender o que está se passando.
Conseqüência prática: já tivemos pais levando projétil de arma de fogo encontrado na bermuda do filho e cigarros de maconha, e a solução dada foi o encaminhamento para o conselho tutelar, onde foram tomadas as medidas cabíveis.
Na verdade, o que a lei objetivou foi proteger a imagem do menor, de forma a ser respeitado como uma pessoa em desenvolvimento, em vez de ser olhado como um adulto anão.
Para fechar esse conjunto de direitos, o legislador coloca a SOCIEDADE NA FUNÇÃO DE GARANTIDORA. Essa medida é muito importante, porque quase sempre o menor é vítima dentro de sua própria casa, tendo por algozes seus pais ou familiares. Diante de um caso como este, qualquer um de nós tem o dever de denunciar, sob pena de ser responsabilizado por omissão. Como conseqüência dessa disposição legal, foram criados programas como o SOS Crianças Vítimas de Violência, em que basta um telefonema para que o caso seja encaminhado à autoridade competente.
* PARTICIPE DO FÓRIM – TEMA I:
Na medida em que o cuidado passou a ter valor jurídico, com base na Convenção dos Direitos da Criança art. 3, na Constituição Federal art. 227, Estatuto da Criança e do Adolescente art. 1º, 15, 17, 19 é assegurado “à criança o direito de ser CUIDADA por eles” (art. 7 da Convenção dos Direitos da Criança). 
Indaga-se: Os pais podem educar seus filhos com palmadas?
* SAIBA MAIS: Consulte os artigos referidos no texto do tema I e ainda os arts. 3º, 5º e 18 do ECA, arts. 1634, VII; 1638, I, CC.

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