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1 Tutoria III – M1 P6 Gabriella Almeida XXIV PROBLEMA 6 “AMOR E SEXO” Objetivos: 1. Conceituar sexualidade e aspectos sociais envolvidos; 2. Descrever a fisiologia da resposta sexual feminina e os fatores que influenciam; 3. Explicar as disfunções sexuais e aspectos fisiopatológicos (classificação, quais são, o que é). Referências: • Caderno de Atenção Básica – Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva • Tratado de Ginecologia – FREBASGO • Tratado de Ginecologia – Berek & Novak 1. CONCEITUAR SEXUALIDADE E ASPECTOS SOCIAIS ENVOLVIDOS A sexualidade diz respeito a um conjunto de características humanas que se traduz nas diferentes formas de expressar a energia vital, chamada por Freud de libido, que quer dizer energia pela qual se manifesta a capacidade de se ligar às pessoas, ao prazer/desprazer, aos desejos, às necessidades, à vida. A sexualidade não se limita à atividade sexual ou à genitalidade ou a uma função biológica responsável pela reprodução, mas percebe o corpo num todo como fonte de prazer, pelo fato de propiciar, desde o nascimento, o sentir, o perceber e o comunicar o mundo. A sexualidade envolve os sentimentos, a história de vida, os costumes, as relações afetivas e a cultura. É uma dimensão fundamental de todas as etapa da vida de homens e mulheres, presentes desde o nascimento até a morte, e abarca aspectos físicos, psicoemocionais e socioculturais. De acordo com as definições da OMS, a sexualidade é vivida e expressa por meio de pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, comportamentos, práticas, papéis e relacionamentos. A OMS reconhece a sexualidade como um dos pilares da qualidade de vida. É garantido ao ser humano o direito à saúde sexual, que é definida como um estado de bem-estar físico, emocional, mental e social relacionado à sexualidade. Pode ser influenciada pelo comportamento sexual, por atitudes, fatores biológicos e predisposição genética e é legitimada pela vivência sexual saudável. A sexualidade é uma condição humana que começa a se formar na infância, continua sendo construída na adolescência e se manifesta diferentemente nas várias fases da vida. Abrange: a relação sexual, o erotismo, o prazer, a orientação sexual e a reprodução; se expressa por meio de pensamentos, fantasias, desejos, comportamento e relacionamentos e é influenciada por fatores biológicos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos, culturais, éticos, legais, históricos e religiosos. Segundo Freud: “se o ser humano negligenciar a sua sexualidade, ele jamais se sentirá um ser completo”. Países subdesenvolvidos demonstram carência absoluta de profissionais com formação sexológica, o que inviabiliza a criação de programas de educação e assistência voltados para a saúde sexual em âmbito nacional. O termo sexualidade é abordado como uma categoria que se refere à totalidade das qualidades humanas, e não apenas à genitália e seu funcionamento. Inclui todas as dimensões de uma pessoa como o biológico, o psicológico, o emocional, o social, o cultural e o espiritual. Observa-se que, no que pese tal abordagem, há uma preocupação com a sexualidade como uma categoria que transcende à biologia das estruturas corporais e dos processos fisiológicos, que materializam e objetivam o sexo a partir do determinismo biológico de se ter nascido homem ou mulher. Ainda que o determinismo biológico marque o sexo do ser humano, a abordagem da sexualidade a partir do conceito de papel sexual, que remete ao modo pelo qual uma pessoa expressa a sua identidade sexual, não deve ser desmerecida. Durante muitos anos, tais características foram tomadas como inerentes à biologia do sexo, naturalizando as expressões da sexualidade em categorias muito bem definidas por responderem à força da natureza. As diferenças havidas entre os sexos fundaram noções de desigualdades entre homens e mulheres, colocando-as vulneráveis à força e razão masculina. A sexualidade, a feminina em especial, foi, e ainda o é (apesar de atualmente vivermos sob outros padrões de moral, ética e comportamento) objeto de interdição em vários campos. Isto porque o processo de formação da 2 Tutoria III – M1 P6 Gabriella Almeida XXIV nossa sociedade recebeu forte influência da sociedade ocidental europeia que, pautada na ética e na moral do Cristianismo, concebeu o corpo e o sexo como lugar de interditos. A sexualidade deve ser vivida de forma igualitária pelo homem e pela mulher, e o desfrutar de uma vida sexual boa e saudável vai propiciar felicidade e bem-estar. A área da saúde, pela forte influência do modelo biomédico sustentado no discurso cartesiano da separabilidade e redução da complexidade dos fenômenos, acabou por contribuir no reforço do discurso da sexualidade como fenômeno biológico, senão estrito pelo menos de forte domínio desta dimensão, na abordagem dos problemas de saúde afeitos à sexualidade. A visão médica de caracterização de doenças para uma adequada intervenção ainda permanece forte e majoritária na atenção às questões da complexa teia que envolve a sexualidade humana. É necessário considerar que a sexualidade possui uma dimensão exclusivamente humana na qual interagem os fenômenos de prazer, emoção, afetividade e comunicação, merecendo tratamento interdisciplinar. O tema sexualidade faz parte de uma das prioridades das políticas públicas de atendimento à mulher. No entanto, a abordagem centra-se no diagnóstico e tratamento de problemas de saúde, não necessariamente abarcando toda a complexidade que o tema exige. A mulher precisa buscar maior autonomia na vivência de sua sexualidade, conversando com o seu parceiro sobre seus problemas, desejos e preferências. Ressalta-se a necessária inclusão dos parceiros nas consultas com os profissionais, não tratando a sexualidade como uma questão que influencia apenas a um dos sujeitos implicados na relação. Muitas vezes as mulheres se tornam passivas e submissas na relação trazendo para si a responsabilidade pelos problemas relativos ao sexo e, ainda, também se colocam passivas diante da possibilidade de sedução, esperando que a busca ou a vontade parta do homem. Todas estas questões merecem discussão no âmbito da biologia, da fisiologia, da clínica, da psicologia, mas também no da psicossociologia. A saúde sexual requer abordagem positiva e respeitosa da sexualidade, das relações sexuais, tanto quanto a possibilidade de ter experiências prazerosas e sexo seguro, livre de coerção, discriminação e violência. Para se alcançar e manter a saúde sexual, os direitos sexuais de todas as pessoas devem ser respeitados, protegidos e satisfeitos. 2. DESCREVER A FISIOLOGIA DA RESPOSTA SEXUAL FEMININA E OS FATORES QUE INFLUENCIAM A partir dos modelos propostos por Masters e Johnson e por Kaplan, a Associação Psiquiátrica Americana (2002) estabeleceu novo modelo para o ciclo das respostas aos estímulos sexuais, definindo a resposta sexual saudável como um conjunto de quatro etapas sucessivas: o Fase do Desejo Sexual: O desejo sexual é vivido pela pessoa como sensações específicas que a fazem procurar ou ser receptiva à experiência sexual. As fontes que estimulam o desejo sexual variam de pessoa para pessoa. Muitos fatores influenciam negativamente no desejo sexual, como estar doente, deprimido, ansioso, achar que sexo é errado, estar com raiva do parceiro, sentir-se explorado de alguma forma pelo outro, ter medo de envolvimento afetivo, entre outros. o Fase de Excitação: Fase de preparação para o ato sexual, desencadeado pelo desejo. Estímulos psicológicos (pensamentos e fantasias) e/ou físicos (tato, olfato, gustação, audição e visão) podem levar à excitação. Junto com sensações de prazer, surgem alterações corporais que são representadas basicamente no homem, pela ereção, e na mulher, pela vasocongestão da vagina e da vulva pela lubrificação vaginal. o Fase de orgasmo: é o clímaxde prazer sexual, que ocorre após uma fase de crescente excitação. No homem, junto com o prazer, ocorre a sensação de não conseguir mais segurar a ejaculação e, então, ela ocorre. Na mulher, ocorrem contrações musculares rítmicas em volta da entrada da vagina. o Fase de resolução: é um período em que o organismo retorna às condições físicas e emocionais usuais, considerando que, nas fases anteriores, a respiração, a circulação periférica, os batimentos cardíacos, a pressão arterial, a sudorese, entre outras manifestações do organismo, tenderiam a se pronunciar. Todas essas fases também podem ser vivenciadas na masturbação. Deixar de vivenciar alguma dessas fases, numa atividade sexual, não necessariamente significa que a pessoa está com algum problema. Pode ser uma situação transitória, dependendo de diversos fatores circunstanciais de ordem biológica, psicológica ou sociocultural. 3 Tutoria III – M1 P6 Gabriella Almeida XXIV 3. EXPLICAR AS DISFUNÇÕES SEXUAIS E ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS DISFUNÇÕES SEXUAIS: São problemas que ocorrem em uma ou mais fases do ciclo de resposta sexual, por falta, excesso, desconforto e/ou dor na expressão e no desenvolvimento dessas fases, manifestando-se de forma persistente ou recorrente. Exemplos: Homens que não tem ereção ou tenham ejaculação precoce; mulheres que nunca tiveram ou frequentemente não tenham orgasmo. Muitas vezes deixam de ser diagnosticadas porque a pessoa não apresenta a queixa ou porque o profissional de saúde não aborda a questão, seja por sentir dificuldade em realizar essa abordagem, seja por não se sentir suficientemente preparado. O diagnóstico das disfunções sexuais é tão importante quanto a identificação de qualquer outro agravo à saúde, uma vez que interfere na qualidade de vida das pessoas. As condições do parceiro e o contexto da relação devem ser investigadas na anamnese. Um homem com ejaculação precoce pode conduzir sua parceira a se considerar anorgásmica, quando, na verdade, a precocidade dele a impede de concluir o ciclo da resposta sexual com êxito. É importante fazer a distinção entre: o Disfunção primária: ao longo da vida; o Secundária: adquirida; o Generalizada: Presente com qualquer parceria; o Situacional: presente em determinadas circunstâncias e/ou parcerias. A maioria dos casos de disfunção sexual está relacionada a problemas psicológicos ou problemas no relacionamento. Podem também ser resultado de problemas orgânicos ou uso de certas substâncias, como drogas, remédios ou exposição a toxinas. Fatores que podem estar relacionados às disfunções sexuais: Aspectos psicológicos: tabus sobre a própria sexualidade, como: associações de sexo com pecado, com desobediência ou com punições; baixa autoestima; fobias relacionadas ao ato sexual, a não aceitação da própria orientação sexual, entre outros. Dificuldades nos relacionamentos: brigas, desentendimentos quanto ao que cada um espera do relacionamento; falta de intimidade; dificuldades de comunicação entre os parceiros. Questões decorrentes de traumas: devido a violências. Condição geral de saúde: presença de disfunção sexual decorrente dos efeitos diretos de uma doença. Como: depressão, ansiedade, doenças crônico-degenerativas graves, entre outras; Efeitos diretos de uma substância: medicamentos – anti-hipertensivos, alguns antiarrítmicos, alguns psicotrópicos, anabolizantes, álcool e outras drogas, exposição a toxinas, entre outros. Geralmente, ocorre dentro de um período de intoxicação significativa ou abstinência de uma substância. Classificação das Disfunções Sexuais segundo a Associação Psiquiátrica Americana: Desejo Sexual hipoativo: diminuição, ausência ou perda do desejo de ter atividade sexual. A falta ou diminuição do desejo sexual constitui-se um problema quando interfere na vivência da sexualidade pela pessoa. Não pode ser caracterizada como disfunção quando ocorre em virtude de problemas circunstanciais (momentos de tristeza, luto, estresse, entre outros) ou, ainda, quando se manifesta eventualmente, sem identificação de um motivo específico. Aversão sexual: aversão a esquiva ativa do contato sexual com um parceiro, envolvendo forte sentimento negativos suficientes para evitar a atividade sexual. Falha da fase de excitação sexual ou falha de resposta genital: ocorre quando há incapacidade persistente ou recorrente de adquirir ou manter uma resposta de excitação sexual, com lubrificação-turgescência vaginal ou dificuldade de ter ou manter uma ereção adequada (conhecida como disfunção erétil) até a conclusão da atividade sexual. 4 Tutoria III – M1 P6 Gabriella Almeida XXIV Ejaculação precoce: ocorrência de orgasmo e ejaculação, com estimulação mínima antes, durante ou logo após a penetração e antes que o indivíduo a deseje. A ejaculação pode ocorrer logo que o homem tem pensamentos eróticos e ereção, sem nem ocorrer a penetração ou, ainda, logo após haver a penetração, o que leva a uma redução da sensação de prazer. Questões psicológicas como ansiedade, primeiras experiências sexuais tensas, novos parceiros ou ainda dificuldades no relacionamento, geralmente, estão entre as principais causas de ejaculação precoce (As causas também podem ser orgânicas). Anorgasmia ou disfunção orgásmica: grande retardo ou ausência do orgasmo quando ocorre de maneira persistente ou recorrente, após uma fase normal de excitação sexual. É importante buscar saber se a pessoa nunca teve orgasmo na vida ou se tinha orgasmos e passou a tê-los mais. A anorgasmia pode ser classificada em absoluta quando ocorre sempre, e situacional quando ocorre só em certas situações, por exemplo, em locais onde a pessoa não se sente confortável em virtude de algum tipo de conflito. Vaginismo: é a contração involuntária, não desejada, da musculatura da vagina, que ocorre quando a penetração é tentada ou quando a mulher imagina que possa vir a ter uma ato sexual com penetração. A penetração pode tornar-se impossível ou extremamente dolorosa. Dispareunia: dor genital que ocorre durante a relação sexual. Pode ocorrer em homens, mas é mais comum em mulheres. Embora a dor seja mais frequente durante o ato sexual, também pode ocorrer antes ou após o intercurso da relação sexual. PARAFILIAS: São caracterizadas por impulsos, fantasias ou práticas sexuais incomuns ou particulares, frequentemente compulsivas e em certas condições muito lesivas à própria pessoa ou a outrem. A pessoa é incapaz de controlar o impulso, apresentando comportamento desviantes que pode ser aumentado com situações que geram ansiedade, estresse ou depressão. Podem envolver apenas a fantasia, a atividade sexual solitária ou com outra pessoa. o Exibicionismo: exposição dos genitais em público, com intuito de impressionar ou chocar as pessoas. o Fetichismo: excitação sexual com objetos inanimados, como sapatos, cabelo, roupas íntimas, entre outros. o Pedofilia: atividade sexual com crianças. o Masoquismo: prazer ou excitação sexual derivada do fato de sofrer abuso/agressão física ou psicológica ou de ser humilhado (masoquismo moral). o Sadismo: excitação sexual derivada do fato de causar sofrimento físico ou psicológico a outra pessoa. o Zoofilia: sexo com animais. o Frotteurismo: friccionar genitais em outras pessoas (fora do contexto de uma atividade sexual com um parceiro) para adquirir excitação. o Voyerismo: excitação sexual pela observação de atos sexuais ou pessoas nuas.
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