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Aula 01 Educação de Jovens e Adultos Márcia Justino da Silva Educação de Jovens e Adultos Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ANDRÉA CÉSAR PEDROSA Projeto Gráfico MANUELA CÉSAR ARRUDA Autor ANALICE OLIVEIRA FRAGOSO Desenvolvedor CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS Autor MÁRCIA JUSTINO DA SILVA Olá, Caro estudante! Sou Márcia Justino da Silva e serei sua professora executora nesta disciplina de Educação de Jovens e Adultos. Sou Licenciada em Pedagogia, Pós-Graduada em Psicopedagogia Diferencial: Diferenças na Aprendizagem, Especialista em Psicanálise Aplicada à Educação e em Metodologia do Ensino na Educação a Distância e Mestre em Psicanálise Aplicada à Educação e Saúde (Curso Livre). Fui ex-coordenadora do Curso de Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional – FAJOLCA. Atualmente atuo como professora de Graduação e Pós- Graduação em diversos cursos na área de educação, sou Coordenadora Pedagógica da Consultoria Didática Escolar – Reforço Escolar, Professora Conteudista e Executora da EaD da UNINASSAU (Curso de Licenciatura em Pedagogia), do Instituto Federal de Educação ( Curso de Licenciatura em Matemática) e da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco (Curso Técnico em Secretaria Escolar). Tenho muito orgulho de minha profissão, pois acredito que só a educação é o caminho para o desenvolvimento pessoal, social e nacional. Estou muito honrada e feliz por ter a oportunidade de ajudá-los na construção do conhecimento, tornando-o uma aprendizagem significativa. Estamos juntos nessa jornada! Um abraço! INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimen- to de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser prioriza- das para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofun- damento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma ativi- dade de autoapren- dizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; Iconográficos Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: SUMÁRIO Educação de Jovens e Adultos: Pensamento Político Pedagógico ao Longo da História ................................................... 12 Dos Jesuítas a Revolução Industrial ............................................................12 Período Jesuítico (1549-1759) ..................................................................12 Período Pombalino (1760 - 1808) ...................................................... 15 Período Joanino (1808 – 1821) ..............................................................16 Período Imperial ..................................................................................................17 Período Republicano: redemocratização e os dias atuais ......19 A importância da EJA como modalidade da Educação Básica e a escola .....................................................................................29 Inclusão Social e Diversidade Cultural: Escola como Espaço de Interações e Relações Democráticas na EJA ..................... 31 Inclusão Social e a Diversidade Cultural .................................................. 31 Orientações Curriculares para a EJA .............................................35 O Processo de Alfabetização e Letramento: ressignificando os saberes escolares ........................................................................................................37 Conceitos de Alfabetização e Letramento de Jovens e Adultos .................................................................................................................................. 39 Educação de Jovens e Adultos 7 UNIDADE 01 Educação de Jovens e Adultos8 Caro estudante, seja muito bem-vindo a nossa disciplina! Chegou a hora de complementar seus estudos sobre a Educação Básica, adentrando em uma modalidade muito interessante, a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Você sabia que esta modalidade é relativamente jovem? Pois é, a princípio seu objetivo era apenas ensinar os adultos, que por algum motivo não foram alfabetizados na escola regular, a ler e escrever. Contudo, através dos tempos, houve mudanças significativas em sua proposta e objetivos, respaldada pela legislação e pelas políticas públicas educacionais. Exatamente isto que veremos nesta unidade. Faremos uma viagem no tempo para que possamos compreender como se deu a construção do pensamento pedagógico da Educação de Jovens e Adultos- EJA- ao longo da história de nosso país, até os dias atuais. Vamos lá? INTRODUÇÃO Educação de Jovens e Adultos 9 Segundo Perrenoud (1999, p. 30): “Competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc.). Para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações”. Seguindo este princípio estabelecemos algumas competências para esta Unidade. Nosso objetivo é auxiliá-lo no desenvolvimento desta etapa de estudos, ajudando a: • Compreender a trajetória histórica da Educação de Jovens e Adultos no Brasil; • Refletir a respeito da importância da Educação de Jovens e Adultos como uma das modalidades da Educação Básica a partir da sua evolução histórica; • Identificar a importância da EJA no processo da inclusão social; • Verificar como se dá o processo de alfabetização dos jovens e adultos, enfatizando a importância de uma didática e uso de metodologias adequadas. Preparado para nossa viagem no tempo? Tenho certeza que será muito gratificante! OBJETIVOS Educação de Jovens e Adultos10 Educação de Jovens e Adultos: Pensamento Político Pedagógico ao Longo da História Dos Jesuítas a Revolução Industrial Você certamente se recorda do que estudou em História da Educação, certo? Mas, vamos refrescar um pouco a sua memória. Agora numa perspectiva da EJA. Período Jesuítico (1549-1759) Lembra-se que os jesuítas foram os primeiros educadores em terras brasileiras e que o seu principal objetivo era a catequese dos índios que aqui viviam? Pois bem, para que alcançassem seu objetivo era primordial que houvesse a alfabetização desse povo na língua portuguesa. Contudo, o Projeto Educacional Jesuítico não era apenas um projeto de catequização, mas sim um projeto bem mais amplo, pois havia um projeto de transformação social, implementando mudanças radicais na cultura indígena brasileira, obtendo uma transformação social colônia. Apesar de existirem indícios de que os jesuítas e membros de outras ordens religiosas também catequizaram e instruíram escravos, não se encontram registros históricos sobre essas experiências. Nem outras que possam ter sido realizadas com mulheres adultas. INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de: Entender como iniciou a Educação de Jovens e Adultos no Brasil – EJA - em seus aspectos gerais e específicos, ao longo de nossa história, contextualizando as suas diferentes fases até hoje. Então vamos lá! Educação de Jovens e Adultos 11 Cabe ressaltar o que nos dizem Maciel e Neto (2008, p. 01) quanto ao ensino jesuítico: O ensino jesuítico implementado no período colonial brasileiro era adequadopara o momento histórico vivenciado, levando- se em consideração quatro aspectos: os objetivos do Projeto Português para o Brasil; o projeto educacional Jesuítico; a própria estrutura social brasileira da época; e o modelo de homem necessário para a época Colonial. Figura 1: Cenas de Catequese Fonte: Wikicommons Educação de Jovens e Adultos12 Ao longo de 210 anos (1549-1759) os jesuítas implantaram um Plano Educacional elaborado pelo Padre Manoel da Nóbrega – Ratio Studiorum - que servia às várias classes da população, contudo de acordo com a classe social a que a pessoa pertencia, era designado um tipo de Educação. Figura 2: Ratio studiorum Fonte: Wikicommons SAIBA MAIS: Quer saber (ou relembrar um pouco) mais sobre a educação jesuítica? Assista o vídeo, bastante ilustrativo sobre este período de nossa história. Link: https://youtu.be/AfArxoWl9rQ. https://youtu.be/AfArxoWl9rQ Educação de Jovens e Adultos 13 Período Pombalino (1760 - 1808) Em 1759 os jesuítas foram expulsos do Brasil pelo Marquês de Pombal, que modificou todo o sistema educacional instaurado. Os jesuítas tinham 25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, além de seminários menores e escolas de primeiras letras instaladas em todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus, foram todos desativados. A educação brasileira vivenciou, nesta fase, uma grande ruptura de um método educacional implantado e até então consolidado. Foi estabelecido um novo modelo e estrutura educacional que se diferenciava do Ratio Studiorum, conhecido como “Aulas Régias”. O resultado da decisão de Pombal foi que, no princípio do século XIX, a educação brasileira estava reduzida a praticamente nada. O sistema jesuítico foi desmantelado e nada que pudesse chegar próximo deles foi organizado para dar continuidade a um trabalho de educação. Figura 3: Aulas Régias Fonte: Wikicommons Educação de Jovens e Adultos14 De acordo com Stephanou (2005c, apud SACRAMENTO, 2008), a expulsão dos jesuítas aparentemente não teve experiências sistemáticas e significativas em relação à alfabetização de adultos. A ênfase pombalina estava no ensino secundário, organizado através do sistema de Aulas Régias. Período Joanino (1808 – 1821) A vinda da Família Real, em 1808, foi marcada por mais uma ruptura no sistema educacional. Embora D. João VI tenha criado diversas instituições de ensino, tais como Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina e escolas noturnas, havia uma dificuldade de manter estas instituições em funcionamento. O surgimento da imprensa Régia na colônia contribuiu para divulgação de fatos e pensamentos para a população letrada. Entretanto a educação, mais uma vez, era relegada a segundo plano. Figura 4: Chegada da família real no Brasil Fonte: Wikicommons Educação de Jovens e Adultos 15 D. João VI volta a Portugal em 1821. Em 1822 seu filho D. Pedro I proclama a Independência do Brasil e, em 1824, outorga a primeira Constituição brasileira. O Art. 179 desta Lei Magna dizia que a “instrução primária é gratuita para todos os cidadãos”. Isto veremos a seguir, continuando nossa retrospectiva histórica. Vamos lá! Período Imperial A Constituição de 1824, como já mencionada, estabeleceu o ensino primário e gratuito a todos, mas nem todos tinham acesso à educação. Em 1826 um Decreto institui quatro graus de instrução: Pedagogias (escolas primárias), Liceus, Ginásios e Academias. Só em 1827 é que foi promulgada a lei geral sobre a instituição do ensino primário Tal lei determina que as escolas ensinem a ler, escrever e a utilizar as quatro operações, além de noções gerais de geometria, gramática, moral cristã e doutrina católica. pela primeira vez as meninas foram incluídas no sistema educacional, mas com um currículo diferenciado. Em 1831, cedendo às pressões da corte portuguesa e por atravessar uma grave instabilidade política, D. Pedro I abdica do trono brasileiro e, como seu pai, deixa no Brasil seu filho - D. Pedro II - com apenas 5 anos de idade. Por não ter idade para assumir o trono, o governo de D. Pedro II é dividido em dois momentos: Período Regencial (1831 - 1840) e Segundo Reinado (1840 - 1889). SAIBA MAIS: Aprofunde um pouco seu conhecimento sobre o Período Joanino e suas mudanças sociais. Acesse: https://youtu. be/4Dtte78JGKs. https://youtu.be/4Dtte78JGKs https://youtu.be/4Dtte78JGKs Educação de Jovens e Adultos16 Dom Pedro II apoiou as ciências, letras e artes e fez muito para o Brasil se desenvolver no campo econômico, industrial e científico, mesmo enfrentando conflitos e guerras. Em 1834 o Ato Adicional à Constituição dispõe que as províncias passariam a ser responsáveis pela administração do ensino primário e secundário. A intenção era de que pobres (brancos ou negros) tivessem acesso a escolaridade, adquirindo a cultura e a civilização europeia. A ideia era que somente a educação conseguiria desenvolver o país. Surgem, então, em 1835 as primeiras Escolas Normais para formação de professores. Embora possa ter havido a intenção de obter bons resultados, não foi o que aconteceu, tendo em vista uma barreira: as dimensões do país. Assim, a educação brasileira perdeu-se mais uma vez, obtendo resultados muito pouco expressivos. Em 1837, é criado no Rio de Janeiro, o Colégio Pedro II, com o objetivo de se tornar um modelo pedagógico para o curso secundário. Porém, o Colégio não conseguiu se organizar até o fim do Império para atingir tal objetivo. Figura 5: Colégio Pedro II no Rio de Janeiro Fonte: Wikicommons Educação de Jovens e Adultos 17 Quanto a educação para jovens e adultos, foi somente em 1879 que Carlos Leôncio de Carvalho elaborou uma reforma educacional. Através do decreto 7.247, foram criados cursos noturnos para adultos, do sexo masculino, nas escolas públicas de instrução primária. Infelizmente, caro estudante, até a Proclamação da República, em 1889 praticamente pouco foi feito de concreto pela educação brasileira, apesar da consideração de D. Pedro II pela tarefa educativa, numa consolidação de um sistema educacional em nosso país. Período Republicano: redemocratização e os dias atuais O primeiro período republicano foi marcado por uma grande mudança social, política, econômica e, consequentemente, educacional. A primeira Constituição da República, datada de 1891, reafirma a proibição ao voto do analfabeto às eleições. O censo de 1890 já havia constatado a existência de 85,21% de analfabetos na população total. Nesta época ainda não havia ações políticas voltadas para esta necessidade. As mobilizações da sociedade a favor da alfabetização dos adultos só aconteceram nas primeiras décadas do século XX. SAIBA MAIS: Caro estudante, acredito que seja interessante fazer uma revisão sobre: O Império e as primeiras tentativas de organização da educação nacional. Acesse: https://bit. ly/2EE7bsB. https://bit.ly/2EE7bsB https://bit.ly/2EE7bsB Educação de Jovens e Adultos18 Surgiram, então, várias campanhas de alfabetização, como a Liga Brasileira Contra o Analfabetismo (1915) no Rio de Janeiro. A Revolução Industrial, a partir de 1930, trouxe a necessidade de uma mão de obra qualificada e especializada. Nesse momento houve um considerável aumento da migração para as capitais, de pessoas que viviam na zona rural, em busca de novas oportunidades de trabalho. Havia uma grande preocupação e mobilização para erradicar o analfabetismo no país e em um curto espaço de tempo. Algumas experiências foram realizadas, havendo o surgimento do ensino supletivo destinado aos adultos. Todavia, durante o Estado Novo, quase não há registros de iniciativas voltadas para a alfabetização de adultos, pois o novo regime não estava interessado com a instrução popular. Contrariando a ação oficial de oferecer soluções para a alfabetização de adultos, os analfabetos, moradores de área urbana, eram participantes depráticas de uso da leitura e da escrita. Constata-se, ainda, que a participação dos homens era distinta à das mulheres. Elas, mesmo pertencentes às elites econômicas (principalmente rurais) não podiam frequentar a escola, pois era os homens considerado perigoso o seu ingresso no mundo letrado. VOCÊ SABIA? Você Sabia que nos anos 30 foram iniciadas em Pernambuco práticas de leitura oralizada de folhetos de cordel em feira. Em reuniões poemas e contos eram lidos. Assim facilitando o contato do adulto com o mundo da escrita. Educação de Jovens e Adultos 19 A partir do fim da Segunda Guerra Mundial e do Estado Novo, e com a volta da democracia no país, ocorreram novas medidas voltadas para a alfabetização de adultos. O ensino supletivo foi organizado a partir da Lei Orgânica do Ensino Primário, de 1946, mas é apenas em 1947 que o governo brasileiro lança, pela primeira vez, uma campanha de âmbito nacional visando alfabetizar a população, conhecida como Campanha de Educação de Adultos (CEA) ou Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA) extinta apenas em 1963. Criou-se uma infraestrutura para atender à educação de jovens e adultos, sendo criadas classes de alfabetização distribuídas em todos os municípios. A Campanha recrutava voluntários para erradicar o analfabetismo no país. Era evidenciada a redenção do analfabetismo, continuando a ênfase no assistencialismo nesta iniciativa governamental. Não havia uma preocupação com um material didático específico os adultos. O material utilizado era o mesmo da educação das crianças. Verificamos, assim, que o adulto analfabeto continuava sendo considerado incapaz, sendo comparado a uma criança. Caro estudante, chegamos aos anos 50. Verifica-se, no início desta década, muitas críticas à CEAA, com origem no seu próprio núcleo. Assim, um importante movimento surgirá em 1958, através de um grupo experimental em Pernambuco, liderado por Paulo Freire. No II Congresso Nacional de Educação de Adultos, Freire coloca que a organização dos cursos deveria ter como base a própria realidade dos alunos e o trabalho educativo deveria ser feito “com” o homem e não “para” o homem. Nessa nova perspectiva o material didático não poderia ser uma mera adaptação das propostas infantis. Houve uma mudança na percepção do adulto não-alfabetizado, não sendo mais tomado como alguém ignorante e imaturo, mas visto como produtor de cultura e de saber. Educação de Jovens e Adultos20 Como podemos perceber no vídeo, a proposta de alfabetização era que a leitura do mundo viria antes da leitura da palavra. Considerava, ainda, que o analfabetismo não era o único e grave problema do país e sim as condições de miséria em que vivia o não-alfabetizado. Outras campanhas foram sendo criada como a Campanha Nacional de Educação Rural (1950) e a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (1958). Contudo, infelizmente, não obtendo o êxito esperado no que se refere ao projeto de tornar os jovens e adultos leitores e produtores de texto proficientes. No final da década de 1950 e início de 1960, verificamos movimentos de educação e de cultura popular, quase todos inspirados nos ideais de Paulo Freire, são: o Movimento da Educação de Base (MEB), que consistia em um convênio entre o Governo Federal e o Conselho Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); o Movimento de Cultura Popular da Prefeitura do Recife (MCP); os Centros Populares de Cultura (CPCs) organizados pela União Nacional dos Estudantes no Rio de Janeiro (UNE - 1961-1964); o CEPLAR, ou seja, a Campanha de Educação Popular; a CAMPANHA DE PÉ NO CHÃO TAMBÉM SE APRENDE A LER, desenvolvida pela prefeitura de Natal, RGN. Cabe ressaltar que, apesar desses movimentos emergirem de vários pontos do país, sua expressividade se deu no Nordeste, em decorrência da alta taxa de analfabetismo, como já citamos, e de sua organização. Esse pensamento se tornou muito forte e a bandeira pelo desenvolvimentismo nacional e as reformas de base tomaram conta da sociedade civil organizada, com a finalidade de alterar esse quadro socioeconômico e político. ACESSE: Saiba mais sobre o método Paulo Freire de Alfabetização. Disponível em: https://youtu.be/2DAOO8jPyCU. https://youtu.be/2DAOO8jPyCU Educação de Jovens e Adultos 21 Agora há um novo olhar especial para analfabetismo, que passa a ser visto não como causa da situação de pobreza, mas como consequência de uma sociedade injusta e desigual. Assim, o não- alfabetizado conquista um novo patamar, pois agora é considerado produtor de conhecimento. Nesse sentido a educação deveria ser dialógica e com a participação de todos. A influência de Paulo Freire abrangeu de forma significativa todos os espaços, possibilitando uma educação popular, entre 1960 e 1964. Junto com o MEC (Ministério da Educação e Cultura), o educador organizou o Plano Nacional de Alfabetização de Adultos, que foi interrompido pelo golpe militar de 31 de março de 1964. Durante a ditadura militar as experiências de educação de adultos com objetivo de conscientização sofreram interdição e, devido a repressão militar, foram extintas e Paulo Freire foi posteriormente exilado. O Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) foi criado em 1967, começando suas atividades em Recife, Paraíba e Sergipe apenas em 1969. Tinha duas características básicas: contribuir com a aprendizagem do desenho do nome pelo educando e interditar todas as experiências voltadas para a transformação da realidade. Era recrutado para o Mobral quem poderia ensinar, sem se preocupar com sua formação docente. Bastava a pessoa ter disponibilidade para ser treinada e interessada em ganhar uma baixa remuneração. Embora o material didático fosse semelhante ao usado na educação popular, o potencial crítico do conteúdo era bastante esvaziado, além de ser padronizado para todo a País. Educação de Jovens e Adultos22 O Mobral foi marcado por denúncias de corrupção que culminaram na instalação de uma CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito – para apurar desvios de dinheiro e divulgação de falsos dados sobre o analfabetismo, sendo extinto em 1985, juntamente com o Regime Militar. Os anos 80 foram marcados pela abertura política, quando surgiram diversos projetos e experiências de alfabetização de iniciativa de associações de moradores, sindicatos e comunidades religiosas. Em 1985 o regime militar dá lugar a Nova República. Em substituição ao Mobral nasce, durante o governo Sarney (1985- 1990), a Fundação Educar, com o propósito de organizar programas destinados àqueles que não tiveram acesso à escola ou que foram anteriormente excluídos. Diferente do Mobral, essa fundação funcionava em sintonia com o MEC e recebia o apoio financeiro das prefeituras ou de associações da sociedade civil. Sua atuação era, basicamente, nos municípios, onde exercia a supervisão e o acompanhamento junto às instituições e secretarias, que recebiam recursos para execução de seus programas locais. Em 1988 foi promulgada a nova Constituição Federal, dessa vez estabelecendo uma nova ordem jurídica. Sendo considerada a “Constituição Cidadã”, ela estabelece um tratamento específico à educação nacional, em seu Capítulo III, dos art. 205 ao 214, abrindo caminho para novas regras educacionais. Vemos em 1989 novamente no cenário educacional o educador Paulo Freire que assume a Secretaria Municipal de Educação do estado de São Paulo, lançando o MOVA (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos da Cidade de São Paulo), envolvendo a participação de movimentos populares da cidade de São Paulo. Acreditava-se que o MOVA-SP possibilitaria o prosseguimento dos estudos pós- alfabetização, garantindo, assim, a escolarização básica formal. Não havia preferência por um determinado método de alfabetização. Pelo contrário, havia uma valorização do pluralismo, sendo recusados apenas métodos pedagógicosautoritários ou racistas, já que bebiam da fonte freireana de educação libertadora. Em 1993, o projeto foi extinto pela nova gestão municipal. Educação de Jovens e Adultos 23 Chegamos aos anos 90, caro estudante! E por volta de 1990, comemorou-se o Ano Internacional da Alfabetização. O governo de Fernando Collor de Mello tem início em março deste mesmo ano, mas não vai adiante, devido ao seu impeachment, sendo encerrado em dezembro de 1992. Neste cenário, extinguiu-se a Fundação Educar e criou-se o Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania (PNAC), em decorrência das discussões que circularam na época. Contudo, verifica- se que não há nenhuma intenção de estabelecer como uma política de alfabetização para jovens e adultos. Nos anos de 1995 e 1996, continuamos com diversas mudanças legislativas. Alguns projetos que foram levados adiante nesse período são influenciados pelas pesquisas realizadas nas áreas da Psicologia Cognitiva, Linguística e Educação, levando uma proposta pedagógica para a EJA, associada às práticas sociais de leitura e escrita. SAIBA MAIS: Conheça mais sobre o MOVA de Paulo Freire em https:// bit.ly/34KDyQL. https://bit.ly/34KDyQL https://bit.ly/34KDyQL Educação de Jovens e Adultos24 Figura 6: Ex-presidente Fernando Henrique Fonte: Wikicommons No governo FHC (1995-2003) é aprovada em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Um marco importante para a educação. A Educação de Jovens e Adultos - EJA- passa a ser parte integrante da Educação Básica, como uma de suas modalidades de ensino, tendo garantidas a obrigatoriedade e gratuidade de sua oferta, de acordo com a Constituição Federal de 1988. Bem, caríssimo estudante, vamos avançar um pouco no tempo, indo para os anos 2000, OK? Sigam-me! No começo do século XXI, em 2000, surgem as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação de Jovens e Adultos. Elas reafirmam a exigência do direito à educação escolar para jovens e adultos, reconhecendo a importância da formação inicial e continuada de professores e a elaboração e execução de propostas pedagógicas em consonância com a identidade dessa modalidade. Educação de Jovens e Adultos 25 Nessa época o Ministério da Educação elabora e disponibiliza um vasto material didático e pedagógico aos sistemas de ensino, promovendo formação continuada de professores, além de dar apoio financeiro federal às ações de políticas locais. O governo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (2003 -2010) lança o Programa Brasil Alfabetizado em 2003, em parceria com os estados e municípios, juntamente com empresas privadas, universidades, organizações não governamentais e instituições civis. Esse programa tem como objetivo alfabetizar jovens a partir dos quinze anos, de maneira descentralizada, com o apoio de voluntários. Foi desenvolvido em todo o território nacional, com o atendimento prioritário a municípios que apresentam alta taxa de analfabetismo, sendo que 90% destes localizam-se na região Nordeste. Não podemos deixar de reconhecer que o Programa Brasil Alfabetizado representa uma porta de entrada na cidadania, pois promove o acesso à educação como direito de todos em qualquer momento da vida. A população contemplada inclui indígenas, ribeirinhos, caiçaras e urbanos. O Programa tem como prioridade diminuir as estatísticas, partindo da concepção de que em seis meses é possível alfabetizar um adulto, disseminando o discurso de que o “analfabetismo é um mal em si mesmo, uma mazela social semelhante à escravidão”. Nessa perspectiva, o Programa Brasil Alfabetizado percebe o adulto um produtor de saber e de cultura, e, que embora não saiba ler, nem escrever, convive nos espaços sociais onde a escrita circula, participando assim de algumas práticas de letramento nos centros urbanos. Enfim, é um sujeito que tem uma história de construção de sua identidade. Educação de Jovens e Adultos26 Em 2019 o Programa Brasil Alfabetizado pretende alfabetizar 1,5 milhão de jovens e adultos nas cinco regiões do país, com exceção de São Paulo que não aderiu ao programa. O índice maior de analfabetismo continua concentrado nas regiões Norte e Nordeste. De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010, da população com 15 anos ou mais, 13,9 milhões são considerados analfabetos. A estatística do IBGE ainda mostra que os homens aparecem com 9,9% do índice e as mulheres com 9,3%. Quanto a divisão territorial, o IBGE aponta que a área rural é responsável por 23,18% da população analfabeta do país; a área urbana, por 7,28%. Veja na tabela abaixo a divisão por faixa etária, os jovens também estão presentes nos índices: de 25 a 29 anos, eles são 4% e de 15 a 17 anos, 2,2%. Tabela 1 Fonte: https://bit.ly/2PK2ow0 Idade Porcentagem 60 anos ou mais 26,5% 50 a 59 anos 13,8% 40 a 49 anos 9,9% 30 a 39 anos 6,6% 25 a 29 anos 4,0% 18 a 24 anos 2,6% 15 a 17 anos 2,2% SAIBA MAIS: Quer saber mais sobre o Programa Brasil Alfabetizado? Acesse o Portal do MEC: https://bit.ly/2Zf79ks. https://bit.ly/2PK2ow0 https://bit.ly/2Zf79ks Educação de Jovens e Adultos 27 A importância da EJA como modalidade da Educação Básica e a escola Caro estudante, nas últimas décadas verificamos a intensificação dos debates sobre uma escola mais democrática, onde haja o respeito à diversidade, a heterogeneidade que encontramos no âmbito escolar. Constatamos, também, na legislação e as políticas públicas educacionais desenvolvidas a preocupação com uma educação para todos, priorizando a qualidade e o respeitando as diversas formas e ritmos de aprendizagem. Há um consenso de que para alcançarmos esta qualidade na educação, faz-se necessária a renovação de sua estrutura, abandonando o ensino tradicional. Nesse cenário, está a escola atual, que enfrenta vários desafios para que seja efetivamente, inclusiva, interativa e democrática. Uma escola democrática é aquela que permite a participação de alunos, professores e funcionários nos processos decisórios da comunidade escolar. Essa escola também deve considerar de suma importância a Educação de Jovens e Adultos, enquanto modalidade da Educação Básica. Ela é a oportunidade de estudo, alfabetização, letramento e crescimento, deste público que não conseguiu finalizar seus estudos em tempo hábil, na idade oportuna. Nesse sentido, a escola tem papel essencial para a inserção e consideração desse aluno em sua rotina. De acordo com Candau (2011, p 253): A escola tem um papel importante na perspectiva de reconhecer, valorizar e empoderar sujeitos socioculturais subalternizados e negados. E esta tarefa passa por processos de diálogo entre diferentes conhecimentos e saberes, a utilização pluralidade de linguagens, estratégias pedagógicas e recursos didáticos[...] e o combate a toda forma de preconceito e discriminação no contexto escolar. Educação de Jovens e Adultos28 Portanto, esse espaço torna os alunos atores centrais do processo educacional, sendo os os professores facilitadores, orientadores das atividades, de acordo com a bagagem cultural dos seus alunos e de seus interesses. Numa perspectiva inclusiva, é fundamental que a escola proporcione espaços para discussão sobre a diversidade e pluralidade, proporcionado à sua comunidade um olhar diferenciado de sua realidade social, estimulando o respeito e aceitação das diferenças e individualidades. Sendo assim, constata-se, mais uma vez, a necessidade de uma formação para os professores que irão atuar na EJA, com o objetivo de prepará-los para lidar com esta diversidade encontrada na escola. Deve- se priorizar uma formação que alinhe a teoria com a prática e que permita que o professor se torne um docente reflexivo, crítico e pesquisador, mudando sua prática educacional, atualizando-se sempre em prol de seu aluno e de uma aprendizagem que o leve a uma cidadania ativae participativa. Educação de Jovens e Adultos 29 Inclusão Social e Diversidade Cultural: Escola como Espaço de Interações e Relações Democráticas na EJA Caro estudante, abordaremos agora um assunto muito importante no contexto da EJA: como se concebe a inclusão e a diversidade cultural nos espaços escolares que oferecem esta modalidade de ensino. Espero que seja uma oportunidade, não só de análise, mas de reflexão dessa realidade. Sigamos! Inclusão Social e a Diversidade Cultural A Educação de Jovens e Adultos - EJA - é a modalidade de ensino onde mais encontramos turmas absolutamente heterogêneas, desenhando uma diversidade não só social, mas racial, cultural, econômica, religiosa, etária, dentre outras. A LDB/96 em seu capítulo II, seção V: A Educação de Jovens e Adultos, artigo 37, define que: “A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou oportunidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria” (BRASIL, 1996). Portanto, devemos tomar cuidado para que não sejam reproduzidas em nossas escolas atitudes e práticas educacionais excludentes, se distanciando de seu verdadeiro papel, que é zelar pela formação de indivíduos críticos e reflexivos, que atuem de forma autônoma e democrática, solucionando e superando os obstáculos no seu cotidiano e ao longo de sua vida. Devemos considerar que grande parte desses alunos chegam à escola com seus próprios saberes, adquiridos ao longo de sua vida, através de suas relações familiares e sociais. Essas experiências não devem ser desprezadas, pelo contrário, devem ser o elo de ligação os novos conhecimentos propostos pela escola, evitando, assim, o desinteresse, o fracasso e a evasão. Educação de Jovens e Adultos30 Outrossim, devemos considerar que a EJA, na atualidade, deve assumir como princípio norteador o mundo do trabalho. Nesse cenário é imprescindível que os educadores da EJA estejam preparados para trabalhar com tantas variantes, respeitando as individualidades, mediando conflitos, agregando os diversos grupos, em prol de uma aprendizagem significativa e da inclusão social. No entanto sabemos que, um número considerável de professores (iniciantes ou veteranos) que atuam na EJA não está preparado para tal função. Os novatos por não terem nos cursos de formação (graduação) disciplinas que os capacitem para assumir uma turma tão diversificada e os veteranos por estarem, em sua maioria, acostumados com as turmas regulares, sem tanta heterogeneidade ( etária e social), acabam por replicar a mesma prática pedagógica, que, obviamente, não funciona. Assim temos um grande problema a ser resolvido: Como assegurar a inclusão e o respeito às diferenças? Primeiramente é necessário que haja um projeto eficaz de formação continuada para os professores que irão trabalhar (e já trabalham) na EJA. É de fundamental importância da troca de experiência vivenciadas e dos saberes que são compartilhados, além de ficarem a par de novas metodologias e tecnologias educacionais. Os professores da EJA precisam mudar seus paradigmas, rever sua prática pedagógica, não se contentando apenas em ensinar a ler, escrever e contar. Infelizmente o que vemos na realidade das salas de EJA são professores que atuaram (ou atuam) no Ensino Fundamental e/ou Médio, sem preparo para lidar com a diversidade lá encontrada e pouco preocupados com a formação integral dos alunos, possibilitando que exerçam sua cidadania de forma plena Podemos constatar nas Diretrizes Curriculares Estaduais de EJA (DCEs) a ênfase à função social dessa modalidade de ensino, delineando o perfil de seus alunos, as formas de avaliação, metodologia e especialmente, os três eixos articuladores do currículo de EJA, a saber: cultura, trabalho e tempo. Educação de Jovens e Adultos 31 A partir das reflexões durante o processo de elaboração das DCE para a Educação de Jovens e Adultos, identificaram-se os eixos cultura, trabalho e tempo como os que deverão articular toda a ação pedagógico-curricular nas escolas. Tais eixos foram definidos tendo em vista a concepção de currículo como um processo de seleção de cultura, bem como pela necessidade de atender o perfil do educando da EJA. (DCE/EJA, 2005, p.37). Você se lembra que no começo da EJA eram utilizados materiais didáticos iguais ou adaptados daqueles que eram utilizados para a educação das crianças? percebemos que havia na verdade uma ênfase maior no ensino infanto-juvenil do que para os jovens e adultos que por algum motivo não conseguiram cumprir o tempo normal na escola. Pois bem, a partir de 1970 houve um olhar diferenciado para a educação de jovens e adultos, através da definição de Malcolm Knowles de andragogia, que remetendo-a à educação voltada para o adulto, em contraposição à pedagogia, que se refere à educação de crianças (do grego paidós, criança). Segundo Gadotti (2001, p.124), linhas de ação podem ser adotadas para que a EJA atenda às perspectivas de seu alunado: • Adotar modelos de atendimento em EJA, respeitando suas características de aluno trabalhador; • Considerar as características psicossociais próprias do jovem e do adulto que nunca foi à escola ou que volta aos bancos escolares; SAIBA MAIS: Você Sabia que há uma diferenciação entre Pedagogia e Andragogia? Veja em: https://bit.ly/2POVCVT. https://bit.ly/2POVCVT Educação de Jovens e Adultos32 • Promover maior flexibilidade na metodologia, na organização curricular e na duração dos programas de atendimento educacional; • Avaliar contínua e sistematicamente a educação de jovens e adultos em virtude de sua flexibilidade e diversidade; • Apoiar propostas feitas pelos movimentos sociais com vistas a resolver problemas específicos (GADOTTI, 2001, p. 124) Você percebe, caro estudante, que o conceito da EJA, na perspectiva colocada acima, se expande? Isso acontece na medida que há a compreensão de que os processos educativos são desenvolvidos em várias dimensões: a do conhecimento, das práticas sociais, do trabalho, do confronto de problemas coletivos e da construção da cidadania. “Embora a perspectiva seja libertadora, precisa-se somar a outros esforços para apresentar alternativas emancipatórias, pois a escola sozinha não dá conta. Na EJA menos ainda, pois lá estão também os moradores de rua (andarilhos), adolescentes explorados no turismo sexual, mulheres que sofrem violência, jovens marginalizados, drogadito, negro, portadores de necessidades educacionais especiais e o sistema prisional.” LOPES, 2016, P.12) Enquanto educadores, não podemos esquecer que essas pessoas que chegam A EJA vêm em busca, primeiramente de acolhimento, desejando (re)encontrar um (seu) caminho. Para tanto, precisam de profissionais que os conduza nessa trajetória. É imprescindível que não esqueçamos que o atendimento de alunos na EJA constitui-se no avanço, efetivo, da educação para todos, conforme está prevista em nossa Constituição de 1988 e na LDB/96. Nessa perspectiva, podemos considerar que todos devem ter oportunidade de participação, adquirindo autonomia, através do conhecimento, do desenvolvimento de suas competências e habilidades e possam ser capazes de serem inseridos no mercado de trabalho. Educação de Jovens e Adultos 33 Orientações Curriculares para a EJA Caro estudante! Vimos em nossos estudos recentes que A EJA tem como finalidade incluir aqueles que por algum motivo não tiveram acesso a escola em sua infância ou adolescência, caracterizando-se em uma modalidade que busca atender as particularidades desses sujeitos que a integram. Ao contrário das demais modalidades de ensino, os alunos matriculados na EJA são pessoas diversas, com seus traços de vida, origens, idades, vivências profissionais, históricos escolares, ritmos e estruturas de aprendizagem bastante diferenciadas. Na história da educação mais recente percebemos um avançonas discussões, não só dando uma maior relevância, quanto em com relação às orientações curriculares específicas para EJA. A Conferência Nacional de Educação Básica de 2008, corroboram com a Constituição Federal de 1988, voltando à pauta a questão da isonomia e da acessibilidade à educação. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96) já havia estabelecido no capítulo II, seção, artigo 37, que a EJA se destina aos indivíduos que, por algum motivo, não tiveram acesso ou oportunidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade correta. estabelece, também, que os sistemas de ensino devem assegurar gratuidade aos a estes jovens e adultos, considerando suas características e necessidades. Ainda na referida Lei, no art.38, encontramos a proposição de que os sistemas de ensino mantenham “cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular”. Quanto à avaliação, acontece através de provas que comprovam a fluência e capacitação para a conclusão do Ensino Básico. sendo feitas em duas etapas: primeiramente o Ensino Fundamental (para maiores de 15 anos) e, em segunda etapa, para o Ensino Médio (para maiores de 18 anos). Educação de Jovens e Adultos34 Você percebeu que a Base Nacional Comum Curricular já havia sido mencionada na LDB? Pois bem, com as discussões advindas de sua criação, a EJA voltou a ser debatida. Portanto, podemos verificar analisando os documentos, que no primeiro momento, nas versões 1 (2015) e 2 (2016) surgidas do debate nacional houve algum foco específico em EJA. Contudo, não verificamos nas versões finais, esta especificidade em relação a EJA. Isso ocorre, segundo Maria Helena Guimarães, do MEC, para que o segmento não seja “estigmatizado” e percebido como outsider (exterior) em relação ao ensino regular. Segundo a educadora Guiomar Namo de Mello, uma das profissionais responsáveis pela elaboração da 3ª versão da BNCC, a EJA “está incluída na educação regular e, como tal, foi considerada no conjunto dos direitos de aprendizagem de todos”, já que, “a base não é currículo” e as especificidades de EJA devem ser discutidas relativamente aos pormenores de currículo. (MACHADO,2018) Entretanto, alguns estudiosos não concordam com o MEC, no que se refere a elaboração da 3ª versão da BNCC (2018), pois acreditam que as especificidades da EJA debatidas, conforme já foi dito anteriormente, desde a Constituição de 1988, sendo corroboradas pela LDB/96 e revistas em 2008 na Conferência Nacional da Educação Básica, devem ser consideradas pela BNCC. ACESSE: Veja como se deu o histórico da BNCC, https://bit.ly/2MjGhdy. https://bit.ly/2MjGhdy Educação de Jovens e Adultos 35 O Processo de Alfabetização e Letramento: ressignificando os saberes escolares O homem é essencialmente um ser social, pois desde o seu nascimento interage com os outros (pais e familiares) e é inserido na sociedade e em sua cultura. Tal interação se dá de forma contínua e é marcada por símbolos, que são internalizados através da leitura e da escrita. Com o advento da globalização, da informação, da inovação da sociedade contemporânea, percebemos que nosso dia a dia se tornou cada vez mais letrado. Isto implica na necessidade de que todos sejam alfabetizados. Contudo, o Brasil está muito distante dessa meta. Em pleno século XXI, segundo estatísticas, 11% da população acima de 25 anos, é analfabeta. Soares (2011) considera que a alfabetização se constitui em tornar o sujeito capaz de ler e escrever. Nessa perspectiva seu objeto é a aquisição da escrita por parte de uma pessoa ou de um grupo de pessoas. Sendo um processo, segundo a autora, pelo qual adquire-se o domínio de códigos e habilidades necessárias para ler e escrever. Adquirindo, assim o domínio da técnica. Contudo, sabemos que a alfabetização vai muito além do domínio da técnica (codificar e decodificar) e das habilidades de ler, na medida que envolve outros processos como a interpretação, a compreensão, a crítica e a produção de conhecimento. A alfabetização, envolve, ainda, o desenvolvimento de novas formas de compreensão e uso da linguagem de uma maneira geral (SOARES, 2011). O Processo de Alfabetização e Letramento: ressignificando os saberes escolares O homem é essencialmente um ser social, pois desde o seu nascimento interage com os outros (pais e familiares) e é inserido na sociedade e em sua cultura. Tal interação se dá de forma contínua e é marcada por símbolos, que são internalizados através da leitura e da escrita. Educação de Jovens e Adultos36 Com o advento da globalização, da informação, da inovação da sociedade contemporânea, percebemos que nosso dia a dia se tornou cada vez mais letrado. Isto implica na necessidade de que todos sejam alfabetizados. Contudo, o Brasil está muito distante dessa meta. Em pleno século XXI, segundo estatísticas, 11% da população acima de 25 anos, é analfabeta. Soares (2011) considera que a alfabetização se constitui em tornar o sujeito capaz de ler e escrever. Nessa perspectiva seu objeto é a aquisição da escrita por parte de uma pessoa ou de um grupo de pessoas. Sendo um processo, segundo a autora, pelo qual adquire-se o domínio de códigos e habilidades necessárias para ler e escrever. Adquirindo, assim o domínio da técnica. Contudo, sabemos que a alfabetização vai muito além do domínio da técnica (codificar e decodificar) e das habilidades de ler, na medida que envolve outros processos como a interpretação, a compreensão, a crítica e a produção de conhecimento. A alfabetização, envolve, ainda, o desenvolvimento de novas formas de compreensão e uso da linguagem de uma maneira geral (SOARES, 2011). Já o letramento, de acordo com a referida autora, se dá quando o indivíduo ou ou um grupo adquire um estado ou condição como consequência de ter-se apropriado da escrita, como por exemplo: usar a leitura e a escrita para seguir instruções (receitas, bula de remédio, manuais de jogo), apoiar à memória (lista), comunicar-se (recado, bilhete, telegrama), divertir e emocionar-se (conto, fábula, lenda), informar (notícia), orientar-se no mundo (o Atlas) e nas ruas (os sinais de trânsito). (SOARES, 2011) O que diferencia a alfabetização de crianças e a alfabetização de jovens e adultos, além do público da aprendizagem, são os processos cognitivos que têm suas semelhanças, mas guardam diferenças bastante relevantes. Nesse sentido não cabe a utilização da mesma didática e metodologia para realidades distintas. Veremos, a seguir, os processos de alfabetização e letramento e instrumentos de alfabetização para jovens e adultos. Educação de Jovens e Adultos 37 Conceitos de Alfabetização e Letramento de Jovens e Adultos Estudos nos indicam que o conceito de alfabetização, em seu primórdio, era identificado como apenas o ensino e aprendizagem do sistema alfabético de escrita. Durante momentos distintos na sociedade, a alfabetização assumiu diversos conceitos. Podemos citar que no início do século XX, era considerada alfabetizada a pessoa que soubesse codificar e decodificar. Na década de 50, esse conceito assumiu outro significado, estando relacionado à interpretação do que é escrito e lido. Atualmente, constata-se uma ampliação do significado da alfabetização que contempla a apropriação do sistema de escrita que possui dois aspectos indissociáveis: codificação e produção (escrita) e decodificação e compreensão (leitura) de gêneros textuais diversos (SOARES, 2003). Deste modo, para a autora, a alfabetização pode ser considerada como um processo complexo e multifacetado que envolve duas dimensões: uma individual – caracterizada pela capacidade do indivíduo ler e escrever – e outra social, que se refere à utilização social da leitura e da escrita. Assim a leitura se limitaria a capacidadede decodificar os sinais gráficos transformando-os em sons, e a escrita, a capacidade de codificar os sons da fala e transformá-los em sinais gráficos. Com os estudos realizados por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, observando 108 crianças e seu sistema de escrita, o conceito de alfabetização foi sendo ampliado. De acordo com as referidas autoras, a escrita não se reduz ao domínio e a correspondência entre grafemas (letras/decodificação) e fonemas (sons/codificação), mas, se caracteriza como um processo ativo, por meio do qual a criança constrói e desconstrói suas hipóteses acerca do funcionamento da língua escrita para compreendê-la como um sistema de representação da fala. Emília Ferreiro (2011) defendeu a importância da compreensão do mecanismo de interação da criança com a língua, deixando claro que esta aquisição não pode estar vinculada a uma simples reprodução do Educação de Jovens e Adultos38 falado para o escrito, mas que é preciso um nível de significância para que a criança assimile o aprendizado. Não podemos deixar de mencionar as grandes contribuições à educação de jovens e adultos, sobretudo no que se refere à alfabetização de Paulo Freire. O educador e estudioso realizou uma crítica à concepção mecanicista da alfabetização, a qual enfatiza um trabalho com os aspectos ligados à codificação e decodificação da língua, em detrimento dos processos de produção e compreensão. Para ele, a alfabetização deve ser um instrumento que faça com que os indivíduos analfabetos tenham consciência dos seus direitos políticos, sociais e econômicos (FREIRE apud CARVALHO, 2009). Emília Ferreiro (2011, p.56) corrobora com este pensamento quando afirma que “[...] analfabetismo e pobreza caminham juntos, não são fenômenos independentes; analfabetismo e marginalização social caminham juntos, não são fenômenos independentes,” sendo este um problema, sobretudo, político. Caro estudante, chegamos ao final da Unidade I. Fizemos uma viagem no tempo como o objetivo de compreender a trajetória histórica da Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Nesse sentido, verificamos a influência dos valores e cultura indígena em nossa cultura. Vimos que 49 anos depois da “descoberta” do Brasil, aportou em nossa terra a Companhia de Jesus, cujos padres eram denominados jesuítas. Estes tinham como objetivo principal, catequizar os nativos, através da alfabetização em português e, concomitantemente, introduzir a cultura portuguesa na colônia. Os jesuítas abriram muitos colégios no Brasil, tendo como método o Ratio Studiorum. Duzentos e dez anos depois, os jesuítas SAIBA MAIS: Sobre a teoria da Psicogênese da Escrita de Emília Fer- reiro e Ana Teberosky , acesse: https://bit.ly/2Q9UtHm. https://bit.ly/2Q9UtHm Educação de Jovens e Adultos 39 foram expulsos do Brasil pelo Marquês de Pombal, que fechou os colégios jesuítas e instaurou um novo método conhecido como “Aulas Régias”, que não obteve muito sucesso. Com a chegada da Família Real ao Brasil em 1808, houve mais uma ruptura no sistema educacional. Contudo, foram criadas algumas instituições como:Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina e escolas noturnas, havia uma dificuldade de manter estas instituições em funcionamento. Foi criada, também, a imprensa Régia na colônia, que contribuiu para divulgação de fatos e pensamentos para a população letrada. Entretanto a educação, mais uma vez, era relegada a segundo plano. Por pressão dos portugueses, em 1821 D. João VI e sua comitiva, volta à Portugal, deixando seu filho D. Pedro I no Brasil. Em sete de setembro de 1822, D. Pedro I proclama a Independência do Brasil de Portugal. Porém, este período não é muito profícuo para educação. Podemos destacar um marco na educação brasileira, que foi a Constituição de 1824, que determina a obrigatoriedade do ensino público primário. Em 1831, D. Pedro I abdica do trono brasileiro, retorna a Portugal e deixa seu filho D. Pedro II, apenas uma criança à época. Embora tenha sido um entusiasta da ciência e da educação, o reinado de D. Pedro II pouco solidificou o sistema educacional. Em relação a educação para jovens e adultos, somente em 1879, Carlos Leôncio de Carvalho, elaborou uma reforma educacional. Através do decreto 7.247, foram criados cursos noturnos para adultos, do sexo masculino, nas escolas públicas de instrução primária. Foi um período marcado por conflitos e guerras , o que culminou, em 1889, a Proclamação da República e o exílio de D. Pedro II, retornando a Portugal. O primeiro período republicano foi marcado por uma grandes mudanças sociais, políticas, econômicas e, consequentemente educacionais. Havia uma grande mobilização para erradicação do analfabetismo do país. Além disso, a Revolução Industrial, a partir de 1930, trouxe a necessidade de uma mão de obra qualificada. Passamos por momentos bastante conturbados econômica, política e socialmente,mas a partir de 1932, como o Manifesto dos Pioneiros, a educação brasileira vai solidificar seu sistema educacional e voltar seus olhos para a Educação de Jovens e adultos (EJA). Em 1947 o governo lança a Campanha de Educação de Educação de Jovens e Adultos40 Adultos (CEA) ou Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA). Em 1950, em Pernambuco, o educador Paulo Freire e seus colaboradores insurgem à campanha e surge o Método Paulo Freire, que alfabetizou milhares de brasileiros. Com o Golpe Militar de 1964 os movimentos que seguiam as ideias de Paulo Freire foram extintos. Em 1967 é criado o MOBRAL - Movimento Brasileiro de Alfabetização. Após sua criação, vários outro programas governamentais irão se preocupar com a EJA, principalmente no que se refere a inclusão social, o respeito à diversidade, a singularidade das pessoas que por algum motivo deixam seus estudos e os retoma fora do momento regular de educação. Destacamos, então, a Constituição de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases de 1996, as Diretrizes Curriculares para Educação de Jovens e Adultos e, mais recentemente a Base Nacional Comum Curricular. Toda esta trajetória objetivou, ainda, a identificação da importância da EJA no processo de inclusão social. Finalmente analisamos o processo de alfabetização e letramento, as opções metodológicas no trabalho docente. Educação de Jovens e Adultos 41 BIBLIOGRAFIA BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Diretrizes Curriculares para Educação de Jovens e Adultos. Brasília, DF, 2000 Eja: Traçando um Perfil de Estudantes e suas Expectativas nos Estudos, 9º SIEPE, 2017. disponível em https://bit.ly/34HGhuh acesso:10/10/2019 GADOTTI, M; ROMÃO J. E. Educação de Jovens e adultos: teoria, prática e proposta. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2001. MACIEL, Francisca Izabel Pereira. Alfabetização de jovens e adultos. Disponível em: https://bit.ly/2Q7yi4p Acesso 06/11/2019 MACHADO, João Luís de Almeida.Diretrizes Curriculares Nacionais para EJA e a BNCC, 2018. Disponível: https://bit.ly/2tzuEIW acesso: 10/10/2019 NETO, Alexandre Shigunov, MACIEL, Lizete Shizue Bomura.O ensino jesuítico no período colonial brasileiro: algumas discussões. Educar, Curitiba, n. 31, p. 169-189, 2008. Editora UFPR. disponível em: http://www.scielo.br/pdf/er/n31/n31a11.pdf Acesso: 23/09/2019 Período Jesuítico (1549 - 1759) ao Período da Primeira República (1889 - 1929). disponível em https://bit.ly/2MjGGN6 acesso: 23/10//09/2019 SANTOS, Eunice Lopes dos. 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Disponível em: https://bit.ly/38ZWmPm Acesso: 06/11/2019 Educaçãode Jovens e Adultos: Pensamento Político Pedagógico ao Longo da História Dos Jesuítas a Revolução Industrial Período Jesuítico (1549-1759) Período Pombalino (1760 - 1808) Período Joanino (1808 – 1821) Período Imperial Período Republicano: redemocratização e os dias atuais A importância da EJA como modalidade da Educação Básica e a escola Inclusão Social e Diversidade Cultural: Escola como Espaço de Interações e Relações Democráticas na Eja Inclusão Social e a Diversidade Cultural Orientações Curriculares para a EJA O Processo de Alfabetização e Letramento: ressignificando os saberes escolares Conceitos de Alfabetização e Letramento de Jovens e Adultos
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