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DIREITO CIVIL II
Profa. Dra. Edna Raquel Hogemann
AULA 25
INADIMPLEMENTO DAS
 OBRIGAÇÕES E SUAS
 CONSEQÜÊNCIAS
AULA 25
CONTEÚDO DE NOSSA AULA
MODALIDADES DE INADIMPLEMENTO
4. Violação positiva do contrato
5. Teoria da Imprevisão
5.a) Breve Histórico
5.b) Pressupostos
5.c) Efeitos
5.d) Advertências necessárias
A evolução fez surgir a categoria da violação positiva do
contrato, tendo em vista que a impossibilidade e a mora já
não comportavam todas as hipóteses de inadimplemento.
Com efeito, após a introdução do princípio da boa fé
objetiva como um dos pilares da relação obrigacional,
temos o surgimento dos deveres laterais de conduta,
criando o aludido feixe de direitos e deveres entre os
contratantes. Assim, esses deveres laterais começaram a
ser levados em conta quando da avaliação do
inadimplemento.
VIOLAÇÃO POSITIVA DO CONTRATO
Hermann Staub, jurista alemão, acreditou que poderiam
compor o suporte fático da violação positiva do contrato no
direito alemão: “os incontáveis casos nos quais alguém
descumpre uma relação por meio de atuação positiva, nos
quais alguém pratica aquilo de que deveria abster-se, ou
efetua a prestação que deveria ser efetuada, mas de forma
defeituosa.”
• Assim, temos que essas atuações positivas ou o
 cumprimento defeituoso causam danos à parte, devido a
 não observância de um dever lateral de conduta,
 advindo do princípio da boa-fé, principalmente do seu
 vetor confiança.
• O nome de violação positiva do contrato foi bastante
 criticado, mas agora já encontra-se consagrado .
 Entretanto, alguns autores preferem utilizar termos como
 “cumprimento defeituoso” ou “cumprimento imperfeito”.
Deveres de proteção
Assim, apenas a quebra daqueles deveres laterais
provenientes exclusivamente do princípio da boa-fé, não
guardando relação com a tipicidade da prestação principal,
caracterizam-se como violação positiva do contrato, com
especial destaque para os deveres de proteção.
• Em relação aos deveres de
 proteção temos o seguinte
 exemplo: “o pintor contratado
 para pintar as paredes internas
 de um determinado edifício. Não
 obstante realizar o serviço para
 o que foi contratado de forma
 exemplar, passa
 constantemente a importunar os
 moradores, solicitando dinheiro
 emprestado, olhando de alguma
 forma ameaçadora as jovens do
 prédio e sendo grosseiro com as
 crianças.”
• No exemplo citado o devedor realizou a
 prestação de forma perfeita, tanto do
 tempo, lugar e modo, entretanto,
 descuidou-se quanto aos deveres de
 proteção à pessoa do credor e ao seu
 patrimônio.
• Como exemplo desse tipo de infração temos o de um
 fornecedor habitual de forragem, que entrega um lote de
 forragem com grãos venenosos que causam a morte de
 animais, ou do comerciante que recebe um lote de
 maçãs estragadas que passam a estragar a maçãs
 boas.
Observa-se que nesses casos teremos não apenas a
afronta aos deveres laterais, mas também ao próprio dever
principal da prestação. Entretanto, podemos observar que
do mesmo ato surgem dois tipos de danos, os primeiros
dizem respeito aos tipicamente causados pela não
realização da prestação e são abarcados pelas categorias
da mora e do inadimplemento absoluto ; os segundos são
causados pelo infração do dever lateral de proteção (a
desídia com o restante do patrimônio do credor, ou seja, os
animais que morreram e as maçãs que vieram a
apodrecer). A diferença que notamos para com o exemplo
do pintor é que naquele caso, os atos causadores do dano
não estavam vinculados como os atos necessários para a
prestação da obrigação pincipal.
• O terceiro caso de aplicação da teoria em nosso direito
 consubstancia-se nas hipóteses de obrigações duradoura,
 que ocorrem, exemplificativamente, nos contratos de
 fornecimento e nos contratos de trabalho. Essas
 obrigações são adimplidas permanentemente, “e assim
 perduram sem que seja modificado o conteúdo do dever
 de prestação, até o seu término pelo decurso do prazo, ou
 pela denúncia” . Como existe essa relação duradoura,
 mais importante torna-se a relação de confiança entre as
 partes, sustentada pelo princípio da boa-fé objetiva.
• Deste modo, parece que além dos danos causados pela
 não-prestação, pode nascer o direito de resilir o contrato,
 proveniente da quebra dos deveres laterais da boa-fé
 objetiva, principalmente do seu vetor confiança .
• Finalmente, como quarta hipótese de incidência da
 violação positiva do contrato em nosso direito temos a
 quebra antecipada do contrato. Esse instituto teve a sua
 origem no antecipated breach of contract do direito
 anglo saxão , mas atualmente tem o seu
 reconhecimento solidificado nos países de direito
 continental, restando positivado no art. 72 da Convenção
 de Viena, que estabelece: “Se, antes da data do
 cumprimento, for manifesto que uma parte cometerá
 uma violação fundamental do contrato, a outra parte
 pode declarar a resolução deste.”
.
Vale lembrar que em nosso ordenamento, muitos dos
danos proveniente da violação positiva do contrato
poderiam ser compreendidos dentro da cláusula geral de
responsabilidade civil extracontratual, consubstanciada no
art. 186 do Código Civil .
• Finalmente, resta-nos acrescentar que na maioria dos
 casos de ocorrência de violação positiva do contrato, os
 danos daí provenientes podem ser capazes de resolver
 o contrato, pois aviltam substancialmente os interesses
 do credor; bem como apenas ensejar perdas e danos,
 mantendo-se o vínculo obrigacional principal.
TEORIA DA IMPREVISÃO
• A Lei 48 do Código de Hammurabi, grafado em pedra
 2.700 anos antes de nossa era, já trazia latente tão
 importante teoria:
• "se alguém tem um débito a juros, e uma tempestade
 devasta o campo ou destrói a colheita, ou por falta de
 água não cresce o trigo no campo, ele não deverá nesse
 ano dar trigo ao credor, deverá modificar sua tábua de
 contrato e não pagar juros por esse ano."
• O Direito Romano não cuidou de sistematizar regras que
 conferissem ao pretor um poder de revisão do contrato.
• Na Idade Média, sob o influxo do Direito Canônico,
 consagrou-se a cláusula rebus sic stantibus, segundo a
 qual, por imperativo de equidade, a subsistência de uma
 relação contratual estaria na dependência de persistirem
 as circunstâncias existentes no momento da conclusão
 do contrato.
Pós-Primeira Guerra Mundial
•Surge a primeira lei francesa de revisão dos contratos: a
Lei Failliot de 21 de maio de 1918.
•Com nova roupagem jurídica, a cláusula rebus sic
stantibus desponta sob a denominação de teoria da
imprevisão – consistente no reconhecimento de que a
ocorrência de acontecimentos novos, imprevisíveis pelas
partes e a elas não-imputáveis, refletindo sobre a
economia ou na execução do contrato, autorizam sua
revisão, para ajustá-lo às circunstâncias supervenientes.
Gagliano usa uma hipótese recente de aplicação desta teoria:
Há pouco tempo, houve uma grave crise financeira, marcada
pela fuga expressiva de investimentos estrangeiros em nosso
país, o que acarretou a alta explosiva da taxa do dólar. Muitos
contratos para a aquisição de bens móveis duráveis
(automóveis, por exemplo), utilizavam indexadores atrelados à
variação do dólar, para a atualização das parcelas devidas pelo
consumidor. Ora, em função da alta imprevisível do dólar, uma
vez que a majoração operou-se de forma desarrazoada, muitos
consumidores invocaram a teoria da imprevisão para obter a
revisão judicial do contrato, com o escopo de se reequilibrar o
eixo obrigacional da avença, evitando-se o indevido
enriquecimento do credor.
Pressupostos:
A) a alteração radical no ambiente objetivo existente ao
tempo da formação do contrato, decorrente de
circunstâncias imprevistas e imprevisíveis;
B) onerosidade excessiva para o devedor e não
compensada por outras vantagens auferidas
anteriormente, ou ainda esperáveis, diante dos termos do
ajuste;
C) enriquecimento inesperado e injusto para o credor,
como conseqüência direta da superveniência imprevista.
Efeitos:
• O nosso Código Civil, cuidando do tema com alguns
 temperamentos,em sua Parte Especial, Livro I, Título V,
 Capítulo II, Seção IV, intitulada "Da onerosidade
 excessiva", consagrou normas que autorizam, em caso
 de superveniência de acontecimentos extraordinários e
 imprevisíveis, a resolução, e, em algumas hipóteses, até
 mesmo a revisão do contrato.
Advertências necessárias:
• Duas importantes advertências são feitas por Gagliano:
• a) A teoria da imprevisão não aboliu simplesmente o
 princípio da força obrigatória dos contratos, nem
 permitiu que se pretendesse a resolução ou revisão
 judicial do negócio, simplesmente porque a execução
 ficou mais onerosa, dentro da previsibilidade natural
 inserta na álea de todo o contrato. Ou seja, não se
 admite a aplicação da teoria simplesmente porque a
 parte fez um mau negócio (risco previsto).
• b) Outro erro muito comum consiste em confundir-se a
 teoria da imprevisão com as hipóteses de caso fortuito ou
 força maior. A teoria revisionista pressupõe a
 superveniência de fato imprevisto que dificulta
 excessivamente a prestação de uma das partes, impondo,
 como regra, a revisão das cláusulas contratuais; ao passo
 que o caso fortuito e a força maior ocasionam a
 impossibilidade absoluta no cumprimento da avença,
 determinando a extinção do contrato.
• CORREÇÃO DOS EXERCÍCIOS
CASO CONCRETO 1
O professor de Direito Civil II acaba de apresentar o seguinte exemplo:
Carlos Eduardo contratou seu Manuel, conhecido profissional carpinteiro
para realizar os seguintes seviços em sua nova casa: assentamento das
portas, rodapés, lambris, colocação de piso laminado (carpete de madeira)
perfazendo um orçamento de R$15.800,00, a ser pago em duas vezes –
uma parcela antecipada e outra na entrega do serviço, cuja previsão é de
estar completo em quatro semanas.
Ocorre que duas semanas após o início do serviço, seu Manuel tem os dois
braços decepados em consequência do desabamento do muro da casa
durante uma tempestade que provocou enchente, com deslizamento da
encosta ao lado da casa.
Após apresentar o caso, o professor faz as seguintes perguntas à turma:
a) O exemplo apesentado caracteriza que tipo de
inadimplemento?
Gabarito sugerido: Trata-se de uma impossibilidade relativa de
adimplemento inimputável ao devedor.
b)Esse inadimplemento contratual provoca quais
consequências para o credor? E para o devedor?
Gabarito sugerido: No caso, estando o carpinteiro sem os
braços, trata-se de impossibilidade somente para o devedor,
sem que haja culpa ou dolo, na medida em que se trata de caso
fortuito, Assim, o credor não poderá cobrar o adimplemento da
obrigação.
c) A partir do exemplo dado, construa uma outra redação em que
se possa caracterizar inadimplemento absoluto:
Gabarito sugerido: O aluno deverá apresentar um exemplo em
que a impossibilidade afete tanto o devedor quanto o credor.
CASO CONCRETO 2
Imaginemos que Antonio José contrate uma empresa
especializada na fabricação e utilização de fogos de artifício para
que realize um show pirotécnico na noite de passagem de ano,
por ocasião de uma festa em sua casa. Se a aludida empresa
não realizar o show pirotécnico na data aprazada é evidente que
ela tem a possibilidade física e técnica de realizá-lo em data
posterior. Entretanto, o credor encontra-se impossibilitado de
receber tal prestação pois já não lhe é mais útil, pois ele não
mais possui interesse em realizar um show pirotécnico em um
dia comum. Por isso resolve acionar a empresa em Juízo
cobrando indenização e perdas e danos.
Feita a leitura do caso, responda:
a)Caso você seja contratado para defender
a empresa em Juízo, o que poderá alegar
em seu favor?
Gabarito sugerido: Aqui o aluno poderá
utlizar-se de qualquer justificativa que
importante em inadimplemento inimputável
ao devedor, para que seja considerada
correta sua resposta.
• Agora suponha que houve uma alta de mais de 50% no
 preço dos fogos de artifício e, por isso, o representante da
 empresa contratada liga três horas antes da hora
 combinada condicionando a apresentação a um reajuste
 proporcional no preço avençado. E Antonio não concorda.
 Nesse caso, qual seria o fundamento jurídico da defesa da
 empresa em Juízo?
• Gabarito sugerido - A defesa da empresa estaria baseada
 na teoria da imprevisão, na medida em que houve uma
 alteração radical, com onerosidade excessiva para o
 devedor, o que impossibilitou o cumprimento da obrigação.
•
QUESTÕES OBJETIVAS
Assinale a alternativa correta:
1. A Teoria da Imprevisão é o que se chama de
cláusula:
 (A) Rebus Sic Stantibus;
(B) Pacta sunt servanda;
(C) Exceptio solutionis;
(D) Non adimpleti contractus;
(E) Dura lex sede lex.
Resposta:A
2. Pode -se dizer que, a questão da imprevisão está ligada a:
 (A) Limitação de acontecimentos inesperados, passível de
previsão, que, na esfera contratual, podem acarretar uma
onerosidade excessiva da prestação prometida.
 (B) Superveniência de acontecimentos inesperados, não passível
de previsão, que, na esfera contratual, podem acarretar uma
onerosidade excessiva da prestação prometida.
 (C) Superveniência de acontecimentos esperados, passível de
previsão, que, fora da esfera contratual, podem acarretar uma
onerosidade excessiva da prestação prometida.
 (D) Pacificação de acontecimentos esperados, passível de
previsão, que, na esfera contratual, não podem acarretar uma
onerosidade excessiva da prestação prometida.
 (E) O direito brasileiro não admite a incidência da imprevisão, a
não ser com prévia previsão expressa contratual.
Ficamos por aqui!
Não esqueça de ler
 o material
 didático para a
 próxima aula e
 de fazer os
 exercícios que
 estão na webaula.

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