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DJi - Concurso de Infrações - Concurso de Crimes

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- Índice Fundamental do Direito
Legislação - Jurisprudência - Modelos - Questionários - Grades
Concurso de Crimes - Concurso de Infrações - Art. 76, Concurso de Infrações - Aplicação da Pena -
Penas - Código Penal - CP - DL-002.848-1940 - Art. 79, Concurso de Crimes - Aplicação da Pena -
Penas - Código Penal Militar - CPM - DL-001.001-1969 - Crime Continuado
Penal
- execução das penas: Art. 76, CP
- extinção da punibilidade; incidência sobre a pena de cada um,
isoladamente: Art. 119, CP
- penas de multa; aplicação: Art. 72, CP
Causas
a) Se as causas forem comunicáveis (crime sexual da aura) aproveita a
todos, ou seja, extingue a punibilidade a todos;
b) Se as causas forem incomunicáveis, ha a possibilidade de extinguir a
punição de um dos crimes permanecendo inalterado os demais.
Efeitos
a) Antes do trânsito em julgado (renúncia);
b) Depois do trânsito em julgado (sursi e livramento condicional);
c) Depois da condenação (ex tunc).
Concurso Material: (Art. 69, CP)
Concurso Formal: (Art. 70 CP)
Concurso de Crimes
"Ocorrência de dois ou mais delitos, por meio da prática de uma ou mais
ações.
Concurso de Pessoas: pluralidade de agentes e unidade de fato.
Concurso aparente de normas: pluralidade aparente de normas e unidade
de fato.
Concurso de crimes: pluralidade de fatos. Sistemas: são dois:
a) cúmulo material: somam-se as penas cominadas a cada um dos crimes.
Tal sistema é adotado no concurso material (CP, art. 69), no concurso
formal imperfeito e no concurso das penas de multas (CP, art. 72);
b) exasperação da pena: aplica-se a pena do crime mais grave,
aumentada de certo percentual. Tal sistema é adotado no concurso
formal perfeito e no crime continuado. Trata-se de verdadeira derrogação
da regra do cúmulo material das penas (quot delicta tot poena).
Espécies
a) Concurso material ou real.
b) Concurso formal ou ideal.
c) Crime continuado.
1. Concurso Material ou Real
Conceito: prática de duas ou mais condutas, dolosas ou culposas,
omissivas ou comissivas, produzindo dois ou mais resultados, idênticos ou
Referências
e/ou
Doutrinas
Relacionadas:
Ação Penal
Analogia
Antijuridicidade
Antijurídico
Aplicação da Pena
Arrependimento
Posterior
Cálculo da Pena
Circunstâncias
Classificação dos
Crimes
Cominação das
Penas
Comunicabilidade e
Incomunicabilidade
de Elementares e
Circunstâncias
Concepção do
Direito Penal
Concurso
Concurso de
Circunstâncias
Agravantes e
Atenuantes
Concurso de
Credores
Concurso de Pessoas
Concurso Formal
Concurso Material
Concurso Jurídico
Conduta
Contagem do Prazo
Crime
Crime Consumado
não, mas todas vinculadas pela identidade do agente, não importando se
os fatos ocorreram na mesma ocasião ou em dias diferentes.
Concurso material e crime continuado: se o agente, mediante diversas
ações, pratica vários crimes, em lugares diversos, executando-os de
maneira diferente e com largo intervalo de tempo, configura-se o
concurso material.
Espécies
a) Homogêneo: resultados idênticos.
b) Heterogêneo: resultados diversos.
Aplicação de penas: as penas devem ser somadas. O juiz deve fixar,
separadamente, a pena de cada um dos delitos e, depois, na própria
sentença, somá-Ias. A aplicação conjunta viola o princípio da
individualização da pena, anulando a sentença. No tocante às causas
especiais de aumento de pena, autoriza-se a sua incidência sobre cada
um dos delitos, sem que isso caracterize dupla incidência desses fatores
de majoração da sanção penal (Nesse sentido: STF, HC 69.810-7, Rel.
Min. Celso de Mello, DJU, 18-6-1993, p. 12112.).
Pena privativa de liberdade somada com restritiva de direitos: é possível,
caso tenha sido concedida a suspensão condicional da pena privativa de
liberdade.
Pena restritiva de direitos com outra restritiva: se compatíveis, devem ser
executadas simultaneamente; caso contrário, uma depois da outra.
Juiz competente para a aplicação da regra do concurso material: se
houver conexão entre os delitos com a respectiva unidade processual, a
regra do concurso material é aplicada pelo próprio juiz sentenciante. Em
não havendo conexão entre os diversos delitos, que são objeto de
diversas ações penais, a regra do concurso material é aplicada pelo juízo
da execução, uma vez que, com o trânsito em julgado, todas as
condenações são reunidas na mesma execução, momento em que as
penas serão somadas (LEP, art. 66, III, a).
Concurso material e Prescrição: o prazo prescricional deve ser contado
separadamente para cada uma das infrações penais, uma vez que dispõe
o art. 119 do Código Penal: "no caso de concurso de crimes, a extinção
da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente".
2. Concurso Formal ou Ideal
Conceito: o agente, com uma única conduta, causa dois ou mais
resultados. Na realidade, o concurso formal implica a existência de dois
ou mais crimes, que, para efeito de política criminal, são apenados de
maneira menos rigorosa.
Requisitos do concurso formal: são dois:
1ª) que a conduta seja única: por conduta devemos entender a ação ou
omissão humana consciente e voluntária, dirigida a uma finalidade.
Compreende um único ato ou uma seqüência de atos desencadeados
pela vontade humana, objetivando a realização de um fato típico. No
verbo ou núcleo do tipo está consubstanciada a ação, pelo que é em
torno dele que se fundem os elementos da conduta humana. Assim, o
indivíduo que entra no domicílio alheio pratica vários atos. Abre o portão
que liga a casa à rua, transpõe esse portão, sobe as escadas da
residência, abre a porta de entrada e caminha para dentro do domicílio
Crime Continuado
Crime Habitual
Crime Impossível
Crime Preterdoloso
Culpabilidade
Desistência
Voluntária e
Arrependimento
Eficaz
Direito Penal no
Estado Democrático
de Direito
Efeitos da
Condenação
Eficácia de Sentença
Estrangeira
Elementares
Erro de Tipo
Espécies de Pena
Estado de
Necessidade
Estrito Cumprimento
de Dever Legal
Exercício Regular do
Direito
Exigibilidade de
Conduta Diversa
Extinção da
Punibilidade
Extraterritorialidade
da Lei Penal
Brasileira
Fato Típico
Fixação da Pena
Fontes do Direito
Penal
Função Ético-Social
do Direito Penal
Habitualidade
Ilicitude
Imputabilidade
Infração
Infrações
Permanentes
Interpretação da Lei
Penal
Irretroatividade da
Lei Penal
Legítima Defesa
que está sendo violado. Todos esses momentos se aglutinam, no entanto,
no núcleo do tipo: entrar em casa alheia (art. 150). A conduta tem,
portanto, sua base no verbo constante do tipo incriminador.
- a unidade da conduta e a questão da reiteração de atos para a
realização da conduta típica: quanto a essa questão, José Frederico
Marques ensina: "uma pessoa que encontra várias jóias e que furta tais
bens, num só momento, apanhando-os todos com as mãos e levando-os
consigo, teve uma conduta única. Se esta mesma pessoa tira primeiro
duas ou três das jóias e as conduz ao local onde deixou a mala em que
vai colocar ares furtiva, e depois volta para tirar mais outras jóias, e assim
sucessivamente, até furtar todas as que deseja, é evidente que esses
vários atos formam uma ação única, visto que todos eles se fundem numa
só conduta típica. Se a subtração de coisa alheia móvel só se completa
depois que os bens saem da posse do dono, está claro que os atos de
simples remoção ainda não completaram a conduta típica. Todavia, o
indivíduo que vai furtar as jóias pode ter um companheiro, a quem ele
entrega os objetos subtraídos em sucessivos atos, constituindo cada um,
só por si, a subtração em seu sentido jurídico, porquanto em cada
remoção realizada os objetos saíram da esfera de vigilância do respectivo
dono. Ainda aqui há uma só ação, por ocorrer um entrosamento imediato
entre os diversos atos, ou o que a doutrina italiana denomina de
contestualità. Existe, na hipótese, um contexto único da conduta que em
tantos atos se desdobra. O conceito unitário de ação, como o diz
Giovanni Leone, 'e dato in funzione della contestualità dei vari atti'. E a
seguir esclarece o insigne penalista: 'Aquelaunidade de tempo e lugar,
que serve para unificar em uma só ação os vários atos praticados pelo
delinqüente, é indubitavelmente um critério de grande ajuda nas
indagações dogmáticas. Pode-se assim falar de unidade de ação sempre
que os múltiplos atos realizados pelo agente encontrem um fundo comum
de coesão: e esse fundo comum é constituído pela unidade de tempo e
lugar. Deve, porém, advertir-se que com semelhante critério não se
pretende acenar com uma coesão espacial e temporal tão íntima dos
vários atos que venha a constituir uma série ininterrupta ou uma cadeia
fechada de atos: o que se almeja é tão-só apelar para um critério de
aproximação''' (Tratado, cit., v. 2, p. 451.).
2ª) que dessa conduta surjam dois ou mais fatos típicos: uma só conduta
dá origem a mais de um fato, ou a mais de um crime, quando atingir mais
de um bem penalmente tutelado. Assim, quem atira num indivíduo e
concomitantemente acerta o projétil neste e num outro pode ter praticado
uma só ação, mas dois foram os crimes cometidos, porquanto violou mais
de um bem penalmente tutelado: cada vida humana é um bem, para efeito
da tutela penal, de forma que a ação única de atirar dará origem a mais
de um delito, se o tiro fere ou mata mais de uma pessoa. Do mesmo
modo, o motorista que conduz seu veículo de modo imprudente, vindo a
matar várias pessoas, desenvolveu um único comportamento, do qual
resultaram vários crimes. Por outro lado, se da conduta única surgir um
único fato típico, inexistirá o concurso formal.
Espécies: são quatro:
a) perfeito: responde pelo crime mais grave, com um acréscimo;
Lei Penal no Tempo
Leis de Vigência
Temporária
Limite das Penas
Livramento
Condicional
Lugar do Crime
Medida de Segurança
Multas no Concurso
de Crimes
Nexo Causal
Objeto do Direito
Penal
Pena de Multa
Penas
Penas Privativas de
Liberdade
Penas Restritivas de
Direitos
Potencial Consciência
da Ilicitude
Prescrição
Princípio da
Legalidade
Reabilitação
Reincidência
Resultado
Resultado Diverso do
Pretendido
Sanção Penal
Suspensão
Condicional da Pena
Tempo do Crime e
Conflito Aparente de
Normas
Tentativa
Teoria do Crime
Territorialidade da
Lei Penal Brasileira
Tipicidade
Tipo Penal nos
Crimes Culposos
Tipo Penal nos
Crimes Dolosos
Unificação de Penas
b) imperfeito: somam-se as penas, como no concurso material;
c) homogêneo: ocorrem resultados idênticos. Os sujeitos passivos de
cada um dos crimes são diversos, porém idêntica é a figura típica. Assim,
a norma em que se enquadra a conduta típica é a mesma. Exemplo:
lesões corporais causadas em várias vítimas em decorrência de acidente
de veículo automotor. Nesse caso há concurso formal homogêneo de
crimes (lesões corporais culposas);
d) heterogêneo: ocorrem resultados diversos. Aqui a ação única dá causa
a diversos crimes. Exemplo: em acidente de veículo, o motorista fere dois
indivíduos e mata um terceiro. Nesse caso há concurso formal
heterogêneo de crimes (lesões corporais e homicídio).
Concurso formal perfeito: resulta de um único desígnio. O agente, por
meio de um só impulso volitivo, dá causa a dois ou mais resultados.
Exemplo: o agente dirige um carro em alta velocidade e acaba por
atropelar e matar três pessoas.
Concurso formal imperfeito: é o resultado de desígnios autônomos.
Aparentemente, há uma só ação, mas o agente intimamente deseja os
outros resultados ou aceita o risco de produzi-los. Como se nota, essa
espécie de concurso formal só é possível nos crimes dolosos. Exemplo: o
agente incendeia uma residência com a intenção de matar todos os
moradores. Observe-se a expressão "desígnios autônomos": abrange
tanto o dolo direto quanto o dolo eventual. Assim, haverá concurso
formal imperfeito, por exemplo, entre o delito de homicídio doloso com
dolo direto e outro com dolo eventual.
Aplicação da Pena: depende da circunstância, se no concurso formal
perfeito ou imperfeito:
a) no concurso formal perfeito: se for homogêneo, aplica-se a pena de
qualquer dos crimes, acrescida de 1/6 até a metade; se for heterogêneo,
aplica-se a pena do mais grave, aumentada de 1/6 até a metade. O
aumento varia de acordo com o número de resultados produzidos. A
jurisprudência propõe, embora sem caráter vinculante, a seguinte tabela:
Número de crimes Percentual de aumento
2 1/6
3 1/5
4 1/4
5 1/3
6 ou + 1/2
b) no concurso formal imperfeito: as penas devem ser somadas, de
acordo com a regra do concurso material.
Teorias: existem duas:
a) subjetiva: exige unidade de desígnios para que haja concurso formal;
b) objetiva: admite pluralidade de desígnios.
Teoria adotada pelo Código Penal: foi a objetiva, pois o CP admite o
concurso formal imperfeito, em que há pluralidade de desígnios.
Concurso material benéfico: se, da aplicação da regra do concurso
formal, a pena tornar-se superior à que resultaria da aplicação do
concurso material (soma de penas), deve-se seguir este último critério
(CP, art. 70, parágrafo único). Impede-se, assim, que, numa hipótese de
aberratio ictus (homicídio doloso mais lesões culposas), se aplique ao
agente pena mais severa, em razão do concurso formal, do que a
aplicável, no mesmo exemplo, pelo concurso material. Quem comete
mais de um crime, com uma única ação, não pode sofrer pena mais grave
do que a imposta ao agente que reiteradamente, com mais de uma ação,
comete os mesmos crimes.
Concurso formal e crime único: vejamos algumas hipóteses:
a) assalto a várias pessoas, com subtração patrimonial de apenas uma:
houve uma só subtração; logo, um só crime contra o patrimônio. Crime
único, portanto;
b) ameaça a uma só pessoa, que detém consigo bens próprios e de
terceiros: a jurisprudência tem entendido haver crime único, embora o
mais correto fosse o concurso formal de crimes, pois, com uma única
ação de subtrair mediante violência ou ameaça, foram lesados dois ou
mais patrimônios;
c) em um só contexto, o sujeito subtrai bens de várias pessoas,
ameaçando-as ou submetendo-as a violência (em agência bancária,
ônibus, residência etc.). De acordo com a posição da antiga Equipe de
Repressão a Delitos de Roubos do Ministério Público haverá, nessa
hipótese, concurso formal.
Concurso formal e Prescrição: aplica-se a regra do art. 119 do Código
Penal, ou seja, a prescrição incidirá sobre a pena de cada crime,
isoladamente, sem se levar em conta o acréscimo decorrente do concurso
formal.
3. Crime Continuado
Conceito: é aquele no qual o agente, mediante mais de uma ação ou
omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie, os quais, pelas
semelhantes condições de tempo, lugar, modo de execução e outras,
podem ser tidos uns como continuação dos outros. Lembra Bettiol que
suas origens políticas se encontram indubitavelmente umfavor rei, o que
levou os juristas medievais a considerar como furto único uma pluralidade
de furtos, para assim evitar as conseqüências draconianas que de outra
forma adviriam, uma vez que se aplicava a pena de morte contra quem
cometesse três furtos, ainda que de pequeno valor (Diritto penale, 1950,
p.442.).
Crime Continuado e o Concurso Formal: no primeiro se exige a prática
de duas ou mais condutas, ao passo que no concurso formal há apenas
uma ação, que poderá ser desdobrada em vários atos. Exemplo: no delito
de roubo, com pluralidade de vítimas, aplica-se a regra do concurso
formal (CP, art. 70), e não a continuidade delitiva.
Espécies: são duas:
a) crime continuado comum: crime cometido sem violência ou grave
ameaça contra a pessoa (CP, art. 71, caput);
b) crime continuado específico: crime doloso praticado com violência ou
grave ameaça contra vítimas diferentes (CP, art. 71, parágrafo único).
Note que a reforma penal, admitindo a continuidade delitiva em crimes
com violência ou grave ameaça contra a pessoa, revogou a Súmula 605
do STF, que não admitia continuidade delitiva nos crimes contra a vida.
Aplicação da pena
Crime continuado comum: aplica-se a pena do crime mais grave,
aumentada de 1/6 até 2/3. Propõe-se a seguinte tabela, embora sem
caráter vinculante:Número de crimes Aumento
2 1/6
3 1/5
4 1/4
5 1/3
6 1/2
7 ou + 2/3
Crime continuado específico: aplica-se a pena do crime mais grave
aumentada até o triplo.
Concurso material benéfico: se, da aplicação da regra do crime
continuado, a pena resultar superior à que restaria se somadas as penas,
aplicase a regra do concurso material (concurso material benéfico).
Incidência do aumento de pena no crime continuado: diante da adoção
do sistema tríplice de aplicação da pena (ou critério trifásico), deve o
aumento incidir não sobre a pena-base, mas sobre o resultado da pena
aumentada ou diminuída pelas circunstâncias agravantes ou atenuantes.
A pena nas hipóteses de concurso formal homogêneo como componente
do crime continuado: se, entre os componentes do crime continuado,
houver também o concurso formal, aplica-se apenas o aumento
decorrente da continuidade delitiva. Entendimento diverso geraria o bis in
idem. Com efeito, se alguém, por exemplo, com pluralidade de condutas
e até de desígnios, rouba três pessoas, com o intervalo de horas ou dias,
mediante ações objetivamente homogêneas (crime continuado), sofrerá
uma só pena com um acréscimo; se, ao contrário, rouba o mesmo
número de pessoas, duas delas num mesmo contexto de ação e com
unidade de desígnio e a última num outro contexto de ação, ainda que
homogêneas as três condutas, teremos concurso formal e crime
continuado com uma só pena, mas dois acréscimos (art. 49, parágrafo
único, do CP). A unidade de conduta e do desígnio que presidiram o
primeiro fato e inspiraram ao legislador um regime mais benigno de
cúmulo jurídico (o do concurso formal) acaba por prejudicar o agente
(Nesse sentido: STF, RT, 607/408, e RTJ, 117/743.). Em sentido
contrário, admitindo a aplicação cumulativa das causas de aumento de
pena do concurso formal e do crime continuado (STF, RTJ, 118/789.).
Momento da unificação da pena: se todos os delitos que integram a série
continuada são objeto do mesmo processo, o juiz sentenciante efetuará a
unificação das penas, aplicando a regra do art. 71. Se, todavia, os delitos
tramitarem por processos diversos, far-se-á a unificação no juízo da
execução, que então aplicará a regra do art. 71 do CP.
Natureza jurídica: há três teorias:
a) unidade real: os vários delitos, na realidade, constituem um único
crime;
b) ficção jurídica: na realidade existem vários crimes. A lei é que resume,
por uma ficção, a existência de um único delito;
c) mista: o crime continuado não é um só, nem são vários. Ele constitui
um terceiro delito.
Teoria adotada
Ficção jurídica: o crime continuado é uma ficção jurídica. Na realidade há
uma pluralidade de delitos, mas o legislador, por uma ficção, presume
que eles constituem um só crime, apenas para efeito de sanção penal.
Disso decorrem diversas conseqüências de ordem prática: a) a coisa
julgada se opera tão-somente em relação aos delitos que foram julgados,
não abraçando, assim, aqueles ulteriormente praticados, embora ligados
aos demais pelos laços da continuação; b) no caso de anistia, graça ou
indulto somente os crimes abrangidos pela graça soberana têm extinta a
punibilidade. Desse modo, se o agente, por exemplo, é absolvido dos
diversos furtos que lhe são imputados em continuidade delitiva no mesmo
processo, descobrindo-se, após o trânsito emjulgado, outros furtos
integrantes da seqüência delituosa, novo processo pode ser instaurado,
em virtude de não ter operado a coisa julgada sobre os novos fatos.
Acrescente-se que, pelo art. 119 do Código Penal, nota-se claramente
que o crime continuado compreende uma pluralidade real de crimes, uma
vez que determina que a prescrição incida isoladamente sobre cada um
deles. Assim, no crime continuado, cada delito que compõe a cadeia de
continuidade delitiva tem seu prazo próprio, o que revela sua existência
autônoma.
Requisitos
a) Pluralidade de crimes da mesma espécie.
b) Condições objetivas semelhantes.
c) Unidade de desígnio (de acordo com a teoria adotada).
Teorias sobre a unidade de desígnio: são duas:
a) objetiva-subjetiva: exige-se unidade de resolução, devendo o agente
desejar praticar os crimes em continuidade;
b) puramente objetiva: é dispensável a vontade de praticar os delitos em
continuação, bastando que as condições objetivas semelhantes estejam
presentes.
Teoria adotada pelo Código Penal: para uma parte da doutrina, o Código
Penal adotou de forma clara a teoria puramente objetiva, pois o art. 71
nada fala a respeito da unidade de desígnios, só mencionando as
circunstâncias objetivas semelhantes. Alberto Silva Franco observa que,
"apesar de persistir, em nível dogmático, uma aberta discrepância sobre a
presença, no crime continuado, de dado de conotação subjetiva (unidade
de desígnio), força é convir que o instituto, nos termos como foi
estruturado, exclui o apelo a qualquer subjetividade e se arrima em
elementos de caráter objetivo" (Código penal, cit., p. 356.). A questão,
entretanto, não é pacífica. Há quem defenda que é inadmissível crime
continuado sem a vontade de praticar os delitos em continuação, pois do
contrário se estaria equiparando a continuidade delitiva à habitualidade no
crime. Segundo o ensinamento de Aníbal Bruno, "dentro do crime
continuado, cada episódio no curso dos acontecimentos é uma ação
integral, um crime em si mesmo, no seu aspecto objetivo e subjetivo. A
unidade atribuída ao conjunto deve-se assentar também em uma unidade
de fato, resultante das circunstâncias que vinculam entre si as ações
sucessivas e uma unidade psíquica, que compreende as várias realizações
como um todo" (Direito penal, cit., t. 2, p. 678.). Na mesma esteira,
Impallomeni assevera que "quello che conta come unità fagli elementi del
reato no e Ia materialità dell azzione, ma la lesione giuridica e la intenzione
di produrre quella lesione" (Istituzioni di diritto penale, 1921, p. 455.).
Damásio E. de Jesus filia-se a esta segunda posição, lembrando que
"para a configuração do crime continuado não é suficiente a satisfação
das circunstâncias objetivas homogêneas, sendo de exigir-se, além disso,
que os delitos tenham sido praticados pelo sujeito aproveitando-se das
mesmas relações e oportunidades ou com a utilização de ocasiões
nascidas da primitiva situação" (Direito penal, cit., 23. ed., v. 1, p. 606.).
Carlos Fontán Balestra também defende que o crime continuado só existe
se houver "la utilización de las mismas relaciones y de la misma ocasión"
(Tratado de derecho penal, t. 3, p. 61.). Entendemos correta esta
segunda posição, pois não aceitamos que o crime continuado se configure
a partir de meras circunstâncias objetivas, sem que a continuação decorra
da vontade do agente. É necessário o aproveitamento das mesmas
relações e das mesmas oportunidades, pois do contrário um agente que
praticasse vários crimes, apenas pela intensa vontade de delinqüir,
beneficiar-se-ia da regra do crime continuado. Deve-se sempre ter em
mente o clássico exemplo do caixa do banco que todo dia subtrai
pequena quantia em dinheiro. Este sim pratica o crime em continuação. Já
não seria o caso de um perigoso assaltante que, durante o mesmo mês,
em locais diversos, rouba inúmeras vítimas (cada crime resultou de um
impulso volitivo autônomo).
Jurisprudência: há duas posições, a saber:
1ª) não há incompatibilidade entre habitualidade criminosa e crime
continuado, pois a lei só exige requisitos objetivos (RTJ, 116/908; RT,
496/319 e 535/311.);
2ª) o crime continuado exige um único impulso volitivo (unidade de
desígnio ou dolo total), diferenciando-se nesse aspecto da habitualidade
criminosa (RTJ, 98/588 e 105/33; RT, 655/357 (STF) e 659/291;
RJTJSP, 118/575 e 119/490; JTACrimSP, 95/74, 97/67 e 99/11;
RJDTACrimSP, 1146; REsp 1.027-Sp, 5ª T. do STJ, publicado no DJU
de 5-2-1990; Rec. Crim. n. 87.769, pleno do STF, publicado na RT,
629/350; e, mais recentemente: STJ, 5ª T., REsp 61.962-9-SP, Rel.
Min. Assis Toledo, unânime, DJU, 7-8-1995.);
Correta a segunda posição.
Distinção entrecrime continuado e habitualidade criminosa: "A
habitualidade é incompatível com a continuidade. A primeira recrudesce,
a segunda ameniza o tratamento penal. Em outras palavras, a
culpabilidade (no sentido de reprovabilidade) é mais intensa na
habitualidade do que na continuidade. Em sendo assim, jurídico-
penalmente, são situações distintas. Não podem, outrossim, conduzir ao
mesmo tratamento. O crime continuado favorece o delinqüente. A
habitualidade impõe reprovação maior, de que a pena é expressão,
finalidade (CP, art. 59, infine) estabelecida segundo seja necessária e
suficiente para reprovação e prevenção do crime. Na continuidade há
sucessão circunstancial de crimes. Na habitualidade, sucessão planejada,
indiciária do modus vivendi do agente. Seria contraditório, instituto que
recomenda pena menor ser aplicada à hipótese que reclama sanção mais
severa. Conclusão coerente com interpretação sistemática das normas do
Código Penal" (498. STJ, 6ª T., REsp 54.834-93-SP, Rel. Min. Luiz
Vicente Cemicchiaro, maioria, DJU, 15-5-1995.).
Crime continuado entre roubos praticados contra vítimas diferentes: é
admissível, em tese. Não há, entretanto, continuidade delitiva em casos
de criminosos habituais que, com reiteração, praticam roubos autônomos
contra vítimas diferentes, embora na mesma comarca e em curto espaço
de tempo (STJ, REsp 507, DJU, 18-12-1989, p. 18479.).
Condições semelhantes
Crimes da mesma espécie
1ª posição: crimes da mesma espécie não são os crimes previstos no
mesmo tipo, mas aqueles que possuem elementos parecidos, ainda que
não idênticos.
"Mesmo" não comporta apenas o restrito significado de "idêntico".
Possui outras acepções. Antonio de Moraes Silva (Grande dicionário da
língua portuguesa, 10. ed., v. 6, p. 713.) ensina que "mesmo" quer dizer
"semelhante, análogo, parecido"; mais recentemente, com não menor
autoridade, Aurélio Buarque H. Ferreira atribuiu à expressão igual
significado. Com o mesmo rigor científico, Émile Littré (Dictionnaire de
Za Zangue jrançaise, v. 5, p. 69.) adverte que même expressa também as
idéias de semblable, pareil, e Tenório de Albuquerque (Dicionário
espanhol-português, v. 2, p. 913.) acentua que mismo tem a significação
de semelhante.
A continuidade delitiva não ocorre, assim, em relação apenas aos crimes
idênticos, isto é, aos que se abrigam sob o mesmo artigo de lei. Manoel
Pedro Pimentel (Do crime continuado, 2. ed., São Paulo, Revista dos
Tribunais, 1969, p. 145.) acentua que devem ser havidos como "da
mesma espécie" os crimes que se assemelhem pelos seus elementos
objetivos e subjetivos. Não é diverso o entendimento de Heleno Cláudio
Fragoso (Lições de direito penal, cit., 4. ed., 1995, p. 351.) ao afirmar
que "crimes da mesma espécie não são aqueles previstos no mesmo
artigo de lei, mas também aqueles que ofendem o mesmo bem jurídico e
se apresentam, pelos fatos que os constituem ou pelos motivos
determinantes, caracteres fundamentais comuns".
2ª posição: são os previstos no mesmo tipo penal, isto é, aqueles que
possuem os mesmos elementos descritivos, abrangendo as formas
simples, privilegiadas e qualificadas, tentadas ou consumadas (Damásio
E. de Jesus, Direito penal, cit., v. 1, p. 605.). Assim, furtar coisa comum
é forma privilegiada do furto, com caráter autônomo, que pode ligar-se,
pelo nexo de continuação, ao furto simples, ou ao furto qualificado
capitulado no art. 155 do Código Penal (José Frederico Marques,
Tratado, cit., v. 2, p. 461.). A jurisprudência orienta-se nesse sentido.
Acompanhe:
1) roubo e extorsão não são crimes da mesma espécie e, portanto, não
caracterizam crime continuado (RTJ, 114/630 e 124/1136; RT, 539/392
e 568/384.);
2) roubo e furto não são crimes da mesma espécie e não admitem crime
continuado entre si (RTJ, 109/345 e 124/302; RT, 600/409 e 6211297;
JTACrimSP, 90/387 e 97/138; STJ, 6ª T., REsp 4.733-PR.);
3) estupro e atentado violento ao pudor não são crimes da mesma
espécie, logo não admitem continuidade delitiva (RTJ, 108/888, 120/344,
121/926 e 122/290; STF, RE 104.416/1-SP, Rel. Min. Sydney Sanches,
DJU, 5-12-1986, p. 24082; STF, RE 103.16111-SP, Rel. Min. Oscar
Corrêa, DJU, 28-9-1984, p. 15479; STF, RE 105.626/6-SP, Rel. Min.
Néri da Silveira, DJU, 19-121985, p. 23632; STJ, 5ª T., REsp 40.466-
5-SP, Rel. Min. Edson Vidigal, unânime, DJU, 9-10-1995; 5ª T, REsp
34.879-5-SP, Rel. Min. Cid Flaquer Scartezzini, unânime, DJU, 4-
121995; 5ª T, REsp 65.452-1-SC, Rel. Min. Edson Vidigal, unânime,
DJU, 18-12-1995; 6ª T, REsp 19.763-0-SP, Rel. Min. Vicente Leal,
maioria, DJU, 24-6-1996.);
4) roubo e latrocínio não são crimes da mesma espécie, "pois no roubo
ocorrem a subtração e o constrangimento ilegal, enquanto no latrocínio,
subtração e a morte da vítima" (STJ, 5ª T, REsp 26.855-6, Rel. Min.
Edson Vidigal, DJU, 5-9-1994, p. 23115.).
Fator espaço: a prática do mesmo delito seguidamente em locais diversos
não exclui a continuidade. Assim, admite-se que crimes praticados em
bairros diversos de uma mesma cidade, ou em cidades próximas, podem
ser entendidos como praticados em condições de lugar semelhantes.
Igualmente, existe continuidade delitiva entre crimes praticados em
cidades distintas, porém vizinhas (RTJ, 90/261; RT, 610/400.).
Fator tempo: no tocante à conexão temporal ensina Nélson Hungria que
ela se traduz em "certa continuidade no tempo (exemplo: o ladrão, no
curso de uma noite, subtrai, de vários quartos de um hotel, objetos
pertencentes aos diversos hóspedes) ou, pelo menos, uma 'periodicidade'
tal, que não iniba de se observar um 'certo ritmo' (como diz Meyer) entre
as ações sucessivas (exemplo: o agente, várias vezes, no decorrer de um
mês, abusa de uma menor). Não se podem fixar, a respeito, indicações
precisas mas é de advertir que, se entre uma ação e outra medeia um
longo trato de tempo, a continuação só existirá se outras condições
positivamente a indicarem. Por outro lado, não se deve confundir a
continuidade de tempo com a 'contemporaneidade', que ocorre quando o
bem jurídico é lesado repetidamente no mesmo contexto de ação, ou num
só processo de atividade" (Apud José Frederico Marques, Tratado, cit.,
v. 2, p. 464.).
Lembra José Frederico Marques, fazendo referência ao ensinamento de
Asúa, que "certa descontinuidade no tempo é essencial ao delito
continuado" (Tratado, cit., v. 2, p. 464.).
A jurisprudência admite continuidade delitiva até o espaço máximo de 30
dias entre os crimes praticados (Cf. RJDTACrimSP, 6/30, Agravo em
Execução n. 600.525/1, julgado pela 9ª Câm. do TACrimSP.).
Modo de execução: o modus operandi utilizado pelo agente na prática
dos delitos deve ser semelhante. Exemplo: empregado infiel que se
apropria diariamente de importância em dinheiro ao recolher o numerário
recebido. Por outro lado, o furto fraudulento, por exemplo, não guarda
nexo de continuidade com o furto mediante arrombamento ou escalada.
A variação de comparsas impede o reconhecimento da continuidade
delitiva (Nesse sentido: RT, 6361288, 655/357 e 668/300; JTACrimSP,
94/82, 97170, 98/395 e 99/12; RJDTACrimSP, 2/19.).
Agir solitário em um crime e com comparsas em outro impede o
reconhecimento do crime continuado (RT, 528/384.).
Do mesmo modo, se há emprego de arma em um crime e não há no
outro, não se reconhece a continuidade delitiva.
Outras condições semelhantes: o Código Penal faz referência às
"condições semelhantes", permitindo, portanto, o emprego da
interpretação analógica, na medida em que o preenchimento das
condições semelhantes deve ser feito conforme as condições
especificadas no texto, as quais funcionam como parâmetro. Alguns
julgados têm entendido que o aproveitamento das mesmas oportunidades
e das mesmas relações pode ser incluído no conceito de "condições
semelhantes" (Cf. Alberto Silva Franco, Código Penal, cit., p. 881.).
Assim, segundo essa orientação jurisprudencial, para o reconhecimento
do crime continuado, além da conexão espacial, temporal e modal, exige-
se a conexão ocasional,ou seja, deve o agente praticar o delito
subseqüente aproveitando-se das mesmas oportunidades ou relações
nascidas com o delito antecedente. Trata-se de mais um requisito
objetivo para a configuração do delito continuado.
Crime continuado entre delitos culposos: é possível, desde que sejam
crimes da mesma espécie. Eduardo Correia, fazendo uma crítica aos
adeptos da corrente que exige a unidade de desígnio para a configuração
do crime continuado, sustenta que "a existência da unidade da resolução
criminosa afasta do âmbito do crime continuado, sem mais apelo nem
discussão, contra todas as razões de justiça e de economia processual,
todos os delitos praticados por negligência, para logo se ficar de posse
da certeza de como é inadmissível tal elemento" (Apud José Frederico
Marques, Tratado, cit., v. 2, p. 467.). Entendemos que não. É possível
sustentar a continuidade delitiva no crime culposo, sem abrir mão da
exigência do elemento subjetivo, o qual, no caso, consiste na vontade de
continuar agindo culposamente, mesmo após o primeiro crime. É o caso,
por exemplo, de um motorista idoso que, após atropelar culposamente
uma vítima na região central de São Paulo, assustou-se e resolveu
empreender fuga em velocidade incompatível com o local, vindo a
provocar novos acidentes. Além da similitude das condições de tempo,
lugar e modo de execução, houve vontade de prosseguir nas ações
descuidadas. Devemos lembrar que, no crime culposo, embora o
resultado não seja querido, a conduta é voluntária (ninguém obriga o
sujeito a agir culposamente, ele o faz porque quer).
Consumação e tentativa: para os adeptos da teoria da ficção jurídica, não
se admite a existência de um momento consumativo próprio para o crime
continuado, uma vez que cada um dos delitos que o compõem conserva
sua autonomia, que é derrogada apenas para efeito de aplicação da pena.
O crime continuado também não admite a forma tentada, porém nada
impede que ocorra a tentativa entre as infrações componentes do crime
continuado.
Crime continuado e aplicação da lei penal no tempo: se a nova lei
intervém no curso da série delitiva, deve ser aplicada a lei nova, ainda que
mais grave, a toda a série continuada. O agente que prosseguiu na
continuidade delitiva após o advento da lei nova tinha possibilidade de
orientar-se de acordo com os novos ditames, em vez de prosseguir na
prática de seus crimes. É justo, portanto, que se submeta ao novo regime,
ainda que mais severo, sem a possibilidade de alegar ter sido
surpreendido (Nesse sentido: Assis Toledo, Princípios básicos, cit., p.
32-33.). O Supremo Tribunal Federal também se orienta nesse caminho:
"Tratando-se de crime continuado, a nova lei aplica-se a toda a série de
delitos praticados, ainda que mais gravosa ao réu, desde que a sua
vigência ocorra durante a cadeia de crimes praticados em continuidade.
Precedentes citados: HC 74.250-SP (DJU de 29-11-96); HC 76.680-
SP (DJU de 12-6-98)" (Cf. HC 77.347-RS, 1ª T., Rel. Min. Moreira
Alves, j. 8-9-1998, Informativo do STF, n. 122.). Essa Corte, inclusive,
editou, em 14-10-2003, a Súmu1a 711, cujo teor é o seguinte: "A lei
penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente,
se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência".
Crime continuado e início da contagem do lapso prescricional: como a
prescrição deve ser analisada em razão de cada fato, o prazo
prescricional começa a correr do momento em que cada um desses fatos
atingiu a fase consumativa.
A pena no crime continuado para efeitos da prescrição: "Quando se tratar
de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na
sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação"
(Súmula 497 do STF).
Sistema de aplicação da pena de multa no concurso de crimes: depende
da circunstância:
a) concurso formal e material: o art. 72 do Código Penal consagra o
sistema da acumulação material. Assim, tratando-se de crime em
concurso formal ou material, as penas de multa são aplicadas distinta e
integralmente, não se obedecendo, pois, ao sistema de exasperação,
destinado na legislação somente às penas privativas de liberdade.
Exemplo: o agente comete quatro furtos simples em concurso formal; o
juiz, após aplicar a pena de reclusão de um só dos delitos, aumentando-a
em 1/4, passa a aplicar a pena de multa, que no furto é cominada
cumulativamente. Para cada delito o juiz fixa, por exemplo, 10 dias-multa,
totalizando 40 dias multa. Se fosse aplicado o sistema de exasperação, o
juiz fixaria a pena de multa de um só dos crimes, em 10 dias,
aumentando-a em 1/4, o que totalizaria 14 dias-multa;
b) crime continuado: há controvérsias se a pena de multa deve reger-se
pela regra do art. 72 do Código Penal. Tudo dependerá do enfoque
dado ao crime continuado, ou seja, se é considerado um concurso de
crimes - aí então a regra será a mesma do concurso formal - ou crime
único -, aí então a regra será do sistema de exasperação da pena. A
doutrina majoritária acolhe o entendimento de que a aplicação cumulativa
da pena de multa estende-se a todas as modalidades de concurso de
crimes, inclusive ao crime continuado, afastando-se a incidência do
sistema de exasperação previsto no art. 71. Essa conclusão inclusive
resulta da própria colocação topográfica do art. 72 do Código Penal, que
surge logo na seqüência das três espécies de concurso de crimes (CP,
arts. 69, 70 e 71). Pela incidência da regra do art. 72 do CP no crime
continuado posiciona-se: Julio Fabbrini Mirabete (Manual, cit., v. 1, p.
315.). De outro lado, a jurisprudência dominante, partindo do
pressuposto de que o crime continuado é um só para efeito de aplicação
da pena, tem estendido o sistema de exasperação à pena de multa, não
incidindo portanto a regra do art. 72 (Nesse sentido: STF, RE 90.634-7,
Rel. Min. Leitão de Abreu.).
Mirabete, Julio Fabbrini, Manual de direito penal, 3. ed. São Paulo,
Atlas, 1987.
STF, RE 90.634-7, Rel. Min. Leitão de Abreu.
Toledo, Francisco de Assis, Princípios básicos de direito penal, 5. ed.
São Paulo, Saraiva, 1994.
HC 77.347-RS, 1ª T., Rel. Min. Moreira Alves, j. 8-9-1998,
Informativo do STF, n. 122.
Silva Franco, Alberto, Código Penal e sua interpretação
jurisprudencial, 5. ed.. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1995.
RJDTACrimSP, 6/30, Agravo em Execução n. 600.525/1, julgado
pela 9ª Câm. do TACrimSP.
STJ, 5ª T, REsp 26.855-6, Rel. Min. Edson Vidigal, DJU, 5-9-1994, p.
23115.
STF, RE 104.416/1-SP, Rel. Min. Sydney Sanches, DJU, 5-12-1986,
p. 24082
STF, RE 103.16111-SP, Rel. Min. Oscar Corrêa, DJU, 28-9-1984, p.
15479
STF, RE 105.626/6-SP, Rel. Min. Néri da Silveira, DJU, 19-121985,
p. 23632
STJ, 5ª T., REsp 40.466-5-SP, Rel. Min. Edson Vidigal, unânime,
DJU, 9-10-1995
STJ, 5ª T, REsp 34.879-5-SP, Rel. Min. Cid Flaquer Scartezzini,
unânime, DJU, 4-121995
STJ, 5ª T, REsp 65.452-1-SC, Rel. Min. Edson Vidigal, unânime,
DJU, 18-12-1995
STJ, 6ª T, REsp 19.763-0-SP, Rel. Min. Vicente Leal, maioria, DJU,
24-6-1996.
Fragoso, Heleno Cláudio, Lições de direito penal, parte geral, 4. ed.,
Rio de Janeiro, Forense, 1995.
Pimentel, Manoel Pedro, Do crime continuado, 2. ed., São Paulo,
Revista dos Tribunais, 1969.
Albuquerque, Tenório de, Dicionário espanhol-português, v. 2.
STJ, 6ª T., REsp 54.834-93-SP, Rel. Min. Luiz Vicente Cemicchiaro,
maioria, DJU, 15-5-1995.
STJ, REsp 507, DJU, 18-12-1989, p. 18479.
Silva, Antonio de Moraes, Grande dicionário da língua portuguesa,
10. ed., v. 6.
Littré, Émile Dictionnaire de Za Zangue jrançaise, v. 5.
REsp 1.027-Sp, 5ª T. do STJ, publicado no DJU de 5-2-1990.
Rec. Crim. n. 87.769, pleno do STF, publicado na RT, 629/350.
STJ, 5ª T., REsp 61.962-9-SP, Rel. Min. Assis Toledo, unânime, DJU,
7-8-1995.
Balestra, Carlos Fontán, Tratado de derecho penal, t. 3.
Jesus, Damásio E. de, Direito penal, 23. ed., São Paulo, Saraiva, v.
1.
Impallomeni, Istituzioni di diritto penale, 1921.
Bruno, Aníbal, Direito penal; parte geral. Rio de Janeiro, Forense,
1956.
RT, 528/384; RT, 6361288, 655/357 e 668/300; JTACrimSP,94/82,
97170, 98/395 e 99/12; RJDTACrimSP, 2/19; RTJ, 90/261; RT,
610/400; RTJ, 108/888, 120/344, 121/926 e 122/290; RTJ, 114/630 e
124/1136; RT, 539/392 e 568/384; RTJ, 109/345 e 124/302; RT,
600/409 e 6211297; JTACrimSP, 90/387 e 97/138; STJ, 6ª T., REsp
4.733-PR; RTJ, 98/588 e 105/33; RT, 655/357 (STF) e 659/291;
RJTJSP, 118/575 e 119/490; JTACrimSP, 95/74, 97/67 e 99/11;
RJDTACrimSP, 1/46; RTJ, 116/908; RT, 496/319 e 535/311; STF,
RT, 607/408, e RTJ, 117/743; STF, RTJ, 118/789.
Bettiol, Giuseppe, Diritto penale, 1950, Instituições de direito e
processo penal, Coimbra, Coimbra Ed., 1974.
Marques, José Frederico, Tratado de direito penal, Campinas,
Bookseller, 1987.
STF, HC 69.810-7, Rel. Min. Celso de Mello, DJU, 18-6-1993, p.
12112.
Capez, Fernando, Curso de Direto Penal, parte geral, vol. 1,
Saraiva, 10ª ed., 2006.
(Revista Realizada por Suelen Anderson - Acadêmica em Ciências
Jurídicas - 27 de dezembro de 2009)
Jurisprudência Relacionada:
- Admissibilidade - Continuidade Delitiva - Crimes Contra a Vida -
Súmula nº 605 - STF
- Lei Penal Mais Grave - Aplicabilidade - Crime Continuado ou Crime
Permanente - Vigência e Anterioridade - Súmula nº 711 - STF
- Suspensão do Processo - Concurso Material ou Formal ou
Continuidade Delitiva - Somatório ou Incidência de Majorante - Limite
Aplicável - Súmula nº 243 - STJ
Normas Relacionadas:
Art. 76, Concurso de Infrações - Aplicação da Pena - Penas -
Código Penal - CP - DL-002.848-1940
Art. 79, Concurso de Crimes - Aplicação da Pena - Penas -
Código Penal Militar - CPM - DL-001.001-1969
Art. 89, § 1º, Penas em Concurso de Infrações - Livramento
Condicional - - Penas - Código Penal Militar - CPM - DL-
001.001-1969
Art. 125, § 3º, Caso de Concurso de Crimes ou de Crime
Continuado - Prescrição da Ação Penal - Extinção da Punibilidade
- Código Penal Militar - CPM - DL-001.001-1969
Agravantes no Caso de Concurso de Pessoas - Cálculo da Pena -
Circunstâncias Agravantes - Circunstâncias Atenuantes - Concurso de
Circunstâncias Agravantes e Atenuantes - Concurso Formal - Concurso
Material - Crime Continuado - Critérios Especiais da Pena de Multa -
Fixação da Pena - Limite das Penas - Multa Substitutiva - Multas no
Concurso de Crimes - Reincidência - Resultado Diverso do Pretendido
Aplicação da Pena
Cominação das Penas - Efeitos da Condenação - Livramento
Condicional - Reabilitação - Suspensão Condicional da Pena - Espécies
de Pena
Penas
Ação Penal - Aplicação da Lei Penal - Concurso de Pessoas - Crime -
Crimes contra a administração pública - Crimes contra a existência, a
segurança e a integridade do Estado - Crimes Contra a Família - Crimes
contra a fé pública - Crimes Contra a Incolumidade Pública - Crimes
Contra a Organização do Trabalho - Crimes Contra a Paz Pública -
Crimes Contra a Pessoa - Crimes Contra a Propriedade Imaterial -
Crimes Contra o Patrimônio - Crimes contra o sentimento religioso e
contra o respeito aos mortos - Crimes Contra os Costumes - Extinção da
Punibilidade - Imputabilidade Penal - Medidas de Segurança
Concurso Jurídico de Crimes
 Apenas uma pena acrescida de frações;
Absorção: considerado apenas o mais grave.
Exasperação: aplica-se a pena de um delito mais grave somada de uma quantidade relativa e proporcional
aos demais crimes.
observação: Não se confunde a contravenção penal (quase crime) no concurso de crime.
obs.dji: Concurso; Concurso de infrações; Concurso de Pessoas; Crime; Jurídico
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