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FARMACOLOGIA AULA 4 P2 CAROL LESSA 5ºPERÍODO Fármacos do Sistema Nervoso Central INTRODUÇÃO AO SNC DEFINIÇÃO DO SNC Constituído pelo encéfalo e pela medula espinal É responsável pela integração da informação sensorial e geração de saída motora e outros comportamentos necessários para interagir com sucesso com o ambiente e aprimorar a sobrevivência da espécie ORGANIZAÇÃO DO SNC O cérebro humano contém cerca de 100 bilhões de neurônios interconectados circundados por diversas células gliais de sustentação. Em todo o SNC, os neurônios estão reunidos em grupos, denominados núcleos, ou presentes em estruturas em camadas, como o cerebelo ou o hipocampo. As conexões entre neurônios dentro desses agrupamentos e entre eles formam o circuito que regula o fluxo de informação através do SNC. NEURÔNIOS Os neurônios são células eletricamente excitáveis que processam e transmitem a informação por meio de um processo eletroquímico. Existem muitos tipos de neurônios no SNC, que são CLASSIFICADOS das seguintes maneiras: de acordo com a sua função, com base na sua localização e pelo neurotransmissor que eles liberam O NEURÔNIO TÍPICO possui um corpo celular (ou soma) e prolongamentos especializados, denominados dendritos e axônios. o Os dendritos, que formam “árvores” dendríticas complexas e altamente ramificadas, recebem e integram a informação proveniente de outros neurônios e a conduzem para o corpo celular. o O axônio transporta o sinal de saída do corpo celular de um neurônio, algumas vezes, por longas distâncias. Os neurônios podem apresentar centenas de dendritos, porém geralmente possuem apenas um axônio, embora os axônios possam se ramificar distalmente para entrar em contato com múltiplos alvos. A terminação axônica estabelece contato com outros neurônios em junções especializadas, denominadas sinapses, onde substâncias químicas neurotransmissoras são liberadas para interagir com receptores presentes em outros neurônios. Corpo celular, dendritos, segmento inicial do axônio, axônio, sinapses, bainha de mielina que é formada pelos oligodendrócitos, astrócitos que fazem conexões entre os corpos celulares dos neurônios. Um neurônio típico possui corpo celular que recebe resposta sináptica proveniente da árvore dendrítica, a resposta é integrada no segmento inicial do axônio – que apresenta uma alta concentração de canais de sódio voltagem dependente. Local de ação dos fármacos, desenho esquemático FARMACOLOGIA AULA 4 P2 CAROL LESSA 5ºPERÍODO Esse esquema mostra a sinapse de glutamato, a via glutamatérgica é uma via excitatória. NEURÓGLIA Além dos neurônios, existe um grande número de células de sustentação não neuronais, denominadas neuróglia ou glia, que desempenham uma variedade de funções essenciais no SNC. ASTRÓCITOS São as células gliais mais abundantes no cérebro, desempenham funções de sustentação homeostáticas, incluindo o fornecimento de nutrientes metabólicos aos neurônios e a manutenção de concentrações de íons extracelulares. Além disso, os prolongamentos dos astrócitos estão estreitamente associados às sinapses neuronais, onde estão envolvidos na remoção e reciclagem de neurotransmissores após a sua liberação e onde desempenham funções cada vez mais reconhecidas na regulação da neurotransmissão. OLIGODENDRÓCITOS São células que envolvem os axônios de neurônios de projeção no SNC, formando a bainha de mielina. À semelhança das células de Schwann nos neurônios periféricos, a bainha de mielina produzida pelos oligodendrócitos isola os axônios e aumenta a velocidade de propagação dos sinais. A lesão dos oligodendrócitos é observada na esclerose múltipla e, portanto, constitui um alvo nos esforços envidados na descoberta de fármacos. MICRÓGLIA A micróglia é constituída por macrófagos especializados derivados da medula óssea, que são encontrados no SNC e que constituem o principal sistema de defesa imune no cérebro. Essas células estão ativamente envolvidas nos processos neuroinflamatórios de muitos estados patológicos, incluindo doenças neurodegenerativas BARREIRA HEMATOENCEFÁLICA A barreira hematencefálica (BHE) é uma separação funcional protetora entre o sangue circulante e o líquido extracelular do SNC, que limita a penetração de substâncias, incluindo fármacos. Essa separação é obtida pela presença de zônulas de oclusão entre as células endoteliais dos capilares, bem como de uma camada circundante de pés terminais de astrócitos. Por conseguinte, para entrar no SNC, os fármacos precisam ser altamente hidrofóbicos ou recorrer a mecanismos de transporte específicos. Por exemplo, os anti-histamínicos de segunda geração (alegra, por exemplo) causam menos sonolência, uma vez que foram desenvolvidos para serem significativamente mais polares do que os antihistamínicos antigos, limitando, assim, a sua passagem pela BHE. Muitos nutrientes, como a glicose e os aminoácidos essenciais, possuem transportadores específicos que possibilitam a sua passagem através da BHE. A L- dopa, um precursor do neurotransmissor dopamina, pode entrar no cérebro utilizando um transportador de aminoácidos, já a dopamina não consegue atravessar a BHE. Por conseguinte, pode-se usar um fármaco administrado por via oral, a L-dopa, mas não a dopamina, para aumentar os níveis de dopamina do SNC no tratamento da doença de Parkinson. Algumas partes do cérebro, os denominados órgãos circunventriculares, carecem de uma BHE normal. Incluem regiões que coletam o sangue, como o centro do vômito na área postrema e regiões que secretam neuro-hormônios na circulação. CANAIS IÔNICOS E RECEPTORES DE NEUROTRANSMISSORES As membranas dos neurônios contêm dois tipos de canais definidos com base nos mecanismos que controlam os seus portões (abertura e fechamento): FARMACOLOGIA AULA 4 P2 CAROL LESSA 5ºPERÍODO os canais regulados por voltagem e os canais regulados por ligantes. A = seu potencial de ação cria um gradiente que abre o canal B = a ligação do neutrotransmissor ao receptor do canal iônico, controla a abertura do canal Nas células nervosas, esses canais estão altamente concentrados no segmento inicial do axônio, que inicia o potencial de ação rápido tudo-ou-nada, bem como ao longo da extensão do axônio, onde propagam o potencial de ação até o terminal nervoso. Existem muitos tipos de canais de cálcio e de potássio sensíveis à voltagem no corpo celular, nos dendritos e no segmento inicial, que atuam em uma escala de tempo muito mais lenta e que modulam a frequência de descarga do neurônio. Alguns tipos de canais de potássio abertos por despolarização da célula resultam em retardo da despolarização adicional e atuam como freio para limitar uma descarga adicional do potencial de ação. As toxinas vegetais e animais direcionadas para vários canais iônicos regulados por voltagem têm sido de inestimável valor para o estudo das funções desses canais. Os neurotransmissores exercem seus efeitos sobre os neurônios por sua ligação a duas classes distintas de receptores. A PRIMEIRA CLASSE são os canais regulados por ligantes ou receptores ionotrópicos. Esses receptores consistem em múltiplas subunidades, e a ligação do neurotransmissor ligante abre diretamente o canal, que constitui uma parte integrante do complexo do receptor. FARMACOLOGIA AULA 4 P2 CAROL LESSA 5ºPERÍODO Esses canais são insensíveis ou apenas fracamente sensíveis ao potencial de membrana. A ativação desses canais costuma resultar em uma breve abertura (de alguns milissegundos até dezenas de milissegundos) do canal. Os canais regulados por ligantes são responsáveis pela transmissão sináptica rápida típica das viashierárquicas do SNC. A SEGUNDA CLASSE de receptor de neurotransmissores é designada como receptores metabotrópicos Trata-se de receptores acoplados à proteína G que atravessam sete vezes a membrana. A ligação do neurotransmissor a esse tipo de receptor não resulta em regulação direta de um canal. Na verdade, a ligação ao receptor envolve uma proteína G, resultando na produção de segundos mensageiros que medeiam cascatas de sinalização intracelulares. Nos neurônios, a ativação dos receptores metabotrópicos de neurotransmissores frequentemente leva à modulação de canais regulados por voltagem. Essas interações podem ocorrer inteiramente dentro da membrana e são designadas como vias delimitadas pela membrana. Nesse caso, a proteína G (frequentemente a subunidade βγ) interage diretamente com o canal iônico regulado por voltagem. Em geral, dois tipos de canais iônicos regulados por voltagem constituem os alvos dessa forma de sinalização: os canais de cálcio e os canais de potássio. Quando as proteínas G interagem com os canais de cálcio, elas inibem a função do canal Esse mecanismo é responsável pela inibição da liberação do neurotransmissor que ocorre quando os receptores metabotrópicos pré-sinápticos são ativados. Em contrapartida, quando esses receptores são pós- sinápticos, eles ativam os canais de potássio (causam sua abertura), resultando em inibição pós- sináptica lenta. Os receptores metabotrópicos também podem modular os canais regulados por voltagem de maneira menos direta, pela geração de segundos mensageiros difusíveis – pode ser uma enzima por exemplo. Um exemplo clássico desse tipo de ação é fornecido pelo receptor β-adrenérgico, que gera AMP cíclico (AMPc) pela ativação da adenililciclase. Enquanto as ações delimitadas pela membrana ocorrem dentro de microdomínios na membrana, os efeitos mediados pelos segundos mensageiros podem ocorrer em distâncias consideráveis Por fim, uma importante consequência da participação das proteínas G na sinalização do receptor é o fato de que, diferentemente do efeito breve dos receptores ionotrópicos, os efeitos da ativação dos receptores metabotrópicos podem durar dezenas de segundos até minutos. Os receptores metabotrópicos predominam nos sistemas neuronais difusos do SNC SINAPSES E POTENCIAIS SINÁPTICOS A comunicação entre neurônios do SNC ocorre por meio de sinapses químicas na maioria dos casos. Um potencial de ação que se propaga ao longo do axônio do neurônio pré-sináptico entra no terminal sináptico e ativa canais de cálcio sensíveis à voltagem na membrana do terminal Os canais de cálcio responsáveis pela liberação do transmissor geralmente são resistentes aos agentes bloqueadores dos canais de cálcio porém são FARMACOLOGIA AULA 4 P2 CAROL LESSA 5ºPERÍODO sensíveis ao bloqueio por determinadas toxinas marinhas e íons metálicos À medida que o cálcio flui para o terminal, o aumento na concentração intraterminal de cálcio promove a fusão das vesículas sinápticas com a membrana présináptica. O neurotransmissor contido nas vesículas é liberado na fenda sináptica e difunde-se para os receptores na membrana pós-sináptica. O neurotransmissor liga-se a seu receptor e abre os canais (direta ou indiretamente, conforme descrito anteriormente) causando uma breve mudança na condutância da membrana (permeabilidade a íons) da célula pós-sináptica. A primeira análise sistemática dos potenciais sinápticos do SNC foi feita no início da década de 1950 por Eccles e colaboradores, que os registraram intracelularmente a partir de neurônios motores espinais. Quando um microeletrodo entra em uma célula, ocorre uma súbita mudança no potencial registrado pelo eletrodo, que normalmente é de cerca de -60mV. Esse é o potencial de repouso da membrana do neurônio. Dois tipos de vias — a excitatória (glutamato)e a inibitória (gaba) — interferem no motoneurônio. Quando uma via excitatória é estimulada, registra-se uma pequena despolarização ou potencial excitatório pós-sináptico (PEPS). Esse potencial é causado pela ação do transmissor excitatório sobre um receptor ionotrópico, causando um aumento da permeabilidade a cátions. À medida que sinapses excitatórias adicionais são ativadas, há uma soma graduada dos PEPS para aumentar o tamanho da despolarização. Quando um número suficiente de fibras excitatórias é ativado, o PEPS despolariza a célula pós-sináptica até o limiar, ocorrendo a geração de um potencial de ação tudo ou nada. De modo alternativo, se houver disparo repetitivo de uma entrada excitatória, a soma temporal dos PEPS também pode alcançar o limiar do potencial de ação. Quando uma via inibitória é estimulada, a membrana pós-sináptica é hiperpolarizada, devido à abertura seletiva dos canais de cloreto, produzindo um potencial inibitório pós-sináptico (PIPS). Entretanto, tendo em vista que o potencial de equilíbrio para o cloreto é apenas ligeiramente mais negativo do que o potencial de repouso (cerca de –65 mV), a hiperpolarização é pequena e só contribui modestamente para a ação inibitória. A abertura do canal de cloreto durante o PIPS provoca “vazamento” no neurônio, de modo que é mais difícil alcançar mudanças no potencial de membrana. Esse efeito de desvio diminui a mudança no potencial de membrana durante o PEPS. Em consequência, um PEPS que evocou um potencial de ação em condições de repouso não consegue evocar um potencial de ação durante o PIPS. Um segundo tipo de inibição é a inibição pré- sináptica. Foi descrita pela primeira vez em fibras sensoriais que entram na medula espinal, onde os terminais sinápticos excitatórios recebem sinapses denominadas sinapses axoaxônicas (descritas adiante). Quando ativadas, as sinapses axoaxônicas reduzem a quantidade de transmissor liberado dos terminais das fibras sensoriais. É interessante observar a presença de receptores inibitórios pré-sinápticos em quase todos os terminais pré-sinápticos no cérebro, embora as sinapses axoaxônicas pareçam estar restritas à medula espinal. No cérebro, o transmissor pode sair da sinapse e ativar receptores pré-sinápticos, seja na mesma sinapse (autorreceptor) ou em sinapses vizinhas. LOCAIS DE AÇÃO DOS FÁRMACOS Praticamente todos os fármacos que atuam no SNC produzem seus efeitos ao modificar alguma etapa da transmissão sináptica química. Essas ações dependentes do transmissor podem ser divididas em categorias présinápticas e pós-sinápticas. Os fármacos que atuam na síntese, no armazenamento, no metabolismo e na liberação de neurotransmissores são os pré-sinápticos. A transmissão sináptica pode ser deprimida pelo bloqueio da síntese ou do armazenamento do transmissor. Por exemplo, a reserpina causa depleção das sinapses monoamínicas de transmissores ao interferir no armazenamento intracelular. O bloqueio do catabolismo do transmissor no interior do terminal nervoso pode aumentar as concentrações do transmissor, e foi relatado que aumenta a quantidade de transmissor liberada por impulso. Os fármacos também podem alterar a liberação dos transmissores. A ANFETAMINA, um estimulante, induz a liberação de catecolaminas das sinapses adrenérgicas A CAPSAICINA provoca a liberação da substância P, um peptídeo, dos neurônios sensoriais, ao passo que a TOXINA TETÂNICA bloqueia a liberação dos transmissores. Uma vez liberado na fenda sináptica, a ação do transmissor termina em decorrência de sua captação ou degradação. FARMACOLOGIA AULA 4 P2 CAROL LESSA 5ºPERÍODO No caso da maioria dos neurotransmissores, existem mecanismos de captação no terminal sináptico, bem como na neuróglia circundante. Por exemplo, a COCAÍNA bloqueia a captação das catecolaminas nas sinapses adrenérgicase, portanto, potencializa a ação dessas aminas. Entretanto, a ACETILCOLINA é inativada por meio de degradação enzimática, e não pela sua recaptação As ANTICOLINESTERASES bloqueiam a degradação da acetilcolina e, portanto, prolongam a sua ação. Nenhum mecanismo de captação foi identificado para qualquer um dos numerosos peptídeos do SNC, e ainda não foi demonstrado se a degradação enzimática específica leva à interrupção da ação dos transmissores peptídicos Na região pós-sináptica, o receptor do transmissor proporciona o principal local de ação dos fármacos. Os fármacos podem atuar como agonistas do neurotransmissor, como os opioides, que reproduzem a ação da ENCEFALINA, ou podem bloquear a função do receptor. O antagonismo dos receptores constitui um mecanismo de ação comum dos fármacos do SNC. Um exemplo é o bloqueio do receptor de glicina, um transmissor inibitório, pela ESTRICNINA. Esse bloqueio, que é subjacente à ação convulsivante da estricnina, ilustra como o bloqueio dos processos inibitórios resulta em excitação. Por exemplo, o anestésico QUETAMINA bloqueia o subtipo NMDA de receptores ionotrópicos de glutamato por meio de sua ligação ao poro do canal iônico. No caso dos receptores metabotrópicos, os fármacos podem atuar em qualquer uma das etapas distais ao receptor. Talvez o melhor exemplo seja fornecido pelas METILXANTINAS, que são capazes de modificar as respostas do neurotransmissor mediadas pelo segundo mensageiro, o AMPc. Em altas concentrações, as metilxantinas produzem elevação dos níveis de AMPc ao bloquear o seu metabolismo, prolongando, assim, a sua ação ORGANIZAÇÃO CELULAR DO CÉREBRO Os sistemas neuronais no SNC podem ser divididos, em sua maioria, em duas grandes categorias: os sistemas hierárquicos e os sistemas neuronais inespecíficos ou difusos. SISTEMAS HIERÁRQUICOS Os sistemas hierárquicos incluem todas as vias diretamente envolvidas na percepção sensorial e no controle motor. Em geral, essas vias são claramente delineadas, sendo compostas de grandes fibras mielinizadas, que frequentemente podem conduzir potenciais de ação em uma velocidade de mais de 50 m/s. A informação costuma ser fásica e ocorre em salvas de potenciais de ação. Nos sistemas sensoriais, a informação é processada de modo sequencial por integrações sucessivas em cada núcleo de relé em seu trajeto para o córtex. A ocorrência de uma lesão em qualquer ligação incapacita o sistema. Dentro de cada núcleo e no córtex, existem dois tipos de células: os neurônios de relé ou de projeção e os neurônios de circuito local. Os neurônios de projeção formam as vias de interconexão que transmitem sinais ao longo de grandes distâncias Os corpos celulares desses neurônios são relativamente grandes e seus axônios podem se projetar por grandes distâncias, mas também emitem pequenos colaterais que fazem sinapse em interneurônios locais. Esses neurônios são excitatórios e suas influências sinápticas, que envolvem receptores ionotrópicos, são de duração muito curta. O transmissor excitatório liberado dessas células é, na maioria dos casos, o glutamato. Os neurônios de circuito local são em geral menores que os neurônios de projeção, e seus axônios ramificam-se na proximidade imediata do corpo celular. Esses neurônios são, em sua maioria, inibitórios, e liberam GABA ou Glicina. Fazem sinapse principalmente no corpo celular dos neurônios de projeção, mas também podem fazer sinapse nos dendritos dos neurônios de projeção, bem como entre si. Os dois tipos comuns de vias para esses neurônios incluem as vias de retroalimentação recorrentes e as vias de anteroalimentação. Uma classe especial de neurônios de circuito local na medula espinal forma sinapses axoaxônicas nos terminais dos axônios sensitivos. Por exemplo, o bloqueio seletivo dos receptores de GABAA com uma substância como a FARMACOLOGIA AULA 4 P2 CAROL LESSA 5ºPERÍODO picrotoxina resulta em convulsões generalizadas. Por conseguinte, embora o mecanismo de ação da picrotoxina seja específico no bloqueio dos efeitos do GABA, o efeito funcional global parece ser bem inespecífico, visto que a inibição sináptica mediada pelo GABA é amplamente utilizada no cérebro. SISTEMAS NEURONAIS INEXPECÍFICOS Os sistemas neuronais que contêm muitos dos outros neurotransmissores, incluindo as monoaminas e a acetilcolina, diferem de várias maneiras fundamentais dos sistemas hierárquicos. Esses neurotransmissores são produzidos apenas por um número limitado de neurônios, cujos corpos celulares estão localizados em pequenos núcleos distintos, frequentemente no tronco encefálico. Por exemplo, os corpos celulares noradrenérgicos são encontrados principalmente em um grupo compacto de células, denominado locus ceruleus, localizado na substância cinzenta central pontina caudal, e o seu número é apenas de aproximadamente 1.500 neurônios em cada lado do cérebro do rato. Entretanto, a partir desses núcleos limitados, esses neurônios projetam-se amplamente e de maneira difusa por todo cérebro e a medula espinal. Como os axônios desses neurônios de projeção difusa são finos e não mielinizados, a sua condução é muito lenta, de cerca de 0,5 m/s. Os axônios ramificam-se repetidamente e são muito divergentes. Ramificações do mesmo neurônio podem inervar várias partes funcionalmente diferente do SNC, fazendo sinapse em neurônios dentro dos sistemas hierárquicos e modulando-os. No neocórtex, essas fibras exibem uma organização tangencial e, portanto, podem influenciar grandes áreas do córtex. Além disso, os neurotransmissores utilizados por sistemas neuronais difusos, incluindo a norepinefrina, atuam, em sua maioria, predominantemente nos receptores metabotrópicos e, portanto, iniciam efeitos sinápticos de longa duração. Com base nessas observações, fica claro que os sistemas de monoaminas não podem transmitir tipos topograficamente específicos de informação; em vez disso, grandes áreas do SNC precisam ser afetadas simultaneamente e de maneira bastante uniforme. Por conseguinte, não é surpreendente que esses sistemas tenham sido implicados em funções globais, como iniciar o sono e despertar, assim como a atenção, o apetite e os estados emocionais. Vias difusas de neurotransmissores no SNC para cada uma das vias de neurotransmissores mostradas NEUROTRANSMISSORES CENTRAIS Tendo em vista que a seletividade dos fármacos baseia-se no fato de que diferentes vias utilizam transmissores diferentes, uma das principais metas dos neurocientistas foi identificar os neurotransmissores nas vias do SNC. FARMACOLOGIA AULA 4 P2 CAROL LESSA 5ºPERÍODO Estabelecer uma substância química como transmissor tem sido muito mais difícil para as sinapses centrais do que para as periféricas. Foram estabelecidos os seguintes critérios para a identificação dos transmissores 1. Localização: um suposto transmissor deve residir no termino pré-sináptico da via de interesse. 2. Liberação: um suposto transmissor deve ser liberado de um neurônio em resposta à atividade neuronal e de maneira dependente de cálcio. 3. Mimetismo sináptico: a aplicação da substância pressuposta deve produzir uma resposta que reproduza a ação do transmissor liberado por estimulação nervosa, e a aplicação de um antagonista seletivo deve bloquear a resposta.
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