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Texto de apoio para “Genes Estruturais de Eucariontes” Fragmentos de: READ, ANDREW & DONNAI, DIAN. GENÉTICA CLÍNICA. Porto Alegre, ARTMED, 2008. CAPÍTULO 3 – COMO OS GENES FUNCIONAM “Como os genes funcionam é o objeto de duas hipóteses famosas. Nenhuma delas é completamente verdadeira, mas não obstante, ambas são ferramentas úteis para se ponderar sobre os genes. Na década de 1940. Beadle e Tatum propuseram que a função de cada gene era especificar uma enzima particular (hipótese de um gene — uma enzima). Essa hipótese não é totalmente verdadeira, porque muitos genes codificam proteínas não enzimáticas, e alguns especificam moléculas de RNA funcional, em vez de proteínas — mas, na forma de “um gene — um polipeptídeo”. Ela permanece como uma primeira ferramenta útil para se refletir sobre o que os genes fazem. (página 56) Alguns anos mais tarde, Francis Crick definiu a função essencial do DNA, no “Dogma Central” da Biologia Molecular (Figura 3.3). Os genes são as unidades funcionais do DNA, e a função usual de um gene é especificar a estrutura de uma proteína. Considera-se que existam cerca de 24000 genes codificadores de proteínas no genoma humano, embora essa estimativa seja apenas provisória. O Dogma Central é útil, mas não absolutamente verdadeiro. De vez em quando, o fluxo da informação do DNA para o RNA é revertido, quando uma enzima especial (a transcriptase reversa) faz uma cópia de DNA a partir de urna molécula de RNA. Essa é uma parte crítica do ciclo vital dos vírus de RNA. mas não faz parte do metabolismo comum de uma célula humana. Mais notavelmente, o RNA tem muitas funções, além de especificar a seqüência dos aminoácidos das proteínas. O RNA ribossômico (rRNA) e o RNA transportador (tRNA) são os exemplos mais bem conhecidos desses RNAS funcionais, mas existem muitos outros.”(página 56) A estrutura dos genes: éxons e íntrons A maioria dos genes dos seres humanos e de outros organismos superiores está organizada de modo estranho e inesperado. A seqüência de DNA que especificará, em última análise, a seqüência de aminoácidos de uma proteína é dividida em segmentos (éxons) interrompidos por seqüências não-codificadoras (íntrons ou seqüências intercalares). O número e o tamanho dos íntrons variam sem qualquer evidência lógica. O gene humano médio tem nove éxons, cada um com 145 pb em média, e íntrons com 3.365 pb cada um, em média, mas essa variação é muito ampla”. (página 58) Encadeamento do transcrito primário “Quando uma célula precisa produzir uma proteína específica inicialmente faz uma cópia de RNA de uma das fitas do DNA, apenas do gene relevante (Figura 3.5a). A transcrição é um processo muito dinâmico, que envolve somente pequenos segmentos dispersos do genoma, a qualquer momento, mas varia de acordo com as necessidades da célula. O seu modo de funcionamento é descrito, com algum detalhe, na Seção 3.4. A seqüência inteira de éxons e íntrons é transcrita para formar o transcrito primário. No interior do núcleo celular, esse transcrito é, a seguir, processado por meio de remoção física dos íntrons e encadeamento dos éxons (Figuro 3.5b). O RNA composto pelos introns é destruído e aparentemente não tem utilidade alguma. O encadeamento é realizado no interior do núcleo celular por uma grande máquina multimolecular, denominada encadeossomo, que é um complexo de proteínas e pequenas moléculas de RNA. Podemos ignorar seguramente a maioria dos detalhes moleculares complicados, mas precisamos considerar como os íntrons são reconhecidos. Quase todos os íntrons humanos iniciam com CU (GT no DNA da fita-sentido — sendo denominado sítio doador da emenda) e terminam com AG o sítio aceitador da emenda). Esses sinais, em si, não devem ser suficientes para definir os sítios de encadeamento, pois há inúmeros dinucleotídeos CU e AC nos éxons ou nos íntrons que não são usados como sítios de encadeamento. Para serem assim reconhecidos, os dinucleotídeos CU ou AC devem estar integrados a uma seqüência de consenso mais ampla. Um sítio de encadeamento funcional apresenta uma combinação adequada de pequenos motivos de seqüência que se ligam a proteínas ou pequenas moléculas de RNA, no encadeossomo. Esses motivos individuais são definidos apenas vagamente, dificultando a predição dos sítios de encadeamento pela análise das seqüências de DNA ou RNA. Isso é frustrante para os geneticistas clínicos, uma vez que, como veremos posteriormente, as variantes de seqüências que afetam a eficiência dos sítios de encadeamento são importantes causas de doenças.” (páginas 60-61) Os genes são muito maiores do que se pensa Um gene, definido como uma unidade funcional de DNA, é muito maior do que apenas sua seqüência codificadora de proteína. Os éxons de um gene incluem as seqüências não-traduzidas 5’e 3’, que são importantes para a estabilidade do mRNA Essas seqüências perfazem, em média, 200 e 800 nucleotídeos, respectivamente, nos genes humanos. O transcrito primário origina-se de seqüências de DNA intrônicas e exônicas. As primeiras são, muitas vezes. consideravelmente maiores do que os éxons. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. As seqüências a montante do sítio de início da transcrição (o promotor) são necessárias para que o gene se expresse. Veja adiante uma descrição do que os promotores fazem. As seqüências do promotor são adjacentes ao sítio de início da transcrição, em geral dentro de aproximadamente uma centena de pares de bases, embora outras seqüências mais distantes afetem, muitas vezes, a atividade de um promotor. A expressão de alguns genes ou grupamentos gênicos é controlada por elementos de seqüências curtas, distantes a dezenas ou, mesmo, centenas de quilobases. A existência desses elementos controladores distantes é outra razão para que os genes ocupem segmentos de DNA muito mais longos do que sua seqüência codificadora. Atualmente, não temos meios de identificar sistematicamente essas regiões controladoras de lócus, que são descobertas por acaso, quando uma pequena deleção ou um ponto de quebra cromossômica, um pouco distante do gene, suprime a expressão desse gene, ainda que sua seqüência codificadora esteja intacta. E curioso que os genes essenciais ao controle do desenvolvimento inicial se localizem, freqüentemente, em “desertos gênicos”, regiões de tamanho correspondente a megabases que não contêm outros genes. E provável que tais regiões contenham elementos de controle de longa amplitude. O DNA intercalar possivelmente faz uma alça externa, de maneira que esses elementos se localizem realmente em proximidade física do gene que eles controlam, e as proteínas a esses ligadas possam interagir diretamente com as proteínas ligadas ao promotor do gene. (página 69) Um gene freqüentemente codifica mais de uma proteína Contrariando a hipótese de um gene — uma enzima, com muita freqüência um único gene pode codificar várias proteínas diferentes (Figura 3.11). O principal mecanismo para isso é o encadeamento alternativo. Muitas vezes, há mais de um meio de encadear o transcrito primário. Certos éxons podem ser, variavelmente, incorporados ou omitidos no mRNA maduro, originando isoformas alternativas. Às vezes, há dois sítios de encadeamento alternativo assinalando o início ou o término de um éxon. Um gene também pode ter diversos promotores e primeiros éxons alternativos (o gene da distrofina tem oito). Todas essas variáveis significam que um gene pode codificar mais de uma proteína. O número médio de transcritos por lócus, em genes examinados pelo projeto ENCODE (veja Capítulo 6), é 5.4. Provavelmente um pouco dessa variabilidade constitui apenas ruído no sistema, no qual a célula se sai mal no reconhecimento do único sinal correto — mas em muitos casos essa variabilidade é funcional, com ambos os produtos possuindo diferentes funções. As mutações que afetam o equilíbrio das isoformas alternativas podem ser clinicamente significativas,mas difíceis de serem detectadas na seqüência de DNA. Figura 3.11 Como um gene pode codificar mais de uma proteína. (a) Os éxons podem ser, variavelmente, incorporados ou omitidos no mRNA maduro. (b) Um éxon pode ter dois sítios de encadeamento alternativo. (c) Um gene pode ter dois ou mais promotores e primeiros éxons alternativos (esse exemplo mostra o gene GNAS1,que codifica três proteínas com denominações diferentes). Qualquer um desses mecanismos pode resultar no uso de uma fase de leitura alternativa para as partes do gene que se encontram a jusante (descendentes). Cerca de 50% de todos os genes humanos usam um ou mais desses mecanismos para codificarem mais de uma proteína.(página 72) Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
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