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Avaliação 2 Formação Econômica e Social do Brasil

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Avaliação Parcial 2 Formação Econômica e Social do Brasil
Aluna: Sofia Piscitelli Trindade 
DRE: 120048299
Quando Caio Prado Junior, em 1942, escreveu seu livro Formação do Brasil Contemporâneo, ele discorreu sobre o que seria o sentido da colonização do território brasileiro. Como ele sabia, esse é o ponto de partida para entender como se deu a evolução e o desenvolvimento de uma nação e, como nós também sabemos, esse sentido persiste até hoje em todas as camadas do Brasil. Seja em nível social, econômico, político ou cultural, o sentido da colonização brasileira de exploração se perpetuou e determinou toda a formação de nossa nação.
	Uma das principais características do Brasil atual que mais remonta à época colonial e evidencia a presença do sentido da colonização na contemporaniedade é a exportação de produtos agrícolas. Como falava Furtado em seu livro Formação Econômica do Brasil, o período colonial foi marcado por ciclos de desenvolvimento econômico responsáveis por enormes lucros que se dirigiam à metrópole. Porém, essa dinâmica foi prejudicial para a formação do Brasil enquanto nação autônoma, uma vez que dificultava o desenvolvimento e fortalecimento de bases produtivas voltadas para o mercado interno. Foram esses ciclos, primeiro de cana de açúcar, depois do ouro e por fim do café, que estabeleceram o Brasil como um dos maiores exportadores de produtos primários até os dias de hoje. No momento em que escrevo, no ano de 2021, tivemos um dos melhores meses do agronegócio da história, mesmo estando em uma das maiores crises econômicas já vistas. Aqui se evidencia a grande herança exportadora da época colonial: as exportações de produtos primários batendo recordes, enquanto a população brasileira sofre com altos preços e desabastecimentos. 
	Como já vimos, essa perpetuação do sentido da colonização até os dias atuais se transformou no que chamamos de dependência, um cenário onde o Brasil e também outras economias periféricas tem seu desenvolvimento condicionado pelas economias centrais. Existem diversos desdobramentos dessa teoria e muitas discordâncias, mas o ponto central é comum. A colonização do Brasil, a exploração e a extração violenta das riquezas do território, o genocídio dos povos indígenas, a enorme dívida com a Inglaterra no momento pós-independência e os já mencionados ciclos de desenvolvimento exportador durante o período colonial, tudo isso submeteu o Brasil à condição crônica de periferia e subdesenvolvimento perante o cenário capitalista mudial.
	A dependência resultante de todos esses fatores tem várias faces e atua sobre o sul global de diversas formas diferentes. Podemos mencionar por exemplo o mais recente Consenso de Washington, uma formulação de novos ideais econômicos que deveriam ser aplicados ao redor do globo e que representavam uma suposta chave para o desenvolvimento dos países periféricos. Com esses ideais estabeleceu-se o neoliberalismo, amplamente aplicado nesses países a partir dos anos 80 e que os subordinou aos projetos econômicos das economias centrais. Em seu livro Globalização, Dependência e Neoliberalismo na América Latina, Carlos Eduardo Martins estuda o desenvolvimento dos países latinos sob esse contexto da dependência, articulando-o com o neoliberalismo e a globalização e reconhecendo que a aplicação desse projeto neoliberal teve como resultado o aprofundamento da periferização, da desigualdade, da superexploração do trabalho e da deterioração ecológica.
	Podemos ver as provas do que o autor diz quando analisamos o enorme nível de precarização do trabalho no Brasil. Ao longo do século XX, inúmeros direitos trabalhistas foram conquistados, como por exemplo a CLT durante o governo Vargas, mas com o neoliberalismo se observou uma tendência de flexibilização dos contratos de trabalho, onde o trabalhador se vê exposto à situações de vulnerabilidade, com cada vez menos direitos garantidos. O resultado dessa tendência é o aumento da precariedade e da uberização do trabalho no Brasil, sendo essas características de informalidade presentes em quase metade dos empregos de todos o país. Sendo assim, podemos ver as consequências diretas da imposição estadunidense do Consenso de Washington e de seus ideais, pregando a flexibilização e desregulamentação dos contratos de trabalho em prol dos lucros dos capitalistas e da proteção da propriedade privada. Além disso, como Martins atesta em seu livro, o neoliberalismo no Brasil trouxe também uma gradativa destruição do aparato produtivo em prol da atividade exportadora, aprofundando as tendências que já vimos sobre a priorização das atividades que trazem lucro para o agronegócio e a burguesia industrial brasileira - dois exemplos de setores que se beneficiam com o modo de produção capitalista dependente – e que contribuem assim para a perpetuação da condição da dependência.
Dessa forma, é fácil entender porque a ideia de que o subdesenvolvimento é resultado de escolhas políticas e econômicas pouco inteligentes não vale para o Brasil e nem para os outros países do Sul Global. Como disseram Cardoso e Faletto em seu livro Dependência e Desenvolvimento na América Latina, foram necessárias novas análises para entender porque o tão esperado desenvolvimento dos países emergentes não se concretizou, o que nos trouxe aos ideais da dependência e da dominação social, onde um país central impõe ao resto do mundo seu modo de produção próprio, negligenciando diferenças histórico-sociais e submetendo a periferia do sistema aos seus interesses próprios. É fundamental entender, porém, que muitas das imposições externas que refletem a dependência e a relação de condicionamento entre o Brasil e as nações centrais são perpetuadas por atores internos que se beneficiam com esses moldes de desenvolvimento. 
	Nesse sentido, é importante analisar, por exemplo, os repetitivos cortes em bolsas de pesquisas que têm sido feitos nos últimos anos. Cada vez mais existe um desmerecimento da pesquisa e da ciência, não só apenas no Brasil mas em todo o mundo. Essa tendência, que acompanha também os recentes movimentos negacionistas a respeito da vacina contra a covid-19, contribui para essa situação de dependência, uma vez que não permite uma dinâmica de desenvolvimento emancipatória e de exploração do potencial científico brasileiro, evidenciando a incapacidade de um verdadeiro amadurecimento produtivo dentro dessa dinâmica. Pesquisas que não se desenvolvem correspondem a avanços que não são feitos e problemas que não são solucionados, contribuindo para o cenário de subdesenvolvimento em que se encontra o Brasil nos dias atuais. 
	Sendo assim, é importante entender quais são os agentes internos que se beneficiam com a situação da dependência e que contribuem para perpetuar essa configuração. Como defende Florestan Fernandes em seu livro Capitalismo Dependente e Classes Sociais na América Latina, a forma com a qual se deu a formação das classes sociais no Brasil – através de um capitalismo imposto pelas economias centrais que não permitiu o desenvolvimento autônomo da região - foi prejudicial para a estruturação e integração de uma típica sociedade de classes. Dessa forma, as classes que acabaram se formando funcionam como uma estrutura reprodutiva do capitalismo dependente que lhe foi imposto. Com essa contextualização, fica mais fácil compreender o papel que as classes capitalistas brasileiras têm na perpetuação da dependência e seu consequente interesse em minar as ferramentas de um possível desenvolvimento emancipatório, como por exemplo, a ciência. 
	Resumindo, podemos concluir então que o sentido da colonização defendido por Caio Prado Junior se perpetua na sociedade brasileira até a atualidade, tomando a forma da dependência e submetendo o Brasil e toda a periferia do sistema aos moldes do desenvolvimento e capitalismo selvagem que reina principalmente nos Estados Unidos e também na Europa. Assim, podemos ver as consequências desses processos na contradição entre recordes de exportações simultâneos à alta nos preços, na precarização e informalidadedo trabalho e também nos cortes e desincentivos à pesquisa científica brasileira. Enquanto não forem adotadas formas de desenvolvimento emancipatório, o Brasil estará sempre refém das vontades das economias centrais e tendo os efeitos disso ecoando em todas as suas esferas.

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