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Constipação Intestinal

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CONCEITO E EPIDEMIOLOGIA: 
 Considerar, exclusivamente, a frequência das 
evacuações é apenas parte de sua avaliação. 
Detalhes sobre o bolo fecal, ao ato de evacuar e 
outros sintomas abdominais, também fazem parte 
da análise mais ampla do complexo conceito da 
constipação. 
 O Consenso de Roma IV define constipação intestinal 
funcional como uma disfunção em que predomina 
uma evacuação dificultosa, pouco frequente e 
incompleta. Deve ter seu início nos 6 meses 
precedentes, com presença mais frequente nos 
últimos 3 meses, incluindo duas ou mais das 
seguintes características, referidas em ao menos 
25% das evacuações: esforço, fezes endurecidas 
(escala de Bristol 1-2), sensação de eliminação 
incompleta, sensação de obstrução anorretal, 
manobras digitais para facilitar a saída do conteúdo 
fecal, menos que 3 evacuações espontâneas/ 
semana e necessidade de laxativos. 
 Constipação intestinal não é uma doença, mas 
meramente um sintoma. Isso ocasiona confusão 
entre médicos e pacientes, acarretando falhas na 
terapêutica. Como sintoma, pode indicar várias 
doenças. O diagnóstico tem um espectro tão amplo 
quanto o da dor abdominal. Apresenta diferentes 
significados para diferentes pacientes, dependendo 
do que cada um considera padrão normal de 
defecação. O paciente pode estar querendo dizer 
que as fezes são muito pequenas, muito duras, 
muito difíceis de serem expelidas, ou que as 
evacuações são pouco frequentes, ou, ainda, que 
persiste sensação de evacuação incompleta após a 
defecação. 
 A constipação intestinal encontra-se entre as 
doenças funcionais do intestino. Constitui um dos 
sintomas mais frequentes de procura ao clínico geral 
e gastroenterologista, acometendo cerca de 20% da 
população mundial. 
 É uma situação que acomete tanto crianças como 
adultos, sendo mais frequente em mulheres, e, na 
grande maioria dos casos, não se encontra nenhuma 
causa orgânica, sendo, por isso, rotulada de 
constipação intestinal funcional. 
 Constituem fatores desencadeantes e agravantes a 
baixa atividade física, baixo nível socioeconômico e 
educacional, alimentação inadequada, história de 
abuso sexual e os estados depressivos. 
 A incidência pode variar na dependência de vários 
fatores, incluindo os citados a seguir: 
 Idade: A ocorrência de constipação intestinal 
aumenta muito após os 60 anos. Estatísticas 
revelam que 21 a 34% das mulheres e 9 a 26% 
dos homens, após 65 anos, são constipados. É 
interessante ressaltar que isso não representa 
uma consequência fisiológica do 
envelhecimento. A etiologia nestes casos é 
multifatorial, incluindo comorbidades, 
diminuição da motilidade, defecação e 
medicamentos. 
 Gênero: Meninos em geral apresentam maior 
incidência do que meninas. Essa situação se 
inverte na idade adulta, sendo até duas vezes 
mais frequente na mulher. 
 Sedentarismo: Pessoas sedentárias têm maior 
dificuldade para evacuar e o fazem com 
menor frequência. 
ETIOPATOGENIA: 
 Do ponto de vista etiopatogênico, podemos 
classificar a constipação intestinal em três grupos: 
 Primária ou simples; 
 Secundária ou orgânica; 
 Idiopática ou funcional. 
Constipação Intestinal Primária 
 Também chamada de constipação intestinal simples, 
é aquela provocada por situações inerentes aos 
hábitos de vida do paciente ou por outras 
circunstâncias, geralmente banais. Neste caso, a 
anatomia do órgão está preservada. 
 Ingesta alimentar inadequada: A anamnese 
cuidadosa de pacientes constipados que não
 Constipação Intestinal 
1 Ana Luísa Prates Cardoso 
apresentam causa orgânica revela ingesta reduzida 
de fibras, ou até mesmo desnutrição, em 90% dos 
casos. Como sabemos, a presença de fibras vegetais 
na dieta acelera o trânsito colorretal, aumenta o 
peso das fezes e a frequência das evacuações. 
 Além da dieta pobre em fibras, é frequente a 
ingesta de quantidade inadequada de líquidos. 
 
 Sedentarismo: A vida sedentária, em si, não constitui 
fator importante na etiopatogenia da constipação 
intestinal. Entretanto, a inatividade física, 
notadamente nos idosos, associada à postura 
antifisiológica para defecar, colabora para a 
ocorrência de constipação intestinal. Além disso, os 
músculos diafragmáticos, abdominais e pélvicos 
atuam na fase expulsiva da evacuação, e a 
inatividade física debilita esses músculos. 
 Gravidez: A mulher grávida pode ficar constipada 
por dois motivos: alterações hormonais e 
compressão extrínseca que o útero gravídico faz 
sobre o intestino. 
 Perda do reflexo da evacuação: A manutenção da 
continência dos esfíncteres anais interno e externo é 
complexa e de grande importância, pois permite ao 
indivíduo controlar a evacuação, contraindo 
voluntariamente esses esfíncteres, e, portanto, 
defecar em hora e local adequados. 
 Posição: A posição ereta adotada pelo homem na 
sua evolução reduziu a velocidade de progressão do 
bolo alimentar, devido às angulações formadas no 
estômago e alças intestinais, através dos ligamentos 
e flexuras, que funcionam como um obstáculo 
mecânico. 
 Viagens: Durante viagens, é comum a mudança do 
hábito intestinal, consequente à alteração na dieta 
habitual e no hábito evacua- tório do indivíduo. 
Entretanto, essa situação geralmente é transitória, 
normalizando-se com a volta à rotina. 
 Pouca disponibilidade de sanitários: A inexistência 
de locais adequados para defecar pode inibir o 
reflexo da evacuação. Geralmente, ocorre com 
crianças em idade escolar ou com pessoas que 
trabalham em locais públicos, com sanitários anti-
higiênicos. 
 
Constipação Intestinal Secundária 
 Neste caso, a constipação intestinal é ocasionada 
por uma doença sistêmica, por iatrogenia ou, então, 
por problemas psicossociais. As situações mais 
frequentes são: doenças do cólon, doenças 
neurológicas, distúrbios endócrinos, medicamentos 
e distúrbios psiquiátricos. 
 Doença do cólon: Qualquer condição que provoque 
estreitamento anatômico ou bloqueio mecânico do 
lúmen intestinal pode produzir constipação 
intestinal. As principais enfermidades responsáveis 
por essa situação estão listadas no Quadro 1. 
Devemos lembrar sempre que a constipação 
intestinal, sobretudo se acompanhada de 
hemorragia, pode ser o primeiro sintoma de câncer 
do cólon ou do reto. 
 As lesões extraluminais e, em certos casos, até 
extraintestinais, como cistos ovarianos, 
miomas, tumores da próstata, dependendo do 
tamanho, podem ocasionar constipação 
Quadro 1: 
2 Ana Luísa Prates Cardoso 
intestinal por compressão extrínseca, ao passo 
que hérnias, vólvulos e invaginação o fazem 
por obstrução intestinal. 
 As lesões luminais em geral ocupam espaço, 
reduzindo a luz do órgão, produzindo, dessa 
forma, constipação intestinal. 
 O dolicocólon é uma alteração muito 
frequente, podendo atingir 14% dos 
indivíduos adultos. Caracteriza-se pelo 
alongamento do intestino grosso, 
especialmente do cólon esquerdo e sigmoide. 
Nem sempre apresenta sintomas e, em geral, 
constitui achado radiológico. 
 A doença diverticular, embora muito 
frequente, sobretudo nos indivíduos acima de 
60 anos, é assintomática. Não só a doença 
diverticular em si, mas também suas 
complicações podem produzir constipação 
intestinal por estase intestinal, decorrente da 
hipertrofia da musculatura do cólon ou de 
processos inflamatórios. 
 Certos tipos de enfermidades 
neuromusculares tais como miopatias, 
distrofias e doenças escleroatróficas, podem 
acometer as estruturas da parede colônica e 
ser responsáveis por constipação intestinal. 
Felizmente, tais doenças são raras. 
 Qualquer lesão quer seja do reto ou do ânus, 
que provoque dor durante a evacuação pode 
gerar obstipação, pois a pessoa evita evacuar. 
Se esse bloqueio voluntário do reflexo da 
evacuação se prolonga, pode condicionar o 
indivíduo a não evacuar. As lesões que mais 
frequentemente ocasionam esse problemasão abscessos, fissuras, prolapsos, retocele e 
tumores. Em algumas circunstâncias, pode 
ocorrer estenose anorretal, sobretudo após 
operações nessa região, dificultando a 
evacuação. 
 
 Doenças Neurológicas: As lesões do sistema nervoso, 
tanto central quanto periférico (Quadro 2), 
frequentemente produzem constipação intestinal. 
 O Hirschsprung é uma afecção congênita 
caracterizada pela ausência, ou redução, dos 
plexos nervosos em determinados segmentos 
do intestino. A região afetada torna-se 
espástica, acarretando estenose funcional. A 
ausência de inervação interrompe o estímulo 
nervoso nesse segmento. Essa doença é 
responsável por 1/3 dos casos de obstrução 
intestinal neonatal. A forma localizada no 
cólon e no reto é mais comum na infância, 
mas, em alguns casos, pode se apresentar 
após a segunda década de vida, apesar de ser 
congênita. 
 Tanto a diminuição quanto o aumento da 
concentração neuronal no intestino (hipo e 
hiperganglionose) podem causar constipação 
intestinal. Em geral, constituem situações de 
difícil diagnóstico, pois não conhecemos a 
concentração neuronal normal. Em algumas 
situações, o número de neurônios é normal, 
mas sua função é ineficaz. 
 Muitos casos de constipação intestinal nos 
quais não se encontra uma causa evidente 
podem ser devidos à neuropatia autonômica, 
isto é, alterações do sistema nervoso 
autônomo. Não sabemos se as alterações 
neuronais, nesses casos, são causas ou 
consequências da constipação intestinal. O 
diagnóstico é sempre muito difícil. 
 A doença de Chagas constitui uma das causas 
mais frequentes de constipação intestinal em 
nosso meio. Caracteriza-se por destruição dos 
plexos neuronais da musculatura lisa do 
intestino, especialmente o plexo de Auerbach. 
Os segmentos acometidos tornam-se atônicos 
e muito dilatados. Pode ocorrer acúmulo de 
material fecal em todo o cólon. Há casos de 
pacientes que passam 20 ou mais dias sem 
evacuar. 
 Inúmeras lesões do sistema nervoso central 
ou medular podem evoluir com obstipação 
intestinal. Quando a lesão é central, a 
constipação intestinal se deve ao 
comprometimento do sistema neuromotor 
intestinal. Já nas lesões medulares, a 
magnitude do problema está na dependência 
do segmento acometido. 
 
 
3 Ana Luísa Prates Cardoso 
 
 Distúrbios endócrinos e metabólicos: Constipação 
intestinal pode ser a queixa principal de inúmeros 
distúrbios endócrinos e metabólicos (Quadro 3). 
Assim, pacientes com pseudo-hipoparatireoidismo 
apresentam, em geral, constipação intestinal grave 
como único sintoma, que desaparece com a 
normalização da calcemia. Constitui, também, 
queixa frequente nos casos de infiltração 
mixedematosa, feocromocitoma e glucagonoma. 
Cerca de 15% dos diabéticos são constipados. Nesse 
caso, o mecanismo provável é a neuropatia 
autonômica. 
 Os distúrbios metabólicos geram, quase 
sempre, uma diminuição de água no 
organismo, além de redução no peristaltismo. 
Dessa forma, evoluem com obstipação 
intestinal. 
 
 Medicamentos: Um grande número de drogas, por 
diversos mecanismos, pode induzir a constipação 
intestinal (Quadro 4). Até mesmo o uso abusivo de 
laxativos tem sido implicado como causador de 
constipação intestinal orgânica, presumivelmente 
por lesar as estruturas nervosas do cólon. 
Entretanto, estudos a esse respeito são 
retrospectivos, e, portanto, as conclusões são 
discutíveis. 
 
 Distúrbios psiquiátricos: Pacientes que sofrem de 
depressão, ansiedade e, sobretudo, aqueles com 
distúrbios psiquiátricos mais sérios (psicose, 
neurose, anorexia nervosa, entre outros) geralmente 
apresentam, entre suas queixas, constipação 
intestinal. Nesses casos, é preciso atenção especial, 
pois, muitas vezes, a queixa é constipação intestinal, 
mas, na verdade, o paciente não se sente satisfeito 
com a evacuação, quer seja quanto ao volume de 
fezes, quer seja na consistência, ou até mesmo na 
sensação da evacuação em si. 
 Nos pacientes com anorexia nervosa, a 
reduzida ingesta de água e alimentos é a 
causa da constipação intestinal. Na síndrome 
do cólon irritável, com predomínio de 
constipação intestinal, não existe correlação 
entre as queixas subjetivas e os exames 
objetivos. Esses pacientes apresentam, quase 
sempre, um distúrbio de sensibilidade visceral 
e, consequentemente, toleram mal qualquer 
distensão do cólon. Além disso, geralmente 
ocorrem alterações motoras em todo o trato 
gastrintestinal, mediado pelo sistema nervoso 
central. 
 
 
Quadro 2: 
Quadro 3: 
Quadro 4: 
4 Ana Luísa Prates Cardoso 
Constipação Intestinal Idiopática ou Funcional 
 Nesta situação, não há nenhuma alteração estrutural 
ou metabólica, nem qualquer alteração na rotina 
diária do paciente que possa justificar o sintoma. 
Geralmente, o problema é crônico, muitas situações 
remontam à infância, e responde mal ao tratamento 
convencional. Do ponto de vista fisiopatológico, 
pode ser dividida em três subgrupos: 
 Constipação intestinal com trânsito normal; 
 Constipação intestinal com trânsito lento; 
 Obstrução anorretal. 
 
 Constipação intestinal com trânsito normal: É a 
forma mais comum na prática clínica. Neste caso, o 
trânsito colônico e a frequência das evacuações são 
normais. Entretanto, os pacientes consideram-se 
constipados. Sentem dificuldade para evacuar e/ou 
apresentam fezes endurecidas. 
 Constipação intestinal com trânsito lento: Também 
chamada inércia colônica, caracteriza-se por um 
prolongado tempo no trânsito das fezes através do 
cólon. Esta lentidão do trânsito pode ser devida a 
uma disfunção da musculatura colônica (miopatia), 
ou na inervação intrínseca (neuropatia). Estas 
alterações acarretarão uma diminuição na peristalse 
normal, em decorrência de uma redução no número 
e amplitude das contrações que são responsáveis 
pelo movimento de massa. A ausência ou diminuição 
destes movimentos resulta em prolongada 
permanência do bolo fecal no interior do cólon, 
sobretudo ascendente. Outro mecanismo possível é 
a incoordenação da atividade motora no cólon 
distal, acarretando uma barreira ou resistência ao 
trânsito normal. 
 Defecação dissinérgica ou obstrutiva: Nesta situação, 
existe uma falência do mecanismo de coordenação 
da evacuação. Do ponto de vista prático, o que 
ocorre é uma contração da musculatura da pelve, 
em vez de relaxamento, durante a evacuação, 
resultando em acúmulo do bolo fecal na região 
retossigmoidiana. 
 Em algumas ocasiões, podem-se observar os 
dois mecanismos em um mesmo paciente, 
notadamente em conjunto com a síndrome do 
intestino irritável. A presença de constipação 
intestinal com dor sugere esta possibilidade. 
DIAGNÓSTICO: 
 O estudo diagnóstico de pacientes portadores de 
constipação intestinal deve ser realizado em três 
planos: 
 Orgânico; 
 Funcional; 
 Psicológico. 
 
 Avaliação orgânica: 
 Quadro Clínico: A anamnese cuidadosa é 
fundamental. O ponto chave da história é 
saber a respeito do início dos sintomas. Nos 
pacientes que apresentam constipação 
intestinal devido a doenças congênitas, tais 
como Hirschsprung, meningocele etc., o 
sintoma existe, em geral, desde o nascimento. 
o Constipação intestinal de início recente 
sugere doença orgânica, e, nesse caso, 
devem-se ter sempre em mente 
patologias malignas. 
o História de sintomas há mais de 2 anos 
é mais tranquilizadora. 
o Algumas vezes, o início dos sintomas 
coincide com problemas emocionais. 
o Indagar sempre sobre os hábitos 
alimentares, incluindo a qualidade e a 
quantidade de alimentos consumidos 
no dia a dia. 
o Verificar, também, se o paciente pratica 
esportes, e com que frequência. 
o Pacientes constipados apresentam, 
conforme mencionado, uma 
constelação de sintomas que incluem: 
sensação de evacuação incompleta, 
necessidade de esforço para evacuar; 
fezes endurecidas, às vezes cíbalos; 
necessidadede manobras manuais para 
facilitar a evacuação. Além disso, 
referem diminuição na frequência das 
evacuações (em geral, menos de 3 
evacuações por semana), desconforto 
abdominal ou retal, meteorismo, 
flatulência, estufamento e dor 
abdominal. 
o Se, além da constipação intestinal, o 
paciente se queixa de dor, é preciso 
5 Ana Luísa Prates Cardoso 
definir claramente a sua natureza, 
intensidade e localização. Esta é mais 
comum nos quadrantes inferiores do 
abdome e pode ser consequente à 
distensão dos cólons por gases ou por 
contrações prolongadas. Outras vezes, a 
dor localiza-se nos hipocôndrios, com 
intensidade branda, quase constante. 
Frequentemente, melhora com a 
evacuação ou com a eliminação de 
gases. 
o Em alguns casos de constipação 
intestinal crônica, o paciente apresenta 
queixas gerais, como cefaleia, 
irritabilidade, distensão abdominal, 
anorexia, desânimo, entre outras. 
o A utilização da Escala de Bristol fornece 
importantes informações sobre o 
formato e a consistência das fezes e 
correlaciona-se muito bem com o 
tempo de trânsito intestinal. 
 Exame físico: Embora frequentemente 
normal, um minucioso exame físico, incluindo 
exame neurológico, deve ser sempre realizado 
no sentido de excluir doença orgânica que 
possa ser responsável pela constipação 
intestinal. A boca deve ser examinada, 
verificando-se o estado dos dentes e 
buscando-se lesões na cavidade oral que 
possam interferir com a alimentação. 
o O exame do abdome pode revelar 
distensão, hérnias, massas palpáveis ou 
sinais de fecaloma. Este deve ser 
pesquisado em todo paciente 
constipado, inclusive naqueles com 
incontinência fecal. Mais de 20% das 
crianças portadoras desse sintoma 
apresentam fecaloma e geralmente 
estão tomando antidiarreicos. O toque 
retal, portanto, não pode ser omitido. 
o A ausência de sensações cutâneas ao 
redor do ânus pode indicar lesão 
neurológica. A inspeção da região 
perianal permite identificar escoriações 
na pele, hemorroidas, fístulas, fissuras, 
doenças sexualmente transmissíveis, e, 
em crianças com incontinência fecal, 
procurar sempre trauma consequente a 
abuso sexual. 
o O toque retal fornece informações 
sobre o tônus dos esfíncteres, o calibre 
do canal anal e a presença de lesões 
como abscessos, tumores e fístulas. É 
possível, ainda, através do toque, 
avaliar estruturas extrarretais, como a 
próstata, no homem, e o colo do útero, 
na mulher. 
 Exames bioquímicos e microbiológicos: A 
escolha de qual ou quais exames realizar 
depende da avaliação clínica meticulosa de 
cada caso, tendo sempre em mente a exclusão 
de doenças orgânicas. Nesse sentido, o 
hemograma, a determinação de glicemia em 
jejum e testes para avaliar a função da 
tireoide devem ser realizados rotineiramente. 
Devido à frequente associação entre 
constipação intestinal e infecção do trato 
urinário, exame do sedimento urinário e 
urocultura também devem fazer parte da 
rotina. 
 Retossigmoidoscopia: Observação da mucosa 
retal através da retossigmoidoscopia é 
indicada com o intuito de afastar doenças 
orgânicas. Pode ser realizada tanto com 
aparelho flexível quanto com rígido. Este 
último tem a vantagem de não necessitar de 
insuflação de ar e permitir demonstrar 
prolapso retal interno. 
 Colonoscopia: Poderá ser necessária naqueles 
casos em que se suspeita de malignidade. 
 Defecografia: Esse exame permite avaliar a 
anatomia e a dinâmica da evacuação. A 
técnica do exame varia entre os diferentes 
centros, mas, de uma maneira geral, usam-se 
150 ml de uma pasta espessa de bário, 
imitando a consistência das fezes. Isso pode 
ser facilmente conseguido adicionando-se ao 
bário celulose, ou batata cozida amassada. O 
exame permite diagnosticar prolapso retal, 
enterocele, prolapso de mucosa, 
peritoniocele, retocele, queda do períneo e 
reação paradoxal do esfíncter, e ainda permite 
estudar o esvaziamento do reto e do canal 
anal. 
6 Ana Luísa Prates Cardoso 
 Avaliação funcional: 
 Determinação do tempo de transito colônico: 
O estudo do tempo de trânsito colônico 
permite ao médico entender melhor o 
movimento do bolo fecal através do cólon, 
uma vez que as informações fornecidas pelo 
paciente não são acuradas. 
o Várias técnicas têm sido descritas, 
entretanto a mais usada consiste na 
administração, por via oral, de um 
marcador radiopaco (cápsulas contendo 
bário, pedaços de sonda nasogástrica 
radiopaca etc.). Seguem-se radiografias 
seriadas diariamente. Em geral, 
considera-se patológica a retenção de 
20% do contraste ao final do 5º dia. 
Nesse período, o paciente não poderá 
usar laxativos, e sua dieta deverá ser a 
habitual. Para maior precisão, basta 
conhecer o número de marcadores 
ingeridos e realizar a contagem 
daqueles recuperados nas fezes durante 
os 5 dias. 
o Este estudo poderá revelar um de três 
padrões (Figura 1): 
 Trânsito normal: Quando, ao final 
do 5º dia, restaram menos de 
20% dos marcadores no cólon. 
 Trânsito lento ou inércia colônica: 
Observam-se, após o 5º dia, mais 
de 20% dos marcadores 
espalhados pelo cólon ou 
concentrados no cólon 
ascendente. 
 Padrão obstrutivo: Retenção de 
mais de 20% dos marcadores na 
região retossigmoidiana com um 
trânsito praticamente normal no 
restante do cólon. 
o Dois terços dos pacientes com 
dissinergia anorretal podem exibir um 
padrão misto, isto é, trânsito lento e 
padrão obstrutivo simultâneos. 
o Quando disponível, a cintigrafia 
colônica também constitui um bom 
método para avaliar o tempo de 
trânsito. 
 Manometria anorretal: Existem várias técnicas 
para medir a pressão na região anorretal. 
Embora qualitativamente os resultados 
obtidos com as várias técnicas sejam 
superponíveis, há necessidade de 
padronização. Na prática, a principal indicação 
desse exame restringe-se à diferenciação 
entre constipação intestinal idiopática e 
doença de Hirschsprung, nas quais nem a 
radiologia nem a histopatologia chegaram a 
uma conclusão. 
 Eletromiografia do cólon: O registro da 
atividade elétrica do cólon fornece elementos 
importantes a respeito da fisiopatologia da 
constipação intestinal. Contudo, do ponto de 
vista prático, é muito trabalhoso. A maneira 
mais adequada de realizar esse exame 
consiste na introdução de eletrodos na forma 
de anel, via colonoscopia. O formato dos 
eletrodos permite captar os sinais pelo 
simples contato com a parede intestinal. 
 Eletromiografia do esfíncter anal: Pode ser 
realizada utilizando-se eletrodo em agulhas, 
permitindo detecção de dissinergia em um 
músculo isoladamente. Através desse método, 
é possível investigar também o reflexo entre a 
pele perineal e a musculatura pélvica, 
determinando a integridade da inervação 
proveniente da cauda equina. 
 Avaliação dinâmica da evacuação: Pode ser 
feita através da defecografia (como descrito 
anteriormente), ou, então, pelo teste de 
expulsão de balão. Consiste na introdução de 
um balão de silicone, com formato de fezes, 
preenchido com 50 ml de água morna VR e na 
observação da dinâmica da evacuação 
enquanto o paciente evacua o balão. Permite 
avaliar o comprimento e a pressão de 
Figura 1: Padrões de trânsito intestinal. 
7 Ana Luísa Prates Cardoso 
abertura do canal anal e, ainda, estudar o 
ângulo anorretal. 
 
 Avaliação psicológica: Constipação intestinal não é 
somente a evacuação pouco frequente e/ou com 
fezes duras, mas, também, a sensação subjetiva que 
o paciente apresenta. O constipado com frequência 
passa de médico a médico, pois nem sempre aceita 
realizar os exames propostos, gerando frustração, 
desprazer ou mesmo raiva no médico, e rompendo a 
relação médico-paciente. 
 É essencial obter uma história de vida do 
paciente, no sentido de detectar “traumas 
emocionais” e conflitos não resolvidos. 
 Aqueles que querem ser rigorosos podem 
lançar mão de testes psicológicos,mas, na 
prática, de um modo geral, os pacientes 
constipados não aceitam bem a ideia de que 
seus problemas possam ter origem emocional. 
 É necessária atenção especial para detectar 
ocorrência de abuso sexual, notadamente na 
infância e adolescência. 
TRATAMENTO: 
 Não existe nenhum medicamento ou esquema 
terapêutico único para todos os pacientes ou 
situações. A melhor estratégia é personalizar o 
tratamento, levando-se em conta a história clínica, a 
causa e aspectos emocionais. 
 Medidas Gerais: O tratamento baseia-se em 
melhorar os sintomas, sempre que possível atuando 
nos mecanismos fisiológicos que regulam as funções 
do trato gastrintestinal. Dentre as medidas gerais 
destacam-se: 
 Orientações gerais ao paciente: Chamar a 
atenção para eventos que induzam 
constipação intestinal. 
o Necessidade de aderência ao 
tratamento; 
o Atentar para a variabilidade das funções 
intestinais, e que não é obrigatório 
evacuar diariamente; 
o Importância de se estabelecer uma 
rotina evacuatória; 
o Investigar causas específicas de 
constipação intestinal e tratá-las; 
o Esclarecer sobre o abuso e o uso 
inadequado de laxativos. 
 Reeducação dos hábitos evacuatórios: 
Procurar manter um horário para evacuar, de 
preferência após uma refeição. Procurar 
defecar ainda que não tenha desejo. Com o 
passar do tempo, torna-se um reflexo 
condicionado. Essa medida isoladamente é 
tão eficaz quanto o uso de laxantes. 
o Sempre que possível, não deixar de 
atender ao desejo de evacuar. 
o Adequar a ingestão de líquidos, 
procurando beber pelo menos 11L de 
água por dia. 
o Postura no vaso sanitário. A posição 
ideal para evacuar (de cócoras), pode-se 
lançar mão de um tablado ou qualquer 
outro artifício que eleve os pés e, 
mesmo no vaso sanitário, conseguir 
uma posição mais fisiológica. 
o Tratar as afecções anorretais 
(hemorroidas, fissuras, fístulas, retocele 
etc.), quando existirem. 
o Praticar exercícios físicos regularmente, 
sobretudo os abdominais. Essa medida 
visa a reforçar o diafragma e a 
musculatura abdominal, que participam 
ativamente no processo da evacuação. 
o Coibir o uso abusivo de laxantes, 
especialmente os drásticos. 
 Aumento da ingestão de fibras: O aumento do 
teor de fibras na dieta deve ser sempre 
incentivado, notadamente naqueles pacientes 
em quem a constipação intestinal não tem 
uma causa evidente. Isso pode ser conseguido 
através da utilização de alimentos ricos em 
fibras como farelo de trigo, verduras, frutas e 
leguminosos. Algumas vezes, podem-se 
adicionar à dieta fibras medicinais naturais 
como psílio, plantago e sene, e fibras 
sintéticas representadas pela policarbofila. 
o As fibras dietéticas estão disponíveis em 
diversas fontes naturais, como: frutas, 
vegetais e cereais. Do ponto de vista 
nutricional, são melhores do que os 
suplementos com fibras purificados. Por 
outro lado, aconselhar os pacientes a 
8 Ana Luísa Prates Cardoso 
comerem mais frutas, vegetais e cereais 
frequentemente é perda de tempo, pois 
a maioria deles não segue esta 
orientação, ou, se o faz, é por pouco 
tempo. Quando se prescrevem 
suplementos de fibras industrializados, 
a aderência dos pacientes é maior. 
o Quando o paciente não tolera o 
aumento de fibras naturais na dieta, 
pode-se lançar mão das fibras 
medicinais ou das sintéticas. 
 
 Abordagem farmacológica: 
 Se as medidas gerais juntamente com a dieta 
não alcançarem efeitos satisfatórios, torna-se 
necessária a prescrição de agentes laxativos. 
Para esse fim, existem inúmeras substâncias 
com diferentes mecanismos de ação (Quadro 
5). Ao prescrever laxantes, deve-se respeitar a 
tolerância e a preferência do paciente. 
o Os agentes formadores de massa, como 
o próprio nome indica, atuam 
aumentando o bolo fecal. São 
constituídos por derivados da celulose e 
polissacarídios semissintéticos. Podem 
exacerbar os sintomas, se a causa da 
constipação intestinal for orgânica. De 
qualquer forma, são os mais indicados 
para o tratamento a longo prazo. Todos 
os outros laxativos devem ser usados 
apenas nos casos agudos, ou por curto 
período de tempo, ou, ainda, quando 
houver necessidade de limpeza 
intestinal para a realização de qualquer 
procedimento (exames, cirurgias etc.). 
o Os surfactantes ou emolientes são 
usados com o propósito de facilitar a 
mistura de água e gordura na massa 
fecal, amo- lecendo-a. Provavelmente, 
dificultam a absorção de água pela 
mucosa intestinal. 
o Os lubrificantes são representados pelo 
óleo mineral e pela parafina líquida. 
Agem lubrificando a parede intestinal e 
diminuindo a absorção de água pelo 
cólon. 
o Os laxantes osmóticos incluem os 
salinos formados por sais de magnésio 
ou de sódio. Praticamente, não são 
absorvidos e, com isso, produzem um 
fluxo osmótico de água para o lúmen 
intestinal. 
o No grupo de laxativos estimulantes, 
encontramos os derivados 
difenilmetânicos, entre eles a 
fenolftaleína e o bisacodil, e os 
derivados antraquinônicos, como 
cáscara sagrada, sene, óleo de rícino, 
entre outros. 
 A fenolftaleína inibe a absorção 
ativa de sódio. 
 O bisacodil estimula o plexo 
nervoso da mucosa do cólon, 
causando contrações e 
diminuindo a absorção de água. 
 Os derivados antraquinônicos são 
desconjugados por bactérias no 
lúmen intestinal e atuam 
estimulando o plexo nervoso. 
 
 Agentes neuromusculares: 
 Agonistas dos receptores 5-HT4: Os 
receptores 5-HT4, desempenham 
importante papel, tanto fisiológico 
quanto fisiopatológico na regulação das 
funções gastrintestinais. A ativação 
neural desses receptores resulta em 
ativação procinética ao longo do trato 
Quadro 5: 
9 
9 Ana Luísa Prates Cardoso 
gastrintestinal (TGI). A liberação de 
neurotransmissores a partir dos nervos 
entéricos resulta em aumento da 
contratilidade e estimulação do reflexo 
peristáltico. O papel exato dos 
neurotransmissores na sensibilidade 
visceral ainda é desconhecido. Várias 
substâncias agonistas dos receptores 5-
HT4, estão sendo investigadas, 
destacando-se o tegaserode, a 
prucaloprida e a renzaprida. 
 Antagonistas opioides: Outro alvo de 
pesquisa de drogas que atuam no SNC 
para o tratamento da constipação 
intestinal envolve os neurônios 
secretores de opiáceos endógenos e 
seus receptores. Sabe-se que a 
liberação destas substâncias e sua 
interação com receptores pós-
sinápticos diminuem a peristalse. Este é 
o mecanismo pelo qual os opiáceos 
exógenos causam constipação 
intestinal. 
 Fundamentado nestas 
observações, sugeriu-se que 
antagonistas opioides poderiam 
melhorar os sintomas de 
constipação intestinal crônica. 
Recentemente, iniciaram-se 
estudos com dois novos 
antagonistas opiáceos que não 
atravessam a barreira 
hematencefálica, são eles: 
metilmatroxeno e alvimopam. 
 Reeducação funcional - Biofeedback: 
Numerosos estudos demonstram que o uso de 
técnicas de relaxamento pode, até mesmo, 
curar a constipação intestinal. O princípio do 
biofeedback é reativar um reflexo 
preexistente, reeducando o paciente. Todas as 
modalidades de biofeedback ensinam os 
pacientes a relaxar, em vez de contrair, a 
musculatura pélvica durante o esforço para 
evacuar. Pode ser realizado através de 
eletromiografia, ou manometria anorretal, 
com sinais auditivos e visuais, reforçados 
verbalmente. 
 Tratamento cirúrgico: Em casos muito bem 
selecionados, pode ser necessária uma intervenção 
cirúrgica, como na Doença de Hirschsprung e na 
Constipação intestinal grave. 
10 Ana Luísa Prates Cardoso

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